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Cena Lusófona

n.º 10 Junho 2010 ISSN 1645-9873

Rua António José de Almeida n.º 2, 3000 - 040 COIMBRA Portugal telef. (+351) 239 836 679 | teatro@cenalusofona.pt | www.cenalusofona.pt distribuição gratuita

festivais
de teatro na
lusofonia
setepalcos
lançamento Lisboa,
Coimbra e Porto

à conversa com
Creusa Borges
rostos da Cena
José Amaral
Colecção Cena Lusófona
As Virgens Loucas
de ANTÓNIO AURÉLIO GONÇALVES
editorial
Cabo Verde
Teatro do Imaginário Angolar No decorrer do levantamento dos Festivais de Teatro na Lusofonia,
de FERNANDO DE MACEDO
São Tomé e Príncipe
publicado neste jornal, ensaiámos o exercício gráfico de os calendari-
Supernova zar. O resultado é surpreendente: entre meados de Maio e meados de
de ABEL NEVES Outubro, praticamente todos os dias decorre um festival, em alguma
Portugal
cidade de um dos países de língua portuguesa. Na outra metade do
As Mortes de Lucas Mateus
de LEITE DE VASCONCELOS
ano, apesar da menor intensidade, todos os meses se realiza pelo me-
Moçambique nos um festival (ver rodapé das págs. 4 a 7).
Teatro I e II Procuramos referenciar os principais festivais internacionais de teatro
obra dramatúrgica
de JOSÉ MENA ABRANTES
realizados na lusofonia e salientar aqueles que, independentemente
(dois volumes) da dimensão ou do historial, apostam numa programação lusófona.
Angola
Trata-se, nesta medida, de uma actualização do trabalho publicado no
Mar me quer
de MIA COUTO e NATÁLIA LUIZA número 5 do cenaberta, assumindo o carácter ainda incompleto da
Portugal / Moçambique lista que agora apresentamos.
Teatro Registamos com muito agrado o recente surgimento de vários festi-
obra completa
de NAUM ALVES DE SOUZA vais centrados no intercâmbio entre os países de língua portuguesa,
Brasil como o FESTLUSO, o FESTLIP, o Circuito de Teatro Português de São
Paulo (Brasil) e o Festival de Teatro e Artes de Luanda (Angola). Todos
Revista setepalcos estes festivais estiveram representados no Encontro Internacional
(esgotados números 0, 1 e 2)
N.º 3 – Setepalcos especial sobre TEATRO BRASILEIRO sobre Políticas de Intercâmbio organizado pela Cena Lusófona no pas-
N.º 4 – Setepalcos especial sobre TEATRO GALEGO
N.º 5 – Setepalcos especial sobre RUY DUARTE DE CARVALHO
sado mês de Dezembro. Aí se percebeu a importância destas iniciati-
N.º 6 – Setepalcos especial sobre TEATRO EM CABO VERDE vas para o aprofundamento das relações de conhecimento e de troca
no seio da comunidade teatral de língua portuguesa.
Floripes Negra O facto de diferentes grupos e artistas partilharem um tempo e um
Floripes na Ilha do Príncipe, em Portugal e no mundo
de AUGUSTO BAPTISTA espaço de apresentação dos seus trabalhos, ampliado pela dimensão
Álbum Fotográfico / Reportagem / Ensaio
festiva, pelo efeito mediático e pelos momentos de debate (formais
e informais), contribui para aumentar as reais possibilidades de inter-
AVEIRO LISBOA BRASILIA
Livraria da Universidade Livraria do Teatro Nacional Livraria Cultura câmbio no espaço da lusofonia. Encarados como um instrumento e não
de Aveiro D. Maria II Casapark Shopping Center como um fim, os festivais devem por isso ser considerados elemento
Campus Universitário Praça D. Pedro V SGCV Sul, Lote 22 4 – A
3810-193 Aveiro 1100-201 Lisboa Zona Industrial, Guará importante (entre outros) de qualquer política cultural que vise
CEP 71215 100
(+351) 234 370 200 (+351) 213 250 860
Livraria Barata Brasília, DF
aproximar os agentes teatrais de língua portuguesa.
BRAGA Av. de Roma, 11 A Tel.: (55) 61 3410 4033 No levantamento incluímos os festivais que assumem uma certa
Theatro Circo 1000-047 Lisboa
Avenida da Liberdade, 697 (+351) 218 428 350 PORTO ALEGRE regularidade e cujos organizadores estão a preparar, com maiores ou
4710-251 Braga Livraria Ler Devagar Livraria Cultura menores dificuldades, a sua próxima edição. Não considerámos nesta
(+351) 253 203 800 Rua Rodrigues Faria, 103, Bourbon Shopping Country
100ª Página Edifício G03, LX Factory Avenida Túlio de Rose, 80, Loja lista a Estação da Cena Lusófona, o festival que nos propusemos orga-
AV. Central, 118-120 1300-501 Lisboa 302
4710-229 Braga (+351) 213 259 992 CEP 91340 110 Porto Alegre, RS nizar desde a fundação da associação e já com seis edições: Moçam-
(+351) 253 267 647 Livraria Escolar Editora Tel.: (+55) 51 3028 4033 bique (1995), Brasil (1996), Cabo Verde (1997), Portugal (1999 e 2003)
Edifício Caleidoscópio
COIMBRA Jardim do Campo Grande RECIFE e São Tomé e Príncipe (2002). O facto de se assumir como iniciativa
Teatro Académico de Gil 1700-089 Lisboa Livraria Cultura
Vicente (+351) 217 575 055 Paço Alfândega rotativa, com importantes impactos sobretudo em países onde não
Praça da República Livraria Portugal Rua Madre de Deus, s/n
CEP 50030 110 Recife, PE
havia nenhum festival internacional (nomeadamente nos países afri-
3000-343 Coimbra Rua do Carmo, 70-74
(+351) 239 855 630 1200-094 Lisboa Tel.: (+55) 81 2102 4033 canos), confere-lhe uma singularidade e um interesse específico que
Teatro da Cerca de (+351)213 474 982
S. Bernardo SÃO PAULO acreditamos se mantêm, 15 anos depois da primeira Estação.
3000-097 Coimbra PORTO Livraria Cultura As circunstâncias em que a Cena Lusófona trabalha actualmente não
(+351) 239 718 238 Teatro Nacional São João Conjunto Nacional
Praça Batalha Avenida Paulista, 2073 lhe permitiram ainda retomar as Estações. Esperamos contudo poder
ÉVORA 4000-102 Porto CEP 01311 940 São Paulo, SP
Teatro Garcia de Resende (+351)223 401 900 Tel.: (+55) 11 3170 4033 concretizar a sétima edição ao longo do próximo biénio, em articu-
Praça Joaquim António de Aguiar Livraria Poetria Livraria Cultura lação com os novos festivais que entretanto surgiram, e de forma a
7000-510 Évora Rua das Oliveiras, 70 – r/c, loja 12 Shopping Villa Lobos
(+351) 266 703 112 4050-448 Porto Avenida das Nações Unidas, 4777 valorizar a dinâmica de criação teatral que ao longo destes anos tem
Livraria Nazareth & Filho (+351) 222 023 071 CEP 05477 000 São Paulo, SP
vindo a desenvolver-se, a diferentes ritmos, nos oito membros da
Praça do Giraldo, 64 Tel.: (+55) 11 3024 3599
7001-901 Évora VISEU Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Na busca de parceiros
(+351) 266 702 221 Teatro Viriato ESPANHA
Largo Mouzinho de Albuquerque VIGO para a viabilização deste projecto, interessa-nos priorizar os países
GUARDA Apartado 1057 Libreria Andel que ainda não acolheram a iniciativa, manter o carácter itinerante que
Casa Véritas Editora, Lda 3511-901 Viseu Rua Pintor Lugris, 10
Rua Marquês de Pombal, 55 (+351) 232 480 110 36211 Vigo, Galiza a caracteriza e assegurar regularidade. Agora, felizmente, numa pers-
6300-728 Guarda (+34) 986 239 000
(+351) 271 222 105 BRASIL pectiva de complementaridade – a única que faz sentido quando é de
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intercâmbio que se fala.
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edições.cena
cenaberta ficha técnica
A Cena Lusófona é uma estrutura financiada por:
Director António Augusto Barros | Coordenação e Fotografia Augusto Baptista | Redacção Augusto Bap-
tista, Patrícia Almeida, Pedro Rodrigues, Sandra Nogueira | Concepção gráfica Ana Rosa Assunção |
ISSN 1645-9873 | N.º 10 distribuição gratuita | Tiragem 2500 exemplares | Impressão Tipografia Ediliber |
Propriedade Cena Lusófona, Associação Portuguesa para o Intercâmbio Teatral, Rua António José
de Almeida, n.º 2, 3000 - 040 COIMBRA, PORTUGAL | Telef. (+351) 239 836 679
| teatro@cenalusofona.pt | www.cenalusofona.pt
imagem da capa: I Estação da Cena Lusófona, Maputo, 1995 (Augusto Baptista).

cenaberta 2
cenaberta Junho 2010

a cena no café Dragão7 em Coimbra


setepalcos lançada Inês de Castro
em Lisboa, Coimbra e Porto entre Portugal
A última setepalcos, integralmente dedicada ao Teatro em
Cabo Verde, foi apresentada ao público em Lisboa, Coim- e Brasil
bra e Porto, em sessões especiais de “A Cena no Café”.
A primeira apresentação decorreu a 31 de Março, em Lis- Paulo Soares agradeceu a oportunidade de conhecer e
boa, na Casa da Morna. Arnaldo Andrade Ramos, embaixa- olhar Cabo Verde numa perspectiva diferente e nova: “Li a
dor de Cabo Verde em Portugal, saudou o aparecimento da revista e fiquei extremamente espantado com o número e a
revista, referiu-se ao "trabalho muito justo" desenvolvido qualidade do teatro, dos grupos e dos espaços que nem eu
pela Cena Lusófona e confiou à assistência o "sonho de um sabia existirem no meu país”.
dia haver em Cabo Verde uma verdadeira escola de artes”. Odete Môsso, directora da “Burbur” (companhia de teatro
O director da revista e Presidente da Cena Lusófona, An- cabo-verdiana sedeada no Porto) salientou a importância
tónio Augusto Barros, recordou as iniciativas desenvolvidas do levantamento dos espaços cénicos, uma “coisa muito
com Cabo Verde desde o início da Associação. Por outro necessária para quem está em Cabo Verde e para quem
lado, “ao serem inventariados os espaços e os grupos, sen- está fora” e, dando expressão prática a essa importância,
timos que fomos úteis, nesta dezena e meia de anos. Mas os salientou: “Nós já sentimos a necessidade deste levanta-
cabo-verdianos souberam pegar nas coisas e avançar”. So- mento, o que nos fez atrasar imensos projectos”. Em forma
bre as salas de espectáculo no país, referiu: "Está na altura telegráfica, deixou uma mensagem da Burbur: “À cena stop
de agarrar nos espaços cénicos e não os deixar ruir. Terei o contentamento tem sido circular stop”. "Inês de Castro - Até ao fim do mundo"

muito desgosto se o Éden-Park, por exemplo, for demo- A Galeria Bar Santa Clara, em Coimbra, foi palco em
lido. Cada teatro que vai abaixo é uma perda para a cultura Uma grande rede de afectos onze de Maio de “A Cena no Café” com o grupo
e até para a cidadania”. O lançamento da revista no Porto ocorreu numa participa- Dragão7 de São Paulo, Brasil. Incluída na digressão em
Participaram ainda na sessão Odete Môsso, que actual- da sessão em 28 de Abril, no foyer do cinema Nun’Álvares. Portugal do espectáculo “Pedro e Inês – Até ao Fim do
mente prepara uma tese de mestrado sobre a dramaturgia Rui Madeira, vice-presidente da Cena Lusófona, definiu a Mundo”, a conversa alargou-se ao intercâmbio teatral
revista como o resultado de um projecto “que na Lusofonia e ao Circuito de Teatro Português de São
tem vindo a crescer e é hoje uma grande rede Paulo, festival organizado pelo Grupo.
de afectos”. Focando a grande experiência do Dragão7 e da sua
José António Bandeirinha, arquitecto e coor- directora, Creusa Borges, no desenvolvimento do in-
denador, no âmbito da Cena Lusófona, do tercâmbio teatral entre Portugal e o Brasil, Pedro Ro-
Inventário de Espaços Cénicos nos PALOP, drigues, membro da Cena Lusófona, chamou a atenção
destacou a importância da inventariação dos para as dificuldades que enfrenta quem se propõe tra-
espaços teatrais incluída na revista: “sem- balhar neste domínio: “Nós bem sabemos a batalha que
pre que nos deslocávamos a esses países, é organizar uma digressão deste género”.
aproveitávamos para medir, fotografar, Creusa Borges fez uma resenha do historial da com-
fazer levantamentos". A partir deste tra- panhia Dragão7, destacou a importância do intercâmbio
balho foi-se construindo uma base de da- regular na aproximação entre os dois países, aludiu à
dos, "com o objectivo de estar acessível a inspiração do trabalho desenvolvido pela Cena Lusó-
todas as pessoas que fazem teatro e se inte- fona na criação do Circuito que organiza em São Paulo:
ressam pelo intercâmbio”. Para o futuro, apon- “Conheci a Cena Lusófona no encontro Navegar é Pre-
tou duas intenções: fazer um trabalho mais ciso, em 1988, e começámos então com o intercâmbio.
académico sobre os espaços inventariados e Este ano faremos o 5.º Circuito de Teatro Português
Arnaldo Andrade Ramos, Embaixador de Cabo Verde, no uso da palavra.
concluir uma base de dados digitalizada e aces- de São Paulo, onde estarão representados grupos de
cabo-verdiana, e Augusto Baptista, coordenador editorial sível on-line, permanentemente actualizada. Portugal e de Angola”. Concluiu: “A acção da Cena foi
da Cena Lusófona, que salientou ter sido a “confluência de João Branco, director do Grupo de Teatro do Centro Cul- muito importante. E se o foi para nós, imaginem nos
muitas contribuições” que tornou possível esta edição. tural Português do Mindelo e do Festival Mindelact, salien- outros países. Foi o ponto de partida para o que somos
tou a oportunidade e a importância desta edição para o e fazemos hoje”.
"Stop" desenvolvimento teatral em Cabo Verde. Sobre o Éden- Sobre “Inês de Castro”, Creusa Borges (que assina a
A apresentação da setepalcos em Coimbra, dia 10 de Abril, -Park, no Mindelo, considerou que perder este espaço encenação) falou da intemporalidade de Pedro e Inês:
no Bar Quebra Costas, integrou a programação do mer- culturalmente emblemático “seria uma calamidade para a “o poder matando o amor, matando a vida”.
cado mensal que anima esta zona do centro histórico da história do teatro cabo-verdiano”. Questionado sobre a receptividade ao espectáculo em
cidade. Para além de Nuno Porto, membro da direcção da Flávio Hamilton, actor da Burbur, destacou o papel da Cena Portugal e no Brasil, Ralph Mazza, actor que interpre-
Cena Lusófona, na sessão participaram Maria José Azevedo Lusófona em Cabo Verde: “trouxe-nos uma capacidade de ta o papel de Pedro, referiu: “Eu noto uma diferença
Santos, Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Co- ver e de compreender tudo de forma diferente”. grande entre públicos. O brasileiro está vendo algo que
imbra, Paulo Soares, dirigente da Associação de Estudantes Augusto Baptista apelou à leitura e divulgação da revista, não conhece, logo está concentrado na história. Aqui
de Cabo Verde em Coimbra, Augusto Baptista e Odete para que ela possa ser útil em Cabo Verde e no espaço senti que as pessoas, como já conhecem a história,
Môsso. Nuno Porto, no que foi secundado por Augusto lusófono. centram-se mais na forma como a contamos”. Já Letí-
Baptista, assinalou o empenhamento da Cena Lusófona A encerrar a sessão, Carlos Machado, Cônsul Honorário cia Bortoletto, que dá corpo e voz a Inês, confessa o
na área editorial. Sobre esta setepalcos, disse-a traduzir o de Cabo-Verde no Porto, traçou uma breve história do carácter especial destes espectáculos em Portugal:
objectivo de a Associação divulgar a realidade teatral de teatro no país, viajando até aos anos 30 do século passado, “Ver todos os lugares onde a história aconteceu, acerca
Cabo Verde. Maria José Azevedo Santos elogiou a “hon- aos primeiros grupos e às primeiras representações. Num dos quais só lemos, lá longe, é uma grande emoção”.
radez científica e a investigação dos trabalhos apresen- registo informal, partilhou experiências pessoais, quer da Algo que terá efeitos sobre o espectáculo, reconhece
tados”. Sobre a falta de espaços cénicos qualificados infância e do “teatro que fazia no quintal”, quer enquanto Creusa Borges: “Depois de Coimbra, desde a primeira
em Cabo Verde, assinalou: “A Cena pode não ter a solução espectador, nas décadas de 50 e 60. E manifestou o desejo apresentação no Porto e a última em Alcobaça, o espectá-
para este problema, mas ajudará com toda a certeza”. de que o Éden-Park sobreviva. culo sairá fortalecido”.

cenaberta 3
cenaberta

festivais de teatro na CPLP


Muitos são os festivais que, no universo da CPLP, consagram as
artes de palco. Sem podermos ser exaustivos, aqui se dá eco
de alguns desses eventos.

Angola
tura (FMC) – através da união de duas propostas de festivais “Memória da Cana” (Os Fofos Encenam, de São Paulo) e “O
internacionais: uma de palco, feita pela direcção do Teatro Sobrado” (Grupo Cerco, de Porto Alegre).
Francisco Nunes, e outra de rua, feita pelo Grupo Galpão,
que já havia realizado duas edições do Festin-Festival Inter- FIT - Festival Internacional de
Festival Internacional de Teatro e nacional de Teatro de Rua, com apoio da própria Secretaria.
Artes de Luanda A primeira edição, em Junho de 1994, foi promovida pela
Teatro de São José do Rio Preto
LUANDA Prefeitura de Belo Horizonte, com realização conjunta do SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO
Periodicidade: Anual Periodicidade: Anual
Teatro Francisco Nunes e Grupo Galpão.
Próxima edição: Dezembro de 2010 (2.ª edição) Calendário: Julho
Define-se como um festival não-temático: a sua programa- 2010: 15 a 24 de Julho (10.ª edição)
Organização: Elinga Teatro
ção pretende juntar a “diversidade de linguagens à qualidade Organização: Prefeitura de São José do Rio Preto – Secretaria
Directores: Anacleta Pereira / José Mena Abrantes
Contactos: Largo Tristão da Cunha, 17, 1.º, CP 2730 Luanda artística”, evitando “o gigantismo e a superficialidade de Municipal da Cultura e SESCSP-Rio Preto
Telef: (+244) 222 394 540 / 912 221 215 eventos espetaculosos”. Em 2008, o Festival registava uma Director: Marcelo Zamora
elingateatro@gmail.com média de 100 a 120 apresentações por edição, assim reparti- Contactos: Praça Jornalista Leonardo Gomes, 01, Praça Cívica, 4.º
das: 60% de espetáculos internacionais, 20% nacionais e 20% andar, 15061-005, São José do Rio Preto, SP
A primeira edição do Festival Internacional de Teatro e Artes locais. Telef: (+55) 17 3215 1800
de Luanda ocorreu em Maio de 2008, no espaço do Elinga A 10.ª edição chegou a ser anunciada apenas para 2011 (tendo festivalriopreto@festivalriopreto.com.br
Teatro, no centro de Luanda. Celebrando o 20.º aniversário em conta o facto de 2010 ser ano de eleições e de campeo- www.festivalriopreto.com.br
do mais importante grupo de teatro angolano, o Festival foi nato do mundo de futebol), o que gerou bastantes críticas
realizado em parceria com o Ministério da Cultura de Angola entre a comunidade teatral de Minas Gerais. Em meados de Embora com apenas 10 anos no formato internacional, o
e com o Governo Provincial de Luanda. A programação in- Abril, no entanto, a FMC confirmou a realização do Festival Festival de Teatro de Rio Preto nasceu no final da década
cluiu representações dos vários países de língua portuguesa: em Agosto de 2010, com um novo modelo de organização: de 60. Em 2001, na sua 20.ª edição, passou a ter um formato
Portugal (Trigo Limpo e A Escola da Noite), Moçambique a curadoria é assegurada pelos directores da Fundação e a experimental e profissional – surgia o FIT (Festival Interna-
(Mutumbela Gogo e Galagazul), Guiné-Bissau (Os Fidalgos) e produção é assegurada pela Associação Pró-Cultura Palácio cional de Teatro de São José do Rio Preto), na versão em que
Cabo Verde (Grupo de Teatro do Centro Cultural Português das Artes. Para o segundo semestre de 2010, depois do Fes- hoje o conhecemos.
do Mindelo). De Angola, participaram os grupos Horizonte tival, está prometida a realização de um seminário com o Considerado uma das principais manifestações culturais do
Njinga Mbandi, Etu Lene, Oásis, Henriques Artes, Bismas das objectivo de discutir com os agentes culturais da cidade as país, o evento está entre os cinco maiores festivais de teatro
Acácias, Estrelas do Horizonte, Companhia de Teatro da directrizes de gestão do FIT em futuras edições. do Brasil e traz, a cada edição, novos conceitos do teatro
Lunda Sul e a Companhia Dançarte. Para além dos espec- contemporâneo, incluindo na sua programação criações
táculos de cada um destes grupos, a organização apostou na FILO - Festival Internacional de locais, nacionais e internacionais, que são apresentadas em
promoção de várias acções de formação teatral destinadas Londrina espaços fechados e locais públicos em diversos pontos da
aos actores e aos técnicos dos vários grupos de teatro da LONDRINA, PARANÁ cidade.
capital angolana. Periodicidade: Anual Com o tema “Conquista da Singularidade”, a edição de 2010
Prevista para Maio de 2010, a segunda edição do Festival Calendário: Junho caracteriza-se pela “ousadia, a busca pelo novo e o carácter
acabou por não se concretizar ainda, devido à dificuldade 2010: 10 a 27 de Junho (42.ª edição) experimental”. A programação inclui seis espectáculos inter-
em reunir os apoios necessários. De acordo com Anacleta Organização: AMEN - Associação dos Amigos da Educação e Cul- nacionais (Espanha, Uruguai, Estados Unidos, Chile,Alemanha
Pereira, uma das responsáveis pela organização, o Elinga pro- tura Norte do Paraná e Universidade Estadual de Londrina e Canadá) e 32 nacionais, entre eles seis infantis, cinco de rua
cura agora realizá-la em Dezembro. Mantendo a aposta no
Director: Luiz Bertipaglia e dez grupos de Rio Preto.
Contactos: Rua Cuiabá, 39, 86026-060 Londrina, PR
universo da lusofonia e do intercâmbio entre os países de Telefs: (+55) 43 3324 9202 / 43 3322 1787
língua portuguesa, o objectivo é garantir, a partir daí, uma luiz@filo.art.br / margarete@filo.art.br
Porto Alegre em Cena
regularidade anual. www.filo.art.br PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL
Periodicidade: Anual
Criado em 1968, o Festival Internacional de Londrina é o Calendário: Setembro
2010: 8 a 26 de Setembro (17.ª edição)

Brasil
mais antigo do continente e é considerado um Património
Organização: Prefeitura de Porto Alegre – Secretaria Municipal da
Cultural da Cidade, do Estado e do teatro brasileiro. Tor- Cultura
nou-se internacional em 1988, quando acolheu a primeira Director: Luciano Alabarse
Mostra Latino-Americana de Teatro no Brasil. Pelo FILO pas-
FIT-BH - Festival Internacional de saram entretanto nomes como Kazuo Ohno, Odin Teatret
Contactos:Trav. Paraíso, 71, Santa Teresa, 90850-190, Porto Alegre, RS
Telef: (+55) 51 3235 1120
Teatro Palco & Rua e Eugênio Barba, De la Guarda, Wim Vandekeybus & Última poaemcena@poaemcena.com.br
BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS Vez, Les Ballets C. de la B., Derevo, Volksbühne, Carbono 14, www.poaemcena.com.br
Periodicidade: Bienal Theatre des Bouffes du Nord, bem como os grandes nomes
Calendário: Agosto
do teatro brasileiro. Criado em 1994, o Porto Alegre em Cena sempre se des-
2010: 5 a 15 de Agosto (10.ª edição)
Na comemoração dos seus 40 anos, em 2008, o Festival rea- tacou pelo ineditismo e pela ousadia da sua programação,
Organização: Fundação Municipal de Cultura
Coordenadores: Rodrigo Barroso Fernandes, Solanda Steckelberg lizou um encontro de diferentes escolas teatrais, trabalhos levando à cidade alguns dos mais importantes grupos de
e Lúcia Camargo cénicos e linguagens. teatro, música e dança de todo o mundo – Peter Brook,
Contactos: R. Sapucaí, 571, Floresta, 30150-050 B. Horizonte, MG A edição de 2010 decorreu entre 10 e 27 de Junho e apre- Hanna Schygulla, Denise Stoklos, Madredeus, La Fura del
Telef: (+55) 31 3277 4366 Fax: (+55) 31 3277 1951 sentou mais de 50 produções, em mais de 110 espectáculos. Baus, Philip Glass, Grupo Galpão, Goran Bregovic, Zé Celso,
secretariafitbh@gmail.com A programação internacional incluiu 16 espectáculos de 14 Antunes Filho, Thalia Theater, Cida Moreira, entre outros.
www.fitbh.com.br grupos oriundos de Portugal (Companhia do Chapitô, com Apresenta uma média de 50 espectáculos (em praças públi-
“A Tempestade”), França, Espanha, Itália, Turquia, Alemanha, cas, teatros e espaços alternativos espalhados pela cidade)
O FIT-BH foi criado em 1993 por iniciativa da Secretaria Estados Unidos, Uruguai, Chile e Argentina. Do Brasil, grupos e envolve 100 mil espectadores por edição. Assume como
Municipal de Cultura – actual Fundação Municipal de Cul- de 11 cidades apresentaram 36 espectáculos – destaque para responsabilidade apresentar, anualmente, “o melhor da pro-

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Feverestival BR Festibero BR Festival de Teatro de Curitiba BR

cenaberta 4
Junho 2010

dução teatral contemporânea nacional e internacional, em rumos das artes cénicas no Brasil e no mundo”. os oito países da CPLP – Comunidade dos Países da Língua
sua plenitude e diversidade de estilos”. Em 2009 participaram grupos do Chile, da Alemanha, do Se- Portuguesa. Ao longo de 12 dias, serão apresentados 15 es-
A programação de 2010 inclui 31 espectáculos brasileiros e negal, da França e da Dinamarca, para além de companhias pectáculos, uma exposição de fotografia, palestras, leituras e
25 espectáculos internacionais, oriundos de países como a de vários estados do Brasil. A programação incluiu várias concertos de música. O Miragens Teatro (Angola), o Grupo
Argentina, o Uruguai, a França, a Espanha e Portugal (Maria oficinas: técnica da máscara, musicalidade, actuação e drama- de Teatro do Centro Cultural do Mindelo (Cabo Verde), o
João e Mário Laginha) e ainda a exposição “Voom Portraits”, turgia, entre outras. Grupo de Teatro do Oprimido (Guiné-Bissau), a Gungu e
de Robert Wilson. Para a sua primeira edição, o evento contou com o apoio a Kudumba (Moçambique), A Barraca e o Teatro Meridional
do Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cénicas do (Portugal), o Fôlô Blagi (São Tomé e Príncipe) e o Grupo
Brasil e passou a estar ao lado de seis dos mais importantes Arte Lorosae (Timor-Leste), para além de “Os Fofos Ence-
Cena Contemporânea – Festival In- festivais de teatro brasileiros. nam” e do Grupo “Barracão Cultural” (Brasil), são algumas
ternacional de Teatro de Brasília das companhias participantes.
BRASÍLIA FESTLUSO – Festival de Teatro
Periodicidade: Anual
Calendário: Agosto / Setembro Lusófono Circuito de Teatro Português
2010: 24 de Agosto a 5 de Setembro (11.ª edição) TERESINA, PIAUÍ SÃO PAULO
Organização: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) / Cena Periodicidade: Anual Periodicidade: Anual
Promoções Culturais, Lda. Calendário: Agosto Calendário: Julho
Director: Guilherme Reis 2010: 15 a 21 de Novembro (3.ª edição, 2010: 17 a 25 de Julho (5.ª edição)
Contactos: SHCN CL 205 Bloco C Loja 25, 70843-530, Brasília, DF excepcionalmente em Novembro) Organização: Dragão7
Telefs: (+55) 61 3349 3937 / 61 3349 6028 Organização: Grupo Harém de Teatro Directora: Creusa Borges
cenacontemporanea@apis.com.br Coordenador: Francisco Pellé Contactos: Av. Dr. Carlos de Campos, n.º 144, Rudge Ramos, São
cenabrasilia@cenacontemporanea.com.br Contactos: Av. Miguel Rosa, 3003, Galpão-03, Centro/Estação Fer- Bernardo do Campo 09730-140 São Paulo
www.cenacontemporanea.com.br roviária, CEP: 64001-973, Teresina, Piauí Telefs: (+55) 11 3129 9513 / 11 2807 0177 / 11 9393 7692
Telefs: (+55) 86 3223 2325 / 86 9406 2842 / 86 8833 2842 creusaborges@hotmail.com
A primeira edição do Cena Contemporânea foi realizada em gharemteatro@yahoo.com.br www.dragao7.com.br
1995, com grupos oriundos da Alemanha, do País de Gales, www.grupoharemteatro.com.br
O Circuito de Teatro Português de São Paulo, dirigido pela
de Portugal e de diversos estados brasileiros. Interrompido
O FESTLUSO nasceu em 2008, por iniciativa do Grupo actriz e encenadora Creusa Borges (ver entrevista neste
em 1997, voltaria a ser realizado em 2001 e em 2003, asse-
Harém de Teatro. Segundo o director, Francisco Pellé, o fes- cenaberta) teve a sua primeira edição em 2003, na sequência
gurando a partir desta data a regularidade anual, que mantém
tival visa: “levar a Teresina a discussão sobre a preservação, a dos vários intercâmbios que o grupo vinha desenvolvendo
até hoje. Portugal tem sido uma presença assídua no Festival,
divulgação, as trocas, no espaço da lusofonia” e “aproximar com companhias portuguesas. O festival aposta forte na des-
ao lado de representações do teatro iraniano, polaco, alemão,
pessoas: pesquisadores, directores, estudiosos do teatro de centralização, por todo o Estado de São Paulo. As compa-
japonês, e de vários países da América Latina.
língua portuguesa”. nhias participantes apresentam normalmente dois a três es-
Ao longo das dez edições já concretizadas, acolheu mais de
Nas duas primeiras edições do Festival participaram grupos pectáculos em diferentes cidades, para além de dinamizarem
cem grupos perante sucessivas plateias esgotadas – um pú-
de Cabo Verde, Angola, Moçambique, São Tomé e Portugal. acções de formação teatral.
blico que, no dizer da organização, demonstra, a cada ano, “a
No Encontro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio Creusa Borges assume a intenção de alargar a iniciativa aos
sua inteligência e o compromisso com a construção de uma
organizado pela Cena em Dezembro de 2009, Pellé ouviu outros países da CPLP. Nessa linha, a edição deste ano prevê,
cidade melhor”.
de Zulu Araújo, Presidente da Fundação Cultural Palmares pela primeira vez, a participação de um grupo angolano.
A edição de 2010 abre com um espectáculo do Grupo
Galpão, de Belo Horizonte. (Ministério da Cultura do Brasil), a garantia de um apoio es-
pecífico para que o FESTLUSO acolhesse em 2010 a segunda
edição deste Encontro, objectivo que mantém.
Outros Festivais no Brasil
FIAC – Festival Internacional de
Artes Cénicas da Bahia ECUM - Encontro Mundial de Artes
FESTLIP – Festival de Teatro de
SALVADOR, BAHIA
Língua Portuguesa Cênicas
Periodicidade: Anual BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS
Calendário: Outubro RIO DE JANEIRO Periodicidade: Bienal
2010: 21 a 31 de Outubro (3.ª edição) Periodicidade: Anual
Próxima edição: Abril 2011 (7.ª edição)
Organização: Realejo Projetos Culturais e Fapex - Fundação de Calendário: Julho
Organização: ECUM Central de Produção, Lda.
Apoio à Pesquisa e à Extensão da UFBA 2010: 14 a 25 de Julho (3.ª edição)
www.ecum.com.br
Coordenação geral e curadoria: Nehle Franke, Ricardo Libório e Organização: Talu Produções
Felipe de Assis Directora: Tânia Pires
Contactos: Rua Comendador José Alves Ferreira, 140, sala 08, Contactos: Av. Nossa Senhora de Copacabana, 794/405, Copaca- Festival de Teatro de Curitiba
Garcia, 40100-160, Salvador, BA bana, 22050-00, Rio de Janeiro CURITIBA, PARANÁ
Telef: (+55) 71 3012 3900 Telefs: (+55) 21 2579 5778 / 21 3268 4878 / 21 9333 6045 Periodicidade: Anual
fiacbahia@fiacbahia.com.br / realejo@realejo.com festlip@talu.com.br 2010: 16 a 28 de Março (19.ª edição)
www.fiacbahia.com www.talu.com.br/festlip www.festivaldecuritiba.com.br

O FIAC-BA teve a sua primeira edição em 2008, com o O FESTLIP foi criado com o objectivo de promover a lín- Festival Ibero-Americano de Teatro
objectivo de “colocar a Bahia no circuito das artes cénicas gua portuguesa, através do teatro. Em complemento a um de São Paulo (Festibero)
internacionais, traçando um panorama da pluralidade de pro- programa de formação itinerante pelos vários países de lín- SÃO PAULO
postas que marca a cena contemporânea”. Assume-se como gua portuguesa, também organizado pela Talu Produções, o Periodicidade: Anual
“um pólo aglutinador de espectáculos de estéticas inovado- Festival assume o intercâmbio cultural como uma das suas 2010: 8 a 14 de Março (3.ª edição)
ras, pesquisa de linguagem e propostas ousadas, que isolada- principais linhas de força. Organização: Memorial da América Latina
mente e no seu conjunto reflectem sobre o fazer teatral e os Na edição deste ano, reúne pela primeira vez na sua história www.memorial.sp.gov.br

Abril Maio Junho


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 19 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Fazer a Festa PT Imag.PT FILO BR
MIT BR
TEMPO FESTIVAL BR FIT Bonecos BR FITBC BR
FITEI PT
Alkantara PT
cenaberta 5
cenaberta

Cabo Verde, Angola, Brasil, Portugal, Itália, Espanha, Holanda,


Festival Internacional de Teatro de França. Leo Bassi, com “Utopia”, fará a abertura do Minde- O Festival de Almada, que este ano concretiza a sua 27.ª
Bonecos lact. Da produção nacional destaque para a estreia de uma edição, foi fundado em 1984 por Joaquim Benite e é orga-
BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS adaptação do romance de Germano Almeida “A Ilha Fan- nizado pela Companhia de Teatro de Almada e pela Câmara
Periodicidade: Anual tástica”, pelo grupo Nova Casa da ilha da Boavista, com en- Municipal de Almada.
2010: 10 a 20 de Junho (11.ª edição) cenação de Sara Estrela, numa produção do próprio festival. O FITA realiza-se todos os anos entre 4 e 18 de Julho com
Organização: Catibrum – Teatro de Bonecos apresentação de espectáculos de todo o mundo em diver-
www.festivaldebonecos.com.br sos espaços de Almada e Lisboa.
Outros Festivais em Cabo Verde Ao longo de 26 edições realizadas, passaram pelo festival,
Festival Internacional de Teatro de entre outros: Peter Brook, Giorgio Strehler, Luca Ronconi,
Bonecos de Canela Festival Internacional de Teatro do Luc Bondy, Roger Planchon, Lluís Pasqual, Benno Besson,
CANELA, RIO GRANDE DO SUL Peter Zadek e Thomas Ostermeier.
Tarrafal De 4 a 18 de Julho de 2010, a programação anima treze
Periodicidade: Anual O Teatro Reactor de Matosinhos, dirigido por William Ga-
2010: 24 a 27 de Junho (22.ª edição) espaços diferentes e integra nomes proeminentes da cria-
vião, prepara actualmente a primeira edição de um novo ção teatral. Destaque para Charlotte Rampling e Polydoros
Organização: Fundação Cultural de Canela
Festival em Cabo Verde – o Festival Internacional de Teatro Vogiatzis (em “Yourcenar/Cavafy”), Jean-Quentin Châtelain
www.bonecoscanela.com.br
do Tarrafal – cuja primeira edição poderá ocorrer em Agos- (em “Ode Marítima”, encenação de Claude Régy). O Es-
to de 2010. A sugestão do festival, segundo William Gavião, pectáculo de Honra (representação mais votada pelo pú-
Festival Internacional de Teatro de partiu do cantor e compositor cabo-verdiano Mário Lú- blico na edição de 2009) é “Diálogo de um cão com o seu
Campinas - Feverestival cio de Sousa, aquando da sua participação na 1.ª edição dono sobre a necessidade de morder os seus amigos”, de
Campinas, São Paulo do Festival Lusófono de Teatro Intimista de Matosinhos, e Jean-Marie Piemme, encenação de Philippe Sireuil, com
Periodicidade: Anual deverá ser produzido por uma estrutura ainda não forma- Philippe Jeusette e Fabrice Schillaci. Além de Almada e
2010: 31 de Janeiro a 12 de Fevereiro (8.ª edição) lizada, Núcleo Teatral da Praia, com o apoio do Ministério
Organização: Núcleo Feverestival e SESC São Paulo
Lisboa, a 27.ª edição do festival estende-se também e pela
da Cultura de Cabo Verde e da Câmara Municipal do Tar- primeira vez ao Porto, Teatro Nacional São João.
www.feverestival.com.br rafal. “Quanto aos moldes do festival – diz William Gavião
– provavelmente será muito próximo do Festival Lusófono
Festival Recife do Teatro Nacional de Teatro Intimista de Matosinhos, salvaguardando as suas Mostra Internacional de Teatro de
Recife, Pernambuco principais características de proximidade com o público e Oeiras (MITO)
Periodicidade: Anual simplicidade cénica, no que se refere a cenografias e logísti- Oeiras
2010: 18 a 28 de Novembro (13.ª edição) cas por parte das companhias convidadas”. Periodicidade: Anual
Organização: Fundação de Cultura Cidade do Recife Calendário: Setembro
www.recife.pe.gov.br 2010: 2 a 12 de Setembro (2.ª edição)
Organização: Companhia de Actores / C. M. Oeiras
Mostra Internacional de Teatro do
Banco do Brasil (MIT) Portugal Director: António Terra
Contactos: Estrada de São Marçal, 23, Parque de Ateliers da Quinta
do Salles, 2795-112 Carnaxide
[extensão do FILO – Festival Internacional de Londrina]
Brasília e Rio de Janeiro
Festival Internacional de Expressão Telefs: (+351) 214 176 255 / 914 704 876
info@mito-oeiras.com
Periodicidade: Anual Ibérica (FITEI) www.mito-oeiras.com
2010: 4 a 26 de Junho (4.ª edição) Porto
Organização: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) / Cena Periodicidade: Anual O MITO resultou de uma proposta de António Terra, di-
Promoções Culturais, Lda. Calendário: Maio/Junho
rector do festival, como forma de, em 2009, animar o pro-
www.filo.art.br 2010: 28 de Maio a 10 de Junho (33.ª edição)
grama das comemorações dos 250 anos do concelho de
Organização: FITEI
Oeiras.A primeira edição deu relevância ao teatro de língua
TEMPO_FESTIVAL das Artes Director: Mário Moutinho
portuguesa. De 3 a 13 de Setembro, companhias de Portu-
Contactos: Rua do Paraíso, 217, 2.º sala 5, 4000-377 Porto
Rio de Janeiro gal, Angola, Moçambique, Cabo Verde e Brasil apresentaram
Telef: (+351) 222 082 432
Periodicidade: Anual
geral@fitei.com espectáculos em vários espaços do concelho. Síntese ma-
2010: 26 a 30 de Maio e 5 de Junho (1.ª edição)
www.fitei.com terializada em números, esta 1.ª edição do MITO (desdo-
Organização: Equipa TEMPO_FESTIVAL
www.tempofestival.com.br brando-se nas categorias MITO Clássico, MITO Urbano e
FITEI – o primeiro festival de teatro em Portugal – nasceu Mitinho) exprimiu-se em 120 horas de teatro, 24 compa-
em Novembro de 1978. Preocupado com a divulgação e a nhias, 59 espectáculos, workshops, mesas redondas.
promoção do teatro dos países em que se falam as línguas A 2.ª edição do MITO, palco nos equipamentos culturais

Cabo Verde
ibéricas, foi, pelo seu trabalho, agraciado com altas distin- e espaços públicos do concelho de Oeiras, será protago-
ções e prémios nacionais e internacionais. nizada por companhias portuguesas e brasileiras na área do
Nas 32 edições anuais realizadas até 2009, participaram teatro, teatro-dança, teatro-circo, teatro de rua, teatro in-
no FITEI centenas de companhias oriundas de 35 países fantil e performances. A organização é da Câmara Municipal
Mindelact – quase todos de expressão ibérica – e foram representa- de Oeiras, em parceria com a Companhia de Actores e os
Mindelo, S.Vicente
Periodicidade: Anual
das 618 peças, em 1369 espectáculos. SMAS de Oeiras e Amadora. Objectivo central desta edição
Calendário: Setembro A 33.ª edição do FITEI estendeu-se de 28 de Maio a 10 de é integrar o festival “no circuito internacional de Mostras e
2010: 16 a 26 de Setembro (16.ª edição) Junho, com programação repartida pelas cidades do Porto Festivais de artes cénicas”.
Organização: Associação Mindelact e Matosinhos e extensões a Estarreja, Vila Real, Braga, Bra-
Director: João Branco gança, Lisboa e Santiago de Compostela (Galiza). Aberta a Fazer a Festa
Contactos: Caixa Postal 734, Mindelo, S.Vicente múltiplas correntes estéticas, esta edição cruzou linguagens Porto
Telef: (+238) 232 41 11 Fax: (+238) 995 10 76 cénicas de âmbito muito diverso e, entre outros espectácu- Periodicidade: Anual
mindelact@hotmail.com los, continuou a acolher propostas de intervenção artística Calendário: Abril/Maio
www.mindelact.com no espaço urbano. "Hnuy illa", dos grupos de Espanha Kukai 2010: 24 de Abril a 2 de Maio (29.ª edição)
e Tanttaka, que integra dança de inspiração basca, teatro, Organização: Teatro Art'Imagem
1997 foi o ano de arranque do Mindelact. Daí em dian- poesia, abriu oficialmente – no Teatro Nacional São João Director: José Leitão
te, o festival é anualmente realizado na cidade do Min- – o festival 2010. Contactos: Rua da Picaria, 89, 4050-478 Porto
delo, ilha de S. Vicente, com o crescente envolvimento Telefs: (+351) 222 084 014 / 960 208 819 Fax: (+351) 222 084 021
de grupos teatrais cabo-verdianos e de companhias in- producao@teatroartimagem.org
ternacionais. Em 2009, edição que a Cena Lusófona re-
Festival de Teatro de Almada www.teatroartimagem.org
portou (ver cenaberta n.º 8 e setepalcos n.º 6), houve Almada
Periodicidade: Anual
ampla participação de grupos da lusofonia (Angola, Bra- O "Fazer a Festa-Festival Internacional de Teatro" comple-
Calendário: Julho
sil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal), também repre- tou 29 edições em 2010. Destaque para alguns dos seus
2010: 4 a 18 de Julho (27.ª edição)
sentações da Bélgica, Espanha, Mali e República Checa. Organização: Companhia de Teatro de Almada
objectivos primordiais: “sensibilizar públicos diversificados,
A 16.ª edição do Festival Internacional de Teatro do Mindelo Director: Joaquim Benite especialmente os mais jovens; apresentar espectáculos das
uma vez mais irá animar S.Vicente em Setembro, com espec- Contactos: Rua Prof. Egas Moniz, 2804-503 Almada mais importantes companhias e criadores portugueses, em
táculos protagonizados por companhias nacionais e interna- Telef: (+351) 212 739 360 Fax: (+351) 212 739 367 espaços não convencionais; dar a conhecer espectáculos e
cionais, acções de formação e uma Mostra de Artes Plásticas. festival@ctalmada.pt companhias estrangeiras e criar laços artísticos e de inter-
Está prevista a presença de cerca de 20 companhias de www.ctalmada.pt câmbio com o teatro e o público português; fazer coincidir

Julho Agosto Setembro


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 19 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
FIT Rio Preto BR FIAR PT FIT-BH BR Cena Contemporânea BR Porto Alegre em Cena BR
FESTLIP BR FIMC PT MITO PT Mindelact CV
Festival de Teatro de Almada PT CITEMOR PT
C. T. Português BR

cenaberta 6
Junho 2010

na mesma programação nomes consagrados e desconheci- Espanha, Bélgica, República Checa, Inglaterra, Peru, Brasil, Festival Internacional de Teatro Có-
dos, num caleidoscópio de várias disciplinas teatrais; ofere- Hungria, Itália e Portugal). Ao longo dos seis dias de festival mico da Maia (FITCM)
cer um programa teatral especialmente dirigido às esco- houve 81 espectáculos e muito público. Além de Évora, os
Maia
las.” espectáculos estenderam-se a Vendas Novas, Guarda, Ar- Periodicidade: Anual
A 29.ª edição do festival acolheu um público a rondar as 6 raiolos, Redondo e Lisboa. De assinalar a realização do 7.º 2010: 1 a 10 de Outubro (16.ª edição)
mil pessoas, espectáculos repartidos pelos jardins do Palá- Seminário Internacional de Marionetas de Évora, numa par- Organização: Câmara Municipal da Maia / Teatro Art'Imagem
cio de Cristal e auditório do Museu Soares dos Reis (Porto) ceria entre a Universidade de Évora e o Cendrev. www.teatroartimagem.org
e ainda pelo Cine-Teatro Constantino Nery (Matosinhos). A próxima edição da BIME será em 2011 e, segundo o seu
O evento teve a participação de 21 companhias, destas 15 director, “corresponderá aos padrões de exigência do fes-
tival e não trairá o figurino consagrado, embora seja cedo
Festival Internacional de Teatro de
nacionais, três brasileiras, duas italianas, uma da Galiza. Do
extenso programa, referência para os espectáculos: “Inês para desvendar o seu desenho concreto”. Portalegre
Portalegre
de Castro, até ao fim do mundo”, grupo Dragão7, São
Periodicidade: Anual
Paulo; “As botas do sargento”, Teatro Trigo Limpo/Acert; Festival Lusófono de Teatro Intimis- 2010: Novembro (19.ª edição)
“História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar”, ta de Matosinhos Organização: Festival Internacional de Teatro de Portalegre
Art’Imagem; “O rei vai nu”, Teatro Extremo; “Os fantasmas Matosinhos www.teatroportalegre.com
familiares”, Quico Cadaval; “Os pregadores do riso”, Ara- Periodicidade: Bienal
çatuba, Brasil; “Nato per volare”, Assambela Teatro, Itália; Calendário: Setembro FIAR – Festival Internacional de
“O grão caído na terra”, Comédias do Minho. Próxima edição: 2.ª quinzena de Setembro de 2011 (2.ª edição)
Organização: Teatro Reactor
Artes de Rua de Palmela
Director: William Gavião Palmela
Festival Internacional de Máscaras Contactos: Rua Direita, 452, 4450-650 LEÇA DA PALMEIRA Periodicidade: Anual
e Comediantes Telefs: (+351) 968 038 426 / 917 404 445 2010: 30 de Julho a 1 de Agosto (11.ª edição)
Lisboa teatroreactor@gmail.com Organização: Câmara Municipal de Palmela, Teatro O Bando e
Periodicidade: Bienal www.teatroreactor.com FIAR-Associação Cultural
Calendário: Agosto www.fiarpalmela.com
2010: 26 a 30 de Agosto (8.ª edição) O primeiro Festival Lusófono de Teatro Intimista concreti-
Organização: FC Produções Teatrais zou-se no ano de 2009 de 3 a 8 de Fevereiro, em Matosi-

Galiza
Director: Filipe Crawford nhos, e decorreu sob o signo “Há Mares”. Entre outros, são
Contactos:Teatro Casa da Comédia, R. S. Francisco Borja, 22, 1200- objectivos do festival: “divulgar, sensibilizar e fomentar o
843 Lisboa teatro junto do grande público”, “promover o intercâmbio
Telefs: (+351) 219 359 417 Fax: (+351) 213 959 419 efectivo entre países de expressão lusófona” e “a defesa e
info@filipecrawford.com / casadacomedia@mail.telepac.pt
promoção da lusofonia e da língua portuguesa”. FITO – Festival Internacional de
www.filipecrawford.com
O Festival visa a participação de companhias nacionais e Teatro de Ourense
internacionais seleccionadas pela organização, após prévia Ourense
O 1.º Festival Internacional de Máscaras e Comediantes
candidatura apresentada. Salvo caso excepcionais, os es- Periodicidade: Anual
concretizou-se em 2002 no Teatro Casa da Comédia e
pectáculos participantes terão “um a quatro actores no Calendário: Outubro
foi uma espécie de mostra das produções da companhia.
máximo em cena, resguardando assim a sua característica 2010: 22 a 31 de Outubro (3.ª edição)
Em 2003, a companhia associou-se a um projecto europeu Organização: Sarabela Teatro
intimista.”
chamado “Europa in Maschera” e o festival passou a ter di- Directora: Ânxeles Cuña Bóveda
O 2.º Festival Lusófono de Teatro Intimista de Matosi-
mensão internacional e algumas extensões nacionais (Leiria Contactos: Rua Valle Inclán, 25, Oficina 13, 32004 OURENSE
nhos está agendado para 2011, o que indicia que a iniciativa
e Figueiró dos Vinhos). Em 2005 passou a ser co-produzido Telefs: (+34) 988 247 483 / 629 822 394
venha a ser uma bienal de teatro. O festival, organizado
pela EGEAC-Empresa de Gestão de Equipamentos e Ani- fitoourense@yahoo.es
pelo Teatro Reactor de Matosinhos, conta com o apoio da
mação Cultural e mudou-se para o Castelo de São Jorge www.fitoourense.com
Câmara Municipal de Matosinhos.
e para o Museu da Marioneta, com apresentações durante
a última quinzena do mês de Agosto. Em 2009 foi decidida O FITO é organizado por Sarabela Teatro, a companhia re-
a passagem a bienal, pelo que o evento nesse ano não se sidente no Teatro Principal de Ourense. Pretende uma pro-
realizou. Outros festivais em Portugal gramação diversificada, que inclua algum do melhor teatro
O 8.º Festival Internacional de Máscaras e Comediantes que hoje se faz, “além do Atlântico e perto de nós”. Na
visa corporizar uma mostra de qualidade do teatro de más- sua segunda edição, realizada em 2009, assumiu a aposta no
caras e de comediantes (espectáculos sem máscaras mas Alkantara Festival intercâmbio artístico dentro do espaço ibero-americano e
que se podem inscrever no mesmo género teatral). A nível Lisboa no universo lusófono, acolhendo espectáculos vindos do
nacional estará presente a companhia FC-Produções Tea- Periodicidade: Bienal Brasil, de Portugal e da Argentina.
2010: 21 de Maio a 9 de Junho (3.ª edição) Na escolha dos espectáculos, uma preocupação assumida
trais e, a nível internacional, destaque para as participações
Organização: Alkantara
de: Cie Têtes de Bois (França), Scenica Frammenti (Itália), com a inovação: “obras arriscadas, multi-culturais, radicais,
www.alkantarafestival.pt/festival
Spasmo Teatro. Destaque ainda para a presença no festival lúdicas, poéticas e mesmo delirantes. Nenhuma banal, ne-
de Carlo Boso, “um dos mais prestigiados mestres mundiais nhuma que nos deixe indiferentes!”. Porque, acrescenta a
que trabalham técnica da máscara”. CITEMOR – Festival de Montemor- directora Ânxeles Cuña Bóveda, “o Teatro é muito mais do
-o-Velho que um evento. É uma necessidade desde as origens e so-
Bienal Internacional de Marionetas Montemor-o-Velho brevive porque se reinventa”.
Periodicidade: Anual Presente no Encontro Internacional organizado pela Cena
de Évora (BIME) 2010: 23 de Julho a 14 de Agosto (32.ª edição) em Dezembro de 2009, o FITO reafirmou a sua aposta na
Évora Organização: CITEC – Centro de Iniciação Teatral Ester de Carvalho lusofonia para as próximas edições e conta reforçar o peso
Periodicidade: Bienal www.citemor.com da participação de grupos de língua portuguesa já em 2010,
Calendário: Junho
Próxima edição: 1.ª semana de Junho de 2011 (12.ª edição) na terceira edição do Festival.
Organização: Centro Dramático de Évora Encontro de Teatro Ibérico
Director: José Russo ÉVORA
Contactos: Teatro Garcia de Resende, Praça Joaquim António de Periodicidade: Bienal
Aguiar, 7000-510 ÉVORA 2010: 1 a 5 de Dezembro (7.ª edição)
Telef: (+351) 266 703 112 / Fax: (+351) 266 741 181 Organização: Centro Dramático de Évora
geral@cendrev.com www.cendrev.com
www.cendrev.com
Imaginarius – Festival Internacional
A BIME tem ao longo dos anos deslumbrado adultos e cri-
anças e afirmou-se nacional e internacionalmente como um de Teatro de Rua
muito importante evento teatral. A primeira edição rea- Santa Maria da Feira
Periodicidade: Anual
lizou-se em 1987 e logo exprimiu forte pendor de inter-
2010: 27 a 29 de Maio (10.ª edição)
nacionalização, com a presença de companhias e bonecos
Organização: Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e Feira,
oriundos de Inglaterra, Argentina, Espanha, Bélgica, França, Cultura e Desporto, E.M.
Alemanha, Suécia e Portugal. www.imaginarius.pt
Em 2009, 2 a 7 de Junho, participaram no festival 21 compa-
nhias, representando 12 países (França, Holanda, Alemanha,

Outubro Novembro Dezembro


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FITCM PT FIAC BR FESTLUSO BR ETI PT
FITO GL Fest. Rec.Teat. Nacional BR

cenaberta 7
Os festivais de teatro são tam
crescente ousadia e diversidad
visual ao serviço da comunica

cenaberta 8
ambém grafismo, cartazes e posters com
dade de argumentos: o experimentalismo
icação.

alkantarafestival 2010
mundos em palco
foto + design luciana fina + moritz elbert

lisboa + porto
21 maio > 9 junho www.alkantarafestival.pt

cenaberta 9
cenaberta

O Brasil em
forma de actriz
Pai italiano, sangue

Augusto Baptista
luso pelo lado da
mãe, antepassados
índios, negros,
Creusa Borges –
– directora do
Dragão7 e a alma
do Circuito
de Teatro Portu-
guês – é “uma mis-
tura genética”.
É o Brasil em forma
de actriz.

Teu nome é?
Meu nome de baptismo é Creusa de
Fátima Borges Tirapelli. Sou uma mis-
tura genética de portugueses, italianos,
negros, índios.

Nasceste onde?
Em São Paulo, numa cidade do interior
chamada Lins, a 432 km da cidade de São
Paulo, no Estado de São Paulo. Em São
Paulo, você tem a cidade, tem o Estado,
tem as cidades satélites, a que a gente
chama ABC paulista: Santo André, São
Bernardo do Campo, S. Caetano do
Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Su-
zano…

Feliz a capital que é ornada por


um abc de cidades. Nasceste em
Lins e depois?
Com a idade de cinco anos vim para
Diadema, que dessas cidades todas do
ABC paulista foi a mais violenta, fui
criada ali. Meu pai era cozinheiro, numa
fábrica de carros chamada Sinca, minha
mãe dona de casa. Meu pai morreu eu
tinha onze anos. Minha mãe, analfabeta,
ficou lá com cinco filhos para criar. E eu
dessa idade queria ser actriz.

Um sonho que acordou cedo.


Queria ser actriz, seduzida pela casca,
pela imagem de Hollywood. E aí tinha
esse gosto pela arte, pela música, pela
dança, pelo cinema. E mais pela tele-
visão, que era o canal a que eu tinha
acesso.
cenaberta 10
Junho 2010

A sedução vem da televisão? que te transporta? sou a mais morena, eu tenho um irmão Hoje és a directora do grupo.
Vem da televisão, vem de Hollywood. É o assumir a minha profissão como de olho verde, é um degradé. Essa é a Sou a directora artística e a produtora
Eu coleccionava coisas de Hollywood. artista. Até então eu sempre tinha um família brasileira. Então eu não vim de da companhia Dragão7.
Quando tinha 17 anos trabalhei num es- trabalho e praticava o teatro só nos uma família só de negros, mas eu fui-me
critório, como telefonista-recepcionis- momentos que dava, no final de semana confrontar com a cor da pele. Dragão7, o sete surgiu por acaso?
ta, relacionava-me com pessoas. O lado e tal. É cabalístico, é um número muito forte
humano sempre me atraiu. Hoje sou Não vejo que sejas negra. para nós. E dragão, porque o grupo foi
uma encenadora que gosta de actores, Vais para a capital, a grande São Não sou negra, sou mais índia, e tam- fundado em 88, ano do dragão. Nós
que gosta de trabalhar com os actores, Paulo, sem pára-quedas? bém, que agora eu tenho 49 anos, já éramos seis, e colocámos 7, porque o
que gosta de gente. Vou para a grande cidade sem nada. Fui não ando tanto à praia, então você vai 7.º era o elemento que sempre viria.
arriscar. desbotando, vai ficando com outra cor Então isso faria circular energia dentro
E o teatro? da pele. Não porque eu quero. Eu es- do grupo, nunca se fechando. E nunca se
Nesse tempo o teatro era o começo Foste, chegaste ao TBC, disses- tou ficando mais clara. Mas quando era fechou até hoje. Saíram, passaram mui-
para poder um dia chegar na televisão, te: eu quero fazer teatro? mais jovem tomava mais sol, eu tenho tos actores por aqui, outros entraram.
talvez no cinema. Essa era a meta. Eu fui para o TBC porque me convida- bastante melanina, se pegar sol fico
ram. Fiz uma peça amadora, com uma com pele bem vermelha como meus O 7 continua a ser uma quimera,
Como entraste na vida teatral? apresentação em São Paulo, e o direc- antepassados índios, pele quase negra. nunca chegou a ser atingido?
Tive a felicidade de trabalhar com um tor profissional, Jamil Dias, que estava E não passa só pela cor da pele. Estive Já chegou no 21, no 25, o 7 já não é mais
director, Carlinhos Lira, ele tem um fazendo um espectáculo do Jean Claude na África do Sul e os meus amigos, que o sétimo. Agora estou viajando com 14
grupo de teatro em S. Caetano do Sul, Carrière, chamado “A Conferência considero brancos, são considerados pessoas, 7 com 7 são 14, mas aí o 7 fi-
o MCTA-Movimento Cultural Teatral dos Pássaros”, ele me viu e me convi- negros lá. Tem um estereótipo do que cou mais como um número com força
Artístico, que na época era amador. O dou. Então eu fui. Jamil Dias foi o meu é ser branco. cabalística. Como te acabei de dizer,
Lira inicia os adolescentes, as pessoas primeiro director profissional. trabalhamos com símbolos também, até
que querem fazer teatro, há 33 anos. Ali Esse confronto marcou-te? para formar um grupo de teatro pensa-
aprendi o amor pelo teatro, o respeito, Aí tens que idade? Foi bom. Aí eu pude perceber que não mos em tudo isso, no número de pes-
aprendi que o teatro é de operários Tenho 20 anos, quase 21. Nasci em 60, fazia parte dessa sociedade comercial, soas com que se ia trabalhar, com esse
mesmo, que é para fazer tudo, aprendi em 81 tinha 21 anos. Depois fiquei no no caso da televisão, do cinema. E no imaginário nosso, a nossa cultura, com
o principal. Esqueci a coisa da televisão, TBC até 86 a trabalhar com o Carlos teatro tive de encontrar o meu espaço: esse caldeirão genético que é o Brasil,
fiquei no teatro e estou no teatro desde Alberto Soffredini, um dos nossos dra- a empregada, a índia, a mulata que dan- dos negros que vêm de África, dos ín-
1977. maturgos contemporâneos, escreveu o ça samba, o Diabo. Eu faço o Diabo do dios que estavam lá, dos brancos que
argumento do filme “A Marvada Carne” “Auto da Barca do Inferno”. Eu fazia a chegaram depois. E nós somos o re-
Nessa fase de formação, fre- e grandes textos para teatro: "Na Car- mulher do lobisomem, eram esses pa- sultado disso, eu sou o resultado disso,
quentaste escola de teatro? rera do Divino", "Mais Quero Asno péis assim, entendeu? Então eu passei desse encontro genético, desse grande
Como venho do teatro amador, a minha Que Me Carregue Que Cavalo Que Me por essa coisa, mesmo no Brasil, onde caldeirão.
formação foi com os directores. Eles é Derrube", adaptação da "Farsa de Inês nós somos uma mistura, 60% da popu-
que trabalharam a minha formação. Não Pereira" de Gil Vicente. Ele tinha uma lação no Brasil tem sangue indígena. É esse grande caldeirão que,
frequentei escolas, nunca fiz faculdade, companhia de teatro chamada Núcleo Embora se discuta muito a condição num dado momento, te leva a
não tinha dinheiro para pagar. Estep e foi aí que tive a minha formação. do negro, o homem da terra, o índio, procurar as raízes, a ir à pro-
Nessa companhia eu me profissionali- pouco se discute, pouco se toca neste cura de ti?
Esse teu caminho de formação zei realmente, que a gente tinha pre- assunto, mas ele é o dono da terra, ele Foi aí que eu comecei a coisa da cor da
era frequente em São Paulo? paração corporal, vocal, uma formação é quem estava lá. pele: que cor eu tenho, qual é a minha
Acontecia muito em São Paulo. Os ac- realmente de actor, trabalhava-se o dia identidade? Ficava olhando, comparan-
tores se formavam mais com os direc- todo e apresentava-se o espectáculo à A vivência no Núcleo Estep foi do, aí eu concluí: a gente é uma mistura,
tores com que trabalhavam do que pro- noite. decisiva na tua formação, na nós somos um resultado, eu não sou
priamente na escola. Se principiavam na A minha vida teve de se profissionalizar tua consciencialização, na des- mais índia, não sou europeia, quem sou
escola, raramente terminavam. mesmo, não podia ganhar dinheiro com coberta de ti? eu? Isso me intrigou. E foi isso que me
Agora para esta nova geração começa a outras coisas, tinha de ficar no teatro. O Núcleo Estep tinha toda essa estru- puxava a vir a Portugal, a ir a Itália, para
ser diferente. E foi com esse grupo que me preparei tura para formar o actor mesmo, para conhecer alguma coisa dos meus ante-
melhor como artista, que comecei a trabalhar o actor, dar sustentação para passados.
Portanto, tu menina… minha preparação de leitura, de conhe- poder fazer um personagem. Mas ao
Eu menina tinha o sonho de ser actriz, cer textos, autores. Foi nesse grupo de mesmo tempo a gente ficava das oito Foste à tribo índia, no Brasil?
seduzida por Hollywood, por aquilo que teatro que eu tive a noção de não ser da manhã às onze da noite e não ganha- Fui, tomei ayahuascar, fiz a viagem. A
me chegava mais fácil nas mãos, que não uma pessoa, por exemplo, como é que va nada, não tinha como se sustentar. minha essência do que eu fui atrás é ín-
venho de uma família de artistas. Co- eu vou dizer isto, que não era branca, Aí foi quando alguns actores saíram e dia. Fui à África também. A Cabo Verde,
mecei por estudar jornalismo, queria não era uma mulher branca. E também fundámos o Dragão7, que é o meu gru- à África do Sul, passei por Moçambique.
ser jornalista, mas também a fa-culdade não era negra. po até hoje, tem 21 anos. Então é isso que me seduz, essa busca
não dava para pagar. Enveredei por essa de mim. Vim parar a Portugal. Em 98,
formação directa no teatro amador, Uma indefinição. Isso foi uma ousadia. estive na Expo 98. Aí vim com Gil Vi-
cinco anos no teatro amador, depois Em confronto com as dramaturgias, eu Foi. A gente decidiu fazer um grupo cente. Depois, em 2000, vim com
passei para o teatro profissional. Entro não tinha um papel. Aí eu comecei a nosso para ganhar dinheiro com a nossa “Brasil outros 500”. Comecei também
no teatro amador aos 17 anos. perceber porque é que eu fazia a lenda, profissão, fazer espectáculo para estu- a me a abrir aos países que foram colo-
o mais abstracto: eu não era filha de dantes, escolher autores brasileiros. A nizados, gente de Moçambique, Angola,
Como se dá a tua passagem para ninguém, não era irmã de ninguém, não gente já tinha na cabeça o que queria Cabo Verde. Fui a Itália, África do Sul. E
o teatro profissional? era mulher de ninguém, não fazia parte fazer. eu me apaixonei por Portugal. Senti que
Transito para o centro de São Paulo de uma dramaturgia brasileira. Não havia uma ligação.
e começo a conviver no TBC, Teatro tinha um papel para mim. Eu comecei a A gente quer dizer quantas pes-
Brasileiro de Comédia. O TBC era o achar estranho. Então eu ia para a tele- soas? Sentiste que também eras da-
teatro onde passou a Cacilda Becker, o visão tentar, que, nessa época, anos 80, Nós éramos seis actores, o sétimo qui?
Valmor Chagas, Paulo Autran, Ziembin- ainda era jovem, e era chamada de tipo sempre estaria por vir: eu, Pascoal da Que era também daqui, não era nada
ski, que chegou lá com a sua máquina de específico. Conceição (foi o primeiro encenador da daquilo que eu imaginava antes. Mudou
fazer luz, uma coisa do outro mundo. companhia, que a ideia foi praticamente a minha visão dos portugueses, mudou
Mas eu não convivi com essa gente, sou Essa realidade persiste ainda? dele), Wagner, Fernando, Riba Kar- a minha visão dos meus antepassados.
da geração dos anos 80. Hoje há a quota dos negros. E a família na lovick, Andre Ceccato. Esses actores
televisão se mistura: tem um pai branco, hoje estão na televisão, cinema, foram Passaste a vir com frequência a
Nessa transição para o teatro uma mãe morena e uma filha loira, pode saindo e eu fiquei com o grupo Dragão Portugal?
profissional, qual é o elemento ter, o Brasil é assim. Na minha casa eu 7 e acabei encenando. Vim várias vezes, sempre com vontade

cenaberta 11
cenaberta

de voltar. Só entendi Gil Vicente quando O Circuito do Teatro Português com a Bahia, com outros Estados, partin- grande. Então através da Cena Lusófona,
aluguei um carro e fui para Almeirim, tem quantos anos? do desse encontro de 1998. dos encontros desde que ela esteve no
Barreiro, esses lugares de que ele fala. Em 2010 vai acontecer o 5.º circuito, já Brasil em 1998, eu conheci muita gente
Depois comecei a trazer outros grupos, com quatro companhias portuguesas e Penso que também o Encontro inclusivamente de São Paulo, que não co-
só que aí também, numa troca, os por- uma de Angola, o Elinga Teatro. Internacional de Políticas de In- nhecia: Silvana Garcia, da Universidade de
tugueses teriam de ir ao Brasil. Mas só tercâmbio, que recentemente a São Paulo e também do Centro Cultural
em 2003 me foi possível levar algumas Os quatro circuitos anteriores Cena organizou em Coimbra, te de São Paulo, o próprio Sebastião Millaré,
companhias daqui: o Art’Imagem, depois foram estritamente integrados proporcionou conhecer gente Marcio Meirelles, hoje secretário de cul-
a Companhia de Teatro de Braga. Estes por companhias portuguesas? brasileira envolvida nesta mes- tura da Bahia, Zulu Araújo da Fundação
são os colaboradores primeiros aqui de Sim. Mas, pensando na lusofonia, o meu ma dinâmica teatral. Palmares e representante do Ministério
Portugal com o Dragão7, e também eles teatro tem todas as máscaras dos oito Aqui conheci o Francisco Pellé, do Piauí. da Cultura, artistas da Bahia do grupo
recebiam outros grupos de lá que eu tra- países de língua portuguesa. Quando eu Conheci a Tânia Pires, do FESTLIP, e a Olodum, de Camaçari, e tudo isto forta-
zia para cá, não só de São Paulo, do Rio em 2007 oficializei o festival, que vinha gente está conversando também para ver lece as relações artísticas, mesmo ali em
de Janeiro, Bahia, Curitiba, trouxe vários acontecendo desde 2003, eu pensei em se alguns grupos do festival dela podem São Paulo, cidade com grandes possibili-
espectáculos para os festivais aqui. que ele poderia levar todos os países de vir para São Paulo e vice-versa. Então é dades, mas muito fechada.
língua portuguesa até ao Brasil, mas tam- uma rede que se cria, que fomenta inter-
É através dessas iniciativas soltas bém acontecer em algum destes países. câmbio, o fortalece. Quantos grupos, quantos actores
que ganha corpo a ideia de orga- Já estive discutindo com a directora do
há em São Paulo? Tens ideia?
nizares um encontro regular en- Teatro Constantino Nery, Luísa Pinto, a A tua vivência na Cena propor-
Haverá à volta de 2 mil grupos profissio-
tre grupos? possibilidade de realizar uma edição do cionou-te também a possibilida-
nalizados e cerca de 15 mil profissionais,
Para estruturar e oficializar estes encon- Circuito aqui em Portugal. E depois pode de de conheceres gente de teatro
entre actores e técnicos, só na cidade de
tros lá em São Paulo, tive necessidade de ser em Moçambique, depois pode ser em de Angola e de outros países?
São Paulo. De todo o Estado, não conhe-
os nomear. Por outro lado, para ser pos- Angola. Como circuito ele não precisa De Angola, da Guiné-Bissau, Timor,
sível que os grupos fossem a São Paulo, circular só na cidade de São Paulo, pode ço dados.
Moçambique, Cabo Verde, Portugal. O
eles teriam de ir a outros lugares. Não dá circular pelo Brasil e pelos outros países Elinga conheci através dos directores da
para você atravessar o oceano, fazer um de língua portuguesa. Números impressionantes.
Cena. Eu sou da Cooperativa Cultural
espectáculo em São Paulo e ir embora. Brasileira, onde a Marília Lima é a Presi- E há ainda cerca de 2 mil actores ama-
Então eu comecei a marcar espectáculos Significa que durante estes anos dente, que é uma união de artistas para dores, segundo o Sindicato. E grupos a
nas cidades satélites do ABC paulista, de tu conseguiste estabelecer uma defender e promover a cultura, os artis- trabalharem com as escolas há mais de
tas e as suas obras. 800.
Augusto Baptista

A gente tem um gru-


po de discussão agora Com a Cena existe alguma inicia-
para começar a ter co- tiva agendada proximamente?
nhecimento dos paí- Queremos convidar a Cena Lusófona
ses africanos de língua a estar presente na edição do Circuito
portuguesa. Começa- de Teatro Português, em São Paulo.
-se agora com a Amé- Nestes acontecimentos abrem-se possi-
rica Latina também. bilidades, como aconteceu em Coimbra
A gente vai-se virar no Encontro Internacional de Políticas
para a América Latina de Intercâmbio. A presença aqui do re-
e para a África. presentante do Ministério da Cultura do
Brasil, Zulu Araújo, foi para nós muito
A gente quem? importante. Ele já se colocou à disposição
Os integrantes do para apoiar o festival. O Circuito é orga-
Dragão7? nizado pelo meu grupo, sem patrocínios,
Mais do que o Dragão. então estamos esperando que desta vez
São pessoas da músi- haja apoio da FUNARTE, do Ministério
ca, das artes plásticas. da Cultura, porque os espectáculos vão
Eu também fui convi- lá gratuitamente, os directores fazem
dada, porque faço este workshops em todos os espectáculos em
trabalho, já conheço
que participam. Este ano o Sindicato dos
um pouquinho, então
Artistas, organização que defende os in-
fui convidada para re-
teresses trabalhistas da categoria, está
todo o interior de São Paulo. Tem cidades rede de relações que te permite presentante deste nú-
apoiando também, não dificulta nada em
do interior do Estado a 700 quilómetros essas alternativas de concretiza- cleo do teatro. Quando o Rui Madeira
termos de vistos de trabalho. A própria
da capital. A coisa já a circular então é ção do festival? esteve no Brasil a gente convidou-o, tam-
Cooperativa Cultural Brasileira também
que eu nomeei o festival: “Circuito do É verdade. bém como director da Cena Lusófona,
está envolvida, tudo para que aconteça o
Teatro Português”. para uma reunião com representantes do
Ministério da Cultura, para se começar encontro. E bem.
A Cena Lusófona como entra nes-
Porquê circuito? te processo? essa pesquisa, o descobrimento dos ou-
Porque se apresenta na capital e depois faz Em 1998 conheci a Cena Lusófona tros países que falam a língua portuguesa. Esta conversa de Creusa Borges
circuito mostrando o espectáculo. Então quando aconteceu o encontro "Navegar com Augusto Baptista ocorreu
o projecto ele também é descentralização é Preciso" no Centro Cultural de São É o Brasil a partir no descobri- no Porto, aquando do festival
das grandes capitais, da grande capital que Paulo. Fizeram lá várias oficinas. Depois mento? "Fazer a Festa", Abril 2010.
é a cidade de São Paulo. E aí levamos essa surgiu o projecto Viagem ao Centro do No descobrimento dos outros países que A versão integral da entrevista
vivência para dentro do Estado, mais para Círculo, organizado pela Cena. Achei falam a língua portuguesa. Que antes, no está disponível em:
dentro do país. A Companhia de Teatro muito bacana a proposta de organizar Brasil, parecia só existirem dois lugares www.cenalusofona.pt/cenaberta
de Braga e o Teatro Art'Imagem, quando um espectáculo com actores de todos no mundo: Europa e Estados Unidos. E
foram à Bahia, não foram só a Salvador; os países de língua portuguesa. Dentro aí depois começámos a nos virar para a
foram a Camaçari, uma cidade mais do desse projecto acontece uma oficina na África, a querer saber o que acontece.
interior. Então aquelas cidades que nunca Bahia com o Stephan Stroux, no grupo Não só na área do teatro.
viram nada de fora, acabam vendo. E gra- Olodum do Márcio Meirelles, no mesmo
tuitamente, que não se cobram ingressos, ano. Essas iniciativas proporcionaram um A Cena deu-te a conhecer o pró-
porque está dentro de um projecto de encontro entre os artistas brasileiros prio Brasil, abriu-te portas…
intercâmbio Brasil-Portugal. também. Hoje a gente já tem uma ligação Portas e perspectivas. O Brasil é muito
cenaberta 12
Junho 2010

cenas
Portugal tora Francisca Bagulho, define-o como "o

DR
Cena Lusófona reforça primeiro portal multidisciplinar de reflexão,
acervo de publicações crítica e documentação das culturas africa-

breves periódicas

O Centro de Documentação e Informação


(CDI) da Cena Lusófona alargou recente-
nas contemporâneas em língua portuguesa,
com produção de textos e traduções em
francês e inglês". BUALA significa casa, al-
deia, a comunidade onde se dá o encontro:
mente o número de publicações periódicas "desejamos criar novos olhares, despreten-
à disposição dos seus utilizadores.The Dra- siosos e descolonizados, a partir de vários
ma Review, Obscena e Revista Asturiana de pontos de enunciação da África contem-
Teatro – La Ratonera são alguns dos títulos porânea", especificam. O portal concentra
que voltam ou passam a integrar o catálogo e disponibiliza materiais, imagens, projectos,
Embora ainda não esteja totalmente reacti-
do Centro. intenções, afectos e memórias. "É uma plata-
vado o circuito comercial das publicações da
Portugal – Brasil forma construída para as pessoas. Uma rede
Cena Lusófona, aos poucos se vai retoman-
Digressão do Dragão7 por

AB
de trabalho para profissionais da cultura e
do e, nalguns casos, iniciando parcerias para
Portugal do pensamento: artistas, agentes culturais, in-
que estejam acessíveis ao público todos os
vestigadores, jornalistas, curiosos, viajantes e
títulos editados. Para já, os leitores poderão
O Grupo Dragão7, de São Paulo, Brasil, veio autores, todos se podem encontrar e habitar
encontrar as nossas obras em Aveiro (Uni-
a Portugal com o espectáculo “Pedro e Inês este BUALA".
versidade de Aveiro), Braga (Theatro Circo
– Até ao Fim do Mundo”. Uma digressão
e 100.ª Página), Coimbra (Teatro Académico
que fortalece os laços de intercâmbio entre
de Gil Vicente e Teatro da Cerca de São Ber-
o Brasil e Portugal, desta feita por força de Portugal – Brasil
nardo), Évora (Teatro Garcia de Resende e
uma história universal. Companhia do Chapitô
Livraria Nazareth), Guarda (Véritas), Lisboa
em Brasília, São Paulo e
(Teatro Nacional D. Maria II, Livraria Barata,
Londrina
DR

Ler Devagar, Escolar Editora, Livraria Por- Especializado nas áreas do teatro e das artes
tugal), Porto (Teatro Nacional de São João, cénicas, o CDI tem por missão reunir os re-
A companhia do Chapitô abriu a MIT-
Poetria), Viseu (Teatro Viriato), Vigo (Libreria cursos bibliográficos necessários ao desem-
Mostra Internacional de Teatro 2010,
Andel) e Brasil (Livraria da Travessa – Belo penho das funções de investigação, ensino e
em Brasília, no passado dia 4 de Junho. A
Horizonte; Livraria Cultura – Brasília, Porto formação dos seus utilizadores. Está orga-
Mostra é uma extensão do Festival Interna-
Alegre, Pernambuco e São Paulo). Breve, es- nizado em regime de livre acesso e reúne um
cional de Teatro de Londrina (FILO), palco
pera-se marcar presença noutros pontos do vasto acervo documental, constituído por
em Brasília e no Rio de Janeiro, até final
país, bem como em todos os PALOP e em diferentes tipos de suportes – impressos,
de Junho.
Timor-Leste. videográficos, fotográficos, sonoros, icono-
As publicações da associação (colecção grafia em cartaz, entre outros. Graças, tam-

DR
Porto, Braga, Póvoa do Varzim, Matosinhos, bém, ao contributo de várias instituições e
Cena Lusófona, revista setepalcos e o álbum
Póvoa de Lanhoso, Arcos de Valdevez, Co- agentes culturais, em particular do espaço
“Floripes Negra”) podem igualmente ser en-
imbra e Alcobaça foi o itinerário de “Pedro lusófono, continua a crescer o conjunto de
comendadas directamente por telefone ou
e Inês” em Portugal. Já regressada ao Brasil, publicações e de materiais a que é possível
e-mail, para envios à cobrança, via postal.
Creusa Borges, directora do Dragão7, con- aceder.
fidenciou ao cenaberta, por telefone: “Foi a No que diz respeito às publicações periódicas,
melhor viagem que eu fiz a Portugal. Levo CPLP adquiridas através de assinaturas ou de per-
grupos aí desde 1998 e esta foi a melhor de Plano de Acção de Brasília mutas, destacam-se os seguintes títulos: Adá-
sempre”. para a Língua Portuguesa gio, Artefilosofia, Artistas Unidos, Cadernos
“Voltámos diferentes artisticamente, fortale- do GIP-CIT, Camarim, Casahamlet, Folhetim,
cidos, com vontade de fazer imensas coisas Da Conferência Internacional sobre o Repertório, Revista Asturiana de Teatro – La O grupo português apresentou em Brasília
novas, energizados. Tornámo-nos num grupo futuro da Língua Portuguesa no Sistema Ratonera, Revista Galega de Teatro, Sala Pre- três sessões de "A Tempestade", de William
de 14 pessoas mais unido do que nunca”, Mundial, organizada em Brasília no final de ta, Sinais de Cena,The Drama Review e Urdi- Shakespeare, nos dias 4, 5 e 6 de Junho. O
acrescentou. Março pelo Governo Brasileiro no âmbito mento. Protocolos recentemente celebrados espectáculo seguiu depois para São Paulo (8
O grupo Dragão7 é uma companhia profis- da CPLP, saiu o Plano de Acção de Brasília permitiram também que o Centro passasse e 9 de Junho) e para Londrina (Paraná), no
sional criada em 1988 em São Paulo. Vários para a Promoção, a Difusão e a Projecção a contar e a poder disponibilizar ao público âmbito do FILO 2010, onde foi apresentado
dos seus espectáculos são direccionados ao da Língua Portuguesa. as edições do TEP - Teatro Experimental do entre 11 e 13 de Junho, no Teatro Zaqueu de
público estudantil. O grupo mantém em re- Porto, da Escola Superior de Teatro e Ci- Melo.
portório “Auto da Barca do Inferno”, de Gil O documento alude à preocupação de valo- nema e do Teatro Nacional D. Maria II e do Criado em 1996, sob a direcção de José Car-
Vicente, e estreou a peça que trouxe a Por- rizar a língua portuguesa e à necessidade de Teatro Nacional São João. los Garcia, a companhia do Chapitô propõe-
tugal: “Pedro e Inês – Até ao Fim do Mundo”, definir estratégias de promoção e difusão do O CDI retomou igualmente a sua política -se desenvolver um teatro de linguagem
uma adaptação livre do livro “Mensagens de ensino, salientando aspectos como o estado de aquisições de monografias. No último tri- própria, que convida o público a repensar
Inês de Castro”, de Francisco Cândido Xavi- de desenvolvimento do acordo ortográfico, mestre, foram adquiridos cerca de 100 novos a experiência humana através do humor.
er e Caio Ramacciotti. a importância da língua portuguesa nas diás- títulos, entre os quais várias peças de teatro Esta companhia é conhecida pelo teatro
No plano internacional, Dragão7 desenvolve poras e a participação da sociedade civil na dos sentidos, que sintetiza as artes, provoca,
e outras obras relativas à dramaturgia de lín-
projectos de intercâmbio com países de lín- questão. propõe um compromisso com o tempo pre-
gua portuguesa (ver "na estante", pág. 15).
gua portuguesa: Portugal, Cabo Verde e An- No que diz respeito à difusão pública da lín- sente e é marcado também pelo improviso.
Todo o catálogo pode ser consultado on-line,
gola. Desde 2006, organiza anualmente o Cir- gua portuguesa, o Plano de Acção de Brasília Os outros grupos presentes na MIT foram
através do site da Cena Lusófona (http://
cuito de Teatro Português em São Paulo, que para a Promoção, a Difusão e a Projecção “Les Trois Clés” (França), com o espectá-
sirius.bookmarc.pt/cenalusofona).
tem acolhido diversas companhias e artistas da Língua Portuguesa é claro quanto à im- culo “Gigantea”; Pippo Delbono (Itália), com
portugueses, com espectáculos e acções de portância dos apoios a projectos culturais,
“Guerra”; Marta Carrasco (Espanha), com
incentivando e promovendo a cultura dos
formação.
países de língua portuguesa. Defende-se, no-
África “Dies Irae”;“Companhia Redmoon” (Estados
meadamente, a necessidade de “promover
BUALA: um lugar de Unidos), com “The Cabinet” e o “Teatro In-
a cultura dos países de língua portuguesa, encontro móvil” (Chile), com “El Último Heredero”.
Portugal mediante o incentivo a bibliotecas digitais, o
Publicações da Cena aprofundamento da cooperação na área das BUALA é o novo portal de Cultura Afri-
Lusófona nas bancas indústrias culturais (cinema, música, teatro, cana Contemporânea. Um projecto multi- Rio de Janeiro
dança e artes visuais, entre outras) e a rea- disciplinar que conta com a colaboração de FESTLIP: 3.ª edição
A Cena Lusófona reactivou o circuito de lização, sempre que possível conjunta, de fes- vários actores da cultura contemporânea acolhe os oito países lusó-
distribuição, de forma a que as suas publica- tivais, mostras, temporadas culturais e even- africana. fonos
ções possam estar à disposição do público tos diversos em terceiros países”.
nos mais variados pontos de venda do país O documento pode ser consultado na ín- A equipa do BUALA (www.buala.org), cons- A terceira edição do Festival de Língua Por-
e além-fronteiras. tegra a partir da página do Instituto Camões tituída pela jornalista Marta Lança, pela tuguesa acolhe pela primeira vez represen-
(www.instituto-camoes.pt). crítica de arte Marta Mestre e pela produ- tantes dos oito países lusófonos. Decorre

cenaberta 13
cenaberta

cenas Jardim Suspenso


reúne textos e fotografias inéditas que do-
cumentam o teatro que se praticou em
Cabo Verde desde os primórdios da inde-

breves pendência nacional até 2005.


Abel Neves (Montalegre, 1956) venceu em Outubro de 2009, com a peça
“Jardim Suspenso”, a terceira edição do Prémio Luso-Brasileiro António José

DR
da Silva, uma iniciativa conjunta do Instituto Camões, do Teatro Nacional
D. Maria II, da Direcção-Geral das Artes e da Funarte. Como previsto no
regulamento, para além da publicação em livro (Lisboa, Sextante), a peça
premiada foi encenada numa co-produção luso-brasileira. O espectáculo es-
treou em Lisboa a 29 de Abril, na sala-estúdio do Nacional, com encenação
de Alfredo Brissos e as interpretações de Carla Chambel, Carlos Oliveira,
entre 14 e 25 de Julho, no Rio de Janeiro, e Cármen Santos, Luciana Ribeiro, Manuel Coelho e Simone de Oliveira.
inclui na sua programação espectáculos de “Jardim Suspenso” é uma história de amor. Um amor não correspondido
teatro, oficinas, debates, concertos e uma
a que se entrega Luzia, jovem arquitecta que investiu todas as energias na
exposição de fotografia. A actriz portugue-
construção de um depurado jardim sem plantas. Ao mesmo tempo, é uma
sa Maria do Céu Guerra é a personalidade Francisco Fragoso foi fundador do grupo
homenageada.
certeira faca (de cozinha) apontada ao coração das verdades que gostamos
cénico "Korda Kaoberdi", uma das grandes
de dar por adquiridas e das aparências que não ousamos deixar de vestir de
referências do teatro cabo-verdiano entre
Realizado pela Talu Produções em parceria cada vez que saímos de casa.
1975 e 1982. Médico, poeta e dramaturgo,
com a Rede SESC Rio e com patrocínio da foi várias vezes homenageado em Cabo
Tal como em “Nunca estive em Bagdad” e em “Este Oeste Éden” (peças ainda
Oi e Caixa, o Festival receberá 15 espec- Verde. Radicado em Portugal há várias anos, por publicar em Portugal), Abel Neves remexe nas relações familiares e no
táculos de grupos de Angola, Brasil, Cabo criou, em 2005, em Lisboa, um novo grupo micro-cosmos em que se sustenta, afinal, a nossa (in)felicidade. E confronta-
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, de teatro denominado “Tchon di Kau Berdi". -nos com o poder das palavras simples, palavras que saem quase sem darmos
São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. "É grati- Apesar de criado em moldes diferentes, o por isso e que, à mínima falha ou perante um alvo ocasionalmente mais des-
ficante ver o crescimento e a consolidação novo grupo, como F.F. frisou no lançamento protegido, são lâminas letais. Palavras com que prometemos o impossível e
do FESTLIP”, comenta a actriz e produtora e escreve no livro, continua fiel aquilo que com que defraudamos as expectativas. Palavras que de repente já não nos
Tânia Pires, directora do festival. “Começá- sempre defendeu: "lançar, em bases segu- servem para

Margarida Dias/TNDM
mos com dez espectáculos de cinco países. ras, os alicerces que enformam o acertado nada, pela sim-
No ano seguinte, tivemos a entrada da Teatro Africano da actualidade, que, sendo ples razão de
Guiné-Bissau e já somávamos mais de 400 nacional na sua génese e na sua constituição,
grupos inscritos e 31 mil espectadores nas
que já não há
não deixa, contudo, de ser ecuménico e uni- quem as queira
duas edições. Agora contabilizamos quase
versal nos seus projectos e ambições".
800 inscrições e 15 peças que representam ou possa ouvir.
todos os integrantes da CPLP. É mais um E que, por isso,
Brasil – Portugal
passo no objectivo de estreitarmos os laços nos condenam
Prémio Camões 2010
entre culturas tão distintas e ainda muito ao silêncio.
atribuído a Ferreira
distantes”, afirma. “Jardim Suspen-
Gullar
Portugal é o país com o maior número de so” é uma histó-
grupos participantes: A Barraca, Teatro Me- ria de amor. O
O mais prestigiado prémio da língua por-
ridional, Trigo Limpo e Binólogos. Partici- amor do autor
tuguesa foi atribuído este ano a Ferreira
pam ainda as companhia de teatro Gungu e
Gullar. O anúncio foi feito em Lisboa, no pelo humano e pelas pequenas coisas que ainda nos podem diferenciar da
Kudumba (Moçambique), Miragens (Angola),
dia 31 de Maio, pela Ministra da Cultura máquina. Como uma espécie de apelo para que não desperdicemos essa ex-
Grupo de Teatro do Centro Cultural do
de Portugal, Gabriela Canavilhas, acom- traordinária capacidade que nos distingue enquanto seres sensíveis e racio-
Mindelo (Cabo Verde) e "Os fofos encenam"
panhada pelos membros do júri. nais: a de nos ouvirmos uns aos outros. Mariana, avó de Luzia, tem o enigma
(Brasil), entre outros.
A programação inclui duas mesas de debate: resolvido desde cedo. Com a sabedoria que a idade dá, aconselha o filho: “Se
Nascido em São Luiz do Maranhão, em ouvirmos bem, respiramos melhor”. Mas ninguém a ouve, em toda a casa.
"A imprensa no universo teatral da língua
1930, Ferreira Gullar (pseudónimo de José O espectáculo de Alfredo Brissos registou sucessivas lotações esgotadas
portuguesa" (20 de Julho), moderada pela
Ribamar Ferreira) é poeta, crítico de arte,
crítica, ensaísta e professora Tânia Brandão, ao longo do mês de Maio. A temporada brasileira, inicialmente prevista para
biógrafo, tradutor, argumentista de teatro
e "O diálogo do teatro dos países da língua Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, ficou-se afinal pela capital federal, com
e de televisão, memorialista e ensaísta. O
portuguesa" (21 de Julho), moderada pelo apenas cinco apresentações, entre 23 e 27 de Junho. Mas tudo isto – da atri-
seu primeiro livro, "Um pouco acima do
dramaturgo e guionista Bosco Brasil. buição do Prémio à estreia do espectáculo e à digressão no Brasil – passou
chão", de 1949, foi editado com recursos
O programa detalhado pode ser consultado estranhamente despercebido e foi muito pouco valorizado pelas próprias
próprios.
em www.talu.com.br/festlip. instituições promotoras. Uma “discrição” (como lhe chamou Abel Neves)
O júri, presidido por Helena Buescu, profes-
sora da Faculdade de Letras da Universidade que não se compreende, perante as expectativas criadas em redor do Pré-
Cabo Verde de Lisboa, era também composto por José mio e num contexto em que as iniciativas de cooperação cultural entre
Francisco Fragoso lança Carlos Seabra Pereira, professor associado Portugal e o Brasil se resumem a isto mesmo.
“Escritos Sobre Teatro” da Universidade de Coimbra, Inocência Abel Neves vive provavelmente um dos mais altos momentos da sua activi-
Mata, professora santomense de Literaturas dade de dramaturgo. Com mais de 15 peças publicadas em Portugal (a que
O encenador cabo-verdiano Francisco Africanas na Faculdade de Letras da Uni- se juntam 10 traduções em Franca, em Espanha, na Alemanha, na Inglaterra,
Fragoso apresentou no dia 4 de Junho, versidade de Lisboa e professora convidada na Roménia e na Hungria), viu estrear, desde o início de 2009, uma dezena de
na Câmara Municipal da Praia, o seu mais em várias universidades brasileiras e norte- espectáculos a partir de textos seus: “Au-delá les étoiles sont notre maison
recente livro: “Escritos Sobre Teatro”, das -americanas, Luís Carlos Patraquim, escritor (Compagnie Ici Londres, Paris), “Je ne suis jamais allé à Bagdad” (Théâtre
Edições Artiletra. e jornalista moçambicano, António Carlos
du Centaure, Luxemburgo, e L’ Arrière Scène, Bruxelas), “A visita” (Teatro
Secchin, escritor e professor da Univer-
Nacional de D. Maria II, Lisboa), “Este Oeste Éden” (A Escola da Noite, Co-
O evento foi presidido por Ulisses Correia sidade Federal do Rio de Janeiro e ainda a
imbra), “Saloon Yé-Yé, o paraíso à espera” (Teatro do Montemuro, Campo
e Silva, presidente da Câmara Municipal da escritora brasileira Edla van Steen.
Benfeito), “A mãe e o urso” (LNW Produções Artísticas, São Paulo), “O se-
Praia, e enquadrou-se nas festas do mu- O Prémio Camões foi criado por Portugal e
nicípio e no Movimento “A Inteligência está pelo Brasil em 1988 e é considerado o mais nhor de La Fontaine em Lisboa” (Lua Cheia/Museu da Marioneta, Lisboa),
na moda”, promovido pela revista Artiletra. importante prémio literário na lusofonia. O “Vulcão” (Teatro Nacional de D. Maria II/Teatro do Bolhão, Lisboa). Ainda
Assinada por “Kwame Kondé”, pseudónimo objectivo é distinguir um escritor cuja obra em 2010, estreará “Clube dos Pessimistas” (Teatroesfera, Lisboa).
artístico utilizado por Francisco Gomes contribua para a projecção e o reconheci-
Fragoso há mais de quatro décadas, a obra mento da língua portuguesa. Pedro Rodrigues

cenaberta 14
Junho 2010

Compostela: Laiovento / Centro Dramático Galego, 2009. …Onde Vaz, Luís?

|\||||\
Jaime Gralheiro. Lisboa:Vega, 1983.
Eu, Antonin Artaud
Antonin Artaud. Lisboa: Assírio e Alvim, 2007.
Origem do Drama Trágico Alemão
Fala da criada dos Noailles que no fim de con- Walter Benjamin. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004.
tas vamos descobrir chamar-se também
Séverine numa noite do Inverno de 1975 em Peças Escolhidas 1
Hyères Carlo Goldoni. Lisboa: Cotovia, 2008.
Jorge Silva Melo. Lisboa: Cotovia, 2007.

Falar verdade a mentir Peças Escolhidas 3


Almeida Garrett. Lisboa: Colibri, 2001. Henrik Ibsen. Lisboa: Cotovia, 2008.

na estante
Fanny e Alexandre Pena de Viver Assim
Ingmar Bergman. Lisboa: Assírio e Alvim, 2006.
Luigi Pirandello. Lisboa: Cotovia, 2009.
Figurantes e outras peças
Jacinto Lucas Pires. Lisboa: Cotovia, 2004. Políticas, Práticas Culturais e Públicos de
Teatro no Algarve
Frágua de Amor / Floresta de Enganos
Últimas aquisições Gil Vicente. Lisboa: Assírio e Alvim, 2007.
Carlos José Rodrigues Mendonça. Lisboa: Colibri, 2001.
do Centro de Documentação e
Garret às Portas do Milénio Robinson Crusoé
Informação da Cena Lusófona Coord. Seminários Garrett. Lisboa: Colibri, 2001. Patrícia Portela. Lisboa: Teatro Nacional D. Maria II / Bi-
cho do Mato, 2010.
Heliogabalo ou O Anarquista Coroado
A Floresta Antonin Artaud. Lisboa: Assírio e Alvim, 1991.
Aleksandr Ostróvski. Lisboa: Cotovia, 2008. Rua Gagarin – Black Watch
Hipérion ou O Eremita da Grécia Gregory Burke. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col.
A Poesia andando: treze poetas no Brasil Friedrich Hölderlin. Lisboa: Assírio e Alvim, 1997.
Antologia organizada e apresentada por Marília Garcia e Livrinhos de Teatro), 2008.
Valeska de Aguirre. Lisboa: Cotovia, 2008. Histórias de Almanaque
Bertold Brecht. Lisboa:Vega, 1995. Segredos do Levante: Teatro
À Procura da Escala Ana Cristina Oliveira. Lisboa: Colibri, 2008.
António Pinto Ribeiro. Lisboa: Cotovia, 2009.
Hora Di Bai: os Cabo-Verdianos e a morte
A Sociedade: teatro Margarida Fernandes. Lisboa:Vega, 2004. Seis personagens à procura de autor – Para
Ricardo Kalash. Coimbra: Mar da Palavra, 2010. cada um sua verdade – Esta noite improvisa-se
Inesgotável Koltés. Dois ensaios sobre
“Na Solidão dos Campos de Algodão” de Luigi Pirandello. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col.
A Terceira Metade
Ruy Duarte de Carvalho. Lisboa: Cotovia, 2009. Bernard-Marie Koltès Livrinhos de Teatro), 2009.
Rui Pina Coelho. Amadora: Escola Superior de Teatro e
A Trapeira Cinema / Teatro dos Aloés, 2009. Silenciador
Gabriel Frada. Lisboa: Colibri, 2000. Jacinto Lucas Pires. Lisboa: Cotovia, 2008.
Inferno
A Voz Humana August Strindberg. Lisboa: Assírio e Alvim, 1988.
Jean Cocteau. Lisboa: Assírio e Alvim, 1999. Solte os Cachorros
Jesus Cristo em Lisboa Adélia Prado. Lisboa: Cotovia, 2003.
As Criadas – Alta Vigilância Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes. Lisboa:Vega, 1984.
Jean Genet. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col. Livri- Sou o vento – Sono – O homem da guitarra
nhos de Teatro), 2010. João Mota, o Pedagogo Teatral. Metodologia
e Criação Jon Fosse. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col. Livri-
As paisagens propícias Eugénia Vasques. Lisboa: Colibri, 2005. nhos de Teatro), 2008.
Ruy Duarte de Carvalho. Lisboa: Cotovia, 2005.
Jardim Suspenso
Suíte Dama da Noite
Acamarrados – A farsa da Rua W – As pe- Abel Neves. Lisboa: Sextante, 2010.
quenas coisas Manoela Sawitzki. Lisboa: Cotovia, 2009.
Enda Walsh. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col. Livri- Joana D’Arc ou o Jogo das Sombras
nhos de Teatro), 2009. Helena Almeida Pimenta. Lisboa:Vega, 1998. Tatuagem – Inocência
Dea Loher. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Livrinhos
Ana Júlio César
José Maria Vieira Mendes. Lisboa: Cotovia / Artistas Uni- William Shakespeare. Lisboa: Cotovia, 2007. de Teatro), 2008.
dos (Col. Livrinhos de Teatro), 2009.
Kafka: Viagem às profundezas de uma alma Teatro
Anjo e Duende Pietro Citati. Lisboa: Cotovia, 2001. Bernardo Carvalho. Lisboa: Cotovia, 1999.
Federico García Lorca. Lisboa: Assírio e Alvim, 2007.
Lágrimas e Suspiros seguido de Persona e de
Antes que a noite venha Dependência Teatro 4
Eduarda Dionísio. Lisboa: Cotovia, 2005. Ingmar Bergman. Lisboa: Assírio e Alvim, 2002. Bertolt Brecht. Lisboa: Cotovia, 2006.

Búfalo Americano Menina Else Teatro Desagradável


David Mamet. Lisboa: Cotovia, 2009. Arthur Schnitzler. Lisboa: Cotovia, 2008.
Nelson Rodrigues. Lisboa: Cotovia / Curso Breve de Li-
Canções e Poemas Minetti seguido de No Alvo teratura Brasileira (vol. 16), 2006.
Boris Vian. Lisboa: Assírio e Alvim, 1997. Thomas Bernhard. Lisboa: Cotovia, 1990.
Três Irmãs
Cantigas de uma Noite de Verão (uma peça Modos de objectificação da dominação colo-
de amores e desamores) e outras peças Anton Tchékhov. Lisboa: Assírio e Alvim, imp. 1998.
nial: o caso do museu do Dundo, 1940-1970
David Creig. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col. Livri- Nuno Porto. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian /
nhos de Teatro), 2010. Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2009. Triálogo - Júlia - Relato 1453
Ruben A. Lisboa: Assírio e Alvim, 2007.
Cenografia: a arte de José Dias [Exposição de Music-Hall – História de amor – Últimos
cenografias] remorsos antes do esquecimento
José Dias. Rio de Janeiro: Caixa Cultural Rio de Janeiro, Uma noite na biblioteca
Jean-Luc Lagarce. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col.
2008. Livrinhos de Teatro), 2005. Jean-Christophe Bailly. Lisboa: Cotovia, 2009.

Chiquinho Nenhures Uma peça de Goldoni nos palcos portugueses:


Baltasar Lopes. Lisboa: Cotovia, 2008. Daniel Jonas. Lisboa: Cotovia, 2008. de La Locandiera à Locandeira, de A Hospe-
Com licença poética deira à Estalajadeira, passando por Mirando-
Num Dia Igual aos Outros
Adélia Prado. Lisboa: Cotovia, 2003. John Kolvenbach. Lisboa: Teatro Nacional D. Maria II / Bi- lina
cho do Mato, 2010. Eugénia Vasques. Amadora: Escola Superior de Teatro e
Com o Amor não se Brinca
Alfred de Musset. Lisboa: Teatro Nacional D. Maria II / Cinema, 2009.
O Discurso da Cumplicidade
Bicho do Mato, 2010. Ana Pais. Lisboa: Colibri, 2004.
Vai-te treinando desde já: peça de teatro de
Contos de São Petersburgo O Eleito do Sol João Cleofas Martins (Nhô Djunga)
Nikolai Gogol. Lisboa: Cotovia, 2007. Arménio Vieira. Lisboa:Vega, 1992. Mesquitela Lima. Lisboa:Vega, 2004.
Contos outra vez
Luísa Costa Gomes. Lisboa: Cotovia, 1998. O Fazedor de Teatro Van Gogh o Suicidado da Sociedade
Thomas Bernhard. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004.
Antonin Artaud. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004.
Da técnica da máscara e da Commedia
dell’Arte à improvisação O Fim / Diálogo na Alhambra
Catarina Matos. Amadora: Escola Superior de Teatro e António Patrício. Lisboa: Assírio e Alvim, 2007. Vida de Henrik Ibsen
Cinema, 2009. Alberto Savinio. Lisboa: Cotovia, 2006.
O Homossexual ou a Dificuldade em Expri-
Dar Coisas aos Nomes mir-se e outros textos
Copi. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col. Livrinhos de Vida e Morte de João Cabafume
Manuel Castro Caldas. Lisboa: Assírio e Alvim, 2008.
Teatro), 2009. Gabriel Mariano. Lisboa:Vega, 2001.
Devoção e Teatralidade
Cristina Fernandes. Lisboa: Colibri, 2005. O Inspector Visão Invisível
Nikolai Gogol. Lisboa: Assírio e Alvim, 2009.
Jean Cocteau. Lisboa: Assírio e Alvim, 2005.
Don Carlos
Friedrich Schiller. Lisboa: Cotovia, 2008. O Maravilhoso mundo de Dissocia – Realis-
mo
É a Aless Anthony Neilson. Lisboa: Cotovia / Artistas Unidos (Col. Publicações Periódicas:
Jon Fosse. Lisboa: Cotovia, 2008. Livrinhos de Teatro), 2008.

O Mentiroso Autores – Revista da Sociedade Portuguesa


Eis o Amor a Fome e a Morte
Abel Neves. Lisboa: Cotovia, 1998. Luciano. Lisboa: Colibri, 1995. de Autores
Dir. Manuel Freire, n.º 26 (Abril-Junho 2010).
Em Montemor, o Maior... O «Presépio» de Alpalhão
Carlos Dinis Tomás Cebola. Lisboa: Colibri, 2006. Manuel Inácio Pestana. Lisboa: Colibri, 2001.
Casahamlet – Revista de Teatro
Ensaio sobre Aristófanes O Velho Ciumento Dir. Isaac Ferreira, n.º12 (Maio 2010).
Maria de Fátima Sousa e Silva. Lisboa: Cotovia, 2007. Cervantes. Lisboa: Colibri, 1999.
La Ratonera – Revista Asturiana de Teatro
Ensaio sobre Eurípides Odorico Paraguaçu – O Bem-amado de Dias Dir. Roberto Corte e Pedro Lanza, n.º 29 (Maio 2010).
Maria de Fátima Sousa e Silva. Lisboa: Cotovia, 2005. Gomes: História de uma personagem lara-
pista e maquiavelento
Estigma José Dias. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Obscena – Revista de Artes Performativas
Jacobo Paz, Vanesa Sotelo e Rúben Ruibal. Santiago de Paulo, 2009. Dir. Tiago Bartomeu Costa, n.º 22 (Jan.-Fev. 2010).

cenaberta 15
cenaberta Junho 2010

ROSTOS DA CENA

José Amaral
Cedo José Amaral aprende a dizer luta. Uma história que o seu nome revela
e esconde. Aos onze anos foge de Dili, a vida transforma-se numa girândola.
Atambua, Lisboa, Maputo – tempos de exílio – são lugares de resistência. En-
tretanto, fez-se cantor, actor. Vê Timor independente. E hoje luta para que a
língua portuguesa e o teatro floresçam na sua ilha-jacaré.
O meu contacto com o teatro começou em 1986, nas Antes do Estágio, eu e outros dois cantores timorenses an- Couto "Mar Me Quer", apresentada pelo grupo Meridional,
comemorações do 28 de Novembro, data da proclamação dámos a apresentar um espectáculo só de músicas. Em Julho dirigido pelo Miguel Seabra. Foi a primeira presença da Cena
da independência de Timor-Leste. Na altura eu estava em de 98, durante a Expo, fizemos um registo para documentar a em Timor, no terreno.Toda a equipa do Meridional lá esteve, a
Maputo e o Abel, do grupo Tchova Xita Duma, quis assinalar contribuição dos cantores timorenses na luta. Luta que, desde representação foi no Centro Juvenil Padre António Vieira, em
a data com a apresentação de uma peça baseada em dois pequeno, afinal foi sempre a minha vida. Dili. Andei a transitar com o António Augusto Barros, fomos
poemas timorenses. Desde aí, tinha eu 22 anos, ficou-me o Nasci no dia 14 de Julho de 1964, em Timor, numa aldeia de à inauguração do Museu do Suco Estado de Fatomautei, em
vício pelo teatro. nome Camea, no distrito de Dili, actual suco (freguesia) de Ermera, percorremos espaços culturais. 
Em Moçambique eu estudava e ia acompanhando a situação Cristo Rei. Estudei até 1975, fiz a 4.ª classe. No mês de Agosto A Cena Lusófona já era ouvida e falada em Timor, ainda Xa-
em Timor, na delegação da Fretilin. As notícias eram as pio- de 1975 inicia-se a guerra civil. E, 16 ou 17 de Agosto, comecei nana Gusmão estava na prisão. A Cena mandou um postal e
res: fuzilamentos nas praias, prisões, mortes de guerrilheiros, a sair de Timor, sozinho, sem família, no meio da multidão. Fui uma revista setepalcos, com os dois participantes timorenses
torturas... E tudo isto o mundo desconhecia. Mas o inimigo parar a Atambua, Timor indonésio. Tinha 11 anos. no estágio na capa. A resposta do Xanana para a Cena foi
esqueceu-se de que o sangue dos fuzilados mancha a branca De Atambua vim para
espuma das ondas timorenses, chega às ondas de outros Portugal em Setembro

Augusto Baptista
oceanos. de 1976, já com 12 anos,
Comecei a denunciar os actos do invasor através de canções integrado num grupo de
com melodias originais, baseadas nos ritmos tradicionais timo- refugiados chefiado pelo
renses. “Laloran Taci Timor”, que significa “Ondas de Timor”, padre Francisco Fernandes.
foi o primeiro tema que escrevi e musiquei. Em Lisboa já tinha Em Atambua, para emissão
trabalhado com alguns grupos timorenses de canto e dança, do passaporte, tiraram-me
tinha bases. Cantava a solo e, a nível de teatro, mantive-me uma fotografia, e o padre
ligado ao Tchova. Francisco perguntou-me
Em Novembro de 1992, achei que estava na hora de regressar o nome. Eu disse: Zé Ca-
a Portugal, onde a minha presença seria mais útil à luta pela in- marada. E ele: José está
dependência. E saí de Moçambique um bocadinho à sorrateira, bem, Camarada, não; os
com receio que me desaconselhassem a vinda. Depois mandei militares indonésios não
uma mensagem. Ainda hoje brincamos: para os que ficaram, gostam dessa palavra. Mas
eu era um fugitivo. Um fugitivo por um bom motivo. és José Camarada porquê?
Quando cheguei a Portugal, como antes já tinha trabalhado Eu expliquei que um dos
aqui com grupos culturais, convidaram-me a continuar. Até membros da família Car-
ao final do primeiro semestre de 93 participei como figu- rascalão me deu esse nome
rante na peça “O Glamour”, sobre o Padre António Vieira, porque numa manifestação
encenada por Ricardo Pais no Teatro Nacional Dona Maria da UDT eu ergui o punho e
II. A par desta participação, ensaiava dois grupos na área do gritei as palavras de ordem
canto e da dança, um em Setúbal, outro em Forte da Casa. E da Fretilin “Independência
tinha de trabalhar. ou Morte, Venceremos!”
Entretanto surgiram as "Jornadas da Democracia para Ti- Para mim era tudo igual.
mor-Leste". Havia a parte política, social e a parte cultural: o Então o padre disse: Ergueste o punho, o teu presidente é que esperava em breve que a revista se passasse a chamar
canto, a dança. Num certo momento sentimos que se deveria Francisco Xavier do Amaral, ficas José Amaral. oito palcos.
introduzir o teatro, a expressão dramática, com o objectivo de Sou José Amaral, embora no registo de nascimento em Timor Depois do Estágio, quando eu conheci o actual Secretário
desanuviar traumas entre os timorenses. Convidou-se então seja José da Silva, mas eu esqueci este nome durante a fuga, de Estado da Cultura de Timor-Leste,Virgílio Smith, nas nos-
o Rui Pisco, actor e encenador, para dirigir esta área. fiquei amnésico, só décadas depois recuperei esta memória. sas conversas sempre falamos da Cena. O ano passado ele
Além das danças e do canto, passei a estar na expressão dra- Cheguei a Portugal em Setembro de 76, fui viver para o Vale desafiou-me a fazer trabalho de expressão dramática com
mática e até participei no FITEI em 95 ou 96, aqui no Porto. do Jamor, Quinta dos Balteiros, perto do Estádio Nacional. Por os jovens. Contactei a Cena para ver de que forma se pode
Em 97, eu e o Calisto Sarmento fomos indicados pelo Rui volta de Novembro ou Outubro, ingressei no Coro Lorosae, responder a esta necessidade. E como instalar em Dili um
Pisco para integrar o 1.º Estágio Internacional de Actores, formado pelo maestro Vianey da Cruz. Do coro passaram-me Centro de Intercâmbio Teatral.
organizado pela Cena Lusófona. Quando falo disto parece para a parte das danças e cantares tradicionais de Timor, onde Eu já lancei uma provocação: por que não a Cena Lusófona, a
que estou a descer a escadaria do Café Teatro Trindade, no tive a sorte de conhecer aquelas senhoras e senhores mais Secretaria de Estado da Cultura de Timor-Leste, a Universida-
primeiro dia, 3 de Novembro de 1997, pelas 11 horas. Foi um idosos, de diferentes partes e línguas, com hábitos culturais de Nacional de Timor, por que não criam estas três instituições
privilégio que jamais esquecerei. diferentes, o que me enriqueceu. uma base comum de trabalho teatral em Timor? Por que não
Nesta primeira fase do Estágio, no Trindade, montámos "A Em 1979, com 16 anos, mesmo sem consciência assumida, sonhar em Dili com uma Escola Superior de Teatro e Cinema,
Fronteira", com o encenador Rogério de Carvalho, peça ba- queria fazer por Timor mais do que cantar e dançar, juntei- como quer Virgílio Smith? Era a cereja sobre o bolo. E um
seada nos contos tradicionais de cada país presente. Depois -me ao Comité 28 de Novembro da Fretilin. Percorremos modo de contribuirmos para que o teatro, a cultura, a língua
realizou-se uma digressão por algumas cidades portuguesas. Portugal, fomos à Holanda. Além do canto e dança, fazíamos portuguesa, floresçam nesta região do mundo. 
Em Coimbra entrámos na 2.ª fase, com a peça de Nelson esclarecimento, campanhas.
Texto de Augusto Baptista, após conversa com José Amaral.
Rodrigues "O Beijo no Asfalto", encenada por José Caldas, Depois, como expliquei, estive em Moçambique de 1984
direcção musical do Tilike Coelho. Apresentámos a peça no a 1992 e, regressado a Portugal, fiz o Estágio e após isso
JOSÉ  AMARAL (Dili, 1964) é cantor autodidacta, actor;
dia 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, no Teatro Académi- integrei, de 1999 a 2002, o elenco do Teatro Bábá, dirigido
co Gil Vicente. No dia 2 de Abril desembarcámos todos por Rui Pisco. Em Abril de 2002 fui destacado pela Cena integrou o Estágio Internacional de Actores promovido pela
em Lisboa para a 3.ª e última fase do Estágio, os Olharapos. Lusófona como elemento avançado em Dili para preparar a Cena Lusófona em 1997. Representante do Secretário de
Aí encontro o Cândido Ferreira, dirigente da Cena e um dos chegada da Cena a Timor. Aí fui convidado a entrar na equipa Estado da Cultura de Timor-Leste,Virgílio Smith, no Encontro
directores artísticos dos Olharapos. Ficámos desde Maio até responsável por toda a área cultural da "Festa da Restauração Internacional Sobre Políticas de Intercâmbio (Coimbra, 3 a 6
Setembro do mesmo ano. Portanto Olharapos e Estágio ter- da Independência". de Dezembro de 2009). Assuntos consulares e responsável
minam no final da Expo 98. Foi uma experiência única. A Cena Lusófona participou nos festejos com a peça de Mia cultural da Embaixada de Timor-Leste em Portugal.

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