Este documento analisa a poesia "O Mostrengo" de Fernando Pessoa em comparação com o épico "Os Lusíadas" de Luís de Camões. Ambos os poemas descrevem monstros marinhos que personificam o medo do mar, embora o Mostrengo de Pessoa seja mais simbólico e o Adamastor de Camões mais grandioso. O documento também discute como os poemas representam o heroísmo dos portugueses na era dos descobrimentos.
Este documento analisa a poesia "O Mostrengo" de Fernando Pessoa em comparação com o épico "Os Lusíadas" de Luís de Camões. Ambos os poemas descrevem monstros marinhos que personificam o medo do mar, embora o Mostrengo de Pessoa seja mais simbólico e o Adamastor de Camões mais grandioso. O documento também discute como os poemas representam o heroísmo dos portugueses na era dos descobrimentos.
Este documento analisa a poesia "O Mostrengo" de Fernando Pessoa em comparação com o épico "Os Lusíadas" de Luís de Camões. Ambos os poemas descrevem monstros marinhos que personificam o medo do mar, embora o Mostrengo de Pessoa seja mais simbólico e o Adamastor de Camões mais grandioso. O documento também discute como os poemas representam o heroísmo dos portugueses na era dos descobrimentos.
O Mostrengo o smbolo das histrias fantsticas que se contavam e que amedrontavam
mesmo os mais corajosos. O Homem do leme representa todo um povo que quer dominar os mares... Esta poesia assenta, curiosamente, no simbolismo do nmero trs: o Mostrengo voou trs vezes, chiou trs vezes e rodou trs vezes em redor da nau. O homem do leme ergueu as mos trs vezes, repreendeu-as trs vezes, temeu trs vezes e disse trs vezes a expresso El-Rei D. Joo II. de notar ainda que este poema constitudo por trs estrofes, tendo cada uma nove versos (3 x 3 versos). O nmero trs representa uma ordem espiritual e intelectual, em Deus, no Universo e no Homem. O poema simboliza o medo do desconhecido, do mar intransponvel e perigoso que os navegadores portugueses tiveram de vencer para da lei da morte se libertarem. A coragem dos portugueses , segundo Fernando Pessoa, ordem do rei D.Joo II. Segundo consta: quando Gil Eanes voltou de uma tentativa falhada de dobrar o Cabo Bojador, o Infante mandou-o voltar para tentar novamente e o navegador venceu o temor para no desagradar ao seu bondoso patrono. Mas com D. Joo II o trato era diferente, porque ele no admitia que aqueles em quem confiava falhassem. Assim, os comandantes preferiam enfrentar todos os drages e monstros do mar fria do seu rei e senhor e, por isso, o poema encerra tambm uma ironia - a natureza da "vontade" que ata o homem do leme rota que o medo de desagradarem ao rei maior do que o terror do mar ignoto! O Mostrengo, tal como o poeta da Mensagem o elaborou, no existiria, se no tivesse existido o Adamastor de Cames. Estes textos assemelham-se mais ao nvel do contedo pico: nOs Lusadas, no episdio do Adamastor, surge a fora invencvel do mar e, em O Mostrengo, a vontade frrea de um marinheiro que representa a fora de um povo que quer o mar. Ambos pretendem elevar os portugueses ao nvel da heroicidade. Cames criou o Adamastor, como uma figura humana de propores descomunais e de aspecto medonho, personificao dos perigos e dos medos do mar e Fernando Pessoa optou por imaginar o Mostrengo, fazendo-o smbolo do terror que o mar destila. A figura criada por Cames aterroriza sobretudo pelas propores gigantescas e pela forma estranha; o smbolo criado por Pessoa atemoriza mais pelo aspecto repugnante do que pelo tamanho. Cames criou uma figura simblica para personificar o terror do mar. Reparem, porm, na originalidade da rplica de Pessoa: enquanto Cames criou uma expressiva personificao que inspira sobretudo medo, Pessoa criou um smbolo que indica ao mesmo tempo medo e repugnncia. Fernando Pessoa foi mais simbolista que Cames, o que no admira, j que os dois poetas se situam em pocas bem diferentes. Pela mesma razo, o texto de Pessoa mais curto que o de Cames e, por isso mesmo, mais denso, mais simbolista, sendo nele mais importante o que se sugere do que o que se afirma mais claramente. H no texto de Pessoa mais verosimilhana ao colocar o homem do leme ao servio de D. Joo II, pois sabemos que foi neste reinado que se ultrapassou o Cabo das Tormentas, smbolo do mar intransponvel. Ao contrrio no episdio do Adamastor, o interlocutor do Gigante Vasco da Gama, ao servio do rei D. Manuel I. O poema de Fernando Pessoa mais profundamente pico-dramtico, porque centra a emoo sobretudo na pessoa do homem do leme que evoluciona do medo para a coragem e ousadia. A fora pica do Adamastor dilui-se um pouco no lirismo da segunda parte do seu discurso, em que o Gigante, ao longo de uma impressionante histria de amor, se considera um heri frustrado. A maior fora pica do texto de Pessoa est tambm nisto: o terror e repugnncia do monstro parecem esbater-se medida que cresce a fora e coragem do marinheiro, cuja determinao herica, na sua ltima fala, faz esquecer as atitudes medonhas do mostrengo. Aqui o monstro que vencido pela coragem do marinheiro; no episdio do Adamastor, ele que se declara um heri vencido pelos males de amor. No episdio de Cames a tenso dramtica e a fora pica diluem-se bastante na medida em que o poeta transpe a tenso emocional do marinheiro para o gigante. A nvel lexical, o maior sinal de intertextualidade encontra-se nas expresses que caracterizam o gigante (horrendo e grosso) e do mostrengo (imundo e grosso). Os dois poetas usaram o adjectivo grosso para nos dar a ideia de monstro feio, mas Pessoa preferiu imundo a horrendo, ambos so, no entanto, dois latinismos bem expressivos. Para concluir, a sombra de Cames projecta-se claramente neste poema, no quer dizer que haja falta de originalidade no poema de Pessoa, considerado superior ao nosso poeta pico em densidade pico-dramtica. As diferenas explicam-se pelas diferentes pocas em que os dois poetas escreveram.