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Abstract
The article presents an aesthetic reflection supported in theoreticians of the
Circle of Bakhtin and Vygotski having as object a visual work of contemporary art made
by one of the authors. The text in such a way looks for to display the dialogue with the
workmanship at the same time that it discloses aspects of the creative process
contributing for the critical study of the artistic production.
Word-keys: Contemporary art; Aesthetic; Artistic Creation
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motivos torpes que levaram jovens de classe média alta a fazerem o que
fizeram. Vozes sociais que anunciam/denunciam a violência contemporânea e
a banalização da vida estão ali presentes na obra/discurso, objetivadas nessa
imagem.
Mas há outra mulher logo em seguida, no espaço à esquerda da tela.
Também imagem, mas não mais (re)criação de uma fotografia como a da
mulher em primeiro plano. Esta segunda imagem é conhecida no ocidente,
embora as histórias de gueixas e seus modos de vida não necessariamente o
sejam. Há certa magia nas estampas, cores e cortes da vestimenta e seus
adereços, na face pálida, no cabelo volumoso, nas flores de cerejeira a compor
a cena. Exotismo que encanta, que intriga, mas que não deixa de fazer eco a
vozes de violências várias: contra essas mulheres, nas relações
ocidente/oriente, entre culturas, das tolerâncias ao que agrada e ao mesmo
tempo as intolerâncias em relação ao que se nega ver/escutar. O paradoxo da
subserviência feminina é outro aspecto sugerido para leitura com a imagem da
gueixa, assim como tantos outros que escutas/leituras várias podem vir a
destacar.
Há ainda uma terceira imagem, transfigurada ao ponto de requerer um
olhar mais acurado para que sentidos possam ser produzidos a partir da
unificação dos contornos e cores ali apresentados. Uma imagem que aos
poucos se apresenta ao leitor e que evoca outra banalização característica da
sociedade capitalística, a se somar à banalização da vida objetivada na
imagem da mulher em primeiro plano: o corpo, condição primeira da existência
e que é na modernidade adestrado, modelado, disciplinado. Não raro,
assumido como descartável pela indústria da pornografia, onde o artista vai
resgatar a imagem que apresenta transmudada em sua obra. Corpo frágil,
corpo fácil, substituível, descartável. Sexualidade a ser consumida,
comercializada, prazeres voláteis.
Será intencionando dar visibilidade a essa condição, no sentido de
denunciá-la, que o artista apresenta essas vozes em sua obra? E que sentidos
podem emergir da leitura dessas três figuras? Que relações possíveis podem
ser estabelecidas entre esses corpos apresentados em diferentes planos,
nessas imagens recolhidas de diferentes contextos e simultaneamente
lançadas no mesmo tempo e espaço?
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humanidade desde seus primórdios, mas que ocupam com destaque espaço
nas mídias impressas e televisivas nos dias atuais: práticas sexuais e de
violência. Estas ganham justificativas que podem ser mais ou menos aceitas
segundo o contexto cultural-ideológico em que se apresentam. De fato, sexo e
violência por si só não nos definem como seres humanos, não identificam
nossa singularidade como espécie pois encontram-se em todo reino animal. A
singularidade humana está na complexidade cultural que institui sexualidade e
violência como práticas sociais variadas, mediadas semioticamente e com
sentidos que se modificam historicamente em razão das próprias
transformações culturais. Sentidos que se transformam no movimento de
transformação das relações sociais e dos modos de produção que balizam a
vida e/em suas variadas manifestações.
Expor violência e sexo é, portanto, considerando a historicidade e
características culturais de suas variadas práticas, explicitar de alguma forma
variadas vozes, não apenas das “figuras pintadas” (que são reproduções de
fotografias, de imagens da realidade), mas também explicitar falas ocultas dos
que são responsáveis pela realidade registrada, bem como falas dos que se
relacionam com as pinturas, que reagem às imagens ali presentes e à imagem
da obra de arte como portadora desta visualidade.
A obra em questão procura expor essas várias vozes, os ditos e não
ditos, e ao mesmo tempo estimular a produção de sentidos outros que se
revelem como o que são, como ideologia, como cultura a ser reinventada. Não
são as práticas de violência ou de sexo em si representadas que a obra
pretende que sejam sujeitas a críticas, mas sim os sentidos dessas práticas e
seus efeitos na sociedade em que se vive, a condição social que as conota e a
própria humanidade que vem sendo historicamente produzida.
Esta obra, portanto, é, como toda obra, aberta ao acabamento estético
que o contemplador venha lhe dar. Há, porém, embora aberta, um convite à
leitura pautado por algumas escolhas que o artista imprime tanto na forma
como no conteúdo de “Cerejeira em Flor”. Ao trazer imagens de sexo e
violência que são relidas através das composições e pinceladas inusitadas, o
artista busca provocar no observador um sentimento ambíguo de atração e
desconforto que o estimule a falar, a ver e ouvir o que a profusão e velocidade
das imagens que caracterizam o contemporâneo costumam anestesiar.
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Considerações finais
“Cerejeira em flor” foi alçada, neste texto, à condição de obra lida, esteio
para as reflexões sobre processos de criação e as relações entre discurso na
arte e discurso na vida. Discursos supostamente distintos, porém
amalgamados pelas mãos do artista que recorta impressões/imagens de
tempos/espaços variados e os reapresenta transformados, como convite à
leitura/escuta. Imagens recortadas de vidas e corpos descartáveis, resgatadas
e (re)criadas com a justaposição que escancara ocultamentos, esquecimentos,
negações. Criação que é, pois, fundamento de um novo, do devir, pois para
Vygotski (1990, p.9) “É precisamente a atividade criadora do homem que faz
dele um ser projetado para o futuro, um ser que contribui ao criar e que
modifica seu presente”.
Grotesco revivido, atualizado, resgatado da imediaticidade das imagens
contemporâneas que o apresentam como passagem, mas que estão a pulsar
nos espaços das cidades a violentar os corpos e marcar a carne. Arte criação
que se apresenta como ato de resistência (DELEUZE, 1997), uma linha de fuga
na sociedade do controle que não aprisiona e não se deixa aprisionar. Daí a
relação próxima que Deleuze estabelece entre arte, ciência e filosofia: “Todo
ato de resistência não é uma obra de arte, embora de uma certa maneira ela
faça parte dele. Toda obra de arte não é um ato de resistência, e no entanto,
de uma certa maneira, ela acaba sendo”. Criar e resistir, vida e arte, supostas
distâncias que se esvaem no processo de criação e que fazem da obra de arte
convite à reinvenção de si e da realidade.
Esclarece Vigotski (1990, p.11) que “...na vida que nos rodeia cada dia
existem todas as premissas necessárias para criar e tudo o que excede do
marco da rotina incluindo até uma mínima partícula de novidade tem sua
origem no processo criador do ser humano”. É esse processo que vimos
plasmados em “Cerejeira em Flor”: corpos expostos de variados contextos,
feridos, encobertos/descobertos no processo de criação que atualiza o
grotesco e o apresenta como condição contemporânea. Vidas/imagens de
tempos/espaços distintos que são, pelas mãos do artista, sobrepostas, a
provocar leituras/escutas onde à dialogia concebida possam se somar outras
tantas vozes. Onde às insensibilidades midiaticamente produzidas se
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Referências
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