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A única coisa certa na vida é a morte. Um fator especial que atinge todos, sem
exceção, e não pode ser alterado e superado é o deixar de viver, isto é, a
morte. O ser humano tem consciência de que vai morrer. O fim é inevitável. E a
fé ajuda a refletir sobre a vida e a morte.
Morrer, no entanto, não é um ato isolado que acontece num instante não
definido perante o qual somos indiferentes por não termos o domínio sobre ele.
Esta etapa está recheada de questões complexas que Necessitam de reflexões
éticas e requerem decisões significativas da equipe médica, do doente, da
família.
É para humanizar este momento importante da vida que hoje se dá uma
especial atenção aos cuidados paliativos. A equipe médica, os familiares e o
paciente – quando seu estado de consciência o permite – devem encontrar a
melhor maneira de oferecer condições para uma boa qualidade de vida até à
morte.
Hospices – hospedaria & hospitalidade
Os hospices remontam ao início do cristianismo, no Império Romano. Nestes
era oferecido abrigo e ajuda aos viajantes, órfãos, necessitados e também
doentes. No século IV comunidades cristãs assumiram estes hospices. Na
Idade Média surgiram comunidades que tinham como principal tarefa trabalhar
em hospices. A Reforma tinha como conseqüência o fechamento de muitos
conventos e, com isto, também de hospices.
No século XIX os hospices foram retomados quando Jeanne Garnirt, de Lyon –
França, fundou um hospice, que chamou também de “Calvário”. Acredita-se
que foi ela quem fala de “hospices” e lhes atribui a função de cuidar de pessoas
que estão prestes a morrer.
Em 1918 nasceu Cicely Saunders. Em 1944 ela fez o curso de enfermagem e
em 1947 fez mais um curso, desta vez de Assistência Social. No encontro com
um paciente – David Tasma – que ela conheceu em 1948, começou a refletir
como poderia ajudar os doentes terminais amenizando suas dores e prepará-
los melhor para a morte. Ao morrer aos 40 anos, este paciente lhe deu dinheiro
que seria “uma das janelas do lar”, que Cicely desejava construir. Mais tarde,
em 1951, ela começou a estudar medicina. Sua meta era fundar um hospice.
Para isto ela precisava estudar e fazer pesquisas na área de cuidados dos
doentes terminais. Em 1967, seus esforços foram coroados com a fundação do
hospice St. Christopher em Londres. De 1967 a 1985, ela foi Diretor Clínico e
Presidente da Instituição. Na abertura, referindo-se ao doente que lhe havia
dado dinheiro para uma janela, ela disse: “Precisei de 19 anos para construir
uma casa em volta da janela”. A idéia básica era de reconhecer as
necessidades do paciente e cuidar dele, bem como de sua família a fim de
amenizar o sofrimento, ao invés de combater a doença. Morrer deveria tornar-
se um tempo de muitas possibilidades de “cura” e crescimento.
Em 1980, a Rainha Elizabeth reconheceu o trabalho inovador do Cicely
Saunders chamando à vida o movimento de Hospices.
Conclusão
Enquanto o referencial for a medicina curativa precisamos contar com
estas distorções éticas a respeito da fase final da vida. O que torna esta fase
muitas vezes desumana e não lhe oferece o verdadeiro sentido e dignidade. O
conceito de saúde, atualmente adotado pela Organização Mundial da Saúde
pode dar uma luz para os procedimentos nesta fase. Saúde é bem-estar global
da pessoa: bem-estar físico, mental, social. Acrescenta-se também a
preocupação com o bem-estar espiritual, cria-se uma estrutura de pensamento
que permite uma revolução em termos da abordagem ao doente crônico ou
terminal.
Os cuidados paliativos permitem ao doente que já entrou na fase final de
sua doença e àqueles que o cercam, enfrentar seu destino com certa
tranqüilidade porque, nesta perspectiva, a morte não é uma doença a curar,
mas sim algo que faz parte da vida. Aceitando a morte como parte do processo
de viver, as atenções vão voltar-se para o bem viver até o final, isto é na hora
certa e de forma natural.
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Fontes de Pesquisa:
- CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, § 2278, 2279
- [1]PESSINI, L. Morrer com dignidade, Aparecida: Editora Santuário, 1990.
- HÄRING, Medicina e Manipulação, O problema moral na manipulação clínica,
comportamental e genética, São Paulo: Edições Paulinas, 1977.
- VELOSO DE FRANÇA, Dr. Genival, Trabalho apresentado no III Congresso
Brasileiro de Bioética e I Congresso de Bioética do Conesul, Porto Alegre,
2 a 4 de julho de 2000.