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pensamentoCrtico B ERE eitor Aloisio Teixeira Vi Sylvia Vargas CCoordenadora do Frum de Cina e Cultura ear Resende aitora UFR} Reitra Diretor Carlos Nelion Coutinho Coordenadora de Elica de Texto isa Stuart CoordenadoradeProdugto Janise Duarte ConseihoEatorial Carlos Nelson Coutinho (presidente) ‘Charles Pessanha Diana Maul de Carvalho José Luls Fiori José Paulo Netto Leandro Konder ‘Virginia Fontes Gyorgy Lukées ARTE E SOCIEDADE ESCRITOS ESTETICOS 1932-1967 ORGANIZAGAO, INTRODUCAO E TRADUGAO DE Carlos Nelson Coutinho ¢ José Paulo Netto Bditora UER} Rio de Janeiro 2009 Copyright © 2009 by Editors UFRI 0s direitos autoris sobre a organizacio e tadugto desta obra foram cedidos grtui- ‘mente por Carlos Nelson Continho e José Panto Netto a Editora VER) Ficha Cutalogrifica elaborada pela Divisto de Pracessamento Téenieo » SIBLIUFR) LsS4s Lakes Gyorgy, 1885-1972 ‘Aste e sociedad esrtos etticos 1932-1967 orpanizeedo, aprcsentugo ¢ tradusao Carlos Nelson Coutinho e José Puno Netto. ~ Rio de Janiro: Editors UFR), 2008. (Pensamento Ceti, 13) 276 ps Mx 21 em 1. Aree sociededs 2. Fania mass, [.Cousino, Catlos elton, org Il Neto José Paulo, org. I. Tul. 1V. Série DD 701.03, ISBN 978-85-7108-3363, Revise Jodo Sette Camara Capa, Projo Griico «Barolo Blerdnice ‘Ana Cortera Universidade Federal do Rio de Janeiro Forum de Ciencia e Cultura Editora UER) ‘Av, Pasteur, 250 sala 107 Praia Vermelhs ~ Rio de Jansiro (cap 22390-902 "Tel/Fax: (21) 2542-7646 e 2295-0346 (21) 2295-1595 1210, 223 «225, upivwew.eioraalrbr Apoia SUMARIO Apresentasio Preficio dedieio huingara de Arte esocidade 1. Contribuigses i hist6eia da estética A estéica de Hege Introdusio aos esritosextticoe de Marx ¢ Engels Nietasche como precursor da erica fuscsta 1, Para uma teoria marxsta dos géneros iterdrios ‘A questio da sitira (© romance conto epopeia burguesa A caracteristics mais gral do relleo lirica Sobre a tagédia Indice de nomes 2 41 43 87 rat 161 163 193 245 29 an 86 © Gvoray Luxics % Tratasd de personagens histéricos recriados por J. W. Goethe em se drama Gotz von Berichinger, 0 da mito de ferro (1773). © Ferdinand Lasslle (1825-1864), um dos fundadores da social-democracia lem, publicou em 1859 um drama que, a0 eontritio daquele de Goethe, ‘ra centrado na figura de Franz von Sickingen. Na correspondéncia que ‘mantiveram sobre este drama, constats-se que Marx e Engels se opdem a0 ‘ratamento que Lassalle deu ao tema, Excertos desta correspondéncia estio em K Marx ¢ & Engels, Sobre a literatura e a arte, ed, cit, p. 181-191. Lukics, em um ensaio de 1933, "O debate sobre o Sickingen de Lasalle” ‘estudou detalhadamente as implicagdes eséticas dessa correspondéncia; este censiio encontra-se disponfvel em portugués em G, Lukies, Marx ¢ Engels como historiadores da literatura, Porto, Nova Critica, sd p. 7-89, * Engels « M, Harkness, abril de 1888, em Marx e Engels, Sobre a literatura ea are, ed, cit, p. 197-198. * Esta apreciaglo de Homero, bem como a referéncia a “infincia normal” ‘eqs, encontram-se na “Introdugio” (1857) a Para a erica da economia polirica, em K. Marx, Manuscritos econbmico-filosifcas e outros textos ‘solhides, Sao Paulo, Abril Cultural, cal “Os pensadores’, x. XXXV, 1974, pL °K, Marx, Teorias da mais-valia, Histria crticn do pensamento econdanico, Rio de Janeiro, Civlizacao Brasileira, v, 1, 1980, p. 267 » Engels a Conrad Schmidt, 1* de novembro de 1891; x6 um fragmento desta «arta (que nao inclui a passagem citada) encontra-setraduzido ao portugués (ef. supra, nota 1). Para conferir 0 trecho transcrito por Lukes ef. Marx- Engels Werke (MEW), Berlim, Dietz Verlag, v. 38, 1968, p. 204 Lukics se refere ao artigo de Lenin, “Tolsto, espelho da revolucso russ’ publicado em Projet, 11 de setembro de 1908, de que desconhecemos eligi em portugues. * A polémica a que se relere Lukes, ¢ da qual foram extradas as citagies deste pargrafo, encontra-se em V. I, Lent, Quem sao o5 ansigos do poro © como lutam contra os sociais-lemocratas, Lisboa, Extampa, 1975. * Esta citaglo, ber como a do parigrafo seguinte, foi extralda do opisculo © marsismo e os problemas da lingustica, mencionado na note 13, supra, Abreviagao de “Cultura Proletdra’, um movimento que, depois da Revokucso de 1917, postulava a criagio de uma arte proletiria radicalmente nova INTRODUCAO AOS ESCRITOS ESTETICOS DE MARX £ ENGELS Os escritos de Marx e Engels sobre literatura tem uma forma bastante peculiar; convém, portanto, demonstrar desde logo ao leitor a necessidade de tal forma, a fira de que ele encontre a disposigo. necesséria para uma correta leitura e compreensio desses escritos. Deve-se, antes de mais nada, saber que Marx e Engels nunca ¢s- creveram um livro ou um estudo orginico sobre problemas literd- rios no sentido estrito da palavra, E verdade que o Marx da matu- ridade sempre acalentou 0 propésito de expor num alentado ensaio suas ideias sobre Balzac, seu escritor preferido. Mas este projeto, ‘come tantos outros, ficou no terreno das aspiragdes, O grande pen- sador foi t2o absorvido até o dia da sua morte pelo trabalho na sua obra econdmica fundamental que nem este projeto nem o de um livro sobre Hegel puderam ser realizados. Por esta razio, o presente volume! é constitufdo em parte por cartas e anotagies de conversas ¢ em parte por trechos extrafdos de trabalhos dedicados a temas diversos, nos quais Marx ¢ Engels aflo- raram os problemas capitais da literatura. Assim, € dbvio que a escola ea ordem dos textos de Marx e Engels sobre o assunto jamais so devidas aos dois autores. Os leitores alemaes conhecem, por exemplo, a excelente edigdo, organizada pelo professor M. Lifschite: Marx und Engels tiber Kunst und Literatur? ‘A constatagio deste fato nao implica, porém, de modo algum, que 05 trechos recolhidos deixem de constituir uma unidade con- ceitual orginica e sistematica: s6 devemos esclarecer, preliminar- mente, qual o cardter desta sistematicidade, que resulta das concep- ‘g0es filoséficas de Marx e Engels. Naturalmente, ndo cabe expor aqui de modo amplo a teoria marxista e sua sistematizacZo: limitamo-nos a chamar a atengio do leitor para dois pontos de vista. O primeiro consiste em que o sistema marxista ~ em nitido contraste com a mo- derna filosofia burguesa - nao se desliga jamais do processo unitario da histéria, Segundo Marx e Engels, s6 existe uma cigncia unitéra, a citricia Ua historia, que concebe 2 evolugao da natureza, da socie- 88 @ Gyorgy Luxics dade, do pensamento etc, como um processo hist6rico tinico, pro- curando descobrir as leis gerais ¢ a5 leis particulates (isto é, aquelas que sio especificas de determinados periodos) deste processo. Isso, contudo, nao implica de modo algum ~ e este 0 segundo ponto de vista — um relativismo histérico, A esséncia do método dialético, de fato, esta exatamente em que para ele © absoluto eo relativo formam uma unidade indestrutivel: a verdade absoluta possui seus proprios elementos relativos, ligados ao tempo, ao lugar e as circuns- tncias. E, por outro lado, a verdade relativa, enquanto verdade real, enquanto reflexo aproximativamente fiel da realidade, reveste-se de ‘uma validez absoluta Necessaria consequéncia do ponto de vista acima referido éa rejcigdo pela concepgao marxista da acentuada separagao ¢ do isola- mento dos ramos particulares da ciéncia, tal como ocorre no mundo burgués. Nem a ciéncia, nem os seus diversos ramos, nem a arte, pos- suem uma hist6ria autOnoma, imanente, que resulte exclusivamente da sua dialética interior. A evolugio em todos esses campos é ddeterminada pelo curso de toda a historia da produgao social em seu conjunto: s6 com base neste curso & que podem ser esclarecidos de ‘maneira verdadeiramente cientifica 0s desenvolvimentos ¢ as trans- formagées que ocorrem em cada campo singularmente considerado, E claro que esta concepcdo de Mars ¢ Engels, que contradiz aberta- mente tantos preconceitos modernos, nao comporta uma interpre- taco mecanicista, como a que costumam fazer numerosos pseudo- marxistas ou marxistas vulgares. No desenvolvimento das anélises mais particularizadas que se seguirdo, haveremos de voltar a esta questio, Basta-nos, por ora, salientar que Marx e Engels jamais ne- garam a relativa autonomia do desenvolvimento dos campos parti- culares da atividade humane (direito, ciéncia, arte etc.) jamais igno- aram, por exemplo, o fato de que um pensamento filoséfico, singu- larmente consideracio, liga-se a outro pensamento filoséfico que © precedeu e do qual ele é um desenvolvimento, uma corregdo, uma refutagio etc. Marx e Engels negam apenas que seja possivel com- Preender o desenvolvimento da ciéncia ou da arte com base exclusi- vamente, ou mesmo principalmente, em suas conexdes imanentes ‘ais conexGes ignanentes exister, sem diivida, na realidade objetiva, InvTRODUGKO AOS ESCRITOS ssTEZICOS DE MARX BENGELS @ 89 as $6 como momentos do tecido hist6rico, como momentos do conjunto do desenvolvimento hist6rico, no interior do qual, por meio do intrincado complexo de interagies, 0 fato econdmico (ou seja, 0 desenvolvimento das forgas sociais produtivas) assume o papel ni a existéncia e a esséncia, a génese ea eficacia da literatura 6 podem ser compreendidas ¢ explicadas no quadro his torico geral de todo o sistema. A génese ¢ 0 desenvolvimento da teratura sio parte do processo histérico geral da sociedade. A essén- cia €-0 valor estético das obras literdrias, bem como a influéncia ‘exercida por elas, constituem parte daquele proceso social geral e tunitério mediante o qual o homem se apropria do mundo por meio de sua consciéncia. Do primeiro ponto de vista, a estética marxistaca historia marsista da literatura e da arte fazem parte do materialismo hist6rico, ao passo que, do segundo ponto de vista, sio uma aplicaszo dio materialism dialético; em ambos 0s casos, porém, so uma parte peculiar, especial, deste conjunto, com determinados principios es- téticos especificos. Os principios mais gerais da estética e da historia marxista da literatura encontram-se, pois, na doutrina do materialismo hist6rico. $6 a partir do materialismo historico podem ser compreendidas & ginese da arte e da literatura as leis do seu desenvolvimento, as suas transformagdes, as linhas de ascensao e queda no interior do processo de conjunto. Por isso, cumpre-nos examinar preliminarmente 2 mas questdes gerais bésicas do materialismo hist6rico, E no apenas tendo em vista a necessidade de fundamentar cientificamente 0 rnosso empreendimento, mas também porque € exatamente neste campo que devemos distinguir com clareza 0 auténtico marxismo (a verdadcira visio dialética do mundo) da sua vulgarizagio deforma- dora, que ~ no terreno em que nos colocamos ~ comprometeu da maneira mais perniciosa 0 marsismo aos olhos de um vasto cfrculo de pessoas, E sabido que o materialismo histérico identi : econdmica o principio ditetor, a lei determinante do desenvolvi- mento histérico. Do ponto de vista da sua contexio com 0 processa evolutivo do cofjunto, as ideologias ~ e, entre clas, a literatura e a ica na base 90 © Gvorcy Luxses arte ~ aparecem unicamente como superestruturas, que s6 secun- ariamente determinam este processo. Desta constatacio funda. mental, 0 materialismo vulgar parte para a conclusio, mecinica ¢ errOnea, distorcida ¢ aberrante, de que entre base e superestruttra s6 ésiste um mero nexo causal, no qual o primeiro termo figura apenas como causa ¢ o segundo aparece unicamente como efeito, Para o marxismo vulgar, a superestrutura € uma consequencia mecinica, causal, do desenvolvimento das foreas produtivas, O método dialétice ‘ao admite semelhante relagio. A dialtica nega que possam exists, em qualquer parte do real, relagdes de causa e efeito puramente tunlvocas: ela reconhece até mesmo nos dados mais elementares da ‘alidade complexas interacbes de causas e efeitos. E 0 materialismo hist6rico acentua com particular vigor o fato de que, num processe. ‘io multiforme ¢ estratificado como 0 é a evolugio da sociedade, o rocesso total do desenvolvimento historico-social s6 se concretiva em qualquer dos seus momentos como uma intrincada trama de interagoes, Unicaments com uma metodologia deste tipo é possivel abordar, ainda que sumariamente, a questio das ideologius. Quem suet que veja nas ideologias 0 produto mecinico e passivo do pro. eesso econdmico que Ihes serve de base nada compreender’ da esséncia e do desenvolvimento delas, e ndo estaré representando 0 ‘marxismo, mas uma imagem caricatural do marxismo. Em uma de suas cartas, Engels se exprime a blema nos seguintes termos: speito do pro- © desenvolvimento politic, jurtdico, flosética, reli sioso, literério, artistico etc, baseia-se no desenvolvimento evonémico, Mas todos eles reagem também uns sobre os outros e sobre a infracstnutura econdmica. Nio se trata de ue a situagio econdmica seja a causa, 0 dinico elemento ativo, @ que o resto sejam efeitos puramente passivos, Hd todo um jogo de agdes e reagoes & base da necessidade scondmica, que, em iiltima instdnca, termina sempre pot impor-se? Tal orientagdo metodolégica marxista tem como conse- quéncia a atribuicao de um papel extraordinariamente importante, no desenvolvimento histérico, & energia criadora ¢ a atividade de Sujeito. A ideia central do marsismo, no-que se refere’s evolugao | | IyTRODUGAO AOS BSCRITOS ESTéTICOS DE Manx E ENGEIS # 91 rica, é a de que o homem se fez homem diferenciando-se “ ciel per meio do seu proprio trabalho. A eee sain sujito se manifesta, por conseguinte, no fato de que o oro sno erasfrmacke mes em omen, por intermio. an trabalho, cujas caracteristicas, possibilidades, grau de ase ‘een 1c., 840, certamente, determinados pelas sional ‘yetives, atara volugao his- is ou sociais. Este modo de conceber a evoluga sivas, naturais ou sociais. Este mo : wires est presente em toda a visio marxista da sociedade e, também, ns ettica masa, Marx dia em uma pssagem, que a mica ' i sa concep¢io, igualmente, icita no homem o sentido musical e ess pee a ¢ adn ‘oncepgao geral do marxismo no que concernea todo 0 ‘uma parte da concep lesenvolvimento social. . ‘ ‘Marx concretiza deste modo a abordagem do problema: jetvarenteexpiciada da et- Somente pela riqueza objeivamente exp - toca humane pode seem pare spefanda + em pat ran arcs de seabdade sj aman. so & am oul musi, um eho cape de cera bees da formas em sums, set pel pris ver capctos oa um desrate humano, sents que se afimam com foculdades essenciais do home! a i tincia nao sé para uma ‘Tal concepeao assume grande impor compreensio do papel hist6rico e socialmente ativo do sujeito, mas também pra esreer oma pelo qual oman nseg eps tiodos especificos da histéria da humanidade, o —— fe i jblemética ¢ as perspectiv: civilizagao ¢ os limites, a prol i i ire volvimento. Marx conelui da seguinte maneira o racioe citado: ‘A educago dos cinco sends ¢ taal de tod voia univer até nosos dis. © send euborinado 2 exits pets ania € um send Hint, Pre 0 omen fain, afo eit a form humana do linet apenas a sua existénciaabstrta como alimento: 0 ali tmenio pode se apreentar indfeentemente em sualuer io i «endo se consegui , ainda que sea a mals grosses, ¢ 1 . Gaerem gue pont sua aac use sien 84 do nial © homem angustado por ma neeiade ao tem sentido aigum, mesmo par o epeticlo mst belo: 0 mercador de pedras precios 56 vé o-valor eo 92 © Grorcy Luxkcs cial delas, ndo v2 a beleza ea nat no vé a beleza ¢ a natureza peculiar de cada pedtas ele ndo possui qualquer senso estético para o mineral em si, Portanto, a objetivacio da esséncia humana, quer do ponto de vista tedrico; quer do ponto de vista pritico, € necesséria tanto para tornar humanos os sentidos do. ho. ‘mem como para eriar um sentido humano adequado ’ in- teitariqueca da esséncia humana e natural? Portanto, a atividade espititual do homem dispoe, em todos os seus campos de atuasao, de uma determinada autonomia relativa; ¢ isso diz respeito sobretudo a arte e literatura, Cada campo, cada esfera de atividade se desenvolve espontaneamente — por obra do sujeito criador ~ vinculando-se de modo imediato as suas criagbes precedentes ¢ desenvolvendo-as ulteriormente, ainda que por meio de criticas ¢ polémicas. Jé advertimos quanto ao fato de esta autono- mia set relativa € nao comportar, em absoluto, a negagio da priori- dade d bas conden, porem, nto rotted ede dene ue a convicsio subjetiva de que cada esfera da vida espiritual se de senvolva espontaneamente seja mera ilusdo. A autonomia a que nos referimos ¢ fundada objetivamente na esséncia mesma do desenvok. vimento, na divisto social do trabalho. Sobre esta questio, Engels escreve: ___ Os homens que se ocupam disso [do desenvolvimento ‘deologco) pertencern, por sua ver, a rbitas expects da divisdo do trabalho e creem desenvolver um dominio inde- pendente. &,} medida que passem a formar um grupo autonome dentro da diviso socal do trabalho, suas pro. lugs, inclusive seus errs, insiaem sobre todo o deseavol vimento social e mesmo sobre o desenvolvimento evond. iico. Apesar disso, porém, eles continuam sob a infacla dominante do desenvolvimento econdmica.# E, no trecho que se segue, Engels elucida bs . lucida bem a sua concepea metodolégica do primado do econdmico: meee ‘A meu ver, a supremacia final do desenvolvimento eco- némico, inclusive sobre estes dominios, ests fora de divide mas ela opera dentro das condigdes impostas em cada ter. eno concreto: na filosofia, por exemplo, pela acto de in- Aluéacias econdmicas (que, por sew timo, na maioria dos ‘250s, operam apenas sob disfagces.politices etc) sobre 0 —_ INTRODUGAO AOS ESCRITOS ESTETICOS DE Marx EENGELS @ 93 material filoséfico existent transmitido pelos predecesso res. Neste caso, a economia nio cria a partir do nada, mas determina a maneira como se modifica e se desenvolve 0 material de ideias pré-existente; ¢, mesmo assim, quase sempre o faz de modo indireto, jf que sto 0s rellexos polt- tic0s, uridicos e morais que, em maior proporgdo, exercem influencia direta sobre a filosofia.” “Tudo o que Engels afirma aqui sobre a filosofia pode ser tam- ‘bém amplamente aplicado aos principios fundamentais da evolucao da literatura. £ claro que todo desenvolvimento, encarado de modo concreto, tem o seu caréter particular ¢ 0 paralelismo entre dois de senvolvimentos jamais pode ser generalizado mecanicamente. 8 cla- 10 que, no quadro das leis que dizem respeito & sociedade em seu conjunto, o desenvolvimento de cada esfera assume 0 seu cardter particular, com suas leis proprias Se agora quisermos concretizat, ainda que s6 superficial- ‘mente, o princfpio geral assim obtido, chegamos a formular um dos principios mais importantes da concepe¢io marxista da historia. No que concerne a histéria das ideologias, 0 materialismo histérico reconhece ~ ainda neste ponto, em franca oposicdo ao marxismo vulgar ~ que o desenvolvimento das ideologias no acompanha ‘mecanicamente e nem segue pari passu o grat de desenvolvimento econdmico da sociedade. Na historia do comunismo primitivo e da divisto da sociedade em classes, a respeito da qual escreveram Marx-e Engels, nao é de maneira alguma necessitio que a cada florescimento econémico ¢ social corresponda infalivelmente um florescimento da literatura e da arte, da filosofia ete.: ndo é absolutamente necessirio que uma sociedade mais evoluida socialmente possua uma literatura, ‘uma arte, uma filosofia necessariamente mais evoluida do que as de uma sociedade com nivel inferior de progresso. ‘Marx e Engels insistem, em muitas ocasides, sobre a desi- gualdade de desenvolvimento no campo da histéria das ideologias, Engels, por exemplo, ilustra as consideragdes citadas hé pouco re- cordando como filosofia francesa do século XVIII ea filosofia aera’ do século XIX nasceram em paises completa ou relativamente atra- sados, o que mostra que, no campo da filosofia, a fungao de guia pode ser éxercida pela cultura dé uni pals que, no campo econdmico, se 94 © Groncy Luxscs maantém em grande attaso quando comparado com outros paises roximos. Esta constatagao foi assim formulada por Engels: “Eis tazdo por que paises economicamente atrasados podem, nao obstante, em filosofia, empunhar a batuta em matéria de filosofa, {foio que fe] a Franga do século XVIN, em rela & Inglaterra, em cua flosofia 05 franceses se apoiavams e, mais tarde, a Alemanhs em relagio a um e outro destes paises"! ____ Mars formula este pensamento ~ referindo-se principalmente A literatura —de maneira, se Possivel, ainda mais clara e mais concisa, Ele afirma . Em relagéo & arte, sabe-se que ceras épocas do flores- cimentoatsico mio eso de mc sige em cnfore. dade com desenvolvimento geal da sociedade, nem, por Engels a Minna Kautsky, ed. cit, p. 198, * Carta a M. Harkness, abril de 1888, em K. Marx ¢ Engels, Sobre a literatura © a arte, ed. city p. 197. Ibid, p. 197-198, 2» K Mare, Manuseritos econdmicofilo 5, ed. cit, p. 108-109

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