You are on page 1of 4

SANTA MARTA

Memória

– Confiança e amor ao Mestre.

– A Santíssima Humanidade de Cristo.

– A amizade com o Senhor torna mais fácil o caminho.

Santa Marta vivia em Betânia, perto de Jerusalém, com sua irmã Maria e seu irmão Lázaro.
Na última etapa da vida pública de Jesus, o Senhor hospedou-se com frequência em sua casa.
Fortes laços de amizade uniam aqueles irmãos a Jesus.

I. A FESTIVIDADE DE SANTA MARTA permite-nos entrar uma vez mais no


lar de Betânia, tantas vezes abençoado pela presença de Jesus. Ali, numa
família formada pelos três irmãos, Marta, Maria e Lázaro, o Senhor encontrava
carinho, e também descanso para o seu corpo fatigado pelo incessante ir-e-vir
entre aldeias e cidades. Jesus procurava refúgio nesse lar, sobretudo quando
tropeçava mais frequentemente com a incompreensão e o desprezo, como
aconteceu na última época da sua vida na terra. Os sentimentos do Mestre
para com os irmãos de Betânia foram anotados por São João no seu
Evangelho: Jesus amava Marta e sua irmã Maria e Lázaro1. Eram amigos!

O Evangelho da Missa2 relata-nos a chegada de Jesus a casa dessa família,


quatro dias após a morte de Lázaro. Pouco tempo antes, quando Lázaro já
estava gravemente doente, as irmãs tinham enviado ao Mestre um recado
cheio de confiança: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas3. E
Jesus, que se encontrava na Galileia, a vários dias de caminho, tendo ouvido
que Lázaro estava enfermo, ficou ainda dois dias no mesmo lugar. Depois,
passados esses dias, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez à Judéia4.
Quando chegou a Betânia, havia quatro dias que Lázaro tinha sido sepultado.

Marta, sempre atenta e activa, soube que Jesus vinha chegando e foi ao seu
encontro. Aparentemente, o Senhor não tinha atendido ao seu recado, mas o
seu amor e a sua confiança não diminuíram. Senhor – disse Marta –, se
tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido... 5 Censura-o com suma
delicadeza por não ter chegado antes, pois esperava que o Senhor curasse o
seu irmão quando ainda estava doente. E Jesus, com um gesto amável, talvez
com um sorriso nos lábios, surpreende-a: Teu irmão ressuscitará6. Marta
recebe essas palavras como um consolo, pensa na ressurreição definitiva e
responde: Eu sei que há de ressuscitar no último dia 7. Estas palavras
provocam uma portentosa declaração de Jesus acerca da sua divindade: Eu
sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;
e todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente 8. E pergunta-
lhe: Crês nisto? Quem poderia subtrair-se à autoridade soberana dessa
declaração? Eu sou a ressurreição e a vida! Eu...! Eu sou a razão de ser de
tudo o que existe! Jesus é a Vida, não só a que começa no além, mas também
a vida sobrenatural infundida pela graça na alma do homem ainda nesta terra.
São palavras extraordinárias que nos enchem de segurança, que nos
aproximam cada vez mais de Cristo e que nos levam a responder como
Marta: Eu creio que tu és o Cristo, Filho do Deus vivo, que vieste a este
mundo9. O Senhor, momentos depois, ressuscita Lázaro.

Admiramos a fé de Marta e quereríamos imitá-la na sua amizade cheia de


confiança com o Mestre. “Viste com que carinho, com que confiança os amigos
de Cristo o tratavam? Com toda a naturalidade, as irmãs de Lázaro lançam-lhe
em rosto a sua ausência: – Nós te avisamos! Se tivesses estado aqui!...

“Confia-lhe devagar: – Ensina-me a tratar-te com aquele amor de amizade


de Marta, de Maria e de Lázaro; como te tratavam também os primeiros Doze,
ainda que a princípio te seguissem talvez por motivos não muito
sobrenaturais”10.

II. TEMPOS DEPOIS, estando já próxima a Páscoa, Jesus visitou


novamente aqueles amigos: Foi a Betânia onde vivia Lázaro, que Jesus
ressuscitara dentre os mortos. E deram-lhe lá uma ceia; e Marta servia, e
Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele11.

Marta servia... Com que amor agradecido o faria! Ali estava o Messias, na
sua casa, ali estava Deus necessitado das suas atenções. E Ela podia servi-lo.
Deus faz-se homem para estar muito perto das nossas necessidades, para que
aprendamos a amá-lo através da sua Santíssima Humanidade, para que
possamos servi-lo e ser seus amigos íntimos.

Não podemos deixar de considerar muitas vezes que o mesmo Jesus de


Nazaré, de Cafarnaum, de Betânia, é quem nos espera no Sacrário mais
próximo, “necessitado” das nossas atenções. “É verdade que ao nosso
Sacrário chamo sempre Betânia... – Faz-te amigo dos amigos do Mestre:
Lázaro, Maria, Marta. – E depois não me perguntarás mais por que chamo
Betânia ao nosso Sacrário”12. Ali está Ele. Não podemos deixar de visitá-lo
todos os dias..., e de permanecer em sua companhia durante esses minutos de
acção de graças após a Comunhão, sem pressas, sem inquietações. Não há
nada mais importante.

Ensina São Tomás que não houve outro modo mais conveniente de redimir
os homens que o da Encarnação13. E aduz estas razões: quanto à fé, porque
se tornava mais fácil crer, já que era o próprio Deus quem falava; quanto à
esperança, porque a Encarnação era a maior prova da vontade divina de salvar
os homens; quanto à caridade, porque ninguém tem maior amor que aquele
que dá a vida pelos seus amigos14; quanto às obras, porque o próprio Deus
nos ia servir de exemplo: assumindo a nossa carne, mostrava-nos a
importância da criatura humana; com a sua humilhação, curava a nossa
soberba...

Na Santíssima Humanidade de Jesus, o amor que Deus tem por nós toma
forma humana, abrindo-nos assim um plano inclinado que nos leva
suavemente a Deus Pai. Por isso, a vida cristã consiste em amar a Cristo, em
imitá-lo, em segui-lo de perto, atraídos pela sua vida. A santificação não tem
por eixo a luta contra o pecado, não é algo negativo; está centrada em Jesus
Cristo, objeto do nosso amor: não consiste apenas em evitar o mal, mas em
amar e imitar o Mestre, que passou fazendo o bem...15

A vida cristã é profundamente humana: o coração tem um lugar importante


na obra da nossa santificação porque Deus se pôs ao seu alcance. E quando
descuramos a vida de piedade, a amizade pessoal com o Mestre, deixando que
o coração se disperse pelas criaturas, a força da vontade não basta para
assegurar o progresso no caminho da santidade. Por isso, temos de esforçar-
nos por ver Cristo sempre próximo da nossa vida, e servir-nos da imaginação
para representá-lo vivo: uma criança que nasceu em Belém, um adolescente e
homem feito que trabalhou em Nazaré, que teve amigos que amava e a quem
procurou muitas vezes porque a sua companhia o confortava.

Aprendamos dos amigos de Jesus a tratá-lo com imenso respeito, porque é


Deus, e com grande confiança, porque é o Amigo de sempre, que procura
continuamente o nosso convívio.

III. EM OUTRA OCASIÃO, Jesus e os seus discípulos detiveram-se em casa


desses amigos de Betânia antes de irem a Jerusalém. As duas irmãs
começaram a preparar todas as coisas necessárias para hospedá-los. Mas
Maria, talvez poucos minutos depois da chegada do Mestre, sentou-se aos
seus pés e ouvia a sua palavra16, enquanto Marta cuidava sozinha do trabalho
da casa. Maria despreocupou-se das inúmeras tarefas que ainda restavam por
fazer e entregou-se completamente às palavras do Mestre. “A familiaridade
com que se instalou aos seus pés [...], a fome de ouvir as suas palavras,
demonstram que este não era o primeiro encontro, mas que existia uma
verdadeira intimidade”17.

Marta não se mostra, com certeza, indiferente às palavras de Jesus; ela


também as escuta, mas está mais ocupada nas tarefas domésticas. Sem
perceber, deixou Jesus passar para um segundo plano: está absorvida nas
coisas que tem de preparar para atendê-lo bem. E inquieta-se ao sentir-se
sozinha, a braços com mais trabalho talvez do que aquele que podia realizar.
Contempla então a sua irmã aos pés de Jesus e, presa de um certo
desassossego, mas com grande confiança, posta-se diante de Jesus – como
nota São Lucas – e diz-lhe: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha
deixado só com o serviço da casa? Diz-lhe, pois, que me ajude18. Que grande
confiança tem com o Mestre!: Diz-lhe que me ajude...

Jesus responde-lhe no mesmo tom familiar, como parece indicar a própria


repetição do nome: Marta, Marta – diz-lhe –, tu te afadigas e andas inquieta
com muitas coisas. No entanto, uma só coisa é necessária 19. Maria, que
deveria sem dúvida prestar ajuda à sua irmã, não esqueceu contudo o
essencial, aquilo que é verdadeiramente necessário: ter Jesus como centro das
atenções. O Senhor não louva toda a sua atitude, mas o principal: o seu amor.

Nem sequer as coisas que se referem ao Senhor devem fazer-nos esquecer


o Senhor das coisas. Marta nunca esqueceria a amável censura do Senhor. Se
o seu trabalho era importante, mais importante ainda era estar com o Senhor.

Nem sequer nas tarefas que se referem directamente a Deus devemos


esquecer que o principal, a única coisa necessária, é a sua Pessoa. E na nossa
vida ordinária devemos ter presente que os assuntos que parecem primordiais,
como o trabalho, também não podem antepor-se à família e muito menos a
Deus. De pouco serviriam os nossos progressos – económicos, sociais... – se a
própria vida familiar viesse a deteriorar-se por ficar em segundo plano. Se um
pai ou mãe de família ganha mais dinheiro, mas descuida o relacionamento
com os filhos, de que adianta? Por maioria de razão, se os nossos deveres
profissionais nos levam a esquecer as nossas orações habituais – uma breve
leitura do Evangelho e outras práticas de piedade, que se intercalam com
facilidade no meio das ocupações mais absorventes –, que sentido têm para
um cristão?

Santa Marta, que goza para sempre no Céu da presença inefável de Cristo,
alcançar-nos-á a graça de valorizarmos mais a amizade com o Mestre; ensinar-
nos-á a cuidar com diligência das coisas do Senhor, sem esquecer o Senhor
das coisas.

(1) Jo 11, 5; (2) Jo 11, 17-27; (3) Jo 11, 3; (4) Jo 11, 67; (5) Jo 11, 21; (6) Jo 11, 23; (7) Jo 11,
24; (8) Jo 11, 25; (9) Jo 11, 27; (10) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 495; (11) Jo 12, 1-2; (12)
Josemaría Escrivá, Caminho, n. 322; (13) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 1, a. 2; (14)
Jo 15, 13; (15) At 10, 38; (16) Lc 10, 39; (17) M. J. Indart, Jesus en su mundo, pág. 36; (18) Lc
10, 40; (19) Lc 10,

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

You might also like