You are on page 1of 10
MARCELO DASCAL fone, FUNDAMENTOS METODOLOGICOS DA LINGUISTICA VOLUME | SEMANTICA CAMPINAS. 2 . TLARI BLOOMFIELD Je KATZ |. BLERWISCH MW. DIXON DAVIDSON . STRAWSON (© ESCOPO DA SEMANTICA Jerrold J. Katz Se vood tem um limio, faa wna Limonada. Dale Camegie A sendntica 0 estudo do significado 1in- gufstico. Interessa-se pelo que @ expresso por Sentengas © outros objetos Lingufsticos, nao pelo arranjo de suas partes sintéticas oupela sua pra, nineia, Quase todos concordam com isto, Em pe~ ral, também se concorda em que a questao basica da senantica &: '0 que € 0 significado (neaning)?". Was aqui_terinam os pontos em acordo ¢ comcan internindveis controversias sobre que espécie de coisa € 0 significado. Ha discordancia de todos, 0s tipos de tdpicos, inclusive nun fundanental: se podenos fazer alguna coisa con 0 conceito de significado ou se estarianos melhor sem cle. A queles que consideram 0 significado cono una no- G80 sen valor discutem sobre com elimind-la, en= Guanto aqueles que a consideran indispensivel dia Cutem sobre com ela deve ser adequadanente ex- ‘Além disso, os problenas particulares recem nas discussdes desse topico incluen questoes basicas, que tém sido debatidas desde 0 princfpio da Filosofia. Em consequéncia, os pro- gress0s no estude do significado, enbora impor tantes: para 0 aciinilo de un conjunto mais rico e extenso de fatos interessantes, foram negligen~ Clados quanto & ordenagao destes fatos, isto ¢, pouco foi feito no sentido de revelar os princi~ pios gerais subjacentes a organizagdo dot fendme, jo & de se adnirar, portanto, que para mui tos a senintica tenha ganho a reputagio de ser una diseiplina irrencdiavelmente monetona,em que © valor e a estabilidade das realizagoes 6 inve: sanente proporcional i inportaneia do tena. Nao ha duvida de_que, a luz da experiéncia passada, esta reputagio nao @ totalmente indevida. Mas qual a origen do problema? Onde est’ o erro ¢ Onde devenos fazer mudangas? Quem quer que que: fa ver a senintica ocupar sey lugar como um res~ peitavel rao da ciéncia eupirica, asain como fuem quer que queira provar que isto nunca pode= TS acontecer, deve procurar una resposta para cs bas perguitas. As alteraativas rigem do problema est& ou na prépria nogao de Significado ou nas abordagens adotadas para seu estudo. ‘Aqueles que dizen que o conceito de signifi, cado esta em falta estéo, eu acho, dizendo que @ desagradivel reputagao da senintica € devida ao conceito de significado, assim como a desagrada~ Vel reputagao da denonologia @ devida ao concei~ to de dendnio. Seu ceticismo baseia-se_na opiz nido de que o significado nao @ una nogdo cienti, fica aproptiada, de que ele nao pode, seja o que for que tentenos fazer para reformila-lo, ser a base de_una teoria cientifica que consiga expli~ car fendnenos Linguisticos. Por isso, se alguém aeredita, como eu, que a tragica historia da se~ mintica @, em vez disso, una consequéacia do fra, fasso em se encontrar uta sbordagen satisfatéria para a compreensio do significado, ele nao tem Outra coisa a fazer a nao ser construir una teow Tia que use conceito de significado para revwe~ lar regularidades subjacentes 4 1fngua e mostrar cono os fendnenos semnticos se reduzen a el) Seria um erro acreditar que, a esta altura,os c& ticos podem ser silenciados de algun modo. Apre~ Sentar argunentos filoséficos contra os princi- pios em que seu ceticisno se baseia seria somen~ te renovar velhos debates. 0 imico argumento con vincente consiste em mostrar que o conceito de sig. nificado fornece a base para una teoria que con~ Segue explicar fatos semanticos emstrar que sem este conceito nao existe tal base, Portanto, procurarems una abordage para a explicagio do significado que forneca una teoria do significado com o poder explicativo nccessa~ rio, NOs deixaremos de Lado os argunentos céti- cos especificos dagueles que pensam que o signi- ficado s um conceito initil. "Se seus_argunentos foren validos, nossas investigagies ndo nos po- dem conduzir além do que os estudos em denonolo- sia podem levar. Se, por outro lado, nossas in~ vestigagdes tiverem sucesso, terenos denonstra~ do, em prineiro lugar, que seus argunentos nao exam validos. Eases argumentos cSticos contra a sendntica pagsaréo ter o cardter que tem os argumentos céticos contra a legitinidade da in- dugéo, quando si0 tolanente usados para criticar generalizagdes cientificas ge casos observados Se um fenémeno para casos nao observados. Tonanos por estabelecido, entdo, que no hi probleaa fundamental em conceber a sendntica com © estudo do significado, nem ha nenhuna dificul~ dade com sua questao basica: '0 que 6.0 signifi eado?". Postulanoe que tem havido, em vez die— 50, alguns equivocos sobre a ameira pele qual © éstudo do significads deveria proceder ao ten~ tar responder a esta questio. Toto nao @ negar que alguns Linguistas © filosofos estivessen no Caninho certo, mas eles simplesmente nutca foran suficientenente Longe. Nio conseguiran estabele~ cer, entre os trabalhadores sérios, um consenso quanto 4 abordagem prdpria para a seuantica. 0 equiyoco, parece-ne, esti na suposigio de que a questao "0 que € 0 significado?" pode ser Fespondida de un modo direto ¢ conclusive. A ques, tao € gerainente tratada comp se fosse dtipo de tuna questao com ‘Qual € a capital daFranga?”, pa ra a.qual usa resposta direea € conclusiva, "Paris", pode ser dada. Supse-se que pode ser obtida ima resposta da forma 'Significado € isto fou qquilo'. Mas a questo "0 que @ 0 significa do?! nao admite usa resposta direta, ‘isto ow aquilo'; sua resposta €, a0 contratio, usa teo~ Fia toda," Nao @ uma questso com "Qual € a ca- pital da Franga?, Quando Einsteie se aposentou?", Nonde Sa Tasminia?’, porque ado & simplecnente una pergunta feita sobre um fate isolado, una per~ gunta que pode ser respondida simples e direta- Bente. Ao contrario, € una questao tedrica, com YO que @ a matéria?”, '0 que é a eletricidade?", "0 que & a lust". Enbora estas Gltimas questdes s6 possam ser realmente respondidas por teorias, podenos, nat ralivente, dar 'respostas condensadas'. Podenos dizer, por exemplo, que a eletricidade @ a pro- priedide dos protons ¢ elétrons em virtude da qual eles exercem forga ms sobre os outros alén da sua atragao gravitacional, Tais 'respostas condensadas* tornam mais claro que respostas ge~ nufnas sao teorias completas, porque so fazen sentido no contexto de una teoria que explique os termos tedricos usados na sua formulagao. Linguistas © fildsofos que se ocuparam com 4 senintica acharam possivel dar uma espécie de "resposta condensada’ & questao ‘0 que ¢ 0 sig- nigicado?’, identificando o significado com alé guna outra coisa ~ referéncia, capacidade para usar as palavras corretanente, estimilos que pro- vocan e controlam respostas verbais, um conjunto de arquétipos platSnicos, imagens meatais liga- das a palavras de modo a servir com seus sinais, Sensiveis extemos, ete. Ao contrario dos cien~ tistas, entretanto, eles se coatentaran em parar ai, Em vez de tratar estas respostas diretas co mw 'respostas condensadas', cono meros substitu: tos de una teoria, eles tipicamente as considera~ ram como respostas diretas suficientes e inter — Pretaram erroneanente a prdpria questao como una que permite uma resposta do tipo 'isto ou aqui~ lo". Poucos viram a necessidade de ir além, de ebordar a construgio da teoria, de tentar elabo= yar uma resposta da maneira como a resposta de- mcriteana para '0 que € a materia?’ foi elabora da. Creio que este diagndstico explica em gran- e parte porque tao pouco foi feito no sentido de se construir uma teoria que deterninaria au tilidade explanatéria do conceito de si gni ficado. Nestes terms nao @ dificil entender porque o ceticismo ainda & possivel em senintica e porque as interminaveis controwéesias que foram um tra go constante na historia da semantica continuam mais acesas do que nunca’. Nao insisto, entretanto, em que esta expli: casio seja aceita com una pega de andlise histd, rica. Posso ver facilmente 0 papel de outros fa tores na continuagao das controversias, mas nao decejo avaligr sua inportancia relativas eu Aiagndstico € proposte, preferivelmente, como a avaliagao de una situagao que afetouaescolha da minha propria abordagem. Ele levou-ne a com: com a suposicao de que a pergunta '0 que € 0 sig nificado?’ pede una teoria comantioa, Mais ainda, influenciou-me a tentar encontrar uma resposta do mesmo wodo como fisicos encontraram uma res~ posta para a questdo '0 queéa matéria?'- a en- caninhar meus esforcos para construir una teoria senintica da mancira cono cles construfram uma teoria, até onde isto fosse possivel, Deste modo, dagen aqui a seguinte: eentarenos respon der 9 questio "0 que & 0 significado?” construin do una teoria que explique © conceito de. signi cado dentro do quadro de una completa sistemati 2agdo dos fatos empiricos sobre estrucura semin- tica em Iinguas naturais. 0 objetivo 6 uma teo- ria dos prineipios subjacentes que se relacionan © assim Organizan os fatos empiricos dentro do dosinio da senintica, © persepuinos este objeti- vo seguindo © exenpld dado por casos cientificos Tecundos de construgso de veorias, 0s fisicos nfo podian dizer o que a matéria era_até que identificaran um amplo dominio de Fendrenos mani festados no comportanento da naté- riae notaran muitos dos fatos enpiricos signifi, cativos en cada caso, Esses varios fendnenos (difusio, expansio, interpenetracio, condugao, etc.) denarearan o dominio de una teoria da ma~ téria reunindo as propriedades que tal teoria ti- nha que explicar. Entao tornousse possivel con far diferentes concepgdes da natureza da oaté- ria em terms de sua adequagao explicativa den- tro desse dominio cireunserito. Podemos dizer, portanto, que se chegou a teoria, democriteana pela caracterizacio das questoes '0 que @ difu- sao (da natéria)?", '0 que & expansdo (da nati ria)?', "0 que @ interpenetracao (da materia)?" ete, como componentes da questao "0 que é a ma térlat", Isto reflete a pratica comm na cién- cia de reduzir una questao grande e geral a ques toes menores ¢ mais especificas. As respostas a estas questées foran entao partes essenciais da Fesposta a questao geral, porque os fendnenos. 20s quais clas se referen esto dentro to dominio explicativo apropriado. Parg encaninharmos nossos esforgos para a construcao de una teoria sendntica segundo este exenplo, deverfanos primei ramente procurar redurir a questo geral "0 que 6 0 significado’ a un cer to ninero de questSes menores e ais espect ficas que 50, inerentenente, partes da maior. Aqui Roseas intuigaes pré-histaricas sobre o signifi- cado podem nos gular. Claraoente, una resposta a 10 que & 0 significado?" pressupde respostas a questies como "0 que € igueldade de significa do?!, "0 que sao similaridade e diferengade sig~ nificadot,"Oque sdo siguificatividade (meaning fulneso) ’ausencia de significado (meaningless eee)?", "0 que € wultiplicidade ou aabiguidade de signiticadot", '0 que @ verdade ew virtude do sigificado?". Estas questees sao, assia, andlo ga5 is subquesties da questao ‘0 que @ a mat Hat" Podenos formlar desde j@ as quinze sub- questées, em (1-1) = (1.15): (1.1) 0 que si sinonimia e pardfrase? (2.2) 0 que sto similaridade semfntica e diferenga semintica? 2.3) 0 que & antonfnia? (1.4) 0 que @ hiperontmia ( superordin ~ ation)? (1.5) 0 que so significagio ¢ anomalia semintica? 0.6) 0 que é 7) o que é (1.8) 0 que & verdade seminticn (asatitiet dade, verdade netalingulstica, ete)? (1.9) 0 que & falsidade semintica (contra~ digao, falsidade netalinguistica, ete)? (10) 0 que sio verdade ou falsidade semanti. canente indeterminadas (por exeplo, sinceti cidade)? (1.11) 0 que @ inconsisténcia? anbiguidade senintica? redundineia seufatica? a2) a.) a. (1.15) 0 que & inplicagao (entatzment)? © que & pressuposigao? © que_é uma resposta possivel a uma questo? © que @ uma questo auto-respondida? Estas questées delinitan o doninio de uma teoria senntica: qualquer teoria que oferega u- ma resposta a 'O que 8 0 significado?’ deve res~ ponder as questdes (1.1)-(1.15) e outras analo~ gas, © qualquer teoria que responda a tais ques~ toes deve oferecer una resposta a '0 que & 0 sig nificado?". En outras_palavras, as questoes nos dizom que tipos de fendmenos uma teoria senanti- fea tem que explicar, isto €, aqueles em (1.16)- (1.30) a6) aan 0s fendnenos de sinontmia e pardfra- ee, isto é, a relagao de igualdade de" significado ~ por exemplo, 0 fato @e que_'punho' e 'nilo fechada’, ' pé de magi” e bacieira’, e ‘Joao ama a tia de Maria! e "Joao ana a irma do pai de Maria’ sio sixéninos,¢ os mex bros do Gleimo par ado pardfrases. 0s fendnenos de simlaridade centn~ tiea e diferenga cenantica -por exen plo, 0 fato de que palavras cono Feia', "vaca", 'freira’, "irma', "mum her"; "égua'y ‘atriz’ sao seuantic mente similares em um aspecto, isto 'Na um componente comum a seus sig ficados, e 0 fato de que 'tia's ‘ca chorro', ‘pera’, 'folha', ‘noiécu- 1a', 'soneanha’, ‘earro' sao semanti- camente sinilates em um aspecto (is- to €, 0 significado de cada una des- tas palaveas contém o conceito de un objeto fisico) que contrasta com 0 ais) a9) (1.20) a. aspacto en que 'sonbrat, ‘imagem no espelho", 'reflexo' 880 semantica~ mente similares. © fendmeno de antonimia, isto &, di- fevenga senintica de um tipo espe cial, ou seja, incompatibilidade de signi ticados ~ por exemple, 0 fato de que os nesbros dos pares de palavras Vaberto'e 'fechado", "sussurrar' tgritar', 'menino' e’tnenina’ sio an ebnimos © fendneno de Hiperonimia (e seu in verso hiponimia (eubordination)) — por exenplo, 0 fato de que ‘dedo' e ‘polegar', ‘moradia’ e tchalé', "hur nano" e.'menino’ sao pares hiperBni- ‘nos-hipdnimos. 0 fendneno de signéficatividade e a~ nomalia senantica (isto 8, auséneia de significado, total ou parcial) ~ por exeaplo, 0 fato de que a expres~ Si0 "sabao nal cheiroso" ten signifi, cado enquanto 'cScega mal chei ro: nado tem, assim como fato de que fas sentengas.'Jarros se enchem rapi- damente' © '0 homem esta caindo de cabega para baixo' tém, anbas, sig~ nificado, mas as sentengas ' Sombras se enchem rapidasente’ e 'A saudagso esta caindo de cabega para baiso’ sao semanticanente andmalas. 0 Fendneno de anbiguidade somintion, isto &, multiciplicidade de sentidos versis unicidade de sentido (sence) = por exemplo, 9 fato de que as pa— Lavras "botao", 'pé', ‘manga’, ‘cabo! tém mais de um sentido eo fato de que as sentengas "Nao ha sais leitos' "Encontrei o botdo', "Tone seu café! tGm dois ou mais sentidos. (2.22) 0 fendseno de redindinoia semiintica Por exenplo, o fato de que ‘minha tia femea',” ‘um solteirao macho adul to nao casado', "um nu despido" tem sentidos que contém informagao super flua, isto &, 0 sentido dos modifi cadofes esta incluido no sentido do niicleo. (1.23) 0 fendmeno de verdade anatittiea ~ por exemplo, 0 fato de que cada una das sentengas "Reis sgo monarcas', 'Tios 20 machos", "Bedés nao sao adultos" @ verdadeira sonente em virtude do fato de que © significado do sujeito contém a propriedade expressa pelo predicado. (1.24) 0 fendmeno de contradigao - por exem- ploy © fato de_que cada una das sen tengas "Reis sio fSneas’, "Tos sao mulheres’, "Bebés sa0 adultos" & fal sonente em virtude do fato de que © significade do sujeito contéa in- fornagio incompativel com a que € a tribulda a ele pelo predicado. (1.25) 0 fendneno de sintetietdade ~ por e~ xenplo, o fato de que as sentengas "Reis 20 generosos', ' Tios sao 1o~ quazes', "Bebés s80 espertos' nso a nem verdadeiras nen falsas com base Sonente no significado, isto é, sua verdade ou falsidade néo & determi ~ nada pela Linguagen, mas depende do ue ocorre na realidade. (1.26) 0 fenueno de inoonsistincia - por Fato de que_as sentences vivo" e ‘Joie esta mortot ado sio nea verdadeivas nem falsas simultaneanente quando se referem ao mesm individu, ms sim, uma deve ser verdadeira ¢ a outra fala (1.27) 0 fendueno de implicagio, isto &, a relagio entre duas senteagas pela Gual “una se segue necessariauente da outra en virtude de una certa Tela: slo senintica entre elas - por exam plo, 9 fato de que a sentence "onay £38" so prodigos" implica “Rainhas 80 prddigas', ¢ a sentenga '0 carro @ vermelho' implica "0 carro € colo. ride (2,28) 0 fendneno de preseupostedo - por e= xemplo, 0 fato de que a interrogati~ va "Onde esta a chaye?” pressunse verdade da declarativa ‘A chave est fen algun lugar’ no sentido de que a ineerrogativa exprine una pergunta somente no caso da declarative que exprine sua pressuposigae ser verdar aeira. 7 (1.29) 0 fendmeno de resposta poset vel ~ por exemplo, o fato de que as sentengas "Yodo chegou a0 meio-dia', ‘Joao che~ gou terga~feira', "Joao chegou ha un minuto", "Joao chegou no Natal" aio respostas possiveis para ‘Quando Joao chegou?', enquanto que ‘Joao gosta de frutas', "Joao & irsio de Maria, "Paulo chegou ontem' nao o sao. (1,20) 0 fenéueno de umm questa auto -res ~ pondida ~ por exemplo, 0 fato de que a3 interrogativar '(ca soltetrons Sea?" @ MQual € cor do meu cares verselho?" expressam questice queso respondidas na prdpria pergunt Que 08 fendmenos citados em (1.16)-(1,30) fo de natureza senintica ¢ que juntos. eles nos dio una nogao de quais fendmenos sao tratados pe a semintica parece-ne acina de quolquer divide seria, enbora possa ser provado que um ou outro dos fendnenos citados nio seja semantico, como resultado da elaborapao de alguna teorta’ senantt ea. Dito isto, gostaria de acrescentar que nao penso que os exesplos dados em (1.16)-(1.30) se~ Jam tao indiscutiveis com os fendmenos que eles pretenden ilustrar. Entretanto, eu realnente os ‘vejo com casos extrenanonte claros, pelo menos Suficientenente claros para fixar nossas intui~ goes no inicio. Assim, parece-me muito natural pretender que una teoria senfntica explique os fendmenos Telacionados hd pouco e prediga os fats dentro do dominio de cada um deles. Isto nao dizer senio que a sinoninia de uaa construgao Lingul tica con ovtra, sua anbiguidade, sua redundancia seni icay etc, sao devidan “a. seu significado. Una teoria semintica deve explicar porque o sig nificado de uma construgao lingufstica faz dela tun exenplo de una determinada propriedade ou re- lagao_senfintica, f4-la apresentar o fendmeno de sinonfaia, anbiguidade ou redundancia, ¢ assia por diante. Vea resposta 3 questo '0 que € 0 significa dot" nao pode, portanto, ser dada meranente iden lgieundorse 9 Signi ttchdo de una construséo tin yuistica com, digams, aquilo que ela denomina Gu a que se refere, ou com disposigaes de acordo com as quais ela @ usada corretasente, ou com a {asia mental para a qual ela €o sinal externo sensivel, ou con os estimilos de provocagao e de controle que a produzem como una resposta verbal, ou com o eterno arquétipo platénico que ela de~ signa. Seja qual for o mérito que tenhan como diretrizes para a construgéo de una teoria seniin tica, tais identificagoes, com dite anterigrmen te, no podem, sozinhas, responder A questo ge Tal, ja que elas nao oferecem respostas a (1.1)- (1.15) ¢ a outras questaes relacionadas a eLavs A menos que identificagoes do tipe mncionade se geban extensa elaborasto ¢ desenvolviaento na fof wa de una teoria sendatica geral que explique oe da um dos conceitos subsidisrios (el) (eisy= assin com quaisquer outros conceitos eensnciens que posse haver, elas devem pernanceer ao nivel de primeiras especulagies sobre a resposta a") que @ 0 significado?". A capacidade de quelaucs destas identificasces de fornecer ua base ade e guada para una teoria que explique estes, fensie~ Ros seniinticos © prediga os fatos conhecides ea f¥0 do dosinio de cada-un € que servitd de teste Para verificar se ela funciona cow una bea din retriz, A importZncia destes fondmenos para a senda tica € denonstrada pelo fato de ques maneee irae de eriticar qualquer destas identiricas ses @ citar casos em que a explicasao de us oa ais desses fendmenos @ inadequada porque sie fot ta8 falsas predicGes sobre propriedades e rel goes senincicas de expressses Linguiaticas, Vewe considerar alguns exeuplos. Frimeiramnte, hia identisicasio de signi ficado com referincia. Com una difeerie, tote identificagao diz que deverfamos construiy ue teoria baséada no principio de que 0 significate de ma expressio &'a entidade, classe de entiias des, acontecinento, classe de acontecinesten foes, Meader, dnonina Goterese ay ce” ota, designa). forcanto, 0 signiticads ‘ae Tnertrand Kosso1i" €'9 hodew dencednacoe 6 sig ficado de ‘homens’ @ a classe de huanos macioe adultos, 0 significado de 'a descoberta da Aacri ca por Coloubo' ¢ 0 acontecimento histori cede sim por diante. 0 atrativo desta iden i Parece estar no fato de que ela trar o significado para o ar livre, fazendo dele algo mais misterioso do que as coisas, pessoas, lu gares ¢ acontecinentos da vida diaria, Mas_a ben Conhecida objegdo de Frege a identificagio de significado ¢ referéncia destroi es esperancas de una explicagao tao simples. Seu argunento era lun caso especial da exigengia que tais identi fi- ‘cages, com diretrizes, deven predizer com su— cesso propriedades e relacoes senanticas que s intuitivanente centrais no dominio da seniatica. Especificanente, ele diz que o fendueno de sino~ ninia € inadequadanente tratado na teoria da re- feréncia, Seo significado de uma expressac é identificado com todas e souente aquelas coisas Be quais ela se refere, entao duas expressoes de vem ser consideradas com tendo o mono signifi~ cado se se referissen as mesmas coisas. Frege apontou que, neste caso, expresses nao sindni — as com ‘estrela d'alva' e 'estrela vesper' (ou “eriatura com coragio' e ' eriatura com rins ') serao falsanente preditas com sindnimas porque, por um fato contingente, ao co-referentes. Além disso, expresses nao sindnimas como 'bruxa’ “saci! serian tomadas com sindnimas: visto que anbas se referen a coisa nenhuns, soguo-se que s@ referirio as mesmas coisas. En segundo lugar, ha a identificasao do sig nificado con 0 sistena de disposigees que deter finan o uso, Com una diretriz, esta identifi~ cagao diz que a explicagéo do significado de una expresso @ a explicagao das distingSes subjacen tes a seu uso correto na aree social da Lingua= gem. Aqui, também, a identificagao fracassa no teste eritico. Os membros de pares com 'dodbi @ "machueado", ‘nana’ -e 'dormir', ‘auau'e ‘ca~ Ghorzo" tam padvoes diferentes dé uso: "dodoi ‘mand’ © ‘avay' #80 usados apropriadanente quan doo falante & una crianga pequena ou esta se di igindo a una erianga pequena, e sao inadequada= mente usados em situagoes em que os falantes. si0 fdultos diseutindo assuntos de inportaneia. En= iretanto, 0 significado de ‘dod@i' e 'machucado! @ 0 mesm, 0 significado de 'nana' e ‘dormir’ & © mesmo eo significado de ‘auau' e ‘cachorro' & © mesmo. Assim, as predigées sobre sinonimia ¢ relagoes de inplicagao que se seguen da identifi, cacao em exane conflitam com nossa intuigoes Em terceiro lugar, hda identificagio do significado de una expresso com a imagem ou qua aro mental do qual ela é considerada cono un si- nal intersubjetivo externa. Neste caso, a dis~ tingdo entre significatividade e auséncia desig niffeads, isto , 0 fendmeno de anomalia seninet ca, & mai feita,” Palaveas com significados cla r05 com "possibilidade', 'acaso', sorte’, ‘in — finite", ‘vireude', e muitas outras das quais nio se pode dizer que’ tén una inagem ou quadro sen~ tal correspondente, seriam tidas como sem signi ficado. Ao lado de casos de palavras con signi- Ficado para as quais nao ha imagens presentes na ented falante ov ouvinte na oeasiao do seu u- 80, ha expressoes sem significado que evocan ina gens. Por exemplo, expressoes sem sentido como Netithy tovee'® de Lewis Carroll quitas vezes eyocam imagens e assin serian, nesta identifica Gao, consideradas com tendo significado. Quando una identificagio como una das exés consideradas acina conflita com fortes intuigses pré-tericas sobre se uma expressao ou_ sentenga tem ou nao alguna propriedade ou relagao Linguis, tica, e quando nos tomams este conflito cou u= ma critica ao fato de se explicar 0 significado através de identi ficagoes, entao apropriedade ou relagao particular em questo deve ser sesintica. Portanto, a conexio entre a questao geral '0 que @ 0 significado?! © questdes especiais com (1.1) =(1.15) & precisamente do tipo que fol suseri, do aqui. Se se concordar em que as criticas pre eedentes sao relevantes para qualquer tentativa de resposta a questao 0 que 0 significado?’, entio este fato sozinho ja estabelece a conexio entre a questo geral e questdes especiais como Yo que sinonfnia?', '0 que 8 significagao?, "0 que € snonalia senintica?", '0 que € implica” Tanbém estabelece que’ tenos usa concep $30 pré-sistenatica do dominio da senantica mi- to melhor do que soms levados_a acreditar habi~ tualmente. 0 problewa & que no tenes procurado articular a questao. Ns nao investi gams expli, citamente nossas intuigges seminticas para deter ninar 9 dominio dos fenémenos supostanente seman, tices necessarios ao desenvolvinento de uma co cepgae correta do objeto da semintica. Logo que tals fendnenos sao trazidos & tona pela articul ao explicita de nossa concepgao pré-tedrica do assunto, torna-se claro que 2 nogao de significa do engloba una grande extensao de fendmenos sis tematicanente relacionados que, vistos através da perspectiva cientifica comum, convidan @ cons erugio de una teoria. Utaa apreciagio da grande variedade de fend~ nenos no campo da semintica nos inclina nio ¢o~ Bente & construgao de una teoria mas também con trae ceticisno, Mitas das tentativas de ces— prezar o conceito de significado derivan suaplau Sibilidade inieial da suposicao de que ha muito poucos, talvex apenas um ou dots fendseuos seman ticos a serem explicados por un projeto para eli ninar 9 conceito de significado". A crescente extensio do dominio da sendntica enfraquece, des te todo, @ plausibilidade inicial do ceticisno. Tarbém & enftaquece 0 fato de qua este dominio seja considerado sberto: clarancate, uma vez que_enuneradas as quinze propriedades e relacoes Senineicas en (1,16)-(1-30), nao podewos julgar que cheganos ao fim, que as’ encontramos todas. Dosta perspectiva, torna-se bastante claro coma os esforgas céticos tradicionais falhan en resol ver os problemas que fazen face as tentativas de Gispensar 0 conceito de significads, Tambien se toma dbvio que grande parte da plausibilidade inicial de tais esforgos baseia-se nuna visio es treita e muito sinplificada daquilo que usa te: ria lingufstica que ndo leve em conta o signifi- cado teria que explicar. Nenhusa tentativa real de clininar significado enfrentou jamais as di Ficuldades colocadas por una visio realista da~ quilo que deve ser explicado; assim, nenhuma me~ rece obstruir o caminho das tentativas de en~ contyar una teoria sobre o conceite de signifi — eado®. Quine (19536), enbora nia seja anige do con, ceito de significado, definiu a situagao bastan= te acuradanente: ‘Na ausneia de una explicagio satistardria da nogio de significado, o8 linguistas no campo da senintica ests) na situagao de nso Saber sobre o que estao falando. Eata née Suma situagio insustentavel. Os antigos astronoms conhecian 0 movimento dos plane tas adnivaveluente ben sem saber que empé— cle de coisas eran os planctas. Nas € una situagao teoricanente ineatisfatoria, da Qual estio.dolorosanente conscios os" Lin= guistas mais inclinados @ teoria.”” (p47) A analogia com a astronomia antiga boa Sugere que tentemos achar que espécie de coisa © significado encaminhando nossas investigagoes ho espirico em que os astrGnomps modemos se en caninharam para descobrir que especies de coisas Sao os planetas. Correspondendo aos fendmenos dos mvinentos dos planetas, que denarcaram ¢8 cope de explicacao da astronomia antiga, ha em semintica fendmenos como os citados em (1.16) ~ (1-30), que demarcan 0 escopo de explicagao de u ma teoria do significado. Eles fornecem una lis ta nao exaustiva mas razoavelmente representati~ va dos tipos de fendmenos que individualnente per tencem 20 doninio de semintica e coletivamente 0 circunscreven, Eoquanto no tems, como até a~ sora, una teoria 3 qual apelar a fim de decidir positivanente quais fatos pertencen propri amente S sesintica, podems ter com certo que of fatos em (1,16)-(1.30) pertencen a ela. A antiga astro, homie tasbém nao tinha un alicerce slide, mas Somente una rica historia de criteriosa colecso de dados. Cou faigntes de_una Iingsa natural, nossas intuigdes pré-sistendticas, juntanente com © consideravel conjunto de dados da lexicografia tradicional, perniten-nos identificar os fendme- nos acima nencionados con de natureza senintica fornecendo, deste modo, se ndo um alicerce s8li~ do, pelo minos un terreno suficientesente firme sobre o qual erigir una teoria senintica. A as~ tronomia encontrou sua resposta para "0 que io planetas?" construindo usa teoria que explicou © wovinento planetario baseada na premissa de que Os planetas a0 objetor fisicos que obedecem a leis tecdnicas padronizadas. Dentro d mesmo es: pirito, uma vez que construass una teoria que possa explicar com sucesso una parte razoavelnen te grande dos fendnenos senanticos, podems ba~ Sear nossa resposta a 'O que eo significado?’ aquilo que a teoria teve que postular que o sig nificado era, a fim de fornecer suas explicagoes. ‘Traduzide por Leonor Cantareiro Lonbello wotas * The Scope of Semantics", Cap. 1 de Se~ mantic Theory (New York, Harper & Row, 1972), 1-10, Copyright by J.J. Katz, Agradecems a0 au” tor ¢ A Harper & Row pela permissao dada para traduzir e publicar o presente texto. 1, Frege @ una excegio @ tendéncia geral pa ra interpretar erroneasente anatureza da questo '0 que @ 0 significado?'. Tais excesaes, no entanto, foram extrenanente raras, e fracassa™ ran en reftear significativanente a tendéncia. 2, Exemplos paratelos em portugués seriam "luave donba' e 'seliz adiversario’ (N. aa T.). Preferimos usar os termes 'hiperonimia' *hiponimia, correspondendo ao inglés euperondination gubordination, respectivanente, 5a que 'subordinagao’ tem seu uso coneagrado para outro fendmeno na sintaxe do portugués (N. daT). ‘4. Ver meu artigo "Logic and Language: An ex amination of Recent Criticisns of Inten= sionalism” para una digcusedo de algunas razdes pe las quais esta suposigae tom sido feita por mui= tos fildsofos contemporaneo 5. Veremos no capitulo 6 que os melhores mais influentes argumentos céticos contra © conceito de significado, isto &, 08 de Quine ¢ os de Goodzan, reduzem-se em ltina andlise, es~ Sencialmente, a nada mais do que una negativa in- flexivel, ago sustentada por argumntos, de que 0 significado seja um conceit defensavel.

You might also like