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Artigo Cargo Junho 2010

Política Portuária: Competitividade, Exportações e Emprego

O principal objectivo dos portos deve ser fomentar as exportações e o


comércio externo, apoiando as empresas portuguesas a criarem mais
postos de trabalhos. Ou seja, o propósito que deve nortear todo o trabalho e
organização dos portos tem a ver com tornar as empresas e as regiões mais
competitivas, servindo de pólos de desenvolvimento para a criação de mais
valor e emprego.

Assim, as palavras-chave dos portos deverão ser Competitividade,


Exportações e Emprego.

Deverá ser a partir destas palavras-chave que toda a política portuária se


deve desenrolar. Defendo que para se atingirem estes objectivos devemos
ter um mix de liberalismo e intervencionismo, na estreita medida em que
um e outro sirvam a maximização dos objectivos da competitividade, das
exportações e do emprego.

Tendo como princípios básicos a liberalização e a concorrência nos


mercados portuários, que são os instrumentos comprovadamente mais
adequados para a regulação das actividades económicas, embora devam
ser aplicados na medida do necessário, ou seja onde a intervenção trás
mais prejuízo que a liberalização e a concorrência, e devam ser regulados
procurando compatibilizar, por exemplo, com a necessidade de se obter
massa critica mínima e com a necessidade de se ter uma adequada
qualidade de serviço. Ou seja, os princípios da liberalização e da
concorrência devem ter primazia, excepto e na mínima medida, quando é
necessário alguma intervenção para obter valor maior para a
competitividade, a exportação e o emprego.

Não devemos esquecer que os portos não devem ser tratados como “vacas
leiteiras” de receitas para o Estado, onde a taxa tem a primazia sobre tudo
e a rentabilização financeira dos investimentos é primordial, mas como
pólos de desenvolvimento económico muito importantes para a criação de
riqueza e de emprego, designadamente na exportação, onde a
rentabilização económica pode implicar menores taxas e apoio da
autoridade portuária, sendo fundamental o investimento público nos portos
e organizar a sua governação e a actividade das entidades públicas e semi-
publicas no sentido de maximizar o impacte económico no tecido
empresarial das regiões.
É com base nestes objectivos, propósitos e princípios que se deve analisar
cada uma das vertentes dos portos, mão-de-obra portuária, concessões,
serviços portuários, ligação logística, acessos, terminais, equipamentos,
terraplenos, valências, factores competitivos, devendo ainda conhecer-se ao
detalhe os nichos de mercado por produto, por clientes e por hinterland e
foreland, antes de pensar em intervencionismos e especializações que não
façam sentido prático.

Para isso, parece muito importante o papel de empreendedor público das


Administrações Portuárias, que já se encontra muito desenvolvido nos
países do Norte da Europa. Nos portos do Norte da Europa, a Administração
Portuária (AP) tem um papel muito importante enquanto aglutinador de
interesses de todo o porto, que é uma unidade devido à sua proximidade
geográfica, como um organismo, e que funciona na articulação dos seus
diversos terminais, com os canais de acesso e com as acessibilidades
terrestres, ligando-se ao exterior.

A AP tem, nesses países com portos concessionados, um papel


empreendedor fundamental no desenvolvimento do porto em diversas
vertentes em que o privado não intervém:

a) No planeando a criação de novos terminais e cais, na extensão e


aprofundamento de canais de acesso marítimo, na interlocução com as
entidades responsáveis pelo financiamento público e pelas acessibilidades
terrestres e intermodalidade;

b) Na divulgação do porto como um todo, aglutinando os interesses dos


diversos operadores como unidade e tendo como propósito o interesse geral
do porto;

c) No apoio aos terminais em visitas e propostas comerciais e operacionais


a clientes carregadores e armadores;

d) Na montagem de serviços e na conectividade intermodal nas ligações


ferroviárias, rodoviárias e informacionais a terminais e plataformas
logísticas terrestres de distribuição e recolha;

e) Na facilitação e montagem de investimentos privados e no incentivo à


escolha do porto pelas cadeias logísticas terrestres e marítimas;

f) Na garantia da qualidade, fiabilidade e da competitividade dos serviços


portuários, regulando, liberalizando e promovendo a concorrência;

g) Na redução de custos e dando o exemplo para tornar o porto mais


competitivo e interagindo com as forças da região onde se insere e com os
principais clientes e indústrias, com vista a adaptar o porto às necessidades
dos clientes e a ganhar as entidades institucionais e a população para as
suas causas;
h) No avanço da investigação com estudos inovadores em termos de
tecnologias ou soluções logísticas e na dinamização da concorrência interna
e com outros portos;

i) Promovendo fóruns alargados de interessados no desenvolvimento do


porto, em temas específicos ou de nichos de mercado e em temas
intermodais e inter-institucionais.

Estes aspectos aparentemente teóricos e de menor importância, quase que


dispensáveis, revelam-se fundamentais na diferenciação dos portos do
Norte da Europa e dos seus terminais, representando uma forte mais valia
para os terminais sob gestão ou concessão de empresas privadas.

A AP aproveitando normalmente um quadro mínimo de técnicos altamente


qualificados trata da segurança, das obras gerais, da gestão de contratos de
concessão, mas tem como principal papel o empreendorismo público.

Aliás, o estudo do Parlamento Europeu de 2009, “THE EVOLVING ROLE OF


EU SEAPORTS IN GLOBAL MARITIME LOGISTICS”, tem este tema como mote
de desenvolvimento dos portos europeus e das AP, concluindo sobre a
importância destas no desenvolvimento de redes de portos e de terminais
logísticos, elevando o campo de acção do porto e saindo da área de
jurisdição para o hinterland e para o foreland.

Source: Buck Consultants International (2008)

estudo do Parlamento Europeu de 2009, “THE EVOLVING ROLE OF EU


SEAPORTS IN GLOBAL MARITIME LOGISTICS” em:
http://www.europarl.europa.eu/activities/committees/studies/download.do?
language=en&file=28491#search=%20maritime

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