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DECISÃO

Trata-se de agravo de instrumento interposto pelo Sindicato dos


Servidores da Polícia Civil do Estado de Rondônia SINSEPOL em face do
Estado de Rondônia.

O Sindicato agravante move execução coletiva em favor da categoria,


tendo requerido no citado processo executivo, antecipação de tutela em
favor de uma filiada, Ana Christina Silveira Brasil, no sentido de dispensar
o pagamento pela via do precatório com a respectiva liberação da verba
trabalhista, ao argumento de que a citada servidora encontra-se doente
com câncer de mama e necessita dos valores para realizar tratamento em
outro Estado da Federação além das despesas da cirurgia que precisa
realizar.

O pleito foi indeferido pelo magistrado de primeiro grau.

Inconformado, agrava ao argumento da possibilidade de tal medida,


consoante a nova redação do art. 100, da CF/88, bem como a mitigação da
rigidez do sistema de precatórios pela eficácia do princípio da dignidade
humana.

Inexistiu pedido de efeito.

Informações do juízo à fl. 66.

A d. Procuradoria de Justiça, em parecer da lavra do eminente Procurador


Júlio César do Amaral Thomé, pugnou pelo provimento do recurso (fls.
69/74).

É o relatório. Decido.

Inicialmente é preciso frisar que o precatório judicial é o instrumento


através do qual se cobra um débito do Poder Público, conforme o art. 100,
da CF/88, em virtude de sentença judicial.

No caso dos autos, o agravante, à condição de substituto processual,


pretende à liberação, sem a via do precatório, de crédito da servidora Ana
Christina Silveira Brasil, acometida de grave enfermidade, denominada
carcinoma ductal invasivo (câncer de mama) CID 50-9, em estado grave,
estando sob tratamento quimioterápico(fls. 54/56).

Sustenta que em face da gravidade da doença necessitará deslocar-se até


a cidade de São Paulo, para dar continuidade ao tratamento médico e
mastectomia direita, ou seja, extração cirúrgica da mama direita.

Pois bem, o art. 100, § 2º da Constituição Federal, com a redação que lhe
foi dado pela Emenda Constitucional 62/2009, estabelece o seguinte:

Art. 100. omissis

§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60


(sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição do precatório, ou
sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos
com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente
ao triplo do fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo,
admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será
pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.

Assim, a Constituição Federal, prevê que sendo o titular do precatório


portador de doença grave, terá direito de preferência no recebimento
desse valor. Cumpre indagar então, nesse contexto, se a doença da qual a
substituída é portadora é considerada grave ou não?

O câncer de mama propriamente dito é um tumor maligno. Isso quer dizer


que o câncer de mama é originado por uma multiplicação exagerada e
desordenada de células, que formam um tumor. O tumor é chamado de
maligno quando suas células tem a capacidade de originar metástases,
ou seja, invadir outras células sadias à sua volta. Se estas células
chamadas malignas caírem na circulação sangüínea, podem chegar a
outras partes do corpo, invadindo outras células sadias e originando
novos tumores.

Registre-se, ainda, que o Diretor Geral do Instituto Nacional do Câncer,


Luis Antonio Santini, adverte que hoje o

Nessa seara, não há como não considerar a citada doença como grave.

De outro passo, é fato público e notório que para recuperação da


substituída será necessário tratamento fora do domicílio, em unidade
especial para esse fim, já que o Estado de Rondônia não possui
estabelecimento próprio.

Assim, dada a situação extrema, o cumprimento da ordem cronológica do


precatório poderá torná-lo inútil enquanto a antecipação de parte dos
valores devidos poderá ampliar a qualidade e expectativa de vida da
substituída.
Ante o exposto, nos termos do art. 557, §1ª-A, do Código de Processo
Civil, dou provimento ao recurso e antecipo a tutela com relação à
exequente Ana Christina Silveira Brasil, para determinar a liberação de
3/10(três décimos) do crédito da exequente, independentemente de
precatório, sendo que o remanescente permanecerá jungido à linha do
precatório, sob pena de assim não agindo o Estado, ser-lhe sequestrado
esse valor.

Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se.

Certifique-se a presente decisão nos autos de precatório em tramitação


nesta Corte.

Porto Velho/RO, 29 de julho de 2010.

DUÍLIA SGROTT REIS


Juíza convocada

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