You are on page 1of 4
Capituto 4 Padronizacao dos Testes Psicologicos — As Normas por Luiz Pasquali L, se refere & necesséi Padronizagio, em seu sentido mais g¢ gio do teste (uniformidade das condigdes de testagem) até 0 desen- volvimento de parimetros ou critérios para a interpretaco dos resul- tados obtidos. Alguns autores (incluindo ali Cronbach, 1996) querem fazer uma distingZo clara entre * padronizacdo = uniformidade na aplicagao dos testes e * normatizagio = uniformidade na interpretagao dos escores dos testes. A distingdo 6 importante, porque trata de duas questes muito . Entretanto, a literatura neste particular néo é insistente so- pelo contrétio, as duas expressdes so utilizadas ndistintamente. Contudo, como se trata de questées distintas, vamos abordar o tema em duas segGes separadas neste capitulo. 8 “Técyacas be Exe Pstcouscico — TEP. |. Padronizacgaéo das Condigdes de Administracgao dos Testes Psicoldgicos ‘Quanto a este assunto, jé apresentamos detalhes na sego 5 do capitulo 1. Mas é preciso aqui falarmos de mais algumas precaugSes neste particular. ‘A padronizagao das condigdes de aplicagio dos testes psicolégi- cos tem como preocupacao garantir que a coleta dos dados sobre os sujeitos seja de boa qualidade. De fato, uma mé aplicacéo toma os dados invalidos, mesmo quando obtidos através de um teste de boa qualidade. A mé aplicagio nfo invalida a qualidade, digamos psicométrica, do teste (se ele é um teste vélido e preciso, continua sendo assim), mas torna o protocolo do sujeito invélido, isto é, os da- dos obtidos sobre este sujeito nao so confiveis. Assim, uma mé apli- cagio do teste estraga a utilidade deste, pelo mau uso que dele se faz. Ento, a padronizacio das condigdes de testagem pretende garantir 0 uso adequado e legitimo dos testes psicolégicos. Claro que tal preocu- pacdo é relevante e importante somente se 0 teste for de boa qualida- cde; uma boa aplicago de um teste invalido nfo salva nada, os resulta- dos continuam invalidos. Para garat boa administrago dos testes psicolégicos & preciso atender a requisitos referentes aos seguintes temas: * o material da testagem; + oambiente da testagem; * oaplicador. PADROEAGKO BOS TSTES SIOOUIGCOS — AS HORA 139 1. O Material de Testagem Quanto ao material da testagem, duas condig6es devem ser atendidas: a. Qualidade do teste: o teste tem que ser vélido e preciso, como foi definido no capitulo 3; o uso de testes sem estes parémetros € inGtil, eticamente condendvel e judicialmente processével; bb. Pertinéncia do teste: além de ser vélido e preciso, o teste deve (1) ter relevncia ao problema apresentado pelo sujeito testando. ‘Nenhum teste serve para toda e qualquer avaliagao. O aplicador deve saber para que serve um dado teste e escolher aquele que se aplica ao problema do testando. Este € um problema bastante gra- ve para o psicdlogo, uma vez que, apesar de haver tantos testes no mercado, no existem testes para todas as necessidades que os sujeitos podem apresentar. Veja, por exemplo, o caso da selegio: praticamente quase nfo existem testes elaborados para este fim assim, na hora de escolher os testes para tal intento, 0 psicélogo tem que se mostrar criativo para usar testes que, pelo menos, pos- sam dar alguma informacio pertinente para um ou outro cargo. ‘Assim, pot exemplo, um teste de racioefnio dedutivo dificilmente se justifica num psicotéenico para motoristas amadores. Além de ser pertinente a0 caso, (2) o teste escolhido deve se adaptar 20 nivel do candidato, isto é, adaptado ao nivel intelectual, profissi- onal, etc. do candidato. Por exemplo, testes de tipo verbal, em ‘que se exigem leitura e compreensio, no sio pertinentes no caso de testagem de analfabetos ou de criangas. 2. O Ambiente de Testagem Ties condigées devem ser atendidas com respeito ao ambiente de aplicago dos testes psicolégicos: 1. O ambiente fisico: 0 ambiente fisico de testagem deve ser tal que 0 candidato se sinta em suas melhores condigdes para res- ponder ao teste, sem a presenca de distratores ambientais. O “Tequcas pe Buus Psco.datcn ambiente fisico nao pode se tornar um fator desfavoraye desmotivador e incémodo para o testando. Assim, é precis que a sala seja agradavel e os méveis adequados. Isto impli haver espago suficiente, iluminagao apropriada, ventilaga temperatura ¢ higiene condizentes, auséncia de batulho, e lade de mesas € cadeiras, pelo menos, confortav Este problema é particularmente grave em aplicacdes col vas, sobretudo em concursos piblicos. O ambiente psicolégico: neste particular devem ser atendi trés condigdes (veja no capitulo 1 detalhes sobre este pont a) 0 testando deve estar em condigdes normais de sade ca e psicoldgica; b) 0 testando deve compreender com clareza o que the pedido no teste, isto , as instrugées do teste devem s claramente entendidas. Especialmente em casos testagem em grupo, a compreensio das instrugdes po se tornar um problema importante. Assim, recorre-se leitura em voz alta das instrugées para todo o mund. abrindo em seguida tempo para dirimir dévidas com plicagées ulteriores. Mas estas explicagdes podem se nar outro grave problema, porque, em primeito lugay dos devem entender claramente a tarefa a ser executa a0 responder o teste e, conseqiientemente, vio se faz necessrias explicagdes além da leitura das instrugbe ‘mas, em segundo lugar, com tais explicagdes voce p estar interferindo na resposta ao teste, dando masiadas. O psicdlogo aqui vai ter que apelar para su habilidades de perito e dar as explicagées necessérias par a compreensio da tarefa sem revelar a solug3o dos proble- mas que fazem parte da tarefa contida no proprio teste} ) estabelecer o rapport com o testando. Isto significa que aplicador deve assumir uma atitude de amigo, nao de estranho, e menos ainda de um carrasco. Significa, no do, que o testando se sinta bem & vontade ao fazer 0 tes PADRON2AGKO OS TESTES RACOLGEICOS — AS NORMA un te, 0 que implica que o examinador seja motivador e encorajador, nio se itrite, nfo grite ou faga cara feia, etc. no contexto da testagem. O objetivo principal deste rapport visa reduzir o nivel de ansiedade do testando, mantendo a seriedade da tarefa. Para conservar esta seri- edade, 0 aplicador precisa manter 0 comando sobre 0 gru- po, numa testagem em grupo. Este comando implica que © psicélogo deve proporcionar um ambiente de amizade, mas evitando ambiente de bagunga e brincadeira. 3. A ocasido: 0 tempo de aplicagio dos testes psicol6gicos seré determinado pelas duas primeiras condigSes expostas acima, isto 6, faz sentido aplicar testes quando se puder salvaguardar as condigées do bom ambiente fisico e psicol6gico. Quando ha uma série de testes a serem aplicados numa testagem, &s vezes € necessério dividir em mais de uma sessio 0 programa de a cago, a fim de evitar fadiga, aborrecimento ¢ outros dissabo- tes que impedem um uso adequado dos testes. ies adversas: Um problema grave surge quando se deve aplicar testes em situagdes adversas. SituagGes adversas de testagem sio, por exemplo, a aplicacao de testes para fins peri- ciais e a testagem para sel o. Nestes casos, 0 sujeito se en- contra necessariamente em condigées psicol6gicas e, as vezes até fisicas, nao satisfatGrias, sobretudo porque ele esté ali como vitima ou numa situagio de alta competigéo. No caso da testagem de selecio, especialmente em concursos piblicos, parece até haver uma contradicio entre a situagao ideal de aplicagao dos testes e a exigéncia constitucional da isonomia, segundo a qual todo o mundo deve ser tratado igualmente, Quando voce tem milhares de candidatos concorrendo a um dificil de ser realizada; entdo, tipicamente se faz testagem em grupo. Neste caso, todo o mundo deve ser tratado do mesmo modo, 0 que implica mesmo horfrio, mesmas condig6es, mes- lo. Mas se um sujeito est doente ou de qualquer forma un 3. O Aplicador deve ser um psicdlogo, os seguintes requisitos se fazem necessii a, “Tecncas oe Beane Pacoudaien que fazer? Remarcar para outro dia pode estar ofendendo principio legal da isonomia, ao dar a ele tratamento di do; tomar o teste naquelas condigées adversas pode prod resultados invilidos... Na prética, o que tem prevalecido tais situagdes so os principios da isonomia. No presente, situagGes de testagem so uma dor de cabeca e angtstia para psicélogo responsavel e consciente de sua profissio. Quanto ao aplicador dos testes psicolégicos, que tipicament Comhecimento: o aplicador deve conhecer profundamente 0. terial utilizado, para que possa oferecer respostas ’s questies vantadas pelos candidatos e transmitir-lhes seguranga; Aparéncia: deve-se usar roupas adequadas e limpas, pois aplicador precisa causar boa impressio; enfim, ele tem de se sentar como uum perito, evitando extravagancias na sua aprese taco; utilizar perfumes nao extravagantes.., Comportamento durante a testagem: 0 aplicador esté af para duzir a testagem, assim, ele deve manter ordem, respeito, or sem fazer interferéncias e interrupgdes desnecessirias , € importante atender ao uso da linguagem, utili vocabulério adequado e compreenstvel ao grupo ou sujeito. ele deve transmitir seriedade, seguranca e confianga aos testa suas atitudes tém de ser correspondentes: ser atencioso, nao invitar ou gritar, movimentar-se discretamente na sala (usar s tos que nao facam barulho).. Gravar a sesso: somente com 0 consentimento do pacient Tal técnica € de muita utilidade para rever, com calma e pre- cisfo, os eventos ocorridos durante a sesso. PAEONEAGAD DOS TESTES FIOOLOCIOOS —~ AS NORMA 13 Il. Normatizacao dos Testes Psicoldgicos ‘A normatizagio diz respeito a padres de como se deve inter- pretar um escore que 0 sujeito recebeu num teste. Isto porque um escore bruto produzido por um teste necessita ser contextualizado para poder ser interpretado. Obter, por exemplo, 50 pontos num tes- te de raciocfnio verbal e 40 num de personalidade nao oferece ne~ nhuma informagio. Mesmo se dissermos que ele acertou 80% das questdes, nfo significa muito, visto que 0 teste pode ser facil (80% entio seria pouco) ou dificil (80% entdo seria muito). Na verdade, qualquer escore deve ser referido a algum padrio ou norma para adquitir sentido. Uma tal norma permite situar 0 escore de um su- , permitindo (1) determinar a posico que 0 sujeito ocupa no trago medido pelo teste que produziu o tal escore e (2) comparar 0 escore deste sujeito com 0 escore de qualquer outro sujeito. O eri- tério de referencia ou a norma de interpretacio é constituido tipi- camente por dois padrées: (1) 0 nivel de desenvolvimento do indi- viduo humano (normas de desenvolvimento) e (2) um grupo pa- dro constituido pela populacao tipica para a qual o teste € construfdo (normas intragrupo). |. Normas de desenvolvimento As normas de interpretagio dos escores de um teste bascadas no desenvolvimento se fundamentam no desenvolvimento progres- sivo (nos varios aspectos de maturagio psicomotora, psiquica, etc.) qual o individuo humano passa ao longo de sua vida. Neste ido, sio utilizados, como critério de norma, trés fatores: idade |, série escolar, estigio de desenvolvimento.

You might also like