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Introduo
Este estudo tem como proposta problematizar a validade dos
testes que se propem a estabelecer os limites entre o que da
ordem do normal e o que da ordem da patologia, no que diz res-
peito ao processo de aquisio da linguagem escrita.
Inicialmente, sero realizadas consideraes a respeito do
sujeito deste estudo de agora em diante RD e do diagnstico
que recebeu em um ambulatrio de um hospital pblico do inte-
rior do estado de So Paulo, que tem como objetivo diagnosticar
dificuldades de aprendizagem. Em seguida, discutir-se- a relao
O poder-saber de RD
Concedeu-se, principalmente, medicina a tarefa de norma-
tizar, legislar e vigiar a vida, instaurando-se, assim, as condies
histricas para a medicalizao da sociedade, mais especificamen-
te da aprendizagem. (MOYSS, 2001). O indivduo que escapa s
normas, s regras, que no funciona dentro de certo padro
transformado em doente, em um problema biolgico, psquico e/
ou social. Este parece ter sido o caso de RD.
A instituio que diagnosticou RD transformou sua falha nos
testes de processamento da informao e de conscincia fonolgica,
bem como sua dificuldade de aprender, num problema exclusi-
vamente biolgico e patolgico. RD estaria fora de um padro de
normalidade. Mas qual o limite entre o normal e o patolgico no
mbito da clnica tradicional?
Nota-se que a normalidade nos testes geralmente estabelecida
por um tratamento estatstico. A ttulo de exemplo temos o teste
de audibilizao elaborado por Golbert (1987) com o objetivo de
possibilitar a sondagem da capacidade de audibilizao em crianas
na fase inicial de aquisio da escrita. A autora ressalta que o teste
possibilita a identificao de fatores psicolingusticos que operam
na aquisio da leitura e pode, por isso, ter efeito preventivo e/ou
remediativo nas dificuldades, evidenciando necessidades pedaggi-
cas. (GOLBERT, 1987, p. 86) No estudo realizado por Golbert (1987),
o teste foi aplicado em 75 crianas de sete anos que frequentavam
a primeira srie e pertenciam a nveis socioeconmicos mdio e
inferior. O teste recebeu tratamento estatstico e a partir da mdia
e da varincia dos escores totais, foram estabelecidas normas
provisrias para o instrumento. (GOLBERT, 1987, p.94, grifo nos-
so) Sobre o sentido da palavra norma Canguilhem (1995) destaca:
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