1) O documento discute os oito princípios da esquizoanálise, que envolve uma abordagem diferente do inconsciente e do desejo em relação à psicanálise tradicional.
2) A esquizoanálise vê o desejo como parte da infraestrutura ao invés de uma superestrutura subjetiva e busca abandonar a abordagem da neurose e família em favor dos processos esquizofrênicos e máquinas desejantes.
3) Um dos princípios é que nada é adquirido de uma
Original Description:
Trecho que consta em "Micropolítica: Cartografias do Desejo"
1) O documento discute os oito princípios da esquizoanálise, que envolve uma abordagem diferente do inconsciente e do desejo em relação à psicanálise tradicional.
2) A esquizoanálise vê o desejo como parte da infraestrutura ao invés de uma superestrutura subjetiva e busca abandonar a abordagem da neurose e família em favor dos processos esquizofrênicos e máquinas desejantes.
3) Um dos princípios é que nada é adquirido de uma
1) O documento discute os oito princípios da esquizoanálise, que envolve uma abordagem diferente do inconsciente e do desejo em relação à psicanálise tradicional.
2) A esquizoanálise vê o desejo como parte da infraestrutura ao invés de uma superestrutura subjetiva e busca abandonar a abordagem da neurose e família em favor dos processos esquizofrênicos e máquinas desejantes.
3) Um dos princípios é que nada é adquirido de uma
"Pistas para uma esquizoanlise os oitos princpios:
Seria a esquizoanlise um novo culto mquina? Talvez. Mas, com certeza, no
no quadro das relaes sociais capitalsticas! O progresso monstruoso dos maquinismos de toda espcie, em todos os campos, e que parece estar levando a espcie humana a uma catstrofe inelutvel, poderia, da mesma forma, tornar-se a via real de sua liber- tao. Ento continua o velho sonho marxista? Sim, at um certo ponto. Pois, ao invs de apreender a histria como sendo essencialmente lastrada por mquinas produtivas e econmicas, penso, ao contrrio, que so as mquinas, todas as mquinas, que funcionam maneira da histria real, na medida em que ficam permanentemente abertas aos traos de singularidade e s iniciativas criadoras. Como contestar, hoje em dia, que s uma revoluo generalizada poder no apenas melho- rar de maneira sensvel o modo de vida na Terra, mas simplesmente salvar a espcie humana de sua destruio? Trata-se de afrontar tanto imensos meios materiais coercitivos quanto microscpicos meios de disciplinarizao dos pensamentos e dos afetos, de militarizao das relaes humanas. Tanto faz voltar-se para o Oeste, Leste ou Sul, a questo continua sendo a mesma: como organizar a sociedade de outra maneira. A represso continuar sendo um dado de base de toda e qualquer organizao social? Mas nada disso inelutvel; outros agen- ciamentos sociais, outras conexes maqunicas so concebveis! Neste ponto, pouco importa parecer estar recitando o marxismo: no se pode esperar nada de bom de uma volta s naturezas primeiras. Nem soluo geral nem a menor catarse em pequena escala! No se pode resolver coisa alguma sem a instaurao de agenciamentos altamente diferenciados. S que deve ficar claro que as mquinas revolucionarias que mudaro o curso do mundo s podero emergir, s podero ter uma consistncia que as faa efetivamente passar ao ato, com uma m dupla condio:
1) que tenham por objeto a destruio das relaes de explorao
capitalsticas e o fim da diviso da sociedade em classes, castas, raas, etc;
2) que se estabelea em ruptura com todos os valores fundados
sobre uma certa micropoltica do msculo, do falo, do poder territo- rializado, etc.
Eis que voltamos questo da esquizoanlise! No se trata, como
podemos perceber, de uma nova receita psicolgica ou psicossociol- gica, mas de uma prtica micropoltica que s tomar sentido em relao a um gigantesco rizoma de revolues moleculares, prolife- rando a partir de uma multido de devires mutantes: devir mulher, devir criana, devir velho, devir animal, planta, cosmos, devir invis- vel... tantas maneiras de inventar, de "maquinar" novas sensibili- dades, novas inteligncias da existncia, uma nova doura.
Isto posto, se eu fosse obrigado a concluir com algumas reco-
mendaes de bom senso, algumas regras simples para a direo da anlise do inconsciente maqunico, eu proporia os seguintes aforismas, que, alis, poderiam ser aplicados a campos completamente diferentes, a comear pelo da "grande poltica":
1) "No atrapalhar." Em outras palavras, deixar como est.
Ficar bem no limite, adjacncia do devir em curso, e desaparecer o mais cedo possvel. (Portanto, ficam fora de cogitao as curas se arrastando durante anos, dezenas de anos, como est na moda na psi- canlise atualmente.)
2) "Quando alguma coisa acontece isto prova que alguma coisa
acontece." Tautologia fundamental para marcar, a tambm, uma diferena essencial em relao psicanlise, da qual um dos princpios de base reza que: "quando nada acontece, isto prova que, na realidade, alguma coisa acontece no inconsciente". Princpio que serve ao psica- nalista para justificar sua poltica do silncio e das esperas indefinidas. Na verdade, raro que realmente acontea alguma coisa nos agen- ciamentos de desejo! Alis, convm guardar todo o relevo de tais acontecimentos, e toda vitalidade das componentes de passagem que so sua manifestao. Os psicanalistas gostariam que acreditssemos que eles esto em constante relao com o inconsciente, que eles dis- pem de uma conexo privilegiada que os liga a ele, uma espcie de telefone vermelho, como o de Crter e Brejnev! Os despertares do inconsciente sabem se fazer ouvir por si prprios. O desejo incons- ciente, os agenciamentos que s se exprimem pelos sistemas domi- nantes de semiotizaao, manifestam-se por outros meios, que no enganam. Eles no tm necessidade alguma de porta- voz, de intr- pretes. Que mistificao esta de pretender que o inconsciente trabalha em segredo, que no se pode dispensar um certo tipo de detetive para decifrar suas mensagens, e sobretudo a de afirmar que ele est sempre vivo, latente, recalcado, at mesmo quando ele est visivelmente ador- mecido, esgotado, morto, e que no haveria mais outro recurso seno reconstruir, s vezes, partindo quase de zero. Que alvio um tanto co- varde que encontrar algum que te credita, apesar das aparncias, uma riqueza inconsciente inesgotvel, quando tudo ao teu redor a sociedade, a famlia, tua prpria resignao parecia ter conspirado para esvaziar-te de todo e qualquer desejo, de toda e qualquer espe- rana de mudar tua vida! Um servio desses no tem preo e d para compreender por que os psicanalistas se fazem pagar to caro! 2
3) "A melhor posio para se escutar o inconsciente no consiste
necessariamente em ficar sentado atrs do div."
4) "O inconsciente molha os que dele se aproximam." Sabe-se
que "alguma coisa acontece", quando o agenciamento esquizoanaltico revela uma "escolha de matria"; torna-se ento impossvel ficar neu- tro, pois esta escolha de matria arrasta em seu curso todos aqueles que encontra no caminho.
5) "As coisas importantes nunca acontecem onde esperamos."
Outra formulao do mesmo princpio: "a porta de entrada no coin- cide com a porta de sada". Ou ainda: "as matrias dos componentes que esboam uma mudana no so geralmente da mesma natureza que os componentes que efetuam esta mudana". (Exemplo: a fala vai virar somtica, ou o somtico, econmico, ou ecolgico, enquanto que o ecolgico vai virar fala ou acontecimentos scio-histricos, etc, etc.) A riqueza de um processo esquizoanaltico vai se medir pela variedade e pelo grau de heterogeneidade destas espcies de transferncias riz- micas, de maneira que mais nenhuma espcie de semiologia signifi- cante, de hermenutica universal ou de programao poltica poder pretender traduzi-las, coloc-las em equivalncia, telegui-las para finalmente extrair delas um elemento comum facilmente explorvel pelos sistemas capitalsticos. Um significante decididamente no repre- senta a subjetividade esquizoanaltica por um outro significante! En- quanto os componentes no cheguem a organizar seus prprios ncleos maqunicos e seus prprios agenciamentos de enunciao, permane- cem empacados diante da pretenso dos significantes dominantes de querer interpret-los. E, em seguida, so eles que fagocitam o compo- nente significativo. preciso repetir: isso no absolutamente sin- nimo de um primado sistemtico dos componentes no verbais "de antes do tempo das mquinas".
6) J se esbarrou na questo da transferncia, acho que seria
bom distinguir, em quaisquer circunstncias:
as transferncias por ressonncia subjetiva, por identificao
personolgica, por eco de buraco negro;
transferncias maqunicas (mquinas transferncias) que
procedem aqum do significante e das pessoas globais, por interaes diagramticas a- significantes e que produzem no- vos agenciamentos em vez de representar e decalcar indefini- damente antigas estratificaes.
7) "Nada adquirido de uma vez por todas." Nenhuma fase,
nenhum complexo nunca so vencidos, nunca so superados. Tudo permanece sempre em suspenso, disponvel a todos os reempregos, mas tambm a todas as degringoladas. Um buraco negro pode esconder um outro! Nenhum objeto pode ser designado por uma identidade fixa; nenhuma situao garantida. Tudo uma questo de consistncia de agenciamento e de reagenciamento. A colocao no mercado de uma consistncia simblica garantida 100% ("como que voc passou seu complexo de castrao?"), uma operao desonesta e perigosa. So- bretudo por parte de pessoas que pretendem t-la adquirido, eles prprios, no decorrer de uma anlise dita didtica!
8) Ultimo, mas de fato, primeiro princpio: "toda idia de prin-
cpio deve ser considerada suspeita". A elaborao terica tanto mais necessria e dever ser tanto mais audaciosa quanto o agenciamento esquizoanaltico tomar a medida de seu carter essencialmente pre- crio. Programa
No considerar o desejo uma superestrutura subjetiva que fica
pisca- piscando.
Fazer o desejo passar para o lado da infra-estrutura, da famlia,
do ego e a pessoa para o lado da antiproduo.
Abandonar uma abordagem do inconsciente pela neurose e a
famlia, para adotar aquela, mais especfica, dos processos esquizo- frnicos, das mquinas desejantes.
Renunciar captura compulsiva de um objeto completo simb-
lico de todos os despotismos.
Desfazer-se do significante.
Deixar-se deslizar pelos caminhos das multiplicidades reais.
Parar de ficar reconciliando o homem e a mquina: sua relao
constitutiva do prprio desejo.
Promover uma outra lgica, uma lgica do desejo real, estabe-
lecendo o primado da histria relativamente estrutura. Promover uma outra anlise, isenta do simbolismo e da interpretao, e um outro militantismo, arranjando meios para libertar-se por si mesmo das significaes da ordem dominante.
Conceber agenciamentos coletivos de enunciao que superem o
corte entre sujeito da enunciao e sujeito do enunciado.
Ao fascismo do poder opor as linhas de fuga ativas e positivas que
conduzem ao desejo, s mquinas de desejo e organizao do campo social inconsciente.
No fugir, voc prprio, "pessoalmente", dar o fora, se man-
dar, mas afugentar, fazer fugir, fazer vazar, como se fura um cano ou um abscesso. Fazer os fluxos passarem sob os cdigos sociais que querem canaliz-los, barr-los.
A partir das posies de desejo locais e minsculas, pr em
xeque, passo a passo, o conjunto do sistema capitalista.
Liberar os fluxos, ir longe no artifcio, cada vez mais.