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Vocs sabem por que quando algum perde uma discusso, ou coisa assim, e tem de

se calar, se diz que "fulano meteu a viola no saco"? Pois eu vou contar.

H muito tempo, quando os bichos falavam e muitas coisas eram diferentes, havia
muita festana no mundo. Um dia houve uma festa no cu e todos os bichos foram
convidados. Entre eles, um dos mais esperados era o Urubu, porque as danas
dependiam das msicas que ele tocava na viola.

No dia da festa, o Urubu enfiou sua viola no saco e, antes de iniciar a viagem, foi
beber gua na lagoa. L encontrou o Sapo Cururu, que se secava ao sol. Enquanto o
Urubu bebia, o espertalho do Cururu, que tambm queria ir festa, se escondeu
dentro da viola para viajar de carona.

Quando o Urubu chegou ao cu, foi muito bem recebido, pois todos esperavam por
ele para comear a danar o cateret e a quadrilha. Mas antes o chamaram para
beber umas e outras.

O Urubu foi, deixando a viola encostada num canto. O Cururu aproveitou para pular
da viola sem ser visto e foi se empanturrar com os quitutes da festa. O Urubu
tambm comeu e bebeu at no poder mais e no viu que o Cururu, aproveitando
uma distrao sua, se escondera de novo dentro da viola para tornar a tirar uma
carona na volta para a terra.
Quando chegou a hora de voltar, o Urubu guardou a viola no saco e saiu voando de
volta para casa. Durante o vo, estranhou que a viola estivesse to pesada. "Na vinda
foi fcil, mas na volta est difcil. Ser que fiquei fraco de tanto comer e beber?",
pensou ele. Por via das dvidas, examinou o saco com a viola e acabou descobrindo
o malandro do Sapo Cururu agachado l dentro. Furioso por ser usado desse jeito, o
Urubu comeou a sacudir o saco com a viola, para despejar o Cururu l do alto e se
ver livre dele.

O Cururu, com medo de se esborrachar no cho pedregoso l em baixo, recorreu


sua proverbial esperteza e comeou a gritar: "Urubu, Urubu, me jogue sobre uma
pedra, no me jogue na gua, que eu morro afogado!".

O Urubu, tolo, querendo se vingar do Sapo, viu l de cima uma lagoa e tratou logo
de despejar o Sapo dentro dgua, que era pra ele se afogar. O espertalho do
Cururu, que s queria era isso mesmo, saiu nadando, feliz da vida. O bobo do
Urubu s no ficou "a ver navios" porque no havia navios naquela lagoa. E por
isso que, quando algum perde a partida e tem de sair quieto e calado, dizem que
"fulano teve de meter a viola no saco"...

Fbula recontada por Tatiana Belinky, ilustrada por Rogrio Borges

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