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AÇORES

Edições Market Iniciative

2010

ritmos da
Janeiro 2010 • Esta revista é distribuída com as edições dos jornais “Público” e “Jornal de Notícias” de 12.01.2010

Natureza

Região Europeia do Ano


7 Maravilhas Naturais
de Portugal nas 7 Cidades
Ilhas de Turismo Activo
Índice | AÇORES
2010

nota
Editorial

Foto: Futurismo
Nos últimos anos os Açores, pelo seu património natural e histórico,
foram distinguidos com vários títulos de reconhecimento internacional
que os colocam entre os melhores destinos do planeta para turismo
sustentável. Agora, dotados de uma nova estratégia Marketing, 2010
perfila-se como o ano “zero” para a afirmação da imagem
do Arquipélago como referência no panorama do turismo de natureza
europeu e internacional.
Estes nove pedaços de terra vulcânica que formam nas Flores a Europa
mais Ocidental, por rara sensatez dos homens - comuns e governantes
-, têm sabido preservar a magistral obra que a Natureza ali gerou
ao longo de milhões de anos e a herança histórica que ao longo
de séculos o Homem edificou utilizando os recursos locais. Hoje,
os Açores, no conjunto das nove ilhas e múltiplas vertentes, são
certamente um exemplo mundial de uma ocupação humana e uma
economia desenvolvida assente na sustentabilidade ambiental,

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte


oferecendo à Humanidade um imenso e diverso património, justamente
reconhecido. Foram declarados pela UNESCO Património Cultural
da Humanidade com o Centro Histórico de Angra do Heroísmo - na
sequência do sismo de 1980, graças a uma política de reconstrução que
soube converter a catástrofe em oportunidade – bem como a Paisagem
Natural da Vinha do Pico. O Conselho Internacional de Coordenação
do Programa da UNESCO “O Homem e a Biosfera” atribuiu o título
de Reserva da Biosfera ao Corvo, às Flores e à Graciosa - e outras
ilhas se seguirão, decerto. As cinco fontes hidrotermais submarinas até
agora descobertas nos seus mares, com os respectivos ecossistemas Turismo Activo: O Planeta nos Açores 04
únicos, foram distinguidas pela fundação World Wildlife Fund (WWF) com Corvo: Identidade Digna 07
o galardão “Gift to the Earth” (Dádiva à Terra). A internacionalmente
prestigiada revista National Geographic Traveler, considerou-as Pesca: Mar Generoso 07
as segundas melhores ilhas do mundo para turismo sustentável. Em
terra, mar e ar – incluindo o subsolo e os fundos marinhos – os Açores
Whale Watching: Santuário das Baleias 08
concentram o maior número de áreas com algum estatuto de protecção Pico: A Ilha Montanha 11
de Portugal e, muito provavelmente, da Europa.
Este ano, em Setembro, os Açores são, nas Sete Cidades, em São Miguel, Mergulho: Arquipélago dos Assombros Subaquáticos 12
o palco para o místico espectáculo que irá proclamar os tesouros Graciosa: Profunda Sedução 15
vencedores das “7 Maravilhas Naturais de Portugal”, em que o
Arquipélago, só por si, apresenta, nas várias categorias, quase um terço Surf: Alto Spot 16
da totalidade do património nacional a concurso. Coincidência ou não, os
Açores também são a “Região Europeia do Ano 2010”, seleccionados pelo
São Jorge: Vertiginosa Fantasia 17
Internacional Bureau of Cultural Capitals (IBOCC) do Conselho da Europa. Iatismo: A Irmandade do Mar 18
É neste quadro virtuoso que o Turismo dos Açores lança um novo plano
de Marketing através do qual o Arquipélago se promove no Mundo como Faial: Oceanos Coloridos 19
o mais importante destino europeu de turismo activo e de natureza, Praias e Piscinas: Banhos Vulcânicos 20
cujos variados e extraordinários cenários oferecem o imenso leque
de aventurosas propostas e modalidades para turismo activo, desportivo Santa Maria: História(s) de Arrebatar 21
e de lazer, sem igual noutra região isoladamente considerada. Uma
comunicação que convida à descoberta, à experiência, ao usufruto
Pedestrianismo: Ao Ritmo do Coração 22
e ao conhecimento dos mais extraordinários, surpreendentes e intocados São Miguel: Terra dos 1001 Encantos 24
patrimónios – e muitos são - que o planeta ali ainda tem para partilhar. 
Geocaching: Tesouros na Paisagem 26
Ficha Técnica Flores: Beleza Reflectida 27
GeoMarket – Edições Market Iniciative Vulcanologia: Corpo e Alma de Lava 28
Parque Peninsular, Rua David Mourão Ferreira, nº 5, Lote 3/4 1º Esq.
Tel.: 309 991 731 email: geral@marketiniciative.com
Montanhismo: Subida Mágica 30
Negócios e Golfe: Tacadas Certeiras 31
Propriedade: Região Autónoma dos Açores; Direcção: Market Iniciative;
Redacção: Market Iniciative; Design e Paginação: FuturMagazine; Imagem de Património: Arco-íris Cultural 32
capa: Market Iniciative / Carlos Duarte; Impressão: Lisgráfica; Tiragem: 165.000
Terceira: Heranças Liberais 33
exemplares; Distribuição: Público e Jornal de Notícias, a12 de Janeiro de 2010.
Agenda: Eventos em cenários místicos 34

Janeiro 2010 | 03
2010 |Turismo Activo
AÇORES

o planeta nos
Açores

Lagoa das Sete Cidades – São Miguel

O s Açores contam-se entre os mais


perfeitos destinos mundiais para o encontro
mundo, com personalidade muito própria.
Este é um destino de privilégio. Generoso nos
a uma araucária candidata ao título da “mais antiga
do Mundo”. São terras de miragens, onde cada
com a Natureza, que ali se manifesta, diversa, segredos que revela. Inesgotável nos mistérios olhar sobre as verdes tonalidades da paisagem
em mistério e exuberância. que teima em resguardar. A cada visita fica e a transparência do mar revela segredos.
Em terra e no mar, milenares fenómenos sempre a vontade do regresso. As experiências As costas de recorte variado, a abrir-se
vulcânicos geraram o Arquipélago, criando açorianas, a par das memórias indeléveis que em fajãs, angras e baias, acolhem apetecíveis
paisagens de espanto em que se abrigam deixam para a vida, criam a estranha sensação praias de areia, escura e também clara, ou de
manifestações de vida ímpares, tudo espicaçando de “falta” pelo muito que, ainda e sempre, ficou pedra rolada. Belíssimas piscinas de marinhas
a curiosidade, apelando ao espírito de exploração por ver, descobrir, sentir, experimentar, usufruir águas translúcidas – umas naturais, abertas nas
e aventura e convidando a inúmeras actividades e fazer. Os mistérios dos Açores, ou, sequer, negras rochas vulcânicas, outras construídas pelo
de descoberta, lazer, usufruto... de uma ilha, não se revelam numa única Homem – convidam a banhos. Os desportos
Estas ilhas e este mar têm a capacidade de, visita. São um destino viciante. Concretizam de mar encontram condições de excepção
a cada passo, surpreender e espantar, despertando o imaginário de “paraíso perdido”, alimentando em todas as ilhas. No surf, com 20 spots de
inusitadas e intensas emoções. As mesmas o desejo de eterno retorno. Alguns ficam primeiro nível, vários são os “santuários”
paisagens que convidam à contemplação, cativados para o resto da vida. internacionalmente reconhecidos - especialmente,
convertem-se em cenários perfeitos para Nas diversas ilhas, lagoas aninhadas em vulcões a Fajã da Caldeira de Santo Cristo (São Jorge),
a acção e irrecusáveis experiências. São múltiplas extintos convidam à exploração - por trilhos para uma Meca do surf europeu. As modalidades
as alternativas de práticas e modalidades - para percursos pedestres, passeios a cavalo, BTT de mergulho, com mais de 130 spots, tem ali
todas as idades, condições físicas, estilos de vida e Moto4 - e a safaris fotográficos. Em crescendo cenários únicos, como o biologicamente rico
e estados de alma – que ali se oferecem. Nesta no Arquipélago, o “geocaching” guia-nos os passos banco de S. João de Castro (entre São Miguel
natureza diversa, bem preservada e em estado até tesouros naturais únicos, sejam paisagens e a Terceira) com as suas fumarolas subaquáticas,
puro, cada uma das nove ilhas encerra em si um desconhecidas e de outro modo inacessíveis ou o Caneiro dos Meros (Corvo), ou os Parques

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Turismo Activo | AÇORES
2010

Foto: Clube Asas de São Miguel


Foto: Montanheiros / Carlos Medeiros
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte


Arqueológicos Subaquáticos dos Açores, na Baía Extensos túneis de lava e grutas vulcânicas, – maracujá, anonas ou “capuchos”. Belíssimos
da Angra (Terceira). No iatismo, três grandes visitáveis, que revelam os mistérios do vulcanismo parques florestais, ricos em fauna e flora,
marinas (Faial, Angra e Ponta Delgada) e múltiplos e uma ainda pouco conhecida vida subterrânea. ajardinados e abrindo-se a espaços de lazer e
portos de recreio nas várias ilhas asseguram Fósseis marinhos expostos à superfície merendas, dão-se à visita e usufruto, Nas negras
apoio a barcos e velejadores ou a possibilidade de Santa Maria, que se contam entre os mais bem escarpas das arribas costeiras, nas encostas que
de aluguer de iates para uma aventurosa preservados do mundo - o mais antigo terá cinco se precipitam das montanhas, ou nas paredes
navegação entre ilhas. Quanto ao whale watching, milhões de anos. E o impressionante museu vivo declinadas das grutas vulcânicas, o montanhismo
muitas são as empresas locais que proporcionam que representa os Capelinhos, no Faial. e a escalada ganham vocação de aventura
a observação e fotografia das variadas espécies A combinação de clima, natureza do solo, recobre e vertigem. Incontornável é a subida ao céu, até
de cetáceos encontráveis nestes mares as ilhas de uma exuberante vegetação em que ao cimo do Pico. O baloonismo, para-quedismo
ou a emoção da natação com golfinhos. pontuam espécies exóticas, algumas raras e parapente – modalidade ali com provas que já
Com mares ricos em espécies, a pesca de lazer ou únicas no mundo – casos da floresta marcam presença no calendário nacional –, aliam
e desportiva encontra generosos pesqueiros Laurissilva do Planalto dos Graminhais (São à adrenalina o mais exclusivo dos olhares sobre
ao longo das costas de todas as ilhas açorianas. Miguel) e da Caldeira de Guilherme Moniz as paisagens vulcânicas das ilhas.
A cada passo, a natureza vulcânica, qual magistral (Terceira) ou da Reserva Natural da Montanha Para o repouso do corpo, um alojamento
arquitecto, modelou ao longo de milhares do Pico -, cuidadosamente preservadas em que às excelentes unidades de quatro estrelas,
e milhões de anos cada ilha – e também extensas áreas classificadas e protegidas (existem acrescenta uma oferta distintiva, traduzida
os fundos marinhos -, deixando manifestações mais de 100 áreas com estatuto de protecção em aristocráticas quintas como as da Terceira
extraordinários em terra, no subsolo e nas ambiental nos Açores). Culturas únicas na Europa, e extraordinárias casas de turismo rural, espalhadas
profundezas atlânticas. Fumarolas, géisers, como o ananás e chá (São Miguel) ou o café (São pelas ilhas, que recuperaram para o turismo
e múltiplas nascentes de variadas águas minerais Jorge), dão-se neste clima. A que se juntam uma o melhor da genuína arquitectura tradicional,
e quentes que alimentam tépidas piscinas naturais. imensidão de outros saborosos frutos tropicais de que são exemplo as “Adegas do Pico”. 

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2010 |Turismo Activo
AÇORES

Região Europeia Webcams: num Grupo, independentemente destes se


verificarem, é frequente acontecer que várias
do Ano 2010 as janelas do tempo das ilhas se apresentem com um belíssimo dia
Os Açores são a Região Europeia Um arquipélago que se espalha por centenas de Sol, se não durante todo o dia, pelo menos
do Ano 2010, tendo sido seleccionados pelo de quilómetros no meio do Atlântico, está, em boa parte dele. Assim, nada melhor que
International Bureau of Cultural Capitals inevitavelmente sujeito a múltiplas influências ver como está o tempo na ilha do lado, o que
entre as muitas regiões que integram os 47 meteorológicas que se reflectem em estados se pode fazer através de webcams espalhadas
estados membros do Conselho da Europa. de tempo diferentes em cada uma das suas pelo arquipélago. Acedendo ao endereço
Sucedendo à região albanesa de Gjirokaster, 9 ilhas. As previsões meteorológicas difundidas www.climaat.angra.uac.pt é possível obter
esta nomeação cria ao arquipélago em 2010 diariamente informam sobre as tendências imagens - em tempo real e em alta-definição
excelentes oportunidades para dar a conhecer verificadas globalmente para cada um dos três - através das Weather Cams do projecto
a sua cultura, herança histórica, tradições grupos em que as ilhas se repartem - Oriental, CLIMAAT, da Universidade dos Açores,
e património natural, bem como promover Central e Ocidental. Mas cada Grupo estende-se instaladas nas principais localidades de todas
a sua imagem como destino turístico de por dezenas ou centenas de quilómetros, pelo as ilhas. Deste modo pode constatar-se
natureza de primeiro plano. que quando as previsões ditam “aguaceiros” ser frequente brilhar o Sol em localidades
situadas nos Grupos para os quais as
previsões meteorológicas apontavam
“7 Maravilhas Naturais de Portugal®” a ocorrência de “aguaceiros”.

nos Açores em 2011


Foram 7 as maravilhas da antiguidade, tantas quantas as colinas de Roma As idades das ilhas
ou os dias da Criação referidos no “Génesis” pelo Cristianismo. O número Sendo todas as ilhas dos Açores de origem
7 desde sempre esteve envolto em cabalísticos mistérios, tal como vulcânica, formaram-se ao longo de milhões
a Lagoa das Sete Cidades, paisagem inspiradora e de beleza insuperável, de anos. A Microplaca dos Açores resulta
que alimentou lendas que remetem para o imaginário dos contos de fadas do movimento de afastamento dos
ou para o mítico continente perdido da Atlântida - uma outra versão continentes, tendo sido gerada há cerca
do “paraíso perdido”. de 34 milhões de anos. Das ilhas iniciais,
É por isso o local apropriado para acolher a cerimónia de eleição das resta Santa Maria, que apresenta formações
““7 Maravilhas Naturais de Portugal®”, que ali decorre a 11 de Setembro vulcânicas com mais de 8 milhões
de 2010, com o apoio da Direcção Regional de Turismo, da Associação de anos. Todas as outras são mais recentes,
de Turismo dos Açores (ATA) e da New 7 Wonders Portugal®(N7WP), organização responsável pelo resultantes sucessivas reactivações
projecto. Com esta eleição, a N7WP antecipa todo o movimento global em torno da eleição das vulcânicas. Assim, há 4 a 5 milhões de anos
“7 Maravilhas da Natureza®”, eleitas a nível mundial em 2011, e Portugal será o primeiro país surgiram os ilhéus das Formigas e a zona
a eleger as suas maravilhas da natureza, o que nos coloca na linha da frente em termos de Nordeste (S. Miguel). Seguiu-se a
de preservação ambiental e de sustentabilidade. Terceira, há cerca de 2,5 milhões de anos
A iniciativa visa distinguir a riqueza natural de Portugal em 7 categorias distintas, desde as zonas e, depois, há 1,5 milhões de anos, surgiram
marinhas, passando por Praias e Falésias, Florestas e Matas e Zonas Protegidas. Nas palavras S. Jorge e a Graciosa, às quais se sucedeu,
de António Vitorino, Comissário para as “7 Maravilhas Naturais de Portugal®”, esta iniciativa há perto de 800 mil anos, o Faial, seguido das
promete “a divulgação das nossas belezas naturais nas escolas e junto das crianças e jovens. Flores e do Corvo. O Pico, a ilha montanha,
Até porque temos consciência de como é importante esse conhecimento para promover uma é a mais jovem, tendo eclodido há 260 mil
cidadania activa em defesa da preservação do ambiente e em prol de um desenvolvimento anos, contrariando a ordem de “nascimento”
sustentável do nosso País.” das ilhas de poente para nascente.
A região do país com mais candidaturas nas diversas categorias é, exactamente, a Região O Arquipélago dos Açores assenta nas
Autónoma dos Açores, facto que evidencia o mérito de uma política de desenvolvimento Placas Norte-Americana, Euro-asiática
ambientalmente consciente e o imenso património natural intocado que o arquipélago concentra. e Africana, que formam a Microplaca dos
Açores. As ilhas e ilhéus correspondem
às maiores elevações. Os bancos – elevações
submarinas – dos mares dos Açores foram,
outrora, ilhas, que submergiram por erosão
ou por abatimento do fundo do mar.
Dão expressão maior à actividade vulcânica
submarina da actualidade cinco campos
hidrotermais profundos, classificados como
áreas protegidas, descobertos entre 1992
e 2006 nos mares a Sul do arquipélago.
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

As altas temperaturas destas fontes termais


subaquáticas geraram ricos ecossistemas
marinhos em que proliferam formas de vida
de tal modo únicas que levaram a fundação
“World Wildlife Fund” (WWF) a atribuir
aos Açores o galardão “Gift to the Earth”
(Dádiva à Terra). São eles “Lucky Strike”
Lagoa das Sete Cidades – São Miguel
(1992), “Menez Gwen” (1994), “Rainbow”
(1997), “Saldanha” (1998) e “Ewan” (2006).

06 | Janeiro 2010
Pesca | AÇORES
2010

mar CORVO
Generoso Identidade Digna
A ilha mais pequena dos Açores
representa uma experiência inigualável.
Com poucas centenas de habitantes,
o Corvo é terra pacata. Mas para não
fugir à regra do arquipélago, também
encerra emoções e sensações prontas
a conquistarem os visitantes.
Meros 6,5 quilómetros de comprimento.
Quatro de largura. Um único povoado,
em forma de vila com o nome da ilha.
As pessoas conhecem-se pelo nome.
Apetece ficar dias no Corvo até que
conheçam também o nosso. No entretanto,
pesca-se a partir dos rochedos. E explora-
-se o interior verdejante. O trilho PR2COR
começa no Caldeirão, cratera que surge
gigante comparada com o tamanho total
da ilha. É um percurso que deve ser feito
com recurso a guia, dado o grau elevado
de dificuldade dos mais de cinco quilómetros
e aos perigos relacionados com nevoeiros
repentinos, piso acidentado e falésias
perigosas. O irreal interior da caldeira, com
lagoas e ilhotas, lombas e declives, marca
os primeiros passos. Ficará impresso para
a eternidade. Depois vêm as vistas das
falésias, os cones vulcânicos, a Ponta do
Marco, uma praia e uma fonte de água. Um
caminho ladeado de hortênsias acolhe com
graciosidade os destemidos caminhantes.
É tempo de regressar à vila do Corvo,
a tempo de dois dedos de conversa com
os locais. Talvez se lembrem do nosso nome.
Foto: Helmut Nanz

C ircundadas por mar, as ilhas açorianas


estavam predestinadas a ser um destino
a partir de embarcação ou de terra, o mar
é pródigo em dádivas. Na pesca de corrico
fabuloso de pesca. E são. Desde a captura (muito acarinhada em Santa Maria mediante
em alto mar de um espadarte até à presa várias competições internas), colhe-se anchova,
de um pargo junto à costa, as águas do cavala ou barracuda, entre outras espécies.
arquipélago representam o paraíso para Na pesca de fundo é comum encontrar abrótea,
os entusiastas da actividade. pargo, besugo, sargo e até mero. As costas
Foto: ATA

A pesca desportiva e lúdica pode ser praticada rochosas tremendamente recortadas não
em todas as ilhas. Na espectacular e frenética podiam ser mais apropriadas para a pesca
pesca grossa de alto mar, apanham-se nas de cana: há peixe durante todo o ano. Captura- Pedalar uma Ilha
águas açorianas relíquias como espadarte, -se pargo, bicuda, anchova, congro, goraz, Montar numa BTT e pedalar o Corvo é uma
bonito e atum. Ocasionalmente pescam-se cavala ou moreia. aventura fantástica. Os caminhos da ilha,
tubarões. Devido à abundância de exemplares Através da aquisição de uma licença de pesca bem como as ruas sinuosas do povoado,
recorde de tamanho e peso, os Açores desportiva, também é possível pescar nas são propícios para os ciclistas que gostam
costumam receber competições internacionais ribeiras e lagoas do arquipélago. Perante tanta de emoções fortes aliadas a paisagens
de Big Game Fishing. diversidade de estilos e espécies, os Açores de cortar a respiração. Só por um momento,
Comum entre habitantes das ilhas e turistas são um local apetecível para todos os tipos porque o coração pede mais velocidade!
é o entusiasmo pela pesca costeira. Seja de pescadores. O difícil está mesmo na escolha. 

Janeiro 2010 | 07
2010 |Whale Watching
AÇORES

santuário das
Baleias

08 | Janeiro 2010
Whale Watching | AÇORES
2010

C ondições naturais, associadas a medidas


para a conservação da vida marinha, levam
a que várias espécies de cetáceos encontrem
nos Açores uma casa de paz e tranquilidade.
Os mares do Arquipélago transformaram-se
num dos melhores locais do mundo para
a observação de baleias e golfinhos.
O mar irrompe em salpicos. Vários, simultâneos
e alternados, aqui e ali. Primeiro longínquos,
de origem imperceptível. Com a proximidade,
percebe-se que as erupções da crosta de água não
resultam de caprichos de marés. São golfinhos
a exibirem-se, em saltos acrobáticos. Parecem sorrir
num “olá” despreocupado aos humanos que
os observam. Mostram que conseguem
acompanhar a velocidade do barco, ora com
a barbatana dorsal a rasgar a água, ora submersos
com movimentos enérgicos da barbatana caudal.
Ao longe, novamente, uma turbulência no mar
sob aspecto de esguicho de água. E o vislumbre
de uma cabeça agigantada, apesar da distância,
a subir à tona e a regressar ao fundo. Culmina
o quadro com uma barbatana colossal, elevada
no ar. Apetece cristalizar o passar dos segundos
e a rotação da Terra. Um clique imortaliza
o momento. E a baleia pode prosseguir
pacificamente o seu trajecto.
O mar dos Açores é hoje em dia um lugar sagrado
para os cetáceos. Cerca de um terço das espécies
existentes no mundo circula pelas águas
do Arquipélago. Nas migrações entre as altas
e baixas latitudes, algumas baleias traçam rota com
paragem nesta “casa” aquática. O cachalote, outrora
caçado numa epopeia de homens corajosos que
forjaram o povoamento e subsistência de algumas
ilhas, é o símbolo da fauna marinha açoriana.
Comum durante o ano inteiro, representa o tipo
de espécies que frequentam grandes profundidades
na proximidade da costa. A abundância de alimento
agrada aos inquilinos marinhos.

24 espécies identificadas
O cachalote destaca-se pela cabeça achatada.
Os machos medem entre os 11 e os 18 metros
e pesam entre 20 a 50 toneladas. Recordistas
de mergulho, podem submergir até aos três mil
metros. Além deste simpático e característico
animal, avistam-se continuamente nos mares
açorianos o golfinho comum (o culpado pelos saltos
fora de água), o roaz (de bico pontiagudo)
e o grampo (delfinídeo de coloração esbranquiçada).
No Verão juntam-se ao grupo o golfinho pintado,
o golfinho riscado e a baleia-piloto-tropical.
A listagem já chegaria para atrair os novos
caçadores do milénio, cujas capturas são feitas
em artes fotográficas e, melhor que isso,
de experiências únicas de contacto com estes
fabulosos mamíferos. Mas o manancial açoriano
ainda não esgotou. Durante a Primavera
é frequente a afluência da baleia-comum,
caracterizada pelo lábio e barbas do lado direito
Fotos: Futurismo

brancos, e da baleia-sardinheira, com manchas


ovais esbranquiçadas no dorso cinzento escuro.
Ambas impressionam pelas dimensões, que

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2010 |Whale Watching
AÇORES
podem chegar até aos 20 metros no caso ao cimo da água, é garantia de acontecimento
da baleia-comum. extraordinário. Apetece recorrer a todos os clichés
O cume do assombro está no entanto reservado imagináveis. Fiquemos pela doce melodia cantada
pela baleia-azul. Maior cetáceo e animal do mundo, por Louis Armstrong, a relembrar-nos de como
mede entre 24 a 27 metros e pesa mais de 100 o nosso mundo é maravilhoso. Em momentos
toneladas. Este bom gigante de corpo azulado com assim, é mesmo. Observar um animal deste porte,
manchas circulares mais claras, mostra-se durante que mesmo movendo-se com placidez acelera
a estação primaveril. Consegue permanecer o ritmo cardíaco de quem o encara, é memória
imerso até 30 minutos. Mas sempre que regressa para durar a vida inteira.  A Ilha Montanha
No Pico, com a sua montanha ominipresente,
emana uma estranha magia, que nos faz
oscilar entre a admiração e o espanto. Ilha
de baleeiros, é onde as antigas tradições
da caça à baleia se encontram hoje
admiravelmente preservadas e presentes
num vasto património que ganha expressão
maior no Museu dos Baleeiros, nas Lajes,
Museu da Indústria Baleeira, em São Roque,
e na antiga Fábrica das Armações Baleeiras,
internacionalmente referenciado entre
os melhores do género.
Há que explorar os vários percursos pedestres
que nos levam pela Paisagem da Cultura

Foto: Futurismo
da Vinha da Ilha do Pico, Património Mundial da
UNESCO. O PR1PIC, com início na Maragaia, em
Santa Luzia, serpenteando entre “canadas”
e “currais” que abrigam dos ventos marítimos
as vinhas rasteiras que “nascem” nas fendas
Em Busca central. O Pico ocupa uma posição privilegiada das lajes vulcânicas, formando uma das mais
nesta actividade, dada a extensa ligação gigantescas obras humanas em pedra – se
das Raridades histórica ao universo baleeiro. As empresas colocadas em linha recta, daria mais do que uma
Entre as espécies que ocasionalmente geralmente estão dotadas de equipas volta à Terra. Ao passar na típica localidade
atravessam os mares açorianos, encontram- de skippers, biólogos e vigias que asseguram do Lajido – que herda a designação das lajes
-se as particulares baleias-de-bico, como o desenrolar seguro, informado e cumpridor vulcânicas e dá nome ao mais tradicional
a de bico-de-garrafa e o zífio, em que do código de conduta, antes e durante as saídas “verdelho” do Pico – espantam-nos as casas
os machos apresentam dentes. Exemplares em observação que podem durar até três horas. tradicionais, de dois pisos, em cujas fachadas
de baleia-anã e baleia-de-bossa (caracterizadas negras contrastam janelas vermelhas. Já sobre
pela coloração das barbatanas peitorais a rocha, vizinha ao mar, são observáveis
e do ventre) podem surgir na época Código de Conduta os “rilheiros” – rastos gravados na rocha
da Primavera. Com sorte, a inconfundível orca No sentido de salvaguardar a fauna marinha ao longo de séculos pelos rodados dos carros
fará uma aparição especial para completar dos Açores foi criado um Código de Conduta da de bois que levavam as pipas do vinho para
a colecção de encontros especiais. Observação de Cetáceos. Do conjunto de regras embarque. Ali um lagar tradicional deixa-
a cumprir sobressai a proibição de perseguir, -se visitar frente a uma adega onde ainda
perturbar e alimentar cetáceos ou poluir o mar. se continua a destilar - e a dar a provar
Tradições Recicladas As observações estão limitadas a períodos ao passante - a afamada Aguardente do Pico.
Em tempos idos, as vigias da baleia eram de trinta minutos. A natação está vedada com O percurso terminará na Igreja de Santa Luzia,
utilizadas por homens com visão de águia. baleias, mas é possível praticá-la com golfinhos, não sem antes nos levar a Forno dos Frades,
Tinham a tarefa de avisar os baleeiros sempre na vertente de snorkeling (mergulho apenas com e pelas matas de pau branco, urze e incenso,
que houvesse caça no mar. Actualmente, óculos e tubo de respiração). Nadar junto a estes espécies autóctones, únicas no Mundo.
algumas vigias estão novamente activas, animais muito sociais e brincalhões resulta numa Na estrada costeira entre o Lajido e a Madalena,
com gente a perscrutar o horizonte marítimo. experiência emocionante a não perder. várias localidades ligadas à vinha pedem visita,
Mas desta vez a intenção é descobrir os nobres mostrando currais redondos e “Rola-Pipas”
cetáceos para que possam ser devidamente
venerados e apreciados. Sem desperdiçar uma Artes Passadas
história feita por pescadores intrépidos, Instalado no piso superior do Peter Café Sport,
os Açores reciclaram a tradição baleeira. Os na Horta, o Museu do Scrimshaw expõe uma
arpões cederam lugar às câmaras fotográficas, extensa colecção particular da arte baleeira
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

criando um novo templo sagrado da fauna que consistia na gravação e pintura em


marinha. O mundo agradece a preciosa dádiva. marfim de cachalote. Os ossos e os dentes
deste animal também foram utilizados para
forjar peças utilitárias ou decorativas como
Actividade Regulada punhos de bengala, dedais e caixas. O museu
A observação de baleias é efectuada através de contempla ainda uma colecção de documentos
operadores turísticos licenciados, os quais estão e fotografias associadas à caça da baleia
Museu do Vinho – Pico
concentrados principalmente nas ilhas do grupo e à navegação.

10 | Janeiro 2010
Whale Watching | AÇORES
2010

PICO
– caminhos aplanados na rocha que seguem
em declive até pequenos ancoradouros, por
onde rolavam as pipas de vinho para embarque.
As ilhas do Faial e São Jorge, são presença
constante à vista. É incontornável a ida ao Museu
do Vinho, aproveitando para uma degustação.
Passada a Madalena surge a Criação Velha, a mais
extensa zona de “currais” do Pico, com o típico
moinho flamengo em destaque. Próximo, para o
interior, são visíveis os “maroiços” – pirâmides de
pedra resultantes da árdua limpeza dos currais.
Uma degustação do “verdelho”, fica ao lado,
na Cooperativa Vitivinícola (necessário fazer
marcação de véspera).
Dos múltiplos Percursos Pedestres do Pico,
memorável é o que nos conduz ao céu, lá bem
no cume da montanha, onde a alma se queda
em mudo espanto. A subida inicia-se na Casa
de Apoio à Montanha, situada no Cabeço das
Cabras, a cerca de 1200 metros de altitude.

Ao redor da montanha
Na Estrada do Planalto, que atravessa o interior
do Pico, sempre com vistas sobre a montanha
e o mar, pasme-se na Lagoa do Capitão, em cujas
águas a montanha se espelha, e depois
a sucessão das lagoas do Caiado, do Paúl,
do Rosado e do Ilhéu.
Em São João pare-se para degustar o afamado
queijo do mesmo nome. A típica vila baleeira das Museu da Indústria Baleeira

Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte


Lajes do Pico, com a sua enseada e amplo porto
e o Museu dos Baleeiros, exige uma pausa para
um passeio na avenida aberta à beira-mar, com
típicas casas de segundo andar em madeira, que
acolhem empresas de Whale watching e Mergulho.
Na Manhenha, com o seu infatigável farol, estamos
na ponta mais Oriental da ilha. Solarengas adegas
Paisagem da Vinha Paisagem da Vinha Lajes
destacam-se na Baía de Canas. Em São Roque
do Pico, urbe fronteira a São Jorge que domina
a costa Norte, há que visitar a Fábrica da Baleia. baías ideais para a exploração submarina, surf escalada, montanhismo, geocaching, passeios
e o windsurf. Uma rica oferta em whale de BTT, Moto4 e jeep 4X4, ou altos voos em
Pico Activo watching, mergulho, passeios de barco ou de asa-delta. E mais, e mais. De barco, a partir
A ilha oferece-se por todo o lado em iate e a possibilidade de zarpar para a pesca do Pico, alcança-se o Faial em meia-hora
actividades em terra, mar e ar. Na costa de alto-mar são uma constante na ilha. Mas e numa hora São Jorge, havendo ligações
multiplicam-se as piscinas de lava, pequenas também em terra há propostas de aventura: todos os dias do ano.

Viver numa Adega


Na Hotelaria o pico apruma-se na “Aldeia
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

da Fonte” e na oferta de Turismo Rural


Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

absolutamente distintiva, em casas


convictamente fiéis à arquitectura tradicional
da ilha, em pedra negra, de que são exemplo
a rede de Adegas do Pico: um conjunto
de confortáveis e bem recuperadas casas de
pedra espalhadas ao longo da costa, sempre
“Adegas do Pico”
na proximidade e com vista sobre o mar.

Janeiro 2010 | 11
2010 |Mergulho
AÇORES

arquipélago dos assombros


Subaquáticos

Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Jesus Martin Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Jesus Martin Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Rui Guerra
Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Rui Guerra

12 | Janeiro 2010
Mergulho | AÇORES
2010

A linha do horizonte demarca dois tipos


de azul: o do céu e o do mar. Por debaixo
dessa delimitação imaginária, existe um mundo
de experiências inesquecíveis, prontas a serem
conquistadas pelos que mergulharem nas
águas cálidas do Atlântico açoriano.
O mar dos Açores é de uma generosidade
infindável. Em redor das ilhas e dos ilhéus
açorianos existe uma topografia composta
por mais de três centenas de montanhas, vales
e cordilheiras que acolhem uma biodiversidade
selvagem assinalável. Quase 700 espécies de
peixes. Cerca de 30 tipos de cetáceos. Tartarugas,

Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Nuno Gonçalves


cefalópodes e crustáceos. Corais multicolores...
Para poder apreciar estas maravilhas
subaquáticas, os Açores dotaram-se de condições
de mergulho ao nível dos mais elevados padrões
internacionais. Actualmente existem cerca
de 30 operadores certificados de mergulho,
espalhados pelas nove ilhas, que complementam
a actividade dos clubes navais. É praticado
o aluguer de equipamento de mergulho.
Em São Miguel (Ponta Delgada) e no Faial (Horta)
estão instaladas duas câmaras hiperbáricas
de apoio ao mergulho. Está prevista a entrada
em funcionamento de uma nova câmara para
auxílio à actividade no Grupo Ocidental. Navios Destroçados Raridades Marinhas
Com quase 100 spots assinalados no mapa O mergulho em naufrágios constitui, Ocasionalmente passam pelos Açores algumas
de mergulho, muitos deles em zonas classificadas na generalidade, uma oportunidade espécies raras. Caso da tartaruga-de-couro,
devido ao respectivo valor ambiental, de encontrar uma grande concentração a maior espécie de tartaruga, com exemplares
os Açores têm uma oferta apropriada a vários de vida marinha. Os destroços dos barcos que atingem em média os dois metros
níveis de experiência e expectativa. Os novatos afundados transformam-se em recifes de ponta a ponta. Ou do tubarão-baleia, o maior
podem começar pelo snorkeling, onde apenas ou refúgios artificiais para inúmeras espécies, peixe conhecido, cujos espécimes atingem
é necessária a utilização de tubo, máscara, providenciando material de sobra aos um comprimento médio entre os cinco e os
barbatanas e colete flutuante. O passo seguinte praticantes de fotografia e vídeo subaquático. dez metros. Em Novembro de 2008, a revista
natural é o casamento com o mar. Um baptismo Os mares dos Açores dispõem de vários National Geographic Portugal publicou um artigo
de mergulho nos mares açorianos será uma spots com vestígios de naufrágios: Slovonia sobre o tubarão-baleia, com base em imagens
memória indelével. Abrem-se então as portas para e Papadiamandis (Flores), Viana (Faial), captadas pelo fotógrafo de natureza Nuno Sá
o paraíso subaquático do Atlântico. Terceirense e Corvo (Graciosa), Dori (São quando um grupo destes gigantes aquáticos
A temporada de Maio a Outubro é considerada Miguel) e Olympia (Ilhéus das Formigas). “passeou” ao largo da ilha de Santa Maria.
a melhor para a actividade, embora seja possível E tão interessante como descer aos restos
mergulhar em qualquer altura do ano. O tempo de navios afundados, acessíveis na
pode estar agreste ao cimo da terra e calmo generalidade por mergulhos de pouca Profundezas
debaixo do mar. Além disso, as temperaturas profundidade, será depois (ou antes) conhecer
da água são convidativas, oscilando entre os 17 as respectivas histórias e tragédias. Oceânicas
e os 24 graus centígrados. Não é raro que a água A Fundação Rebikoff-Niggeler, instituição
esteja mais quente do que o ar. sem fins lucrativos dedicada à pesquisa
No Verão, é possível atingir visibilidades até aos Transporte Aéreo e documentação cinematográfica dos oceanos,
30 metros. Situação ideal para apreciar qualquer detém um submarino autónomo desde 2000.
dos vários tipos de mergulho que pode efectuar- de Equipamento Sedeado na Horta, no Faial, o Lula leva até
-se nos mares dos Açores. A SATA tem um programa para o transporte três passageiros a profundidades na ordem
de equipamento de mergulho em que oferece dos 500 metros. Em 2002, a empresa Deep
Da costa até às grutas uma franquia adicional de dez quilogramas Ocean Expeditions, efectuou uma expedição
No mergulho em zonas costeiras atingem-se em relação à franquia livre de bagagem. a um conjunto de géisers subaquáticos
profundidades entre os cinco e os 25 metros. A medida está sujeita à reserva antecipada açorianos, localizados 2400 metros abaixo
Há spots em águas fáceis e locais muito pelo passageiro e posterior confirmação do nível do mar. Apesar da profundidade
acessíveis a partir de terra ou de mar, onde por parte da companhia aérea face e das altas temperaturas da água em redor
se pode observar uma boa biodiversidade de algas à disponibilidade do voo. Nas regras destas chaminés em constante erupção,
e espécies como cavacos, lagostas, castanhetas, a cumprir pelo detentor do equipamento, os exploradores encontraram formas
salemas, vejas, badejos, peixes-cão, abróteas, as garrafas de ar comprimido devem estar de vida estranha (camarões cegos, caranguejos
ratões, peixes-porco. Sobejamente famoso vazias e com as válvulas de segurança brancos...) que muitos cientistas julgam
é o Caneiro dos Meros, na ilha do Corvo, exemplo abertas. As lanternas subaquáticas devem representar o início da vida no planeta Terra.
modelar de sustentação da riqueza subaquática ser transportadas na bagagem de cabine O registo da viagem pode ser consultado em
face à auto-regulação da apanha de meros por com a bateria removida. www.deepoceanexpeditions.com/azores2.html.
parte da comunidade piscatória local.

Janeiro 2010 | 13
2010 |Mergulho
AÇORES
Este universo colorido ganha dramatismo
no mergulho nocturno. O feixe da lanterna
subaquática aumenta a saturação das cores
e ilumina uma atmosfera com características bem
diferentes da existente durante o dia.
Os crustáceos mostram-se mais activos enquanto
algumas espécies piscícolas se rendem ao estado
sonolento, permitindo uma observação minuciosa.
Os jogos de luz e escuridão também são pródigos
no mergulho em grutas. Geralmente formadas por
tubos de lava, estas cavernas encerram águas

Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Carlos Morais


com animais exóticos, forjados pela ausência dos
raios solares. Esponjas, camarões, canários-do-
-mar, caranguejos, moreias ou chicharros podem
ser vistos em locais como a Gruta das Cinco
Ribeiras (São Miguel), Gruta Profunda e Gruta
do Ilhéu Negro (Monte da Guia, no Faial), Furna
dos Enxaréus (Ponta da Caveira, nas Flores), Gruta
dos Ratões (Ilhéu das Cabras, na Terceira), ou nas
duas grutas do Ilhéu da Vila (Santa Maria).

Em busca de emoções fortes


Para novas e excitantes sensações, bem como
maiores níveis de exigência técnica, é possível
mergulhar em baixas litorais e bancos oceânicos.
As baixas são afloramentos rochosos cujos
topos se acercam da superfície. Podem resultar
de grandes profundidades e, em certos casos,
apresentam-se em paredes quase verticais que
requerem alguma experiência de mergulho. Nestes
locais congregam-se grandes cardumes
de enxaréus, barracudas, anchovas, albacoras

Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Bruno Sérgio


ou atuns. Pode também avistar-se grandes meros
e, a partir dos 30 metros de profundidade,
há spots com colónias de coral negro.
Quanto aos bancos oceânicos, trata-se
de picos rochosos e vulcânicos que quase tocam
a superfície. Geralmente representam locais
de extraordinária beleza mas também
de correntes fortes que requerem cuidados
redobrados. A zona dos Ilhéus das Formigas,
ao largo de Santa Maria, inclui alguns dos spots
mais importantes, como o Banco Dollabarat
e os próprios recifes dos ilhéus. Entre São Miguel
e a Terceira, é possível observar fontes
hidrotermais no Banco D. João de Castro,
entre cavalas-da-Índia, bicudas, bonitos, serras
e patuços. A partir do Faial visita-se o Banco
Princesa Alice, cordilheira montanhosa subaquática
que resulta numa experiência inesquecível.
À paisagem junta-se a companhia de tubarões,
lírios e espadins-branco que aumentam
a adrenalina do momento. Com sorte e tempo
vislumbram-se jamantas a pairar nos fundos.
Mergulhar na companhia destes animais em forma
de losango e cauda alongada, que podem atingir
Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Rogério Silva

Foto: Clube Naval de Ponta Delgada / Rui Guerra

os seis metros de envergadura e ultrapassam


a tonelada em peso, é uma espécie de nirvana:
atinge-se um estado de beatitude perfeito. Que
perdurará até à próxima descida ao fundo do mar
açoriano, pródigo em dádivas para atingir o êxtase.
Tudo graças a um movimento perpétuo de vida
em cenários que decantam a palavra perfeição. 

Dicas e descrições sobre os spots de mergulho


dos Açores em www.horta.uac.pt/SCUBAzores

14 | Janeiro 2010
Mergulho | AÇORES
2010

GRACIOSA
Profunda Sedução
Formosa como o nome indica, a Graciosa
associa o património histórico e natural
ao cimo da terra a um fundo subaquático que
a torna central para a actividade do mergulho.
Uma ligação marítima que permanece
cristalizada num ilhéu em forma de baleia.
A Graciosa é considerada uma das melhores
ilhas para mergulhar no oceano Atlântico.
Gaba-se a visibilidade das águas,
a abundância de baixas oceânicas
e a riqueza da fauna. Parte do turismo
associado à ilha relaciona-se intimamente
com esta actividade, face à romaria
de muitos profissionais e amadores
da fotografia subaquática. Uma das melhores
formas de conhecer a Graciosa é, aliás,
por mar; num caiaque ou numa canoa,
desfrutando de paisagens inusitadas para
a costa geologicamente diversificada.
Saídos da água, muito há ainda para ver
e fazer. Sem deixar os assuntos marinhos,
mas com incursão pela vulcanologia,
aprecia-se na Ponta da Barca um ilhéu que
sugere as formas de uma baleia petrificada.

Foto: ATA
Mantenhamos a bússola com a mesma
orientação temática na visita à Baía
da Caldeirinha (cratera de antigo vulcão), Resta a descida à Furna do Enxofre, feita num a direcção do vento, através da rotação
às vinhas plantadas em solo de lava, passo de caracol ou mais apressado por 184 da cúpula. Termina-se o percurso na Vila
ou à piscina natural (de rocha vulcânica, degraus de escada enrolada. No fundo, uma da Praia, de preferência a tempo de um banho
claro está) e Termas do Carapacho onde gruta e um lago ocultam o facto de estarmos no mar tépido. E num momento de merecido
a água escorre de uma nascente a uma no coração de um vulcão adormecido. repouso, no areal da baía, apreciar o sol
temperatura entre os 35 e os 40 graus. Ou quase, pois ainda se vislumbram gases que se põe naquela linha de horizonte que
sulfurosos expelidos pela terra. esconde tantas maravilhas subaquáticas.
De novo ao ar livre, a imensa Caldeira centra
atenções. Paisagem ideal para saborear Na Agenda do Mergulho
a doçaria típica da ilha, prévia e sabiamente No trajecto de afirmação como um dos
adquirida. As queijadas têm fama além principais pólos de mergulho nacional
Graciosa, mas ainda sobram encharcadas e internacional, a Graciosa é palco de uma
de ovos, escomilhas ou barrigas-de-freira. bienal dedicada ao Turismo Subaquático.
Gastem-se as calorias no trilho PR1GRA que O evento decorre em anos ímpares e serve
liga Serra Branca a Praia. Em sete quilómetros de ponto de encontro de especialistas
fáceis de percorrer, atravessa-se a ilha e amantes do mergulho para debate
da costa Oeste à costa Leste. Sucedem-se de temáticas relevantes ao sector. Nos
as vistas panorâmicas e conhece-se um dos anos pares, acontece o Open Internacional
ex-libris da Graciosa: os moinhos de vento. de Fotografia Subaquática, onde competem
Caracterizados por uma cúpula terminada equipas de vários países. A fotografia
em bico, apresentam mecanismos construídos subaquática é, aliás, uma actividade
em madeira que orientam as velas para em alta nos Açores.

Recuperar o Rural
A oferta de camas na ilha está principalmente associada às residenciais localizadas em Santa
Cruz da Graciosa. Em termos de turismo rural, a merecer destaque a Quinta dos Frutos,
representando a recuperação de um agregado rural secular composto por casa principal, casa
Foto: ATA

de bois e de despejo, adaptadas aos confortos modernos.

Janeiro 2010 | 15
2010 |Surf
AÇORES

alto
Spot

Foto: AQUASHOT/ASPEurope.com
O s Açores oferecem condições naturais
óptimas para a prática do surf ou do
“pros ou kamikaze”! Muitos spots trocam
o tradicional fundo de areia pelo calhau
o Inverno, com apoio de uma embarcação,
é possível praticar Big Wave Surfing. Face
bodyboard. Ao mesmo tempo que sobe e contêm recifes. E, na generalidade, o mar ao enorme desafio que certos spots representam,
o número de praticantes entre os habitantes nas costas viradas e Norte apresenta-se mais a interacção cordata e humilde com a crescente
das ilhas, o arquipélago começa a ser exigente. Entre os locais mais consistentes – comunidade surfista local é a melhor forma
reconhecido como um destino internacional. - e divulgados – encontram-se os micaelenses de conhecer as características de cada zona.
O ambiente também agradece. Santa Bárbara, Rabo de Peixe, Maia e Pópulo. E, com sorte, ficar a conhecer um sítio fantástico
O surf, o bodyboard e o windsurf, entre Em Santa Maria, destaca-se a Praia Formosa, ainda no segredo dos Deuses... 
outras actividades praticadas na orla costeira, também palco privilegiado para o windsurf.
representam uma interacção total com o mar. Na Terceira, centram atenções sítios como Santa
De tal forma que forja filosofias de vida. E cria Catarina, Cabo d’Aço e Quatro Ribeiras. Ainda Nível Internacional
elos fortes e indissociáveis com a protecção nesta ilha, a Praia da Vitória destaca-se como A Ribeira Grande (São Miguel) é uma das
do ambiente. Nos Açores, esta ligação ganha destino para a prática do windsurf e kitesurf. zonas mais exploradas do surf açoriano
especial dimensão. Surfar nas ondas já míticas Setembro e Outubro costumam ser os melhores devido ao ritmo intenso da ondulação.
da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, em São meses para surfar: swell muito regular com A projecção além-fronteiras surgiu em
Jorge, é um privilégio e um sonho que muitos ondas de boa dimensão. Entre Novembro 2009 com o Azores Islands Pro09, prova
surfistas de várias latitudes do globo gostariam e Fevereiro cresce a altura das vagas, tal de qualificação do campeonato mundial de
de concretizar. Mas ao mesmo tempo, existe como a frequência dos períodos de chuva. surf que serviu de montra para as condições
a plena consciência de que é preciso manter A temperatura do oceano é amena e quase extraordinárias da Praia do Monte Verde.
intactas todas as idiossincrasias que tornam sempre superior à do ar, com excepção
a Caldeira um santuário tão especial. do período de Verão. Ao longo do ano as ondas
Na maior parte dos casos, os spots açorianos também mantêm assinalável estabilidade. Julho Pranchas pelo ar
representam grandes e novos desafios. e Agosto são os meses menos propícios para Taxas de transporte em vigor nos voos da Sata
A adrenalina está garantida e em níveis a prática da modalidade. a partir da Europa. Pranchas até 150 cm: transporte
apropriados para diferentes tipos de experiência. Certos locais são de difícil acesso por terra, gratuito (desde que peso não exceda a franquia livre
Domar a força da natureza num sítio como mas há empresas que organizam surf trips da bagagem). Pranchas de 150 a 250 cm e pranchas
a baixa da Vila Nova, na Terceira, é descrito com entradas a partir do mar, nomeadamente com mais de 250 cm pagam tarifa.
nos websites da especialidade como tarefa para para spots nas ilhas do grupo central. Durante

16 | Janeiro 2010
Surf | AÇORES
2010

SÃO JORGE
Pequenas porções de magia em forma
Vertiginosa Fantasia geológica, as fajãs parecem ter sido criadas
Lugar de ondas que enfeitiçam surfistas, apenas para puro deleite contemplativo.
a ilha tem ilusionismos capazes de cativar O mapa jorgense assinala 46, a maior parte

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte


qualquer visitante. A cordilheira central é um situada na costa norte. Muitas delas apenas
miradouro natural para as fajãs. Lá em baixo, têm acesso pedestre. Assim seja. O trilho
amêijoas, cafés, colchas. E gente única que PR2SJO começa na Serra do Topo e estende-
mesmo o famoso queijo de São Jorge não -se por cinco quilómetros. Percorre mata
fará esquecer. endémica composta por imponentes cedros-
-do-mato e urzes e desce por escadaria
de pedra antiga até à Fajã dos Vimes. Procure- Velas
-se a casa que funciona como pouso de velhos
ofícios e café. No piso superior, persiste-se dificilmente sairão da Caldeira sem antes
em manter viva a tradição das colchas se meterem no mar; os restantes cumprirão
de ponto alto. É gente de abrir a porta com o resto do trilho com a deslocação até à Fajã
carinho e falar com estranhos como se fossem dos Cubres. Porque São Jorge tem sempre
velhos conhecidos. No andar térreo serve-se mais uma fatia de maravilha para oferecer.
café forte, feito de grãos semeados na fajã.
A procura de sensações invulgares prossegue Amêijoas Santificadas
no percurso pedestre que nos leva até Protegidas por sucessivos actos legislativos,
à Caldeira do Santo Cristo. Com ou sem as amêijoas que crescem na lagoa
prancha às costas. A primeira parte dos dez da Caldeira de Santo Cristo compõem um
quilómetros do PS1SJO desemboca na Caldeira dos capítulos mais saborosos do património
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

de Cima. Pouco depois, uma cascata. Já em gastronómico de São Jorge. De modo


plena fajã, pausa no restaurante que funciona a promover a sobrevivência deste recurso
como ponto de encontro da comunidade local. natural renovável, é necessária uma licença
Ouvem-se conversas de café enquanto especial para a apanha deste molusco, único
se provam as famosas amêijoas. Os surfistas no panorama dos Açores.

Fajã da Caldeira do Santo Cristo

Há diversidade para todos os gostos.


Uma direita, “do passe”, apropriada para
principiantes. Uma esquerda, “da igreja”,
constante e comprida. Ou a onda do “lago
do linho”, maior e sustentada. A magia
da Caldeira de Santo Cristo, apenas acessível
por um trilho, já levou surfistas amadores
a mudarem de vida. Instalaram-se de alma
e bagagem numa fajã, elemento distinto
de São Jorge que tem sido tratado com
critério por representar um legado
histórico-cultural precioso.
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte

Delgada e comprida, conhecida pela ilha


do dragão, tem um maciço central que chega
a ultrapassar os mil metros de altitude no Pico
da Esperança e se estende por um planalto
de 45 quilómetros. Neste topo alongado
vêem-se as ilhas adjacentes. O Pico, com
a montanha imã, o Faial e a Graciosa. Em dias
Centro da Ilha Fajã da Caldeira do Santo Cristo
limpos, avista-se até à Terceira.
A sucessão de pequenos cumes e vales dá
a impressão de viajarmos por entre a fileira
de dentes do réptil mitológico. O contacto com Casa Surfista
a zona costeira faz-se através de falésias. A oferta hoteleira de São Jorge está centrada nas Velas. As boas condições para a prática
Volta e meia o abismo é cortado pelas fajãs. do surf ou bodyboard levam a que comecem a surgir estruturas necessárias para receber
Do alto, mal se avistam as plantações e as os praticantes, como é exemplo a surf house Casa da Caldeira de Santo Cristo.
casas dessas superfícies planas à beira-mar.

Janeiro 2010 | 17
2010 |Iatismo
AÇORES

a irmandade do
Mar

Marina de Ponta Delgada

O s Açores e o mar são companheiros


inseparáveis. O oceano Atlântico envolve
com espaço para 260 embarcações, de um lado
uma praia convidativa. Do outro, os parques
grupos durante o período de Verão. No grupo
central, as viagens entre ilhas têm uma
as nove ilhas do arquipélago e entranha-se arqueológicos subaquáticos da cidade. constância anual, principalmente no chamado
no espírito dos habitantes. Mas em vez de Já com o Faial à vista, os velejadores triângulo, permitindo, por um preço cómodo,
uma prisão, o mar é uma via de comunicação. encontram o famoso porto da Horta (300 obter perspectivas únicas dos perfis do Faial,
Por ele chegam visitantes de todo o mundo amarrações). Trata-se de uma das marinas mais São Jorge e Pico. E com sorte, avistarem-se
a estas terras abençoadas. visitadas do mundo, com uma localização que grupos de golfinhos que parecem cortejar
As ilhas de São Miguel, Terceira e Faial a transforma num abrigo contra os ventos os barcos e agraciar os passageiros com
acolhem as excelentes marinas açorianas, com de variadas direcções. Quase todos os veleiros um espectáculo inesperado. 
os três locais a merecerem a Bandeira Azul que atravessam o Atlântico cumprem escala
Europeia. Ponta Delgada tem a maior marina, no Faial, sendo a Horta um ponto de encontro
alojada no novo complexo das Portas do Mar, de regatas internacionais como Les Sables – Les Portos de recreio
desenhado pelo arquitecto Manuel Salgado. Açores, La Route des Hortensias, ARC Europe, Além das grandes marinas, os Açores estão
Às 670 amarrações para pequenas embarcações Ceuta-Horta ou OCC Pursuit Race. Os muros servidos por uma rede de pequenos portos
juntou-se um terminal para navios de cruzeiro do cais estão pejados de pinturas feitas pelos que permitem deslocações inter-ilhas. Nas
e um cais de honra para mega-iates. O curvilíneo velejadores, num gesto a requisitar boa sorte Velas, em São Jorge, ou na Vila do Porto,
espaço dedicado a lojas, restaurantes e bares para a jornada marítima. Os turistas apreciam em Santa Maria, existem pequenas marinas.
já se confirmou como um novo ponto de e fotografam. E se quiserem, experimentam. Além disso, existem bem equipados portos
animação da vida diurna e nocturna da cidade. Sendo uma terra intrinsecamente associada ao de recreio e abrigo espalhados por várias
Rumo à Terceira aporta-se na marina de Angra iatismo, começa a haver uma oferta consistente localidades das principais ilhas, como os de
do Heroísmo, com a solenidade de se chegar de aluguer de embarcações, com e sem skipper. Vila Franca e da Povoação, em S. Miguel,
a uma cidade Património Mundial da UNESCO. O exigente oceano que circunda o arquipélago o das Lajes, no Pico, e o da Praia de Vitória,
Os motivos de interesse não se resumem a uma exige o porte da Carta de Patrão de Alto-Mar. na Terceira, entre outros que dão forma a
visita terrestre. A baía de Angra presta-se Mas pode sempre navegar-se por estas águas uma importante rede de apoio à navegação.
a ser velejada. Ou desfrutada. A rodear a marina dentro dos ferries que ligam ilhas dos três

18 | Janeiro 2010
Iatismo | AÇORES
2010

FAIAL
mundo. Porque o ambiente também se saboreia. derrete-se num horizonte formado por múltiplos
O Faial só podia ser a ilha azul por causa deste enquadramentos de excepção. O cinzento
mar imenso que a banha mesmo em terra. assume cambiantes coloridas. E juramos avistar
Desvie-se o olhar dos barcos que chegam um veleiro a navegar por entre o oceano de lava
e parta-se para uma incursão até ao centro azulada, rumo a um porto distante no outro lado
da ilha. Aguarda-nos a caldeira, num trajecto que do mundo. Mais uma lenda para relatar pela
passa pelos característicos moinhos de vento noitinha, acompanhada de um gin.
pintados de vermelho e branco. É uma cratera que
prima pela dimensão: 400 metros de profundidade Semana do Mar
e dois quilómetros de largura.
Será a mesma dimensão espacial que assombra
o visitante do vulcão dos Capelinhos. Antes
de chegar à esta extremidade faialense,
percorra-se o trilho PR1FAI que liga o Capelo aos
Capelinhos. Com sete quilómetros de extensão
e uma dificuldade média, o percurso funciona
como uma antecâmara da paisagem do vulcão.

Foto: Câmara Municipal da Horta


A rota assinala passagem por vários cones
vulcânicos, com destaque para o Cabeço Verde
que inclui uma caldeira. A subida ao cume
do Cabeço do Canto permite uma vista
panorâmica sobre os Capelinhos. O farol despido
desponta no meio de um mar de cinzas. Bote Baleeiro
Na primeira impressão, parece um planeta distante
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

do Sol. Árido, seco, desumano. Depois, à medida Durante uma semana do Verão, a agitação
que nos aproximamos e pisamos o solo cinzento, percorre (ainda mais) a cidade e o porto
reparamos na vegetação que teimosamente da Horta. A Semana do Mar é palco de largadas
procura crescer naquele terreno. O cenário atinge de regatas, concertos de bandas filarmónicas,
um dramatismo avassalador. Calcorreia-se as provas de vela, windsurf, pesca desportiva,
ruínas do farol e os espaços em redor sem noção canoagem, remo, jet-ski e triatlo, actuações
do tempo passar. O vulcão exerce uma força de grupos folclóricos, animações de rua,
magnética sobre o visitante, numa manifestação passeios em botes baleeiros e do Cortejo
ímpar do poder da Natureza. A imaginação Náutico da Senhora da Guia.

A Ilha dos Oceanos


Coloridos
Omnipresente, o azul do mar tolda os tons
faialenses. Mas a ilha também é feita de
outras lendas e cores. E é fácil ao visitante
perder-se no oceano de cinzas do vulcão Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
dos Capelinhos ou na maré verde da imensa
cratera que dá pelo nome de Caldeira.
A Horta é uma das cidades mais cosmopolitas
dos Açores. Na marina, entre mastros
e velas recolhidas, ouvem-se conversas
em línguas estrangeiras. Omnipresente, paira
no ar a paixão e respeito pelo mar. Este espírito
Vulcão dos Capelinhos
marinheiro, repleto de lendas e histórias, ganha
aspecto físico e voz no Peter Café Sport. Entra-
-se pela porta de um estabelecimento quase
centenário (fundado em fundado em 1918) Pousar o Olhar no Pico
e cheira a maresia. As paredes estão cheias A cidade da Horta, que serve como base para exploração da ilha, está bem apetrechada
de flâmulas e bandeiras coloridas. Por cima do de unidades hoteleiras de quatro estrelas. Instalada dentro das muralhas do Forte de Santa
balcão, penduram-se cartas para o destinatário Cruz, construção do século XVI classificada como Monumento Nacional, a Pousada da Horta
que um dia há-de chegar. Nas mesas, entre permite acordar com vista para a montanha do Pico. Também aqui há boas alternativas
conversas animadas, bebe-se o famoso “Gin de turismo de habitação disponíveis.
do Peters”. Diz-se que aqui é o melhor do

Janeiro 2010 | 19
2010 |Praias e Piscinas
AÇORES

banhos
Vulcânico
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

Praia da Vitória – Terceira


Foto: Market Iniciative

Mosteiros - São Miguel

E ntrar num mar enquadrado por


mirabolantes construções de rochas negras
de carácter, contrasta com o azul cristalino
da água. O mar tão pujante nas ondas ao largo,
é uma experiência peculiar. Não só pelo mostra-se afável e cordial dentro das piscinas.
cenário sensacional, como pela água morna Apetece tomar banho para refrescar do sol
que aguarda pacientemente o banhista. Mas ameno que aquece os corpos. A temperatura
Foto: Market Iniciative

nos Açores também é possível trocar a pedra da água é tépida, mesmo nos meses mais frios.
basáltica por areia fina. Passam-se eternidades dentro do mar.
Praia de Água d’Alto - São Miguel
Em termos de praias, o arquipélago tem uma Em certos locais, as explosões de ondas sobre
mão cheia de possibilidades. Santa Maria a amurada das piscinas conferem uma animação
e Terceira têm praias tradicionais de areia fina, de espuma branca para deleite dos banhistas
mais ou menos branca. Contrastam com estendidos ao longo das rochas e plataformas
as praias de areia negra vulcânica, estranhas criadas pelo Homem.
ao princípio, agradáveis depois de sentida nos As piscinas naturais açorianas apresentam
pés a suavidade dos grãos acinzentados. Ambas condições excepcionais para a prática balnear.
bem diferentes das praias de calhaus rolados, Praticamente todas estão dotadas de infra-
moldados pelo bater das ondas, frequentes nas -estruturas de apoio como restaurantes,
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

costas de todas as ilhas. casas de banho e chuveiros públicos.


Muitas vezes, estas praias de pedras Os elementos arquitecturais, quando existentes,
apresentam algo comum às piscinas naturais criam uma transição funcional e discreta entre
de água salgada que verdadeiramente as construções humanas e a Natureza. São
caracterizam o arquipélago: o cenário. Melhor espaços de lazer, algumas vezes associados
dizendo, trata-se de piscinas de lava, presentes a jardins de merendas ou parques infantis.
da Natureza em formato de pequenas baías Quem não dispensa o areal branco geralmente
Piscina da Maia - Santa Maria
abrigadas. A rocha vulcânica aos cortes, cheia ruma até Santa Maria, terra da Praia Formosa

20 | Janeiro 2010
Praias e Piscinas | AÇORES
2010

SANTA MARIA
os História(s) de Arrebatar É difícil deixar o local. Mas seria pena não
aproveitar o bater do sol nas piscinas
naturais da Maia. Ou apreciar a Cascata
do Aveiro, uma das mais magníficas dos
Açores. Rumemos ao Pico Alto, cume da ilha
com 587 metros e de onde se avista mar
para os dois lados. Aqui chegados, façamos
o percurso pedestre que nos levará até aos
Anjos. Quase literalmente.
Com extensão de 14 quilómetros e dificuldade
média, o trilho atravessa partes da floresta
de laurissilva. Pau-branco, urze, uva-da-
-serra, tamujo ou louro unem-se para formar

Foto: ATA
Quartéis de Vinha em São Lourenço abóbadas sobre o estreito caminho. A saída
do labirinto encantado não podia ser mais
A ilha do sol é a estância balnear dos extraordinária: finda a vegetação, apenas uma
Açores. Mas um lugar com tanta história extensa planície vermelha e árida. O Barreiro
para contar obriga a deixar os deliciosos da Faneca é um local sem igual no resto dos
areais da Praia Formosa e São Lourenço. Açores. Conhecido por “deserto vermelho”,
Regressaremos a tempo de assistir este ecossistema de terrenos argilosos
ao pôr-do-sol, com a memória já impressa ondulantes transporta o imaginário até aos
de alucinantes fósseis, dunas vermelhas, canais de Marte.
cascata e disjunção prismática. Prossegue-se outra vez a custo por deixar
Ilha mais velha dos Açores, estima-se entre um sítio tão apaixonante. Mas há ainda que
os oito a dez milhões de anos, Santa Maria passar pela Baía da Cré (local de mais fósseis
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

tem idade suficiente para propor um autêntico marinhos) e atravessar o leito da Ribeira
safari geológico. Na Pedreira do Campo do Lemos antes de chegar aos Anjos.
encontram-se fósseis de conchas e ouriços- À entrada do povoado, a estátua de Cristóvão
-do-mar. Esta formação rochosa outrora Colombo protege a Ermida de Nossa Senhora
submersa, parcialmente de origem vulcânica, dos Anjos. Reza a história que o navegador
está agora 100 metros acima do nível do mar, genovês aportou nestas latitudes
resultando num local de grande interesse para em Fevereiro de 1943, quando regressava
Baía de São Lourenço – Santa Maria
a paleontologia, geologia e turismo. da primeira viagem à América. E mandou
Na Pedra-que-Pica, descobre-se outra celebrar uma missa na capela encontrada.
importante jazida de fósseis marinhos com Lenda ao facto, Santa Maria será sempre uma
de nome e feitio. No alto do mastro, desfralda- mais de cinco milhões de anos. Dentes ilha de história(s). Bem contada e inspiradora.
-se com orgulho a Bandeira Azul. Atravessada de tubarão, esponjas, ouriços-do-mar,
a ilha, a baía de São Lourenço acompanhada variados tipos de conchas, acolchoam solo
do ilhéu de nome semelhante, duplica e paredes. A deslocação à jazida, bem como
o enternecimento panorâmico. Da beira-mar, à da Malbusca (fósseis de moluscos e peixes)
o olhar estende-se pelos quartéis que retalham efectua-se melhor por via marítima. O Farol Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
a encosta e delimitam as vinhas. O cultivo foi de Gonçalo Velho, situado na Ponta do
abandonado ao longo dos tempos; ficou a visão Castelo em que o Oceano Atlântico separa
avassaladora e o apontamento histórico. os Açores do extenso continente europeu,
E a praia, claro.  velará a viagem. Mas é por caminhos
terrestres e desconhecidos que se chega
até às escoadas basálticas com disjunção
prismática da Ribeira das Maloés. A parede Barreiro da Faneca
rochosa em bordões hipnotiza o visitante.

Maré Musical
Praia e festa associam-se durante os dias da Maré de Agosto. O festival de música realizado
na baía da Praia Formosa, em Santa Maria, teve início em 1984, numa apelidada noite mágica que
juntou vários intérpretes açorianos. Desde então a Maré ganhou fama e pelos palcos do evento
Foto: Pepe

já passaram nomes como Rui Veloso, Sérgio Godinho, Carlos do Carmo, GNR, Xutos & Pontapés,
Ivan Lins, Zizi Possi, Waldemar Bastos ou Gabriel o Pensador.

Janeiro 2010 | 21
2010 |Pedestrianismo
AÇORES

ao ritmo do
Coração

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

Furnas - São Miguel

22 | Janeiro 2010
Pedestrianismo | AÇORES
2010

O s Açores representam um paraíso


do pedestrianismo, dada a quantidade
de trilhos. Segue-se o Pico com dez percursos.
São Jorge contempla seis, a Terceira cinco,
que transportavam pipas de vinho.
Nesta síntese andámos dezenas, talvez centenas,
e diversidade de percursos assinalados. o Faial e as Flores quatro cada um. A Graciosa de quilómetros. Mas descobrir um destino assim,
Trilhar cada ilha pode ser uma actividade mostra parte dos encantos em três trilhos neste convívio directo com a Natureza,
desportiva intensa ou um passeio sereno. e o Corvo já tem dois assinalados. as gentes e as tradições, não cansa. E dormimos
O coração ditará a cadência. Porque acalentados pelas novas surpresas que nos
o arquipélago é um caso de pura paixão. Conhecer a alma das ilhas esperam amanhã, no próximo trilho. 
Um caminho de pé posto ladeado por uma mata As localizações dos percursos, bem como
densa. Por entre os ramos e as folhagens entra respectivas características de topografia, tempo
apenas uma réstia de luz difusa. Apressa-se estimado para percorrer, distância e nível Segurança Primeiro
o passo. Passados poucos metros, após uma de dificuldade, podem ser consultadas através Apesar de ser uma actividade bastante
curva, surge uma clareira. A vegetação alta cede de um sítio da Internet – www.trails-azores.com - segura, o pedestrianismo requer alguns
lugar a espécies rasteiras. A paisagem abre-se – ou nos folhetos individuais produzidos para cuidados por parte dos praticantes. Tudo
como uma cauda de pavão, com o azul do mar cada percurso. A escolha é ampla. Há percursos conselhos simples, mas muito úteis:
a requisitar atenções. Tempo para uma pausa. com diferentes níveis (Fácil, Médio ou Difícil), confirmar se o percurso está activo
Aprecia-se o local e o momento. E regressa-se que representam diferentes tipos de desafios – podem ser fechados por questões
ao caminho, cujo apelo é incessante. Haverá mais em termos de condição e resistência física. de segurança; atentar às condições
perfeição a contemplar. Ou não estivéssemos Alguns trilhos são circulares. Outros encontram meteorológicas particularmente se
num trilho açoriano. complementaridade em novos percursos, o trilho se desenvolve em altitude, onde
O pedestrianismo define-se como uma actividade permitindo o respectivo encadeamento. Comum é frequente a ocorrência de chuva
desportiva e lúdica que decorre na Natureza. a todos é a possibilidade de conhecer a alma e nevoeiro, sendo nesta eventualidade
Os caminhos estão sinalizados de acordo de cada uma das ilhas açorianas. preferível optar por um percurso junto
com marcas e códigos internacionais. Face Em São Jorge desce-se às típicas fajãs (a dos ao mar; informar alguém do trilho que
à existência de indicações claras e eficazes, Vimes, a do Ouvidor, a do Além, entre outras), se vai percorrer; levar calçado adequado,
é possível percorrer os trilhos de forma autónoma, preservadas nas suas gentes e costumes, capa de chuva, chapéu, protector solar, água
promovendo uma comunhão e conhecimento algumas delas sem outro acesso além do trilho. e alimentos sólidos como fruta ou barras
especial dos locais por onde se passa. Dada Na Terceira descobrem-se as “relheiras”, de cereais; não sair do percurso marcado;
a génese do pedestrianismo, os Açores revelam- vestígios centenários da circulação de carros saber que os tempos de duração
-se terreno fértil para o fomento e a prática desta de bois. Em Santa Maria avista-se as ruínas do percurso são indicativos, prevendo
actividade. O Governo Regional criou por isso uma de uma fábrica da baleia após passagem pelo valores médios para uma caminhada sem
Rede de Percursos Pedestres Classificados, com farol de Gonçalo Velho que parece alumiar o mar interrupções; adequar o ritmo de andamento
a intenção principal de garantir a tranquilidade a separar os Açores de Portugal continental. e as paragens às condições e preferências.
e segurança dos pedestrianistas. Na Graciosa conhecem-se os fenómenos
A composição dos trilhos passou primordialmente vulcânicos da Furnas do Enxofre e da Maria
pela reabilitação de velhos caminhos, a maior Encantada, por entre a flora da reserva do
parte de pé posto, que eram utilizados pelos Parque Florestal da Caldeira. No Faial circunda-
habitantes das ilhas nos afazeres do dia-a- -se a enorme Caldeira ou ruma-se por uma falésia
-dia. Vias por onde passavam pessoas, cavalos, até ao Morro de Castelo Branco, observando
burros e mulas, manadas de gado. Percursos espécies de aves marinhas como garajaus

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte


complementares às viagens por mar, modo que ou cagarros. Nas Flores é possível percorrer uma
durante séculos reinou como o principal e mais costa quase inteira, associando dois trilhos, com
fácil modo de deslocação entre localidades início em Ponta Delgada e término em Lajedo num
da mesma ilha. Agora, estes caminhos que total de 22 quilómetros de caminho quase sempre
outrora foram de intensa labuta, estão à mercê com vista para o mar. No Corvo, descobre-se
dos que acedam deixar-se deslumbrar pelas uma cara de índio esculpida na pedra e a peculiar
seduções inolvidáveis dos Açores. Vila do Corvo que procura manter intacta
Presentemente, o arquipélago conta com mais a secular estrutura urbana. E no Pico passeia-se
de 60 percursos pedestres classificados, por calçada de grandes pedras, antiga passagem
espalhados pelas nove ilhas. São Miguel lidera de burros, ou por entre “currais” de vinha até Caminhar com Ética
em quantidade, aproximando-se das três dezenas encontrar os “rilheiros” deixados pelas carroças Cabe ao pedestrianista zelar pela boa
manutenção dos trilhos. Guarde todo
o lixo que fizer durante o percurso para
depositá-lo em local apropriado. Não recolha
amostras geológicas e plantas, nem fruta
dos pomares. Respeite os animais, evitando
perturbá-los. Quando necessitar de abrir
cancelas, feche-as em seguida; geralmente
destinam-se a manter o gado nas
pastagens. Irradie simpatia quando passar
pelas pessoas que trabalham no campo.
Cumprimente-as. Muitas delas gostarão
Foto: Montanheiros

de trocar dois dedos de conversa. Será uma


oportunidade de juntar rostos e histórias
humanas às inspiradoras paisagens naturais.

Janeiro 2010 | 23
2010 |Pedestrianismo
AÇORES

SÃO MIGUEL

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte


Portas do Mar - Ponta Delgada

Terra dos 1001 da ilha, na zona nordestina. No caminho as das Sete Cidades, servidas por um miradouro
testemunha-se a apregoada “força da Natureza” sabiamente nomeado como Vista do Rei.
Encantos que marca a paisagem serpenteante. Ora vê-se o O percurso pedestre da Serra Devassa serve
Enumerar os atractivos de São Miguel azul do mar, ora vê-se o verde intenso dos fetos para a descoberta de outras lagoas, menos
é tarefa entre o ingrato e o impossível. que teimam em revestir as montanhas cortadas conhecidas mas não menos nobres em termos
A extensão quilométrica encontra pelo homem para fazer estradas. de espectacularidade. Os cerca de quatro
correspondência na diversidade de locais O trilho agora é pedestre e antigamente usado quilómetros do trilho decorrem entre os 750
a visitar e actividades a praticar. Ilha para aceder ao mato onde se produzia carvão e os 900 metros, o que permite pontos de vista
iniciática na experiência açoriana, destila e maneava gado. As altas criptomérias deram favoráveis para apreciar as lagoas do Canário,
grandiosidade com uma sedutora modéstia. lugar às rasteiras gramínias. Ao contrário das Éguas, da Rasa e do Carvão. Na Lagoa
A maior ilha dos Açores é terra de contrastes. do que aconteceu com os navegadores dos de Pau Pique um aqueduto reivindica atenção.
Mas num aspecto gera unanimidade: fazer Descobrimentos, grita-se “mar à vista” quando Apelidado de “Muro das Nove Janelas”, serviu
jus à designação de ilha verde. Sai-se o olhar vislumbra a costa sul da ilha. Dos 1103 para transportar água até Ponta Delgada.
do centro das cidades e a cor lá está. metros do Pico da Vara, ponto mais alto de São
Estendida num tapete de pasto ou içada Miguel, o alcance será outro. Contraste alvinegro
numa copa de criptoméria. A designada A altitude não chegará para ver a Lagoa Aproveite-se a deixa para um passeio urbano.
árvore bem pode pertencer à frondosa mata do Fogo, bem ao centro da ilha, e ainda menos Os três arcos predominantemente barrocos das
do percurso pedestre que liga a Algarvia a ponta Oeste. Estamos em território de lagoas. Portas da Cidade, monumento datado de 1783,
ao Pico da Vara. Estamos na ponta Este Majestosas e famosas como acolhem os visitantes de Ponta Delgada. O preto
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte

Cozido das Furnas Lagoa do Canário Ribeira Grande

24 | Janeiro 2010
Pedestrianismo | AÇORES
2010

e branco serão as cores predominantes também as panelas que acomodam os ingredientes


nos Paços do Concelho, na Igreja Matriz de S. do célebre cozido das Furnas, que leva cinco
Sebastião, nos restantes conventos e ermidas horas a cozer no calor geotérmico desta terra
da cidade. No interior da Igreja do Colégio reina tão fecunda e cativante.
o dourado da talha, aqui encontrada numa das Tempo de regressar ao trilho inicial. Ou quase.

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte


reuniões mais amplas e felizes do país. E há Das Furnas é um pulo até à Praia da Amora,
os matizes de verde dos vários jardins onde começa o percurso pedestre PR10SMI.
botânicos. E ainda o azul das Portas do Mar, São quase seis quilómetros, maioritariamente
porto de cruzeiros e de lazer, com piscinas junto à costa, com subidas e descidas,
oceânicas a completar a paleta de cores que a atravessar ribeiras, pequenas praias, vinhas
compõe este património de excepção. A Loja e adega tradicionais. Termina na Lobeira, ponta
dos Açores assim o demonstra, em ponto pertencente à freguesia da Ribeira Quente. Caldeira Velha
pequeno, com oferta de produtos regionais É assim que o coração está. Cálido
genuínos para levar e mais tarde recordar e aconchegado por uma ilha que consegue ter Banhos Quentes
O dramatismo cromático continua sempre mais um deslumbre à nossa espera. Um caminho de terra vermelha contrasta
na deslocação à Ribeira Grande, onde o negro com o verde da vegetação abundante.
do basalto parece mais carregado e, ao mesmo Miradouros do Nordeste Imponentes fetos-arbóreos saúdam
tempo, luzidio. Contradição própria de quem A rota junto à costa nordestina obriga o visitante, acompanhados dos súbditos louro,
depara com a escada monumental no largo a paragens sistemáticas. Os miradouros desta hera, urze, incenso e malfurada. São a guarda
da Igreja de Nossa Senhora da Estrela, de zona proporcionam paisagens vertiginosas de honra da Cascata Velha. Veios ocre vivo
singular torre sineira negra. A incursão barroca que apenas deliciam o olhar porque o belo abraçam a água translúcida que escorre rocha
tem capítulo extravagante na Igreja do Espírito nunca apoquenta. Além das panorâmicas, abaixo até pousar num pequeno lago de água
Santo e respectiva fachada convexa com duas funcionam como locais de lazer. Os espaços a borbulhar. A temperatura quente convida
portas. Após passar pelos Paços do Concelho estão primorosamente ajardinados e possuem ao banho. Tal como na piscina do Parque
com escadaria exterior e torre do relógio, grelhadores para preparar refeições. Há Terra Nostra de cor acastanhada devido
aprecia-se o ex-líbris local: a Ponte dos Oito abundância de bancos e mesas abrigados e à presença de ferro. Águas naturais quentes:
Arcos. O azul do mar ressurge, por entre nalguns casos até existem mini parques infantis. um dos prodígios de São Miguel.
as porções de circunferência, e invoca o visitante.
Retoma-se a paisagem de lombas, vales
e planícies verdes, manchadas pela brancura
das vacas que pastam. Os tons escuros
regressam sob forma de um melro-negro que
esvoaça, um xaile que cobre uma cabeça
idosa ou umas botas de borracha usadas
por quem anda na lavoura. O azul invade
de novo o olhar nas piscinas naturais dos
Mosteiros ou de Vila Franca do Campo,
ambas com ilhéus sobranceiros a comporem
o bilhete-postal perfeito. Ou na Caloura, onde
o mergulho no oceano é actividade que pede
meças ao estender uma toalha nas praias
de Água d’Alto ou do Pópulo. Regressa o verde
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

nas plantações de chá de Porto Formoso


e Gorreana que parecem formar um mar
de ondas de folhas. Pausemos o nosso desfile
colorido para conhecer por dentro os museus-
-fábrica e provar o chá açoriano. E agora dilua-
-se verde e azul na cascata da Achada, inserida
no parque natural da Ribeira dos Caldeirões que
Lagoa das Furnas
ostenta com orgulho o moinho de água e a casa
do moleiro devidamente recuperados.
Estamos prontos para as Furnas, vale de grande
lagoa e de localidade misteriosa em que Qualidade e Diversidade
as fumarolas surgem em cada bueiro de muro A ilha está dotada de um extenso parque hoteleiro de quatro e três estrelas, numa geografia
ou de calçada. Perto das caldeiras naturais que que deriva de Ponta Delgada para localidades como Caloura, Vila Franca do Campo ou Ribeira
fervilham com constância, homens retiram Grande. Nas Furnas, o Terra Nostra Garden Hotel prima por estar integrado no luxuriante
de buracos no solo, com a força de braços que Parque Botânico. São Miguel apresenta ainda uma oferta interessante de Hotel-Apartamentos.
puxa uma corda, grandes sacos. Lá dentro estão

Janeiro 2010 | 25
2010 |Geocaching
AÇORES

tesouros na
Paisagem

Foto: ATA
Monte das Cruzes - Flores

H á dezenas de tesouros escondidos


algures. Não assumem obrigatoriamente
O geocaching pratica-se de forma livre,
isoladamente, em família, com amigos... Ganha-
exploradores. Porque as caches tanto podem
estar num local com vista para o memorável
a forma de baú com moedas de ouro. Os -se-lhe o gosto e a vontade de coleccionar Ilhéu da Baleia, na Graciosa, como no passeio
aventureiros dos nossos dias deslumbram-se novas caches. Algumas, mais não são que marítimo da Praia da Vitória, na Terceira. No
mais com paisagens naturais. O Geocaching o próprio lugar: recôndito, desconhecido, singular Barreiro da Faneca, em Santa Maria,
permite-lhes chegar a esses sítios especiais. de rara beleza. E neste casos há que ou na Caldeira Velha de São Miguel. Junto
Regressamos ao tempo dos piratas, graças fotografar-se no local e colocar a foto no sítio a uma plantação de ananases ou às fábricas
a este jogo de caça ao tesouro. A diferença de Geocaching na Internet. micaelenses de chá. No faialense vulcão dos
é que em vez de velhos mapas com um X A descoberta nem sempre é fácil. Recebidas Capelinhos ou na Caldeira de Santo Cristo
a marcar o destino, a rota é determinada por as coordenadas GPS, o caminho mais directo de São Jorge. No Caldeirão da remota ilha do
coordenadas de GPS. O objectivo é descobrir para o ponto assinalado no mapa pode estar Corvo ou no Monte das Cruzes, nas Flores, ponto
“caixas” que foram escondidas por alguém. barrado por obstáculos naturais, como um rio onde lendas se juntam a uma vista panorâmica
E depois partilhar a aventura da descoberta ou uma escarpa. É preciso planear e encontrar da Vila de Santa Cruz para finalizar a caça
através do sítio de Internet www.geocaching.com a melhor rota até ao ansiado destino, num ao tesouro com um sorriso nos lábios. Afinal
(onde também pode ser consultada a listagem trajecto que por vezes representa um desafio de contas, tudo está bem, quando acaba bem. 
de caches formalizadas), com descrições técnico e físico.
e fotografias do momento e do local. As Caches
tradicionais consistem num invólucro (uma Ligação umbilical com a Natureza A Árvore Gigante
tupperware, uma caixa de munições, um balde...), Dada a beleza e diversidade do arquipélago, O geocaching é uma ferramenta
que possa abrigar, no mínimo, um caderno (log os Açores revelam-se um local fantástico para extraordinária para abrir os olhos aos
book) onde os geocachers assinalam a descoberta a prática desta actividade. Existe um inesgotável visitantes e evitar que eles passem ao lado
do tesouro. Caso a cache inclua outros brindes, manancial de oportunidades para a colocação de locais distintivos. É o caso da cache
a regra de ouro é deixar um artigo, de valor igual de caches, das mais simples às mais exigentes. “A Grande Araucária”, localizada na Lagoa
ou superior, em troca daquele que se retirar. Assumindo o Geocaching como um aliado activo das Furnas, em São Miguel, em que
A comunidade de geocachers regista na preservação e divulgação do ambiente (um o geocacher é conduzido até uma araucária
actualmente um grande desenvolvimento. dos princípios basilares da actividade é não deitar que impressiona pela dimensão. Trata-se
Estima-se que existam cerca de quatro lixo para o chão durante o percurso), a lista de um dos exemplares mais velhos do
mil geocachers em Portugal. Algumas de caches açorianas já ultrapassava os 130 mundo – se não mesmo o mais velho - desta
personalidades VIP, como Jorge Gabriel, Carlos registos no final de Novembro de 2009. espécie e representa uma visão gloriosa num
Alberto Moniz ou Cândido Barbosa, testaram Os “tesouros” contidos dentro da caixa não cenário igualmente deslumbrante.
esta actividade nos Açores e gostaram. deslustram o verdadeiro prémio reservado aos

26 | Janeiro 2010
Geocaching | AÇORES
2010

FLORES
Rocha dos Bordões
Beleza reflectida No sítio conhecido por Cabo Baixo das
Não faltam recantos ocultos para apreciar Casas, na freguesia do Mosteiro, reside
a paisagem onde desponta o verde um acidente geológico que se transformou
exuberante, aqui e ali entrecortado pelo num ex-libris das Flores. A Rocha dos
azul das lagoas e das hortênsias. Importa Bordões é uma formação geológica
pouco se chegámos a este destino na caracterizada pela solidificação da rocha
procura de uma cache escondida. basáltica em altas colunas prismáticas
O deslumbramento está agora bem à vista. verticais. São gigantescos bordões feitos
Apetece demorar na contemplação da Lagoa em pedra. E são dos mais relevantes
Lagoas Rasa e Funda
Funda, testemunho da actividade vulcânica e impressionantes que há no mundo.
mais recente do Grupo Ocidental, com
o negro da caldeira a rodear o tom turquesa
das águas. O cenário repete-se na Lagoa
Comprida, bordeada por margens basálticas,
mas o belo nunca cansa.
Flores é uma ilha de lagoas. Podem-se
ganhar dias a visitá-las, desde a Seca
que teima em não fazer jus ao nome,
até à Branca, cratera vulcânica de origem
explosiva. Estamos num complexo de zonas
húmidas que formam um pouso natural
para a avifauna aquática. Em devido tempo,
avistaremos espécies de aves migradoras.
Mas restam lagoas por visitar. A Rasa
e a Funda, desirmanadas por um declive Lagoa da Lomba Rocha dos Bordões
e ainda assim tão próximas uma da outra,
e a da Lomba, espécie de caldeira anã
debruada por hortênsias a solicitar um
passeio pela margem.
Muda-se o cenário e entra o branco oriundo
da espuma das águas que correm encosta
abaixo. Flores também é sinónimo
de cascatas. São às dezenas mas ganha em
notoriedade a do Poço do Bacalhau, situada
na Fajã Grande. A queda tem 90 metros
de altitude. Em baixo, na lagoa formada pelas
águas da cascata, a única vertigem existente
é de um mergulho refrescante. Será o tónico
ideal para rumar ao Poço da Alagoinha,
miradouro privilegiado das inúmeras cascatas
circundantes.
Altura para conhecer o Sul da ilha.
O trilho pedestre PR4FLO inicia-se junto
ao miradouro da fajã de Lopo Vaz. Durará
cerca de duas horas a descida até à fajã,
num caminho de terra batida, calçada
e degraus em pedra, e o regresso novamente
Fotos: ATA

ao local de partida. Mas uma vez em Lopo


Poço da Alagoinha
Vaz, o ponteiro do relógio parece exigir
repouso. Para saciar a sede numa fonte
com água potável, acariciar a areia negra
da pequena praia, trocar olhares com as Aldeia recuperada
cabras selvagens que saltitam entre as Em termos de alojamento, além de dois hotéis, destaca-se a Aldeia da Cuada. As casas da
rochas. E entender, em concreto, o porquê aldeia, abandonadas pelos proprietários que emigraram para a América durante a década de
de estamos numa Zona de Protecção Especial. sessenta do século passado, foram recuperadas por Teotónia e Carlos Silva, mantendo a traça
Para depois coleccionar essas memórias como rural mas adaptando-as às necessidades de um turismo de qualidade.
se fosse o tesouro de uma cache.

Janeiro 2010 | 27
2010 |Vulcanologia
AÇORES

corpo e alma de
Lava

Foto: Clube Asas de São Miguel


Lagoa das Sete Cidades - São Miguel

A espeleologia tem nos Açores


um destino de eleição, fruto da imensidão
e raras do conjunto das grutas açorianas.
É obra. Todas as ilhas pertencentes
Dos espaços facilmente visitáveis destaca-se,
além do citado algar terceirense, a Gruta
de grutas existentes. Algumas estão abertas ao arquipélago resultam da acumulação das Torres, no Pico, que consiste no maior tubo
ao público, mas a maior parte está por de materiais vulcânicos, ditando um património lávico do arquipélago. A Furna do Enxofre,
explorar. A ligação das ilhas à vulcanologia vulcano-espeleológico de dimensão quase na Graciosa, é reconhecida mundialmente
é no entanto mais ampla e umbilical: o poder infindável. Nas cavidades vulcânicas, despontam devido a uma abóbada de grandes e perfeitas
criador da Natureza ardente manifesta-se os tubos lávicos e os algares (antigas chaminés dimensões. Em São Miguel, é possível percorrer
em todo o lado. ou condutas de vulcões que se esvaziaram 1800 metros na Gruta do Carvão, através
Um longo túnel, alumiado com fachos que de lava). Ambos são locais de enorme fascínio. de três troços distintos. Novamente na Terceira,
parecem de castelo assombrado, providencia De certo modo, representam a concretização o tubo de lava da Gruta do Natal revela-se
acesso à entrada do Algar do Carvão, da viagem ao centro da terra, prometida na obra de grande carácter didáctico devido
na Terceira. Logo na primeira escadaria, literária de Júlio Verne. à facilidade de circulação e à ligação sentimental
percebe-se que estamos a dar os primeiros As cavidades naturais já identificadas aproximam- com a Sociedade de Exploração Geológica
passos rumo a um mundo distinto do conhecido -se das três centenas. O Pico, ilha mais nova “Os Montanheiros”, instituição com papel
à superfície. Graças às excelentes condições do arquipélago com cerca de 260 mil anos, acolhe fundamental no desenvolvimento da actividade
de visitação, esta gruta inserida em área a maior fatia: mais de 100 referências. Mas da espeleologia – e não só – nos Açores.
classificada como Monumento Natural Regional todas as ilhas, exceptuando o Corvo, apresentam
funciona como uma prodigiosa introdução estruturas subterrâneas vulcânicas conhecidas. Transversalidade vulcânica
à espeleologia. Caracterizado por finalizar numa Para os espeleólogos mais experimentados, Regressemos à superfície porque a vulcanologia
lagoa alimentada por água da chuva (a qual seca os Açores constituem um cenário idílico. Além não se resume ao que se passa debaixo
no Verão e em anos de pouca pluviosidade), das grutas abertas ao turismo genérico, existem da terra. Encontram-se vestígios da actividade
o Algar do Carvão tem nas estalactites cavidades com pouca ou nenhuma intervenção vulcanológica mesmo nos locais mais
e estalagmites de cor branca leitosa aquela que humana que esperam uma hipótese de serem insuspeitos. Principalmente por serem sítios
é considerada uma das visões mais exuberantes exploradas por especialistas. de rara beleza, como as lagoas de São Miguel,

28 | Janeiro 2010
Vulcanologia | AÇORES
2010

Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte


Algar do Carvão - Terceira Parque Terra Nostra - São Miguel

Vulcões paisagísticos
Perante a visão das lagoas das Sete
Cidades, das Furnas ou do Fogo, custa
a acreditar que tamanha formosura
seja resultado de processos eruptivos
vulcanológicos. Talvez por essa razão,
os antepassados locais se tenham dedicado
a criar lendas para explicar a formação
de tão extraordinárias lagoas. Actualmente,
deslizar suavemente de parapente sobre
as Sete Cidades ou as Furnas constitui
uma forma fantástica de apreciar estes
deslumbrantes fenómenos naturais. E para
os amantes do contacto com a água, nada
melhor do que entrar num caiaque para
remar calmamente dentro dos vestígios
Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos - Faial
de um vulcão.

todas de tirar o fôlego – aliás, e em todas com fato e equipamento de mergulho. Génese
as ilhas, lagoas homenageiam em beleza essas Na Gruta das Torres, na ilha do Pico, a incursão
origens vulcânicas. No Monte Brasil da Terceira, ao interior da terra inicia-se com o acender do conhecimento
vulcão originário no mar que acabou por da mini lanterna acoplada ao capacete protector. O Centro de Interpretação do Vulcão dos
se ligar à cidade de Angra. No planalto central Caminha-se em chão de lava, Capelinhos, no Faial, encontra-se instalado
do Pico em que sobressaem o conjunto às vezes tão liso como se fosse uma camada por debaixo da paisagem lunar deixada pela
de cones vulcânicos alinhados e as lagoas de alcatrão, outras vezes rugoso como um mar erupção. No museu subterrâneo recorre-se
do Capitão, Caiado e Peixinho. No Monte encrespado. Estamos no maior tubo lávico dos às tecnologias multimédia mais avançadas
da Guia faialense, resultado de dois vulcões Açores, com mais de cinco quilómetros para mostrar a origem do Universo,
associados por um istmo, observatório especial de extensão, mas o nosso percurso fica aquém da Terra e, com maior ênfase, das ilhas dos
para o casario da Horta e praia de Porto Pim. dos 500 metros. Mais que suficientes. Açores. Um holograma sofisticado permite
O fenómeno também não passa ao lado dos À passagem dos feixes de luz artificial, a gruta acompanhar a erupção do vulcão dos
campos de lava em que se plantaram vinhas escura mostra-se magnânime na partilha dos Capelinhos. Além do excepcional circuito
e dos infindáveis quilómetros de muros tesouros escondidos no solo, tecto e paredes. interpretativo, destaca-se a arquitectura
de pedra basáltica na ilha do Pico. Ou das Os bens preciosos assumem aqui formas vanguardista do edifício. A rampa de
piscinas naturais lávicas, espalhadas praticamente de estalactites e estalagmites, bancadas entrada dissimulada na paisagem sinaliza
por todo o arquipélago. Das temperaturas laterais, bolas de lava, paredes estriadas o respeito pelo local. No interior, sobressai
quentes de cascatas, lagos e nascentes, locais e lavas encordoadas. Os nomes não fazem jus o enorme fuste a simular uma erupção
de banhos lúdicos ou terapêuticos quando assim ao espanto provocado. Talvez por isso se queira e o aproveitamento do piso térreo do farol
o ditam as riquezas minero-medicinais das águas. vislumbrar, impregnada em blocos de lava negra, que ficou submerso pelas cinzas. A terminar
Das caldeiras e fontes de águas borbulhantes, a cara da Mona Lisa ou a volumetria de uma a rota, é possível ascender ao cimo da torre
numa terra aquecida que até serve para baleia. Não duvidemos. Debaixo da terra, outrora luminosa para obter panorâmica
cozinhados. E das fumarolas activas no mar, que nos restos de uma erupção vulcânica, o mundo sublime da área circundante.
também apelam a descidas ao fundo, desta vez só pode ganhar contornos de fantástico. 

Janeiro 2010 | 29
2010 |Montanhismo
AÇORES
desfazer em cratera. Depois descer, sem pressa,
fase que dura sensivelmente o mesmo tempo
que levou a ascensão. Prossegue assim o teste

subida
Mágica
às capacidades físicas e psíquicas dos que se
agigantaram a domar a montanha.
Existe um trilho marcado que permite realizar a
escalada de forma autónoma. Na Casa
da Montanha há acesso a um apoio inestimável:
um aparelho de GPS/telemóvel que monitoriza
cada passo do montanhista. Para que a jornada se
faça em total segurança, quem se desviar da rota
precisa será prontamente avisado por telemóvel
para regressar ao carreiro demarcado. Nos casos
de urgência, este sistema garante que possa ser
prestado socorro de forma rápida e eficaz.
A escalada também pode ser feita em grupo,
com o auxílio de um guia especializado.
A subida acompanhada permite conhecer
de forma aprofundada a evolução geológica

Foto: Montanheiros / Carlos Medeiros


e o ecossistema da magnética montanha.
Magnética porque, seja da ilha do Pico, seja das
adjacentes Faial e São Jorge, o olhar procura
sempre esta imponente referência que rasga
o céu. No seu chapéu cónico perfeito, por vezes
coberto de neve no Inverno, o Pico parece
saudar o visitante. E convidá-lo para a aventura
de lhe tocar o topo. 

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte


Pico

Escalar as falésias
A escalada desportiva, onde a segurança
é tema privilegiado, é uma actividade
em expansão nos Açores. As pequenas
falésias de rocha basáltica são um local

A
extremamente apetecível para esta prática.
Em São Jorge, existem sectores equipados
actividade montanhista tem nos conhecimento. Um teste ao corpo mas na Urzelina e na Fajã do Ouvidor. No Pico,
Açores o maior desafio possível em também às capacidades mentais e traços pode-se escalar na Calheta de Nesquim
território nacional. Ponto mais elevado de personalidade. Um apelo à resistência e no Cachorro. Na ilha de São Miguel
de Portugal, a montanha do Pico pode ser e à perseverança. E caso se suba acompanhado, existem zonas preparadas na Ferraria
escalada de forma autónoma. E com o bónus uma prova nos domínios do companheirismo e em Porto Carneiros. Na Terceira, as
de estar a pisar-se o vulcão que atrai todos e do espírito de entreajuda. vias equipadas ultrapassam a centena,
os olhares. Quem aceder a enfrentar o repto, guardará agregadas em três zonas. A da Chupa-
À vista desarmada, os 2351 metros de altitude uma jornada memorável até ao ponto mais -Cabras (junto à circular de Angra
da montanha do Pico parecem presa fácil. alto de Portugal. Chegados ao cume, ganha-se do Heroísmo) e da Grota-do-Medo
A empreitada de os subir é acessível. Mas a satisfação pessoal de uma meta cumprida, (freguesia de Posto Santo), ambas
também comporta dureza. O caminho é íngreme servida com uma vista paisagística única, apropriadas para uma iniciação à escalada.
e em média, dependendo de factores como de espanto, isto caso a bruma não se tenha E a da Chanoca (orla costeira na freguesia
a condição física ou o estado atmosférico, enamorado pelo topo da montanha. É então de São Mateus), que apresenta vias com
a subida leva entre três a quatro horas. tempo de recuperar energias e deambular nível de dificuldade mais elevado.
Escalar o Pico é por isso um desafio calmamente pela univocidade de um cone Link: http://escalada.montanheiros.com
e, simultaneamente, um acto de auto- vulcânico que ainda não desabou para se

30 | Janeiro 2010
Negócios e Golfe | AÇORES
2010

tacadas
Certeiras

Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte


Club House - Golf da Terceira

O golfe nas ilhas açorianas é uma


actividade turística. Mas também social.
outros de luxo -, conta com uma sala
de conferências para 300 pessoas. Já no
anos 50. A sala de congressos do Clube,
com capacidade para 450 pessoas e inserida
Ou até rural. Independente da forma, Campo de Golfe das Furnas, situado numa área num clubhouse de arquitetura moderna,
o deporto é sempre altamente paisagístico. montanhosa, os fairways são enquadrados por é utilizada pela população terceirense para
Característica que enquadra igualmente lagos e fileiras de árvores de grande porte. momentos festivos como casamentos,
na perfeição como cenário de congressos, Na Terceira, o Clube de Golfe situa-se entre baptizados e aniversários.
seminários ou eventos de empresas. Angra do Heroísmo e Praia da Vitória. Povoado Em grande dinâmica e expansão está o golfe
Numa paisagem já de si tão verdejante, de hortênsias e azáleas, o percurso passa rústico, jogado em pastagens com relva baixa
os campos de golfe dos Açores pouco mais por montes, vales e pequenos lagos. Graças e sem gado, onde se colocam bandeiras
fazem do que aproveitar as condições naturais aos preços acessíveis para habitantes da ilha, e “buracos” na relva (pneus ou desenhados com
já existentes. Actualmente existem duas opções o Clube da Terceira representa um golfe de cal). Actividade lúdica em contexto rural, assume
em São Miguel. O Campo de Golfe da Batalha carácter social. Construído em 1954 por norte- um importante cunho ambiental, dado utilizar
ocupa 100 hectares numa zona que proporciona -americanos, o campo é hoje em dia um local recursos naturais já existentes. Já é frequente
vistas para o mar. São 18 buracos de fairways onde jogam lado a lado o agricultor, o gestor, a existência de torneios em várias ilhas do
longos e greens largos. O clubhouse, dotado o médico ou o turista. Muitos associados têm Arquipélago, cujas condições são excepcionais
de bares e restaurantes - uns só para jogadores o golfe nas veias dado que foram caddies nos para a prática desta nova modalidade. 

Múltiplos Incentivos
São Miguel, Terceira e Faial lideram em termos de infra-estruturas adequadas ao turismo de negócios.
Além das capacidades tradicionalmente alocadas ao parque hoteleiro para a realização de eventos
de pequena ou média dimensão, Ponta Delgada dispõe do Teatro Micaelense - Centro Cultural
e de Congressos, cujo auditório alberga até 800 pessoas. A Terceira aposta no Centro Cultural
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

e de Congressos de Angra do Heroísmo, capacitado com dois auditórios para 900 e 200 pessoas
servidos por cabines de tradução simultânea e equipamento multimédia, e no Auditório do Ramo
Grande situado na Praia da Vitória (400 lugares). O turismo de incentivos também encontra guarida
no Arquipélago. Uma viagem aos Açores tanto funciona como recompensa inesquecível para
os melhores colaboradores, como para efectuar acções de formação empresarial, enquadradas
em actividades como parapente, paintball, orientação, slide, mergulho, rappel, entre muitas outras,
que dinamizam aspectos como o espírito de equipa ou a liderança.
Portas do Mar - São Miguel

Janeiro 2010 | 31
2010 |Património
AÇORES

arco-íris
Cultural

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

Foto: DRaC. Autor FRN


Igreja da Nossa Srª da Purificação - Vila do Porto, Santa Maria

Parque Arqueológico Submarino - Angra do Heroísmo, Terceira

O acervo patrimonial dos Açores não


está limitado às tradicionais igrejas, embora
de apreciar a fachada decorada com esses
e curvas da Igreja da Nossa Senhora da
relata-se a epopeia baleeira dos Açores.
Na localidade de Santo Amaro ainda é possível
elas sejam dignas de visita. Além Purificação. Já em São Jorge, admire-se a torre encontrar a céu aberto um estaleiro activo.
de estruturas edificadas por mãos humanas, sineira da Urzelina, única parte da antiga igreja Mesmo ao lado, revisitam-se velhas histórias
existem tradições e artes que se entrelaçam paroquial que sobreviveu à erupção vulcânica da construção naval num acarinhado museu
para formar uma manta cultural de 1808. Não se muda de ilha sem visitar particular. Para aprofundar ainda mais
de excepção. a Igreja de Santa Bárbara (século XVIII), fascinante na história, nada melhor do que mudar
A arquitectura açoriana é rica e diversa. exemplar do barroco açoriano em que de vestimenta para o fato de mergulho.
Sobressai Angra do Heroísmo, na Terceira, por a ornamentação exterior de pedra basáltica Na Terceira, ao largo de Angra, um museu
ser uma cidade Património Mundial da UNESCO. afronta o interior de talha dourada. Na ilha singular: o Parque Arqueológico Subaquático. 
Sobejam casas senhoriais com magnífica traça da Graciosa, os tesouros estão guardados
preservada. Os conventos, mosteiros e igrejas, no interior da Igreja Matriz de Santa Cruz, sob
mais ou menos majestosos e liderados pela Sé a forma de seis painéis pintados, datados do Preciosidades
Catedral, competem num jogo cromático com século XVI. Em São Miguel, entre múltiplas
os modestos, mas bonitos, Impérios do Divino escolhas, releve-se a Ermida da Nossa Senhora Gastronómicas
Espírito Santo. Angra, observada do Monte da Paz. Erguida num monte, funciona como Terra de peixe e carne abundante,
Brasil, é um arco-íris em forma de casario. miradouro sobre o casario e o ilhéu de Vila Franca os Açores apresentam uma gastronomia
As fachadas de cores garridas geram um calor do Campo. E não se perca, em Ponta Delgada típica com um carácter e paladar bem
quase tropical nos transeuntes. a contrastante fachada Manuelina da Igreja Matriz, vincado. Impossível resistir ao Queijo
Muda-se de ilha e altera-se a paleta. No Pico, esculpida em pedra calcária, branca, ou a Igreja de São Jorge, símbolo de uma ilha e de um
as adegas e casas rurais foram feitas com do Colégio, onde se guarda a uma das mais ricas arquipélago. Ou às alcatras de peixe
recurso à pedra vulcânica. Na zona do Lajido, obras em Talha Dourada do País. e carne, saborosamente confeccionadas
o jogo de contrastes atinge o auge; o negro Deixemos a arquitectura chegados a este na Terceira. E os torresmos, a linguiça com
das paredes luta com as portas de madeira ambiente inspirador. Restam muitos museus inhame, o polvo guisado. As lapas com
pintadas de vermelho vivo. Noutras ilhas onde entrar. O de Carlos Machado, em Ponta Molho Afonso já serviram de entrada a este
predomina a alvenaria branca e a cantaria negra Delgada, tem vasto espólio nas áreas espólio gastronómico. E nisto de património,
do basalto. Em Santa Maria, as casas rústicas da botânica, zoologia, etnografia, escultura, convém não esquecer o famoso Cozido das
sobressaem pela forma particular do conjunto pintura e arte sacra. Na terceirense Angra, Furnas. Quase a roçar o religioso, afirme-se
forno/chaminé. Caminhemos na mesma ilha para o dos Montanheiros auxilia a compreensão que são todos sabores divinos.
regressar à arquitectura religiosa. Digna da geodiversidade açoriana. E na ilha do Pico

32 | Janeiro 2010
Património | AÇORES
2010

TERCEIRA
Heranças Liberais

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte

Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte


Angra do Heroísmo

O encanto da Terceira começa quase


inevitavelmente por uma paixão irredutível
pela Muito Nobre, Leal e Sempre Constante Praia da Vitória
Cidade de Angra do Heroísmo. Mas a ilha
está repleta de outros mistérios, negros e ao visitável tubo lávico da Gruta do Natal. as portas das casas, com comida posta nas
ou subaquáticos, para descobrir com veia Tem início e término junto à gruta o trilho mesas, para a recepção dos visitantes. Depois
libertária. PRC1TER dos Mistérios Negros. Com um nível estala o foguete que dá a saída ao touro,
Da Angra do Heroísmo, terra de ideais e lutas difícil, os caminhos de terra batida e pastagem manobrado à corda por sete “pastores”, para
liberais, já muito se sabe. É de um prazenteio depressa cedem passo a um rumo de pé posto. as ruas da localidade. As Festas do Divino
desarmante, que deixa embevecido mesmo Atravessa-se uma mata de criptoméria, queiró, Santo Espírito são vividas com semelhante
o viajante mais resoluto. Podem gastar-se urze, cedro-do-mato, aprecia-se a lagoinha de devoção. Repletas de diferentes etapas, as
horas em ruas e vielas secundárias, a encontrar Vale Fundo, e prossegue-se por uma zona rica festividades estendem-se por oito semanas
recantos especiais, nos intervalos das visitas em vegetação endémica. Uva-da-serra, louro, em redor da época pascal.
às artérias e monumentos principais. Além folhado, azevinho, tamujo servem de antecâmara
desta magnificência terrestre, Angra também aos mistérios propriamente ditos: três domos
surpreende pela fecundidade no fundo do mar. resultantes de lavas recentes. O negrume resulta
Inaugurado em 2006, o Parque Arqueológico de ainda não estarem cobertos de vegetação.
Subaquático da Baía de Angra contempla Resta encontrar o Pico Gaspar e ascender
dois locais arqueológicos passíveis de visita: ao topo. Dali não se avistam os parques
o naufrágio do vapor Lidador e o núcleo subaquáticos de Angra. Mas observa-se uma
conhecido por Cemitério das Âncoras, uma cratera cheia de património endémico, a mostrar
jazida de cerca de três dezenas de âncoras o lado selvagem e resiliente da Terceira.
pertencentes a diferentes estilos e séculos.
Estes museus subaquáticos podem ser vistos Touradas à Corda
autonomamente – é necessária a posse de Apetece parar junto a um prado para observar
caderneta de mergulho válida – ou através dos os portentosos animais que nas míticas touradas
serviços de um operador de turismo. Debaixo da ilha desvairam a compostura terceirense. Foto: Fotaçor
de água, os mergulhadores encontram um As touradas à corda são uma tradição popular
Tourada à Corda
circuito identificado com placas explicativas. que resultam em autênticos arraiais. Abrem-se
Em piso seco, a Terceira revela-se uma ilha
igualmente ordenada. A paisagem é retalhada
pelos muros de pedra e hortênsias que Reino das Quintas
delimitam as pastagens, criando “cerrados” Da vasta oferta de hotelaria de três e quatro estrelas, espalhada por Angra do Heroísmo
geralmente em forma de quadrícula. O arranjo e Praia da Vitória, destaca-se o Hotel Caracol pela diversidade de actividades que propõe
estende-se às piscinas naturais da Salga, aos hóspedes. No Forte de São Sebastião, sobre a Baía de Angra, está instalada uma Pousada
de Porto Martins, dos Biscoitos. O porto de Portugal. A Terceira contempla ainda uma belíssima oferta de turismo rural, com relevo
de pesca de São Fernando, com os barcos para as quintas. A Quinta do Galo engloba uma área pedagógica onde as crianças contactam
imaculadamente pintados e conservados, com realidades próprias do campo. Na Quinta do Martelo, recria-se um ambiente rural
é prenúncio da disciplinada Praia da Vitória. terceirense, podendo o hóspede participar nas fainas ainda existentes ou assistir aos ofícios
Do miradouro da Serra do Facho, percebe-se tradicionais de sapateiro, ferreiro, barbeiro, marceneiro, latoeiro, oleiro e tanoeiro. A solarenga
bem a extensão do areal e da baía, considerada e oitocentista Quinta das Mercês, onde ficaram os Reis de Espanha, debruçada sobre
excepcional para a prática do triatlo. o Atlântico, prima pelo requinte, com alguns dos quartos a oferecerem jardim privativo,
O trajecto da vulcanologia leva-nos até às entre muitas outras distintas mordomias.
fumarolas das Furnas do Enxofre

Janeiro 2010 | 33
2010 |Agenda
AÇORES
Foto: ATA Foto: Assoc. Cultural Maré de Agosto Foto: ATA Foto: Market Iniciative

Eventos em cenários místicos


A rica agenda cultural, desportiva e religiosa dos Açores confere aos seus eventos uma dimensão místicos de eventos, caso das Sete Cidades, onde, em 2009, foi lançado o álbum “Mind at Large”,
mística inigualável ao dar-lhes por palco os ímpares cenários naturais e de mistério que caracterizam dos Blasted Mechanism, ou da Gruta do Natal, na Terceira, “sala” de místicos concertos.
aquelas paragens. As manifestações de tradições e cultura popular, sacra e profana sintetizam Rico é o calendário açoriano associado ao mar. A famosa Semana do Mar, na Horta, faz rumar aquele
as múltiplas influências que ali aportaram ao longo dos séculos. Destacam-se, como grandes festividades Porto corridas oceânicas, iates e velejadores de todo o mundo. O Festival Marés de Agosto, em Santa
religiosas, com marca fortemente comunitária em todas as ilhas, as festas do Espírito Santo, a par das Maria, com os seus concertos musicais de culto, arrasta à ilha jovens de todas as paragens. O Festival
Festas do Santo Cristo, em Ponta Delgada, e das Sanjoaninas, em Angra do Heroísmo. No Faial, Pico e S. Angra Jazz, leva á Terceira intérpretes maiores deste género. Concursos internacionais de fotografia
Jorge, a tradição baleeira faz prevalecer as corridas dos botes baleeiros associadas a diversos eventos. subaquática têm lugar no Arquipélago. Os Açores há muito se afirmaram nas provas de pesca desportiva.
Na Terceira, todos as efemérides são pretexto para as leais e sempre vibrantes “Touradas à Corda”, que As ondas das ilhas estão a cativar provas dos circuitos nacional e mundial de surf, o mesmo se aplicando
nada invejam ao Festival de Pamplona (Espanha). O “Entrudo” expressa modos únicos a nível nacional ao mergulho. No que à ciência se refere, o Arquipélago pontua no calendário científico nacional nos
de festejar o Carnaval. A grande diversidade de manifestações dá lugar a uma infindável agenda eventos ligados ao Ambiente, ao Vulcanismo e ao Mar, atraindo especialistas nacionais e internacionais
cultural com espectáculos de música popular e erudita, dança, teatro, exposições de arte, fotografia nas respectivas áreas. Aliás, verifica-se uma tendência crescente para o que se pode chamar de turismo
ou artesanato, que com grande frequência levam a paragens açorianas nomes e expressões maiores científico em direcção aos Açores, que bem souberam converter as suas múltiplas “dádivas” da natureza
da cultura nacional e mundial. Os impressivos cenários naturais, com frequência crescente, são palcos em referências europeias e mundiais de estudo. Até porque só se pode amar o que se conhece.

FEVEREIRO 15/17: SATA Rally Açores (S. Miguel) 15/18: Festival Baia do Rock (S. Lourenço/Sta Maria)
1: Senhor Santo Cristo (Praia do Almoxarife/Faial) 16/18: Festival Blues - Anjosblues (Anjos/Sta Maria) 16/22: Festa do Pescador (Caloura/S. Miguel)
1: Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande (S. Miguel) 16/19: Festa do Imigrante (Lajes/Flores) 22/28: Semana dos Baleeiros (Lajes do Pico)
12/16: Festejos de Carnaval (todas as ilhas) 16/20: Festa de Santa Maria Madalena (Pico) 22/28: Festa do Bom Jesus da Pedra (Vila Franca do Campo/S.
17/25: Festas do Porto Judeu (Terceira) Miguel)
MARÇO 18/19: Rally Ilha Azul (Faial) 27/29: Festival da Maia (Maia/Sta Maria)
19: Festas de S José (Ponta Delgada e Ribeira Chã/S. Miguel) 20/24: 4ª Semana da Juventude da Maia (Ribeira Grande/S. Miguel) 27/29: Festas da Conceição (Faial)
20/25: Festival de Música (Calheta/S. Jorge) 28/04 Setembro: Festas de S. Bartolomeu (Terceira)
ABRIL 20/25: Semana da Juventude (Praia Formosa/Sta Maria)
Festas do Espírito Santo (início das festas – todas as ilhas) 23/25: Festas de Nª Sra do Bom Despacho (Almagreira/Sta Maria) SETEMBRO
4: Domingo de Páscoa (todas as ilhas) 23/01 Agosto: Festas de S. Sebastião (Terceira) Festas do Espírito Santo (todas as ilhas)
4: Triatlo do Peter Café Sport (Faial) 29: Festa do Baleeiro (S. Vicente Ferreira/S. Miguel) 3/5: Festa da Vinha e do Vinho dos Biscoitos (Terceira)
11: Festa do Senhor dos Enfermos (S. Miguel) 29: Festa de Santa Ana (Furnas/S. Miguel) 3/5: Nossa Senhora da Penha de França (Fajã/Faial)
23/25: Festas de S. Jorge 28/31 Agosto: Cais de Agosto (S. Roque/Pico) 3/5: Angra Rock 2010 (Terceira)
30/08 Agosto: X Edição da Feira Gastronómica do Atlântico (Praia da 5: Festas do Varadouro (Faial)
MAIO Vitória/Terceira) 5/6: Festa de Nª Sra Mãe de Deus (Povoação/S. Miguel)
até Outubro: Touradas à Corda (Terceira) 31/8 Agosto: Festas do Concelho da Praia da Vitória 10/11: Rally Ilha Lilás (Terceira)
9: Festas do Santo Cristo dos Milagres (Ponta Delgada/S. Miguel) 31/8 Agosto: Feira Regional de Artesanato (Praia da Vitória/Terceira) 11: 7 Maravilhas Naturais de Portugal (Lagoa das Sete Cidades/S. Miguel)
15/16: Festa da Nossa Senhora das Angústias (Faial) 12: Festa de Nª Sra dos Milagres da Serreta (Terceira)
23: Dom. do Espírito Santo (todas as ilhas) AGOSTO 12: Festas de Nª Sra Dá Pureza (Lajido - Sta Luzia/Pico)
24: 2ª Feira do Espírito Santo / Dia da Autonomia (todas as ilhas) Festa do Baleeiro (S. Vicente Ferreira – S. Miguel) 24/27: Festas de S. Paulo (Ribeira Quente/S. Miguel)
23/30: I Bodo e II Bodo (Terceira) Festival da Povoação (S. Miguel) 27: Dia Mundial do Turismo
30: Domingo da Trindade (todas as ilhas) 1: Festa do Santíssimo (Ribeira Chã – S. Miguel) 28/29: Festa de Nª Sra de Lurdes (Feteira/Faial)
1/2: Festas do Coração de Jesus (Santa Bárbara – Sta Maria)
JUNHO 1/8: Semana do Mar (Horta – Faial) OUTUBRO
Festa de S. Miguel Arcanjo (Vila F. do Campo/S. Miguel) 4: Festa da Nossa Sra. de Lurdes (Faial e Pico) Outono Vivo (Praia da Vitória)
3: Corpo de Deus (Povoação/S. Miguel) 6: Festa do Bom Jesus Milagroso (Pico) SATA Azores Open (S. Miguel)
19/28: Sanjoaninas (Terceira) 6/11: Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres (Graciosa) Festival do Ramo Grande (Praia da Vitória/Terceira)
19/28: Feira Regional de Artesanato (Terceira) 7/14: Festas de 15 de Agosto (Vila do Porto/Sta Maria) 1/3: IX Festival Angra Jazz (Angra do Heroísmo/Terceira)
23/24: Festas de S. João (S. Miguel/Sta Maria/Faial/Flores) 8: Festa de S. Nicolau (Sete Cidades/São Miguel) 2/9: Festas das Lajes (Terceira)
29: Cavalhadas de S. Pedro (Ribeira Grande/S. Miguel) 8/14: Festival dos Moinhos (Corvo) 10: Festa de Nª Sra do Rosário (Lagoa e Rabo de Peixe/S. Miguel)
29/03 Julho: Festa do Chicharro (Ribeira Quente/S. Miguel) 8/14: Festival Internacional de Folclore (Terceira) 22/24: Wine in Azores (Ponta Delgada/S. Miguel)
9/13: VI Feira de Artesanato e Sabores Tradicionais (Praia da
JULHO Vitória/Terceira) NOVEMBRO
4: Aniversário da Cidade da Horta (Faial) 11/14: Rally de Santa Maria 11: Festa de S. Martinho (todas as ilhas)
4/9: Semana Cultural de Velas (S. Jorge) 14/16: Festival Maré de Agosto (Sta Maria) Foto: Market Iniciative
3/7: Festas dos Biscoitos (Terceira) 15: Festa de Nª Sra dos Anjos (Água de Pau/S. Miguel) DEZEMBRO
8/14: Festas do Concelho do Nordeste (S. Miguel) 15: Nª Sra da Graça (Praia do Almoxarife/Faial) 8: Festa de Nª Sra da Conceição (Faial/Terceira)
9/11: Festival de Música Tradicional Maia Folk (Sta Maria) 15: Festa de S. Roque (Pico) 8: Dezembro em Festa (Faial)

Foto: Ana Paula Fonseca / C. M. Ribeira Grande Foto: Fotaçor Foto: Fotaçor
Foto: André Frias / contratempo.com

34 | Janeiro 2010

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