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UMA IDEIA SOBRE A JURISDICAO DE DIREITO DO TRABALHO NA FRANCA Eduardo Milléo Baracat”” INTRODUCAO, 1 OS ORGAOS JURISDICIONAIS FRANCESES INCUMBIDOS DE JULGAR LITIGIOS DE DIREITO DO TRABALHO. A) Os contenciosos judiciais. B) Os contenciosos administrativos. M1. © CONSEI. DES PRUD'HOMMES. A) Da composi¢éo. da compcténcia ¢ do procedimento, B) Um paralclo com a Justica do Trabalho. CONCLUSAO. INTRODUCAO O Conseil des Prud’honmes & wtilizado pelos defensores - por conviccéo ou de ocasido - da manutencdo da representagao classista na Justica do Trabalho como exemplo positive de representag&o paritéria na solugio de conflitos entre empregados ¢ empregadores. Existem. no cntanto. diferengas que impedem qualquer comparagdio entre estas duas instituicdes. Mas nao ¢ 0 Conseil des Prud'hommes a nica jurisdigao francesa competente para intervir na solugdo de conflitos existentes entre empregados e¢ empregadores. Existe. na verdade. uma pluralidade de contenciosos ¢ cada um corresponde a competéncia exclusiva de um determinado érgiio. Os litigios trabalhistas franceses podem ser divididos em dois grandes grupos: os judiciais e administrativos. O primciro grupo ¢ subdividido cm jurisdigdes civis ¢ penais. O Conseil des Prud’hommes, Tribunal de instincia. Tribunal de grande instincia c Tribunal do comércio integram. cm primeira instincia, a jurisdigdo civil. enquanto o Tribunal correicional ¢ o Tribunal de policia formam a jurisdigéo penal também cm primeira insténcia. As decis6es proferidas pclos érgiios de jurisdigao civil. exccto aquelas de algada exclusiva " Juiz-Presidente da 1° JCJ de Foz do Ignagn, licenciado para realizar o curso Diplome Supérieur de {'Cniversité (DSU) na Universidade Panthéon-: n). 29 do Conseil de Prud ‘hommes, podem ser objeto de recurso, primeiro para uma Camara Social da Corte de Apelagiio''’ e depois para uma Camara Social da Corte de Cassagao"”’, As decisdes proferidas pelos orgios de jurisdigdo penal podem ser objeto de recurso perante uma Camara Criminal da Corte de Apelacao. em segunda instincia. ¢ para uma Camara Criminal da Corte de Cassagiio em terceira instincia. O segundo grupo é formado pelo Tribunal administrative em instancia. pela Corte Administrativa de Apelagto em segunda instancia, ¢ pelo Conselho de Estado em terceira insténcia. A finalidade desc trabalho é esclarecer a competéncia de cada um destes orgaos no que concerne a um liligio trabalhista. com énfase. evidentemente, a0 Conseil de Prud hommes, orgio jurisdicional francés que tem despertado maior interessc. Procuraremos, desse modo. dar uma visio geral da competéncia destes érgios em litigio trabalhistas (primeira parte), para depois abordarmos especificamente 0 Conseil de Prud'hommes, tragando um paralelo com a Justiga do Trabalho (segunda parte). 1 OS ORGAOS JURISDICIONAIS FRANCESES INCUMBIDOS DE JULGAR LITIGIOS TRABALHISTAS. A possibilidade de diversos érgios jurisdicionais poderem julgar um determinado aspecto do mesmo litigio trabalhista torna dificil a ‘compreensiio do dircito do trabalho francés. Veja-se. por exemplo. 0 caso de dispensa de um delegado sindical. Ser competente o juiz. administrativo para apreciar a Icgalidade do ato da administracao do trabalho que autorizou a despedida. Sera competente 0 juizo penal para apreciar ¢ julgar a cxisténcia de delito de entrave realizado pelo empregador que nio reintegrou o delegado sindical depois de anulada a autorizagao adminstrativa. E. enfim. sera ainda competente 0 Conseil de Prud’hommes para julgar 0 pedido de indenizagao formulado pelo delegado sindical nao reintegrado no emprego apés a anulagio da decisiio administrativa. " Tradugdo livre de Chambre Sociale de la Cour d'Appel. Tradugiio livre de Chambre Sociale de la Cour de Cassation. 30 ‘Tentar-se-a. brevemente. esclarcecr a competéncia de cada um destes drgéos no que tange aos contenciosos judiciais (A) e administrativos (B). A) Os contenciosos judi 1._As jurisdiges civis Além do Conseil de Prud'hommes. os titigios trabalhistas podem ser submetidos a outros tribunais em virtude de determinadas particularidades. a) Tribunal de instincia. O artigo R. 321-1 do Codigo de organizagao judiciéria confere ao Tribunal de instincia uma competéncia “ordindria™ para as ages pessoais ou mobilidtias e uma competéncia especial para outras agdes. No dmbito de sua competéncia ordindria. o Tribunal de instincia dispde de competéncia geral para as agdes pessoais ¢ mobilidrias. em tnica instancia até o valor de 13,000 Francos franceses” ou até o valor de 30.000 francos franceses. neste caso podendo haver recurso. Normalmente os litigios coletivos sio de competéncia do Tribunal de grande instincia. visto que possuem um cardter indeterminado. ou ultrapassam os valores de alcgada mencionadas. O Tribunal de instincia quase mio possui competéncia para julgar litigios individuais. exceto em casos bem especificos. e dentro dos valores de algada mencionados. como. por cxemplo. conflitos entre empregadores em caso de concorréncia desleal para admissio de um empregado. E, todavia. no ambito de sua competéncia especial que 0 Tribunal de instancia habitualmente julga processos relativos ao direito do trabalho. Nesta competéncia especial. deve-se ressaltar 0 contencioso eleitoral, quer se trate de cleigdes de representantes de pessoal. quer se trate de eleigdes de consclheiros prud*hommes. ¢ 0 litigio relativo 4 designagao de delegados sindicais c de representantes sindicais ao comité de empresa.” © Aproximadamente RS 2.600,00 (dois mil ¢ seiscentos reais). (" LYON-CAEN, ELISSIER, J. Droit au travail, 16% ed. Précis Dalloz: Paris, 1992, p. 497. 31 b) Tribunal do comércio. Este tribunal atua nos casos cm que a empresa encontra-sc cm dificuldade financcira (Lei de 1° de margo de 1984) € nos casos de faléncia ¢ concordata de empresa empregadora (Lei de 25 de fevereiro de 1985). Nestas hipdteses. 0 Comité de empresa“ pode integrar 0 processo perante o Tribunal de comércio. podendo requerer ao juiz. a recusa e a destiluigdo do sindico. ¢. em alguns casos. solicitar a nomeagdo de um perito judicial com o objetivo de obter informagécs complementares sobre uma ou varias operagées da gestao. Nos termos do art. 4. alinca 3 da Lei de 25 de janciro de 1985. © Comité de empresa ou. na auséncia deste. os dclegados de pessoal” podem comunicar ao Presidente do tribunal ou ao Procurador da Repiiblica a cessagio de pagamento de saldrios pela empresa. Esta intervengdo nao constitui 0 ajuizamento de uma acfio. mas o tribunal néio pode decidir acerca da concordata sem antes ouvir o Comité de empresa ou os delegados de pessoal. Ademais. 0 Comité de empresa ou os delegados de pessoal podem interpor recurso contra a decisio que decretou a faléncia da empresa ¢ rejeitou o plano de continuacio da cmpresa. como também contra a decisdo que modificou referido plano. O Tribunal de comércio também realiza um controle sobre 0 miamero de postos existenies na empresa. Assim. as dispensas por motivo © comité de empresa & obrigatério em todas as empresas (exceto as empresas piblicas) com pelo nienos 50 empregados - durante doze meses, consecutivos ou néo, no curso dos trés tillimos anos precedentes - cujo objetivo é assegurar a representacao permanente dos empregados, permitindo que seus interesses sejam considerados nas decisdes tomadas pelo empregador referentes a gesido e a evalugao econdmica e financeira da empresa, bent como & argaizagdo do trabatho, 4 formagao profissional ¢ as tenicas de produgdo. (ts. L. 431-1 ¢ L. 431-4 do Cédigo do Trabalho). O conité de empresa & dotado de personalidade juridica ¢ administra 0 proprio patriménio (art. L. 431-6 do Cédigo do Trabalho). Os delegados de pessoal séo eleitos pelos empregados do estabelecimento que eniprega pelo menos onze pessoas ~ durante doze meses, consecutivos ou ndo, no decorrer dos trés anos precedentes, e tem por atribuigdo apresemtar aos empregadores todas as reclamagaes individuais ou coletivas relativas aos empregados, velar pela aplicagéo do Cédigo do Trabatho e de outras leis e regulamentos referentes & protecdo social, & higiene e @ seguranga do trabalho, bem como pela observancia das convengdes ¢ acordas coletivos de trabalho aplicaveis na empresa, conunicar é inspecdo do trabalho todas as reclamagées e observagdes relativas & aplicagata das normas trabalhistas de competoncia desta (rts. L. 421-le L. 422-1 do Céd. do Trab.). 32 econémico pretendidas durante o periodo de observagiio da situagio econémica da empresa (anterior a decrctagdéo da concordata) podem ser autorizadas pelo juiz. se elas apresentam um carater urgente. inevitavel indispensavel (art. 45 da Lei de 25 de janciro de 1985). No processo de concordata ou de liquidacdo judicial. o Tribunal do comércio fixara na decisio proferida, o procedimento a ser adotado acerca das dispensas.”” ¢) Tribunal de grande instancia (TG!). O Tribunal de grande instancia ¢ a jurisdigéo de dircito comum cm matéria civil. possui competéncia residual. isto é, ¢ competente para intervir em todos os litigios cuja compeiéncia nfo ¢ atribuida especificamente a um outro érgdo jurisdicional. Compete ao TGT julgar conflitos trabalhistas. individuais ¢ coletivos. desde que se observem duas condigées: = que nao decorram de contrato de trabalho (competéncia do Conseil de Prud'hommes). ou que nao scja de competéncia especial do Tribunal de instancia (conforme item “a” supra); = que preenchida a primeira condigao. 0 montante do litigio seja superior a algada exclusiva do Tribunal de instincia (30.000 francos francescs). Assim. o Tribunal de grande instincia € competente, dentro deste limitc. cm matéria de litigios rclativos a participagao nos lucros ou as invengées dos empregados: o TCT ainda ¢ competente no ambito das relagdes coletivas de trabalho para interpretar uma convengio coletiva por solicitagao de um sindicato signatario ou para impor a reparagiio do prejuizo causado 20 empregador por uma greve abusiva.“" 4) O juizo cautelar. Todas as jurisdigdes suscetiveis de intervir em um conflito de trabalho podem adotar medidas cautelares: Conseil de Prud’hommes (art. R. 515-4 do Céd. do Trab.): Tribunal de insténcia (art. 848 ¢ s. do novo CPC): Tribunal de grande instdncia (art, 808 ¢ s. do novo CPC), Até mesmo o primciro presidenic da Corte de Apelagiio pode. a nivel i. & PELISSIER, J. Op. Cit G. & PELISSIER, J. Op. Cit. de recurso. e em caso de urgéncia. determinar a adoc4o de medidas em relagdo as quais nao exista contestacao séria (art. 956 do novo CPC). A lentidao dos processos diante da jurisdi¢éo normal incita empregados ¢ empregadores a postular medidas cautelares que. pela propria natureza. sto provisdrias. nado tendo autoridade de coisa julgada, mas que so proferidas rapidamente."" O juiz. competente para apreciar um pedido cautclar é 0 mesmo competente para julgar 0 proceso principal. Assim. 0 juizo de instancia seri competente para apreciar pedido cautclar cm caso de eleic&o de representante de pessoal. cnquanto 0 Tribunal de grande inslancia é competente para apreciar pedido cautclar de cxpulsio de grevistas que ocupam o local de trabalho. As medidas cautelares so cabiveis nos casos urgentes e quando nao existe contestagao séria acerca da existéncia de um direito. A urgéncia sera presumida quando resultar de um dano manifestamente ilicito ou de um perigo iminente (art. 809 do novo CPC). Para fazer cessar um dano manifestamente ilicito, 0 juiz pode determinar, por exemplo. a reintegragao de um empregado estivel que foi irregularmente dispensado. Para cvitar um. perigo iminente. 0 juiz. pode determinar a adogdo de medidas que visem a eliminagao de risco 4 integridade fisica de empregados (art. L. 263-1 Céd. Trab.). A auséncia de contestagio séria é outra condigdo para a concessiio da medida cautelar. Normalmente o juiz s6 antecipa cautelarmente uma medida que vise a protegdo provisdria de um direito se nao existe qualquer ditvida sobre a existéncia deste dircito.""”” 2._A jurisdicdo penal A violagio da maioria das obrigagées assumidas pelo empregador em relagdo aos empregados caracteriza uma contraven¢ao ou um delito.""’ Existem. por outro lado. infragées especificas que podem ser (© LYON-CAEN, G. & PELISSIER, J. Op. Cit, p. 199. 0° LYON-CAEN, G. & PELISSIER, J. Op. Cit., p. 500. ‘) Evemplos: 1. se 0 empregador viola o principio da igualdade profissional entre mulheres ¢ homens previsto no art. L. 123-1 do Céd. do trabalho incorreré no crime previsto no art. L. 152-1 do mesmo cédigo, podendo ser punido com pena de priséio xu cometidas por empregados durante um conflito. como por exemplo violagdo a liberdade de trabalho (art. 414, Cod. penal). Constatando a infragdo, 0 minisiério publico poderia propor uma agdo penal publica. ou a propria parte podera propor a medida judicial cabivel diante do juizo penal ou do civil Quando um processo penal ¢ iniciado. o empregado ou o empregador vitima da infragao podcra ajuizar uma agiio trabalhista, mas 0 Conseil de Prud'hommes deverd sustar 0 processo até 0 julgamento do processo penal (art. +. al. 2 Céd. processo penal). A partir do momento em que © juizo penal pronuncia scu julgamento. 0 juizo trabalhista poderd apreciar a matéria submetida A sua apreciagiio. respeitando o que foi decidido pelo juizo penal. Assim. 0 juizo trabathista nao pode desconhecer 0 que foi decidido pelo juizo penal acerca de fato relevante que scja comum aos processos penal ¢ trabalhista. sobretudo no tocante 4 existéncia ou auséncia de culpa do acusado. B) Os contenciosos administrativos O direito do trabalho francés caracteriza-se por uma forte intervengdo da administragdo do trabalho (1) nas relagdes individuais € coletivas entre empregado e empregador. Desta intervengiio resulta atos administrativos, cuja Iegalidade ¢ apreciada pelo juiz administrativo (2). 1,_A Administragio do trabalho de dois meses a um ano e malta de 2.000 « 20.000 francos fremceses, ou apenas uma das duas penas; 2, O desrespeito dus regras referentes ao trabalho temporario tanto pelo tomador quanto pelo intermedidrio (empresa de trabalho temporaria) & punido com mutta de 4.000 a 20,000 fracos franceses, e em caso de reincidéncia, com mutter de 8.000 francos franceses ¢ priséo de dois meses a seis meses on uma das duas penas somente; 3. Segundo 0 art. L. 263-2 do Céd. do trabalho os patroes, diretores, gerentes ou prepostos que, por culpa, tenkam violado as disposigdes previstas nos capitulos I, I. e I do titulo Ill do Livro 2 do mesmo cddigo, relativos & higiene e seguranga do trabalho, bent como as pessoas que também por culpa tenham violado as disposigdes dos arts. L. 231-6, 1. 231-7, L, 232-2, 1. 233-5 e L. 233-7 do mesmo livro ¢ os regulamentos de administragdo piiblica (referentes a higiene e segurem¢a do trabalho) so pundas com pena de 500 a 15.000 francos franceses. 35 A administraggio do trabalho francesa ¢ formada pelo inspetor do trabalho'*’, Delegado Regional do trabalho ¢ Ministro do Trabalho. Desta estrutura administrativa. © papel do inspetor do trabalho sobressai-se significativamente. Com efcito. o inspetor do trabalho possui uma incumbéncia diversificada. Por primeiro. deve zelar pela aplicagio das disposicées previstas no Céd. do Trabalho: devem juntamente com os agentes da policia judicidria. constatar as infragdes a estas disposigdes. Assim, deve o inspetor do trabalho fiscalizar a aplicagéo na empresa empregadora das leis. regulamentos. convengées € acordos coletivos do trabalho (art. L. 611-1 do Céd. trab.). Para realizar esta tarefa. dispde o inspetor do trabalho de trés prerrogativas bem dclincadas: a primeira refere-se 4 possibilidade de adentrar. sem autorizagao prévia em todo local em que existam empregados trabalhando. a segunda. é a prerrogativa de exigir a apresentac4o de todos registros referentes aos empregados. ¢ a terccira. a possibilidade de retirar da empresa amostras de produtos ulilizados pelos empregados para pericia tendente a verificar cxisténcia de insalubridade do trabalho." Em matéria de higiene e seguranga do trabalho. quando cxiste um risco sério 4 integridade fisica de um empregado (L. 263-1). 0 inspetor do trabalho pode Tequerer ao TGI a expedi¢ao de um mandado. a fim de que seja paralisada a maquina ou a atividade perigosa. Por outro lado. incumbe ao inspetor do trabalho tomar decisdes administrativas. Assim. pode cxigir a retirada imediata de uma clausula ilegal de um regulamento interno. recusar a mudanga de horario de trabalho de um ou varios empregados. autorizar a dispensa de um representante do pessoal.” Esta decis4o pode ser objeto de recurso ao proprio inspetor do (2) 4 fungao de inspetor do trabalho foi criada em 19 de maio de 1874, apds a constatagdo de que a lei de 1841 que protegia o trabalho das mulheres e criangas ndo estava sendo respeitada, em virtude da falta de fiscalizagao dentro das enipresas (RAY, LE., Droit du travail, droit vivant, 6° ed. Ed. Liaisons, 1997, p. 24/25). "2" 0 enpregador que impede o inspetor do trabalho de entrar no estabelecimento ou the fornece informagées falsas, pode ser condenado por delito de obstaculo & inspegdo do trabalho de dois meses a um ano de prisito e multa de 2.000 a 20.000 Srancos franceses ou apenas uma das duas penas (art. L. 631-1). “” De acordo com a sistema frances, sao possiveis dois tipos de dispensa: por motivo pessoal (1) e por motive econémico (2). 1. Toda dispensa por motive pessoal 36 trabalho. ¢ depois perante 0 Delegado Regional do Trabalho. e. finalmente, diante do Ministro do Trabatho. Se 0 recurso nao for julgado no prazo de quatro meses. presume-se rejcitado. A decisto administrativa poderd ser impugnada perante o juizo administrativo conforme se vera adiante. Finalmente, 0 inspetor do trabalho exerce um papel de conselhciro de empregados e empregadores. quando solicitado. 2_O juizo administrative O ato administrativo proferido pela autoridade publica pode ser impugnado perante um Tribunal Administrativo em primeira insténcia, em face de uma Corte de Apclagio administrativa cm segunda instancia, e. finalmente. diante do Consclho de Estado em tiltima instancia_ O juizo administrativo verificars a legalidade do ato administrativo. Até 1989 quando cra necessaria autorizagdo da administragio do trabalho para a realizagio de dispensas por motivo cconémico (ver nota de rodapé n° 14). as jurisdigdcs administrativas exorciam um papel muito mais relevante que hoje. Antes. ao final de um procedimento para dispensa por motivo econémico autorizado pela administracéo do trabalho. o empregado deverd ter uma causa real ¢ séria, sendo que a lei ndo definiu o que seja causa real ¢ séria, 0 que foi feito pela jurisprudéncia. Sdo exemplos de causa real ¢ séria: a falta grave do empregado, insuficiéncia profissional, longa duragdo da doenca do empregado que obriga o empregador a substitui-lo definitivamente conforme o interesse da empresa. Verifica-se, assim, que toda a dispensa deve ser motivada. Nos casos de dispensa por motivo pessoal niio hé um controle prévio do inspetor do trabalho, 2, 4 lei prevé trés tipos de procedimentos em caso de dispensa por motivo econémico: individual, de dois a nove empregados em um period de 30 dias, de dez ou mais empregados em um periado de trinta dias. De 1975 a 1986 era obrigatoria autorizagdo da administragdo do trabalho para se efetuar qualquer dispensa por motivo econdmico. Posteriormente a lei suprimin completamente a autorizagdo administrativa em caso de dispensa de até nave empregados, mantendo apenas a obrigagao de informagao a posteriori, para efeitos estatisticos (art. R. 321-1). No tocante a dispensa de dez ou mus empregados no periodo de 30 dias, a lei diminuin 0 controle da administragda do trabalho, tirando-the o poder de autorizar a despedida, mas mantendo a atribuigdo de fiscalizar a regularidade do procedimento de consulta ¢ as medidas socicis de acampanhamento que o empregador é abrigado aadotar. 3 impugnaria por primeiro o ato administrative perante o Tribunal administrativo. pugnando pela rcintegracao. para somente depois. ¢ em caso de insucesso no juizo administrativo. postular uma jindenizagao perante 0 Conseil des Prud’hommes. Verificou-sc. cm verdade. um grande ‘fluxo de processos do juizo administrativo para o Conseil des Prud’hommes. tendo sido criado, por conseqiiéncia. uma cimara exclusiva para julgamentos de conflitos decorrentes de dispensa por motivo cconémico. De qualquer forma. o juizo administrativo ainda intervém na verificacéo de atos administrativos extremamente importantes, sobretudo no caso de dispensa de empregados que gozam de protegao. como. bor exemplo, © representante de pessoal. ou na regularidade de planos sociais Ti- O CONSEII. DES PRUD'HOMMES ‘Todos os conflitos decorrentes de um contrato individual de trabalho é de competéncia do Conseil des Prud’hommes. Necessario para a melhor compreensiio desta instituiglo. conhecer sua composicdo. competéncia e um pouco do procedimento (A). Embora 0 Conseil des Prud’hommes possua alguns pontos comuns com a Justica do Trabalho brasileira, os pontos divergentes impedem qualquer comparacao séria, A- Da composicao, da competéncia e do procedimento. 1,_Da composicao ¢ da competéncia a) Da composicdo. A idéia originaria do Conseil des Prud'honmes é a de que os juizes espccialistas em direito do trabalho devem estar proximos dos jurisdicionados. e conhecer os problemas peculiares de cada categoria. “S' Todas as empresas com mats de cingitenta empregados e que pretendam dispensar por motivo econdmico dez ou mars enpregados em um periodo de 30 dias sdo obrigados a criar um plano social cnjo objetivo é de possibilitar a reinsergao on readaptagdo do empregado, cnagdo de subvengées para evitar que 0 empregado menos qualificado ndo encontre novo emprego. 38 Cada Conseil des Prud’hommes & dividido por cinco segdes auténomas. 0 que reforga a proximidade cntre juiz ¢ jurisdicionado. Assim, existe as segdes da indistria. do comércio, da agricultura, dos cmpregados que excreem fungéio de confianga e das atividades diversas." Quando uma segdo ¢ composta por diversas cémaras. uma delas poderd ser competente para julgar cxclusivamente os litigios relativos 4s dispensas por motivo econémico (art. L. 512-3). Cada segiio ¢ formada por quatro juizes. sendo dois representantes dos empregados c dois representantes dos empregadores. Os juizes do Conseil des Prud’hommes sao eletos"” para um mandato de cinco anos. scndo possivel a reelcigao. Os candidatos. empregados ou empregadores. se inscrevem em listas sindicais."® conforme a atividade principal da empresa empregadora (industria. comércio ou agricultura). Se a empresa nado desenvolve nenhuma destas atividades. 0 candidato se inscreve na lista referente a atividade diversas (cx: secretirin de um médico. empregado doméstico). Os empregados que excrcem fungio de confianga. sio julgados por uma segdo especifica.''*’ independentemente da atividade da empresa. Para esta segdo, somente os empregados que exercem funcio de confianga podem se candidatar do lado dos empregados. ¢ qualquer empregador que tenha em seu quadro fungi de confianga. Os conselheiros prud hommes beneficiam-se de uma protegio especial contra a dispensa (art. L. 514-2). Os empregadores so obrigados a “© Cada Conseil des Prud'honmes pode ter mais do que wma segdo para cada atividade. Assim, 0 Conseil des Prud’hommes de Créteil, por exemplo, possui 138 conselheiros. “ Do lado dos empregadores votam os proprictirios das empresas, mas também os diretores com poderes especificas. Do lado das empregados so elvitores todas os trabalhadores, francés ou estrangeiro com mais de 16 anos, titulares de um contrato de trabalho, de um contrato de aprendizagem., on involuntariamente desempregados. Para ser candidato, tanto empregado quanto empregador devem ter mais de 21 anos e ser eleitor na segdo respectiva. “8 Nao é possivel a candidatura auténoma ou por partidos politicos, visto que as listas devem ser apresentadas por um sindicato. “) Esta segdo foi criada em 1979 por presséo dos empregados que exerciam fungéo de confianga, visto que estes ndo queriam ser julgados por trabathadores. 39 permitir que seus empregados cleitos para um mandato de conselhciro prud ‘hommes faltem ao trabalho para participar dos julgamentos (art. L. 514- 1) ou sigam formacio financiada pelo Estado.” Importa frisar. a propésito. que quando um empregado ¢ eleito para cargo de conselheiro nao hd qualquer alteragio do seu contrato de trabalho. Ele continua trabalhando normalmente. faltando ao scrvigo apenas nos dias cm que ¢ conyocado para atuar no Conseil, 0 que. em média. ocorre em um ou dois dias por més. O empregado conselhciro também nada recebe pela participagdo no Conseil des Prud hommes. mas téo-somente 0 salério a0 qual ja fazia jus em razao do contrato de trabalho. O Estado, no entanto, ira teembolsar 0 empregador pelas horas em que o empregado conselheiro esteve atuando no Conseil des Prud’hommes. Ji 0 empregador conselheiro. recebe do Estado francés 38 francos por hora que atue no Conseil, sendo em média, de 8 a 16 horas por més.7"' b) Da competéncia. Cada segio do Conseil des Prud’homines & presidida alternativamente por um juiz empregado ¢ depois por um juiz empregador. Esta jurisdicéo é competente para processar e julgar todos os litigios decorrentes da execugdo de um contrato individual de trabalho, pouco importando a nature7a ou o montante do litigio. Este monopélio legal é de ordem publica, nio podendo nem a convengao coletiva nem o contrato individual afasté-lo. Mesmo nos casos em que 0 empregador constitui comissao de disciplina que garante ao cmprcgado o direito de defesa ¢ 0 contraditério. Todo o procedimento uanscorrido perante esta comissdo podera ser reexaminado pelo Conseil des Prud ‘hommes. O Conseil des Prud’hommes tem competéncia exclusiva para apreciar os litigios de valor igual ou inferior a 21.000 francos franceses,~”’ Este valor € revisto anualmente (art. L. 511-1). Os empregados eleitos tem direito a seis semanas por mandato para formagao, ocasido em que tendo aulas de direito do trabatho e matérias afins. 0 Entrevista com o Sr. Gérard LIAGRE, Presidente do Conseil des Prud hommes de Créteil, regido parisiense. 2 Aproximadamente RS 4.200,00, consideranda que RS 1,00 estd em torno de $ francos franceses. 40 Do ado das cinco sessdes referidas existe um colegiado de composi¢éio paritaria que ir apreciar 0s pedidos cautelarcs (art. R 516-30 ¢R 516-31)”. como, por exemplo. rcintegragiio de um representante de pessoal. 2. Do procedimento a) Da desnecessidade de adyogado. O advogado ¢ dispensavel no processo do trabalho francés. mas. mesmo assim. constata-se que mais da metade de empregados ¢ empregadores que comparecem diante do Conseil des Prudhonunes se fazem acompanhar de advogados. Nao € dificil. todavia, que 0 proprio empregado faga sua defesa, ou que venha acompanhado de um delegado sindical que ira defendé-lo. b) Do pedido liquido ¢ certo. Uma caracteristica importante do procedimento francés é que o pedido ¢ necessariamente certo ¢ liquido. 0 que acarreta também uma sentenga certa ¢ liquida. Independente de estar ou nao assessorado por advogado, o empregado para postular diante do Conseil des Prud’hommes deverd preencher um formulirio padrao. indicando na medida do possivel: nome. enderego e profissio das partes (atividade empresarial do empregador). nacionalidade do empregado. data c lugar do nascimento do empregado. data da admissio, altimo salario percebido. convengio coletiva aplicivel. se o empregado recebe seguro desemprego. se a dispensa deu-se por motivo econdmico. se o empregado esl protegido por legislacdo especial ¢ aproximadamente o nimero de empregados do estabclecimento. Apés. 0 empregado. ou scu representante. deverd preencher um formulario indicando a verba ¢ 0 valor postulado. Assim, por plo, se 0 empregado entende fazer jus a 10.000 francos a titulo de salario, deverd colocar ao lado desta parcela 0 valor referido. Sem fazer qualquer mengdo ao motivo pelo qual esta postulando. Sera na audiéncia que as partes. em um procedimento puramente oral, iréo sustentar as suas posigdes. Nenhum documento é juntado com este formulario. que é apresentado no protocolo do Conseil des ® Conseil de Prudhonmes de Créteil, por exemplo, possut 16 jutzes que atuam neste colegiado, sendo 8 de empregados e 8 de empregadores. 41 Prud ‘hommes, que designara data para a tentativa de conciliacao. citando 0 empregador através de duas cartas. uma simples ¢ outra com AR. c) Da conciliagao. Antes da audiéncia as partes so chamadas & sala de conciliagao da segao respectiva. onde dois juizes. um representante de empregado ¢ outro empregador. tentarao a conciliagao entre as partes. Uma caracteristica interessante deste procedimento ¢ que esta audiéncia nfo é pablica, a fim de que a discusso seja livre. podendo da mesma participar apenas 0s juizes ¢ as partes que podcm se fazer acompanhar por advogado ou delegado sindical. Frustada a tentativa conciliatoria. é designada uma audiéncia. d) Da audiéncia. Existe. em principio. apenas uma audiéncia, onde predomina, de mancira interessante. 0 principio da oralidade, Desta audiéncia participam os quatro juizes. sob a presidéncia de um deles, um secretério e as partes. Esta audiéncia é publica. Nada é reduzido a termo. Inicialmente. as partes. ou representante. apresentam oralmente aos juizes as ‘suas razdes. Eventualmente uma das partes ¢ questionada pelos juizes. As testemunhas so ouvidas, observando-se que aquela que ainda ndo depés nao couga o depoimento das outras testemunhas. Nenhum depoimento é reduzido a termo. Cada juiz toma nota do que entende rclevante, para facilitar o julgamento posteriormentc. Apés os debates. ¢ no momento do encerramento da audiéncia cada uma das partes cntrega um dossié contendo as razdes escritas do pedido e da contestag&o. bem como os documentos relevantes. E importante (risar algumas caracteristicas singulares do sistema: -a audiéncia é ripida - em média 20 minutos cada uma.“ -a regra quanto ao Onus da prova ¢ a seguinte: o juiz deve formar sua convicgao tendo em vista os elementos fornecidos pelas partes, e. se entender necessério. podera determinar todas as medidas de instrugao que ‘estime sejam ateis.°*’ -raramente ha conflito quanto 4 jornada trabalhada ou pedido de horas extras. Isto se explica pela existéncia de um controle prévio. dentro Durante uma tarde acompanhei dez audiducias. 9 RAY, SLE. Op. Cit., p. 174, 42 do préprio cstabelecimento, que ¢ realizado pelo inspetor do trabalho. representante do pessoal ¢ sindicato através do delegado sindical. ¢) Do julgamento. Apds a audiéncia os quatro juizes se reinem em sessao secreta ¢ deliberam sobre 0 processo. A decistio sera sempre redigida pelo presidente da segiio. No caso de empate (dois a dois), sera chamado um juiz profissional. o presidente do Tribunal de instdncia, que, em uma outra sessdo. desta vez, sob a sua presidéncia. ira desempatar 0 processo ¢ redigir a sentenga. Da mesma forma que o pedido. ¢ sempre que houver condenagao, a sentenga scr liquida. Isto facilita sobremaneira a execugao. f) Do recurso. Nos casos de pedidos até 21.000 francos franceses nao cabe recurso para a Corte de Apelagio. sendo possivel impugnar apenas questdes de direito perante a Corte de Cassacao. Isto significa que nesses processos as questées de fato sido julgadas exclusivamente pelo Conseil des Prud’hommes. Nos demais processos qualquer matéria pode ser devolvida a Corte de Apclagao. A Corte de Cassagdo aprecia somente as questées de direito, Normalmente a decisio sobre as questdes de fato proferida pelo Conseil de Prud’honmes & mantida pela Corte de Apelagio. g) Da execugio. Apds transitada a decisio condenatoria, ¢ sendo esta sempre liquida, o empregado iri procurar um oficial de justiga (que nao esti vinculado ao Conseil de Prud'honines) para executa-la. Nesta fase ndo é mais possivel qualquer discussio quanto ao valor da execugao. As despesas da cxecucao scriio suportadas pelo empregador. B- Um paralelo com a Justi¢a do Trabatho 1. Da representacio classista Existem diferengas profundas entre 0 Conseil de Prud'hommes a representagao classista da Justica do Trabalho brasileira. 43 A primeira delas. e talvez a mais importante. é a forma de designagao. O juiz francés ¢ eleito democraticamente pelos colegas. enquanto 0 juiz classista é designado. pelo presidente do TRT ou pelo Presidente da Repiiblica. por critério puramente politico. A segunda. também relevante. ¢ que 0 juiz. do Conseil de Prud'hommes néo & profissional, Ou seja. cm principio. cle nada recebe dos cofres pilblicos para exercer 0 trabalho de conselhciro. Mesmo o conselheiro cleito pelos empregadores que recebe do Estado 38 francos por hora trabalhada no Conseil de Prud'hommes ira receber ao final no maximo 2.000 francos por més. cerca de R$ 400.00. O juiz classista brasileiro. ao contrario. recebe mais de R$ 3,500.00 mensais. scja represcntante de empregado ou de empregador. 0 que & extremamente caro para os cofres piblicos brasileiros.”* A terceira € que os juizes do Conseil de Prud'hommes desempenham um papcl muito mais significativo que o juiz classista brasileiro. Com efeito. o conselheiro francés efetivamente atua como juiz na solugdo dos conflitos trabalhistas. visto que dirige 0 processo, toma decisées, ouve as partes. faz. célculos. além de conhecer a realidade dos conflitos que julga, tendo em vista que participa de uma segao (industria. agricultura, comércio. atividades diversas ¢ cargo de confianga) que conhece apenas os litigios da correspondente atividade. Ja 0 juiz classista brasileiro que integra a JCJ normalmente atua como 0 antigo porteiro de auditério, limitando-se a apregoar as partes. c mesmo quando tcnta conciliar as partes. geralmente nfo conhece a realidade destas pois néo atua na mesma atividade. A quarta é que nao ha representagdo paritaria nem na segunda instancia do sistema francés (Corte de Apelacado), nem na terceira instancia (Corte de Cassagao). Os tribunais franceses so compostos exclusivamente por juizes profissionais. aprovados por concurso. e que iniciam a carreira nos tribunais de instancias ou de grande instincia. JA os tribunais do trabalho e 0 TST sao compostos tanto por juizes togados quanto por juizes classistas. Os juizes classistas que atuam nos tribunais sio Ieigos. visto que deles nao se exige formaciio juridica. o que significa que ndo conhecem o Direito do Trabalho. 8 Pergumer a alguns conselheiros porque razdo atuavam no Conseil de Prud'hommes, visto que ndo eram remmerados por 1st0, ouvt as seguintes respostas: para fazer fincionar o sistema; para representar a classe; conhecer a maneira como 0 sistema funciona; fazer justica. 44 E, finalmente. e. por dbvio. niio existe conselheiro Prud'hommes aposentado apés cumprir © mandato de cinco anos. j4 que. como visto, nfo sio remuncrados. No Brasil existem milhares de juizes classistas aposentados com proventos integrais desta fungdio apés terem contribuido apenas de trés a seis anos sobre esta base de calculo. 2. Do procedimento No tocante ao procedimento, constata-sc a ecxisténcia de diferengas significalivas cm rclagdo ao procedimento brasileiro. O primeiro que parece importante ¢ a exigéncia de que 0 pedido seja liquido e de que a sentenca condenatria também fixe a condenagiio de forma liquida. Esta exigéncia permite um controle eficaz acerca dos processos de algada exclusiva do Conseil de Prud’hommes, ¢ permite uma atuacdo mais efetiva na tentativa de conciliagdo. Por outro lado, a sentenca condenatéria liquida antecipa as discussées sobre o valor da condenag&o para antes da decisio. evitando o carater procrastinatorio de embargos a execugiio ¢ agravo de petigdio. O processo sobe uma tinica vez a segunda instancia para resolver todos as questécs possiveis. Os conselheiros Prud'hommes participam de cursos de calculos trabalhistas nos cursos de formaciio financiado pelo Estado. E verdade que os cAlculos trabalhistas brasilciros sto mais trabalhosos. mormente em razdo dos pedidos de horas extras ¢ cartées-ponto confusos. No processo francés. como ja se disse, dificilmemte ha pedido de horas extras. jd que estas necessariamente ja foram pagas. visto o controle cxistente dentro do estabelecimento pela administragéo do trabalho. pelo sindicato ¢ pela representagéio do pessoal ¢ bastante rigoroso. O segundo aspecto que merece destaque é 0 da prevaléncia da oralidade no processo. Nada € reduzido a termo na audiéncia. 0 que permite a realizagao de varias audiéncias por dia. Poder-se-ia argumentar que a questéo fatica no seria devidamente apreciada em recurso. tendo em vista a auséncia do termo constando os depoimentos pessoais e testemunhais. De fato, ndo ha uma grande preocupagao dos tribunais em apreciar a questdo fatica, que. normalmente. mantém a decistio recorrida. considerando que quem colheu a prova esté muito mais capacitado para aprecié-la. 45 CONCLUSAO Nao € possivel tragar uma comparagiio entre 0 Conseil de Prud'hommes ¢ a Justiga do Trabalho. tendo em vista as diferencas marcantes entre as duas instituigdes que foram apontadas no decorrer deste trabalho. Embora 0 Conseil de Prud’hommes contenha diversas caracteristicas positivas, no deve ser considerado um modelo para o sistema brasileiro. A principal critica que se faz ao Conseil de Prud'hommes é, no geral. a péssima qualidade das sentencas proferidas, 0 que nao seria de se estranhar. tendo em vista que aqueles que a redigem sio leigos, e. normalmente, desconhecem 0 direito do trabalho, Existem, evidentemente. bons conselheiros Prid’hommes, que conhecem como poucos 0 Direito do trabalho francés. mas que nao representam a regra. ‘Mas os consctheiros Pruc’hommes tem a grande qualidade de conhecer a realidade da profissfio em que trabalham, pois. conforme ja salientado, eles continuam trabalhando normalmente na empresa. ¢ um ou dois dias por més trocam as ferramentas pela toga No Brasil. infelizmente, os juizes classistas hd muito esto longe da fabrica. sendo que muitos jamais la estiveram. nao tendo qualquer utilidade para a solugdo dos conflitos trabalhistas. Em verdade a Justi¢a do Trabalho brasileira, como se sabe, nao foi inspirada no sistema judiciario francés. mas no sistema fascista italiano, que nem sequer mais existe na Itélia, mas apenas no Brasil. 46

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