O documento discute a ética no judaísmo, onde a lei e a moralidade são apresentadas como um sistema unificado no Pentateuco. No período talmúdico, os sábios introduziram coerção para algumas normas de comportamento, como regras contra preços excessivos. A jurisprudência judaica incentivava as partes a irem além da obrigação legal estrita, seguindo o princípio do "justo e bom". A distinção entre a lei e ir além dela é explicada pelos conceitos de tsedek (justiça)
O documento discute a ética no judaísmo, onde a lei e a moralidade são apresentadas como um sistema unificado no Pentateuco. No período talmúdico, os sábios introduziram coerção para algumas normas de comportamento, como regras contra preços excessivos. A jurisprudência judaica incentivava as partes a irem além da obrigação legal estrita, seguindo o princípio do "justo e bom". A distinção entre a lei e ir além dela é explicada pelos conceitos de tsedek (justiça)
O documento discute a ética no judaísmo, onde a lei e a moralidade são apresentadas como um sistema unificado no Pentateuco. No período talmúdico, os sábios introduziram coerção para algumas normas de comportamento, como regras contra preços excessivos. A jurisprudência judaica incentivava as partes a irem além da obrigação legal estrita, seguindo o princípio do "justo e bom". A distinção entre a lei e ir além dela é explicada pelos conceitos de tsedek (justiça)
Jacob Dolinger, professor titular de Direito Internacional
Privado na UERJ
No Pentateuco no h distino entre regras de natureza legal
e de natureza moral; ambas so apresentadas via revelao e se equiparam no que tange sua autoridade. A forma imperativa igualmente empregada proibio contra o homicdio e o roubo e ordem de amar o semelhante. Um sistema unificado de lei e moral, apesar de se reconhecer coercibilidade para um e no para o outro.Na viso proftica de Isaas, Ams e Miquias, a perda da soberania e o exlio se do devido a corrupo social, pecados de natureza social, econmica e poltica, a violao de normas jurdico-morais de comportamento, sem referncia a questes de culto ou ao pecado da idolatria.
No perodo talmdico se reconhece claramente que no h um
regime de coero para garantir determinadas formas comportamentais desejadas. Tanto na Mishn como na Tossefta - os dois cdigos editados no final do sculo II da era atual, sobre os quais foram subseqentemente elaborados e editados o Talmud de Jerusalm e o Talmud da Babilnia -, encontram-se referncias a certas situaes em que, apesar de justificado, uma parte no tem recurso legal contra a outra parte, s lhe restando taromet, ressentimento contra quem prejudicou.
Os sbios talmudistas invocaram freqentemente o conceito
de vassiss haiashar vhatov - e fars o que justo e bom -, encontrado no Deuteronmio 6, 18, para fundamentar uma srie de normas de comportamento nas relaes humanas, introduzindo coercibilidade em algumas delas. Destacam-se as regras sobre o preo excessivo, a ona, que faculta ao comprador reivindicar a anulao da transao pela qual o vendedor cobrou mais de um sexto acima do preo do mercado. Outra regra criada com base no ideal do justo e do bom o direito do proprietrio da terra executada por dvidas de reav-la mais tarde, mediante o pagamento do valor de sua dvida. A angstia de quem perde sua terra ou sua casa inspirou a inovao talmdica. Os juizes da poca talmdica, e todos que se seguiram quela era, se esforavam para estimular as partes que compareciam perante as cortes a ir alm da estrita obrigao legal e isto se traduziu em diversas mximas. Uma delas aquela que diz que a parte est isenta, de acordo com as leis do homem, mas obrigada, de acordo com as leis do Cu (dinei shamaim), significando que, apesar de o tribunal no Ter como coagir a parte a cumprir com o iashar vtov, mesmo assim exercia alguma presso verbal para induzi-la a cumprir com o que justo e bom.
Outra frmula muito empregada em mais de dois mil anos de
jurisprudncia judaica a famosa mxima lifnim meshurat hadin - alm da obrigao legal -, significando que, apesar de no haver base jurdica para forar-me a uma determinada atitude ou omisso, se eu quero me comportar alm da estrita letra da lei, preocupando-me com o nvel moral de meu comportamento, devo agir de determinada forma para com o nvel moral de meu comportamento, devo agir de determinada forma para com meu co-contratante, meu vizinho, ou a pessoa que nem conheo e cujo objeto perdido eu achei, levando-me at a indenizar a pessoa que teve prejuzo por um conselho que lhe dei (nenhuma relao com a malpratice profissional, eis que o Talmud trata aqui de conselho gratuito [BM 24b e 30b e BK 99b]).
Uma anlise terminolgica comparativa dos conceitos de
tsedek e chessed torna mais fcil compreender a distino entre o din (a lei) e o lifnim meshurat hadin (alm da obrigao legal). Tsedek significa justia, o ato correto, paralelo a emet, verdade. Tsedek e/ou emet representam os atos verdadeiros e corretos que cada um est obrigado a cumprir, equivalendo ao din, lei. Chessed representa o ato caridoso, paralelo a hen - graa ou favor - e a rachamim - misericrdia. Chessed e/ou rachamim (apesar de, numa anlise mais profunda, serem distintos) representam atos benevolentes, so expresses da boa vontade e de amor ("E amars teu semelhante..."), e materializam o lifnim meshurat hadin, atos que vo alm da estrita observncia da lei, do din.
Consequentemente, o tsadik o homem justo que cumpre a lei,
de acordo com os princpios emanados do tsedek-emet, j o chassid (o chassid mencionado no Talmud, no o judeu pertencente a um dos grupos chassdicos, oriundos do movimento do Baal Shem Tov, do sculo XVIII) a pessoa que age com chessed-rachamim, uma pessoa bondosa, rpida para fazer um favor, uma pessoa que vai alm das exigncias da lei, agindo lifnim meshurat hadin.
Moiss o homem da lei, e seu irmo, Aaron, o homem que
amava a paz, perseguia a paz, e reconciliava as pessoas umas com as outras por meio de concesses e de renncias alm da exigncia da lei. Aaron acrescentava seu chessed ao din do irmo Moiss. No campo das transaes comerciais, no tendo fundamento legal para forar o inadimplente a cumprir seu compromisso, a corte enderea uma censura-maldio a quem no honra a palavra empenhada (mi shepara). Em circunstncias menos graves a censura se materializa cognominando o faltante como mechussar emun (destitudo de lealdade). Uma censura mais branda a que proclama que determinado comportamento da pessoa envolvida "no do agrado dos sbios de Israel". Por outro lado, aquele que paga uma dvida j prescrita (pela shmit que ocorria a cada sete anos) executa um ato que "agrada aos sbios de Israel". A punio pelo uso de pesos e medidas adulterados mais grave do que por relaes sexuais vedadas, pois o comerciante nunca mais saber a quem locupletou para fazer a restituio. O Talmud diz que no julgamento final a primeira pergunta que se faz alma se ela conduziu seus negcios com boa f. Finalmente, qualquer palavra que possa induzir outra pessoa a uma impresso errnea sobre qualquer situao proibida (onaat devarim), mesmo sem acarretar prejuzo monetrio. Uma clssica regra da moral judaica, contida no Pirkei Avot - a tica dos Pais - citar a autoria de tudo que se diz e escreve. Como todos os conceitos aqui expostos derivam do Talmud faz-se to somente uma referncia s obras consultadas para elaborar uma concisa apresentao do tema: Menachem Elon (ed.), The Principles of Jewish Law; Saul Berman, Law and Morality, verbete na obra pr-citada; Aaron Kirschenbaum, Equity in Jewish Law; Boaz Cohen, Jewish na Roman Law - A Comparative Study; Moshe Silberg, Law and Morals in Jewish Jurisprudence (Harvard Law Review, 1961); Itzhak Halevi Herzog, Moral Rights and Duties in Jewish Law, Studies in Jewish Jurisprudence; Nahum Rakover, Ethics in the Market Place. Publicado no Boletim da ASA - edio 71