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Constitucionalismo principialista e gp onstitucionalismo garantista. LUIGI FERRAJOLE Tradusio de Andeé Karam Trindade 1. O constitucionalismo entre 0 jusnaturalismo e 0 positivismo juridico. Uma proposta de revisio terminolégica. Ha muitas concepsées diferentes de Constituicio e de constitucio- nalismo. Uma caracteristica comum entre elas pode ser identificada na ideia da submissio dos poderes publicos, inclusive o Poder Legislativo, a uma série de normas superiotes como so aquelas que, nas atuais Constituigdes, sancionam direitos fundamentais. Nesse sentido, 0 consti- ‘ucionalismo equivale, como sistema juridico, a um conjunto de limites e de vinculos substanciais, além de formais, rigidamente impostos a todas as fontes normativas pelas normas supraordenadas; ¢, como teoria do direito, a uma concep¢ao de validade das leis que nao esté mais ancorada apenas na conformidade das suas formas de producéo a normas procedimen- tais sobre a sua elaboracao, mas também na coeréncia dos seus contetidos com os principios de justica constitucionalmente estabelecidos. Para além deste traco comum, entretanto, 0 constitucionalismo pode ser concebido de duas maneiras opostas. De um lado, ele pode ser enten- dido como a superacio em sentido tendencialmente jusnaturalista ou éti- o-objetivista do positivismo juridico; ou, de outro, como a sua expansaoe © seu completamento. A primeira concepsao, frequentemente etiquetada de “neoconstitucionalista”, é seguramente a mais difundida. A finalidade deste trabalho é sustentar, ao contrério, uma concepsao de constitucio- nalismo estritamente “juspositivista”? Entende-se, sumariamente, por "Professor Ordindrio de Teoria e Fllosfia do Dreto da Universita el Sti oma Tre (tii. * Lis Prieto Sanchis ssnalow ae dferengss mais relavantes entre estas duas concepeées do cant clonaliemo, Ver PRIETO SANCHIS, Lis La tors del derecho de “Prineps urs In: MARCILLA ‘CORDOBA, Gems (Ea). Consituconalsmo y gvenme, Bogota: Universidad Externado de Colom bia, 2008p. 1542; PRIETO SANCHIS, Lu” Praspi ure" una leona del derecho no neo-consti- "clonallsta para ot Estado conatitcionsl. Dara. Cuadernos de Plo de Derecho, Alicante, m31,P 52555, 2008, ue ext pubicado em MAZZARESE, Teca (Org) Derecho y damecracia constitu tal Una decision sobe “Prncpia ure” de Lui Ferrajl Bass. Cuadercs de Fie del Derecho, Aianten 31 p. 201-40, 208, Devo a ete abathos de Peto Sanchis lm do convite de Len ‘Garanismo,pemenduteao (nookonstcinaiemo \itbegare Coma FERRI 3 “positivismo juridico” uma concepgéo e/ou um modelo de direito que reconhece como “direito” qualquer conjunto de normas postas ou pro- duzidas por quem est autorizado a produzi-las, independentemente dos seus contetidos e, portanto, de sua eventual injustica> Todavia, parece-me oportuno propor uma revisdo terminol6gica. Isto porque, em ambos os sentidos ora apresentados,o constitucionalismo “juridico” ~ ou, caso se prefira, o “jusconstitucionalismo” ~ designa um sistema juridico e/ou uma teoria do direite, ambos ancorados na expe- igncia hist6rica do constitucionalismo do século XX, que se afirmou com as Constituicdes rigidas do segundo pés-guerra. Outra coisa é 0 consti- tucionalismo “politico” - moderno e, até mesmo, antigo ~ como pratica e concepgao dos poderes piiblicos voltadas a sua limitacao, a garantia de determinados ambitos de liberdade.* Nesse sentido, tanto os limites aos {ae Streck para proferraconferécia de abertra do Simpéso Nacional de DizeitoConsttuconal a ABDConst realizado ente 20 ©72 de'maso de 2010, em Curso (rat) ~o estilo para estevet sss esi. Ages a Tec Manat pos ssc pecnscnsloy lus ds guns ‘be indus rlvantesapereigosmento,enguantooutos Mio form aencides porque mace dos por verdaderes Giscondancias pos CE KELSEN, Hans. Tei generale dite del State, Mano: Eaziont di Communi 1959p. 15, para quem a“ postvidad’ do diet “reside no ato dle er cladoeanlado pornos deere Me “nana”, Ver, amb KELSEN, Hans a dtrine pre del dite: Torino Einaodl, 166 cap ¥, 6341 217: "Nao se pode nega a valdade de un ordenamentourdio poaivo po cuss 25 coneade assuas orcas Este € um element essencial do psltvsmojurdico” Na mesmatina, ver Herbet Hat em The Gm of iw (1961, tadudo part otaliano por M.A. Cattaneo (conto ae “Torin, Eira 1965, cp. IX § Ip 217) “Enenderemos por posts jurico simples test segundo «qual no €necetsaramente verdade, em nenhusentdo, ques li Teproduzai eats fagam certs exigencies da moral memo que na realidadetenhar eos igusonente, em Pest tom andthe Sean of aw ond moras (1958), tudsido p's oelisno por V ros fstinane {lssearacone re crt e morale Ic FROSINL V. conta eat dt tin iano: Git, §2plls-120 nota), onde o segundo doscincs posivessgniiados de postivsmo vem apresentad ha afrmaciode que ndo ease cones necestara entednitoe monk Recordese aber, ques tméxima hobbesiaa, elerian na nota 7 Unf) authors nonverar= aque equlvaies dae que or ‘ede producto eno o conte produzido fact legen em opens mbsma jsnatualis seri ron ators act eg. &noqas al formulada Gresperde, omenteem prt, 20 Pree © 30 {Segundo ~ de mao slgum so ereeo signified d= posivieinourdica”digunos por Nore Bobbio (Gisnaurlome e pasisne gira Milan Edidon di Comunt 1963 cap. V 110, Preistnente:(@) cortesponde apenas parcalmente a nego do posse como “metodo doestudo do dreto" coma qual tom em comm aes de qe ojursia dove se scupar somente io “zeit tal qual ele e nfo do "diet tal qual ele deve se morale poltcement, mas da qual se distancia porque exge também oestedo do" zeit tal qual deve se” jundicamente que. da mesa forma nos tual ordenamentos mareados por Cnstulgesrighias fz parte Go aici tal qual oe € (0) no comesponde,nclramete&noyio de “postvismo jurdce” Come “tora”, que deserve 6 “deli cour fete enn uj de oas"porasetea ou ndreaone Peles orgs dio Estado" mas da qual se fasta ra metidaem que oj nio se pode sami, apes oi do mone Plc estatl da produgiofurdes sua "comum sdeatihssio [como tora atta do deo"? {© por fim, nto coresponde, de mancisslguma, a0 tereto sgnfcado apresentado por Bobo, 'Siog, sud do postisme urdico como "desloge, segundo o qual o dreko cxstente, somes org al mbm “justo” Tal concepso, na reset, no ¢ jsposiuvit,etando em contraste Sma duns pimeiras,e nunca fol sustentada, mas sin duranenteetada por todos os isis do Postvsme rdw: or Bentham por Aust, pot Kelen, por Hart pelo propio Bobbio. *'E neste sentido que fla por exemplo, Maura Floravast(Cottuconalme, Prcorst dl sta ¢endna atu Roms Ba Lalerz, 20, p. 5,90 6 48 ainda, Costasione. Bologna: Mulino, 199%), to identfiaoconstuconamo com um “movies do pensunent" que "ee ama 0 poderes quanto as garantias de liberdade sdo limites e garantias reivi: dicadas e, provavelmente, realizadas como limites e garantias politic externas aos sistemas juridicos, e ndo como limites e garantias juridic internas a eles. Esté, todavia, em oposigao a esta nogéo politica de cor titucionalismo que vem se afirmando, no léxico e no debate filos6fic -juridico, a expressdo “neoconstitucionalismo”, referente & experiénc jurfdica das atuais democracias constitucionais. Por isso, a terminologia corrente resulta, a meu ver, sob varios ¢ ppectos, ambigua e enganadora, Em primeiro lugar, a expresso “constit cionalismo”, cujo emprego, para designar uma ideologia, mesmo quar invocada em ordenamentos dotados de sdlidas tradigoes liberal-der crdticas, termina por se converter em um termo do Iéxico politico ao inv do léxico juridico, impedindo que se evidencie a transformagéo do pa: digma que intervém na estrutura do direito positive com a introdugao rigidez constitucional. O mesmo ocorre - ¢ talvez. de modo ainda m. intenso - com a expressao “neoconstitucionalismo”, porque, ao se refe1 sob o plano empirico, a0 constitucionalismo juridico dos ordenament dotados de Constituigses rigidas, mostra-se assimétrica em relagao constitucionalismo politico e ideolégico supraindicado, que nao desig um sistema juridico e tampouco uma teoria do direito, mas serve aper como sinénimo de Estado Liberal de Direito; e porque, identificada : mente sob o plano tedrico com a concepgao jusnaturalista do constituc nalismo, nao assimila as caracteristicas essenciais e distintivas em relag a sua concepsao juspositivista, que Ihe resulta, de fato, ignorada Ou Contestodo proceso de formasbo do Estado moderno”e simultaneamente, com “segunda ace Segundo ado do" Estado modemo europe, ao lado da “concenrsSo de poder deimpero sob terntrio”Andloga ao as carcteszabes de cnsticionalsmo olereidas por REBLPEA, Gt "hon! cnt. Torine Cappichel, 1950 também, por TROPER, Michel. icone. ‘ontanenalimno ela modem con el dit Mater per and tral cltare gure Sr31, 1958p. 1-2, etomada poe MAZZARESE, Tela, Dia fondamenaleneocatusionalis Inv MaZzAResE, Tela (Org) Nesctstitnalm etal (crorasonale det dit fonda ‘ino: lappicheli 2002p. 1 Ainda mas ampla éa rogio de conaclonallamo proposta por M. Dogan dint fondamental Iw HORAVANT, Mario I tlre dla Cstuzone Leper fete docrciarepubtcana Roma Bari: Latere, 209, p 42), que dentaca contin do eot ‘vcionalsme medemo com “um conjunto de insttutas [| diseminados ao longo dos sclos ‘experiencia polices muito diversas tanto que € lego ligaro constuconalstr antigo et ‘edero, come diversas formas histrias [| de win adit malear que no terminow nunc: {eelaborareexpermetaco seu nicleo normative. Ver, também, DOGUANL, Maro. firodisio {ratcnttuhae Bote W Mulino 994 onde sao clone lverossgecados Ge “Ct [hugo erecorsrudas se anigas raizes eos percasos Nsterics do “contucionalsmo” pol ‘Trane em suma, do “consttulnaliime como conunto de priipospallcos que remeter pensamentogrego ch experienc romana, em seguda afrnados no medievo,em especial po dit [gic Sobre tn, coneltaro cin cnesia ce MCILWAIN, Charles. costal a ‘ero roduo Se Nicola Matieved Bologna: Mulino, 1980. 5 0 temo “neoconstinconaiso” ~ como recordaTeca Mazzatese (Necostcionlins.. op p.2enote 2)~ fo itrodusido no lxico HwSheoyuriica por alguns Slsofs do dito ere es FOZZ0L0, Susanna, Neoconshtuconalismo especifidhd de a interpretacionconsttcio ous, Cuadernos de Flos del Dero, Alea 2p. 355-30, 1598; POAZOLO, Susanna, Neo tiasonaton postive gai, Torn Glappichel, 201; COMANDUCCL, Paco lt pete 4 ug Ferajot Garantsmo,pemenduca e(neo)consttusonaism \MDEBATE Cu LUG FERRALOU 2280, por fim, diz respeito & prépria expresso “positivismo juridico”, ue assuime um sentido que nao colabora para que se acredite na sua con- saposigio a0 (neo-)constitucionalismo. Se, na verdade, o constituciona- smo adota uma nogdo ampliada, 0 positivismo juridico, ao contrario, as ezes propde uma nocao restrita, mediante a sua iclentificaco ~ nao sim- ‘Temente coma ideia da positividade do direito— com a ideia do primado Turis wt tentative di bianco. In: BIANCHINI M; VIARENGO, G. Orgs). hud onoe di Franca ‘eter Milano: Gute, 199, p. 13-124 BARBERIS, Mauro, Neacondtuzionalismo, emocacia limperiasmo della morale Rgion pratt, Bologna, ano Vln. p. 17-162, 200; BARBERIS, Iauro,Flwfia dl ivta.Un'tnraduzon era, 2 8 Torino: Giappicel 2008, § 15, p 27-41 © smo €0 resultdo de uma dupla~e, a meu ver duplamante dicuvl ~cperaao trainee ‘ilastrada pelos eseritos ora eferidos e, mais emplamente, por COMANDUCCI, Paolo, Forme 3 o-costituzionalismo: una ricogrizione etateorca in: MAZZARESE, Tel. Neto € ‘els Goorlninae de di fondamertt. Torino: Giappichell, 200. p 71-9, taoem tadusico ‘i espanhole publcado em CARBONELL, Miguel (Ea), Neensiuconalonas). Madi Trot, 2, p. 7598. A primeira operacto ¢ a Identfeagio do “constuconaame moderne com uma ideologia volta limita do poder e defes de uma eslera de Iberdadesnaturas” que “tem mo pano de fundo,ainds que ngo necessrio,ojusnaturalismo” (COMANDUCCT, Fore i >: ‘titsionalion.. op ct, p. 7 em suma, com © consttsconalisme poltico no sentido aseado 2 nota precedente Assn elertnca empirical fit por Comantuct dibs p 71-77 de ‘speto bs Consiuigdes europens dos sacules XVI e XIX, em eapecial quela alias preurite 38 e20 Estatutoalberano de [88 que eram earns exiveis que nao se diferencavem fornalmente, & leis ordindras e que nloalteream, portato, o paradigina do Estado Lagisative de disito Tuto menos sua respectiva leona juspostvisa do dieito. A segunda operagtaconsiste-em desigaas den “neoconstitucionallsma’ todas esomente as concepgdes de Canstugao ede conshitacionalon isinas nas tr formas de reoconsttuionalisma tern, isologico« metodologice, segundo 2 srminologa proposta por Bobaic para o poutiveme juriccoe reufidas, mesmo se empirenrmente “Terentes is uals Conatlulges rig, pela ese da “necensdraconexso ene ditetoc moral” (d, ‘rl 7338) denies, assim, o constectnalsmo™ com idelagn pols ltl (ng sero (h que se verd mais adlante, na nots 24) eo “neoconsituconalsmo™ com a tese anopostvsts Soexdo ete dieto e moral ~ sob o plano twerco “oncorrente com aqusla positives" ou a ela alterativa” (bid, p. 79) ~ 0 consoteconalismo juspontaista no enconte espeyo nesta cst feagio, nitidamente pouco descntivaporaue resultado da sobreposkgtohrellexao eerca do cons tucionalismo do confront entre (neojunaturalistase(paleo}juspostvstas Muto diferente fol ‘Wacterizasio (no do “neoconsitacionalim, mas siniplesmete) oo “consttaconalism” propos, por Luis Peta Sancns(Canstucionalismyy gerontioma, Mexico: Fontanars, 1997), que tamer “elt 8 aistingSo ~paralelamente proposta de Bobbio a respeito dos tes tipos de poseviamo nite "costitucoralisme idealgica” ed bel, cap l),“canetituconalisma ecco i iba, sp. IN) e "consttucionaismo metodologico® (id. bid cap V),colocando-se, mocap. V (6) ‘Cuma tora do ditto e de um eonstclonalismo pastvsta” Ua letura em termos juspos Vistas do (neo)onsttuconalismotarsbem fat oleredda por MAZZARESE,Neveetiusonalome Jal §14,p. 1622; MAZZARESE, Teca.Towarde a Poitinst Reading of Neoconsttaonaton Socios Journal of gel and Soi Theory, (2), p. 238-260, 200% MAZZARESE, Tec, hsposts {smo yglealizacion del derecho, Qué modelo eric? In: MORESO, Jou Juan, REDONDO, Maria ‘tina (Orgs Ue calgo cm le ers deldvecha de Eugenio Bulgin. Mac Marcial Fors, 2007. I'7E BULYGIN, Fugen. Teca Mazzarese sore el postviemo la glabaizaién del derecho. {ORES jot ian REBONDO, Mai Cr i dei corto dna Engrg ‘nid: Marcial Fons, 2007p. 185-16; GIORDANO, Vales. Il pote la sda da principe ‘lis Es 2008p. 20-23. Todavia,a expresso "neo coneiticonaliamo” na scepgcosubstanclnenie ‘naturalists dies ilustrada,entrouno uso cortene at gerar uma sbancante iterates ue cee 2bre si mesma a0 porto de encgjr tule de uma edie de importantes velunes’ MAZZARESE, ‘ccosttusinaismo. yop cit; CARBONELL, Miguel (24) Teor do! neconttucinationa. Erayes togids. Madd: Trottn, Madrid 2007; CARBONELL, Ned uconalsmals), op. ct QUARESMA, SPAULA OLIVEIRA, ML. de; OLIVEIRA, FM. Rd (Orgs) Neoconsticinalism. Rio de Janeiro: rons 2008, 6 ig Feros da lei estatal e dos parlamentos e, por isso, com o modelo paleojuspositi- vista do Estado Legislativo de Direito* Desse modo, 0 constitucionalismo 6 concebido, nao como um novo e mais desenvolvido paradigma juspo- sitivista, mas como uma superacio em sentido antipositivista do proprio positivism. _— Por isto, parece-me oportuno adotar uma terminologia diversa e “ama tipotogia correlate, que facant USO de TernOs OMORETESS, TOCOS referentes & experiéncia juridica. Sera oportuno utilizar “jus-constitu- cionalismo” ou “constitucionalismo juridico” ou, ainda melhor, “Estado Constitucional de Direito” ou, simplesmente, “constitucionalismo” para designar ~ em oposicéo ao “Estado, Legal” ou “Estado legislativo de Direito”, privado de Constituigao ou dotado de Constituigao flexivel -0 constitucionalismo rigido das atuais democracias constitucionais, qual- quer que seja sua concep¢ao filoséfica e metodolégica. Nesse sentido, 0 traco distintivo do constitucionalismo poderé ser identificado pela exis- ‘tencia positiva de uma lex superior & legislacéo ordindria, independente- mente das diversas técnicas adotadas para garantir a sua superioridade: de um lado, 0 modelo estadunidense - e, de modo geral, americano ~ do controle difuso, mediante 0 qual ocorre a nao aplicacao das leis constitu- cionalmente invélidas, originado pela estrutura federalista dos Estados Unidos;’e, de outro, o modelo europeu do controle concentrado, mediante © qual ocorre a anulacao da leis, cuja origem remonta ao século passado em face do “nunca mais” formulado a experiéncia dos regimes totalits- rios. Assim, poderemos denominar constitucionalismo jusnaturalista e coms- situcionalismo juspositivista as duas concepcdes ora contrapostas pelo atual constitucionalismo juridico. Todavia, os defensores de uma concepgao ar ‘ijuspositivista do constitucionalismo nem sempre se considera jusnatu- ralistas. Eles se declaram, sobretudo, nao positivistas ou pos-positivistas. Entretanto, aquilo que os aproxima é a configuragao como principios éti- co-politicos de grande parte das normas constitucionais, em especial dos direitos fundamentais, e a adocéo de uma distincao forte, qualitativa e estrutural, entre principios ¢ regras, sendo os primeiros objeto de pon- deracio ¢ as segundas de aplicagao mediante subsun¢ao. Por outro lado, este segundo elemento ~ ainda que, de fato, sustentado, sobretudo, por «Ver, por exemplo, FORAVANTI, op cit, ainda, ZAGREBELSKY, Gustavo Il dito mite Legge Air gust. ovine: Elnava 1992 epi, §6, p38 "Ver BARBERA, Augusto (Org). Le as flocks del estucionaliom. Rome-Bar: Later, 200, 1, que recorda que fot a ssiabidade do pact federalist por parte do Congress a verda Sein rarko pela gual no famono caso Masbuny om, Madison, de 1403, 0 juts Marshall decid pela primeira vee no senso da nao aplicagie do uma Jel em contaste com a Consitigto. wane, bamenduiaeeoenedusonsira ‘hocheecontua nena en "7 jusnaturalistas* ~ nao é, conceitualmente, conexo ao jusnaturalismo, po- endo também ser compartilhado por juspositivistas.” Ao lado da distingao entre constitucionalismo jusnaturalista (ou nao positivista) e constitucionalismo juspositivista seré oportuno, portanto, formular e discutir uma segunda distincéo, apenas em parte coincidente com a primeira: a distinggo enire aquele que chamarei constitucionalismo argumentatico ou principialista® e aquele que podemos denominar comsti- fucionalismo normativo ou garantista, A primeira orientacao caracteriza-se pela configuracio dos direitos fundamentais como valores ou principios morais estruturalmente diversos das regras, porque dotados de uma nor- matividade mais fraca, confiada nao mais a subsungdo, mas & pondera- sao legislativa e judicial. A segunda orientacdo, entretanto, caracteriza-se por uma normatividade forte, de tipo regulativo, isto é, pela tese de que a maior parte dos (ainda que nao de todos) prinefpios constitucionais, * Ver inf, nota $0, na qual so mencionades os autores, todos usnatualisas, que sustenain uma istngto qualatva ere principio ereras, cos atores,provalentementejuspestvitas, Que Su tentam uma dstingloapenes quanteatva,ou de gra, ene ees * Devo tl esclarecinento a Tesla Mazzares, que, mesino aderindo a ums leitura juspostvsta do (ceor)eonstitucionalsm, sustenta ua intense indeeerminagao dos direitos fundamen que Eo se afasa daguele geralmentesssociada ace principios em oposite as teptas Cl. MAZZARESE. Ne estuaonaine oct § 1, em expec p. 58.97 MAZZARESE, Tels, Razonsmiento jodi decechos fundamentals Gtcervaciones ligcas y epstomoldgieas Dora, Caateror de Psi 2 Dens, Alicante, 26, p 587706, 200; cde mares mais ampla, MAZZARESE, Tela. ncore Ss rginamente aie rt ondzmentaiSpunt persona postin “poliicomente sare (a set limpresso om Rion patie, Bologna, n 25,2010, §5) Neste mo eneio, vem destacad una "i Plie font de indaterminacio do cenjunto de dire fundamentals (que, precsemente por causa fa inna cnotagto aniologca dos dretts fundamenas, parece ser inevitavel” (dy ibid, § 2.2) Indeterinacio nes seus "trios de individslingao", nos seus “elon de interpreta” © rs texinos de solugzo dos seus possiveisconftos. nesta "intrnseca conotasio axislgcr” que ‘ogie de direitos fundamentals [| tam endo pode ndo er” (ibd, $3) “eque vem, coords, lula pela minha noo formal eavalorativa tanta deste com de todo oncete de wera do dretto (Gi PEREAJOLL Luigh Di fondamena Un ditto tericn 3.0. Roma-bar Later, 2008p. 3 Segs; FERRAJOLL Lug. Princip urs Teorn dl it. Teo dela democracs Rema. Laerea, 2007, daqui em cian Bie il, nrodugsoe§ 11.1, p 725-726 que reside a minha principal diver {gincia com Mazzarese,o gue também se efietena diverse concspgto dos princpios que enunciam Eerie Ranaamentaie ® Aproveit eta expresso de PRIETO SANCHIS, Constitucionlsmo y posts. op ct p. 65:6, sobneudo, de GARCIA FIGUEROA, Alfonso. Prices ypesiiosme ardco. I mo portions pine Palisa as ears de Ronald Dworkin y Reb Alery. Madris: Canto de Eide Vlieosy Cons {ucionales, 1958, § 124 p. 9, onde le chama de “princpialiema” 0 “no positivism” que once ‘ab normatconsitacionas obre os deta" como “pnp consideradesdéneos pate conetar 9 diseto a moral ataves da argumentacso Var também, GARCIA FIGUEROA, Alfonse, Craters dela ravaliad Una apreximaciénneoconsttuctonalisa el Derecho a tats de le dveches, Mac Tet, 200, pasin,Rogitre se que expresses andlogas, mas em sentido cfc, seo usadas por STRECK, Leno EhieVerdatee Conense.Consinao, Hementuica ¢Teras dacursae De pocsnidede nesesdade ‘ke respstan corn em dre. 3.04: ds Jane Lumen juris, 1003, que Gedica uma longa eee {§ 155) a even do “pan prineipologsmo em terse inaala” to 4 fencénca da jurspradencia brasileira (que se vers in, na nota 3) de claborat principio nfo formulados na Const, mas ue so frto,exclosivamente de angumentagoes meals A expresio constnsionalio gare 12" para design a "Yeo Juridea dos unites do poder polten"€ usa, por outro lado, por PACE, Aletsundro, Le side del costraionalismo nel XX! sola, Ditto publics Bologna, 3p. 887906, 2003p 900. 8 Lui Frat em especial os direitos fundamentais, comporta-se como regras, uma vi que implica a existéncia ou impée a introdugao de regras consistentes ¢ proibigdes de lesdo ou obrigacoes de prestacoes que so suas respectv. garantias. Para esta segunda caracterizacao, 0 constitucionalismo pode ser definido como um sistema juridico e/ou uma teoria do direito que pr veem ~ para a garantia daquilo que vem estipulado constitucionalmen como vinculante e inderrogavel — a submissdo (inclusive) da legislacac normas relativas & produgao nao s6 formais, relativasaos procediment {a0 quem @ a0 como}, mas também materiais, relativas aos contetidos d normas produzidas (ao que se deve decidir e ao que ndo se deve decidir), ct violagao gera antinomias, por comissio, ou lacunas, por omisséo. Nas préximas paginas, ilustrarei as caracteristicas que aproxima: mesmo que de maneiras diferentes, as posigdes dos principais expoent do constitucionalismo nao-positivista e/ou prineipialista: em primeiro gat, acitica feita pela maior parte deles ao positivismo juridico com ba na tese da conexao entre direito e moral, gerada pela formulagio de pri cipios morais nas constituigées; em segundo lugar, a contraposi¢ao ent principios e regras como normas estrutural e qualitativamente divers: em terceiro lugar, o papel central conferido & ponderago dos princfpi na atividade jurisdicional (§ 2). Em seguida, indicarei os tracos opost do constitucionalismo juspositivista que, a meu ver, fazem do constit eitam em maior ou em menor grat € que, por isso, s80 suseetiveis de >onderagao ou balanceamento, porque se encontram, entre eles, virtu- Umente em conflito, Disso resulta a centralidade conferida a argumen- ‘agdo na propria concepsi de direito, “O diteito” ~ afirma Atienza, por xxemplo, ~ “nao pode ser entendido exclusivamente como um sistema de normas, mas também como uma pratica juridica”." Por outro lado, ale acrescenta, 0s direitos fundamentais so “valores” ético-politicos, de naneira que néo apenas odireito tem uma inevitavel conexao com a mo. al, como uma teoria do direito dotada de capacidade explicativa e em sondigdes de oferecer critérios de solucao para os casos dificeis também ako pode deixar de incluir uma teoria da argumentacdo e das préticas ingumentativas, nao quais os valores “desenwvolvem um papel determi- ¥ sor asta cones ereve Habra, “a mra oti sspersa na. ain do linet, asin como superna consrugio do eehe nate hes eae oe eres sormas, ors, a moral reside no propre coragso do diete positives (HABERMAS, Jurgen, Disto ‘orale iv HABERMAS, Jargen Move dtc poles Tote: Frau 1952 p36) 3 “agora etd claro que o psitivismo, nos ts sentids deste votbulo™~aqueles apetentdos por sorrt Bobo ="t sbudlatamenteincompatvel com o cnstaconalint’s gue parce thee ‘Penfe igado as doutrina usnatuslistay” (TROPER op. tp 62). Na mesma ia, a sie de ‘SGmanducl, destacada na nota 4 queretons de rest, ogi police jusaturlists de catn. ‘onalismo” coloada por Matec e por Troper “Ch, ATIENZA, Manuel. Tess sobre Frrajl, Dex. Cuateros de Flo del Derick, Alicante 0 2, 208, § 6p. 35, Tas tse exto deserlvidas mais amplamente ert ATTENEA, Manual bre rae le soperaco de pesto eric In FERRAJOL Lig MORESO, José Jay ATIENZA. lanl La ear del deco en param consicnal Matin: Fundacion Colequo ute, 2008, Se 6, plato; e ainda, om minha tesposta FERRAJOLL, Lulgh. Contbuconime y tera del lec pace Mare eat it ut ore 66263, ph795 Ver taben 0 EREAIO- aig. Gots 2 ed. Madd: Trot, 2008, cap. 2p. 2558, em respoata sees de Alfonso 5st Figuern ede Mart Iglesias Vile (CARBONE. Miguel SALACAR UCARTE, Pedra (ede) Saretiomo. Este steel persomionto jres de Lu’ Feral Mads Trot 2058p. 267 284 ¢ 7-10, respectvamente, » Li Fra ante". Analogamente, recorda Atienza, Ronald Dworkin considera 0 direito “como uma pratica interpretativa”; Robert Alexy associa ao direi- to “uma pretensdo de correcéo” e, portanto, o Gnus de certa justificagéo moral; e Carlos Nino entende que as normas juridicas nao sao, por si $6, auténomas razdes de justificagao das decisdes, estando a racionalidade juridica aberta as razdes morais. Da mesma forma, José Juan Moreso considera essencial A cié _ “ obviedade que as Constituigdes incluem conceitos e teses morais” e que, portanto, “incorporam a moral no direito”.” Este constitucionalismo principialista e argumentativo, de nitida matriz anglo-saxénica, caracteriza-se, portanto, (a) pelo ataque ao positi- vismo juridico e a tese da separacao entre direito e moral; (b) pelo papel central associado & argumentacao a partir da tese de que 0s direitos cons- titucionalmente estabelecidos nao sao regras, mas prinefpios, entre cles em virtual conflito, que so objetos de ponderacao, e nao de subsuncio; € (6) pela consequente concepsao de direito “como uma pratica juridi- ca’, confiada, sobretudo, & atividade dos juizes. Sob este ultimo aspecto, pode-se registrar uma singular convergéncia do constitucionalismo prin- Cipialista ou argumentativo com o realismo e com aquilo que podemos chamar neopandectismo quando ameacam a normatividade do direito nos confrontos dos operadores juridicos: o direito, segundo todas estas trés orientagdes, é aquilo que, na realidade, dizem os tribunais - e, de maneira mais ampla, os operadores juridicos -, consistindo, em tiltima andlise, nas suas préticas interpretativas e argumentativas."* Esta tese, certamente, registra a fenomenologia do direito como fate. Mas ignora 0 seu possivel contraste com 0 direito como norma. Por isto, 6 assumida nao apenas como descritiva, mas também como prescritiva, ou seja, como representasao da pritica juridica nao somente por “como 6”, mas também por “como é justo que seja” e, de certa forma, por “como no pode nao ser’. A eficécia ver, assim, confundida com a validade. E nesta constante referéncia a prética judicial nao apenas como critério de identificagao, mas também como o principal fundamento de legitimida- de do direito, que reside 0 ulterior elemento que une o constitucionalis- BATIENZA, Tess sobre Feral. pct §8,p 215.0 termo “valores”, como dbsewva Atenza, 50 figura entre ox meus termes teoricore nem mesmo no indice antics dos argumentos de Pile il fa, bid, 6, p-215, ® MORESO, jo Juan. Ferajoio el consttuconalismo optimists, Dox. Cuero de Fils det Derecho, Alicante 1, 2008, § 4, p. 285. "Esa ga tose sugeid fro tala do lvro de Manuel Atenas: El derecho como argumentacion. Coney ciones dele argumentacon Barcelona: Ariel, 2008, p58, 52°56, 215 22 "A concepeio de diwto “como aividade” ou como “priics socal”, como escreve Atenza, “siz fea, de qualquer modo, coloar em questo distingio entrea ser @0 deve ser, entre oscuro des" tsitivo oo dsureo preserva” (ATIENZA, £ derecho op csp S9). Ver. tambo as obsersectes cnstantes mas notes 6 64 if Garantmo, pemenducao ne)pensituconalro (MOEBATE COW LUGIFERRALO a mo argumentativo e principialista nao $6 ao realismo como também a0 neopandectismo, que igualmente enfatiza o papel da praxis, isto é do ““direito como fato” ao invés de 0 “direito como norma”,” e propte, em altemativa a considerada irreverstvel crise da lel," um renovado “papel dos juristas’ inspirado em uma opsao nitidamente jusnaturalista.” 3.0 constitucionalismo garantista como jus-positivismo reforcado. Positivismo juridico e democracia. posta é a concepgao que denominei “jus-positivista” ou “garantis- ta” do constitucionalismo. O constitucionalismo rigido, como escrevi inti- meras vezes, no é uma superacio, mas sim um reforso do positivismo juridico, por ele alargado em razao de suas préprias escolhas - os direitos fundamentais estipulados nas normas constitucionais — que devem orien- tar a producao do direito positivo. Ele € 0 resultado de uma mudanga de paradigma do velho juspositivismo, que se deu com a submissao da propria producao normativa a normas ndo apenas formais, mas também substanciais, de direito positivo. Representa, portanto, um completamen- Fa orentagio eapressade manera exemplar por PacloGrast que interpreta a warsformastes do dito provocades pela globalizacio coma wm retomo a "um dito privedo dos pivados” "ag ‘lo € a valigade que domina, mas sim 0 seu contin, ito 6, a eftvidade. Elewwdade sir ratamente ite nfo € to ceevant,& to favordvel aos ineresses dos operadores econdmicse {que ies sepeten, 9 observa, ndo porque sea um expel fil de algo qos ets no alo as porque Ennsem sua fora (ese qulsrmson, una eapacidace persasiva) que o toma merecesor de fet obssrvado., portant, de vida longa, Aqui oft do existe endo deve exitir 8005 tos enn Eco gue conn: econtam asim como ho, speros diformes,carregadoo da rari que ts pratcas Cotidianas ines depostam e que dever ser consederadasrespellaves porque, Na sus t-formualidade © plastecsde, posem admirnvelmente responder is varlagbes do mera segundo os diferentes fempos lugares” (CHOSSL, Paolo. Socks, Dinit, Suto. Ur recupere per i dio, Milano. Glue, 2000, § 5 288-290), 2. Cae, scree Grossi com destaques ue renatem 3 polémica pandectts conta a codifiagSo, “signee grande utopia a grande presngio por parte Ge un peace am legielsdor ques or. ‘ou presangoo pla legltis lumina) de pote Colocr o universo juice em um texto, mesmo (gue arcolalesimo e sensataaim; basta cw um pouce mals Funda se descobe aque que € 9 ‘Rita waa soperago, iso 6 oexereton de um contolerigoroso sobre a produgao do dieito™ (i Bis §2.p.290) 2 jg, iid, § 12 p.195:acredito fimemente que estamcs adentrando em um peiodo Mstrco no {qual se pode sumentaro papel das jurists" ste papel, da mesms forma, Gti desnhado tam: ‘Sm Sobre 0 modelo pandoctst: “Maso jurist, sla como cent, sja como Jul, taro pose ‘Se considersr no dever de er herdero daqueleperonagem fecundo gue, na Roms Antig, nasi ‘vilzacte do segundo medsevo na nga experiencia do Conan Laat os dias de hoe, fexselatot ‘deexigencns objeivas,peresoeuo ever delevantar a bandeirs de uta consciénca eta respon: Sbilidade eas tsdusis em principio epeas de comevencin bi, p15). B id, bid, § 7, p. 311312 “Sera precio” que os jurstas dasenvelvam “a consléncia de homens da edna de peas marcasne por um Caro pensament, por ceus cochecimentcs, por cess {Sonics « unidde pea certeza do valor Gnsco da direito para a vida de yma comriasde local cu fslobal Agu € claro éxito jusnaturaietn de ma coneepeto salar: "Ontico€ a grande palav, {jue tarbehn pode soar sbscora, © somante quer nublnhar queo dizelto nko paras comanvdase ‘Rurana, ner am ati, nem uma coers8o;pertence, a0 canuério, sua prépra ntureza © deve, portant, expressiaa completamente 2 |g Foro to tanto do positivismo jurfdico como do Estado de Direito: do positivis: jurfdico porque positiva néo apenas o “ser”, mas também 0 “dever s do direito; e do Estado de Direito porque comporta a submissao, inclus da atividade legislativa * 20 direito e ao controle de constitucionalida ‘Assim, 0 constitucionalismo juridico excluiu a dltima forma de gove dos homens: aquela que, na tradicional democracia representativa, 1 nifestava-se na onipoténcia da maioria, Gracas a isso, a legalidade ni ‘mais —como no velho modelo paleopositivista - somente “condicionan da validade das normas infralegais, mas é ela mesma “condicionada’, sua propria validade, ao respeito e & atuago das normas constitucion Todo o direito se configura, desta maneira, como uma construcao inte mente artificial, na qual s4o reguladas nao apenas as formas, como 0 ria no velho paradigma formalista do paleopositivismo, mas também contetidas, através dos limites e vinculos a eles impostos pelo paradig constitucional. Sob este aspecto, podemos falar de um nexo entre democracia e sitivismo juridico que se completa com a democracia constitucional. E nexo entre democracia e positivismo geralmente ¢ ignorado. Entretat devemos reconhecer que somente a rigida disciplina positiva da pro io juridica estd em grau de democratizar tanto a sua forma quanto seus contetidos. O primeiro juspositivismo, aquele do Estado Legislat de Direito, equivale a positivagao do “ser” legal do direito, que per: te a democratizagao das suas formas de producio, condicionando-lh validade formal 20 seu cardter representativo, sobre o qual se fund dimensio formal da democracia politica. O segundo juspositivismo, aq Ie do Estado Constitucional de Direito, equivale a positivagio do “de ser” constitucional do proprio direito, que permite a democratizacao « seus contetidos, condicionando-the 2 Validade substancial & sua coer cia com aqueles direitos de todos, que so os direitos fundamentai: sobre os quais se funda a dimensao substancial da democracia constitu: nal. Gragas ao primeiro positivismo juridico, foi confiado 0 “quem” “como” da producao normativa a sujeitos politicamente representati dos governes. Gragas ao segundo, foi vinculado 0 “qué” das normas duzidas & garantia dos seus interesses e necessidades vitais. O classic recorrente contraste entre razzo e vontade, entre lei da razio e lei da vont entre direito natural e direito positivo, entre Antigona e Creonte, que a vessa toda a filosofia juridica e politica, da Antiguidade ao século X° correspondente ao tradicional e igualmente recorrente dilema e contr: entre 0 governo das leis e o governo dos homens, foi assim resolvido px atuais Constituicées rigidas através da positivacao da lei da razio, mes que historicamente determinada e contingente, na forma dos principit 3 gemetoo lor FERRAJOLL, Pi §92,p.458; FERRAJOLL, Pil, §138,p.42-3;¢, sina, FEE JOU, Garon pe 821,. 28 Garantsmo, hermenéuta e (neojoxtionsismo UM DEBATE COW LUIG FERRAOU 05 direitos fundamentais neles estipulados como limites e vinculos a lei 2 vontade, que, na democracia, é a lei regida pelo principio da maioria. Distinguirei, portanto, trés significados de constitucionalismo positi- ista ou garantista: como modelo ou tipo de sistema juridico, como teoria o direito e como filosofia politica, Como modelo de direito, 0 constitucio- alismo garantista se caracteriza, em relagao ao modelo paleo-juspositi- ista, pela positivacso tambérn dos principios que. rodugav normativa. Por isso, configura-se como um sistema de limites € e-vinculos impostos pelas Constituicdes rigidas a todos os poderes e que evem ser garantidos pelo controle jurisdicional de constitucionalidade sbre o seu exercicio: de limites impostos para a garantia do principio da ualdade e dos direitos de liberdade, cujas violagdes por comissao dao ‘gat a antinomias, isto é,a leis invdlidas que devem ser anuladas através, a jurisdi¢ao constitucional; de vinculos impostos, essencialmente, para garantia dos direitos sociais, cujos descumprimentos por omissao re~ altam em lacwnas que exigem o preenchimento mediante a intervencso gislativa. ‘Como teoria do direto, 0 constitucionalismo positivista ou garantista ‘uma teoria que tematiza a divergéncia entre o dever ser (constitucional) ¢ ser (legislativo) do direito, Em relacao & teoria paleo-positivista, 0 cons- tucionalismo garantista caracteriza-se pela distincao ¢ virtual divergen- a entre validade e vigéncia, uma vex que admite a existéncia de normas igentes porque em conformidade com as normas procedimentais sobre sua formacio e, todavia, invalidas porque incompativeis com as normas abstanciais sobre a Sua produgio. O tema mais relevante da teoria se nna, portanto, 0 diteito constitucionalmente ilegitimo: de um lado, como referi, as antinomias provocadas pela indevida producao de normas svalidas em contraste com a Constituicao e, em especial, com os direitos 2 liberdade constitucionalmente estabelecidos; de outro, as lacunas de- orrentes da omissdo na producao, igualmente indevida, de leis de regu mentacio das normas constitucionais e, em especial, (das garantias) dos ireitos sociais.®* ioc edn macnn” corapnd tc oe es are re emcee eg ie pin 0 me Lae, 28 ne, gett eens inn lea rcs Sens Secrcereee See Satemae art Fine peta a tn ase Dit ego, C en a Bee eae eet manatee ord ager care oceania ane reread Sen ues ere ore dele a Pe pa a decir Contin ie ae sie sa oan Ne nee 1B a AN A, ci i le eras ee igi Nap ho ge ee eter ne el oe re Lig Ferran Por fim, como filasofia e como teoria politica, 0 constitucionalismo positivista ow garantista consiste em uma teoria da democracia, elabo- ada nao apenas como uma genérica e abstrata teoria do bom governo democrético, mas sim como uma teoria da democracia substancial, além de formal, ancorada empiricamente no paradigma de direito ora ilustrado. Disso resulta uma teoria da democracia como sistema juridico e politico articulado sobre quatro dimens6es correspondentes is garantias de diver. sas classes de direitos constitucionalmente estabelecidos - 0s direitos po- Ifticos, os direitos civis, os direitos de Wberdade e 0s direitos sociais ~ que equivalem nao somente a “valores objetivos”, mas também a conquistas historicamente determinadas, resultado das lutas e revolugdes de mui- tas geracdes, e suscetiveis de ulteriores desenvolvimentos e expansbes: a garantia de novos direitos, como limites e vinculos a todos 0s poderes, inclusive os poderes privados, a todos os nfveis normativos, inclusive aos niveis supranacionais e aquele internacional; a tutela dos bens fundamen tais, além dos direitos fundamentais.” Em todos 0s trés significados, o constitucionalismo equivale a um projeto normativo que exige ser realizado através da construcso, median- te politicas ¢ leis de atuacao, de idéneas garantias e de instituicoes de ga- rantia. Por isto, como escrevi outras vezes, 0 garantismo é a outra face do constitucionalismo. De outro lado, em nenhum destes trés significados, 0 constitucionalismo admite a conexao entre direite e moral. Ao contrério, a separagao entre as duas esfetas ¢ por ele reforgada, seja sob o plano asser- tivo da teoria do direito, seja sob 0 plano axiolégico da filosofia politica Nesse sentido assertivo ou teérico, a separagao € um corolério do princi pio da legalidade que impede, para a garantia da submisséo dos juizes somente & lei, a derivagao do direito valido do direito (por eles suposto) justo e, para @ garantia da autonomia eritica do ponto de vista moral ex- temo ao direito, a derivacao do direito justo do direito valido, mesmo se conforme a Constituigao. No sentido prescritivo ou axiologico, a separa- {0 é um corolério do liberalismo politico que rejeita, para a garantia das Hberdades fundamentais em relagdo a tudo que nao lesiona 0s outros, a utilizac3o do direito como instrumento de reforgo da (ou de uma deter- Jado na nia 4 com as interpretaso, sb a ambigua etiqueta“aeoonstituclonalism”, de caster [esata por outro, da ela de ques avslorgbo sok um regusta do positive urdae Uulvall, se asecada 8 “eon do deo, 20 seu caster “puro” (no sentido kelenino) ou “To: ‘Rar (ro scrbdo bobbian). Para una cris juspostvista da tse da a-eloragao da ciara {om ue no ual paradigma conatituciona, Feet o eter tos me texto FERRAJOLL, Lug. La Srogmatcn dela teria dl dist, lv COMANDUCCY, Polo, GUASTINE Riccardo (Org). Aral Pte 0022009; Reece gurpradens ont. Torino Gapplhel 208, P251-275 (én emespaaholFERRAJOLL, Lug Epitemolot fray arantisma Mexico: Fontarare, 200, p10. {Soy FERRAIOLL Pl, Intodusione, § 6 p.2652, FERRAJOLL, Lug. Democraziacottusionale e Senza piundica Pte Dito gule, erae np 1/20, 200 5 Ver FERRAJOLL, Pll § 13.16, P8296 e, também, FERRAJOL, Ligh Pex una Cala del bend ondumentatl In: MAZZARESE: Toca: BAROLAR, Pola Di fondomerta. Le aloe Sie, Con tev appendie dicate renal Trio: Giapeichel, 200, p. 65-8. “Garaniomo, emenéteao seoeonsttucionsismo UMDEBKTE COMLUG FERRALOL 5 minada) moral, No primeiro sentido, a separaco equivale a um limite a0 poder dos juizes e a0 seu arbitrio moral; no segundo, entretanto, equivale ‘2 um limite ao poder dos legisladores e & sua invasio na vida moral das pessoas." Em suma, 0 constitucionalismo garantista configura-se como um novo paradigma juspositivista do direito e da democracia que completa = enquanto positivamente normativo nos confrontos da propria normati- vidade positiva e enquanto sistema de limites e de vinculos substancias, relativos ao “qué”, em acréscimo aqueles somente formais, relativos a0 quem’ e a0 "como" das decistes ~ 0 velho modelo paleo-jus-positivista, Gragas a ele, os principios ético-politicns através dos quais exam expres- 508 08 velhos “direitos naturais” foram positivados, convertendo-se em rincipios juridicos vinculantes nos confrontos de todos os titulares de ges normativas: n4o mais como fontes de legitimacdo somente ex- tema ou politica, conforme o tradicional pensamento politico liberal,” ‘mas também como fontes de legitimagao e, sobretudo, de deslegitimacéo interna ou juridica, que designam a razao social daqueles artificios que, na verdade, s0 0 Direito e o Estado Constitucional de Direito. Assim, a soberania deixa de existir como potestaslegibus soluta (poder desvinculado do respeito as leis) por parte de drgaos ou sujeitos institucionais, mesmo que investidos de representacao. Ela “pertence ao povo”, continuam a afirmar todas as Constituigdes. Mas esta norma equivale a uma garantia: significa, negativamente, que a soberania pertence a0 povo e a nenhum outro e que ninguém ~ presidente ou assembleia representativa ~ pode 3 Sobre ses dls lpiiados da teed “separagio entre dveitoe mora” ou, anda entre dieito® justia consulta FERRAJOLI Lug ta separaione ra dstioe morale. Polen del sects. Salle Imedemts, Roma, Fondazione Base, np. 1616) mag-ago- 1985, FERRAJOL., Dito erage, Gp cts cap. V8 1 p. 20810; FERRAJOU, Pil, cop NV Susp 308-321. A respelto das impiacces dla ees no ques efere aos problemas do abort da utes do embrigo ver FERRAJOLL Usigh ‘Abort morales dirto penal. Pascal m9 297416 1976;e, gualment, FERRAJOLL Lag. {question det embrione ta drto e moras Fle, Milano, ane XVI, m6, p 183-169, 2003 (Gadusidoe pbliado em espanol ern FERRAJOLL, Us Democracy gerantoms Maid Tota, S008 p 152103). * Este 60 constitucinaismo ao qual se referem Matteucl,Teopet, Comanducl Barbers. Recor demvse, por exemple, de Benjamin Conctan em seu Prencpes de politique, publcado em Cows de Poltisuccnsiutonnl (1818-169) etadusido para oWaliano: CONSTANT. Benjain, Prin Poitiza. Roma: Rint, 1970, p55." soberania tao exte sen de mancira imitadaetlava, C4 ‘nde ini a independéncia ea exstnca individual, termina « ursigto desta soberaia, Se 4 Sctiedadeulvapass eta front, oma-e to culptvel quanto‘ dapota que fem, como ul 30- Ieate a ctpada que extern; sociedad nao pode exceder sua complete sem ser wsurpador, {air aem sr partiara continu, Conant "A soberais do povo nf imag ea € ci ‘unscia aos mies que le estabelecer «use or dietos dos indvideoe™ CX, TOCQUEVILLE, ‘Aes de, La democraiay Americ. tv TOCQUEVILLE, Ales de Set pte vl Torin: tet, 19681 pat I cap. Vp. 297 "Exist una et perl gue fl fete, ou 20 menos ado, no somente pala malora dese ou daguele povo, mas pla aos de todos Gshomens Era a jus. A jus es represersa ent, olimte do diteto de cada povo{- 1 Quando, portant recuso dbedecet «uma ‘Sta a ago na verde 2 maior oto de comand leg ape serie da shri fo povo sober do generohumano” Sobre ansformagdo, opera ples Conaitigbes igdas, eZee juste emis poten ver ERRAOLL A, $6 pea 6 ug Fenajot apropriar-se dela e usurpé-la. E, como povo nao é um macrossuje ‘mas a soma de milhdes de pessoas, a soberania popular 6, positivame a soma daqueles fragmentos de soberania que sao os direitos de todo: O constitucionalismo positivista e garantista diferencia-se do cor tucionalismo néo-positivista e principialista pela rejeicao de todos ac les que so os seus trés elementos principais: (1) a conexao entre direi ‘moral; (2) a contraposigao entre princfpios e regras ¢ a centralidade ¢ ferida & sua distincao qualitativa; (3) 0 papel da ponderacao, em op a0 & subsungdo, na prética jurisdicional. Estes sdo os trés elementos « submeterei a andlise, identificando outros tantos riscos a eles conexos: ‘uma espécie de dogmatismo moral conexo ao constitucionalismo con cido como cognitivismo ético; (2) 0 enfraquecimento do papel normat das Constituigdes e, portanto, da hierarquia das fontes; (3) 0 ativismo dicial e 0 enfraquecimento da submissao dos juizes & lei e da certeza direito, que colocam em xeque, por sua vez, as fontes de legitimacao jurisdicao. 3.1. Uma critica a0 antipositivismo principialista e a tese da conexo entre direito e moral E precisamente porque 0 constitucionalismo significa a positiva dos prineipios de justiga e dos direitos humanos historicamente afirmai nas cartas corstitucionais que, para ele, também vale ~ ao contrério quilo que entende Dworkin, Alexy, Zagrebelsky, Atienza e Ruiz Man =o principio juspositivista da separacdo entre direito e moral contra aq laenésima insidiosa versao do legalismo ético, que é 0 constitucionalis ético, uma vez que este principio nao quer dizer, de maneira nenhw que as normas juridicas nao tenham um conteiido moral ou alguma “t tensio de justica”. Esta seria uma tese sem sentido, assim como no veria sentido negar que, no exercicio da discricionariedade interpreta gerada pela indeterminacao da linguagem legal, o intérprete é, freqe temente, orientado por escolhas de caréter moral. Mesmo as normas juizos (a nosso entender) mais imorais e mais injustos séo considera "justos” por quem os produz e exprimem, portanto, contetidos “more que, mesmo se (nos) parecem desvalores, s4o considerados “valores” quem os compartilha. Da mesma forma, o ordenamento mais injus criminoso apresenta, ao menos para o seu legislador, uma (subjet “pretensdo de justica”. Isto quer dizer que as Constituigées expressa incorporam valores da mesma maneira, nem mais nem menos, como zem as leis ordinarias. Aquilo que representa o seu traco caracteristicc fato de os valores nelas expressos - € que nas Constituigbes democrat consistem, sobretudo, em direitos fundamentais — serem formulados Garantsmo, herrenduca e(eo}eosttvsonasro ‘DEBATE COMLUGIFERRAOS xeio de normas positivas de nivel normativo supraordenado aquele da ;gislacdo ordindria e serem, por iss0, em relacao a esta vinculantes. £, portanto, insustentavel a derivacao ~ a partir da dbvia circuns- incia de que as leis e as Constituicées incorporam “valores” — da tese de ma “conexio conceitual” entre direito e moral. Mas, evidentemente, esta sse é bem mais sofisticada. Ela ndo equivale apenas ao banal reconheci- xento da incorporacio nos princfpis ssim considerados pelo legislador ou pelo constituinte ou, ainda, pelos peradores juridicos. A “pretensao de justica” & qual se refere Alexy no na verdade, uma pretensao em sentido apenas subjetivo.” Ela equi- ale, ao contrério, a pretensao de que as normas vélidas “nao tenham o ardter de injustica extrema”, de tal modo que “normas singulares em onformidade com o ordenamento perdem validade juridica [..] se so xtremamente injustas” * evidentemente em algum sentido objetivo. Por utro lado, Zagrebelsky afirma que o direito consiste, hoje, na “fusio da 2icom principios de justiga independentes”.® Dworkin, por sua vez, con- idera incompreensivel que um juizo moral seja algo diverso de um juizo realmente” ou “objetivamente” ou “verdadeiramente” moral; que, por xemplo, 0 juizo ” a escravidao é injusta” exprima algo de diverso de a escravidao € objetivamente ou realmente injusta’. Moreso, de outra Na fata desta pretensto, observa Alex, um sistema normative no nem mesmo um sistema ridio (ALEXY, Robert Conceto# old del dnt Torino: Einaudi, 199, cap.1, § 33. p38, sp decap ll,5422,p.6r-seap. IL $21, p. Srcap 1V,p 150) Eapretensio de stig, firms, te diesngue, como criteria cstfeatéro, ut “crdaramesto de bandos” de um “ordenamento ‘s dominantes” mesmo que sea njsto (1b, p52) Elana que esta ese nfo contadia, de todo ‘do, 3 tae posiata da separac, asim coma no aconiedie= dferentemente do queentende ‘oo Gy tld p80) ales igualmante bora esubstancalmeneequivalente da chamada "cone So rac" senda qual" wbsst uma conoxao necossria entre o zeit ema algun moral, ‘idvesp. 0, 9432 p. 18) ot sea. no minim, amoral do legisiadr. “Te aepecosroconhece Ales), ‘em pouea relevinia pratica. Oe fata, os sistemas jridicesconcrelamente enstentes spresentan, ‘mado regular, uma pretens20 ce Justia mesma se As Veaes,com exaetseiieages (id S031, leae berm mui soisteada spresentada por Alsy éaquela,nitdament anthusposivst, ’ denaminada "sonexie forte”seguno a qual evista "uma conexSonecesiraenteo Seto 8 ‘Sasmoral (id, ba, $43.2, 78°5433, p 885) 1, bid, cap, TV, p, 132-138 cap. Ul,§ 421, p. 39 segs, e § 422, p 65; cap I, § 12 7.9283. staze, cdm eis da eltssca formula enuriada loge apes os hortores do Pazismo por Gusta” [Bdbrach e invoeada por Aly (eid, cap Tl §421, p99. segs), segundo a qual aie pests ide validade quando su0 ijantinaicang tma "metideintlervel (Geen Urrechtund Seger Rechts (1946), aduzio em Haliano: CONTE, AG: DI LUCIA, P FERRAIOWL, + SRLM Posi dl drt. Milano: Cortina 2002, 157-158) Recorce-e, tambés, a posigto de Ha ‘xmas citda na not "Ck. ZAGREBELSKY, Gustavo nwoducion, ln: ALEXY, Robert, Conta ait dl dita, Tot ‘oy Einaudi 1997p. XX ZAGREBELSKY, trite mite pct cap. VL 9p. 162,onde 3: "Na Tesenga dos principio a realidade express valores, '9 iret vale como. vigeee wim direto spall Oder peng ener dora por in ZAGREMELSR, Gut. "lege ela sa gusts, Bologna I Mulino, 208, cap.1,§2,p.24em que fina que "a elagSo comm Justiga¢conettiva do proprio concelt de le” "Cf, DWORKIN, Ronald. Question’ d princi. Milano: Saggitore, 1990, p, 211-215, Dag af ‘ons ese rormatva a “nica resposta cores sustentada pelo ator em No right Aste (1978) SWORKIN, Ronald. Non €® slatione comet? Material pertuna ston de cult gard, Boog Lig Feros parte, sustenta que, para fundar o universalismo dos direitos humanos, E necessério assumir que existe uma moral objetiva.™* Em todos os casos, escreve Atienza, o constitucionalismo argumentativo ou principialista comporta uma concepcao objetivista da moral." Mas uma consequente concepsao objetivista da moral remete, por outro lado, a sua concepsao cogrtitivista. Supde, em suma, o cognitivismo tiga -escreve Atexy, “mais certo seu conhecimento”.*’ O critério de reconhecimento das normas validas, ‘2 pa porto gun con mpl da acon da emit eg aa ec cnn eerie steal Forint ela ees wuteesiccs cae basin anare Sheun ee Et per a Bown oer pic Warr ace BOLT Fie ete mat eee Sse EMCO. Cem ‘gle i ete Pace Cocca hy ci es SOLA SUE ih Si knee Pe Cpe Cat ge name Set ome wp aan Saree er Doon precast ATURE efit ein loses en ps ‘pnt ta laa tte asked tomate somes weer SCTE att tt caer ct toes oon reat ite’ Sues watioesead Tess Sophy ure estat ts SR NIOaS chaser te era enaagie meal ele SSELISST ER Gotoate eae Notion, rc econ mej ea mor ICOTTLE rp init wmanie ogetita deta moral. Siena: DICips, 2003p. $40. Sabre este eneai, vet pontine Sie CRN trac Coetrt shed Hose wh DCT Eh Bont et Jered Si none Sate Sip hos oa 5 te on come ene cemproatia om um ovo mine eS RENE MA Bee GPR acute ne a, ener ittoete tec aides unetis afaaene ae ‘Suede ered una icato mont Niokaneamer seen taeeeee ee sameeiare alee as Sagat pene Te silent Sipe agape inlet bee acne SSSR A Rare SRS BS een ae pide atta “ethan ane eens tahoe eS Bite nao cove teal ue gatas etree EeebonetOeenatane See tea Tan inpoe eat anne se Sines ssuepre Suna oSite Mss, Selon Ces oper rasa Oma SURE ae iow asc ele tomlin tree ees ‘tra Se Sam Commins eet of es arent oe Wrinnnte oh inte dielonam ene ore een me eft NOTIN Cape tat wrath renee motorman ‘Sn nts hte Eso ay ren cents See SIGS tae ina” rcsraitar a icon ema BERENS ae te CREAM an Acie ana Tne eae {HES dicted Uae pe eetacce re CanObneee CA {Gig Sip ths Sia ss Ga ah Svs dnenr nee cn » es nr lr ene pe ne apa ce aera sa tne ns Nemec eae Ok 'Ceaaabia Wl Steet tone peta ee tlesuappheeion’ ere Soveria Manoel: Rubbettine,2007 Kendle dean diversas concepts, ses Wagon perenne ne Sach cde Sotortate mena SALE Cmeioe miley LS saip ‘Garansmo, emenduica e(wojeonsttuoraisme (MLGEBATE COMTI FERRACL 29 assim, volta a ser, ao menos em parte, aquele expresso pela velha méxima dla Common Law inglesa, veritas non auctorits fait legem, em oposic30 & maxima hobbesiana, auctoritas non veritas faci legem. isso resulta uma concepcao de constitucionalismo que arrisca pro- duzir, paradoxalmente, o seu proprio enfraquecimento sob os planos mo- ral e politico. Para além das intengGes dos seus defensores, na verdade, uma concepgéo semelhante resulta na transformagao do ém se apresentam nas regras, nao menos e em algumas ocasides ainda mais do que nos principios. E esta, de resto, a conclusdo a que chega, co- srentemente, a partir de posigdes principialistas radicais, Alfonso Garcfa Figueroa, que afirma o cardter “fraco” e, em tiltima anélise, inconsisten- ‘upremes. Sobre “principos gus” no dirt Htallana, Lmito-me a destacar CRISAFULLI, Vesi, Le ‘etnaztone le Su dapotsm dipriepa. Niave: Gir 1952; BOBBIO, Nowberto. Princip general dito. Nevsimo Digesto italian. Torino: Ue, 196, XB. 657836, JOR, Mari. princi nel lint taliana Scologe del dito, Milano, x2, p 7-37, 1983; ALPA, Costa I princip genera, LUDICA, Gs ZATTL Pr Treat ddr post 7 ec. Milano: Gitte, 2006; MODUGNS,F. Prine: 2 gonerll dll ornament, ErccopteGuuris. Roms Trea” 1981. 9. XXIV; MODUGNO, F Dail enorme. La funzione state dei principe | pencp supremo fendamental Ine AAV, ‘aperinae uric de "900. Milano: Glue, 2000; MODUGN, FS sal itrpretacone cei vorale Nopol Es, 2008, " Os autores que formularam est dstngto ene “distngso fers” € "listings faca” a respeito da siferenga ante principio eregras 8c: ALEXY, Thora dele derechos. 0 exp. 1, p86) PRUE FOSANCHHIS, Lu. Sobre pitts v norma. Problems del razontmiensarsce Madde Centro de "studios Canstitucionales, 1992; CUASTINI, Riccardo. I princp el crite pontivo. In: GUASTINT eanrde. Distinguento Studi teoriae matteo de ita, Torte: Clsppichel 1996, p. 113135, ‘lomado em GUASTINI, Ricarto, Tea e dogratica dele font, Milano’ Gillet, 1998, cap. XV, rsot; COMANDUCCI, Prin giv. op st, St, p. B87_ A primera crientacto € eaucls lustenada, no rbalhosctados nat nots precedents, por Rorsld Dworkin, Robert Alen, Manuel Sorza, Juan Ruiz Manero © Gustavo Zagrebelsky. A segunda orientale, stiea nos Conant ‘oma primaire certaments bem mais srgumentad,€ aguca expressa~ alam de Porto Sarchs, ‘Boast’ e Comanduce nos eietitorrecém refers ~ por CIANFORMAGGIO, pct; JORE, MC: SINTORE, A. Maral tein generale del drt. Tonnes Giapplel, 1985p. 25862; MORESO, ‘Come fr combaciae pat del dito. In: COMANDUCCL, Pale; GUASTINT, Recados (Org) Sais ert 1987) Tero: Giapplchal 1998, p. 79-116; DICIOTT, E Inerpretassne della legge ¢ cor inal Torso: apple 99, ap. V8 p 2s BARBERS Fwd dire (Pet p. 108116; MANIACI, G.Racionai ed eqlli feral rgomentazione sad, Torin $lsppideli, 208, p. 30007 e PINO, G. Dit merretesione I raionamentogurdic nella Sat ‘sional Bologna Il Muline, 2010, cap. I 81, p 81.7, Mesmo com varagto de enfoques e de irgumentos,todcs eves autores recutam que, ene principles © regra, posta se esabeecer una Ierenga nda, de po entologic ou qualtativ,e admitem somaente wna difrenga quanttal’= sm greu divers ~goreliete, aioe nos principe « menor nas Yeas = em que ae ctactreins {os Brincpioeidencadas pelos expoentes da primelreoneario se encontim em todas as POP ‘a incunive nas regras-A sisting dovorknns em senado fore ene ese ripley € conde ‘ada or Ricardo Gunstin Princ ita. ope p. 342-34) como "ama disingo tu su) Geclogica, cperada “com csfacada Snalidae de suger que 0s julzes vam reroler os 08 Ividesos ds iene ar case) apiand prncipios eee plicos io postvados na Conteh na legislagso" % Lgl Fras te da distincao, por causa da problemética nao mais dos principios e da ponderacao, mas sim do modelo tradicional das regras e da subsuncao, por ele considetado obsoleto no Estado Constitucional de Direito, em que também as regras sio suscetiveis de ponderacées, igualmente aos princi- ios. Ainda mais discutivel é a capacidade explicativa da distingto. E du- vicloso; por exemplo, que Tenhamt sido baseadas sobre principios, € no sobre regras, as decisdes adotadas nos dois célebres casos trazidos por Ronald Dworkin, em Taking Rights Seriously.* Nao quero dizer que a SCL GARCIA FIGUEROA, Crises de la moral. op. ci, cap. TV. 142 € 145, que destaca, no resin senide, GARCIA AMADO, Juan Astonia, ject de ponderacion y su partes. Una tis TECARCIA MANRIQUE, Ricardo (ed), Derechos seals ypondeacn Mai: Pandan Coioguo Jerico Europes, 209, p 249352 No mesmo sentido, vet FINO, op cit p 25, 2 Tratase do caso Rigs os. Paine, de 1883, no qual estava em questo saber seo asasino do de ‘uss pode dele erdat« do caso Hennngan's. Boome! Motors Inc de 190, no dual eave justo responabllidde do fbrcan de um veleulo fetes Gancs provoesdos por acden- PEaustde perm defeto de fabricagto, mesme diane de uma clasibacotatl que Urata & frantn, “coocada expressarente no lugar de tts gatas, bgocie resporotlidades” 4 ‘Shacto de vepaat a partes deftuoeas (DWORKIN' dit prep ct, p96 90) Os dos aloe tera sido rsnvides sem prota algem em ordenamentos Sa Civ Law.com, pot xempla, © Tan, com bese em regrassbsolutamente Inequlocsoprmeite com bate no aft 46360 codigo tls que excl por inaignidade para asucesG0" quem, veluntaraiente, matow ct teniou mata a Per acai tase onan om thet do mesa cing ene as Pifarant peor vicios da cosa veda”, que exabeece no sgundo pargrate Que a csussla Conta quale excl ous ita a garantia ndo tem efeto seo vesiedor age de mse em Teagb 90 Compradexo que diz reepeto aes vcios da cis abs chegando 8 ma soluctofundamentada ittedamente sobre segza: (0) regs acerca da gaTantia pelos vicios da clea vena (at 190,81) (Gha rege acerca da derrgablgade de tal getaria em face de uma cise conse; (©) teera sun nderogabldadetesmo na presenge Sema dasula contara sce vicin da cos sto de Conhesimento do vendedor que age Ge mie. Neste segundo caso, deversiaverifat se 0 vende: dor briante ere 20 menos, eonacente do vcio do veculoe seo ela sido do comprador. Nos ‘rdenamertes da Commo Lao, os dois cscs a0, ceramerie, al problematicos wo expen ura sbordagemn anoposivist eprincpalst¢, pars ee malejstfcada do que toe Seta Ee dirt codificdo. Todavia, mesmo nests ordenamenis, no mnimo dacutvel que ss mesmas sucenimposn pia nani do cig talon ig ort ts un pa fr doe printpon€ no das regs. Isto vale, em primero lat era o sso Rigg Palmer Com Eeoerabia deft ra verdade' nde peece isos lces teen aeumido come tia Dw o sere pup segundo Gun ‘nga podem been a opt sxpes Tal prio Eestena, to unpte, poral =, uma deturminada decto segundos Gea nado ournada” ue pre Sides aplicado dns rgras= "de fat; em ger sb esses tram proveto de modo perflamente icq ee seus lchoe uric” (8. bi, p> masoe ita afar “uma razdo que impuliona Cn ovierta em uma determinatn dive (iid p. 95) A dec fora, ao contin, based para da carlo de indmeras manimas em mattis de Intespretaio fermlades pot Rutherford, Exton Putfendoct Sith e Blacstone alm de ouras marinas de direto svbstancl da Common Lew "om preciso cepras juries, mesmo que consiseradaaimplcias em ou regres 0 respalto A ‘ontade do tertador gue crtamente nao tera deignado como rerderoseustussrero1areprada Tuldade do negéeo extorguldo com violnca ou engan,ambes dacemidas no Romidla, que Tamenteo testator no haviaprevisto no momento do tesiamento, ows regs da evogabionde So testament, «qualquer momento, excuid pao omicido:ou a rega deduidaa par da intencbo do legsladr, que fertamenteheverarexovido a questo no mes sentido ada pelo jus se the fine colocade, Pode-se disc a espeto do fundamento desta nerpetgtes cntestad, em feo Pel i ay, un mnie gto erg) dane de orm, do fhencona falta da expista derogagto de regs do seu carter abvautamentevinclanee, portant, UD te tvalidade, para alin do Sua usi, da soluyaotomada Mas, em tn 0s casos taourse de Garantsmo, hemenduica ereo)eotticenals (GuceaaTe CouLUGIFERRAUOL a distinggo nao tenha nenhum fundamento, mas apenas que ela apresenta uma dimensio explicativa bem mais restrita do que aquela normalmente ala associada uma vez que a maior parte dos principios se comportam como regras. Com certeza, existem normas que enunciam valores ou di- retivas de cardter politico, das quais nao é exatamente identificével a ob- servancia ou a inobservancia, Trata-se, porém, de normas relativamente ‘marginais.* Podemos chamé-las principios diretioos ou diretioas, em opo- sigdo a todos os outros principios que denominarei principios reguladores ou imperatives, porque inderrogaveis. E podemos caracterizé-las como expectativas genéricas e indeterminadas, nao de atos, mas de resultados, diversamente dos principios reguladores que, ao contrério, exprimem ex- pectativas especificas e determinadas, as quais correspondem limites ou vinculos, isto ¢ garantias consistentes nas relativas proibicoes de lesio e obrigagdes de prestacio.® Nesse sentido, sao principios diretivos, por exemplo, grande parte dos “principios informadores da politica social e econémica”, que intitula © Capitulo Ill do Titulo I da Constituigao espanhola, Mas também se pode pensar, na Constituicdo italiana, no art. 1°:“A Itélia é uma Reptiblica de- ‘mocratica, fundada sobre o trabalho”; ou no art. 9°: “A Repuiblica promo- ve o desenvolvimento da cultura e a pesquisa cientifica e técnica. Tutela a paisagem e 0 patriménio histérico e artistico da Nagao"; ou no art. 47: apices de regs, O mesme se ga em lag 20 caso Henningsen Blof Motors ne. ca ‘dean posers nuto bem ser Casal, mals do que em geniss motvacbesformUladas pores, {part de regras,igualmente presenics na Connon Lao, sere do resaremeto do dak ius por quem o provocou,colorando em crclagao vielos gue alo s80 seguro ou de tnvaidade de "Bgusuar conratuas viciados por fraude ou por engano de um do contatantes. 0 predominia dts rea, e to des prinlpice a texto da Consist italiana em especial, rnatueza de regres, endo de principio dos dios fundamentals €sustetada por PACE, Aesart Ure Interpretazione cosustonaleeinlerprelasione pe valon. Ln: AZZARITI. (Org) interpre: ‘one casttusioa. Torne:Giappichel, 8, p. 86 ps, onde se defend uma leur nidamente Tommativaejspontvista da Consttulao lana, No mesmo sentido, ver BILANCIA,F.Fsiome uric ct ett coturonale dentinad 3 cba Stud i onoed Alsen Pac. 55, aintingdo ~ aq apenas esbocada ~ entre principio reguladorese prispios dretvas mereceria tim natn Sproturdartente, comm sr pos vgs daformalengio dos dow concelion Pose ser Ut rcorda, entretant, a sera, no lec de Princ urs (opt, Premessa, p92), 389 {aractenzadas, nos portlndos PF? € 8, como modaidades GeOnticas aculdades 08 obtgacbes ou rotbigds) ou come expecativa (posiivas e nega), geais c/w abtatn, de comportamentss Erertinados gus os detoe fundamentals do esinentado cv todos on diston const em ‘xpecativas de presto ou de abstenio, lo & da comiasio ou da omisndo de os, por sua Yez ‘elerminados (ids 111-5211 hp. 743) que, porn, a0 menos os principe constentes em ‘iro fundamestas elneridoe ene aqueles gue Chae, aol de“ pinipisFogladores 80 [Sas id bid, T1116. 9. 725-7%) A dierengaqualitatva e esutual nko fe potato, meu vere Tec tegrase pinctpion ras apenas entre pricipios egladoreseaqueles ie denon!“ prinepios dUrervce” que consistem em expectasvns nto de ates dejerminado, mas de resultados, st € das poltcaserscondigbes de realizes aevés de una pluraidadeindetermineds deste ndete-tn os engo que no podem ser peedsterminados normasvamente, Una dstng por muitos sepects tndioga «cata aout proposta ne parece agua ente“pinpos ern senda evo” e “diets, ‘Propestapor Manat Atenza Juun Rule ner (Ls peas. op etcap 98 13 22 p.Se 413; EIPrIvsSlep Tapdiscap V1 82 p. 166) eretomeda or Anca Eiderecho- op. xp. TL 88, Peete cep V, 85.9.2) 8 Lui Fora “A Repiblica estimula e protege a poupanga em todas as suas format Em todos estes casos, com efeito, 0s principios, como sustenta Alexy, s “mandados de otimizagao, que se caracterizam pelo fato de poderem = satisfeitos em diversos graus’™ e, como diz Zagrebelsky, por serem p vados de fattispecie que configurem a sua inobservancia. Uma colocag intermediria entre os principios e as regras ocupa os direitos sociais, qt como veremos no § 3.3, impdem ao legislador a produgao de leis de gulamentacdo, que introduzam suas garantias primérias - como as n mas acerca da escola piiblica, do servico sanitério gratuito, entre outs =, sem poder, obviamente, estabelecer sua forma, qualidade e grau tutela: principios reguladores inderrogéveis, entdo, no que diz respe 20 am (se) da sua atuacao legislativa, mas ao mesmo tempo diretivos, que se refere ao quomodo (como) e quantum (quanto), isto é, 8s forma 3 medida da propria regulamentacao, Todos 0s outros principios, como, por exemplo, 0 principio igualdade e os direitos de liberdade, sio reguladores, de modo que 1 {erialmente possivel, mas deonticamente proibida, a sua inobservanc Na verdade,.consistem em-notmas-que, simplesmente, séo formulad _—de maneira diversa das regras: com base no seu respeito, e nao na s vviolagao e, consequente, aplicacao, como corre nas regras. Uma pro disso € que mesmo as regras, inclusive aquelas penais, 8S quais se exigi maxima taxatividade, quando sao observadas exsurgem como principi« que nao se aplicam, mas se respeitam: por exemplo, a observancia d normas sobre o homicidio ou sobre as lesGes corporais ou sobre o fur equivale ao respeito dos principios da vida, da integridade corporal e propriedade privada. £ possivel afirmar, inclusive, que por tras de ca regra existe um principio: até mesmo atrés da proibigao de estacionar veiculos ou, ainda, atras da obrigacéo de parar quando 0 seméforo e: vermelho, ha principios, como aqueles da seguranca e da mais eficier € racional circulacao nas estradas. Inversamente, também os principi reguladores, quando sio violados, aparecem como regres, que nao se r peitam, mas se aplicam: por exemplo, o principio constitucional da igu dade, quando é violado, surge como regra em rela¢do as suas violago a regra, precisamente, que profbe as discriminagées.” E as discrimir bes S40 seguramente fattispecie da relativa proibicéo, cuja verificagio n consiste com certeza numa ponderagio, mas sim numa subsungao. é Cr ALB, Tora dens derecho. cit cap 1.62, p86 Tal ge aplicada endo simplesment reapitada, em seve de gaan sacundria, el uie inconsttuclonaidade Defend esta tne aloge em Pil § 128 p 884-885 once mest com 0 sma 27%, como "as normes pris ante te quae enconar oan as narmasconscs Substance, “quando so viladasexsrgem durante o coool uradiioal da su nobsev ‘amo norms scundias em rlogo eo at irdiciona mediante o qual zm aplicadas™Tods formas, em sum, sejam elas elsboradas em forma de regeas ou de principe e30 repeat, rim, se cbsarvadss, es apicadas, em va secundaria, se viladas. Gaantsmo,berrenduca ere0}eonsttuconasmo (DESK COM (UI FERRAL mesmo principios vayos e impreiss, como a dignidade da pessoa ou principios penais da determinacdo ou da ofensividade, quando so vio- lados por comportamentos lesivos da dignidade ou por leis penais que imputam como crimes fatos indeterminados ou inofensivos, aparecern como regras, cuja violacdo esta nelas subsumida, nao diversamente do que ocorre com qualquer ato ilicito ou invalido; e a possibilidade da sub- sungao nao depende, nestes casos, da formulacao das relativas normas_ em principios; mas-somente, como acOntece também COM as regras, uso de expressdes vagas ou imptecisas como “dignidade”, “determina- cio” e “ofensividade” A diferenga entre a maior parte dos principios e as regras é, portac- to,a meu ver, uma diferenca que nao é estrutural, mas quase de estilo. A formulacéo de muitas normas constitucionais, em especial dos direitos fundamentais, na forma dos prinefpios nao é apenas um fato de énfase tetGrica, mas tem uma induvidosa relevancia politica: em primeiro lugar porque os principios enunciam expressamente,e por isso solenemente, oS valotes ético-politicos por eles prociamados, em relagao aos quais as £e- gras sto, por sua vez, “opacas” ** em segundo lugar, sobretudo, porque eles, quando enunciam direitos, servem para explicitar a titularidade das ‘normas constitucionais que conferem direitos as pessoas ou aos cidadaos, 2 por isso a sua colocagao em posicao supraordenada ao artficio juridico, como titulares de outros tantos fragmentos da soberania popular. Mas, x parte o estilo, qualquer prinefpio que enuncia um direito fundamen- tal, pela recfproca implicacéo que liga as expectativas nas quais os di- reitos consistem e as obrigagdes e proibigbes correlatas, equivale a regra consistente na obrigacdo ou na proibigao correspondente.® Precisamente Porque os direitos fundamentais so universais (omnium), eles consistem am normas, ainda que sempre interpretadas como regras,® as quais cor- respondem deveres absolutos (erga omnes), igualmente consistentes em tegras. Por exemplo, o art. 32 da Constituicao italiana, a respeito do di- ceito’ saiide, equivale & rogra que estd nele explicitada, segundo a qual a Repiiblica ”garante (ou seja, deve garantir) tratamentos gratuites”; 0 a 21, a respeito da liberdade de manifestacao de pensamento, equivale & cegra segundo a qual é proibido impedir ou turbar ou limitar a livre ma- nifestagao de pensamento; 0 art. 16, a respeito da livre circulagio, que a # Nese sed, ver FINO, op cit, p.52€190, 9 Ver FERRAJOLL Pio. as ess T2.60-7263, no $23, p 156 © a8 tesesTIO.70-T10E5, no § 1033p. 6185. Como eae no § 34 P. 192-185; “as nommas podem st formuladas em terton Ge ctoignins © probgoes,to & por melo daquels que chamarlwormas mpertes (089), ou eno te frmos de experts poster ¢ negative, to & mediante sgueasGue densrinar Pmt tach auloguedarpmansdeUccatvasssvecsen eeloe rosea ae ee gsm ou de loose aquio qu vic ¢rpumente de una expecta eager ude ts feseontonss de aiguem ou de odoe™ i ibid 812.4 p. 729-73, ees TH. 16T1120, 0 ui Feros mesma Constituigdo tutela nos limites da satide e da seguranga, equivaie 2 regra que proibe a limitagdo da liberdade de circulacdo sendo "por mo- tivos de satide e de seguranga”. O decalogo, por outro lado, esté expresso em regras (“nao matat”, “nao roubar”, entre outras) que téin exatamente o mesmo significado dos direitos correspondentes (o direito a vida, o di reito de propriedade, entre outros) —— Compreende-se; assim, quenao existe ura diferenca real de estatuto entre a maior parte dos principios e as regras: a violacao de um principio sempre faz deste uma regra que enuncia as proibigdes ou as obrigagoes correspondentes. Por isto, a Constituicao é definida, na sua parte substan- ial, no s6 como um conjunto de direitos fundamentais das pessoas, isto 6, de prineipios, mas também como umm sistema de limites e de vinculos, isto € de regras destinadas aos titulares dos poderes. Precisamente, aos principios consistentes em direitos de liberdade (universais ou omnium) correspondem as regras consistentes em limites ou proibicbes (absolutos (ou erga omnes); aos principios consistentes em direitos sociais (universais ou oninium) correspondem as regras consistentes em vinculos ou obriga- @@es (absolutos ou erga omnes). Direitos e deveres, expectativas e garan- tias, principios em matéria de direitos e regras em matéria de deveres sio, em suma, uns a {202 dos outros, equivalendo a violacéo dos primeiros, seja ela por comissio ou por omisséo, a violagao das segundas Nao se trata de um jogo de palavras. A contraposigio, a meu ver inconsistente, instituida, indistintamente, entre regras e principios tem relevantes implicagdes praticas. O set aspecto mais insidioso é o radical enfraquecimento do valor vinculante de todos os prineipios, sobretudo se de nivel constitucional. Esta é uma tese sustentada, abertamente, por Alfonso Garcia Figueroa, a quem temos que reconhecer, em comparagao a outros principialistas, 0 mérito da coeréncia e da clareza: “os principios so normas derrogéveis”® ou, como hoje se costuma dizer, “faliveis”, ele afirma, e “a falibilidade é uma propriedade essencial das normas js- ridicas nos Estados constitucionais”,* entendendo-se por “falibilidade” o fato de que “uma norma N pode resultar inaplicada e deve sé-la see somente 1a, id, § 109, p. 72.775, tees O1124-011.26,THL202-TH1.109¢ TH 17-71. Ch. GARCIA MCUEROA, Cratures de le meres oct. 25" derognblidade ds nemas conastacionais",stescene Carel Figueroa, -tepicas com abuse ie dos Ordenamento ora tone scbreus, dos Estados Conatitconat” Em inglés, defeasityem castethang deta Sobre o mips so sgncades nos mais diverooenestesde-deksblsdae cone! CHIASONE Leena dn, ara rune storia dalla culture parca Bologna m2, p. 471-506, 2008 Sobre “citer allel dos dretoe ‘indamentas em decorénla de seus fonfios Palencia e sobre o “caster aproximatvo" dest interpretain em decortencia ds interminso consular MAZZARESE, Anco su mone capes. * CEGARCIA FIGUEROA, Cristns dee morale op. $42 p15 ‘rant, hamentuica pes)orsttusenetsm UN CeBATE Cou LUGIFERRALOL “1 se manifestarem novas excegbes no previstas ex ante e justficadas” por meio da ponderacao® Mas é a propria e indistinta caracterizacao dos principios ofereci- da pelos expoentes mais ilustres do constitucionalismo principialista que comporta, ainda que em termos menos explicitos, 0 seu enfraquecimento normative. “O elemento decisivo sobre 0 qual se baseia a distingao en- tre regras e principios” — escreve, por exemplo, Robert Alexy - é que, enquanto as “regras so normas que podem ser somente observadas ou violadas”, “os principios s4o normas que comandam que se realize algo na medida do posstvel, levando em conta aquilo que é factual e juridica- mente possivel”.# Contudo, observa-se, no que diz respeito a verificacao judiciatia das violacoes, 0 escasso fundamento desta contraposicéo: mes- ‘mo os principios, como 0 principio da igualdade e a correlata proibicao de discriminacbes, ou a liberdade de expresso e a correlata proibicdo de restrigéo ou censura, somente podem ser observados ou violados; e, quando sao violados, 0 seu ambito de aplicacdo jurisdicional certamente nao é mais indeterminado do que aquele, por exemplo, das regras penais que, no ordenamento italiano, punem os no melhor definidos “maus- -tratos em familia” ou 0s “atos obscenos em lugares piblicos’.” Por sua ver, Atienza e Ruiz Manero desclassificam os principios e os direitos neles estipulados para “objetivos coletivos que se recomendam aos pode- 5 CE GARCIA FIGUEROA, Criss dee morale. ct § 42, . 136 Ct ALEXY, Tora de ios derechs. pct, cap § 2 . 6-67 O mesmo poss &cetomado em [ALEXY, Raber. Sistema furidio, prinepoe|uraicnsy razbn practic. Doxa Chademes de isha l rrecho’ m5, 1965, p. 143164. Andlogsdstingaa 6 waged por OWORKIN, aii pest. ob eB 9335." difereng ence principosjrlicose vegas & de carter lfgico. Tanto une qua outros ‘entam a decsdee particles, mas se derem pelo caster de crientagia que sugersin. AS Yeas Sho apllcadas na fora do ludcnu-nad- Quando te do os fats etabelslcos po ur "0 St determieam es consequéncis por elas predgposts” Os principio, to contac, xpriem "uma Tazio que empra em uma dreyao, mas que aso neceasta deuimo daceso particular” No mesmo Sentdo, ZAGREBELSKY, Lelegeop ot p213 24 era andlise da indetrninagto dos princpiosconsthuclonalsdeenvolvida por BERNAL PUL DO, Cérlos. 2! princi de propria y ls derechos fondant, Madd: Centro de Estudios Politicos y Constituconaes, 2005, p.9%100, onde o autor elnca inmeros pos de indeternardo {que aflginam os principos constituconais que enancam diretoe fundamentals Teno, pom, 3 Innpresto de que na maior parte dos canoe po ele aprezentados, nto M4 nena indetrinagho {que tarde nto sea venfcaa nas regs, Uso re parece, por exemple. ue na norma que preve > ‘vette de associasohaja uma “indetemminagio semanten # ponte de caloarem duvide senamente {que ela implique a prtbgao do Estado de impor o ingress em una determiada assoeaqo; 08 Gusoar 19 da Condttuiio argentina spresente uma indeersinagio sites” a pontode samitit Serierpretado no sentido de ue # nie panubuldade see estabeleeda dae agoes privadss’ "ue de neni modo olendern a ordem ou a moral publica «que "nao preduzem dance 3 terete” Fefrase ars classes de aces consideradasseparedamente (entre a5 guas, aradoxalmente, todas 35 “ages privadas") 0 ives de bts caactersteas dat aes Vericadasconjuntamente ou, and, ue posse duvidar de que o dirito&informagao ou aqule & educagioseftm marcaéas por ua “ndetarmunacio estrutural come nuo lose claro que as Prescricees po les unpostas gun tes" palo sos resulados que formam 0 objeto dos direitos, ena 205 meies para eesut los, obWamens Sngidos 8 disccionaiedade admunisraliva; ov enti, que 0 dreito 8 divsso da inormagso sea ‘pareado por ume "redundanca", como se no fase dovie que ele pressupoeo leo a cat meios {de informagao, em td cao implcado pela cello vv nciativa econ, 2 Lui Fara res politicos perseguit”, ou, entio, “diretioas ou normas programéticas d quais deriva, paca 0 legislador, nao mais, como pensa Ferrajoli, o dev de instituir as relativas garantias primérias e secundarias”, mas simple mente aquele de ” promover politicas (também legislativas)”, dirigida: realizacao de tais objetivos Nao é supérfluo recordar que, na Itélia, expresso “normas programéticas” foi utilizada nos anos 50 do sécv passado pela Corte de Cassacao para neutralizar 0 alcance normativod principios constitucionais, isto é, para negar a sua idoneidade de abrog ou invalidar a legislacao precedente, ainda predominada pelo fascism Atienza e Manero sustentam que sua tese tem uma maior capacidade ¢ plicativa das préticas judiciarias do que a concepcao por mim defendi das préprias normas como imediatamente vinculantes.” E, ainda mais ¢ plicitamente, Zagrebelsky escreve a propésito do “apelo aos principio: criticado por quem teme que eles possam avalizar “o arbitrio dos int pretes”: “Aqui, néo se esté, de modo algum, apresentando uma propo: de politica do direito em face da interpretagéo. Nao se trata, portanto, avaliar seus méritos e defeitos com o fim de admiti-la ou recusé-la. Aq se esta, simplesmente, descrevendo aquilo que, na realidade da vida ce reta do ordenamento, efetivamente ocorze”.” Entao, precisamente est argumentos me parecem uma clara confirmacao da convergéncia assir ada anteriormente entre 0 constitucionalismo argumentativo e 0 real ‘mo: aquela tese 6, certamente, explicativa da prética juridica corrente, s legislativa ou jurisdicional, isto €, do “ser” do direito, mas no 0 é cc certeza, do seu “dever ser”, que é, por ela, simplesmente ignorado. O resultado desta abordagem é, em suma, 0 ofuscamento do alcar normativo dos principios constitucionais. Ronald Dworkin, por exemp escreve: "A primeira emenda da Constituic&o dos Estados Unidos cc tém a previsio normativa de que o Congresso nao limitaré a liberda de expresso. Esta é uma regra que tornaria inconstitucional uma lei « pecial que limitasse a liberdade de expressao? Aqueles que exigem que Ch, ATIENZA, Manuel; RUIZ MANBRO, Juan. Tres problemas dete tetias en valde ura In MALEM, J, OROZCO, J; VAZQUEZ, R La fein udu Elza y demacravie Barca: Ged 2DtD pk € 98, O mento paso ¢etomsdo em ATIENZA, Sabre Feral ap ct 861, p18) ‘er ainda, a minha rexposta (its ld, §$, p 195-206). Noo €supéruo tecordar uy a Ral cexpresszo *normas programatcas” filial, nos nos 50 do sala paseado, pela Corte de C sf, a fim de neualzar o alcance nonnative dos princpicsconsttuconal. Pars uma eres Tedugio ~resullanie desta leturs Gcospllicae antjuspoisvisa do paradigma constnscie Ss notmatividadejuridica das Consttules aquela de "meras dedlaragoesdeinensbes politic: Ver MAZZARESE Nenstusionalme tla.» pcm espeoal§ 1p 14-226, ainda, MAZE ESE, Toonds a PstotResding op. Cone de Casegie, Sgio Unidas Pnais,Sentnga de 07/02/1948, publicada om Foran, up 37, Bata disungio entre narmas precetvase ormas programas fl decaradainfandada pri deisto da nossa Core Consttveona [Corte Costinsicnale ny de 1986) em seu Por todos abardonad Ct, ATIENZA, RUIZ MANERO, Tres problemas. «op. 8G ZAGREBELSKY, Ilda mite. oct, cap. VIL, p. 198-200. CGarartimo, emenducae(reo}cnsttusonatsme \MDEBATE Ou LUGIFERRAOU primeira emenda seja ‘um absoluto’ dizem que deve ser entendida deste modo, isto é, como uma regra. Ou, a0 contrério, simplesmente afirma um principio, de modo que, se fosse descoberta uma limitacao da liberdade de expressao, ela seria inconstitucional caso 0 contexto nao evidenciasse algum princfpio ou consideracao de oportunidade politica que, em deter- ‘minadas circunstancias, fosse suficientemente importante para permitir a limnitagdo? Esta & a posigdo daqueles que defendem aquilo que ¢ chamado ‘9 fator de “claro e atual perigo’ ou de qualquer outra forma de ‘pondera- $40”? Ea posicio, a meu ver, daqueles que assumem a Constituigao nao como um conjunto de normas vinculantes, mas como principios morais, cujo respeito, quando esto em conflito entre eles, é remetido & discricio- nariedade argumentativa do intérprete” Mas existe outro aspecto ainda mais perverso e insidioso ~ da abordagem antipositivista e principialista das Constituigdes. A ideia de gue as normas constitucionais ndo s4o normas rigidamente vinculantes em que a jurisdicao e a legislacao se encontram submetidas porque em gtau subordinado a elas ~, mas sim principios ético-politicos, fruto de argumentagbes morais, favoreceu o desenvolvimento de uma inventiva jurisprudéncia —onde o debate infelizmente no permaneceu limitado 4 academia, entre 05 filésofos do direito -, que se manifestou através da criagdo de principios que nao tém nenhum fundamento no texto da Constituicao. Foi o que ocorreu no Brasil, onde Lenio Luiz Streck ilustra esta degeneracéo “panprincipialista” do direito brasileiro, fornecendo um, incrivel elenco de principios inventados pela jurisprudéncia e privados de qualquer base, nem mesmo implicita ou indireta, no texto constitucio- nal, tais como 0 “principio da precaucao”, contra possiveis decisdes que possam provocar danos nao calculados; 0 “prinefpio da nao surpresa”, como garantia da seguranca do cidadao contra decisSes muito inespe- tadas; 0 “principio da cooperacao das partes no processo”; o “principio da paternidade tesponsdvel”; 0 principio da chamada "situagao excepcio~ nal” entre outros." FRCL DWORKIN, rt pres. op. p.97 1000. 7 Tomemos outro exemploo diet deimunidade a orturas, qu também pode entrar em confit, como sustentou 9 just amercano Alan Detshowita com a necessidade em casos excepeenSis™ {Gbviamene os exemplos de sala de ala S30 sempre “excepclonis), de ble informarees Seu terror que ~ “sabemas" ~ "te conheclmenia de Rituros © gravisines atentados (DERSHO- Wirz, Ala. Terorioma, Roma: Carect 2003 p 118 segs. p 15. saps). Ent, segundo modelo pormativo egarantsta'das Consugtes, a imunllade torturas fo permite wxcees, © pinto ‘oral da segurancspoders, portant, aporar sab plane marsh as nfo sob o plano junior cok Consequtncla de qu, quem eats convieto dese encontrar dante de um werrorsta que sabe de af tur e gavisimo atentado devers nerumir~se val lara prolbio sbsclta da orate pa salvar Vide de inimeraspesoss~a responsable moral de cometr 9 crime de forura¢ Ge ser a3 reapecvs gi, epee prota do dito, Een aso mina gu eves Psat 26 STRECK op ci ps7O496, ape fomace un elenco de 24 prncipioscriadosplajurispeudéncia or limo, em des da conaticlonalidae Sec anstia Gos cles dos multorel Ureblelro, 4 ig Ferajob Estamos, aqui, diante de verdadeiras invengbes normativas, em con- traste com a submissao dos juizes & lel. Os principios constitucionais erm especial aqueles que enunciam direitos ~ sd normas prescritivas, que no podem ser neutralizadas por principios ético-politicos de criagao legislati- vva e, muito menos, jurisprudencial, mas vinculantes para todos 0s pode- es publicos. E esta a substancia e o papel garantista do constitucionalismo juspositivista que a abordagem prineipialista arrisca tornar inttil- 0 card~ ter rigidamente normativo dos principios formulados nas Constituigdes, nao ponderdveis com principios nelas ndo expressos e supraordenados a todos os poderes dotados de potestas normativa, que prescrevem aquilo que é proibido e aquilo que ¢ obrigat6rio decidir, a fim de garantir os di- reitos fundamentais neles estipulades> 3.3. Conflitos entre principios e ponderagées A ideia de que os principios constitucionais sempre so objeto de ponderacao ao invés de aplicacéo, ou pior, de que podem ser ponderados com principios morais inventados pelos juizes, gera evidentemente um pperigo — do qual nem sempre os defensores desta tese parecem conscien- tes —para a independéncia da jurisdigao e para a sua legitimagao politica* Se, na verdade, sustenta-se que os juizes no devem se limitar a interpre- tat as normas de direito positivo, mas estao habilitados, eles mesmos, a crié-las — ainda que através da ponderacao dos principios -, entio resulta ‘Gonads pinaster Cosi pasoie cnn nsnl” Pe cru arcane acon ese sesso Pee ey ven dy ay essen nbn or Re peeretreerarie meee reer mere Sak. 29 ede orm > ret i ese along mis el atiy mwa me Senn Se 05 ee Core Csi omg See epee dence een paler secltboren a pct dierent Ste ene ie cane oa Ce I Newer bebe fon ade von remap det corpo decade nrc eer for clyde ete Ganon det reo dong Sperry in ee dec seer serene eae a woe des Prin (RS re os eee ao Fa ee Em ee rae Se met sees conga uate ees Veseseapt eas noa ee eres Sea ee nora overs deve end i 9 pe sats ronan sn en 2 ae Feat cepa ect rete cbo rea ero cornish nied eke wo aay eee ee i et stereo tage or arse nce Fer uaer beste git cere See ee mae eas ese eee a oe jane cPREC opie BARROSD LSS a care mee eo STR gga “Gaantmo, hemenduteao (eojeonettuconalsmo (MIDEBATE COM LUIGI FERRAICU 6 violada a separagao dos Poderes. E, em tempos como os atuais ~ de cres- cente tensao entre o poder politico e o Poder Judiciario e de intolerancia do primeiro com os controles de legalidade exercidos pelo segundo -, a teorizacéo deste poder normativo dos juizes arrisca propiciar um potente argumento em favor de sua investidura politica, por meio de eleigdo, ou pior, a sua colocagao de dependente do Poder Executivo. Chegamos, assim, ao terceiro aspecto do constitucionalismo néo positivista e principialista: a identificacao da ponderagdo como o tinico tipo de racionalidade pertinente aos principios, em oposi¢ao a subsungao, que, ao contrério, caberia apenas as regras. Paralelamente ao enfraqueci- mento do caréter vinculante das normas constitucionais, mesmo dotadas de rigidez, vem endossado, através da contraposico entre ponderacao e subsuncdo, 0 enfraquecimento do carter tendencialmente cognitivo da jurisdicao, no qual reside a sua fonte de legitimacao, além de promovidos ¢ facilitados o ativismo judicial e a discricionariedade da atividade juris- dicional. Entramos, como se diz, na “era da ponderagao”, havendo sido descoberto um novo tipo de racionalidade juridica, reservado, entretanto, aos direitos fundamentais, bem mais do que as outras normas do orde- namento, Obviamente, nao teria sentido negar ou desconsiderar o papel da ponderacio e, de maneira mais ampla, da argumentagdo na atividade de producdo normativa: em primeiro lugar, a ponderacao legislativa, que 6 fisioldgica na esfera das decisdes politicas, desde que nao estejam em contraste ~ por comiss4o e por omissao - com as normas constitucionais; em segundo lugat, a ponderacao judicial nos espagos, igualmente fisio- légicos, da interpretacao juridica, que certamente so mais amplos e in- determinados quando as normas nao tém a forma de regras, mas, sim, a de princfpios. Tampouco teria sentido subestimar a importancia de uma teoria da argumentacao como aquela desenvolvida, exemplarmente, por Robert Alexy e por Manuel Atienza, voltada a fundagao da racionalidade do exercicio discricional do Poder Judiciério. Os espacos de discriciona- riedade da jurisdigdo, de fato, sdo inegdveis. Até mesmo em matéria pe- nal, onde é méximo o valor da certeza, podem se distinguir, facilmente, trés espacos fisiologicos e insuprimiveis de discricionariedade judiciaria que correspondem, entre tantos, aos seguintes tipos de poder: o poder de qualificagio juridica, que corresponde aos espacos de interpretacao da lei, ligados & semantica da linguagem legal; o poder de verificagao factual ou de valoracéo das provas, que corresponde aos espacos da ponderacao dos indicios e dos elementos probatérios; 0 poder equitativo de conotagao dos fatos verificados, que corresponde aos espacos da compreensio e pon- deracéo dos conotados singulares ¢ irrepetiveis de cada fato, mesmo se 46 ui Ferjot todos igualmente subsumiveis na mesma figura legal do crime.” Este espacos podem ser fortemen‘e reduzidos, mas nao suprimidos pelo con junto das gatantias penais e processuais: daqui, a importancia de um adequada teoria da argumentacao em condicéo de orientar, racionalmer te, a motivacio das decisdes tomadas no exercicio dos trés poderes a ele correspondentes. ‘A minha critica, portanto, ndo diz respeito ao papel da ponderaca na atividade de produsao do direito, Fla esta voltada, sobretudo, & excet siva ampliacao deste papel na atuacio legislativa e na interpretacao juris dicional das normas constitucionais. Ela se refere, em outras palavras, excessiva dimenséo empfrica associada a nocio de ponderacao, que nav € menos limitada do que aquela antes ilustrada a partir da distingao entr regras e principios. Na verdade, tenho a impressio de que, por causa d: tal ampliacdo, a ponderacdo terminou se transformando, nestes ultimo ‘anos, em uma espécie de bolha terminol6gica, tao dilatada que chegou & formas mais veriadas de esvaziamento e de inaplicagao das normas cons titucionais, tanto no nivel legislativo quanto no nivel jurisdicional. A propésito da ponderacio legislativa, é preciso distinguir aquele que chamei princiyios reguladores e aqueles que denominei principios di retivos. Tal ponderacao, certamente, é exigida para os principios direti vos, mas nao 0 é para os principios reguladores, vinculantes e infalivei: quando nao encontram limites formulados mediante principios diretivos 0s direitos de liberdade, em especial, geralmente nao admitem qualque ponderacdo: a sua violagdo gera antinomias, a menos que nao existan limites expressos por regras, como, por exemplo, o limite & liberdade di associacdo, imposto pelo art. 18 da Constituicao italiana, com a proibica« das associagdes secretas, que prevalece com base no principio da especia lidade. Eles exigem uma ponderagao somente quando o limite for expres 80 por principios diretivos, como, por exemplo, 0 genérico principio d. seguranca, se este for expressamente formulado por normas do mesmi nivel . Parcialmente diversa ¢ a fenomenologia da regulamentacao legisla tiva dos direitos sociais. As normas, ou, caso se prefira, os principios qu enunciam tais direitos, como se disse na segdo precedente, so regula dores quanto ao an (se) e diretivos em relacao ao quomodo (como) e a quantum (quanto) da sua atuacao. A falta de regulamentacio equivale ortanto, & sua violacdo, que resulta em lacunas ndo menos ilegitimas d que as antinomias. Mas é claro que uma ponderacao legislativa ¢ fisiolé ica nas escolhas legislativas, inevitavelmente discriciondrias em relacé 208 meios, as formas e também aos limites da sua atuacéo, que ndo sa: 7 Sobre esis tts expagos fiildgicos de discrconaredade, que no se conjuntodefinem 0 pode Jualeara, consular FERRAJOLL, Dintioergine.op. it, eap Garant, hemenbutcae recjonstiucoralsmo UM DEBRTE Gow LU FERPALOL 4 predeterminados pela sua formulacao constitucional.” A ponderacio, em outras palavras, nao pode se estender a escolha de quais principios cons- titucionais devem atuar e quais nao devem atuar, sem resultar num des- ‘umprimento da Constituicao e, portanto, na admissao de um poder do legislador, em contraste com a hierarquia das fontes, de tomar inttil ou, de qualquer modo, de derrogar © preceito constitucional: um poder que, ‘como se viu, a tese da falibilidade das normas constitucionais serve para. legitimar, uma vez. que configura como inevitaveis, porque consequentes as ponderacdes, as violacdes e os descumprimentos de algumas delas em beneficio da atuacao de outras, E contra este perigo ~ e para escapar deste equivoco ~ que o art. 52 da Carta dos Direitos Fundamentais da Unido Europeia estabeleceu que as leis devem, de qualquer maneira, ’respeitar © contetido essencial dos direitos e das liberdades” nela estabelecidos: uma regulamentacio minima que assegure as suas garantias essenciais & obrigatéria. De outro lado, a ideia de que a garantia de cada direito fundamental comportaria 0 sactificio ou a limitagao de outros” com a consequente necessidade de uma ponderacao legislativa dos direitos em conflito é um lugar comum em grande parte infundado. As relagdes en- tre os direitos, como a experiéncia hist6rica nos ensina, so, sobretudo, de sinergia: sem a garantia de direitos sociais, em especial educagao € a informacdo, os direitos de liberdade néo podem ser exercidos com conhecimento de causa, assim como, sem a garantia dos direitos de liber- dade, também nao 0 sao os direitos politicos. Até mesmo a relacao entre 7 Sustenil ena diferente fenomenologia dos dietes de lberdade e dos diets svais em meu Dintoeraione op. ct ap. XIV 9 60 p95: Tratee,evidentemente de uma cferenga de carsler tesrico«cencltua enguant » simples formulagho dos dette de lscrdace comport proviso de qualquer leso a eles aquela dos dteion soins ~ por exemplo,odieton sade, A aca, Subsalinca ete ~ compotis, por 3, a abrgasto de sue se itacio, mas nio diz nada sabres forma sos tn cto ul Samet gue ma ati ras svancadestambem slam intodsidos prncpis regulates ou regs: que predetriem asd ‘elon sto come so avntns presale 26 ence em pes see Los ln Sats fommat. Na Gonsuigo tllana, por exempio, oat 3 etabelee como geanta do diet § Sducagio. que 8 edocaao hinéafental” deve “dura, no minim, oto anos" "set Obrgatrs © trea oar 30, aoestbeace ques Reps esos publics pata todas azordes ¢ rts equ as ecoaspivadas ne devem comporta “tn per ofearoe-confere mplictamente cota publics» garertia do rete & educaqlo fundamental por pelo miro dura oo anos ‘Na Consitulgio baal, extem anda mais previsdes para a gaanta doe dite soca, como 8 ‘ineulago d6oramentoo art ine Vil alinea equ estabeece a apicayso de uma ecela mi- ‘Tima’ do orgamento dos Estadoe pare a manutengbo co desenvolvimento do ensinoe para a ges E serigo pablicos de sae" 0 #158 88 eS relstvas ao drat 4 saa, gue reservar el eomplemeniar espa, acada ncoanes, dos perceuais do orqamanto dt Unitow dos Ets fae destnado 8 sun garant 0 at 212 que tata do dria & educaao,etaelece que “a Unio Spears, ansnlmenve, nominee oF Etaes,o Dist Federal ees Muni no minim 25% at reetaesultante de imposts[.-] na mantenga0.eno desenvolvmento do eraino”- Nats smplo ‘indetermunado, £0 ar 244, da Consitulgsoespanhole, que se mites exabelecer que" edcagso bases «cbrgatons e gratuits "na Pre chgou a oma ee spend ual nos “fequntemene nrg Jogo de rlagesrectprocas qua somam seo" (PINTORS. Dirt sb pct p. 1-100) Ver, ‘Sta mina epic (PERRAYOLL, Dir ondomentaop. $328.30) 48 Lug Fra as garantias dos direitos e o desenvolvimento econdmico é uma relagio de sinergia: sem as liberdades fundamentais, néo ha controle democré- tico sobre 0 correto funcionamento das instituigdes; e sem as garantias dos direitos sociais & educacio, a satide e & subsisténcia nao existem os ppressupostos elementares da produtividade individual e coletiva. E tanto 6 assim que se pode seguramente afirmar que o custo de tais garantias representa 0 mais eficaz investimento produtivo® Quanto & ponderagéo judicial, ela se parece mais a um neologismo para denominar a velha “interpretacao sistematica’, desde sempre co- mhecida e praticada pelos juristas, consistente na interpretacdo do sentido de uma norma a luz de todas as autras normas do sistema. Hé, toda- via, uma diferenca que faz da poncerasao ~ se assurnida, em oposigao 3 subsungao reservada as regras, como um tipo de racionalidade ordinéxia e generalizada a todos os principios" - uma técnica argumentativa que amplia, indevidamente, a discricionariedade judicial até ameacar a sub- missio do juiz.a lei. Tal diferenca est4 ligada & metSfora do “peso”, que sugere ¢ favorece - em singular contraste com a ideia dworkiana da obje- tiva existéncia de “somente uma resposta correta” - um Poder Judiciasio de escolha em relagao a quais prineipios aplicar e quais no aplicar sobre 1a base da valoracao, inevitavelmente discriciondria" a partir de sua di- versa importincia. A ponderagao resulta, assim, identificada com uma peragdo através da qual, como escreve Robert Alexy, “quando dois prin- cipios entram em conflito[...] um dos dois deve ceder a0 outro”, sem que © primeiro seja considerado "invalido” ou o segundo prevalecente com base no principio da especialidade.® E concebida, em suma, como uma atividade de escolha “orientada” pela “exigéncia de justica substanciat” que arrisca comprometer nao apenas a submissao do juiz a lei, mas tam- ‘bém, como observou justamente Riccardo Guastini, 0s valores da certeza e da igualdade perante a lei Cy PERRATOUL Pi, $1313, parr. "Valeo seguinte enuncado: se alguém far ponderacs, ent cles bases, necestariamente mt prnelpis (ALEXY, Concetoe wlth. ct. cap, 8431, p. 79). ~Prinipioe © pondersti0", Eksma Allnso Garcia Figueroa, "se implcam reciprocamente” (GARCIA FIGUEROA, Pinon 9 posieoma ap ct 8235p. 167) © Nio existe “uma unidace de medida do peso das normas” excreve efcazmente Gloegi Pio (7. ci cap, § 12, p. 56) & aeresceta, jusamente: "a dimensbo do peso perience tanto a Teares ‘quanto ao tcp: x principe st normas (mal) passives Ge debs (a) jel a execs [mplistas em rlaca A egras™ Mas tonto impede que "um prinipo pens see consideredo me fos important do que uns reg se houveT Dos rates are de certo modo, spicata eg Ibid. p57). Tambem sob ese aspect, portant, distngto desoparece CE ALENY, Teoria dees dereches.ep cea. 1, 8.32.89. % Ck ZAGREDELSKY, nto mite op. ct xp. VI, p20, "CL GUASTIN, Dito mite.ep cit, p 521-525, Neste sentido ainda, Guasin eacreve que a por Ypiee Cy, ROMAGNOS!,G. La scionza delle costtusion. In: ASTUTL, G. (Ed). Dell cesttuaions di wr rminaths nanoral representation (La ces delle cotton), Roma: Rese Accademia ls, 153 ‘Garanismo, hermenéuta e(neojconsituconatsro \MEBATE COM LG FERRALGU 5 ‘Ao contrério, 0 constitucionalismo juspositivista e garantista, teori- zando o desnivel normativo e a resultante divergéncia entre normas cons- titucionais sobre a produgao e nomas legislativas produzidas, impoe reconhecer, como sua virtual e fisiolégica consequéncia, o direitoilegttimo, invalido por comiss4o ou descumprido por omissao, porque violam seu “"dever set juridico. E, portanto, confere & ciéncia jurfdica um papel criti- coos conitontos do préprio direito: das antinomias, geradas pela indevi- da presenca de normas em contraste com os principios constitucionais; ¢ das lacunas, geradas pela indevida falta de normas por eles implicadas e impostas. Comporta, em sintese, 0 reconhecimento de uma normatividade forte das ConstituicSes rigidas, em rezao da qual, estabelecido constitucio- nalmente um direito fundamental, se a Constituicao € levada a sério, no devem existir normas com ele em contradicao e deve existir ~ no sentido de que deve ser encontrado através de interpretacao sistemética, ou deve ser introduzido mediante legislacao ordingria - 6 dever a ele correspon dente, que compete a esfera priblica. Trata-se de uma normatividade forte nos confrontos, em via priméria, da legislacio, & qual se impde evitar as antinomias e colmatar as lacunas através de leis idéneas de regulamen- taco; e, em via secundéria, da jurisdicéo, a qual se impde temover as antinomias e apontar as lacunas. Devemos, em suma, reconhecer que @ Constituicéo é um projeto normativo em grande parte nio realizado; que é da mais plena concretizado, sempre parcial e imperfeita, da sua normatividade que depende o futuro da democracia, Lig Fora SEGUNDA PARTE AS REPLICAS

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