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O JUGO DO SENHOR É SUAVE

– Jesus Cristo liberta-nos das cargas mais pesadas.

– Devemos contar com o peso da dor, das contrariedades e dos obstáculos.

– Espírito desportivo, rijeza e alegria para enfrentar tudo aquilo que contraria ou é menos
agradável, o que se opõe aos nossos planos ou produz pesar e dor. Fugir do desalento.

I. VINDE A MIM todos os que estais fatigados e sobrecarregados – diz Jesus


no Evangelho da Missa1 –, e eu vos aliviarei. O Senhor dirige-se às multidões
que o seguem, maltratadas e abatidas como ovelhas sem pastor2, e liberta-as
dos fardos que as afligem. Os fariseus sobrecarregavam-nas de minuciosas
práticas insuportáveis3, e em troca não lhes davam a paz que almejavam nos
seus corações.

Os fardos mais pesados dos homens – ensina Santo Agostinho – são os


pecados. “Jesus diz aos homens que carregam fardos tão pesados e
detestáveis e que suam em vão debaixo deles: Vinde a mim... e eu vos
aliviarei. Como alivia os sobrecarregados pelos pecados, senão mediante o
perdão dos mesmos?”4 Cada confissão é libertadora, porque os pecados –
mesmo os veniais – afogam e oprimem. Saímos desse sacramento
restaurados, dispostos a lutar novamente, cheios de paz. “É como se o Senhor
dissesse: todos os que andais atormentados, aflitos e carregados sob o fardo
dos vossos cuidados e desejos, abandonai-os, vindo a Mim, e Eu vos recrearei,
e encontrareis para as vossas almas o descanso que vos foi tirado pelas
vossas paixões”5.

O Senhor, em troca desses fardos do pecado, da soberba, da falta de


generosidade..., convida-nos a partilhar do seu próprio jugo. Tomai sobre vós o
meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis
descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu peso
leve... E Santo Agostinho comenta: “Este jugo não é um peso para quem o
carrega, mas asas para quem vai voar”6. Os compromissos próprios da nossa
vocação cristã e aquela parte da Cruz que nos cabe a cada um são um doce
peso; e esta amável carga permite-nos remontar até o próprio Deus.

Além disso, junto de Cristo, as dificuldades e os obstáculos adquirem um


sentido totalmente diferente. Em vez de serem a “nossa cruz”, convertem-se na
Cruz de Cristo, com a qual corredimimos, ao mesmo tempo que as nossas
faltas se purificam e as nossas virtudes crescem. E, no entanto, levanta-se
tantas vezes ao nosso redor a voz de pessoas boas, mas sem uma fé viva,
imersas no comodismo, que não entendem o sacrifício. “Esse caminho é muito
difícil, disse-te ele. E, ao ouvi-lo, concordaste ufano, lembrando-te de que a
Cruz é o sinal certo do caminho verdadeiro... Mas o teu amigo reparou somente
na parte áspera da senda, sem ter em conta a promessa de Jesus: «O meu
jugo é suave».
“Lembra-lhe isso, porque – quando o souber – talvez se entregue”7, talvez
venha a compreender melhor que ele também foi chamado à santidade.

Devemos proclamar aos quatro ventos que o caminho que segue de perto os
passos de Jesus é um caminho cheio de alegria, de optimismo e de paz, ainda
que sempre estejamos perto da Cruz. E precisamente dessas tribulações,
acolhidas por amor a Deus, tiraremos frutos extraordinários. “Recorda-te –
aconselha-nos São Francisco de Sales – de que as abelhas, no tempo em que
estão fabricando o mel, comem e sustentam-se de um produto muito amargo; e
que de igual maneira nós não podemos fazer actos de maior mansidão e
paciência, nem compor o mel das melhores virtudes, senão enquanto
comemos o pão da amargura e vivemos no meio das aflições”8.

II. É DIFÍCIL, talvez impossível, encontrar uma pessoa que não esteja
sofrendo alguma dor, doença ou preocupação de um tipo ou de outro. Não
deve acontecer com o cristão o que comenta São Gregório Magno: “Há alguns
que querem ser humildes, mas sem serem desprezados; querem contentar-se
com o que têm, mas sem padecer necessidade; ser castos, mas sem mortificar
o corpo; ser pacientes, mas sem que ninguém os ultraje. Quando procuram
adquirir virtudes, e ao mesmo tempo fogem dos sacrifícios que as virtudes
trazem consigo, assemelham-se aos que, fugindo do campo de batalha,
quereriam ganhar a guerra vivendo comodamente na cidade”9. Sem dor e sem
esforço, não há virtude.

Devemos contar com dificuldades, com preocupações e com penas; numas


épocas, manifestar-se-ão de uma forma mais custosa, e em outras, serão mais
leves; mas, junto de Cristo, serão sempre suportáveis. Estas contradições –
grandes ou pequenas – aceitas e oferecidas a Deus, não oprimem; pelo
contrário, preparam a alma para a oração e para ver a Deus nos pequenos
acontecimentos da vida. O Senhor não permitirá que nos chegue nenhuma dor,
nenhum apuro, que não possamos enfrentar se recorremos a Ele pedindo
ajuda. Se alguma vez tropeçamos com uma contrariedade maior, o Senhor nos
dará também uma graça maior: “Se Deus te dá a carga, Deus te dará a
força”10.

Enquanto estivermos na terra, devemos contar com as dificuldades como


coisa normal. Já São Pedro advertia os primeiros cristãos: Caríssimos, quando
Deus vos provar com o fogo da tribulação, não vos perturbeis como se vos
acontecesse alguma coisa de extraordinário11. Não nos surpreendamos; a
senda da felicidade e da eficácia passa precisamente pelo caminho da Cruz:
todo o ramo que, unido à videira, dá fruto, o Senhor poda- o para que dê mais
fruto12. Mas nunca nos deixa sozinhos; está sempre junto dos seus,
especialmente quando mais se faz notar o peso da vida.

III. DO SENHOR só nos chegam bens. Quando Ele permite a dor, a


contrariedade, problemas económicos ou familiares..., é porque deseja para
nós um bem ainda mais valioso.
Frequentemente, Deus abençoa os que mais ama com a sua Cruz para que
saibam levá-la com garbo humano e sobrenatural. Quando um dia Santa
Teresa, já quase no final da vida, se dirigia a uma cidade a fim de iniciar uma
nova fundação, encontrou pela frente caminhos impraticáveis e rios que tinham
transbordado. Depois de passar a noite, doente e fatigada, numa pousada tão
pobre que nem sequer tinha camas13, decidiu prosseguir viagem, porque o
Senhor assim lho pedia. Ele tinha-lhe dito: “Não faças caso destes frios, que Eu
sou o verdadeiro calor. O demónio emprega todas as suas forças para impedir
essa fundação; emprega-as tu da minha parte para que se faça, e não deixes
de ir pessoalmente, que será grande o proveito”14. O certo é que, no dia
seguinte, a Santa decidiu atravessar o rio Arlanzón numas condições tais que,
quando a caravana chegou às margens do rio, não se via senão um imenso
lençol de água sobre o qual mal se distinguiam as pranchas flutuantes que
formavam a ponte15. Os que estavam na margem viram como a carroça onde
ela ia oscilava e ficava suspensa à borda da corrente. Teresa pulou, com a
água pelos joelhos, mas como estava sem forças, machucou-se. Dirigiu-se
então ao Mestre em tom amavelmente queixoso: “Senhor, entre tantas
dificuldades, e acontece-me isto!” E Jesus respondeu-lhe: “Teresa, assim trato
Eu os meus amigos”. E a Santa, cheia de engenho e de amor, respondeu-lhe:
“Ah, Senhor, por isso tendes tão poucos!”16 Depois, todos voltaram a ficar
contentes, “porque, em passando o perigo, era recreação falar dele”17.

O Senhor deseja que enfrentemos as contrariedades com paz, com rijeza,


com alegria e confiança n’Ele, sabendo que nunca “falhou aos seus amigos”,
especialmente se estes só desejam fazer a Sua vontade. Junto do Sacrário –
enquanto dizemos talvez: Adoro te devote, latens deitas, adoro-te com
devoção, Deus escondido –, verificaremos que, mesmo nos casos
aparentemente sem saída, a carga junto de Cristo se torna leve e o seu jugo
suave. Ele ajuda-nos a ter paciência e a encarar os obstáculos com espírito
desportivo e, sempre que seja possível, com bom humor, como fizeram os
santos. Com esta atitude, fazemos um grande bem à nossa alma e à de todos
aqueles que vivem perto de nós.

Espírito desportivo e alegria para enfrentarmos tudo o que nos contraria ou


nos é menos grato, o que se opõe aos nossos planos ou produz pesar e dor. E
também simplicidade e humildade para não inventarmos problemas e dores
que na realidade não existem, para deixarmos de lado as desconfianças, para
não complicarmos falsamente a vida.

Porque, ainda que os obstáculos sejam reais e se deva contar com eles,
corre-se por vezes o risco de exagerá-los, dando-lhes excessiva importância.
Pode acontecer de vez em quando que cheguemos a pensar que não fazemos
nada de proveito, que tudo vai de mal a pior, que somos ineficazes na acção
apostólica, que o ambiente pesa de tal maneira que não adianta ir contra a
corrente... É uma visão deformada das coisas, talvez por não contarmos com a
verdadeira realidade: somos filhos de Deus, e nunca nos faltará a graça para
alcançarmos um bem muito maior.

Junto do Senhor, e com a protecção de Santa Maria, refugium nostrum et


virtus, nosso refúgio e fortaleza, saberemos matizar e definir aquilo que não vai
tão bem, pediremos ajuda ao director espiritual, e aquilo que nos parecia tão
custoso tornar-se-á fácil de enfrentar. Este espírito optimista, alegre e cheio de
fortaleza, é imprescindível para progredirmos no amor de Deus e para
levarmos a cabo uma fecunda actividade apostólica. A alma rodeada de
dificuldades robustece-se, torna-se generosa e paciente. Nos obstáculos,
devemos ver sempre a grande ocasião de nos tornarmos fortes e de amarmos
mais.

(1) Mt 11, 28-30; (2) cfr. Mt 9, 36; (3) cfr. At 15, 10; (4) Santo Agostinho, Sermão 164, 4; (5)
São João da Cruz, Subida ao Monte Carmelo, I, 7, 4; (6) Santo Agostinho, op. cit., 7; (7) São
Josemaría Escrivá, Sulco, n. 198; (8) São Francisco de Sales, Introdução à vida devota, III, 3;
(9) São Gregório Magno, Moralia, 7, 28, 34; (10) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 325; (11) 1
Pe 4, 12; (12) cfr. Jo 15, 2; (13) Santa Teresa de Jesus, Fundações, 27, 12; (14) ib.; (15) cfr. M.
Auclair, La vida de Santa Teresa de Jesus, 4ª ed., Palabra, Madrid, 1984, págs. 422-423; (16)
ib.; (17) Santa Teresa de Jesus, Fundações, 31, 17.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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