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Vileén Flueser. 4 (Contribuipo para livro sob este t{tulo, » ser publicedo por PYRCORSI, Salerno) Os denais contribuintes a este Livro, (Baudrillard, Canclini, Costs, Duvignaud Morin, Perniola e Restany), anelizarao, cem divida, as oxperiéncias e os trebalhos te. Sricos dos artistes que participam do movimento. C meu propésito cers outro. Suspen+ derei a minha proprie participagao modesta ao movimento, e os liames de amizade que me unem a alguns dos artistas, (» Fischer, a Forest, 2 Thenot ee Muntadss), ¢ procurared rgunfarei pelos motives profundos do movimento. Una das descobertas.mais perturbadoras da atualidede ¢ » ds inseparabilidade de sujeito e objeto. Descoberta de situarces, nas quais os conceitos "sujeito” e "objete perdem todo sentido. al descoberta foi feita, quase simultaneamente, em terrenos der conexos. Parece que estamos esbarrando contra uma des pedras fundentes do existencia assumir ponto de viats distanciedo. P ocidental, a qual se assume sujeito do mundo, e a qual essume o mundo enquanto seu ob- eto. © edif{cio todo ds nossa cultura esté vacilando. Se tais cituagses nao permite que nos assunanos sujeitos que vivenciam, conhecen e clteran o mundo, a nossa cultura toda deve ser revista. Somos obrigados 2 recorrer a culturas estrenhas, e sobretude 3s orientais, para as quaia o homem enquanto sujeito do mundo n&o pasen de iiuaso a ser "rasgada" como um veus Estamos perdendo 0 solo que nos sustenta. Wa t{sica nucleer a descoberta assume - forma da pergunta: pode haver observa- gio objetiva? a observasao de deterninadas part{ovlas sltera a sua massa e 9 sua ve= ocidade, e perguntar como "sao" tais particulss quando nao observadas, carece de een- tido. £ como u realidade “objetiva" toda & composta de tnis part{culas, a pergunta se impoe: que sentido tem, falarmes em "reslidade objetiva"? Por outro Isdo, a resisten= cia dure que nos & oposta pelo mundo dos objetos 6 cabepuda denais, para podernos new gar-lhe "objetividade’. Obviamente, este nosso pendular tradicional de reelismo para idenlisno e de volta, essa nosss tentetiva tradicional de "adequarmos o intelecto a coisa", € consequencia de atitude fundamentxlmente errada face 3 realidede. Provavel- mente, o homem conhecedor e o mundo a ser conhecido niof sao polos opostos da reslida= de. Provévelmente, si extrapolagoes rbstretas de um renlidade concreta tihica, abstr g6es esas perpetradsa pelo pensamento @ peln epdo ocidental, os quais se vem agore ce frontados com tal realidade concreta. Na peicanalise a descoberta da impossibilidnde de separarmos sujeito e objeto, analista ¢ analigado, assume e forma da pergunts: serei "eu" existéncia n{tidamente distingufvel? A transferéncia de processos psigicos do anslizado pers o annlista e de volta sugere substreto comum a ambos, espécie de copa amorfs da qual os "eus" se condensam, para nels se dissolverem novamente. A "identidade individual" se proble= matize. Poi’ tol imagen do sujeito hunano enquento epifenomeno fugez e indefin{vel de uma realidade pafquica mais profunda 6 intolerevel para ~ vivencia, 0 conhecimento @ a valoragao do homem ocidentaly o qual se fundamenta sobre o conceito da liberdade e da responsabilidade individual e nao transfer{vel. 0s dois exemplos da inseparabilidade do sujeito e objeto, tomados da f{sica e da peicologia, podem ser completados por exenplos de outros terrenos. Ne ecologia ca- rece de sentido separar-se 0 organiamo do seu contexto. Na genética o fenétipo apare~ -2 co como nero optfendmenc do genStipo "trans-subjetivo”. Na infornitiea o "individuo’ aparece como caixe preta com imput e output. Mas o que interesso aqui mais de perto @ 0 csso da sociologiae La, a descoberta da inseparabilidade de sujeito e objeto as- sune a forna da pergunte: pode haver conhecimento objetivo do outro, inclusive de mir préprio? = seré poss{vel querer alterar 0 outro, (a sociednde), ¢ a min proprio, em base de conhecimento? A peaquiza sociologica esbarra contra a descoberta que 2 obe servagao de ferionenos sociaie modifica, por sua mera presenga, tanto o comportamento do grupo observado, quanto o do proprio observador. Por exemplo: se um socidlogo ob- serva o fenomeno da criminalidede infantil, e se o faz en obediéncia as regras mais rigorosamente cient{ficas, verificaré que eua presenga modifica o comportamento das criangas, e que os atos @ os sofrimentos das criangas modificam seus proprics atos e sofrimentoss © problema equi noo 6 epistemoldgico, como no caso da fisica nuclear: 0 de agarrar 0 objeto. Nem existencial, como no caso da psicandlise: como identifi- car-mes © problema & ético e polftico: como reconhecer 0 outro enquonto sujeito. ‘Trata-se aqui do problema da intersubjetividade, da relageo que une observe dor com observedo, (socidlogo com as criengas). Em tal relagdo parece fore de pro- pésito a pergunta: quem observa e quen ests sendo observado? smbos, socidlogo e criangas, observom e estac sendo observados. Pois isto sugere que ¢ iguolmente fore de propésito » eldssica pergunta ocidental: qual @ @ posigso do individuo na socie= dade, © qual 6a influéncia de sociedade sobre o homem? Sugere que os conceitos Noujeite hunano" @ "sociednde humane” ndo passam de conceitos abstratos, e que s re= alidude concrota J 0 tecido des relogdea intersubjetivas. Pols tal imagem de un campo relacional intersubjetivo, no qual 0 sujeito noo passa de nd inoginario de re~ lagdes, & intolersvel para o homem ocidental, porque aniquila todos os seus valores. Se o honom individual um nade, um vacuo no qual relagces se atam e desstam, e se a sociedade é um nome abstrato que designa um conjunto fluido de relagoes concretasy todes os conceitos de liberdade, justipa, fraternidade, e todos os modelos de indi- vidualisme e coletivismo, se perdem entre os dedoss Os fundamentos da ética e da polftica ocidentais entram em colapso. Tal descoberta da inseparebilidede de sujeito e objeto ea determinadas si- tuagdes, tal problenatizagao do significado dos ternos "objetividade" e "subjetivi~ dade", 6 uma das reizes da crise do ocidente. Podemos obviar a crise, @ optar por nisticisno orientalizante. Un exemplo de tol driblegem do problema por parte de clentistas e 2 "gnose de Princeton". line podenos também tentar fazer face ao proble ma, e elevar a propria inseparabilidade em método de conhecimento, de vivéncia, e de engajauento. Zxemplo de tel elevagio om método de conhecimento é o principio de in- determinabilidade de Heisenberg, na f{sica. emplo de tal elevagco da inseparabi- lidade em método de vivéncila @ a praxis da psicandlise. 1 tese que quero defender S que a arte sociolégica se quer exemplo de como elevar 2 inseparabilidade de sujeit @ objeto om método de engajamento. Para comprender-se isto, & precise que se consi~ dere o conceito atusl de "arte". O artista moderno 6 um publicista de projetos privades, Sujeito que ela- bera modelos das suas vivencias no seu eopago privado, (no seu "Zntine"), e que pus blica tais modelos, impressos ou nao sobre objotos, afim que a sociedade possa dis= = 3 por desses "obres". Por certo: os Vivoned-e do erticta infiltran seu {ntiso provine das do espago piblico, © sic conteminedas por conhecinentos e valores, os queis, ele também, sao piblicamente dados. F quanto acs modeloe elaborados pelo artista, ester se epotsm sobre modelos prévios publicamente diaponfveis. 0 artista este inserido na historie gersl, e mergulhado na historia da arte. Mas o que importa © que, para, "erier", o artista se retira da correntesa da historia para o espeso privadoy pare de 1f energir novamente com cua "obra", Pois esse tipo de fazer artfatico ¢ t{picamente modernos Nao existe em lue gar e em tempo algum féra do mundo moderno. Hm tods parte e sempre, fora do ociden te moderno, @ elaboragio de modelos, ¢ sta aplicagio « objetos, tem sido atividede piblice, seja ela "individual" ou “ooletiva", © subjetivisno ceracteriza o concel= to "arte" apenas no seu significado noderno. Igualmente moderna & a conotaglo exclusivamente estética do conceito “artes As "belas ertes". Em lugr e em tempo algum, férs do ocidente moderno, ocorre a al- guen querer produzir obras que sejan “estéticas”, isto ¢: que modélem » vivéneia doe Teceptores, Toda obray for: do ocidente moderno, visa simultdneamente ser "bela "Gtil", e Ycorretamente feito", Isto é: todo modelo pre-moderno ¢ simultaneamente estético, polftico e ecistemolégico. 0 esteticisno da arte moderna se explica pelo desenvolvimento da ciéneia mederna, Esta elabora modelos epistemoldgicos, e os con- fia 3 téenice, para que esta os torne uteis ao aplice-los a objetos. Destarte a téc nica vai assumindo os aspectos epistenolégicos e polfticos do fazer: o "progresso da técnica" é 0 fazer de obres senpre mais "corretamente feitas" e “ifteis". = para a arte moderna 66 resta fazer obras apenns "belas". © subjetivisne e o esteticismo da arte moderna,(acentuado no romantismo, mas presente em toda Idade moderna), consequéncia da expulsro do ertista ds grande correnteze da modernidade em direpSo da objetividade cient{fica e técnicay do "prom gresso". { arte moderna vai formar espécie de ilha de subjetividade, de ghetto. F & essa ‘solidio do artista, euse seu desterro do progresso geral, que faz com que ele se retire para o seu {ntino e acentue sua vivéncia subjetiva. que foga "obras incor retas e iniiteis". Por certo: obra humana alguma 6 isenta de dimensces epiatemologi~ cas e pol{ticas, porque conhecimento, valor e vivencia s20 inseparavels. :6 obras da arte moderna, elas tumbém, tém impacto sobre o conhecimento e o comportamento ds sociedade. Mas o que imports & 0 isolomento da arte moderna. Poiv a erte socicldgion & movinento que se origina em tal crise da subjetivi- dade da arte, mas movinento que transborda para « crise da objetividade da ciéncia, « mais especialmente para a da sociologia. 0 primeire motivo dos artistas sociologico: @ 0 de omancipar a arte do seu subjetivismo e esteticiamo, do seu ghotto. Vas logo se acrescenta um segundo motivo, o de aproveitar-se da crige da objetividade socio- légica como brecha pare a penetregso do fazer art{stico ns vida quotidians. & Arte socioldgica & movimento que porte da crise da arte rumo a crise da sociologia, que parte da crise do subjetividade runo a crise da objetividade. Sua neta 0 do supe~ rar esses crises por intersubjetividede. Arte socioldgica 6 um fazer que nao 6 mais nem arte moderns, nen sociologia moderns, mas que quer ser simultsnenmente arte e so: ciologia em nivel novo, intersubjetivos

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