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FITOUSSI, Jean-Paul, La politique de l’impuissance, entretiens avec Jean-Claude
Guillebaud, Paris, Arléa, 2005, primeira parte.
Alguns argumentos ajudaram a sociedade a aceitar esse mundo
novo. Foi dito que era legítimo lutar agressivamente contra a inflação porque ela
penaliza os mais pobres. O outro argumento martelado diz respeito aos grandes
equilíbrios que precisam ser mantidos por respeito e generosidade em relação
às gerações futuras. Essa política foi apresentada sob uma roupagem de
generosidade. Fitoussi mostra que se trata de uma mentira2. O aumento e a
manutenção de taxas de juro elevadas favoreciam os que detêm o capital
financeiro e afastavam do acesso à posse de bens duráveis os que precisam
emprestar, quer dizer as categorias mais vulneráveis da população. Os ganhos
advindos de rendimentos financeiros cresceram e se multiplicaram enquanto os
ganhos advindos do trabalho minguavam. Podemos dizer que passamos de um
capitalismo social para um capitalismo patrimonial. Essa dinâmica é
extremamente prejudicial à preparação do futuro porque as altas taxas de juro
estrangulam o crescimento e aumentam o desemprego: isto aumenta a dívida
publica pressionada pela perda de receitas fiscais e pelo aumento do serviço da
dívida. E não é desempregando os pais que se constrói o futuro das futuras
gerações, nem diminuindo o potencial de crescimento da economia que se
aumenta a herança destinada a essas gerações futuras. Não é reduzindo as
despesas públicas em investimentos por causa do aumento das despesas no
serviço da dívida que se prepara um futuro melhor para todos. Essa política
acaba tendo, também, um efeito devastador em relação à justiça social porque
ela afeta a representação que cada um tem em relação ao próprio futuro. Como
preparar o futuro se não se pode investir? O que vale é o patrimônio e as
relações sociais que cada um consegue amealhar no presente. Valoriza a
própria historia de cada um e o individualismo em detrimento do relacionamento
com os outros porque cada um tem a impressão de depender muito mais de si e
do que conseguiu do que de uma solidariedade social. A sociedade entra em
déficit de futuro, crispando-se sobre o que adquiriu, único ponto de apoio para
enfrentar um futuro incerto.
2
Ibid p. 46 ss