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Indices para catatogo sistematico: interpretasto incompretasto pp =a OU (4 Francisco Teixeira T M Celso Frederico FrUaughy So pete iy MARX, WEBEREO MARXISMO WEBERIANO Pedigio wrigresio Ssh "Nentuuma parte desta obra pose ser reproduaida ou duplicada sem autorizagioexpressa doe autores edo exitor ©2010 by Autores Dirwitos para esta eigio ‘CORTEZ EDITORA Rua Monte Alegre, 1074 Perdizes (5014-001 - Séo Paulo -SP www cortezeditora combr Impresso no Brasil - fevereio de 2013 Sumario APRESENTACAO... PARTE I Uma leitura critico-comentada de A ética protestante e o “espirito” do capi (Para um ensaio comparativo entre Max Weber & Karl Marx) Francisco José Soares Teixeira lism INTRODUGAO Sociologia e histéria na “construgéo” do objeto de estudo de A ética protestante de Max Weber CAPITULO 1 Consideragies preliminares.. 1. Objeto de estudo de A ética protestant 2. Confissao religiosa e estratificagio social CAPITULO II © “espirito” do capitalismo... CAPITULO Ill Oconceito de vocago em Lutero. Objeto da pesquisa wn. CAPITULO IV A ideia de profissio no protestantismo ascétic 1. Introdugdo: O desencantamento do mundo... 69 BB TERERA « FReDERES EWeber n; nada pode adi door ada pode adiantar. Ain, do gue ainda nko abe neon ae Pal. cinco ae nad ‘imentos do ais pep campo pantenna® tomo & Nada mais Poa em disse cao com precisdo, cone Ooibit08de valor onderads eee ara ea wane gS RE® no enconte san ne eae armen eons _ ara se apoiar, um tran, NBN om gen pane Eee TONE Que diabos! Lé fora p seal fora parece que s6 ha trevas, um si eee o CAPITULO VI Weber com Marx, contra Marx 1. Com Marx? De certa forma, sim. Ainda que nao se referira diretamente a Marx, ‘Weber confessa, nas titimas linhas d’A ética, que no tem cabimento substituir ‘uma interpretaggo causal uni da cultura e da historia por uma outra espiritualista, também unilateral. Ambas sio igual mente possiveis, mas uma e outra, se tiverem a pretensio de ser, no uma ‘etapa preliminar, mas a conclusio da pesquisa, igualmente pouco servem A verdade historica. Weber no desaprova a interpretagao materialista da histéria, des- de que ela nao tenha a pretensio de ser uma pesquisa unilateralmente causal e conclusiva. Conclusiva, néo! Tal pretensio, diria ele, seria um absurdo uma vez que “o fluxo do devir flui incessantemente ao encon- tro da eternidade”, como assim o diz em Economia e sociedade. Conse- quentemente, todo conhecimento 6, portanto, necessariamente finito, parcial e provavel; ndo é capaz de exaurir a realidade, que é sempre LA dic, p16. oe TEXEIRA FREDERICO qualquer sistema aca- Weber dirige ao materialismo histérico fende que aquela concepsa 2 concepsao de historia 2 fechado fe conceitos, no qual a realidade é sintetiza- frutiva. Ora, diz o aut seria uma in; i seria uma ingenuidade Ser encerar a historia mum co atticulado e detinitivo de tos, quando se sabe que os problemas culturais, que hoje movem lanidade, renascem sempre e sob diferentes aspectes. Por isso, 0 7 lo menos enquanto uma espécie de chinesa” nao desacostumar os seres human fazer perguntas a vida ms Ramanos “imobilidade Apesar disso, Weber acredita que o materialismo histérico 6 de gran- de valis para entender os problemas sociais e culturais da humanidade, desde que purgado do seu pecado metafisico, isto é, de sua pretensio de conhecer 0 futuro como se este jé estivesse desde sempre e para sempre determinado. : Feito este reparo, é necessério ainda livrar 0 materialismo histérico de sua pretensio de reduzir a explicagio dos fenémenos sociais e culturais unicamente & sua determinacéo causal econémica, conforme assim en- tende Weber, Para ele, a base material, a economia, nao & capaz, por sis6, 1; a dimensao espiritual é fundamental, talvez mais do , para que se possa compreender o curso dos acontecimen- Ora, se a realidade nao pode ser reduzida unicamente a sua dimen- ‘so material, tampouco parcialmente & sua dimensao espiritual, ndo es- taria Weber a propor uma “sintese”, uma espécie de “amélgama”, entre esses dois “métodos”, uma vez que, para ele, nenhum dos dois € capaz de, unilateralmente, explicar as determinagSes causais dos problemas sociais e culturais da humanidade? — Parece que sim; mas com a ressal- va de que, para ele, sio as ideias que determinam a dirego do curso dos acontecimentos histéricos. Com efeito, no as ideias, mas os interesses (materiais e ideais) € que dominam direta- mente a aco dos humanos. O mais das vezes, as “imagens do mundo” [MaaX, WEBER E 0 MARKISMO WEBERLANO criadas pelas “ideias” determinaram, feito manobristas de linha de trem (0s trilhos nos quais a ago se vé empurrada pela dinamica dos interesses* Num artigo datado de 1980, em sua edigdo em inglés, Tenbruck co- loca as coisas no seu devido lugar, quando diz que, ““nio obstante 0 fato de que a agdo humana é motivada diretamente por interesse", (..) ocorrem periodos na hist6ria cuja dirego a longo prazo é determinada pelas ideias de tal maneira que os homens podem se esfalfar até a morte na persecucdo dos seus interesses, mas no longo prazo a égua dda historia € conduzida pelo moinho das ideias, e as agdes dos homens "ideias” ele mesmo pondo as aspas? Tenbruck explica: les pontos de vista suprapessoais que articulam os do mundo”, mais precisamente, elas devem sua exist busca, intelectual da narrativa coerente clo mundo e, como tal, so criadas predominantemente por grupos religiosos, profetas e intelectuais.? Com o perdao do trocadilho, Tenbruck coloca as ideias no seu devi- do lugar. Com efeito, ainda que os interesses materiais desempenhem papel importante na determinagao do curso da histéria, as ideias so 0 “yetor” direcionador das ages humanas; so elas que alinham, tal como “manobrista de linha de trem”, os trllhos sobre o qual deve correr 0 bon- de da historia da humanidade. E sob essa premissa metodologica que deve ser lida a Histéria geval da economia (HGE), redigida em 1919-1920, trabalho no qual Weber faz ‘uma longa investigacio das condigées materiais que deram origem ao capitalismo ocidental. Mas, como somente no Ocidente o capitalismo pode desenvolver-se plenamente, ele no pode deixar de seinterrogar sobre as razbes dessa seletividade histérico-geogréfica. Sua resposta nao poderia "ax Weber opud Ando Fivio Perc dsencelamenta demande, 3 1 Faedrck H. Tenbruck, The problem of thematic unity in the works of Max Weber Jounal Soology 3, 35.1975, opu Antnio Fv Peru O deencntament pm. TEOEIRA « FReDEsIco "WARK, WEEEREO maa WEEE; WO }0S0, Sem o qual ndo se teriam libe- ionais, Marx, no Manifesto com nista, a profetizar aruina do capitalismo. As pric en ‘meias crises, com sev. varéter peri nntra no capitulo IV dessa obra, Nele, ‘ansformagdes econdmicas que deram Weber int Asempresas. origem ao, "M0, Para depois ressaltar a racionalidade d Duas coisas merecern ser destacadas nessa passagem. A primeira & intelectual-religiosa, se Fae aNore & qual essas transformagies nio teriam forcas suficientes para detonar 0 processo de racionalizagdo oeidental Acompanhando si digo prévia para a exis da contabilidade racional do capi le comeca sublinhando que a con- ismo modemo foi o surgimento |, como norma para todas as grande: empresas hucrativas, qu: satifinem as necesidadeshumanes oreo de coisas destinadas & venda no mercado. Mas a contabilidade racional apenas um pré-requisit» para a existéncia das empresas capitalistas,nio é, portanto, uma causa para fazer nascer essas empresas. Para que elas Possam existir como uniclades de capital, pressupde-se; (I) a apropriagéo de todos 0s meios de produgio como propriedades livres das empresas isto é, a existéncia de uma classe sem propriedade, por isso obrigada a vender livrernente sua forga de trabalho no mercado; (6) a existéncia de um mercado de valores para a comercializagio de tftulos, notadamente titulos da divida pablica interna. Accriagdo de um mercado de valores desempenhou papel fundamen- tal para odesenvolvimer: 0 do capitalismo. Mas esse mercado foi também. responsavel pelo surgimnto de seguidas crises de especulagio, dentre as quais Weber destaca : escandalo das tulipas, no Holanda, em 1603. Porém, este nao foi um ‘80 repousa sobre o crédito, quando entio o crédito subitamente cessa ¢ passa apenas a valer pagamento em espécie, tem de sobrevir evidentemen- te uma crise, uma corrida violenta aos meios de pagamento. A primeita rise toda se apresenta, portanto, apenas como uma crise de crédito monetaria. E de fato trata-se apenas da conversibilidade das letras mpras.e ve ue ultrapassa de longe as necessidades sociai esté, em ultima instancia, na base de toda crise. Ao lado disso, entretant tras representa negécios merament fraudulentos que agora ver dia e estouram; além de espect {feita com capital alheio, mas fracassada;e, finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até invendaveis (..). Todo esse sistema artificial de ex- curado todos os caloteiros, em seu papel, 0 capital que lhes falta e comprar todas importante tambérn do ecanbica do peri NAR, WEBER E 0 MARKISHO WEBERIANO as mercadorias desv: tudo aparece aqui © processo se torna incompreer centros de produgao.* ‘Nessa passagem, Marx afirma o contrério do que pensa Weber: as especulagées financeiras sio consequéncias e néo causas das crises recor- rentes do sistema. A primeira vista, tem-se a impressao de que elas sio a causa da crise, Mas isso assim acontece porque as conexdes de todo o processo de reproducio descansa sobre o sistema de crédito, que cessa subitamente de financiar a produgio t&o logo a expansio forgada da de- manda esbarre nas barteiras criadas pelo préprio capital. Como assim? [No Manifesto comunista, Marx e Engels explicam como essas barreiras si0 cwiadas, superadas e recriadas e como se tornam cada vez mais estreitos ‘06 limites de crescimento do sistema. Dizem, entio: 1m suas relagbes de produgio e de troca, o regime sociedade burguesa moderna, que conjurou produgio.e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que j& 1 0s poderes infernais que invocou. Ha dezenas de anos, ‘e do comércio néo ¢ sendo a historia da revolta das fore vas modemnas contra as modernas relagdes de producto, contra as relagSes de propriedade que condicionam a existencia da burgue sia e seu dominio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se pperiodicamente, ameagam cada vez mais a existéncia da sociedade burgue- ‘5a, Cada crise destr6i regularmente ndo s6 uma grande massa das proprias orcas produtivas jécriadas. Uma epidemia, que em qual pparecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade —a pprodugio. A sociedade vé-se subitamente reconduz ‘barbérie momenténea; como se a fome ou uma guerra de exterminio hou ‘yessem Ihe cortado todos os meios de subsisténcia; o comércioe a indtistla a sociedade burg nia da super ‘a-um estado de Kar Mare O cop: etn da economic, SP 22-2 TENEIRA FREDERICQ um lado, pela destruig!o tivas;e de outro, pela con intensa dos antigos. A cu violenta de grande quantidade de forcas produ ista de novos mercadios pela exploracio mais 'va isso? Ao preparo de crises mais extensas e ‘mais destruidoras e 8 minuigio dos meios para evité-las? Marx e Engels nao prderiam ter sido mais precisos, para néo dizer didaticos. Para eles, espevialmente para o autor de O capital, as crises Tecorrentes do capitalism: so resultados de suas contradigOes intemnas, embora aparecam, inicialehte, como crises financeiras, e assim tem de ser, pois todas as conexées do sistema repousam sobre o crédito. Mas so suas contradigdes interna: que criam barreiras & expansio da producdo capitalista, uma vez que 2 finalidade da produsao é a produgdo para 0 capital endo para o consu~o. Afinal, capital 6 dinheiro que se transforma em mais dinheiro; e somente dentro desse movimento, sempre renovado, © dinheiro pode se transfcrmar em capital; sem a repeticao continua des- se movimento, 0 dinheito petrifica-se e, portanto, néo pode valorizar-se como capital. Por isso, 0 movimento do capital é insaciavel. Essa insaciabilidade o capital o leva a criar, recorrentemente, uma produgio maior do que a cpacidade de digesto do mercado. Resultado: © movimento de autovalorizagao do valor é interrompido e s6 volta a se normalizar depois da desteuigo massiva das forcas produtivas; depois de uma “limpeza” do men-ado das unidades de produgao nao competi- tivas. Abre-se, entéo, um novo ciclo de prosperidade até que, de novo, 0 ‘excesso de produgao ultre)passe a capacidade de realizagio do mercado. 9 Karl Mary Friedrich Engels, Aanifsto commis, p. 8 AR, WEBER E 0 MARSNO wee RAN Assim, como disia Marx, a producto capitalista cia barrerasa sua propria expansio e, constanterente, procura superé-las, mas s6 as supera por meios que lhe antepdem novamente essas barreiras e em escala mais podlerosa, (Chega de confrontar a leitura que Weber faz. de Marx. Este nfo é 0 lugar mais adequado desse confronto, uma vez que ainda néo foram acompanhados todos os passos de seu raciocinio, isto é, da analise que faz. das condigoes prévias que deram origem ao desenvolvimento do ‘capitalism. Somente depois, entéo, ¢ possivel expor as divergéncias que ele desenvolve num didlogo implicito que estabelece com o autor de O capital, que atravessa ndo s6 a HGE como toda a sua obra, de forma qua- se imperceptivel aos olhos do leitor menos atento. Afinal, contam-se nos seu saldrio. Como assim? Imagine-se, por exemplo, que a classe capita lista passou a vida a trabalhar para acumular seu patriménio, que, ag0r% ‘0. hid, p. 14041 NAB, WEBER € 0 MARKO WEBERIAND pode usé-lo para contratar trabalhadores — homens que nio se importa- vam com 0 amanha nem tinham forca de vontade para poupar uma parte do que produziam. Por isso, séo obrigados a trabalhar para aqueles ‘que, com tanto sacrificio e privagées, guardaram um pouco de tudo que conseguiram juntar com “suor do seu proprio rosto”. Assim, o mundo dividiu-se em duas grandes classes, para falar de acordo com a teoria liberal tio a gosto da economia politica burguesa. E dai que parte Marx, desse pressuposto de que a propriedade da classe capitalista ¢ fruto do seu trabalho pessoal. Em seguida, imagina que esses. her6is da abstinéncia amealharam, durante toda sua vida, um patriménio de 1.000 libras esterlinas, que, agora, pode utilizé-lo para dar trabalho Aqueles que passaram a vida gastando tudo 0 que produziam. Em com- pensacio, pelo sactificio que realizara no passado, a classe capitalista cobra, em cada perfodo de produgao, 200 libras sobre esse patriménio acumulado. Que acontece ao final de 5 anos? Marx responde: se a mais-valia produzida periodicamente, por exemple, anualmente, por 1.000 libras esterlinas, for de 200 librasesterlinas,e se essa ‘consumida todos os anos, é claro que, depois de repetir-se 0 ‘mesmo processo durante 5 anos, a soma da mais-valia consumida serd =5 x 200, ou igual ao valor do capital originalmente adiantado de 1.000 libras estertinas.® Conctusio: Ao final de cinco anos, nao subsiste nenhum atomo de valor do antigo capital. Este foi totalmente restituido a classe capi a pela classe trabalhadora, que continua na mesma situagio obrigada a vender sua forca de trabalho em troca de um salério, uma ‘vez que 0 capital de 1.000 librasesterlinas ainda continua nas mos dos capitalistas. Dificil de entender? Que nada! Quando a classe capitalsta adianta ‘suas 1,000 libras esterlinas para pagar os salarios dos trabalhadores, estes devolvem 0 mesmo valor aos seus donas, quando compram deles as _mercadorias necessérias a sua sobrevivéncia sto sem falar da mais-valia “EL Kar MARX, O copia: etn da economia politica v2 p15. r—— TTEKERA « FREDERIED de ea ras, Aue cles, trabalhadores, criaram durante cada eriodo i ada perio cre ee HE aoe por oly cog ee mpresta ), 00 a 2.3% a0 més. No final do prin m do primeiro ma Tie Bede pogar ovale ttl do empritimo pope eet ecer. Resultado: no quinto ;9u de juros 0 equival emprestado (RS 20,00 » 5), e, ainda assim, R$ 100,00. E assim que o reino de éden, onde tudo € liberdade, igualdade e Propriedade, desmorona como um castelo de areia. O que era iberdade Se transforma em nio liverdade; a igualdade, em nio igualdade e a pro- Priedade, em nio propriedade. Como explica noutra passagem, continua devendo os mesmos ‘na medida em que cida transaglo isolada corresponde constantemente & lei do intercambio > mercadorias, isto é, o capitalista sempre compra a forca de trabalho e > trabalhador sempre a vende, e queremos mesmo admitir que por seu valor real, a lei de apropriagio ou lei da propriedade privada, baseada na jyrodugo de mercadorias ena cireulagio de mercado- rias, evidentemente se vonverte mediante sua prpriadaltica interna, nev em seu contririo dret:. O intercimbio de equivalentes, que apareceu 8 operacéo original, s torceu de tal modo que se troca apenas na aparéncia, pois, primeiro, a parte do capital que se troca por forga de trabalho nada ‘mais é que uma part: do produto do trabalho alheio, apropriado sem equi- valente,e segundo, ea ndo somente €reposta por seu produtoro trabalha- dor,comoeste repé-la com novo excedente. A relacio de intercimm- bio entre capitalist: e trabalhador torna-se portanto mera aparéncia pertencente ao proce:so de circulaglo, mera forma, que éalhela 20 proprio conterido e apenas 0 nistifica. A continua compra e venda da forga de tra- balho € a forma. O contetido € que o capitalista sempre troque parte do tabalho alheio objetivado, do qual se apropriaincessantemente sem equi- valente, por um quaiitum maior de trabalho vivo alheio. Originalmente, 0 Aireit de propriedade warecew-nos fundado sobre o proprio trabalho Pelo menos tinha que valer essa suposigio, j6 que somente se defrontam possuidores ‘de mercadorias com iguais direitos, eo modo de apropriagso de mercado- Ha atheia prem €ap: nasa alinaco da propria mercadra eet pode =r produzida apenas me diante trabalho. A propriedade aparece agora, do lado MARX, WEBER CO MARDISMO WEEERIAND 165 seu produto; do lade do trabalhs consequéncia necesséria de uma lei que, aparentemente, sua identidade.® se originava em Assim Marx demonstra 0 segredo da mais-val da liberdade, igualdade e propriedade, no qual se compra e venda da forga de trabalho, inverte-se num “mundo” em que a iinica liberdade de que dispée o trabalhador é a de escolher, quando encontra, um patrio a quem vende sua capacidade de trabalho. A pro- Priedade, aparentemente originada do trabalho, do suor do rosto de cada capitalista, transforma-se num direito de apropriacio do trabalho alheio ‘do pago. A igualdade, por sua vez, converte-se numa no igualdade uma vez que o trabalhador ¢ obrigado a produzir um valor que seja suficiente para pagar o seu salério e ainda restar algo a mais para pagar o lucro do capitalista. to €: como reine Isto € tudo que a critica da economia politica pode fazer: desvendar ‘osegredo da producio da mais-valia. O resto fica por conta da luta, cujos resultados Marx nio tinha como prever. Como predizer o que ainda no aconteceu? A luta de classes resolve-se no campo das batalhas, onde tudo épossivel. As armas da critica, portanto, ndo podem prescindir da critica das armas, diria ele. Nao tem cabimento, pois, acusar Marx de necessitarismo histérico, como assim dé a entender Weber. Tampouco censuré-lo de reducionismo econdmico. Como fazé-lo se, para ele, a génese do capitalismo nio se realizou apenas pelo concurso de forgas ou relagdes econémicas? Uma leitura do capitulo XXIV, de O capital, em que ele investiga o processo de acumulagio primitiva do capital, mostra claramente que o nascimento do capitalismo dependeu de guerras, conquistas, intervengio estatal, lutas religiosas e reformas juridicas, entre outras coisas. Como, ent combinar todos esses fenémenos econémicos, politicos, eligiosos, juri- dicos ete, para reduzi-los a uma relagdo de causalidade unilateral? 1G Karl Marx Oca eto economia politics, 2p. 166 ‘TEDEIRA + FREDERICO Assim como Marx nao tem uma filosofia da tampouco pode ser acusado de reducionismo econdmico. Quer dizer, entao, que a critica de Weber deve ser esquecida, desprezada? Nao é bem assim! O que aqui esté em jogo é 0 confronto de dois projetos de saber que se situam em polos epistemol6gicos radicalmente distintos. O autor d’A ética parte do pressuposto de que hd uma separagio abissal entre o sujeito do conheci- ‘mento ¢ a realidade a ser investigada. Esse abismo, que separa o sujeito © 0 seu objeto do conhecimento, como visto na Introdugio deste texto, deve-se ao fato de que a realidade é um “entulho amorfo” de aconteci- ‘mentos, um emaranhado infinito de relagdes sociais. O pesquisador s6 pode destacar dessa imensidade um fragmento infimo para objeto de estudo. Por essa razao, 0 cientista jamais poderé esgotar o conhecimento de uma totalidade histérica, como o capitalismo, por exemplo. Nem po- devia, diria Weber, pois o fluxo do devir é incomensuravel e lui incessan- temente ao encontro da eternidade. Além do mais, acrescentaria que 0s acontecimentos historicos de uma época sao varidveis e podem ser apreen- didos sob diferentes perspectivas. Dai a razio por que, para Weber, a objetividade ndo pode ser deter- minada com base na matéria, na realidade, mas apenas metodologica- mente. £ 0 sujeito do conhecimento, portanto, quem atribui sentido & realidade, uma ver, que esta se apresenta ao pesquisador como um amon que “rola através do tempo", sem cessar e de forma sempre cambiante. f preciso, pois, emprestar uma ordem rmetodolégica & realidade, sem a qual néo se pode conhecé-la. Esta é 8 fungao dos conceitos tipico-ideais, construidos pelo pesquisador, para que ele possa investigar 0 curso provavel dos acontecimentoshistéricos ‘Com a condigao de que quanto mais vazios de conteiido, isto é, quanto mais vazios de realidade, melhor esses conceitos podem cumprir sua ca. Que o diga Weber, para quem, toado caético de acontecimentos, fungao heuris iequivocamente se construam esses tipos ideais, jam, neste sentido, tanto melhor presta- (ria, bem como heuristicamente. quanto mais nitida e in ‘quanto mais alheios ao mundo este rao seu servigo, terminologica, classificat a MAR, WEBER E 0 MARXISHO WEBERIANO Na prética,ndo pretende de outra forma, a imputacio causal concreta que ‘a histéria faz de acontecimentos isolados (..) £ dai que Weber dirige suas criticas a0 materialismo histérico e, in- diretamente, a Marx. Sua critica é, portanto, externa a concep¢ao de saber de Marx, para quem as categorias que articulam a inteligibilidade do real sao da ordem do ser e do pensar. Consequentemente, o autor de O capital recusaria a exigéncia weberiana de separar o sujeito que conhece ¢ 0 objeto a ser conhecido. Para ele, 0 sujeito do conhecimento jé se depara ‘com uma realidade em si estruturada, objetiva, gracas @ atividade do hhomem como atividade sensivel, pois a realidade hist6rica é um proces- 80 no qual se objetivam o trabalho humano e, com isso, a consciéncia humana. Nao sem raz4o, para Marx, ‘0 “espirito” js cartega de antemdo consigo a maldigao de estar “acometido’ pela matéria, que aqui se manifesta sob a forma de camadas de ar em mo- vimento, de sons, em uma palavra, sob a forma de linguagem. A linguagem tio velha quanto a consciéncia: a linguagem € a consciéncia pritica, a ‘consciéncia real, que existe também para os outros homens e que, portanto, comesa aexistir também para mim mesmo;a linguagem nasce, assim como a consciéneia, da necessidade, da caréncia do intercimbio com 0s demais homens (..).A consciéncia é, portanto,jé de antemiio um produto social, ¢ co seguir sendo enquanto existirem seres humanos- Marx entende, portanto, que a consciéncia humana, em sua forma € contetido, é sempre histérica, determinada pelo processo histérico. Com propriedade, Kocka, dai extrai duas consequéncias: a realidade no precisa, por principio, serena e extra a0 entendi srentoracional do home usa vez quel crescentementemediada plo rrepaoe pelo ato de que a conscdncatornada pet ajuda nasi cons trae (_) Porouto lado, aoneciéncia nfo se aproxima da realdadecom a eréncia Ramana no éresuma absta categorias estranhas 8 coisa “Fu Max Weber, Eom ocd fundamaenios da socologia compreensive. 1p. 13 {5 Kast Manx Fidrich Engat, A evo aed 53. TEIKEIRA » FREDERICO Para concluir, que posigio tomar diante dess: Negara ica que Weber siti © objetivo dessa comparas ideok s¢ confronto? Aceitar ou ige a Marx? Nem uma coisa nem outra, pois 20 nao é assumir uma Posicaéo meramente @, pr6 ou contra um e outro, e, sim, mostrar que a critica webe- Hana s6 tem sentido quanto se tem consciéncia de que ela se opde a um projeto de saber, que é radi-salmente opostoa ela. Endo s6 isto. Ainda que 0 objeto de investigacao de ambos seja o mesmo, a sociedade capitalista, © que move o interesse de cada um é essencialmente distinto. Weber, como visto no inicio, no est4 preocupado em investigar 0 capitalismo como sistema econdmico, mas, sim, 0 “espirito” do capitalism ra capitalista moderna, o niodus vivendi das pessoas na condugao met6di- ca da vida cotidiana. Mars quer mais do que isto: desvendar o segredo coculto da mais-valia, desmistificar as falsas ilusdes criadas pelo fetichismo da mercadoria, que carregs. consigo nao apenas a mistificagao, mas tam- ‘pém a dominagao econdmica, cultural e politica; quer levar as armas da critica até onde nao possam mais prescindir da critica das armas. “6. Jurgen Kocka, Objto, once Interese, p 2. SBR PARTE I Marxismo weberiano

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