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Ciencia Rural, Santa Maria, v.26, n.2,p. 323-332, 1996 ISSN 0103-8478 323 VIROSES CONFUNDIVEIS COM FEBRE AFTOSA VIRAL DISEASES TO BE DIFFERENTIATED FROM FOOT-AND-MOUTH DISEASE - REVISAO BIBLIOGRAFICA - Franklin Correa! Valéria Moojen* RESUMO, Revisam-se as doencas que devem ser consideradas no diagnéstico diferencial de febre afiasa. Dentre as doencas vesiculares ou erosivas, descrevemse 08 principais aspectos relacionados ao diagnéstico da estomatie vesicular, diarréia viral ovina febre catarral maligna, infee¢des por herpesvirus bovino 1 5, una estomatie ulceraiva associada a parvovirus bovino, {que ocorreu no Rio Grande do Sul; lingua azul, para a qual tem sido detectados anicorpos em bovinos e ovinos do Rio Grande do Sul; mamilte herpética que ocorre em outros Estados do Pals, ‘Pest bovina que fo dagnosticada e erradicada no Estado de S40 Paulo em 1921: estomatte papular; e duas doencas exéticas: exantema vesicular e doenga vesicular do suino, Palavras-chave: febre aftosa, doencas vesleulaes, estomatites ulcerativas, herpesvirus bovine SUMMARY Diseases 1o be considered in the differential diagno- sis of footand-mouth disease are reviewed. The main aspects relating 10 the diagnosis of vesicular stomatitis, bovine virus diarrhea, malignant catarrhal fever, Bovine herpesvirus | and 5, Paulo Michel Roche? Rudi Weiblen‘ and an ulcerative stomatitis associated with bovine parvovirus are described. Bluetongue, that probably occurs in Rio Grande do Sul because antibodies 10 the virus have been detected in cattle and sheep: is refered. Bovine ulcerative mammilitis, reported in other Brazilian States, rinderpes, reported and eradicated in the State of Séo Paulo in 1921, and papular stomatitis are also cited, and so dre two exotic diseases: vesicular exanthema and swine vesteular disease Key words: foo and mouth disease, vesicular diseases, ulcerative stomatitis, Bovine herpesvirus INTRODUCAO ‘A campanha contra a febre aftosa no Estado do Rio Grande do Sul (RS) tem obtido excelentes resultados, evidenciados pelos escassos focos dessa doenga ocorridos nos anos de 1993 ¢ 1994, Esta situago permitiu que fossem definidos como Proximos objetivos a eliminagao total dos focos em 1995; a posterior dectaragdo do Estado como livre de febre aftosa, mas com manutencdo de vacinagao; e, ‘Médico Veterindrio, MSc., Professor Titular, Laboratorio Regional de Diagnéstico, Faculdade de Veterindia, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), 96010-900, Pelotas, RS. Autor para correspondéncia, “Médico Vetrniro, MSc. Professor Adjunto, Labortéio de Virologia, Deprtamento de Patologia Clinica Veternti, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Médico Veteintri, MSc, PAD, Professor junto Instituto de Pesquisas Veterntrias Desidério Finamor, Secretaria de Citnca e Tecnologia; Departamento de Microbiologia, UERGS, ‘Médico Vetcinsio, Msc, PHD, Profesor Titular. Laboratrio de Virologia, Departamento de Medicina Veerndria Preventive © biologiae Paras 324, RietComreaef al finalmente, a suspensdo definitiva da vacinagao © 0 sacrificio de animais em casos de surtos. Nesta, ¢ nas préximas etapas da campanha ¢ evidente a necessidade de estabelecer medidas estritas de vigilancia epidemiolégica, entre as quais deve-se destacar 0 diagnéstico preciso e rapido de qualquer quadro clinico suspeito de febre aftosa. Para tanto torna-se necessirio conhecer e diagnosticar todas as, cenfermidades que possam ser confundidas com febre aftosa Neste trabalho realiza-se uma revisdo de informagdes apresentadas pelos autores nos cursos sobre diagnéstico diferencial de febre aftosa promovidos pela Secretaria de Agricultura do RS ¢ Centro Panamericano de febre aftosa, durante o ano de 1993. Para isso descrevem-se os principais aspectos das doengas vesiculares erosivas dos animais domésticos, destacando-se a informagao disponivel sobre a ocorréncia dessas enfermidades no RS e/ou no Brasil 1. Doengas vesiculares diagnosticadas no Rio Gran- de do Sul 1.1. Estomatite vesicular A estomatite vesicular é causada por um is do género Vesiculovirus da familia Rhabdoviri- dae, Afeta principalmente eqiiideos, bovinos e suinos, no entanto, animais silvestres, espécies arbéreas (ma- cacos) e 0 homem também podem ser afetados. Conhecem-se 2 sorotipos patogenos do virus, denomi- nados New Jersey e Indiana, Este ilkimo é transmitido por insetos, incluindo tabanideos (mutucas), mosqui- tos, moscas e acaros do género Fleboromus. Animais silvestres e batracios podem atuar como reservatérios do virus. O agente causal também pode infectar atra- vés de ferimentos na boca ou nos cascos, ou ainda, por traumatismos nos tetos causados por méquinas de or- denha, Em clima temperado a doenca ¢ de ocorréncia sazonal, nos meses de primavera e verdo; a enfermida- de pode ser enzostica em areas imidas e baixas, de clima tropical e com alta populagao de insetos. Os si- nais clinicos em bovinos no podem ser diferenciados da febre aftosa, Frequentemente encontram-se lesdes no bere. A doenga clinica ¢ observada geralmente em adultos, enquanto que terneiros e animais jovens so raramente afetados. Contrariamente a febre aftosa, os equinos, principalmente adultos, também sdo afetados, observando-se lesbes vesiculares na boca, lébios, gen- iva, focinho, lingua e rodete coronério. Em muitos casos, apés alguns dias de evolugdo ¢ dificil encontrar lesdes vesiculares, observando-se somente lesdes ero- sivas. A frequéncia de animais clinicamente afetados 6 varidvel de 0,5% a 50%, mas até 90% do rebanho pode ser afetado subclinicamente. A mortalidade ¢ inexistente ou muito baixa, menos de 5%. Os sunos sto menos sensiveis que 05 bovinos e eqiiinos, e no homem, a doenga pode causar sinais clinicos similares aos observados na gripe. No Brasil, a estomatite vesicular causada pelo virus Indiana 3 ¢ enzostica em algumas éreas do Nordeste (FEDERER ef al, 1967) e no vale do Paraiba do Sul, Minas Gerais, (ANSELMO, 1976; ARAUJO et al, 1977). Surtos de estomatite vesicular causados pelo subtipo Indiana 2 foram diagnosticados em Sao Paulo (PUSTIGLIONE NETTO ef al., 1967) No Rio Grande do Sul, a doenga causada pelo tipo Indiana foi diagnosticada em dezembro de 1978 e janeiro de 1979, em equinos, em 15 proprieda- des, nos municipios de Tupanciretd, Encruzilhada do Sul e Guaiba. De um total de 320 equiinos, 76 (23,7%) apresentavam lesbes na boca ¢ cascos. As lesdes dos ‘cascos eram as mais freqdentes e, em alguns casos, ‘causavam claudicagdo, Nao houve mortes. A maioria dos animais afetados foram os adultos, sendo que so- mente um animal com menos de 2 anos adoeceu (PRADO er al., 1979). © diagnéstico laboratorial de estomatite vesicular realiza-se por meio das reagdes de fixagao de complemento (RFC) ou de ELISA. Também podem ser inoculados cultivos cetulares, camundongos lacten- tes ou ovos embrionados de galinha, identificando-se © virus por imunofluorescéncia (IF), microscopia ele- trOnica (ME) ou virus neutralizagao (VN). Apés a ci- catrizacdo das lesbes vesiculares pode ser realizado 0 diagndstico sorolégico através da pesquisa de anticor- pos fixadores de complemento ou neutralizantes. 2. Doengas vesiculares ndo diagnosticadas no Brasil 2.1, Doenga vesicular do suino A doenga vesicular do suino é causada por um Enterovirus da familia Picornaviridae. Foi com- provada pela primeira vez na Itélia em 1960, ¢ apés em Hong Kong em 1970-1971 e, Inglaterra, Escocia e Pais de Gales em 1972, Posteriormente foi diagnosti- cada na Poldnia, Austria, Italia, Alemanha, Suiga, Bél- gica, Hong Kong, Malta, Grécia e Paises Baixos. A enfermidade nao afeta outras espécies domésticas, mas pode afetar o homem causando um quadro clinico si- milar ao da gripe. O virus € transmitido de forma dire- ta ou através de residuos, came ou subprodutos nao cozidos de origem suina, utilizados na alimentago de animais susceptiveis. Os sinais clinicos, caracterizados Ciéneia Rural, v. 26, n. 2, 196, Viroses confundiveis com febre aftosa 32: por febre, depressao, claudicagdo e presenga de lesdes vesiculares na boca e regido dos cascos sto similares ‘aos observados nas demais doengas vesiculares dos suinos (febre aftosa, estomatite vesicular e exantema vesicular), No estudo histol6gico observa-se uma en- cefalite difusa, que nao é constatada em outras doen- gas vesiculares. O diagnéstico direto realiza-se por RFC ou por inoculagao de material suspeito em culti- vos celulares ou camundongos lactentes e VN. 2.2, Exantema vesicular E uma doenga vesicular causada por 13 di- ferentes sorotipos de um Calicivirus de provavel or gem marinha, pertencente a familia Caliciviridae. Vi- rus deste género causam lesdes vesiculares em ledes ‘marinhos, focas, delfins, chimpanzés e no homem. exantema vesicular foi diagnosticado exclusivamente em suinos nos Estados Unidos, incluindo Hawai, e Islandia, A doenga foi erradicada definitivamente des- ses paises em 1959, 27 anos apés a sua primeira apari- 80; ndo sendo registrada posteriormente em nenhum pais do mundo. Clinicamente a doenga é similar a fe- bre afiosa. O diagnéstico realiza-se por isolamento do virus em cultivo celular, ME ou detecgo de anticor- os por VN. . Doengas erosivas do Sul iagnosticadas no Rio Grande 3.1. Diart ia viral bovina/ doenga das mucosas virus da diarréia viral bovina (BVDV), também denominado virus da diarréia viral bovina! doenga das mucosas, é um membro da familia Flavivi- ridae, géneto Pestivirus. Outros membros do grupo so o virus da peste suina clissica e o virus da doenga da fronteira ou “border disease” dos ovinos. Este tlt ‘mo, muito similar a0 BVDV, até o presente nao foi identificado em nosso meio (OLIVEIRA & ROEHE, dados no publicados). © BVDV pode infectar tam- bbém ovinos e, ocasionalmente, suinos. virus da diarréia viral bovina causa em bovinos doengas diferentes do ponto de vista clinico epidemiolégico, incluindo a diarréia viral bovina (BYD) ¢ a doenca das mucosas (MD), 0 que esté rela- cionado ao biotipo do virus e periodo quando ocorre a infecgto, A BVD ocorre quando o virus infecta ani ‘mais no imunes, Na maioria dos casos a doenga ocor- re em forma subclinica. Podem ocorrer sinais clinicos leves, caracterizados por febre, diarréia e leucopenia, ‘A morbidade € de 80% a 100% e a letalidade varia entre 0 € 20%. Apés a infec¢ao os animais apresentam anticorpos contra o virus. ‘AMD € uma doenga grave, com uma mor- bidade baixa, usualmente entre 1% e 2%, que ra ramente chega a 10%, entretanto a letalidade ¢ de 100%. Ocorre em filhos de vacas infectadas aproxima- damente entre 0s 58 ¢ 128 dias de gestago. Nessa ida- de 0 feto nao ¢ imunocompetente, e, ao infectar-se por uma estirpe viral ndo citopatica do BVDV, desenvolve imunotolerancia podendo permanecer, apés 0 nasci- ‘mento, com uma viremia persistente, sem apresentar anticorpos, ou com um titulo muito baixo dos mesmos. Quando esses animais se infectam com uma estirpe citopatica do virus ou por uma mutante nfo citopatica, desenvolvem forma aguda ou crénica da MD que afeta principalmente bovinos com menos de 1 ano. A forma aguda da MD caracteriza-se pot depresstio, anorexia, salivagdo, hipertermia e diarréia que aparece 2 a 4 dias apés o inicio da enfermidade, podendo aparecer sangue ou muco nas matérias fecais. Observam-se ulceragdes de mucosa oral, lingua e foci- tho. A forma crénica ocorre em animais que sobrevi vem a forma aguda ¢ caracteriza-se por diarréia inter- mitente, emagrecimento progressivo, pélo hirsuto ¢ seco, timpanismo, deformagdes do casco ¢ erosbes ou uleerag8es da cavidade oral. Também ocorrem ilceras na pele, que nao cicatrizam, localizadas preferencial- mente no perineo, escroto, orificio prepucial, vulva, rodete coronério ¢ espaco interdigital. Esses animais podem sobreviver geralmente até 18 meses, morrendo em estado de caquexia As lesbes macroscépicas, tanto na BVD como na MD, caracterizam-se por erosbes e/ou ulcera- 962s no focinho, mucosa oral, faringe, laringe, eséfago € pré-estémagos. Essas lesdes sdo mais freqlentes na boca e no es6fago, sendo que, neste iltimo, aparecem em forma longitudinal. No intestino delgado pode observar-se acimulo de fibrina e sangue nas placas de Peyer. Histologicamente além das lesdes epiteliais do tubo digestivo, observa-se necrose das placas de Pe- yer. No Rio Grande do Sul, o virus tem sido iso- lado de terneiros (VIDOR, 1974), ¢ de soros de neo- natos enviados a matadouro. Em recente estudo, 8 de 40 soros de temeiros coletados em matadouro estavam contaminados com o virus (OLIVEIRA et al,,1993), ‘Com base em levantamentos sorol6gicos, calcula-se que cerca de 50% a 70% do rebanho do RS ja teve contato com o virus (INSTITUTO DE PESQUISAS. VETERINARIAS DESIDERIO FINAMOR, registros de laborat6rio). Esta ampla distribuicdo reforga o card ter subelinico da maioria das infecgdes. Um surto de BVD foi diagnosticado no mu- nicipio de Herval durante o més de junho de 1979. Os sinais clinicos caracterizaram-se por diarréia, emagre- cimento, erosbes de focinho, ulceragdes de mucosa Ciéncia Rural, v. 26, a. 2, 1996. 26 Riet-Corten etal oral e em alguns casos, opacidade da cémea. A enfer- midade afetou principalmente vacas em lactagSo, sen- do que de um total de 1075, 100 (8,9%) apresentaram, sinais clinicos, morrendo 14 (1,379). Alguns ternei- ros, filhos de vacas afetadas apresentaram diarréia dis- creta. No es6fago dos animais necropsiados foram observadas ilceras ou erosBes que apareciam em for- ‘mas de linhas dispostas longitudinalmente. Alguns animais apresentaram ulceragdes da mucosa oral. 0 abomaso apresentou areas arredondadas de cor verme- Iho escuro, O intestino grosso, principalmente a muco- sa retal, apresentou reas de hemorragia. Histologica- ‘mente, 0 focinho, lingua e es6fago apresentaram dege- neragac hidrépica e necrose das células epiteliais se- ‘guidas por erosdes e ulceragdes do epitélio. No intesti- no foi observado necrose de tecido linfatico das placas de Peyer e invasto da submucosa por glandulas hiper- plésicas da mucosa, com formacao de cistos epiteliais nas reas adjacentes. O diagnéstico foi realizado com base nos aspectos clinicos, epidemiolégicos e patolé- gicos (RIET-CORREA et ab, 1983). No periodo de janeiro de 1991 a fevereiro de 1992 foram examinados diferentes érgdos de 13 bovinos (fetos abortados, temeiros, bovinos adultos) ‘com suspeita de infecgdo pelo BVDV, através de imu- nofluorescéncia indireta em corte de tecido congelado, utilizando-se anticorpos monoclonais; destes, 5 foram positivos, tendo sido isolado virus de uma das amos- tras. Neste periodo 12 amostras de soro foram coloca- das em cultivo celular para isolamento viral, resultan- do em 2 isolamentos de BVDV identificados pela IF. (LABORATORIO DE VIROLOGIA, FACULDADE DE VETERINARIA, URGS, dados nio publicados). diagnéstico presuntivo da BVD ou de MD deve ser realizado pelos dados epidemioldgicos e pelas observagies clinicas e patologicas. Para o diag- néstico definitivo é necessério 0 isolamento do virus ‘em cultivo celular e sua identificagao, por técnicas de IF, imunoperoxidase ou ELISA. Para isso devem ser remetidos a0 laboratério, amostras reftigeradas de san- gue, sistema digestivo, baco, ganglios linféticos, pul- mo e encéfalo. E importante, também, enviar amos- tras principalmente de érgdos com lesdes, fixadas em formalina tamponada 10% para estudo histologico. A detecgdo de anticorpos a partir de uma amostra de soro na fase aguda nao tem valor diagnéstico para BVD; silo necessérias duas coletas de soro, sendo uma duran- te a fase aguda e a outra cerca de trinta dias apés (amostras pareadas). A diferenga entre titulos de anti- ‘corpos nas amostras (maior que 4 vezes) é considerada como diagnéstico presuntivo. Os animais persistente- mente infectados devem ser identificados, para que se possa controlar a enfermidade no rebanho. A detec¢0 destes animais pode ser feita através do isolamento do virus a partir do sangue. Outros quadros elinicos produ: diarréia viral bovina. A infecgo por este virus em vacas nao imu- nes, na época de servigo, pode ocasionar interferéncia ¢ falhas na concepgdo. InfecgBes até os 100 dias de _gestagio podem ocasionar abortos. Infecgdes entre os 125 e 180 dias de gestag4o podem ocasionar malfor- magdes congénitas, caracterizadas principalmente por hipoplasia cerebelar ou malformagdes do olho com diversos graus de cegueira e catarata. As infecgdes pds 0s 180 dias de gestagdo nfo causam alteragdes no feto, que a essa idade jé & imunocompetente. Jos pelo virus da 3.2. Infecgdes por herpesvirus bovino tipo 1 e her- pesvirus bovino tipo 5 A infecgdes por herpesvirus bovino tipo 1 (BHY-1), familia Herpesviridae, subfamilia Alpha- herpesvirinae causam em bovinos doengas clinica- ‘mente diferentes evidenciadas por rinotraqueite, bala- nopostite ou vulvovaginite, conjuntivite e aborto. AS infecgdes por herpesvirus bovino tipo 5 (BHV-5) cau- sam meningoencefalite Um fato importante de infecgao por BHV-1 € BHY-S em bovinos, é que apés a infecgdo priméria, virus pode permanecer latente sem causar sinais cli- niicos. Em condigdes de estresse o virus pode ser reat vado causando enfermidade e/ou ser eliminado poden- do infectar animais susceptiveis. Alguns fatores de estresse que podem induzir a reativagio da doenga sio: transporte, parto, vacinagdes ou tratamento com corticdides, ‘No Rio Grande do Sul tem sido diagnostica- dos surtos de meningoencefalite (RIET-CORREA et al, 1989; MENDEZ et al., 1987; WEIBLEN et al 1989; VASCONCELOS et al., 1993; SCHILD et al, 1994), rinotraqueite (RIET-CORREA et al.,1988), balanopostite, (WEIBLEN et al., 1991, 1992) vulvo- vaginite, (CANABARRO et al., 1993). A frequéncia de anticorpos contra BHV-1 em bovinos no RS indica que o virus esta bastante difundido (WIZIGMANN et al, 1972; RAVAZZOLO et ak, 1988; LOVATO etal, 1993), Estima-se que pelo menos 10% da populagdo bovina do RS, ou seja aproximadamente 1.2 mithdes de cabegas, j4 teve contato com 0 BHV-1 (ROSA et al., 1992). A maioria dos casos clinicos identificados no RS tem sido relacionados a meningoencefalites. Porém, esta incidéncia maior de casos deste tipo pode ser meramente circunstancial, Ciéncia Rural, v. 26, n. 2, 1996. Viroses confundiveis com febre aftosa. 327 tuma vez que os animais morrem, chamando a atengo do criador. Os casos de doenga respiratéria, balanopostite ou vulvovaginite pustular usualmente nio causam mortalidade, os sinais podem ser leves € passar desapercebidos. 3.2.1. Rinotraqueite infeceiosa bovina A forma respiratéria da infec¢d0 por BHV-1 ‘conhecida como rinotraqueite infecciosa bovina (IBR), € uma infecgio aguda do sistema respiratorio caracterizada por febre, anorexia, dispnéia, tosse, corrimento nasal seroso ou serohemorragico ¢ Posteriormente purulento, hiperemia, pistulas e erosdes da mucosa nasal. A pele do focinho também pode apresentar hiperemia e lesdes erosivas. Em alguns casos observa-se conjuntivite, sialorréia ulceragdes da mucosa oral. A doenga é mais grave em bovinos confinados do que em bovinos de leite ou de corte mantidos @ campo. Os animais recuperam-se apés um curso clinico de 4 a 7 dias. Podem ocorrer mortes quando hé infecgdes secundérias que causam pneumonias. As lesdes macroscépicas caracterizam-se por hiperemia, exsudato e Areas esbranquigadas ou ulceradas nas mucosas das narinas, faringe, laringe, traquéia e bronquios. No Rio Grande do Sul, a rinotraqueite por BHY-1 foi diagnosticada pela primeira vez em janeiro de 1987 em dois estabelecimentos localizados na regio de Taim, municipio de Rio Grande. Em uma das fazendas, a doenga afetou 370 novilhos de 2 a3 anos de idade, de um total de 2000, enquanto que em ‘outra fazenda, localizada aproximadamente a 20km da anterior, adoeceram 21 bovinos de ambos os sexos de 12 anos de idade, de um total de 147 bovinos. Nos dois estabelecimentos os bovinos estavam pastejando ‘em campo nativo. Os sinais clinicos caracterizaram-se por dispnéia, tosse, corrimento nasal, hipertermia, anorexia, corrimento ocular, sialorréia e ulceragdes da mucosa oral, principalmente no palato e mucosa labial. Apés a fase aguda, os sinais clinicos comegaram a regredir, e os animais tomaram a alimentar-se. A recuperagdo total ocorreu em um prazo de 7 a 15 dias. diagnéstico foi realizado por isolamento do BHV-1 ‘em cultivo celular (RIET-CORREA ef al., 1987). 3.2.2, Balanopostite/ vulvovaginite Nesta forma as lesdes localizam-se na ‘mucosa do pénis, prepiicio ou vulvovaginal. Observa- se hiperemia ¢ edema da mucosa, com presenga de ontos hemorragicos ou pequenas piistulas de até 2 mm de didmetro. As vezes, as lesdes so coalescentes © aparecem cobertas por um exsudato amarelado. Também podem ocorrer lesdes ulcerativas. Tanto os touros como as vacas afetadas apresentam micgo freqlente. A fase aguda da enfermidade tem um curso clinico de 4 a7 dias. ‘A balanopostite por BHV-1 foi diagnosticada no Rio Grande do Sul em um grupo de 11 touros de uma central de inseminago. O surto ocorreu 30 dias apés a introdugdo de novos touros na central (WEIBLEN ef al, 1991, 1992). Esta forma da doenca, principalmente em touros para inseminagio artificial € muito importante, ja que o virus se transmite pelo sémen, podendo causar vulvovaginite, endometrite, salpingite e outros problemas reprodutivos em vacas. No Rio Grande do Sul, 0 BHV-1 foi isolado também, de vacas com vulvovaginite com repeti¢ao de cios e infertilidade (CANABARRO et al,, 1993; LOVATO et al, 1995). © BHV-1, no entanto, n&o causa esterilidade permanente. 3.2.3. Abortos ‘Abortos por BHV-1 podem ocorrer em con- seqtléncia de infecges naturais ou pelo uso de vacinas, contendo virus vivo atenuado ou modificado. O abor- to, que pode afetar até 25% das vacas, ocorre usual- mente entre 0 4° e 7° més de gestagdo, em um periodo varivel apés a vacinagaio ou infec¢to, Frequentemen- te 0 aborto ¢ seguido por retengao de placenta. O virus pode ser isolado de placenta, liquidos e orgiios fetas, Nao ha lesbes macroscépicas caracteristicas no feto, ‘mas no estudo histolégico podem ser observardas ére- as de necrose e corpiisculos de inclusao intranucleares no figado, rins e adrenais. O virus BHV-I foi recente- mente diagnosticado no IPVDF a partir de um caso de aborto em Eldorado do Sul e de material de aborto proveniente do Mato Grosso do Sul (INSTITUTO DE. PESQUISAS VETERINARIAS DESIDERIO FINA- MOR, registros de laboratério, 1994). 3.2.4. Conjuntivite AA forma ocular de infeceao por BHV-1, que no tem sido diagnosticada no Rio Grande do Sul, ccaracteriza-se por uma conjuntivite, usualmente bilate- ral, com fotofobia e lacrimejamento. Observa-se corri- ‘mento ocular seroso ou serohemorrégico, que poste- riormente pode ser purulento. A epifora ¢ caracterist ca de infecgao ocular por BHV-1, podendo sujar mar- cadamente os pélos da pélpebra inferior e cara, A cOr- hea usualmente ndo esté afetada, mas em alguns casos, Citncia Rural, v. 26, n. 2, 1996, 328 Rict-Corren ef a pode ocorrer ceratite ¢ ulceragdo, devido principal- ‘mente a infecedes secundérias. Nos casos no compli- cados ha uma regressao do quadro clinico em 5 a 10 3.2.5. Formas combinadas No Rio Grande do Sul nao tem sido obser- vvadas diferentes formas da enfermidade em um s6 sur- to, No entanto, em outras regides, sao descritos casos onde a forma respiratdria aparece associada a forma ocular ou a balanopostite e & vulvovaginite. 3.2.6. Meningoencefalite Diversos surtos desta forma da doenga cau- sada por BHV-5, tém sido diagnosticados no Rio Grande do Sul afetando temeiros de 14 dias a 3 meses de idade (RIET-CORREA et al, 1989; WEIBLEN et al., 1989) ou em animais jovens de 7 meses (apos a desmama) até 2,5 anos (MENDEZ et al, 1987; VAS- CONCELOS et al., 1993; SCHILD et al, 1994; RIET- CORREA & SCHILD,1995). Em um surto diagnosti- cado num rebanho de 40 temneiros de | més de idade a morbidade foi de 30% e a mortalidade de 22,5% (RIET-CORREA et al, 1989); em outro surto ocorrido recentemente, morreram 8 terneiros de 2 meses de ida- de (BARROS 1994, dados nao publicados). Nos res- tantes surtos em temeiros de até 3 meses de idade, tratou-se de casos esporédicos da enfermidade (RIET- CORREA et al., 1989; WEIBLEN et al, 1989). Os demais surtos ocorreram em bovinos imediatamente apés a desmama ou de até 2,5 anos de idade (MEN- DEZ et al, 1976, VASCONCELOS et al. 1993; SCHILD ef al, 1994; RIET-CORREA & SCHILD, 1995). Em um desses surtos, num rebanho de 237 no- vilhos de 1 e 2 anos, que tinham sido transportados 30 dias antes do municipio de Santa Vitoria para o muni- cipio de Capo do Leto, adoeceram e morreram 9 no- vilhos (3,8%) (SCHILD et al., 1994). Em outro surto, ocorrido em 406 bovinos de 7 a 8 meses, 30 dias apis a desmama, adoeceram 27 € morreram 21 (RIET- CORREA & SCHILD, 1995). 3s sinais clinicos caracterizam-se por de- pressto profunda, anorexia, corrimento nasal e ocular e sinais nervosos evidenciados por fases de excitagao durante as quais observam-se nistagmo, tremores, marcha para tras ou em circulos € quedas. Também podem ocorrer cegueira, andar cambaleante com inco- ordenagdo dos membros posteriores, ranger de dentes € dectibito com movimentos de pedalagem. Alguns animais apresentam uma profunda depressao nos 2 ou 3 primeiros dias sem que se observem outros sinais, nervosos. O curso clinico é de 4 a 7 dias. Na necropsia, ao corte do cérebro apés @ fixagdo, podem ser observadas reas amareladas ou cinzas na substincia cinzenta do c6rtex cerebral. Em temneiros de até 3 meses de idade, nos quais a doenga € sistémica, observam-se ulceragdes no sistema diges- tivo, incluindo abomaso e rimen, hepatomegalia, peri- cardite e pneumonia (RIET-CORREA ef al., 1989) LLesdes fora do sistema nervoso nao tém sido observa- das em bovinos maiores de 6 meses. As lesdes histo- logicas caracterizam-se por meningoencefalite nao purulenta, que afeta diversas éreas do sistema nervoso central, e por necrose da substdncia cinzenta do cértex cerebral. Em alguns casos, encontram-se corpisculos de inclusdo intranucleares nos astrécitos. 3.2.7. Diagndstico de infeccao por BHV 1 eS diagnéstico das diferentes formas de in- fecgo por BHV realiza-se pela reagdo de IF direta € por isolamento do virus em cultivo celular. O estudo histolégico, principalmente nos abortos e na forma nervosa ¢ importante para a constatagdo das lesdes caracteristicas e presenga dos corpuisculos de inclusao, Outra alternativa ¢ 0 diagnéstico indireto através do estudo dos niveis de anticorpos presentes no soro. Para isso, devem ser remetidas amostras pareadas de soros, retiradas durante o surto e 3 semanas apés. Uma eleva- Gao de 4 vezes no titulo de anticorpos indica a ocor- réncia de enfermidade. Na rinotraquefte, balanopostite/vulvovagi- nite e conjuntivite, devem ser remetidos ao laboratério “swabs” com exsudato dos tecidos afetados, Na me- ningoencefalite deve remeter-se 0 encéfalo, se possivel ‘metade em formalina tamponada (10% a 25%) e meta- de refrigerado. Em caso de aborto deve ser remetido 0 feto e a placenta, ou figado, rim, pulmao, adrenal € placenta, parte fixada em formatina tamponada 10% e parte refrigerada, Em todas as formas da enfermidade deve ser enviado soro de animais na fase aguda e apro- ximadamente 21 dias apés esse periodo, 3.3, Febre catarral maligna A febre catarral maligna (FCM) € uma doenga viral de bovinos que apresenta-se com morbidade baixa mas com letalidade de 100%. Sto conhecidas duas formas da enfermidade: a africana, (associada a0 gnii) causada por Herpesvirus da subfamilia Gammaherpesvirinae e a americana, (associada a0 ovino) diagnosticada na Europa ‘Américas, cujas evidéncias sugerem que também seja causada por um herpesvirus, o qual, até o presente nBo foi cultivado ou identificado. A enfermidade ocorre geralmente em forma esporédica, afetando 1 a 2 Ciéneia Rural, v. 26, n. 2, 196. Viroses confundiveis com febre aftosa 29 bovinos, mas também podem observar-se_surtos afetando até 20% do rebanho. Uma caracteristica epidemiolégica importante & que somente ocorre se ha ovinos em contato com bovinos. Os ovinos, assim como o gnti na Africa, ndo sao afetados, mas atuam como reservat6rios do virus. Os sinais clinicos caracterizam-se por hipertermia, depresstio, emagrecimento, _lesbes ulcerativas da mucosa oral, focinho e narinas, salivacao, corrimento nasal e ocular que pode ser purulento, opacidade da cémea, aumento do tamanho dos ginglios linféticos e sinais nervosos como incoordenacao, embotamento, tremores musculares ¢ deciibito. O curso clinico varia de | a 15 dias. As lestes macroscépicas caracterizam-se por hiperemia, hemorragias e tilceras da mucosa oral cenasal, faringe, es6fago e traquéia. Podem observar-se também, éreas esbranquigadas e ou ulceragdes nos pré-estémagos, abomaso ¢ intestino, As lesdes histolégicas observadas em diversos drgios, incluindo 0 sistema nervoso, caracterizam-se por uma vasculite ‘com degeneragdio fibrindide e/ou necrose das paredes dos vasos sangiineos com infiltragao perivascular de ccélulas mononucleares. ‘A FCM tem sido observada espora- dicamente em diversos estados do Brasil. No Rio Grande do Sul foi descrito um surto no municipio de Jilio de Castilhos, no outono de 1973. De um rebanho de 200 bovinos de 3,5 a 4,5 anos de idade, que estavam em contato com ovinos, morreram 40 (20%) (BARROS et al, 1983). Outro caso esporddico, ocorreu no municipio de Herval, em um touro de 1 ano de idade que estava em regime de confinamento com outros 3 touros da mesma idade e 10 cameiros (RIET-CORREA et al, 1987). © diagnéstico da FCM realiza-se pelos dados epidemiolégicos, sinais clinicos e lesdes observadas na necropsia. O diagnéstico de certeza é feito pela observagdo de lesdes histolégicas caracteristicas em diversos érgaos incluindo o sistema nervoso, figado e rim. Para isso & necessdrio enviar a0 Taboratério pedagos desses érgos fixados em formalina tamponada 10%. Técnicas de isolamento de virus para identificar 0 agente da FCM ainda nfo sto utilizadas. 3.4, Estomatite ulcerativa de provavel origem viral Durante os meses de fevereiro a maio de 1993 foi diagnosticada em bovinos nos municipios de ‘Cangugu, Piratini e Morro Redondo, uma enfermidade caracterizada por lesdes ulcerativas na pele dos tetos ‘e mucosa oral. Em todos os surtos 0 motivo da consul- ta foi a suspeita de febre aftosa. A enfermidade foi constatada em 7 propriedades, onde foram afetadas 28 vacas de um total de 2315 bovinos. A morbidade va- iow entre 0,8% em um estabelecimento que tinha 1200 bovinos e 20% em uma propriedade com 5 bovi- ‘nos, (SCHILD et al., 1994). AS lesbes observadas nos tetos das vacas caracterizaram-se pelo aparecimento de éreas averme- Thadas com ressecamento da pele que posteriormente apresentava rachaduras e caia, deixando uma superfi- cie ulcerada, As lesdes da mucosa oral se caracteriza- vam por areas com perda do epitélio da mucosa que deixavam uma superficie deprimida e avermelhada, localizadas principalmente nas regides de jungfo da gengiva com o lébio superior. Na pele do focinho, em alguns casos, observava-se formagdo de crostas e areas uleeradas. A evolugdo da enfermidade era de 10 a 14 dias e os animais apresentaram perda de peso e dimi- iuigdo da producdo de leite. Quatro bovinos morreram ‘sem que fossem realizadas necropsias para determinar a causa da morte, No estudo histolégico de bidpsias, das lesdes, observou-se degeneracao balonosa, forma- ‘20 de microvesiculas no extrato espinhoso e erosdes ou uleeragdes (SCHILD et al., 1994). Amostras de epitélio dos animais doentes foram negativas para o virus de febre aftosa e os soros foram negativos para a prova de VIA. O material foi inoculado em cultivos primérios de testiculo e rim de temeiro produzindo efeito citopatico. Cinco temeiros foram inoculados com material de cultivo celular e 2 com material de campo, Nos 7 animais foram reprodu- 2idas lesbes similares as observadas nos casos esponta- neos, No estudo por microscopia eletrénica realizado em 2 casos experimentais foram observadas particulas virais intranucleares do tipo icosaédricas, nao envelo- padas, de didmetro entre 20 e 25nm, o que sugere que ‘a doenga é causada por um parvovirus de origem bovi- nna (SCHILD et al, 1994), 4. Doencas erosivas no Grande do Sul 4.1. Lingua azul AA lingua azul é causada por um Orbivirus da familia Reoviridae, que tem pelo menos 20 soroti- pos. A enfermidade afeta ovinos, bovinos e diversas espécies de ruminantes selvagens, sendo os ovinos ¢ 0 “veado de rabo branco” os mais susceptiveis. Em cli- ma temperado a doenga tem ocorréncia sazonal, nos meses de vero ¢ outono. O virus transmitido por insetos, principalmente mosquitos do género Culicoi- des. Outros insetos como Aedes lineatopennis, Ornit- hodorus coriaceus e Melophagus ovinus, podem transmitir 0 virus. Ciéneia Rural, v. 26, n. 2, 196. 330 Riet-Corren eta Alguns sorotipos do virus da lingua azul, quando introduzidos numa populagdo ovina podem afetar 50% a 75% do rebanho, com uma mortalidade de 20% a 50%, Nesses casos os sinais clinicos caracterizam-se por febre, corrimento nasal ‘mucopurulento ou sangiinolento, _salivago, avermelhamento da mucosa oral e nasal ¢ edema da lingua, focinho, labios e mucosa oral. Posteriormente, observam-se escoriagdes e ulceras localizadas principalmente nas faces laterais da lingua, cianose da mucosa oral e nasal, diarréia que pode ser hemorrdgica, dispnéia e perda de la. Alguns animais apresentam severa claudicagdo com lesdes de coronite, laminite formagio de uma linha avermelhada ou purpura no rodete coronério. Em regides onde a doenga é enzodtica os sinais clinicos sdo leves ou inaparentes podendo ocasionar abortos. Em bovinos a infecgao pelo virus da lingua azul € subclinica na maioria das vezes. Quando apresenta sinais clinicos, estes se caracterizam por febre, salivacdo, edema dos labios, corrimento nasal com lesbes ulcerativas da lingua e cavidade oral, em alguns casos. Se a infecgdo ocorre em vacas prenhes podem ocorrer abortos ou malformagées congénitas, caracterizadas por hidroencefalia, microcefalia, artrogripose, cegueira e deformagdes da mandibula, Recentemente, nos Estados Unidos BALDWIN et al. (1991) descreveram um surto de lingua azul ocorrido em vacas de 23 diferentes rebanhos. A lingua azul nao tem sido diagnosticada no Brasil, mas o virus foi isolado de bovinos exportados para 0s Estados Unidos (ARITA et al., 1990). No Rio Grande do Sul, anticorpos para o virus da lingua azul foram encontrados em bovinos € ovinos. Em Eldorado do Sul, RS, no ano de 1991, ocorreu, em bovinos, um surto de abortos com malformages fetais caracterizados por escoliose, agnatia, prognatia, microcefalia, artrogripose e nanismo. Exames do soro de alguns animais do rebanho, realizados no “Institute for Animal Health” (IAH), Pirbright, Inglaterra, pela técnica de ELISA, deram reagdes fortemente positivas para anticorpos contra 0 virus da lingua azul. Os achados acima, embora inconclusivos, sugerem a presenga da Lingua Azul no Estado (MOQJEN ef at, dados nio publicados). © diagnéstico direto da Lingua Azul realiza-se pela inoculagao do material suspeito em ovos de galinha embrionados e em ovinos susceptiveis. O virus pode ser isolado, também, em cultivos celulares ou camundongos lactentes. O diagnéstico indireto para a detecgao de anticorpos pode ser realizado pelas provas de imunodifusdo, RFC, IF ou ELISA. A primeira € mais utilizada ja que 05 anticorpos precipitantes so detectiveis por varios anos. Um levantamento sorolégico realizado na Expointer de 1985 em animais do Rio Grande do Sul revelou que cerca de 8% dos animais expostos apresentavam anticorpos contra o virus da Lingua Azul (ROEHE et al., dados no publicados). Taxas similares foram a seguir reveladas pela Argentina € Paraguai, indicando que infecgdes por Orbivirus s80 bastante freqientes nestes paises, embora doenca clinicamente notavel ainda nao tenha sido conclusivamente diagnosticada. E possivel que infecgdes com outros Orbivirus de origem silvestre de patogenicidade desconhecida ou nula (0s quais so particularmente abundantes na regiéo amazdnica), gerem respostas sorolégicas cruzadas, devido a antigenos grupo-especificos comuns. 4.2. Mamilite herpética bovina ‘A mamilite herpética causada_ pelo herpesvirus bovino 2 (BHV-2), um Alphaherpesvirus, da familia Herpesviridae, subfamilia Alpha- herpesvirinae, caracteriza-se clinicamente por lesdes vesiculares e ulcerativas na pele da glandula mamaria, ‘A doenga tem um inicio brusco, observando-se edema € vesiculas na pele dos tetos ¢ bere. Apés a ruptura das vesiculas, hd exsudago com formagao de crostas € lesdes ulcerativas. Essas lesdes podem ser localizadas e discretas ou abranger grande parte da pele da glndula, Em vacas em lactagdo podem ocorrer lesdes vesiculares e ulcerativas no focinho, lingua € mucosa oral dos terneiros. A morbidade pode chegar a 100% das vacas em lactagio, mas quando a doenga € enzostica afeta somente as vacas de primeira cria Geralmente ndo ha mortes e as principais perdas econdimicas ocorrem em conseqiléncia da diminuigdo nna produgao de leite. No Brasil a doenga foi diagnosticada na Bahia (ALICE, 1977) e provavelmente, ocorre também em outros estados. O diagnéstico realiza-se por isolamento e identificagao do virus em cultivos celulares, por ME ou pela presenga de corpasculos intranucleares observados em bidpsias de tecidos afetados. O BHV-2 pode causar também um quadro de dermatite generalizada, que nao tem sido observado no Brasil. 4.3. Peste bovina ‘A. peste bovina, causada por um Morbillivirus da familia Paramyxoviridae, é uma Ciéneia Rural, v. 26, n. 2, 1996, Viroses confundiveis com febre aftose 1 doenca febril aguda, de alta transmissibilidade. Quando ingressa em rebanhos indenes pode ter uma morbidade de 100% e uma mortalidade de até 50%. E enzodtica nas regides nordeste e equatorial da Africa, onde € controlada mediante a utilizagdo de vacinas vivas atenuadas. A feta bubalinos e bovinos, sendo que © Bos indicus é menos sensivel que o Bos taurus. Os suinos, ovinos e caprinos so pouco sensiveis e geralmente nao apresentam sinais clinicos. Os ruminantes selvagens podem atuar como reservatérios do virus. Os sinais clinicos caracterizam-se por um periodo de 4 ou 5 dias com hipertermia (40,5-41,5°C), anorexia, corrimento ocular, queda da produgao de leite © leucopenia. Posteriormente ocorrem diarréia, blefarospasmo, salivagao com saliva hemorrégica, corrimento nasal seroso e posteriormente purulento € lesdes necréticas esbranquicadas de 1 a Smm de didmetro na mucosa oral, nasal, vulvar e vaginal. Mais, tarde, hé perda do epitélio nas lesdes, aparecendo erosdes de cor avermelhada e bordos irregulares. Podem serem observadas ainda, lesdes da pele do Perineo, escroto, abdémen e pescogo, caracterizadas por areas timidas, avermelhadas, —_cobertas posteriormente por crostas. Apés 3 a 5 dias o animal apresenta severa prostra¢ao, hipotermia, dispnéia, tosse e morte em aproximadamente 24 horas. ‘Na necropsia observam-se lesdes necroticas © escoriagBes nas mucosas da boca, faringe, esbfago, abomaso, fossas nasais, vagina e vulva. O intestino delgado © célon apresentam areas transversais de hemorragia e congestiio A peste bovina ocorreu no Brasil durante 0 primeiro semestre de 1921. A doenga que teria sido introduzida pela chegada, ao porto de Santos, de re- produtores zebuinos procedentes da india, iniciou-se nos currais do mercado de Osasco, Sto Paulo, em de- zembro de 1920, estendendo-se aos municipios de S40 Paulo, Itu, Sao Roque ¢ So Miguel. A enfermidade foi erradicada através de medidas severas de sacrificio dos animais, desinfoceao e controle de trdnsito (RUBI- NO, 1921). ‘A peste bovina deve ser suspeitada sempre que se observa um quadro febril agudo, com alta mor- bidade e presenga de lesdes ulcerativas nas mucosas. O diagnéstico de certeza realiza-se pelo isolamento do virus em cultivos celulares. Para isto, devem ser envia- dos ao laboratorio, ganglios linféticos, se possivel de animais sacrificados entre 0 3° e 6° dia do periodo febril.O virus pode também, ser detectado pelas técni- cas de imunodifusdo e contraimunoeletroforese. Os anticorpos para a peste bovina podem ser encontrados, 14 dias apés o inicio do quadro clinico, pelas técnicas de RFC, IF, imunoperoxidase ¢ ELISA. 4.4, Estomatite papular ‘A Estomatite Papular é uma doenga benigna causada por um Parapoxvirus da familia Poxviridae. Pode afetar bovinos de todas as idades, no entanto é mais frequente em animais jovens, podendo alcangar uma morbidade de até 100%. Caracteriza-se por sali- vvagdio e presenca de papulas, posteriormente cobertas por crostas de 0,5 a 1,0cm de didmetro, localizadas no focinho, na pele entre as fossas nasais e os labios e na mucosa oral. Algumas lesdes podem confluir forman- do iilceras de maior tamanho. Em vacas em lactago, também podem ser observadas lesdes na pele da glan- dula maméria. Os animais afetados recuperam-se total mente em 4 a7 dias. O diagnéstico realiza-se pelo iso- Jamento do virus em cultivo celular ou por ME. O vi- rus da estomatite papular é muito similar, ou provavel- ‘mente o mesmo, que causa a pseudovariola dos bovi- nos, doenga caracterizada por formacio de pipulas e crostas na pele dos tetos e glandula mam: AGRADECIMENTOS Osautoresagradecem a Médico Vetrindrio Ana Clau- 4a Silveira Neto, bolsista de Aperfeigoamento CNPq, Laboratério 4e Virologia, Faculdade de Veteriniria da UFRGS, pelos trabalhos Ae digitaro e formatagto necessiios para arealizagloe fnaiza- (lo deste materia REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALICE, FJ. solamente do virus de mamilite herpética bovine no Brasil. Rev Microb, v 8, p. 9-15,1977 ANSELMO, FP Ocorrencia de estomatit vesicular no Estado de Minas Gerais. Bol Def San Animal, v.5,p. 71.1976 ARAUIO, MLR. GALLETI, M, ROCHA, MAM. ef a. Isola- ‘mento do virus de estomatite vesicular tipo Indian, subtipo Indian It no Estado de Minas Gerais, Brasil. Arq Ese Vet, v 29, p 185-189, 1977 ARITA, GMM, PEREIRA, HG, BARTH, OM. etal Studies on serotype 4 of bluetongue virus (BTV). 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