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Fiurevsta de Mareo Antonio Rodrigues Aimar labaki* e Fatima Sadi, comapaticipagio de Dagoberto Felize Caras Francisco, o Catto 0 Grupo Folias d’Ante se caracteriza por uma insereho est especial no panoram Instalado nm glpio na rei centr as, integrado por umargo Costa, J Son leealtumenaee dean deieianbeiebsaeetiate j slguns anos, sisteratizaram objetivos artisticos ¢ estraiégias de producto necessérios A manutenco ¢ a0 deseavolvimento de seus projetos critivos. 0 dizetor Marco Antonio Rodsigues, o ator e diretor Dagoberto Feliz ¢ o ator Carlos Francisco Rodrigues, o Carlo, conversaram conosco sobre a estrutura de trabalho e as articulagées do Folias d’Arte com o pensamento estético ¢ com as possibilidades de viabilizagto deste pensamento no contexto s6cio-politico em que vivemos. am irabalhands j Eétima Scadi Como vocds definirlam 0 grupo F d’Arte no tocante 4 organizagée da Companhia premissas de trabalho? Blarea Precigo falar um pouquinho da histéria para voce entender a organizagdo. Eu nunca acreditei em teatro de grupo como organizagio, estrutura, porque acho que grupo carrega um pouco um dos problemas familiares, que € a promis- cuidade. Entdo, cu sempre rejeitei muito essa idéia, © grupo surgiu por conta de uma necessidade e de uma circunstincia. Em 1997, nés Foto de Josna tilatels Babilnia, de Reinaldo inegao de Barco io Rodrigues, 2001. Dagohero elite Carlos Francco, Mares O Polias nfo existia como grupo. Algumas pessoas wal ito tempo: eu, Dagoberto Feliz, Renata Zhaneta somos todos de Santos, entiio, desde la, fazemos algumas coisas juntos. Depois vém o Reinaldo Maia, a Nani de Oliveira, a Patricia Barros e, por diltimo, o Carlo. Entao, desde empre, estivemos agregados de alguma forma em tomo de um trabalho artistico, porém organizados através de algum produtor, Por exemplo, ha 12 anos fizemos Eng, 0 gnomor eu, Renata, a Nani, com produgio do Antoninho Mathias de Oliveira... Aimar Labaki Foi um fenémeno ndo s6 de bilheteria mas de critica, ganharam todos 05 prémios, ficaram em cartaz dols anos, uma coisa, um acontecimento. Marco Eu e a Renata fizemos também, na época, Um uisque para o Rei Saul, de César Vieira, enfim, santista anda sempre em bando, assim, acabdvamos sempre fazendo coisas juntos. Também com producio do Mathias, eu havia dirigido uma ldo Maia para o romance de Th Gautier, Capitao Fracasse, que resultou no espeticulo Vers gue tudo é mentira, Ali j se reunia o que hoje a base do Folias fellinianas. Quando ganhamos o Prémio-Estimulo Rangel, que era um prémio razodvel, na época, 1997, 110 mil reais, pensamos: vamos botar a maior parte do dinheiro na criago de uma infra-estrutura para o grupo e a menor parte nna montagem emsi. A gente jétinha constatado que ndo adianta 127 g produzir se no tiver wa espago pare fazer com que sua prodigio aconteca, loge, precisévartos de um espaco. O Folias tinha em sua cenografis uns carros altos, uns sujeitos que portanto precisévamos sito razoavelmente andavai sobre enormes pernas-de-pat de um espaco para ensaios com um pé- io. Saimos 4 caga deste Ingar. Pequeno parénteses hist6rico: m ou dois anos antes, a Secretaria de Cultura do Estado, por intermédio das Oficinas Culturais Oswald de Andrade, havia me convidedo para dirigir e coordenar o projeto Didatica da Encenagiio, que 0 Anténio Carlos de Moraes Sartini, queria zetomar. O Didética foi uma invengao d pt anterior ¢ que 86 tinha tide w contrapartica wentavam workshops, eso para 1 problerna dle men io se dé dinheiza apenas para a mo dinheire para montager, que é absolutame: por exemplo, a moda é pedir “contrapartida social”, isto é: os grupos tém que ter atividade de assisténcia social para receber para produgdo. Na época, eu pensei: jd que isso acontece, por que néo fazer um projeto em dois estdgios? © primeiro necessariamente didético, sob a forma de oficinas, e o segundo como montagem. Na pritica, 0 projeto acabou ganhando uma cara que é quase ume cara de estgio remunerado. Que ¢ 0 qué? Vocé pega uma montagem real, quer dizer, vocé néo inventa uma monta- gem para isso, voce faz oficinas reais, vinculadas ao espetéculo, mas antes do processo de ensaio e, quando vyocé entra no processo de ensaio, as pessoas que estéo nessas oficinas se transformam em estaglarios. A idéla & pegar néo principiantes, mas pessoas que ou jd estejarn fazendo teatro amador ou jé sejam formades e estejom entrando no mercado. O pri 6 rigido pelo médulo foi Roberto Lage, foi uma montagem do Peer Gynt. Tinha outros médulos acontecendo simultaneamente, mas 0 corro-chefe era esse. No segundo ane do projeto, Cibele Forjaz dirigiu uma montagem do Woyzeck, que foi, na verdade, o embrido de Woyzeck, um brasileiro, qué ela levou para o Rio. Ao longo das gestdes o projeto foi se transformando, ganhando outras caracteris 1s, mas conservou 0 nome de Didética da Encenacao, Marco Quando me chamaram para o Didética da Encenacao, eu propus dois textos, ambos inéditos: um era do Jorge Andrade, 0 sumidouro, e 0 outro era um texto do Plinio Marcos, 0 assassinato do ando do caralho grande. Resumindo: fizemos 0 Assassinato do ano, dentro do projeto Didtica da Encenagio, com a equipe de criadores de sempre. Tudo isso pra dizer que € no Assassinato do ando que surge 0 Carlo, o mais novo dos membros deste niicleo artistico. E voltamos entilo ao Folias fallinianas, Como ew estava dizendo, precisivamos de um lugar ‘que tivesse o pé direito alto para a gente ensaiar. O Carlao saiu 129 Folhetim * 17 * mai-ago de 1a de um lugar e encontrou um espaco que era uma igreja falida eabandonada ¢ que virou 0 Galpao do Fotias. Isso aqui pertence a uma Fundacdo, chamada Fundacio Conrado Wessel. Esse Conrado Wessel tem uma hist6ria engragada: foi um eara que morreu com 101 anos, sem herdeiros, e inventor ou do papel fotogritico ou, enfim, de alguma versio dlo papel fotogrifico. Ble vendeu essa patente para a Kodak e acumulou um bom patriménio imol aqui nessa regio de Santa Cecllia e Campos Eliseos. Antes de morrer, criou tessa Fundagdo que, em seus estatutos, estabelece um prémio fle cedeu esse espago para que ensaidssemos durante tré meses. Ao longo do tempo fomos ficando muito amigos, até que ele nos propés: “bom, por que a gente néo tenta transformar isso aqui num espago cénico? Voces ajudam um pouco, a gente ajuda um pouco”. Ficamos dois anos fazendo a reforma desse espaco, cedido em comodato por trés anos e eto, no ano, conseguimos abrir as portas com alguma ajuda material deles e muito trabalho e dividas nossas. Aimar O Arte contra a barbérie comecou numa reuniGo ‘aqui dentro ainda, durante a reforma. E importante registrar isso. Mareo 0 Serroni fez 0 projeto arqui remuneragdo, acompanhou toda a coisa, O resumo da éperaé que, findo 0 perfodo de comodato, hoje somos loeatérios do espaco, por dois mil reais por més, o que é uma coisa que a gente nfo consegue, evidentemente, pagar com bilheteria, ¢ que, somada as tantas outras despesas ¢ entreveros. fentramos no final do ano retrasado numa crise bastante brabva, cquase fechamos as portas, j& que, por conta de fazermos as obras, acabamos por « divida de uns cem mil reais. Hoje em dia essa divida est4 toda paga, a tinica coisa que a gente deve é imposto de renda sobre emissfo de notas fiscais, hoje devidamente negociado em parcelas com a Receita 130 a i | i i + i Marco Antonio Rodrigues * entre Foo de Angela DiSeaat Patricia Barros. Federal. Dai que tivemos que promover uma série de reestruturagées, entramos na Cooperativa Paulista de Teatro de forma a podermos diminuir esses custos... Vocé sabe que a cada nota fiscal emitida voc’ paga quase 15% sobre o valor dela? Enfim, com todos esses problemas administrativos, a gente ucabon constituindo uma geréncia, 0 grupo tem uma geréneia, que de sete membros, que so responsdiveis pela parte administrativa. Nossa estrutura é completamente cadtica, andrquica e é essa geréncia o que mantém o grupo, articula a venda de espetaculos, produ, So atores, diretores, eu também faco parte, o Maia, 0 Dagoberto, o Carlao, a Nani, a Patricia ¢ a Renata. A pretensio do grupo era agregar varios diretores, varios clencos. Hoje em dia a gente est até repensando isso, porque chegamos num ponto de produzirmos demais, perdendo ‘um pouco 0 pé, tanto daquilo que artisticamente fazemos quanto do controle mesmo das coisas. Agora vamos fazer o Folias Mostra Tudo: sao oito espetaculos com quatro dirctores. Nés 6 0 repertério envolve uns cingtienta atores. Além disso, os cursos e oficinas: um curso livre de interpretagdo do TAPA, um curso livre de interpretago 131 ——— { \ peike tiny #17 * mista de 2003 sla Renata Zhaneta, 0 Coral do Foias, que jé existe rmonitorado Po posto pela comunidade do bairroe por atores €s anos, ee de outras praias, obra do maestro Dagoberto Feliz, g.cantorer oficinas de cireo ¢ teatro com a comunidade, Na Aeomgo conhecimento, o Folias tem wma pu «do Folias, que eventualmente eee gaan "ga mudanca da prefeitura de S40 Paulo, discuss feria Suplicy, renlizamos o semindrio A cidade que sraoremos, etm parceria com a Secretaria de Cultura do quereripig de $a0 Paulo. Quanto ds questBes financeias: je problemas de dinheiro estfo atualmente nue temos o apoio de uma empresa, cone do através da porque Neentivo municipal, ganhamos o edital do Teatro do 1 ego, um projetoem que a Secretaria Munipal de Cultura tlestinow 60 mail reais para seis grupos + que tivessem uma atuagao real j ‘Aimor ride estavam sediados. A idéia era buscar grupos eeetinessem como vocacdo 0 trabalho com & comunida- gue Svetge do seu trabalho artstico, dai o nome Teatro do Cidadéo. Maveo Pronto. Aia gent tem equacionsda a questo econdmion retensio de promover uma intervencio Fisicamente, temos a pretens: : bulevar faa Avenida Silo Joao, © Tango de Santa Ceclia, Teso vem sendo co Prfeitura, com o Bradesco, com néo sei mi uum projeto demorado, complicado.. fem, enfim, & ‘Aimor Labaki Como é a relagdo com o pablico da regido? veo Bxiste uma relagio real, através desses progr ee ‘das oficinas, do coral. Temos um cadastro do Milica morador da rea, que se bene de algumas ‘eirinha, desconto etc. E uma coisa que esti, Tarmtondo, mas nfo € do tamanho que a gente gos 132 be Marco Antonio Rodrigues # vista 4s vezes ensaia ali no metr6, no meio da rua, Enfim, tem wma intervengfo que 6 simbélica ainda, mas acho que uma coisa ‘avanca. E eles tém uma relago boa conosco. Eles acham 0 contra a selvageria daqui. em cima do viaduto é 0 “erackédromo”, embaixo, é um lugar meio complicado. E eles acham que a nossa presenca de alguma forma ajudou... ‘Aimar ...que 0s moradores néo se viciassem em crack... Mareo ...que os moradores nao se viciassem em erack (riso). Essa € uma discusstio que estamos comecando a encarar. Eo seguinte: eu acho que, esgotados todos os bastides contra a yioléncia urbana, seja da repressio, seja da benemeréncia, seja da “reeducagao social”, sobrou para a arte ¢ paraa cultura ‘esse papel de dique da rebeldia social. Esse é o trabalho que se vé fazer: nas zonas conflagradas socialmente, quando se constata um alto indice de violencia localizado no bairro “x” ou “y”, imediatamente se resolve construir uma quad esportes, um centrinho cultural com inémeras ofi teatro, de capoeira, orquestra com lata, enfim, estas bobagens. 0 poverno do estado adora fazer estes projetos, as ONGs deitam Foto de arquivo: fachade do Folias, 2002, ultural que na uma in ar igo digamos, a trinta meninos capta ou desvia rec deriam pra atender a quiahentos. Ganha um selinho de > ainda faz uma boa publicidade da sua empresa, ico, via lei de incentivas. 1 "Dique da rebeldia social” é maravilhoso! (risos) Maree Eu ouvi no Arte contra a barbérie uma menina falar assim: “no, esse projeto é importante, eu, por exemplo, estava com dois meninos, um de 15, outro de 16, um puxou a faca para 0 outro, eu entrei no meio, evitei”. Até por isso estamos fazendo a autocritica das nossas agdes comunitérias. Pra que no sejam confundidas com isso. Definitivamente, este nio € 0 nosso papel, néo 6 isso que a gente quer fazer. Fatima Supondo que vocés tivessem os condicées ideais para realizar tudo o que o Folias pretende, que conjunto de atividades vocés poriam em pratica? Mareo Eu acho que a qualidade da nossa interferéncia depende diretamente da exceléucia artista dela. Quanto mais tempo voeé tem para estudar, para trabalhar aqui dentro, para ter ambigao artistica, para trocar coisas pelo Brasil e fora do Brasil, melhor vocé vai desempenhar o seu papel. Eu acredito isso. Outro dia, por exemplo, fui numa reuniao dos ganhadores da verba da Lei de Fomemt... Aimar Parénteses: a Lei do Fomento é ¢ lei que surgiu no ‘@mbito do Arte contra a barbarie e foi encampada pelo vereador Vicente Céndido, agora deputado estadual A Lei foi sancionada pela Marta Suplicy no inicio de 2002 @ ja teve © primero edital realizado. Em suma, é um programa que destina uma verba do orgamento anual da prefeitura para ser dada, via edital, para grupos que apresentem projets de manutencdo ou pesquisa, ndo necessariamente vinculados a espetéculos. 134 Mero Exatamenie. B uma lei que destina seis milhoes ano, ¢ a gente pretende que isso chegue milhdes ex 2003, Enfini, € um recurso que garante um minimo de infra- estrutura, porque esta longe ainda de resolver os problemas do teatro conseqitente... . Aimar Yocé estava dizendo que foi a uma reuniao, e al? Marco Nessa reunio eu notei que grande parte dos grupos colocava os seus projetos assim: vamos fazer teatro gratuito em sindicato, vamos fazer nfo sei quantas oficinas gratuitas, comunitérias e sei lé mais o qué... Poucos grupos diziam: meu projeto artistic é tebalhar tal questao, tal texto, dentro desta ou daquela abordagem... Aimar ...meu projeto estético é esse. Mareo Exato, Eu acho que isso é uma inverse porque teatro ruim pode ser de direita, de esquerda, do que for. E teatro ruim, sempre, Nao tem nada que salve. Entao, a minha preocupagdo central é essa. E muito simples. Um teatro de exceléncia, muito bom, de muita qualidade, E isso que perseguimos. fato de a gente ter uma expectativa de que 0 nosso trabalho, e, quando en digo “o nosso” no é 56 o do Folias, mas o trabalho de teatro como um todo, enfimn, que 0 teatro possa, de alguma forma, reconquistar algum espago histérico, agora que ele vem sendo arrancado da historia Quer dizer, esses grupos dos anos 90 e seus trabalhos estdo sendo arrancados da historia mesmo, de forma deliberada, pela midia e pela propria distancia da universidade. Entao, de algum modo, querlamos inverter este sinal, nos 135 -ago de 2003 Folhetim * aproximando ¢ dislogando com intelectuais ticos. Segund Gqueremos de fato avaliar do ponto de vista ideologico estético 9 que estamos fazendo. A experiéncia tem sido muito rica porque o conselho participa mesmo, desde a discussdo sobre proximos projetos até 0 processo de ensaio: eles se ‘trometem, palpitam, interferem, criam seminérios, diseussBes... em novembro a Ind veio discutir o filme Cidade de Deus, com o grupo todo. Além disso tudo, eles tém ‘igdo definitiva © mais do que qualificada nas publicagées do grupo. Fatima Os Cadernos do Fol ro, Qual a relagGo entre o trabalho criative da companhia ea publicagdo dos Cadernos? Quem se encarrega dela? ‘Marco Basicamente a questo dos Cadernas é com 0 Maia, en propondo pautas, escrevendo com No teressado de Estado tem um projeto “brill atro por um real... aos domingos, eles compram espetdculos das companhias e cobram um real, Ora, qualquer imbecil sabe que se eu posso pagar um real no domingo por que é que eu vou pagar vinte reais ou dez reais &s quintas, as sextas © aos sibados? I um projeto eleitoreiro que ndo funciona para quase absolutamente nada, a nfo ser pros fins sacanas a que se propie, ‘Aimar Desculpe, mas néo posso deixar de registrar. Eu sei que néo é o lugar da gente discutir isso, mas eu queria deixar marcada a diferenca entre vocé fazer um projeto populista, dando um dinhei rio para que as compa hhias déem um espetéculo de vez em quando um real ¢ voc’ fazer como a Secretaria Municipal esté fazendo, « campanha inteira de graca ou com ingresso a preco reduzido. E diferente. E vocé ter uma coisa feita com 0 dir 0, com um ingresso, néo de graca, mas 136 Marco Antonio Rodrigaes # entrev acessivel, durante toda a temporada, um indicative de um caminho para se pensar. Hé uma diferenga entre um e outro. Marco Eu sei que existe uma diferenga entre eles, légico! Mas 0 que resulta do ponto de vista do pablico em um ou em outro caso & pura e simplesmente o desvalor do teatro. Teatro ficou uma coisa fécil, nfo s6 neste sentido, mas também porque parece facil de fazer, qualquer um faz teatro, e tem muito mais gente fazendo do que vendo. O que eu achoé que rapidamente ‘vamos chegar A situagio grega, em que se pagava ao piiblico para que ele fosse ao teatro, porque daqui a pouco nem como convidadas as pessoas vilo querer ser platéia, Isso sem tocar muito na questio da qualidade: so 600 estréias por ano em Siio Paulo. Aimar Ano passado foram 800... Marco Ser que, sendo muito bonzinho, 80% disso presta? Oespectador que vé alguma coisa ruim volta pra arriscar em outra, se restringir aos caga- niqueis com selo de qualidade glo- bal? Eu estou preocupado com a questio da qualidade do teatro, jé que esta & a nossa tinica fonte de divulgacio, porque grupo nfo tem recurso para pagar anincio. it est ‘Foto de Zeca Rodrigues: Marco Antonio Rodrigues cemectudo para tradugto de Otelo. 2002/2003. + LT + mai-ago ae Folhet Fétima Isso é uma coisa que me choca muito em Sao Paulo. No Rio, apesar de todas as criticas que se possam fazer aos dois grandes jornais, eles tém o roteiro, ds vezes les cortam aleatoriamente uma parte dos tijalinhos, mas 9 roteiro sai todo dia. Aqui em Séo Paulo, o roteiro 6 sai ha sexta-feira, nos outros dias parece que nao tem peca nenhuma em cartaz, ou que sé tem as que tém dinheiro para pagar anuincio. O que dificulta muito a vida das pessoas. Marco E & uma sorte sair no roteiro das sextas-feiras, ¢ devezemquandenério. Entio, 0 que a gente esta tentando estimular? Algum tipo de publieagdo, como vocé tem em qualquer lngar do mundo: vocé vai lé ¢ compra por dois merréis nna banca a programacto artistica da semana inteira, de tudo, inclusive de show erético, teatro, miisica. Eu acho é que, quanto mais a midia nos ignorar, quanto menos roteiro a gente tiver, melhor vai ser, porque isso vai acabar nos obrigando a procurar uma alternativa. Voltando ao valor do teatro © & {questo da divulgagilo em sit nds propusemos para trés outros ‘grupos, que também ganharam o Fomento, a produgfo de uma publicacdo mensal, A idéia 6 voc@ aproximar 0 piblico de uma cultura teatral, da construgflo de um olhar, porque nem a prépria critica tem um olhar para determinado tipo de coisa que fuja da ortodoxia ou do enone habitual. Os grupos sto Folias, Latao, Malas Artes e Agora. Aimar Vocé fez um histérico factual de como o grupo chegou onde esté. Eu queria pedir que voc? fizesse a mesma coisa do ponto de vista das idéias. Vocé citou quatro grupos, quer dizer, o Agora ainda nao se caracteri- Za como grupo, é quase uma ONG, mas os outros trés grupos tém em comum o fato de trabalharem, em primel- Fo lugar, com o pensamento maraista; em segundo lugar, ‘com uma dramaturgia em que se trata do pico, Com grandes diferencas entre eles. O Malas Artes trabalha 0 pico a partir do popular, ¢ com uma preocupacée que eu chamaria humanista. © Letao, de uma forma ortodoxa. E yocés, vacé vai brigar pelo fato de eu chamé-lo assim, com um épico lirico, quer dizer, vocés tém, desde o Verds 138 | Marco A igues « entrevista que tudo é mentira, um caminho, que é uma tentativa de encontrar sinteses liricas para a questéo da luta de classe, para as questées politicas. A estrutura cramatirgica pica, mas traz elementos liticos. Fatima O que vocé esté chamando de “lirico”? Aimar Litico, desde a idéia de trabalhar com o subjetivo até 0 fato de lancar mao preferenciaimente de recursos poéticos, quer seja nos espetéculos musicais, quer seja nos textos do Reinaldo Maia, que opta, muitas vezes, pelo verso. E, por ultimo, pela tentativa de uma compreensao desse impasse da esquerda, nao apenas intelectual mas também do ponto de vista pessoal. Eu queria que vocé, em primeiro lugar, comentasse esse quadro que eu dese- ho, como ¢ que vocé se coloca diante disso e, a partir dal, falasse um pouco da frajetéria do grupo do ponto de vista da relagéo com essas questées. Mareo Sem nenhuma fliagao académica, me encanta muito, e acho que também a muitas pessoas do grupo, a abordagem épica brechtiana. Acho que tem um componente no Brecht que me interessa muito: antes de lidar com 0 discurso politico, ele lida com o discurso comportamental. Ele trata da questo da transgressto do ponto de vista comportamental. Par exempl a gente tem dificuldade de levar o Babilénia para os sodapacesion do MST, e eu compreendo completamente que Aimar Quais dificuldades? Marco Vocé esté lidando com algumas coisas diliceis de li- dar, do pouto de vista de uma instituigao como 0 MST, A questiio da prostitui¢do, a questdo do vocabuldrio, palavrdes, xingamentos, escatologia... afinal sto mendigos no espetdcull Eu quero dizer que, antes do discurso politico em si, do diseurso de esquerda, existe a transgressio do comportamento, Ou seja, o teatro do Brecht funciona sempre como uma bomba em cima daquilo que é estabelecido como pré-estrutura: familia, amor, relagGes intimas... . - 139 Folhetim * 17 * mai-ago de 2003 Aimar Vocé esté dizendo que o MST é pré-brechtiano? ‘Mareo Nao. Fétima Eu 56 li o texto do Babilénia, néo vi o espetéculo, mas acho que voces trabalham com uma ironia em Segundo grau. Dos iiltimos espetdculos do Latao, 36 vi A ‘comédia do trabalho, e ali eles trabalham com um de primeiro grau. Essa ironia de segundo grau ¢ muito ificilmente decodificada por quem ainda esté trabalhan- do dentro de categorias de pensamento rigidamente definidas, organizadas em pélos claramente antagénicos. Marco Junto com isso tem uma coisa que me interessa desde o Verds que & pensar em que momento a prosa, a palavra, a ddialogia passa a ser hegemdnica no palco, ¢ ficam em segundo plano, ou até desaparecem, a miisica, a danca, 0 circo. Se a iisica, a danca, 0 circo fazem parte da nossa formagiio estétioa, do nosso olhar, da nossa cultura, como & que isso pode se rearranjar? Entio isso € 0 que me interessa: como & que & gente agrega essas técnicas, dependendo, claro, de cada obra - ‘uma vai se apoiar mais no circo, outra na miisica, sem submeter ‘Foto de Joana Mattel: Bat Reinaldo Maia, diregio de Marco Antonio 140 Rodrigues, 2001, Dagoberto Feliz. Marco Antonio Rodrigues * entrevista a palavra, é claro, mas também sem necessariamente privilegié- Ja. moda francesa... Porque a propria caracteristica do paleo € 0 cruzamento de muitas questdes, é 0 cruzamento de lingnagens. Acho que & isso. Aimar Vocé diz que sempre foi ayesso a trabalho em grupo, vocé néo acredita em grupo e eu comungo da mesma fé, ou da mesma falta de fé, eu nao acredito em grupo, apesar de eles existirem e estarem fazendo 0 melhor teatro brasileiro desse momento. Fatima Em que vocé acredita? ito em nada (risos). Eu acredito em jar Eu ndo aci individuos. E acredi ‘em que hd uma coincidéncia, uma confluéncia de interes- ses de individuos durante um espago de tempo. Acredito também que nenhum grupo de teatro consegue fazer esse arco de sete, dez anos, sem ser, em certa medida, aglutinado pelo projeto estético de um artista. Entao, 0 Oficina é 0 Zé Celso; o Arena, tem 0 Arena de antes, claro, mas é 0 Arena do Boal ¢ assim por diante. Como vocé mesmo disse, no Folias tem vocé, mas tem o Maia, 0 Dagé que, nesses ultimos anos, acho que dirigiu mais espetdculos que vocé dentro da companhia. Quer dizer, hd, se néo um conflito, uma multiplicidede de tendéncias aqui. Eu queria saber, em primeiro lugar, como isso é tratado, nao do ponto de vista politico, mas do ponto de co, se existe a preocupagdo em encontrar uma sintese disso; em segundo lugar, se vocé sente o grupo como uma possibilidade de materializacao desse seu projeto individual; em terceiro lugar, como é que vocé v8 05 outros projetes, projeto do Maia e o projeto do Dagé, dentro disso. Marco O Dag6 tem uma formagio basieamente musical, ento o teatro dele acaba sempre enfatizando essa vertente. O Maia € muito mais ortodoxo. E eu estou no meio disso, de alguma forma. As vezes eu venho ver ensaio, interfiro, sugiro... tem coisas que se diz, e tem coisas que nao se diz, & como relacito de marido e mulher, tem coisas que nfo adianta vocé dizer, a 141 purram para debaixo do tapete as 1 bém. E a gente convive, acho que a gente convive 3. En acho .e encontrar Marco De produc. De qualidade da nossa producto. Isso se refere a todos nés Eu acho quo a gente tem que encontrar um denominador- Nés temos trabalhado firmemente nisso. E logico que isso se da pela pratica, por uma sintonia fina em relagdo ao que se faz, isso se d pelo desejo, por uma ambicdo, ambicZo no bom sentido. Isso é sempre dificil de equacionar, por isso acho que agora a gente tem que se voltar mais para dentro. Nés temos um projeto grande aqui, um projeto muito ambicioso, que & 0 Otelo, de Shakespeare, que eu vou dirigir. Aimar Dentro disso, explicita qual 2 0 teu projeto estét co. E ai, como provocagdo, eu te digo, alhando de fora: vyocé est procurande uma sintese do Plinio Marcos com 0 Bob Wilson Blavco (risos) Talvez. Nao sei dizer mesmo. Eu acho que cada obra acaba seduzindo a gente pelas suas proprias caracte- ristieas... Almar E 0 que te seduz numa obra? Maxco O que me seduz no Otelo: primeiro, a figura do Otelo, que ew acho que é o alpinista, o carreirista. A histéria de amor Sosenso comum e vai estar preservada na montagem, l6gico, a histéria de citimes. Mas me interessa muito, fundamenta mnte, a questéo politica de alguém que vende seu povo para dominar outro, o que eu chamo de carreirismo, e que é uma caracterfstica que tem muito a ver com a nossa marca de estrutura de é Jer hoje. Por outro lado, como é que se 142 repres. que vai aeontecer com isso? Desdémona mente uma personagem spaixonada? Mas no existe a paixio i, 0 amor em si, a paixfio tem que ser por alguma coisa, entio o que move essa mulher dentro dessa estrutura de poder? O queé que est movendo estanossa burguesia? Além disto, Oielo & a tmica das quatro grandes tragédias de Shakespeare em que o protagonista nfo 6 um nobre, é um guerreiro, um lutador... ra ¢ simples Almar Otelo entéo ¢ uma metéfora da eleigdo do Lula como um novo rearranjo do poder, desta vez contendo com os trabalhadores na divisdo da partilha? a tragédia, we essa vitoria Marco Sim, sim. Que a gente espera que nao se} vamos trabalhar muito por isso (risas), para aconteca. Lutamos muito pela eleiefio do Lula, mas, ao mesmo tempo, a nossa tarefa continua sendo a mesma, a gente tem que tentar olhar na frente pra prevenir, tem que reiletir sobre isso. Nosso papel como artistas é esse: ganhamos uma bstalha muito séria neste pais, mas ainda nfio usufruimos da vitéria. A tragédia existe no horizonte como sombra e como poténcia, ‘Vamos ter que lutar muito pra eviti-la, pra consolidarmos essa conquista, iros: Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes, com A maidigao do Yale Negro, PI sassinato tisque para o Rei Cantos peregrinos, César Vieira em 4s dispgem na Saul, além do fato excep 143 Folhetim + 17° mai-ago de 03 companhia de um dramaturgo, que é 0 Reinaldo Maia Em que medida é importante para vocés montarem dramaturges brasileiros e, mais, criarem seu préprio material dramatirgice como em Pavilhdo 5 ¢ Babilénia, ‘ambos do Reinaldo Maia? Mareo Eu acho que é tudo politicamente circunstancial, néo existe uma intencionalidade nisso. Vocé estava lendo ai o repertério e eu estava surpreso com isso... Por que circunstancial? Por exemplo, n6s queriamos fazer uma peca sobre 08 nossos vizinhos, os mendigos, os sem-teto. Entio, nessa medida, a presenga do Maia - extrapola central que ele tem como pensador, como. mi questdes pablicas de cultura, como companheiro pau-pra- toda-obra que 6 ~ 6 fundamental, porque af a gente viabiliza essa dramaturgia. Agora, a circunstincia podia ser outra, Por Jo, eu viuma dramaturge londrina, a Sarah Kane, que inadequada devido as condigées da nossa sociedade. Ela nao € muito conhecida aqui, ela tem cinco textos escritos e se matou com 26, 27 anos, uma coisa dessas. E a dramaturgia dela é muito poderosa, mas & mui 4 M. co Antonio Rodrigues * entrevista sociedade construfda. Bu nao sei qual é o sentido, ou qual seria a transposigao dela para cd, embora eu esteja até estudando com o Laerte Melo a possibilidade de fazer um dos textos dela. Se as circunstancias politicas e sociais mudarem muito rapidamente, fazer a Sarah Kane seria muito oportuno, entende? E uma coisa de circunstincia. As vezes a coisa é casual mesmo: O Cantos peregrinas, por exempl Zé Antonio queria fazer uma leitura dramitica do texto na iedade Gastio Tojeiro aqui em So Paulo... Isso hé muitos 108, o Cantos peregrinos tem sete anos, é 0 espeticulo mais antigo da gent Aimar Desculpa. O melhor. Marco Obrigado (risos). Nos fizemos 0 Cantos peregrinas, porque o Zé nos propds que fizéssemos a leitura, Eu gostei muito do texto, s6 que ele originalmente era um mondlogo. Eu fa gostaria de fazer, mas ndo como um monélogo, vocé topa que eu corporifique os personagens?” Porque & uma visdo da criagio do mundo a partir da Lilith, numa relagdo divertida com Deus ¢ 0 Dem6nio, é um triéngulo amoroso. Propus que a gente fzesse a divisio em trés personagens, 0 Zé topou e entio a gente resolveu fazer. Mas foi uma circunstancia. As coisas acontecem o assim. Para registrar, entrou o Dagoberto Feliz. normalmente, quando a g e tes, nos primeiros encontros, eles dizem: “nés queremos falar para as pessoas”, “nés queremos acordar as pessoas” passamos da fase das dentineias, Ora, todo m todo weria, Nos trabalhamos com a idéia de nos acordarmos, de nos entendermos, de investigarmos de que forma nés estamos contribuindo para este estado de coisas que nos miserabiliza a todos. Se o mergulho for profundo e sincera, com certeza ha de ter comunicacao. f preciso que nés estejamos seduzidos, lizados por algum projeto, pra que ele desperte nossas melhores energias e seduza quem yé. E nés temos muitos 145 + 17 * mai-ago de 2003 Folhe projetos que nos seduzem. Em suma, hoje a gente no sofre He falta de projeto. Eu acho que s6 se vivéssemos 200 anos daria para fazer todos os projetos que temos na cabeca. Entdo, a questo nao 6, jé foi: 0 que a gente vai fazer? O que a gente escolhe? Hoje eu me pergunto quais so os temas, que nao hos mobilizam que no nos movem e que, por fazerem parte do senso comum, possam gerar algum tipo de projeto contrario , por isso mesmo, relevante pra ser feito. Por fexemplo, ett acho que 0 teatro hoje & muito auto-referencial, dai que, quanto mais auto-referencial ele for, mais vai ficar se reproduzindo sé para si mesmo. Ou seja, voc8 vai ver um espeticulo de teatro e, em geral, vocé conhece 80% da platéia Entao, coisas como Sete minutos, do Fagundes, eu acho que so equivocadas. Ora, a grande mensagem, 0 grande testemunho de um grande ator, porque ele é um grande ator, & que 0 piblico tem que chegar na hora! Tenha paciéncia... Fétima Isto esté, inclusive, nos antincios... Marco A pega é montada em cima disso. O atraso do piblico, 0 barulho do celular, Se isso o seduz, 6timo, entdo faca. Mas nflo nos seduz, a auto-refer€ncia nfio nos seduz, nos seduz muito mais a desimportincia. Babildnia, por exemplo, é uma coisa que trata da desimportancia do homem, da poesia do lixo, a partir, inclusive, da poética do Manoel de Barros. Fétima Eu ndo vi o Fagundes, mas penso sob um outro d viés. Acho que essa confusdo entre a criagdo e tudo ; aquilo que cerca a criacdo é 0 que esta mobilizando as platéias, que querem ver os bastidores como querem ver @ intimidade dos participantes do Big Brother, acho que 0 ‘espetdculo do Fagundes se deixa levar por al Mareo E um negécio. Fatima E. Mas ndo acho que toda vez que se pensa sobre ‘teatro e se cai no que voc chama de auto- ‘ se faca necessariamente uma coisa menor, Marco Antonio Rodrigues # entrevista essa questéo merece ser pensada. E hé vérias form sana vai as de ‘Aimar Vou pegar uma carona nessa pergunta. © Fagundes estd falando, eu nao vi o espetéculo, ndo estou me referindo a ele, mas ele esté falando para uma platéia de classe média, consumidora, que, mal ou bem, substituiu a platéia burguesa que ia ao teatro antes. A tua platéia ¢ outra e eu queria saber: quem é a tua platéia? Para quem vocé estd falando? Vocés estéo formando uma platéia? Mareo Acabou de chegar 0 Carlao, que faz parte da geréncia e& ator do Folias. . Olha, eu acho que a platéia da gente & basicamente mocada, estudante, gente daqui da comunidade, e dos varios segmentos sociais dos quais os atores fazem parte. Por exemplo, o Ailton Graga 6, além de excepcional ator, mestre-sala e perueiro, fis- cal de lotaglo. Entio, vem um monte de gente de lotagio, vem um monte de gente de escola de samba, tem essa mistura ai, Agora, eu acho que também no ficam de fora outras plaias, que ndio vém aqui no Galpao porque oentomno &, s6 na aparéncia, assustador, Mas quando a Foto de Joona Mattel: Bail deg de Maro Amoaio Rodrigues, 2002, Cues, raneieco, 147 + 17 + mai-ago de 2003 Folhetim (i do Dagoborto Fe gente se apresenta em outros espacos, no Teatro do SESI, por exemplo, é esta platéia que lota a sala. Aimar Mas, mais do que isso, ela dialoga com o teu espetdculo? Marco Sim, e as vezes muito bem. Com alguns espeticulos mais, com outros menos. Voltando ao teatro referencial nesta linha bastidores de programa de televisio, eu insisto é no seguinte: se este teatro se propte a ser educativo, ele est com um problema sério de esquizofrenia, porque ele mesmo criou adeseducacdo através até da comunicagao de massas; segundo, cle & antigo, do século XIX, 6 o teatro da diva, & a coisa mais atrasada que tem; tercciro, niio 6 bom, e isso & que é 0 funda- ‘mental, no ser bom. Aié que nos atrapalha a todos: o buraco fica rebaixado ainda mais pela falta de qualidade. 0 problema que eu acho que a gente tem na mo, enquanto teatro de grupo, no estou falando do Folias, é que o legado desta geragtio que, em 70, cerrou fileiras contra a. see toe é a e atti. ima forma, em sua quase totalidade, os grandes artistas, aot do eciasimctan éblico, abdicaram de fazer arte: se dedicam & fama, aos negécios. Sé0 garotos-propaganda de si mesmos, portanto suas “obras” tém que ser auto-referenciais, 148 joje. Por porque carrega agua pra este tipo de negécio. De novo a questo do valor do teatro! Eni visto, se ele no tem valor para si mesmo? Ele sé referencial como negécio. E ele é mentiroso enqu Aimar Por qué? Mareo Porque ele desconhec ausow a disténcia do piblico, que ele mesmo usufruin dessa fara que foram as leis de 0, de rentincia fiscal no gove Henrique. Quer dizer, o cara pega um milhao, um milhaoe meio, de dinheiro piblico, note bem, monta um espetaciilo de quatro pessoas e cobra 50, 60 paus o ingresso ¢ tanto faz. Quando comegam os ensaios, jé fica determinado o encerramento da temporada, Se for interessa, é até bom que nfo seja, Aimar Primavera para Hitler. Tem que fracassar para lucrar mais. Marco Exatamente. Até porque se voc? ficar com aquele espeticulo numa temporada curta, vocé articula outro em seguida e j§ “capta” mais um milhdo e meio, Nao se esta dependendo da frequéncia do pablico, ndo se esté dependendo do sucesso, portanto, dane-se a qualidade, Entao o espet amos fazer dois meses no Rio de Janeiro, o-referencial. Porque o par é esse de revista Caras, quer saber qual € aintimidade da estrela, o bastidor, como é 0 camaarim, quantas lho ou no tem. E uma coi 149 Folhetim ¢ 17 + mai-ago 2003 Fatima Quanto a isto, eu s6 posso concordar. Eu estava tentando pensar no que estd orientando essa massa de publico que a gente vé em certos lugares e nao vé em Outros de forma nenhuma. © que vocé chama de auto- referéncia tem outras ressondncias para mim, mas néo dé pra discutir isto agora. Bom, aproveitando que chegou Dagoberto, eu queria falar um pouco da fungdo da ma: ca nos espetéculos do grupo. A precisa, por exemplo, do Happy End, era impressionante e provinha nao apenas das marcas, que eram muito criativas, mas também da qualidade do desempenho musical dos otores. Yocés tem um treinamento musical e vocal sistematico? Dagoberto Feliz Nao existe um trabalho sistematico que independa do espetéculo a ser montado. Acho isso uma falha. A gente tem um coro no Folias que poderia até funcionar para ‘8 atores daqui, mas, por problemas de hordtio, isto acaba no acontecendo, O que acaba acontecendo é voce trabalhar em cima do espeticulo que vai ser montado. A gente faz uma certa pressio em relagiio aos atores para eles aprenderem pelo ‘menos um instrumento, dai voc8 pode trabalhar daqui a cinco anos com uma orquestrinha, Seria legal. Nao sei se vai acontecer, mas a intengiio é essa. Fatima Carlao, eu queria saber quais so os suas funcdes na geréncia, quais sdo as formas de organizacao mais eficientes para que 0 grupo ndo empaque em pequenas tarefas que podem ser resolvidas rapidamente. Como é que vocé faz? Vocé tem carta branca, tem que consultar todo mundo? Carlo Na verdade, é um colegiado, cada um tem a sua frea espeeifica de atuago, mas todo mundo acaba dividindo tudo. ‘Atualmente a gente tem uma pessoa, que é a Gisele Valeri, atriz também, que tem uma formagiio de engenharia ¢ um senso prético melhor do que todos nés, e que deu uma forga grande nna questio da organizaco da buroeracia, pagamento de contas, impostos, taxas, essas coisas. Eu organizo mais a area fisica do teatro: equipamento, ‘gua, luz, eu fico de olho para ver se tem 150 ¥ Marco Antonio Rodrigues « entrevista alguma coisa que esté minando a estrutura do teatro. Tem a Patricia Barros, que cuida de projetos e divulgaggo; eu ¢ 0 Dagoberto assinamos as contas, respondemos juridicamente pela empresa. Tem o Reinaldo Maia e 0 Marco Antonio que fazem a parte filoséfica, institucional e de militancia politica. Isso tem uma importincia fundamental. E eles nos ajudam também a pensar estrategicamente a longo prazo como & que vai caminhar o grupo. Tem a Nani de Oliveira, que cuida mais especificamente de vendas ¢ contatos, de viagens de espeticulos, patrocinios. & basicamente isso. E tomos também, no diretamente ligados, mas que nos auxiliam constantemente, 0 Zeca Rodrigues, que faz a parte de programacao visual dos espeticulos e os lay outs de projetos, ¢ a Adriana Chung que cuida desea parte de apresentacio dos projetos. Fatima Vocés tém encontros perid« ss? Carlio Temos uma reunido, que deveria acontecer semanalmente, mas que acaba acontecendo na medida da necessidade. E é claro que no dia-a-dia a gente vai se falando, trocando informacaes. Folhetim + 17 * mai-ago 2003 Fétima Como se estruturam as finangas de vocés nesse momento? Bilheteria, apoio, patrocinio, convénios... Carlao A bilheteria nao é 0 que nos ajuda, mal dé para o papel higiénico. Fétima Quantos por cento do total do orgamento vocés atribuem a bilheteria? Carlo 1%, talvez. E muito pequeno o valor da bilheteria, Nao é 0 que nos mantém. A gente tem um apoio, via Lei Mendonga, de duas empresas, a Odebrecht, ¢ a CBPO. Uma nos patrocina mensalmente com oito mil reais ¢ outra com dois mil reais, entio nbs temos dez mil reais que nos ajudam a pagar as contas, telefone, aluguel. E, por exemplo, Babilénia eontou com o projeto Residencia, Eventualmente contamos com algum outro patro- cinader, temos, por ‘exemplo, a Stage Luz e Magia, que n&io nos dé dinheiro mas nos empresta todos 0s refletores que nbs temos aqui. E agora ganhamos a Lei de Fomento, € tivemos também o Prémio Teatro do Cidadao. © Marco jé falou sobre isso. Foto de Jonna Mattel: Rabilinia de Reinaldo Mais, dire de Marco Antorio Rodrigues, 2001. Francisco, Graga e Juliane Marco Antonio Rodrigues * entrevista Mareo Bu e Reinaldo Maia nfo participamos da administragio emi, composta por Carlao, Dagd, Nani ePatricia, que sio 0 profissionalizados, que recebem, por exerver essas fungBes, a fantastica quantia de 800 reais por més para ter dedicacao exclusiva integral, com cobranga de horirio de todo mundo, todo mundo enche 0 saco com isso. Eu sou o primeiro. A‘tem ‘Gisele, que acho que tem um salério mais fantastico ainda, de 300 reais. Tem a Adriana Chung, que cuida dessa parte de administracdo ¢ é figurinista, e agora ganha um pouco mais, 600 reais, porque trabalha na oficina de circo junto com a Mariana Maia que & a preparadora circense. Ha trés meses as oficinas externas sio patrocinadas pela oficina Oswald de Andrade, que também banca 0 coral. Fatima Eu queria perguntar a respeito do Projeto Residén- cia Externa, da Oficina Cultural Oswald de Andrade, no mbito do qual vocés criaram o espetdculo Babilénia. Mareo A gente de alguma forma jé tinha tido esta experiéncia com O assassinato do ando, s6 que li 0 elenco era constituido por atores selecionados para aquela oficina. O Residéncia nfo funciona assim. Eles avaliam o teu projeto de montagem, aprovam ou nio, com corte ou nfo (0 nosso foi aprovado {ntegralmente; era um projeto de 60 mil reais, dez mil por més). © projeto consistia, pois, na montagem do espeticulo, condicionado a realizago de um conjunto de oficina diretamente ligadas a0 processo de criagio do trabalho. Fétima O texto foi criado oo longo do perlodo? Marco Nao. Existia jé uma primeira versio, hoje acho que jé estamos na vigésima ou sei la qual. O texto soften alteragies durante a oficina de dramaturgia do Babilénia. Havia oficinas de cenografia, de figurino, de interpretacio etc... na verdade, nos dois primeiros meses, 08 participantes trabalharam junto com 0 clenco e depois ficaram como assistentes, como ouvintes. Foi um projeto muito curioso, porque envolveu umes 50, 60 pessoas aqui dentro. Para o elenco e para mim foi uma 153 tinha vor? Fatima Essa plate Marco Tinha, Tanto que algumas contribuigdes vieram deles, Por exemplo, a misic: -a do Babilénia era outra, até que um dos participar ‘me mostrou uma misica muito mais adequada. Enfim, houve muit terpretacao ia, E por ai sugeria alguma alteragdo na propria dramat alora. As vezes 0 elenco a Beth Dorgan, atriz rara, com quem a gent e que finalmente conseguimos trazer pro Fol “vocé devia chamar todo mundo para conversar, voce esté fechando demais.” Foi muito interessante. Fétima Alguns dos espeticulos do Folias como o Happy end e 0 Surabaya, Johnny foram realizados em parceria com 0 Grupo Tapa. Como funciona esse trabalho inter. companhias? Marco Eu acho que para o Folias foi muito importante a proximidade com 0 Tapa. Primeiro, porque 0 Eduardo Tolent formacio cara que tem um olhar muito rigoroso. E os atores do Tapa t@m ume disci bastante proxima da gente, inclusive, Entao nfo tivemos-atritos, E légico que sto culturas e estéticas diversas e chega um momento em que clas tém que se divorciar; mas, naquele momento, a proximidade foi muito importante, Fatima Mas o objetivo era mesmo uma parceria pontual, ndo? Marco A gente é meio irméo ético. 0 Tapa duzentas mil vezes, veio em socorro da gente. 154 Mereo Antonio Rodrigues * iste Fétima Que tipo de socorro? Mareo Por exemplo, em Folias fellinianas, quando fomos estrear, conseguimos perder todos os editais piblicos de teatro. Estreamos no Centro Cultural da Favela Monte Azul ¢ depois 10s © que fazer com o espeticulo, Ai o Eduardo Tolentino falou: “olha, eu vou parar dois meses, entio vooés vém para o Alianga Francesa e fazem 0 espeticulo ag -e foi © que viabilizou a vida do espeticulo. 0 Eduardo foi funda- mental em toda a questo estrutural do Arte contra ab por conta do rigor mesmo dele. A gente aprendeu muito: do ponto de vista do acabamento aprendemos m Lola Tolentino, que é a figuri certo descuido, esse descuido que voc€ vé aqui um pouco nao era s6 interno, cle também estava no paleo. Aprendemos a ser mais cuidadosos e precisos. Fétima Voeé acha que a forma de estruturagéo do grupo, a forma de relacdo entre as pessoas acaba necessaria- mente aparecendo na cena? Marco Acho que sim. O que é bom, porque a gente para para pensar sobre a gente mesmo, sobre como 6 que a gente age, como & que a gente est4 lidando com as coisas. Bruno Perilo © to Foi de prémios e Fatima Vocés jé receberam uma s ificam para a icacées para prémios, o que eles continuidade do trabalho do grupo? Mareo Como o Carlo estava dizendo, a nossa bilheteria 1a muito pouco, as vezes 0 Galpiio do Folias 6 apenas estamos sofrendo um problema agora de acomodae30, por conta de termos conseguide momentaneamente equacionar a questiio financeira, Fatima Que tipo de acomodagao? Mareo Quando a gua batia na bunda, no sentido de que ou se paga a luz ou vo coriar, a gente acabava se virando ¢ vendendo espeticulo de alguma forma, inventando alguma coisa, Nesse sentido, os prémios so muito importantes, acabam por representar um selo de qualidade. E tem alguns lugares ‘onde nfo conseguimos entrar até hoje. Por exemplo, o Festival de Porto Alegre, o de Londrina, o FITEI de Portugal. Deixa Portugal de lado, o mais estranho so os daqui mesmo... Quer ver? Como eu trabalho muito, hé uns anos eu tinha quatro espeticulos em cartaz. Eram de produgies diversas ¢ todas se candidataram ao Porto Alegre em Gena: 0 Cantos peregrinos era do Folias; O assassinato do anao, era uma produgao da 156 Marco Antonio R de Andrade, nfo tinha nada a ver com a gente 0 Senhora dos afogados era uma formatura foi: “eu 1ndo vou botar nada desse cara, no, ele deve ser muito picareta, ele faz coisas demais”. Bom, isso é um parénteses, uma piada wersa, Mas acho que os prémios ajudam nisso, eles acabam por representar um selo no meio da fundam de qualidade Fétima Vocés acham que a critica tem decodificado com precisdo, com acerto, o trabalho de vocés? Marco Quando eles vem, porque em geral eles no vém. Eu considero que a gente tem um iinico critieo em Sao Paulo, do que a gente gostaria. Fatima Vocé acha que a distancia é necessdria para que se possa refletir sobre um objeto de trabalho? Mareo E, sim. fae Puan de Holanda mostra isto em promacuitede. Eu acho que, ee houvesse essa timo, mas ela nao existe. A gente tem se que conseguem manter essa J escreve paraa revista que nunca escreveu nenhuma critica sobre 0 F Silvia Fernandes, que escreveu na Bravo! sobre A maldi¢ao do Vale Negro. Voce tem os resenhadores, como o Sérgio Coelho, por exemplo, da Folha de Sao Paulo, o Agnaldo Ribeiro 157 Folthetim + 17° da Cunha, que é 0 critico do Diério de Sto Paulo ¢ que tem acompanhado nosso trabalho sempre com um olhar positivo, Mas, hoje, o cara é obrigado a escrever em 40 linhas a anilise de dois espeticulos!!! Ento vocé tem 0 problema da editoria, dessa coisa -boca, que sto os cadernos de cul dos grandes jornais e ainda tem o problema da prépria estrutura do eritico que, em geral, nflo esté preparado, que n&o tem um olhar fora dos cnones dramaticos para avaliar qualquer obra. instrumental & muito ralo. Mas nds temos também outros amigos na imprensa que sto importantes para a gente, o Walmir Santos na Folha, a Beth Néspoli, no Estaddo. tima Eu estou querendo saber se vocés se consideram lidos de uma forma rica e produtiva por aqueles que escrevem sobre vocés. Mareo Nao, de forma nenhuma. Fatima Mas nem a Mariangela? Marco A Mariangel certeza. Elae o Agnaldo, mas critica menos diletante, com mais poder de fogo dentro da prépria estrutura do jornal. Fétima Como 0s integrantes do Folias se organizam para ;eja posstvel conjugar o trabalho no grupo e atividades solo? Mareo Eu acho que quem mais trabalha fora dai acho que o Dag também, mas tem alguns que esto imp pela propria fungo que exercem, como 0 Carlo, a Pat a Nani, Agora com o Fomento a gente vai poder profissionaliza um nitcleo de atores, quer dizer, estimamos que se consiga dar uma ajuda de custo de 700 reais para cada ator ¢ al poderemos ter uma carga de trabalho de seis a sete horas difrias. [sso vai ser possivel fazer. 158 Marco Fétima Quando vocés fozem uma venda, por exemplo, alguém quer comprar A maldicéo, vocés tém que reensalar. Como & que vocés se ordenam? Vocés tém assistente de diregao? Dagoberto Como A maldigdo ja esta em cartaz hé bastante tempo, o elenco mesmo se organiza. Tem uma assisténcia a Nani faz. A maldigdo esti na mio dos atores, completamente. 0 Single Singers Bar também esté na mio dos atores, mas talvez esteja menos organizado que A maldi¢do. A gente esta ensaiando 0 Cantos ainda sem o Marco ter revisto, mas em algum momento ele vai rever, claro. Se o espetdculo esta meio em cartaz, vendendo sempre, ai fica mais facil. Fatima Eu gostaria que Marco Antonio falasse do experi- Encle que feve como secretario de cultura da prefeitura petista de Santos, documentada no livro Santos, ano 450, que eu acho bem legal. Aquilo ali é o manual da boa ‘gestdo publica, com todas as suas inquietacées, proble- mas. Como voce concebe, Marco Antonio, a intervencao do poder publico no fomento ao teatro? O que vocé acha que seria um conjunto de medidas interessantes para 0 teatro? Mare Nés fazemos parte, como fundadores, do Arte contra a barbirie, que ew acho que foi uma das Silipara Deon ¢ Fabio Sali Folhetim * 17 ¢ mairago de 2003 coisas mais importantes que aconteceram no pais, com relagao 2 politica para o teatro, Falando do ponto de vista do teatro de grupo, que é onde eu estou mais centrado, a gente precisa ‘garantir mais espago e tempo, primeiro para chegar no piblico, ‘o que niio & simples, por co fculdades de divulgacto. ‘Acho que 6 fundamental a jervengio democrética, com a participacao dos fazedores, com recurso mesmo, recurso orgamentirio. O Lat! e, Ase comprometeu a, no final da gestio, s\ ‘orcamento para a cultura, que hoje ¢ de 0,25%. Esse & 0 mesmo quadro que a gente tem nos municipios, no muniefpio de SRo Paulo, no governo do Estado, a percentagem 6 a mesma, Ou seja, a gente diz no Arte contra a barbdrie que o pensamento criativo no Brasil ndo chega a valer 1%, Quer dizer, se a gente nao acreditar que ele possa valer 1%... Ea gente sabe que 0 grande capital, o grande patrimOnio mesmo esté no teatro, por conta da sua questo artesanal, por conta da sua facilidade, por conta da sua militancia, da sua possibilidade de organizacio. Estimular e fomentar teatro, dada a sua capilaridade, é fundamental pra incendiar a cultura e refundar humanidades do ponto de vista da construcZo de uma sociedade democratica de fato. Do ponto de vista regional e acho que temos que eriar formas de circulagao, de je favorecer ¢ facilitar a circulagdo artistica de qualidade. Eu acho que a gente tem que centrar fogo nessa questio. Nao tem essa visio democratista de que o Estado nfo pode intervir, no, O Estado sempre intervém: quando ele cria estas formas de passar a responsabilidade para o marketing das empresas, cle esté intervindo. Entdo, partido eleito tem a obrigagao de deixar clara qual é a sua politica cultural, de imp claro, dialogando com a sociedade, mas é obrigatério que existam recursos para isso: cultura precisa passar a ser prioridade de estado. Urgenteme Fatima Que contrapartida social vocé acha que as pecas do teatro comercial poderiam dar 4 comunidade? 160 onl Marco Antonio Rodrigues * entrev possa competir visando a exceléncia. Em segundo lugar, faciltar mesmo o acesso do piblico. 0 ingresso nfo pode custar 80, 100 reais, 50, 60 reais, num pals onde o salério minimo € de 240 reais, E fomentar nfo significa dar ingresso de graca, porque em 25 anos de atividade em Sao Paulo eu nunca vi essas politicas ridfeulas de um real, de ingresso gratuito, melhorarem qualquer coisa. Virou tudo uma grande liquidacto, cada vex piorando mais! Olha, as pessoas tém que querer ir ao teatro, que precisa ser, como Brecht queria, “o supérfluo desejével”. Tém que desejar, querer, ter tesfio por, do mesmo jeito que se gosta de tomar uma cerveja, de comprar uma roupinha. Ou seja, & preciso querer ir a0 teatro. Nio pode ser uma coisa chata, uma obrigacao, ou entio: “eu quero ir 14 para ver se o ator estd mais gordo ou mais magro”, enfim. Criar uma cultura teatral & fundamental no momento em que a gente sai de 500 anos de império e entra na reptblica. Finalment ‘So Paulo, 26 de outubro de 2002 Foto de Joana M: Marco Antonio Rodrigues em smontagem de Babilini 2002.

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