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Sem nenhum presságio, jamais poderia imaginar que aquele pequeno espaço de tempo –
pouco mais de quinze dias, incluindo finais de semana – traria tanta mudança. Começou
com um avião, acabou com uma viagem. Uma viagem sem ticket de volta, um passeio
de proporções que jamais julguei possíveis.
Naquele momento, após a noite calma ter sido arrebatada pelo bólido voador, vi uma
figura no céu. Não, não foi um disco voador, um balão meteorológico ou uma estrela
cadente. Vi uma face, delineada fracamente pelo brilho das estrelas, seu volume
preenchido pelo vapor das nuvens e sua boca movendo-se pelo vento. Isso mesmo, foi
uma ilusão de ótica, um efeito especial da própria natureza. Também foi real, tão real
quanto essas palavras.
Passei o restante das minhas férias tentando decifrar o significado daquela face risonha,
zombeteira. Mergulhei em um estado introspectivo. A contemplação passou a ser minha
mola-mestra; a meditação, meu alimento. Sim, também havia alimento de verdade –
manter a mente funcionando requer a manutenção do corpo.
Em muitas, a face era simplesmente um efeito, uma coincidência. Em outras, pensei ter
visto um reflexo da face de Deus, verificando como andava sua coleção de brinquedos
animados. Algumas idéias eram ridículas demais – de envenenamento a devaneios
causados por má-digestão.
Cheguei, contudo, a uma conclusão da qual não há escapatória. Férias são prejudiciais à
saúde mental, a ponto de não mais me permitir gozá-las. Exceto em doses
homeopáticas, com acompanhamento médico e terapia.