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XIV Congreso Internacional de Ingeniería Gráfica

Santander, España – 5-7 junio de 2002

A HISTÓRIA URBANA ATRAVÉS DO DESENHO E


DO PROJETO DA CIDADE.
Eloísa Petti Pinheiro

Universidade Federal da Bahia – Brasil


Faculdade de Arquitetura – Departamentos das Geometrias de Representação
epetti@ufba.br

RESUMO

A forma e as dimensões das cidades mudam, se transformam fisicamente e refletem as


mudanças demográficas, econômicas, tecnológicas, sociológicas, etc. Captar e entender as
mudanças morfológicas das cidades nos ajuda a entender outros parâmetros das
transformações. Para isso, podemos utilizar os desenhos – no sentido de representação
gráfica – ou os desenhos – no sentido de projetos – das cidades.
O desenho – enquanto representação gráfica – são os registros gráficos feitos ao longo do
tempo, por diferentes técnicas que mudam o suporte e o instrumental, As perspectivas, os
skylines, as vistas de pássaro, os planos iconográficos, etc. são excelentes fontes para
entender as transformações morfológicas da cidade.
O desenho – enquanto projeto – são as propostas urbanas para as novas cidades ou os
planos de intervenção e de expansão, o que resulta em distintos modelos urbanos, reflexo
de momentos históricos, ideológicos, sociais, políticos e econômicos diferentes.
A análise do desenho (representação gráfica) que busca entender o desenho (projeto) nos
permite utilizar a base iconográfica das cidades como fonte historiográfica. Assim, a soma
da representação gráfica e dos projetos de uma cidade são fontes de análise que nos pode
levar a entender, em cada período da história, seu processo de urbanização.

Palavras chaves: iconografia; representação gráfica; história urbana

ABSTRACT

The form and the dimensions of the cities change, they transform physically and reflect the
demographic, economic, technological, sociological transformations, etc. Capturing and
understanding the physical evolution of the cities helps us to understand the other
parameters of the change. For that, we can use the drawings or the designs of the cities.
The drawing of a city is its representations graph, they are the graphic registrations in the
time, made by different technical that change the support and the instrumental one. The
perspectives, the skylines, the bird views, the iconographic plane, etc. is excellent sources
to understand the morphological transformations of the city.
The design of a city is the projects, the urban proposals for the new cities or the
intervention plans and the enlarge plans, that solved in different urban models, that reflect
different historical, ideological, social, political and economic moments.
The analysis of the drawing that approves to understand the design allows us to use the
iconographic base of the cities like an historiographical source. This way, the sum of the
drawings and of the designs of a city they are sources of analysis that can take us to
understand, in every period of the history, their urbanization process.

Key words: iconography; graphic representation; urban history


1 Introdução

Podemos analisar o desenho da cidade através da sua morfologia, forma e projeto; ou


através da sua representação gráfica. Numa cidade, a componente arquitetônica surge
quando qualquer estruturação social não existe sem espaço e este é necessariamente
histórico, posicionando-se em marcos temporais, geográficos e culturais. O espaço é
sempre concreto possuindo qualidades físicas. Não é um fenômeno estático, encontra-se
em permanente transformação.

2 O Desenho da Cidade
Sendo a cidade um espaço arquitetônico, observamos que na história dos assentamentos
urbanos muitas cidades possuem normas urbanísticas cujo ponto de partida é uma visão
efetivamente morfológica do espaço urbano. Assim acontece desde o aparecimento da
primeira cidade: na Antigüidade, na Idade Média, no Renascimento, no Barroco, no
século XIX e chega até a atualidade.
No projeto de cidades novas observam-se técnicas que resultam traçados em
quadrícula ou diagramas. Nas cidades espontâneas, como as medievais e islâmicas, os
traçados são mais complexos e muitas vezes difíceis de serem decifrados. No projeto de
intervenções se superpõe um novo desenho ao traçado antigo.
O conjunto das edificações e o traçado das cidades são a forma transparente de
expressão cultural. Quanto mais se conhece da cultura, da estrutura da sociedade em
vários períodos da história, em diferentes partes do mundo, mais se é capaz de
interpretar seu meio ambiente construído. As cidades podem ser classificadas pelo
reflexo do governo ou de idéias – cidade catedral, cidade estado, cidade portuária,
cidade imperial, cidade ideal, sede de principado, cidade capital, etc.
A cidade pode ser cósmica, como uma interpretação do universo e dos deuses ou
pode resultar de planos ideais da renascença e do barroco que são uma expressão
articulada do poder e se caracteriza por um eixo monumental, muralhas e portões, trama
regular e organização espacial hierarquizada; a cidade pode ser prática, que é a cidade
como uma máquina, pequena, autônoma, as diferentes partes ligadas à grande máquina,
que por sua vez, tem claramente diferenciadas as suas funções e movimentos; ou ainda
pode ser orgânica, biológica, algo vivo mais do que uma máquina, com limite definido e
tamanho ótimo, coeso, indivisível, estrutura interna e conduta ritmada que busca, face à
inevitável mudança, manter o estado balanceado, modelo urbano não geométrico. [13]
Algumas cidades são planejadas, criadas, desenhadas, e até o século XIX, modelo
invariavelmente ordenado, diagrama geométrico que pode ser o grid, ou centralizado,
como o círculo ou o polígono, e muitas vezes combina as duas fórmulas. Outras são
espontâneas, um modelo geomorfológico, de forma irregular, não geométrica, orgânica,
sem projetistas, segundo as leis da terra, o dia-a-dia dos habitantes, sem um plano
diretor.
O desenvolvimento do espaço urbano é o maior indicador do estado de civilização
do seu povo. É o resultado de múltiplas ações de seus habitantes, às vezes forças que se
interagem e criam formas claras que representam uma nobre cidade. Dois são os
ingredientes básicos no desenho arquitetônico da cidade: espaço e massa (volume). A
essência do desenho é a interação entre os dois. Em todas as culturas a forma
arquitetônica é a expressão da relação das forças de massa e espaço, que por sua vez
reflete a relação entre o homem e a natureza, o homem e o universo. A clareza e o rigor,

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da relação entre a massa e o espaço define o nível de excelência do trabalho
arquitetônico em qualquer período do desenvolvimento cultural. [3]
A relação entre volume e espaço nas cidades deve estabelecer que a volumetria
esteja em escala com as necessidades do tempo presente e definida em harmonia com as
modernas tecnologias. Assim a cidade estará dotada de riqueza e variedade, e através da
acumulação de variados tipos de associações nas diferentes partes da cidade e onde os
cidadãos poderão se identificar. O desafio do desenho da cidade está em construir
harmoniosamente as experiências no espaço ao longo do tempo. A arquitetura é
formada por uma série de espaços articulados, cada um possuindo qualidades
particulares e relacionados entre si. O objetivo do projeto é atingir a população que vai
usar e se apropriar destes espaços que devem mexer com suas emoções e sensibilidades
enquanto estes se movem por ele. A função do projeto é fazer com que essas
experiências sejam harmoniosas, continuamente, a cada instante e de todos os pontos de
vista.
Spiro KOSTOF (1991), em seu livro The City Shaped, estuda o desenho da cidade
através de alguns modelos: orgânica, em grid e diagrama, independente da época ou do
estilo arquitetônico em vigor. Assim identifica a representação de cada modelo em
distintos períodos da história e seu significado.
O modelo orgânico se encontra na origem modesta de muitas cidades, com sua
forma insinuante e gradual. Onde antes haviam campos e pastos, ruas se materializam e
se ligam, espaços públicos estreitos abrigam a vida da comunidade, e o estender das
casas engrossam a malha. As construções sobem as vertentes e se adaptam o melhor que
podem à topografia ou à curvatura de um rio. Aos poucos, esse arranjo natural toma
consciência.
Espaços sugestionam hierarquias institucionais e sociais. O grid é o modelo mais
comum das cidades planejadas, como por exemplo Mileto na Grécia, a cidade ideal do
renascimento ou na América Colonial. O significado do retângulo pode ser distinto a
cada momento histórico e a cada lugar: para o sacerdote etrusco pode significar uma lei
cósmica, para os planejadores de Nova York, em 1811, o máximo de possibilidades para
especulações imobiliárias.
A ortogonalidade é uma maneira de criar ordem urbana, não uma simples fórmula de
desenho urbano. Se o grid urbano está presente na história da cidade, esta não é nem
standard nem previsível. Num terreno plano, ele é o método mais simples de divisão de
terra. Mas o grid rapidamente sobe montes ou curva suas linhas para acompanhar um
rio. A virtude do grid é ser infinitamente flexível, sob medida para escalas urbanas
moderadas, e até capaz de digerir as superquadras da moderna metrópole. Iniciado em
simples assentamentos, pode estender-se indefinidamente como na grande Chicago ou
nas conurbações de Buenos Aires ou Lima.
O grid não é necessariamente regular. Antes do renascimento mestres do gótico tem
o grid das cidades como um problema artístico, por exemplo nas cidades florentinas do
século XIV, em terreno plano e com um esquema básico aplicado a todas, representando
um uso sofisticado da trigonometria. Funções do seno são relacionadas com as medidas
geométricas do círculo, ou seja, dos arcos e cordas uma vez que os quadros diminuem
quanto mais longe do centro.
A consciência artística criada pelos planejadores florentinos precedeu a atitude
renascentista de que uma cidade, assim como uma importante construção, deve ser
produto de um projeto de arquitetura. No século XV, Alberti e outros vão comparar a
cidade a um palácio. Segundo Alberti, “o principal ornamento da cidade é a ordenada
distribuição das ruas, praças e edificações de acordo com sua dignidade e funções.” [13]

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O diagrama é uma forma geométrica perfeita, círculos e polígonos de vários tipos,
que obedecem a rígidos modos de centralidade, convergência radial ou alinhamento
axial. É uma simples idéia de um indivíduo, ou instituição, de como o mundo deveria
funcionar de.forma ideal, com a suprema direção do indivíduo ou da instituição, ou
ainda de acordo com algum princípio envolvendo tudo. A maioria das cidades não saiu
do papel, e as que foram construídas duraram pouco, ou por não se adaptarem à rígida
subserviência ou por serem suplantadas por novos princípios de ordem. São desenhos
que encontramos, por exemplo, em cidades santas, cósmicas, cuja centralidade é a fé; ou
política, onde a primazia é para as regras e a proteção militar.
Uma outra forma de analisar o desenho da cidade é por períodos históricos. O
traçado das cidades medievais pode ser mais irregular pelo fato de utilizarem terrenos
mais acidentados para melhor defesa, e não há, a priori, o gosto pela simetria, nem se
necessita pensar na circulação interna de veículos a rodas. É mais fácil adaptar-se à
topografia do que realizar aterros, ou elevações de terrenos.
No renascimento não se busca a transformação do organismo urbano e territorial.
Não há necessidade de fundação de novas cidades nem da expansão das existentes. A
arquitetura do renascimento realiza seu ideal de proporção e regularidade em alguns
edifícios isolados e na nova cidade que fica como um objetivo teórico: a cidade ideal.
No barroco, um ponto focal pode se transformar numa força de desenho poderosa
que traz ordem ao caos. Por exemplo, em Roma, na Praça de São Pedro e em outras
praças de igrejas, os obeliscos são pontos no espaço que determinam os pontos focais do
sistema viário projetado por Sisto V. São finais das linhas de força esticados entre eles.
A função da geometria, na projetação barroca, é esclarecer e orientar. Os
planejadores barrocos mostraram-se muito confiantes a respeito do tipo de ordem que
impunham: não havia lugar no seu planejamento tridimensional nem mesmo para o
tempo.
Também não perdem tempo estudando as peculiaridades topográficas do sítio.
Tendo ido buscar nos monumentos da Grécia e de Roma a sua inspiração original, tal
mentalidade classicamente formada não tem o sentido do tempo como processo de
desenvolvimento.
Todas essas modificações e adaptações, que são inevitáveis com o crescimento
posterior, são por eles deixadas fora de cogitação. Daí serem os seus planos muito
simétricos, a sua ordem exclusiva e rígida, para admitir, como regra, as necessidades
das gerações futuras. A planta barroca é uma realização de natureza geométrica; se
possível, sob a orientação de um déspota arquitetônico. A partir do momento que alterar
esse tipo de planta, ou introduzir elementos novos, é prejudicar a sua simetria, até
mesmo os elementos estéticos superficiais da planta só podem ser preservados através
de severos regulamentos administrativos.
Entre os séculos XVI e XIX, as principais cidades novas construídas, na Europa, são
para o abrigo do príncipe e de sua corte. Os prolongamentos urbanos ocorrem em
cidades onde a burguesia ganha pretensões quase aristocráticas. As novas plantas se
distinguem dos antigos núcleos medievais pelo emprego de linhas retas, quarteirões
regulares e, na medida do possível, com ruas e avenidas radiais, a cortar imparcialmente
velhos obstáculos e campos novos.
As avenidas em forma de asterisco tem sua origem na aristocracia e seus campos de
caça onde os caçadores podem se reunir num ponto central e sair em todas as direções.
Algumas cidades, como Versailles, tem a localização do palácio no local do antigo
pavilhão de caça. O Palácio na praça central, atrai para si as avenidas que convergem
para ele, como o governante reunia o poder político antes disperso entre grupos e
corporações. O palácio também fechava a perspectiva das avenidas.

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Sendo a nova forma de projetar a cidade um símbolo geométrico, significa que a
figura abstrata determina o conteúdo social: as instituições da comunidade não mais
geram o plano e o modificam conforme as necessidades especiais da vida. Se a
topografia é.irregular, o terreno deve ser uniformizado, por mais absurdo que isso custe
em material e mão de obra, simplesmente para fazer o plano funcionar.
As idéias de Vitruvio e a renascença chegam também ao novo mundo. O plano
atribuído a Vitruvio e reproduzido em L’Architettura de Cataneo em 1567, é uma
proposta para uma cidade ideal desenvolvida sob o estímulo da discussão romana.
Algumas cidades européias adotam o culto a Vitruvio, mas o grande impacto das idéias
do arquiteto encontram expressão nas grandes escalas das cidades fundadas nas colônias
norte americanas.
Este é um tipo de traçado ideal para as atividades e necessidades sociais do
especulador imobiliário, do construtor improvisado, sendo o meio mais simples de
organizá-la topograficamente através do uso de quarteirões retangulares: quarteirões de
tamanho idêntico, separados por ruas e avenidas de largura uniforme. Em Savannah, em
1733, a evolução do diagrama, segundo uma mesma estrutura, praça com 12 blocos,
propicia o crescimento por acréscimo e por extensão. A interação entre os dois modelos,
a trama em grade e das ruas dividindo a unidade base, e a trama dos espaços verdes e
suas ligações que sublinham a geometria das ruas.
A unidade urbana essencial não era mais o bairro, era o quarteirão, projetado como
função de uma artéria de tráfego e que se transforma em unidade de distância. Essa
forma geométrica sugere que a cidade é uma construção puramente artificial que
possivelmente pode ser separada e reagrupada como uma casa de blocos. A planta da
cidade estabelece metas e limites, fixa de maneira geral a localização e o caráter das
construções da cidade, e impõe aos edifícios levantados pela iniciativa privada bem
como pela autoridade pública uma arrumação ordenada dentro da área citadina.
O século XX determina o fim da uma época que teve sua origem no renascimento e
verá surgir uma nova cidade, a da cidade contemporânea. A solução dos problemas de
desenho da cidade contemporânea não se apóia na forma ou nas relações que existem
como simetria ou rigidez geométrica. A relação das edificações e o traçado urbano pode
se estender numa grande composição.

3 Representação da cidade
No estudo da evolução das cidades as diversas formas de representação gráfica nos
possibilita um melhor entendimento do desenvolvimento da forma urbana. Conhecer e
historiar a iconografia e a cartografia existente sobre as cidades é também uma forma de
entender o processo de urbanização e transformação urbana. São muitos os processos de
representação gráfica utilizados pelos povos desde a antigüidade até os tempos atuais
para registro dos elementos construídos onde se destacam os momentos históricos em
que surgem e sua relevância. A evolução das formas de representação urbana passa por
uma evolução técnica buscando novos métodos de desenho, novos suportes, novas
ferramentas para obter maior clareza e adequação no produto final.
As técnicas de representação, com a mudança dos suportes, a mudança de escala, e
das ferramentas utilizadas, evoluíram muito desde os primeiros traçados até os tempos
de hoje. Quem poderia conceber na antigüidade as cidades sendo retratadas por meio
das atuais técnicas computacionais e fotografias feitas por satélites?
As vistas aéreas são uma das formas que encontramos de iconografia urbana. Sua
aparição ocorre na Itália do século XVI com a visão de Veneza de Jacobo de Barbari em
1500. São vistas realizadas de pontos altos próximos da cidade, mas que muitas vezes
de um ponto de vista impossível para a época, e se baseiam na reconstrução da realidade

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a.partir do conhecimento da cidade, e quando possível, com o uso da cartografia
existente.
Barcelona vai ser retratada em 1563 por Anton van den Wyngaerde como se o
observador estivesse em um ponto de vista elevado, e portanto fictício, tendo como base
uma visão desde a elevação do Montjuic, de croquis feitos percorrendo as ruas e outra
vista do mar. [10]
No século XIX, a forma e as dimensões das cidades ocidentais se modificam
rapidamente. Passam de objetos pequenos e bem delimitados a constituir entidades de
grandes dimensões, tentaculares, metrópoles sem limites claros, integradas de forma
complexa no seu entorno territorial. Com isso o ponto de observação necessita estar
cada vez mais longe. No final do século XVIII a invenção do balão permite ao homem
transformar em realidade a ilusão de voar e ver a cidade de cima.
A partir de princípios do século XX, o crescimento das cidades unido ao
desenvolvimento técnico/científico, o avião e a fotografia, permitem conhecer melhor
uma cidade que, como resultado da urbanização maciça, da industrialização e da
revolução dos transportes, rompe seus limites, se diversifica e cresce de forma
diferenciada.
Chegamos ao final do século XX e as cidades são uma realidade, centro de trocas e
inovações, motores de crescimento e desenvolvimento, mas também focos de
problemas. Vivemos num mundo urbano. A cidade do final do século XX não tem
limites claros, metropolitana, um produto da expansão econômica e urbana que adquire
pleno sentido na consolidação das tecnologias de comunicações de pessoas e
informações. Para obtermos uma vista aérea dessas conurbações necessitamos a
distância de um satélite.
O skyline é a técnica onde se enfatizam os principais edifícios em silhueta contra o
céu em branco, é como uma assinatura urbana, um resumo da identidade da cidade.
Assim são representadas cidades de todos os tipos e períodos, seja para celebrar a fé, o
poder ou um feito especial. São concebidos para um espectador externo, para o visitante
oficial, o turista comum e o peregrino. [13]
O skyline, ou silhueta urbana é o retrato da cidade, resultado de um processo
cumulativo, e de leitura calculada. O ponto de referência que se apresenta é o símbolo
da vida da coletividade, ela adverte prioridades cívicas e faz palpável a hierarquia das
instituições públicas. Os skylines podem ter duas características: da paisagem como o
Pão de Açúcar no Rio de Janeiro ou a proeminência dos edifícios, como em Nova York.
Nele aparecem a superposição dos símbolos do poder: a torre da Catedral versus a da
Prefeitura; o Castelo do Príncipe versus o Centro Cívico; a rivalidade dos mosteiros de
diferentes ordens. Ou mesmo a evolução arquitetônica dos seus elementos como as
cúpulas das igrejas, os minaretes, as torres e as chaminé.
Identificar os principais elementos faz parte do ritual de um skyline, como as torres
na cidade medieval, as cúpulas da Roma Barroca, as chaminés da cidade industrial e os
arranha céus da cidade contemporânea. A cúpula do Duomo de Florença é a imagem do
Renascimento e é marca da cidade assim como a cúpula de St. Paul em Londres.
O skyline é usado pelo menos desde o século XII. Antes do renascimento eram,
geralmente, ideais. Edifícios considerados “chaves” deveriam ser enaltecidos. Mesmo
quando a representação ideal fosse baseada em alguma realidade, se retrata como uma
auto imagem da cidade, ou melhor, de quem encomendou o retrato – normalmente o
poder administrativo. Por causa de guerras, muitas das cidades tem suas fortificações
realçadas.nas pinturas de seus skylines. Uma primeira sistematização desse tipo de
representação acontece quando Felipe II da Espanha (1556-98) contrata Anton van der

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Wyngaerde para ilustrar as principais cidades espanholas e de Jacob van Deventer para
desenhar os planos das cidades dos Países Baixos, que estavam sob o seu domínio.
Podem ter um objetivo específico, como servir de pano de fundo a um
acontecimento importante, ou para oferecer a alguma autoridade. Ou usadas como
propaganda turística fazendo parte de livros de viagem, guias para peregrinos onde se
destacam as elevações dos monumentos mais importantes. O principal livro de viagem
ilustrado é Peregrinações na Terra Santa de 1486.
A cartografia é a ciência ou arte de projetar a zona terrestre sobre superfícies planas
ou desenvolvíveis. Podemos classificar a cartografia em dois tipos: onde se representam
todas as feições naturais e artificiais - essencialmente topográfico; e onde só se
representam o que se tem interesse especial - são mapas itinerários. Sendo de
fundamental importância a perfeita representação das cidades são reforçadas os
experimentos das técnicas gráficas, como a xilografia ou a litografia, buscando uma
maior precisão dos elementos representados. Não só a mudança de escala do espaço
urbano como também a sua complexidade exige novas metodologias de representação
como a cartografia.
Os descobrimentos portugueses e espanhóis tem grande repercussão e desenvolvem
a curiosidade geográfica. Estes disputam o conhecimento da cartografia para manter
seus domínios. A cartografia floresce e se beneficia da recente invenção da imprensa.
Esta evolução cria uma verdadeira e nova imagem do Mundo, pela primeira vez, uma
imagem unificada e global e começa a se cultivar a diferença e a aceitar o
universalismo.
Mas a confecção de mapas antecede a arte de escrever, aparentemente uma aptidão
inata da espécie humana. O mapa já era utilizado pelos homens das cavernas para
expressar seus deslocamentos e registrar as informações quanto às possibilidades de
caça, problemas de terreno, matas, rios, etc. Eram mapas em que se usavam símbolos e
que tinham por objetivo melhorar a sobrevivência. Eram mapas topológicos, sem
preocupação de projeção e de sistema de signos ordenados. Os símbolos pictóricos eram
de significação direta, sem legendas pois era a própria linguagem deles, a iconografia.
O mapa é uma representação codificada de um determinado espaço real. Podemos
até chamá-lo de um modelo de comunicação visual, que se vale de um sistema
semiótico complexo. A informação é transmitida por meio de uma linguagem
cartográfica que se utiliza de três elementos básicos: sistema de signos, redução e
projeção.
O mapa mais antigo que se tem conhecimento da Babilônia Antiga data do século
XX a.C., e se trata de uma tábua em argila cozida com a representação de duas
montanhas e o rio Eufrates. No Vale do Pó no norte da Itália se identifica um mapa do
século XIV a.C., onde estão descritas atividades de um povo agrícola. A principal obra
cartográfica da antigüidade são os 8 volumes de Geografia que datam do século II d.C.,
obra do cartógrafo, geógrafo e astrônomo grego Ptolomeu, que se encontra no Museu da
Cidade de Alexandria e se compõe de 27 mapas de países mediterrâneos. No século
XVI foi realizada uma tentativa de mostrar as cidades como eram e foi publicado o
Civitates Orbis Terrarum com 5 volumes publicados entre 1572 e 1598 e um 6º em
1617. [18]
Os mapas antigos eram representados mais pelo simbolismo do que pela lógica
pragmática, como mostra o plano da capital asteca Tenochtitlán do século XIV, onde o
local de fundação da futura capital é assinalado por uma águia pousada num cactos que
cresce numa rocha.
No Renascimento se desenvolve o chamado plano iconográfico, ou plano do solo,
onde se representa a cidade de pontos de vista infinitos, todos perpendiculares a cada

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ponto topográfico. Esta complicada abstração reduziu a cidade a duas dimensões
registradas por cheios e vazios. Este plano do solo, conhecido dos romanos, mas
abandonado na idade média, se tornou possível outra vez pelo desenvolvimento de
avançadas técnicas topográficas e instrumentos durante o século XVI.
Na Era Moderna, observamos uma mudança radical na forma de representar a
cidade. Um plano apresentado para o Prêmio de Roma, desenhado por Monsieur Giroud
em 1922 e o de Le Corbusier, mostram o passo dado entre as duas fases. [3]
O primeiro fecha a era da Beaux Arts, onde o desenho das edificações se coordena
ao desenho do solo, que são representados por sua estrutura interna e externa como um
só projeto. A forma das edificações são derivadas do projeto de parcelamento do solo. O
projeto apresenta o espaço como uma só totalidade, onde tudo se coordena com tudo. É
uma representação acadêmica.
No segundo, Le Corbusier inaugura uma nova fase, onde ficam claras as
conseqüências da revolução da arquitetura, separando a edificação do terreno. A massa
suspensa sobre o terreno, e o desenho dos dois são independentes. Enquanto as
edificações se posicionam de forma geométrica rígida sobre o terreno, os caminhos por
este seguem seu próprio sistema curvilíneo. Exemplo do projeto de Chandigarh, onde as
sombras sugerem o volume das construções e as destacam do terreno.
Os meios computacionais revolucionaram a sociedade do século XX. A informática,
com seu desenvolvimento galopante nos últimos 25 anos, vem proporcionando ao
homem a possibilidade de manipular inúmeras informações num pequeno espaço de
tempo. São estes meios computacionais que vêm reformar totalmente o processo de
elaboração e manipulação da imagem e do som. A representação do mundo real fica
limitada à criatividade do homem, que nos tempos atuais, pode realizar quase tudo
aquilo que idealizar quando se trata da representação do mundo real.
As imagens que atualmente podem ser elaboradas nos computadores são imagens
digitais em duas ou três dimensões. As maquetes tornaram-se intangíveis, são modelos
tridimensionais que estão numa tela de computador, mais em compensação permitem a
presença do homem em seu interior, numa simulação da realidade, sem que para isso
seja necessário construir-se um modelo em tamanho natural.
A cidade moderna e o universo de informações que a compõe, logo vira centro para
o uso desta nova tecnologia. O homem percebe que, com a tecnologia computacional,
pode expressar o espaço da cidade com todos os seus entes num mecanismo dinâmico, e
também pode oferecer, naquele mesmo veículo, inumeráveis informações sobre cada
um destes entes e sobre a cidade como um todo: surge o geoprocessamento.

4 Considerações Finais
O pequeno resumo do estudo da evolução histórica do desenho da cidade, seja como
morfologia do traçado urbano, seja como representação e técnica de expressão gráfica é
o primeiro momento de um projeto de pesquisa maior. Esta pesquisa, da qual esta
comunicação faz parte de sua fundamentação teórica, se trata de um estudo de caso
onde serão analisadas as diversas formas de representação gráfica da Cidade de
Salvador, assim como os projetos urbanos elaborados para esta cidade. A pesquisa
“Representação Gráfica da Cidade de Salvador” encontra-se em sua fase inicial.
Nesta primeira etapa, aqui apresentada preliminarmente, traçamos um primeiro
esboço do marco teórico da questão “desenho da cidade” e um primeiro levantamento
bibliográfico para a elaboração do estado das artes. Não pretendemos com esta
comunicação dar por encerrada esta primeira etapa, e sim, fazer uma primeira
sistematização do material até agora pesquisado.

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Referências
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Histórico e Geográfico Brasileiro. RJ.: Imprensa Nacional, 1970, v. 285, out/dez
1969, pp. 39-80.
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Paulo: Universidade de São Paulo, 1994.
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9) EGLER, Tamara Tania Cohen. O espaço na sociedade informacional. Campinas: V
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CCCB: Electa, 1994.
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contemporâneo. São Paulo: SESC: Annablume, 1997.
12) GUEDES, Max Justo. A Cartografia fazendo História. IN: Ciência Hoje, v. 15, n.
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mundo por los descubrimientos portugueses y españoles. s/l: Imprensa Nacional-
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proyección sobre el plano y el modelado tridimensional. IN: EGA – Revista de
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