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‘elon henarai sk a Toa 10 Ping thea = tabedade ‘ee or Bat Bo = S59 haute 8 ‘ely Gp S77 989 ae CU Se aot palsalonacome Cahn cons ody clon © cat se elu ts ata Sumério Abresentagdo drarndiho 1 = MONOCUITUKAS DA MENTE... (0s stewas do sober *dosoperecidost As rchachuss de (ragmentagto ‘A destruc da diversities, vita come *eevadaninha ‘as divorce ¢ a8 econones“anlagronas ‘A silvieaiurs “soul” © a Gevore ‘milagroai" © cvcnipre {A Revoliglo Wore a semenies “ieee A insustentailidece das monocklas A deaocraizagio do sabec Refer2acas biblingalicas.. 2 BIODIVERSIDADE: UMA PERSERCTIVA DO. “TERCEIRO MUNDO. A ens a ve154886 oss As principals rneayes & biodwenicade 36 a 4 6 6 6 mn a Bs as Os efeitos da erosio da biodiversidade © bioimperialismo do Primeiro Mundo € os conilitos Norte-Sul As limitagdes das abordagens dominantes a preservagio da biodiversidade Do bioimperialismo a biodemocracia Referén« Bibliogrificas ... BIOTECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE Introdugio : € tiscos biolégicos Biotecnologi Biotecnologia € riscos quimicos Biotecnologia e biodiversidade .. Substitutos da biotecnologia e privacio econdmica no Terceito Mundo Biotecnologia, privatizacdo € concentragio Biotecnologia, patentes € propriedade privada dos seres vivos .. Apéndices Referéncias Bibliogrificas A SEMENTE E A ROCA: DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO E PRESERVACAO DA BIODIVERSIDADE Introduga0 Desenvolvimento tecnolégico € sustentabilidade Diversidade € produtividade A preservacao da semente ¢ a roca Conclusio . Referencias Bibliogrificas 94 100 104 110 116 17 . 118 132 138 140 142 145 155 158 159 . 159 161 163 169 174 177 5 - A CONVENCAO SOBRE BIODIVERSIDADE: UMA AVALIAGAO SEGUNDO A PERSPECTIVA DO TERCEIRO MUNDO APENDICE 1 - Convengio sobre Biodiversidade, 5 de junho de 1992 APENDICE 2 — Declaragio de Johanesburgo sobre Biopirataria, Biodiversidade Direitos Humanos ... Pequena Biografia de Vandana Shiva Bibliografia da Autora 179 189 232 239 . 240 5 efeitos da erosio da biodiversidade ie 94 | 5 — A CONVENGAO SOBRE BIODIVERSIDADE: © bioimperialismo do Primeiro Mundo ¢ os UMA AVALIACAO SEGUNDO A conflitos Norte-Sul 100 PERSPECTIVA DO TERCEIRO MUNDO wu 179 As limitagdes das abordagens dominantes & . preservagio da biodiversidade 104 APENDICE 1 — Convencio sobre Biodiversidade, Do bioimperialismo 4 biodemocracia 110 | 5 de junho de 1992 ssn 189 Referéncias Bibliograficas : seenenee 116 APENDICE 2 — Declaracao de Johanesburgo sobre Biopirataria, Biodiversidade € 3 = BIOTECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE wes 17 Direitos Humanos -oororernnnnrnn oo Introdu . 17 Pequena Biografia de Vandana Shiva sues 239 Biotecnologia ¢ tiscos biO16giCOS wanunnennnnnns 18 Bibliografia da Autora .. : 240 Biotecnologia ¢ riscos quimicos veces 12 Biotecnologia ¢ biodiversidade 138 Substitutos da biotecnologia € privagao econdmica no Terceiro Mundo ... 140 Biotecnologia, privatizagio € concenttag40 wn 142 Biotecnologia, patentes e propriedade privada dos seres vivos ... : : 45 Apéndices . 155 Referéncias BibliOgEAFICAS wensnnnnnnsenannn 158 4 A SEMENTE E A ROCA: DESENVOLVIMENTO. TECNOLOGICO E PRESERVAGAO DA BIODIVERSIDADE ree 159 TnttOdUGAO ornare : 159 Desenvolvimento tecnolégico ¢ sustentabilidade .... 161 Diversidade ¢ produtividade ..... sence 163 A preservacto da semente e a roca 169 Condlusio .... . — 174 Referéncias Bibliogrificas... seve VT A\presentag&o © livro Monoculturas da Mente da escritora Vandana Shiva chega ao Brasil ap6s 10 anos‘de sua edigio original em inglés e num momento muito significativo: logo apés o dificil didlogo sobre Meio Ambiente e De: Johanesburgo em 2002, no contexto da avaliagio da Rio 92 + 10. As questdes relativas a0 cuidado da biodiversidade apareceram novamente como estrelas de primeira grandeza no cenétio da mudanga do paradigma de desenvolvimento e, como conseqtiéncia, estiveram também entre as questdes de maior impasse nas negociagdes entre paises detentores da biodiversidade do mundo e paises detentores da tecnologia Staying Alive, o livro anterior de Vandana Shiva tradu- zido ao espanhol pela Rede do Terceiro Mundo com o titu- lo feliz. de Abrazar la Vida, mostrou com muita veeméncia a necessidade do didlogo planetitio sobre a vida da Terra € da espécie humana com ela. Nesta nova publicagio, a auto- ra traz outra importante contribuigao, fundamentada em andlise muito bem documentada sobre o tema da biodiver- sidade e da biotecnologia. Vandana tece uma critica sétia e corajosa aos programas de biotecnologia e de monocultura impostos por grandes empresas ou institutos de cooperacao técnica, financiados prineipalmente por agéncias internacio- nais que destroem a biodiversidade ¢ abafam milénios. de saber da humanidade, envolvimento ocorrido em ‘MONOCULTURAS DA MENTE © cariter insustentavel do “antidesenvolvimento" oca- sionado por estes programas exportados pelo Norte aos paises do Sul, aplicados por empresas particulares nacio- do poder piblico, trazido pela autora por meio da descrigao de uma coletdnea de fra- nais, com 0 aval ou tolerdnci cassos evidentes ¢ jé mensurados: os fracassos técnicos produtives da monocultura, que tiveram como expressio mais evidente a Revolucio Verde; 0 fracasso ecolégico de “reflorestamentos” monoculturais, que estio deixando de- sertos para as geracdes futuras no lugar de floresta susten- taveis; o fracasso estrutural derivado da concentragao de terras nas maos de uns poucos ¢ evidente no abandono de pequenas propriedades, nas quais principalmente as mu- Iheres agricultoras vém-perdendo seus meios de vida ¢ vendo seus conhecimentos seculares serem inutilizados; 0 fracasso sociocultural que inclui emigrag © espaco urbano com as seqilelas de desemprego e excli- silo social; 0 fracasso da mudanga de valores, que se crista liza no dilema entre superproduzir para superconsumir em > do campo para vex de produzit para viver; finalmente, o evidente fracasso econdmico desse modelo “no qual mais alimento significa mais fome", conforme jé demonstrado em estudos realiza- dos inclusive por agéncias internacionais. Para a autora, a raiz deste antidesenvolvimento vai muito além da tecnologia e dos programas que mantém este modelo. A questo fundamental esta na ideologia domi- nante que Vandana chama de monoculturas da mente, as ‘quais trazem em seu bojo a convicgao absoluta de que este Paradigma 6 a solugio para os problemas de todos os luga- res do planeta, independentemente de localizagio geogri- fica, ecossistemas, clima, populacdes instaladas com organi- zagbes sociais e politicas proprias e com tradi¢&es milenares de cultivo da terra, com cuidado da biodiversidade que inclui respeito aos ciclos da vida. 10 ARRESENTAGAO As monoculturas da mente cristalizam-se em ideolo- gias e valores. Estes, por sua vez, orientam ¢ justificam as politicas, as estratégias, as técnicas € os métodos utilizados em programas para o antidesenvolvimento agricola e flo- restal dos paises do hemisfério Sul, particularmente dos paises pobres, em que se instaura, a forga, a dependéncia econémica e tecnol6gica Entretanto, a monocultura mental vai além, Ela conduz, a uma verdadeira devastagio da sabedoria milenar existente na humanidade, contrapondo-a a mesma a exclusividade do recente saber cientifico, transferindo a ideologia ¢ os valores da monocultura 20s produtores € produtoras, consumidores € consumidoras por meio do controle ideol6gico, sociocul- tural e econémico. Uma verdadeira “cruzada” é desenvolvida por grupos interessados encabegados por multinacionais € certos governos, para convencer as pessoas € a5 instituigées que os sistemas tradicionais de producao sto ineficazes para a abundancia e ineficientes para o mercado, que nio ‘outro sistema melhor do que © da biotecnologia e da mono- cultura intensiva e que é inttil querer oporse a elas ou procurar outra solugio. Propagandas veiculadas atualmente pela televisdo brasileira constituem um exemplo ilustrativo deste fenémeno. Por meio das monoculturas da mente, a exploracio dos mais fracos € assegurada € 0 modelo hege- ménico do antidesenvolvimento € confirmado. ‘A autora mostra como o verdadeiro desenvolvimento 86 pode ser um desenvolvimento ecolégica e socialmente sus- tentivel, Sua anilise critica orienta a busca de politicas ¢ estratégias de desenvolvimento para sait do que ela chama de bioimperialismo, que impde as monoculturas, ¢ construir a biodemocracia com quem respeita/cultiva a biodiversidade, (© que fazer? Vandana levanta questdes que j4 esto na Agenda Internacional ¢ formam parte do actimulo plane- tirio, fruto do envolvimento € compromisso de milhoes de 1 Te MONCCULTURAS DA MENTE atores sociais do mundo inteiro que buscam “um outro jeito de ser” capaz de tornar possivel a continuidade da vida na Terra em todas as suas formas e manifestagdes. Entre ou- tros, reafirma a necessidade de analisar, reconhecer ¢ admi- tira importincia e o valor produtivo da biodiversidade para 0 desenvolvimento sustentével, que no é predador e nem pode ser imediatista, ¢ reafirma o alto valor dos conheci- mentos tradicionais em agricultura ¢ a capacidade de inte- gracdo de adequadas mudangas biotecnolégicas pelos agri- cultores tradicionais, Também mostra a importincia de reconhecer que a agricultura diversificada & a base para a integraco das inovagdes nos programas de desenvolvi- mento agricola ¢ que os produtores e produtoras devem ser 0s primeiros e principais agentes e integradores das mu- dangas materiais e culturais. Contudo, a chave das solugdes nao esté no aspecto técnico. Situa-se no nivel da vontade e do poder politico, como bem demonstra 0 diltimo capitulo do livro em que a autora tece comentirios a respeito da Convengdo da Biodi- versidade, documento emblematico em nivel planetario, ‘cujo primeiro signa: , na qualidade de anfi- trido da Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio Am- biente ¢ Desenvolvimento em 1992 Monoculturas da Mento vem $01 tos estudos; anilises e agé arse, e1 pr6-positivas dos que acreditam que este assunto € estratégico para nosso pais e requer siner- gia de interesses e didlogo entre os varios poderes constitu dos: dos grupos de poder econdmico, dos diversos setores € niveis do poder ptiblico, do poder do saber cientifico e do Poder de conhecimento € organizagio da sociedade, todos. em interface com © poder dos meios de comunicagio que Precisam transformar-se em canais de comunicacao. © equilibrio do controle de recursos genéticos entre Pafses detentores de biodiversidade e paises que possuem 0, aos mui- AIRESENTACAO tecnologia, assim como 0 equilibrio entre “a evidéncia cien- tifea. consistente” e a “integridade cultural das comunidades detentoras de conhecimentos tradicionais" ja nao so meros temas para anilise ¢ discussio. Sao temas para novas for- mas de agio. Ao demonstrar, hd 10 anos, o mal-estar do Pla- rneta e seu proprio mal, Vandana langou sementes de refle- x40 que hoje estdo espalhadas por todo o mundo e fazem parte do universo de pessoas que atuam em lugares e cam- pos muito diversos. ‘A empresiria inglesa Anita Rodick, por exemplo, co- menta: “O meu maior medo € um dia chegar a ver no s6 0 mundo dos negécios, mas o planeta como um todo, domi nado por um pequeno grupo de corporagdes transnacionais gigantes. Sinais disso jf existem e, para enxergi-los, basta Constatar como as marcas globais estdo se infiltrando no tiindo de nossos filhos: sto elas que thes dao lazer, ali ‘mento, roupa, remédios e insinuam formas de relacionamen- 10 social. £ como se comecasse a ser plantada uma ‘mono- cultura’, no caso, uma cultura exclusiva e uniforme, para ser adotada por todos!” (Meu jeito de fazer negdcios, p. 12). Marina Silva, uma das figuras proeminentes do Brasil fem relagao 20 respeito/cuidado da biodiversidade como . assunto prioritério para 0 poder piblico e a sociedade civil, efatiza: “Que uma mudanga vai acontecer, disso nao tenho s. A questiio ambiental, que esta na esséncia da pro posta do desenvolvimento sustentivel, no € um modismo passageiro. A populagio do mundo cresceu muito nas tilti- mas décadas, Os recursos naturais tornam-se cada vez mais escassos. A utilizacio do petréleo como principal fonte de energia tem prazo de poucas décadas para terminar. AS hovas tecnologias, especialmente derivadas da biologia ¢ a. informatica, estio modificando as culturas, os estados € 5 mercados. Todos esses fatores empufram © mundo para a superagio dos modelos econémicos atuais e paia a descoberta de novos modelos, mais ‘geis e adequados tanto as mudangas globais quanto as demandas regionais até comunitérias. A idéia do desenvolvimento sustentado é um sinal de alerta, um ctitério basico para avaliar os rumos da civilizacto ¢ mudar enquanto & tempo” (Uin sonbo sus- tentavel, doownload, 2002). Para 0 Brasil, que detém 50% da biodiversidade do mundo € tem um patriménio em recursos de biodiver dade na ordem de mais de dois trilhdes de délares, segun- do avaliagao feita pelo Ibama, o tempo é agora! Vandana Shiva € bem-vinda ao Brasil, particularmente na roda de sinergia de interesses que retine diversas cul- turas da mente que respeitam/cultivam a biodiversidade com respeito/cultivo da diver condiclo sine qua non do desenvolvimento sustentado que se constr6i em sociedades sustentaveis diferentes com responsabilidade global, em contraposic: ras da mente. Como complemento a esta apresentagio da versto brasileira, foi incluido 0 Apéndice 2 com a Decla- ragao de Jobanesburgo sobre Biopirataria, Biodiversidade ¢ Direitos Comunitarios, redigida por ocasido da Cipula da Terra. Trata-se de um documento ilustrativo da forma de pensar, sonhar, atuar e articular da roda sinérgica da biode- ‘mocracia ja presente e atuante em todos os recantos do mundo, com a qual se identifica plenamente 0 contetdo deste livro. ia as monocultu- Moema Viezzer* * Soci6loga, educadora, autora de Se me detxam falar... depotmento de Domitila, uma mulber das minas da Bolivia © O problema nao esté na mulber... entre outros. 14 Introdusao Os cinco ensaios deste volume escritos meus produzidos duranté’a itima década refle- tem sobre as causas do desaparecimento da diversidade ¢ © desafio que € a sua preservagio. ‘A principal ameaca a vida em meio a diversidade deriva do habito de pensar em termos de monoculturas, o que chamei de “monoculturas da mente”. As monoculturas da mente fazem a diversidade desaparecer da percepgio ¢, conseqiientemente, do mun- do, O desaparecimento da diversidade correspond ao desa- parecimento das alternativas — e leva a sindrome FALAL (falta de alternativas). Com que freqiéncia, nos tempos de hoje, o exterminio completo de natureza, tecnologia, comu- nidades ¢ até de uma civilizagdo inteira nao € justificado pela “falta de alternativas’? ‘As alternativas existem, sim, mas foram excluidas. Sua incluso requer um contexto de diversidade. Adotar a diversidade como uma forma de pen- saf; como um contexto de ago, permite o surgimento de muitas opgdes Os artigos aqui apresentados baseiam-se na partici- pacdo em movimentos voltados para a defesa da diversi- ade na natureza e na cultura. Minha preocupacdo com as inonoculturas comegou com © movimento Chipko, em Garhwal, no Himalaia. As camponesas de Garhwal sabiam que as monoculturas de pinheiros nao eram florestas, que no tém condigses de realizar as miltiplas fungdes de fornecer Agua e conserva sas comunidades com espécies que possam servir de ali- mento, forragem, fertlizantes, fibras e combustiveis (as espé- cies dos SF, na lingua chipko) A segunda experiéncia com a natureza empobrecida e empobrecedora das monoculturas foi associada a uma auditoria ecolégica de plantagdes de eucaliptos, principal- mente nas zonas semi-Aridas do Estado de Karnataka, onde um programa de administracio florestal ¢ social do Banco ‘Mundial estava levando & erosiio da diversidade agricola e & conseqiiente erosio do solo e do abastecimento de agua, assim como das condigdes de subsisténcia ¢ do suprimen- to de biomassa para uso local. Em 1983, o movimento dos agricultores — 0 Raitha Sangha — comegou a arrancar os bro- tos de eucaliptos do viveito florestal ¢ a substitui-los por brotos de varias espécies, como manga, tamarindo, jaca, pongamia etc. Um estudo posterior sobre a Revolugao Verde na agri- cultura mostrou que se tratava basicamente de uma f6rmu Ja para introduzir as monocultura 0 solo, nem de prover as diver- e acabar com a diversi- dade. Também estava ligada 4 introdugio do controle cen- tralizado da agricultura e erosio da tomada de decisées descentralizada a respeito da organizaglo das safras/A uni- formidade ¢ a centralizagio levam 4 vulnerabilidade e a0 colapso social e ecoldgico/ A biotecnologia € a revolugio genética na agricultura € na inddstria florestal ameacam agravar as tendéncias a erosio da diversidade e & centralizagao que comegaram com a Revolucao Verde. E nesse contexto da produgio de uniformidade que a preservagio da biodiversidade deve ser compreendida. A pre- servagao da diversidade corresponde sobretudo a produgao de alternativas, a manter vivas formas alternativas de pro- 16 InrsopucAo dugio. Proteger as sementes nativas € mais que uma ques- to de preservar a matéria-prima para a indGstria da biote- cnologia. As diversas sementes que agora estto fadadas extingio carregam dentro de si sementes de outras formas de pensar sobre a natureza e de outras formas de produzir para satisfazer nossas necessicacles. O tema critico de todos 0s artigos € que/a uniformidade e a diversidade no sto apenas maneiras de usar a terra, so maneiras de pensar € de viver/Os ensaios também discutem os mitos de que as monoculturas so essenciais para resolver os problemas de escassez € que, para aumentar a diversidade, nao ha opcao além da destruigao da diversidade. Nao € verdade que sem as monoculturas de 4rvores haverd escassez de madeira para combustivel e que sem as monoculturas na agricultura monoculturas z de comida. Na verdade, haverd escass 10 uma fonte de escassez. ¢ pobreza, tanto por destruir a diversidade e as alternativas quanto por destruir 0 controle descentralizado dos sistemas de producao € consumo. A diversidade € uma alternativa 2 monocultura, a homogeneidade ¢ a uniformidade. Viver a diversidade na natureza corresponde a viver a diversidade de culturas. As diversidades natural ¢ cultural so fontes de riqueza e alternativas, primeito ensaio, “Monoculturas da mente”, foi escrito para o programa WIDER da Universidade das Nagdes Unidas sobre “O sistema de saber enquanto sistema de poder’, Procura mostrar que @s monoculturas ocupam pri- meiro a mente e depois sto transferidas para o solo. As monoculturas mentais geram modelos de produgio que destroem a diversidade e legitimam a destruigdo como pro- gresso, cimento e melhoria/ Segundo a perspectiva da mentalidade monocultural, a produtividade e as safras pare- cem aumentar quando a diversidade é éliminada e substi- tuida pela uniformidade. Porém, segundo a perspectival da 17 ‘Mono diversidade, as monoculturas levam a um declinio das safras e da produtividade. Sao sistemas empobrecidos, qua- litativa © quantitativamente. Também sao sistemas extrema- mente instiveis ¢ carecem de sustentabilidadey As mono- culturas disseminam-se ndo por aumentarem a produgao, ‘mas por aumentarem 0 controle,’ expansio das mono- culturas tem mais a ver com politica e poder do que com sistemas de enriquecimento ¢ melhoria da produgio biolé- Isso se aplica tanto Revolucdo Verde quanto revo- lugao genética ou as novas biotecnologias. Os ensaios sobre biodiversidade e biotecnologia foram preparacios como artigos da Rede do ‘Terceito Mundo (Third World Network) para a Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio trar como as negociagdes em torno da biodiversidade podem ser separadas das negociagdes em torno da biote nologia. Afirmam que tratar a biodiversidade como simples natéria-prima” deriva de uma postura antinatureza ¢ ra cista que pée em risco a natureza ¢ o trabalho dos povos do Terceiro Mundo ao considerd-los como algo sem valor A biodiversidade niio adquire valor apenas por meio da biotecnologia e da engenheria genética praticadas por “homens brancos em roupas brancas de laborat6rio”, para citar Pat Mooney. ‘Tem valor intrinseco e também um gran- de valor de uso para as comunidades locais, O artigo tam- bém € uma adverténcia contra tratar a biotecnologia como um milagre ecol6gico ¢ como solugao para toda e qualquer mazela ambiental. A biotecnologia devia estar resolvendo problemas ecol6gicos mais graves do que aqueles que afir- ma solucionar, Também ha um uso enorme e injustificado de poder e politica quando a biodiversidade e seus produ- tos so tratados como uma heranga irrestrita e comum da humanidade quando vém do Terceiro Mundo, 20 mesmo tempo em que os produtos da mesma biodiversidade sio considerados propriedade privada e patenteada quando mbiente € Desenvolvimento € procuram mos- 18 Inmrovucao sio ligeiramente modificados pelos laborat6rios do Norte. /4 diversidade enquanto modo de pensar levaria a um trata- “ mento mais justo € equitativo das contribuigdes do Norte e do Sul. © quarto ensaio € um artigo meu que faz parte do liveo Conservation of Biodiversity for Sustainable Deve- lopment, de O. T. Sandulund. K, Hindar e A, H. D. Brown e publicado pela Scandinavian University Press, Oslo, em 1992. Questiona as nogdes distorcidas de obsolescéncia da biodiversidade viva inerente a0 paradigma das monocul- turas, que anda de maos dadas com os direitos de mono- pélio sobre 0 controle da biodiversidade e ameaca-nos com desastres imprevisiveis sob a forma de revolucdo genética ‘A semente nativa torna-se um sistema de resistencia contra as monoculturas € os direitos de monopélio. Passar da uni- formidade para a diversidade € essencial tanto ecoldgica quanto politicamente. E um imperativo ecolégico porque ido na diversidade respeita os direi- sustentivel. Também & um apenas um sis tos de toda imperativo politico porque a uniformidade anda de maos dadas com a centralizagio, enquanto a diversidade requer um controle descentralizado. A diversidade, enquanto ma- neira de pensar enquanto maneira de viver, € necessaria para superar 0 empobrecimento gerado pelas monoculturas ment: cio da Convengio sobre Biodiversidade, realizada em Nairobi em maio de 1992, e da qual participaram 154 pafses durante a “Conferéncia de Cipula” Unced em junho de 1992. Esse ensaio chama a atengio para varios defeitos que apontam para a probabi- lidade de que a Convengdo tenha impactos negativos sobre © Terceiro Mundo. Em consideragio ao leitor, reproduzi- ‘mos na integra 0 texto da Convengao séb a forma de um Apéndice. cle Monoculturas da Mente Os sistemas de saber “desaparectdos” Na Argentina, quando o sistema politico dominante enfrenta discordancia, reage fazendo os dissidentes desa- parecerem. Os desparacidos, ou dissidentes eliminados, tém o mesmo destino que os sistemas locais de saber no mundo inteiro, que tém sido subjugados por politicas de eliminagio, ndo por politicas de debate e didlogo. © desaparecimento do saber local por meio de sua interacdo com o saber ocidental dominante acontece em muitos planos, por meio de muitos processos. Primeiro fa- zem 0 saber local desaparecer simplesmente nao o vendo, negando sua existéncia. Isso € muito fécil para o olhar dlis- tante do sistema dominante de globalizacéo. Em geral, os sistemas ocidentais de saber sio considerados universais. No entanto, o sistema dominante também € um local, com sua base social em determinada cultura, classe ¢ género. Nao € universal em sentido epistemolégico. £ ape- nas a versio globalizada de uma tradigéo local extrema- mente provinciana. Nascidos de uma cultura dominadora € colonizadora, os sistemas modernos de saber sio, ¢les préprios, colonizadores. istema ‘Monocutrutas ba Menre A ligacao entre saber € poder € inerente ao sistema dominante porque, enquanto quadro de referéncia concei- tual, esté associado a uma série de valores baseados no poder que surgit com a ascensio do capitalismo comercial. A forma pela qual esse saber & gerado, estruturado e legiti- mado e a forma pela qual transforma a natureza e a socie- dade geram desigualdades ¢ dominagao, e as alternativas sio privadas de legitimidade. © poder também é introdu- ido na perspectiva que vé o sistema dominante nao como uma tradi¢ao local globalizada, mas como uma tradigio universal, inerentemente superior aos sistemas locais, Con- tudo, o sistema dominante também é produto de uma cul- tura particular. Como observa Harding, Agora podemos discernir os efeitos dessas marcas cul- turais nas discrepancias entre os métodos do saber e as visdes de mundo apresentadas pelos criadores da moderna cultura ocidental e aquelas caracteristicas do resto de nés As crengas favoritas da cultura ocidental refletem, as vezes de forma clara, as vezes de forma distorcida, nao. o mundo como ele 6 ou como gostariamos que fosse, mas os projetos Sociais de seus criadores historicamente identificaveis.! A dicotomia universal/local € desvirtuada quando apli- cada as tradigdes do saber ocidental e autéctone porque a tradicao ocidental € uma tradigio que se propagou pelo mundo inteiro por meio da colonizacio intelectual, (© universal deveria disseminar-se imparcialmente, O local globalizador espalha-se pela violencia pela detur- Paco. O primeiro plano da violéncia desencadeada contra 08 sistemas locais de saber € ndo considerd-los um saber. A invisibilidade & a primeira razdo pela qual os sistemas lo- cais entram em colapso, antes de serem testados ¢ com: Provados pelo confronto com o saber dominante do Oci- Pr | Monocutrunas ba Mente dente. A propria distancia elimina os sistemas locais da per- cepelo. Quando o saber local aparece de fato no campo da visio globalizadora, fazem com que desapareca negando- Ihe © status de um saber sistematico ¢ atribuindo-lhe os adjetivos de “primitivo” e “anticientifico". Analogamente, o sistema ocidental € considerado o Gnico “cientifico” e uni- versal, Entretanto, os prefixos “cientifico” para os sistemas modemos ¢ “anticientifico” para os sistem: saber tém pouca relagio com o saber e muita com o poder: Os modelos da ciéncia moderna que promoveram esas visdes derivaram menos da familiaridade com uma pritica cientifica real e mais da familiaridade com versdes ideali- zadas que deram a ciéncia um status epistemolégico espe- cial. © positivismo, o verificacionismo e o falsificacionismo basearam-se todos no pressuposto de que, ao contratio d crengas tradicionais, das crencas locais do mundo, que sto construidas socialmente, pensava-se que o saber cientifico moderno era det jo social. Os cien- tistas, de acordo com um método cientifico abstrato, eram vistos como pessoas que faziam afirmagdes corresponden- tes as realidades de um mundo diretamente observivel. Os conceitos te6ricos de seu discurso eram considerados, em principio, redutiveis a afirmagées observacionais dlireta- mente verificdveis. Novas tendéncias da filosofia e da socio- logia questionaram os pressupostos positivistas, mas nao questionaram a suposta superioridade dos sistemas ociden- tais, Assim, Kuhn, que mostrou que a ciéncia nao é nem de Jonge aberta como se pensa popularmente, e sim o resul- tado da fidelidade de uma comunidade especializada de cientistas a metéforas ¢ paradigmas pressupostos que deter- minam o sentido dos termos ¢ conceitos constituintes, ainda afirma que o saber moderno “paradigmatico” € superior ao saber pré-paradigmiitico que represent’ uma espécie de estagio primitivo do saber.? erminado sem a mediaga Horton, que questionow a visio dominante do saber dominante, ainda fala das “faculdades cognitivas superio- res” das formas de pensar da cultura cientifica moderna que constituem formas de explanacio, previsio e controle de uma competéncia sem rivais em qualquer época e lugar. Essa superioridade cognitiva deriva, em sua opiniio, da “abertura” do pensamento cientifico moderno e do “fecha- mento” do saber tradicional, Segundo sua interpretagao: “Nas culturas tradicionais ndo existe uma consciéncia articulada das alternativas ao corpo estabelecido de niveis te6ricos, ao passo que, nas culturas de orientagao cientifi- Ca, essa consciéncia é extremamente desenvolvida."3 No entanto, a experiéncia histérica de culturas nao Ocidentais sugere que os sistemas ocidentais de saber é que sdo cegos a alternativas. O rétulo de “cientifico” atribui uma espécie de sacralidade ou imunidade social ao sistema oci- dental. Ao se elevar acima da sociedade ¢ de outros sis- temas de saber e simultaneamente excluir outros sistemas de saber da esfera do saber fidedigno e sistemitico, o sis- tema dominante cria seu monopélio exclusivo. Paradoxal- mente, os sistemas de saber considerados mais abertos é que esto, na realidade, fechados ao exame e a avaliagao. A cigncia ocidental modema nao deve ser avaliada, deve ser simplesmente aceita. Como disse Sandra Harding: Nem Deus, nem a tradigo sao privilegiados com a mesma credibilidade de que desfruta a ractonalidade cien- ‘ifica das culturas modernas... O projeto que a sacratidade da ciéncia transformou em tabu & 0 exame da ciéncia exa- tamente da mesma forma que qualquer outra instituigao ou conjunto de praticas sociais4 ‘Monocutueas on Mere ‘As rachaduras da fragmentagao Além de tornar 0 saber local invisivel ao declarar que ndo existe ou ndo é legitimo, o sistema dominante também faz as alternativas desaparecerem apagando ou destruindo a realidade que elas tentam representar. A linearidade frag- mentada do saber dominante tompe as integracdes entre os sistemas. O saber local resvala pelas rachaduras da frag- mentagao. £ eclipsado com 0 mundo ao qual esta ligado. Desse modo, o saber cientifico dominante cria uma mono- cultura mental ao fazer desaparecer o espaco das alternati- vas locais, de forma muito semelhante a das monoculturas de variedades de plantas importadas, que leva a substi- tuigao e destruigao da diversidade local. O saber dominante também destrsi as proprias condigdes para a existencia de alternativas, de forma muito s introdugao de monoculturas, que destroem as proprias condigoes de exis- téncia de diversas espécies. Enquanto metéfora, a monocultura mental talvez. seja mais bem exemplificada no saber ¢ na prética da silvi- cultura e da agricultura. A silvicultura “cientifica” € a agricul- tura “cientifica” dividem artificialmente a planta em domi- nios separados sem partes em comum, com base nos mer- cados isolados de bens aos quais fornecem matéria-prima € recursos. Nos sistemas locais de saber, 0 mundo vegetal nao € artificialmente dividido entre uma floresta que for- nece madeira comercial ¢ terra cultivavel que fornece mer- cadorias em forma de alimentos. A floresta ¢ 0 campo sao um continuum ecolégico, ¢ as atividades realizadas na flo- resta contribuem para satisfazer as necessidades alimenta- res da comunidade local, enquanto a propria agricultura € melhante modelada de acordo com a ecologia da floresta tropical Alguns habitantes das florestas obtém comida diretamente iloNocuTueas oa Menre SISTEMAS LOCAIS DE rowrae be Forregom / ABER A pera Agua oisaginosas|| Cereals Comic [teow] aes SISTEMAS DOMINANTES DE SABER N > [ aon | | Ne=P7/ | \ Florestas, madeia| | Comic | 0s Espacos Desaparacidos Figura 1. O saber dominante ¢ o desaparecimento das alternativas. Monee TURAS DA Mente de seu meio ambiente, enquanto muitas comunidades pra- ticam a agricultura fora da floresta, mas dependem da fer- tilidade da floresta para a fertilidade da terra cultivavel No sistema “cientifico” que separa a silvicultura da agii- cultura e reduz a silvicultura ao fornecimento de madeira, comida no & mais uma categoria relacionada a silvicultura, Portanto, essa separagao apaga 0 espaco cognitive que rela- iona a silvicultura 4 produgao de alimentos, quer direta- mente, por meio dos elos de fertilidade. Os sistemas de saber que nasceram da alimento so, por conseguinte, eclipsados e finalmente des- truidos, tanto pelo descaso quanto pela agressto.5 ‘A maioria dos sistemas locais cle saber tem-se bas na capacidade que as florestas tém de manter a vida, na no valor comercial de sua madeira. Esses sistemas entram no beco sem saida de uma perspectiva de se baseia exclusivamente na exploracao comerc restas. Se alguns de seus usos locais puderem ser comer- Cializados, é atribuido a eles o status de “produtos secund ros’, sendo a madeira considerada © “produto principal” da silvicultura, Desse modo, a criagio de categorias frag- mentadas faz com que os olhos se fechem para espagos inteiros que o saber local compreende, saber que est mu to mais perto da vida da floresta e € muito mais represen- sidade. A ciéncia dominan- te na silvicultura ndo tem espago para o saber dos hanunus das Filipinas, que dividem as plantas em 1.600 categorias, entre as quais os botinicos especializados s6 conseguem distinguir 1.200.6 Os fundamentos do saber dos sistemas de safras baseados em 160 tipos de plantas da tribo lua, da ‘Tailandia, no so considerados saber, nem pela silvicultura dominante, que s6 vé a madeira comercial, nem pela agri- cultura dominante, que s6 vé a agricultura quimicamente -nsiva, Portanto, os sistemas alimentares baseados ‘na pacidade que a floresta tem de fornecer lo tativo de sua integridade e dive 27 MONOCULTURAS DA Men floresta, quer dlreta, quer indiretamente, sdo coisas que no existem no campo de visio de uma silvicultura e de uma agricultura reducionistas, mesmo que tenham sido e ainda sejam a base do sustento de muitas comunidades do mundo. Por exemplo: as florestas timidas do sudeste da Asia fornecem toda a madeira necessiria 208 ¢: quenis, aos punan ba e aos penans, que tiram-na ‘4 € praticam uma agricultura de subsisténcia. O povo tirurai depende da flora silvestre das florestas, que é a sua principal fonte de alimento e de satisfago de outras neces- sidades.” Os suprimentos vegetais so colhidos principal- mente da floresta a sua volta, e cerca de 223 tipos basicos de plantas sao aproveitados regularmente. Os artigos ali- ‘mentares mais importantes siio cogumelos (luats), samam- baias e fetos (pakus) ¢ 0 miolo de varias plantas (hot), entre as quais brotos de bambu, palmeiras-silvestres ¢ bananas, Vinte e cinco variedades diferentes de fungos sto comidos pelos quenids e 43 variedades sto consumidas pelos ibans® Sagu, o alimento basico dos penans do Bornéu, é 0 amido contido no miolo da uma palmeira chamada Bugeissone tuilis. Na Nova Guiné inteira (a Nova Guiné dos papuas dos irian jaya), 100 mil consumidores produzem 115 mil toneladas métricas de sagu por ano.? © trabalho etnobot nico com diversas tribos da india também esti descobrindo © saber profundo ¢ sistematico que elas tém das florestas. No Sul da india, um estudo realizado entre os soligas, nas montanhas beliranganas de Karnataka mostrou que eles usam 27 variedades diferentes de verduras em diferentes €pocas do ano, € um grande némero de tubérculos, folhas, frutas e raizes sto usadas pelas tribos por suas proprie- dades medicinais. Um menino irula analfabeto, de um po- voado perto de Kotagiri, identificou 37 variedades diferentes de plantas, citando seus nomes irulas e seus diferentes usos.10 28 i | | | MonocuLTunas DA Mente Jim Madia Pradesh, embora o arroz (Oryza sativa) as jedades de paingo ou milhete (Panicum miliaceum, varied Bleusine coracanae Paspalum scrobiculatum) constituam a ‘ile fsica das tribos, quase todas elas suplementam-na an ¢,folhas¢ frutas de mu. |mesosas plantas silvestres abundantes nas florestas. Grigson ‘observou que a fome nunca foi problema em Bastar, pois metade da comida consumida pelas tribos sempre derivou dos inémeros produtos comestiveis da floresta. Tiwari pre- ‘parou uma lista detalhada de espécies de plantas silvestres consumidas pelas tribos de Madia Pradesh. Citow 165 tes, arbustos ¢ trepadeiras. Entre elas, a primeira categoria ‘contém uma lista de 31 plantas cujas sementes so torradas ce comidas. Ha 19 plantas cujas raizes ¢ tubérculos sto con- sumidos depois de assados, cozidos ou beneficiados de alguma outra forma; h4 17 cujo suco € tomado fresco ou depois de fermentado; 25 cujas folhas s4o comidas como verdura € 10 cujas pétalas sio preparadas como verduras. HA 63 plantas cujas frutas so consumidas cruas, maduras, assadas ou em forma de conserva; ha 5 espécies de Ficus que do figos para os habitantes das florestas. As frutas do Pithcellobium dulce Cinga dulcis), também chamadas de jalebi silvestre, sio as favoritas das tribos. As sépalas da ‘mobwa sio comidas avidamente e também fermentadas para obter-se uma bebida alcGolica, A Morus alba, a amora, fornece alimento tanto para ser humano quanto para os passaros. Além disso, a Ziziphus mauritaniae a Z oenoplia dao frutas deliciosas que tm sido consumidas pelos habi- desde a época do mesolitico.!1 florestas fornecem ali- tantes das floresta ‘Também as areas nao tribais da mento e meio de vida com suas contribuigdes criticas para a agricultura por meio da conservagio do solo e da agua € dos suprimentos de forragem ¢ fertilizante orgiinico. As priticas da silvicultura autoctone baseiam-se em maxin o sustentivel ¢ renovivel de todas as diversas formas fungées das florestas € das Arvores. Esse conhecimento popular da silvicultura € transmitido de geragto a geragio por meio da participagto nos processos de renovacio da floresta e de obtengao do sustento em seus ecossistemas Em paises como a india, a floresta tem sido a fonte da renovagio da fertilidade agricola, A floresta enquanto fonte de forragem e fertilizantes tem sido uma parte significativa do ecossistema agricola, No Himalaia, as florestas de carva Iho tém sido cruciais para a sustentabilidade da agricultura. Nos Ghats Ocidlentais, as terras “beta” t€m sido criticas para a sustentabilidade das antigas plantacdes de especiarias como a pimenta, o cardamomo e as nozes da areca. As esti mativas indicam que mais de 50% do total de suprimento de forragem para as comunidades camponesas do Himalaia vem das florestas, visto que as rvores das florestas entram com 20% do total.!? Em Dehra Dun, 57% do suprimento ‘anual de forragem vem das florestas.3 Além de contribuir com a forragem, as florestas também sao importantes para @ agricultura praticada nas colinas em razdo do uso da bio- massa vegetal como a palha na qual o gado se deita. As flo- estas so a principal fonte de folhas secas caidas e de fol- has verdes cortadas das drvores € de espécies herbéceas que so usadas para o gado se deitar e para fazer compos- {0s orginicos. A biomassa da floresta, quando misturada 40 esterco animal, constitui a principal fonte de nutrientes do solo para a agricultura das colinas. Segundo uma estima- tiva, 2,4 toneladas métricas de palha e esterco sido usadas Por hectare de terra cuttivacla anualmente.M4 A medida que essa contribui¢do diminui, a produgio agricola também dectina Os diversos sistemas de saber que evoluiram com os diversos usos da floresta como fonte de alimento ¢ auxiliar da agricultura foram eclipsados com a introdugio da silvi 30 Monocutrutas oA MeNre como fonte fica”, que trata a floresta apena Hiiluara-“cientifica’, que trata a s con acs dustrial e comercial, As ligagdes entre flo- idle thadeira indust mee Ps e agricultura foram rompidas, e a funcao da flores rae z orcebida, TE emo fonte de alimento deixou de ser percebic: i. ‘Quando 0 Ocidente colonizou a Asia, colonizou suas Trouxe consigo as idéias da natureza ¢ da cultura juanto derivaces do modelo da fabrica industrial. A flo- Ser delxou de ser vista como uma entidade que tem valot | {els Depois de exaurr suas florestas nativas, os paises eur0- FS Beus comecaram a destruir as florestas da Asia. A Inglaterra ‘explorou a madeira das coldnias para sua marinha porque as florestas de carvalho j tinham sido arrasada ©) vs As necessidades militares de obter a teca india = fam a-uma proclamacio imediata que arrancou o direito a (essa drvore das mos do governo local € colocouo © mos da Companhia das Indias Orientais. $6 depois de Anais de meio século de destruicao desenfreada das flo- |= festas pelos interesses comerciais ingleses € que foi feita = 1a leva- "ineira Lei Florestal Indiana (VII de 1865) foi promulgada © pelo Conselho Legislativo Supremo, autorizando 0 govemo + Aapropriar-se das florestas das populagdes locais e adminis- " Wrlas como reservas florestais. feresses.industriais chamaram de_administracac {clentifica’. No entanto, para as populagdes nativas, foi sind- Fo imo do comeco da destruigio das florestas e a erosto dos o direitos do povo de usi-las. Contudo, as florestas no sio | apenas uma mina de madeira, sio também a fonte de ali- nentos das comunidades locais. E, com 0 uso das florestas J Para obter alimento € como auxiliar dt agricultura, esto Aelacionados diversos sistemas de saber Sobre a floresta. A 31 MONOCULTURAS DA MENTE separagio entre silvicultura e agricultura € 0 foco exclusive na produgio de madeira como o objetivo da silvicultura levaram a criacdo de um paracigma unidimensional da silvi- cultura ¢ a destruigao dos sistemas de saber multidimensio- nais dos habitantes das florestas ¢ de seus usuarios A “silvicultura cientifica” foi a falsa universalizagio de uma tradi¢ao local de exploragao dos recursos florestais que nasceu dos interesses comerciais limitados que viam a floresta somente em termos de madeira com valor comer- cial. Primeiro reduziu 0 valor da diversidade da vida das florestas ao valor de umas poucas espécies que tém valor comercial e depois reduziu o valor dessas espécies 20 va- lor de seu produto morto - a madeira. O reducionismo do Paradigma da silvicultura cientifica criado pelos interesses industriais ¢ comerciais violentam tanto a integridade das Mlorestas quanto a integridade das culturas florestais que Precisam das florestas e de sua diversidade para satisfazer suas necessidades de alimento, fibras ¢ moradia. Os principio’ correntes da administragao florestal cien- fica levam a destruicao do ecossistema das florestas tropi- cais porque se baseiam no objetivo de modelar a diversi- dade da floresta viva a uniformidade da linha de monta- gem. Em vez de a sociedade tomar a floresta como modelo, como acontece nas culturas florestais, € a filbrica que serve de modelo a floresta. © sistema de “administragio cientifi- ca", tal como tem sido praticado ha mais de um século, Portanto, um sistema de desflorestamento tropical, que trans. forma a floresta de recurso renovavel em recurso nao-reno- vavel. A exploragio da madeira tropical transforma-se, por conseguinte, em algo parecido com a mineragao: as flores- {as wopicais sto reduzidas a uma mina de madeira. Segundo uma estimativa da FAO, nas proporgdes atuais de explora- ‘$40, as florestas da Asia tropical estariam totalmente exau- ridas na virada do século, Monocuutas DA MENTE {s florestas tropicais, quando seu modelo € a fabrica ¢ fando sio usadas como uma mina de madeira, passam a Be, sccurso ndo renovive. Os povos tropes também ye tomnam um lixo hist6rico descartavel. Em lugar de plu- . 6 lbtica produz monoculturas : cultural € biologico, a Fabrica pr i ociedade, Nao ha insignificante nao tem valor. A “lugar para o pequeno; © insigr lor diomidade onganica é substituida pelo atomismo ¢ pela “qnes — de plantas e pessoas — tém de ser administradas de fora porque no sio mais auto-reguladas e autogeridas. Aque- Jes que nfo se ajustam a uniformidadé so declarados incom- ‘petentes. A simbiose cede lugar 4 competicéo, & eee “6 a condigao de descartivel. Nao ha sobrevivéncia possivel “fara a floresta ou seu povo quando eles se transformam em. "nsumo para a indlstria. A sobrevivéncia das florestas 0. FPicais depende da sobrevivéncia de sociedades ie [cujo modelo sdo 0s principios da floresta. Essas ligdes de gobrevivéncia ndo saem do texto da “silvicultura cientifica to incrustadas na vida nas crencas das populagdes flo- estais do mundo inteiro. Na Asia existem dois paradigmas de silvicultura - um a ivel, que favorece € renova os sistemas de alimento e de ja. A manutengo da capacidade de renovacio € seu ior meio da extraciio comercial € o principal objetivo admi- iStrativo do segundo. Como maximizar os luctos resulta na lestruictio da capacidade de renovagao, os dois paradigmas lo cognitiva e ecologicamente despropotcionais. Hoje em nas florestas da Asia, os dois paradigmas estao Iutando 33 MONOCULTURAS DA MENTE centre si. Essa luta est muito clara nos dois slogans da utili- dade das florestas do Himalaia, um que deriva dos conceitos ecolégicos das mulheres garhwalis ¢ 0 outro, dos concei- tos setoriais daqueles associados ao comércio dos produtos florestais. Quando 0 Chipko se tornou um movimento eco- logico em 1977, em Adwani, o espirito da ciéncia local foi captado no seguinte slogan: 0 que as florestas produzem? Solo, dgua e ar puro, Essa foi a resposta ao seguinte slogan da ciéncia domi- ante, aceito por muitos: 0 que as florestas produzem? Lucros com resina ¢ madeira. A percepeao desses slogans representou uma mudan- ¢4 cognitiva na evolugio do Chipko. O movimento trans. formou-se qualitativamente, deixando de se basear exclusi- vamente em conflitos em tomo dos recursos e pasando a envolver-se em conflitos em toro de saberes cientificos € abordagens filos6ficas natureza. Essa transformacao tam- bém criou aquele elemento do saber cientifico que permitiu 0 Chipko reproduzir-se em diferentes contextos ecols- gicos € culturais, © slogan transformou-se na mensagem cientifica ¢ filos6fica do movimento e langou os alicerces de uma ciéncia alternativa da silvicultura, voltada para o interesse piblico € de natureza ecoldgica. O interesse com- ercial tem como principal objetivo maximizar o valor de toca com a extracdo de espécies comercialmente valiosas. Por conseguinte, os ecossistemas florest reduzidos A madeira das espécies que tém valor comercial. esto sendo 34 Monecutruras pa MENTE Em sua forma atual, a “silvicultura cientifica” € um sis- tema reducionista de saber que ignora as relages com- plexas no interior da comunidad florestal e entre a vida vegetal ¢ outros recursos como o solo ¢ a “gua. Seu mode lo de utilizagao de recursos baseia-se na “produtividade” ccrescente desses alicerces reducionistas. Ao ignorar as liga- ‘goes do sistema com o ecossistema florestal, esse modelo de uso de recursos gera instabilidades no ecossistema € eva ao uso contraproducente dos recursos naturais no pla- no do ecossistema. A destrui¢do do ecossistema florestal € das miltiplas fungdes dos recursos florestais prejudica, por sua vez, 0s interesses econdmicos daqueles setores da socie- dade que dependem das fungdes diversificadas dos recur- 08 florestais para sua sobrevivéncia, Entre eles temos a estabilizacio do solo e da Agua e a provisdo de comida, for- ragem, combustivel, festilizante ete. Movimentos florestais como 0 Chipko so simultanea- mente uma critica a silvicultura “cientifica” reducionista ¢ a 10 de um quadro de referéncias para uma ciéncia florestal alternativa que € ecol6gica ¢ tem condigoes de | proteger o interesse piblico. Nessa ciéncia florestal alter- ativa, os recursos da floresta ndo sio vistos isolados dos do ecossistema. E 0 valor econémico de fo € reduzido ao valor comercial da |, Outros recursos “uma floresta também madeira Aqui, “produtividade”, “rendimento” -mico” sio definidos em virtude do ecossistema integrado “para uma utilizacdo mélipla. Seu significado ¢ medida sao, _ Portanto, inteiramente diferentes do significado ¢ da medida j, empregados pela silvicultura reducionista. Assim como na E passagem da fisica newtoniana para a einsteiniana o sig: hificado de “massa” mudou, deixando de ser um termo inde- iRendente da velocidade e pasando a serium termo depen- Bilonte dela, na passagem da silvicultura reducionista para a “valor econé- i 35 i /MONOCULTURAS DA MENTE ecolégica, todos os termos cientificos deixam de ser inde. pendentes do ecossistema e passam a depender dele. Assim, enquanto para as tribos e outras comunidades flo- restais um ecossistema complex é produtivo em termos de ervas, tubérculos, fibra, patrimdnio genético ete., para o explo- rador reducionista esses componentes do ecossistema das florestas so intiteis, improdutivos, descartdveis. Os movimentos Chipko ¢ Appiko sio movimentos de comunidades agricolas contra a destruigao das florestas que sustentam a agricultura. Os bloqueios madeireiros dos pe- nans € de outras tribos de Sarawak sio lutas de populaces florestais contra sistemas de silvicultura que destroem a flo- esta e seus habitantes, Segundo essas tibos: Essa é a terra de nossos antepassados, e de seus ante- Passados antes deles, Se ndo fizermos nada agora para pro- teger 0 pouco que resta, ndo restard nada para nossos fi- thos. Nossas florestas sdo derrubadas, as montanhas sitio niveladas, os tiimulos sagrados de nossos ancestrais foram brofanados, nossas aguas e nossos rios sao contaminados, nossa vida vegetal é destruida e os animais da floresta sao ‘mortos ou tém de fugir. O que mais podemos fazer além de fazer nossos protestos serem ouvides, de modo que algo ‘possa ser feito para nos ajudar? AVEK MATAI AME MANEU MAPAT (vamos bloquear essa estrada até a morte) 15 A\ destruisao da diversidade, vista como “erva-daninha A destruigdo da diversidade biol6gica € intrinseca a Propria maneira pela qual o paradigma florestal reducio- 36 VJ TT TTT YF Ista concebe @ floresta. A floresta € definida como *nor- Al de acordo com 0 objetivo de adminisré-la para maxi Fiza a producto de madeira comercializavel. Como a flo- "posta tropical natural € caracterizada pela riqueza de ous diersiade, que inca dversade de espécies no come slzaveis sem uso industrial, o paraligna dssivicltor Gientiica” declara que a floresta natural € “anormal”. Se- B judo as palavza de Sclich, a adminstragfo flrestal impli- téaque “as condigdes anormais sejam eliminadas”!6 e, se- indo Troup Para chegarmos a ter uma floresta normal a partir da “condigao anormal da floresta nalural existente & preciso fazer um certo sacrificio tempordrio, Em termos gerais, manto mais rapida a passagem para o estado normal, into maior o sacrificio; por exemplo: & possivel obter flo- Gompletas seguidas de regeneracdo artificial, mas, numa E loresta irregular e sem uniformidade na idade de suas Uspécies, isso significa o sacrificio de muitas drvores jovens BY no caos nos leve a exercitar consideravelmente a nossa mente B2in relacao a administragao florestal.7 a F' Portanto, a floresta natural, com toda a stia diversi- dade, é vista como “caos". A floresta fabricada pelo homem ‘2 ordem”. A administrago “cientifica” das florestas tem, uniformidade € & ladas e todas da mesma faixa etéria, € F ideal de floresta normal que todos o5 sistemas da silvi- jultura almejam. A destruigio € © carter descartavel da 37 MONOCULTURAS DA Mente diversidade € intrinseca a administragdo florestal guiada pelo objetivo de maximizar a produgio comercial de ma- deira, que vé as partes nao comercializdveis e as relacées de um ecossistema florestal como algo sem valor - como ervas-daninhas que devem ser eliminadas. A riqueza da natureza, caracterizada pela diversidade, € destruida para riar riqueza comercial caracterizada peta uniformidade. Em termos biol6gicos, as florestas topicais s20 0s sis- temas biol6gicos mais produtivos de nosso planeta. Uma grande biomassa costuma ser tipica das florestas tropicais As quantidades de madeira sto particularmente grandes nas florestas tropicais © sua média é de 300 toneladas por hectare. A média das florestas temperadas é de 150 tone- Jadas por hectare. No entanto, segundo a silvicultura comer- cial reducionista, a produtividade global nao é importante, nem as fungdes das florestas tropicais tem valor para a sobrevivéncia de seus habitantes. Essa silvicultura procura Somente as espécies utilizadas industrialmente € que po- dem ser comercializadas com lucro, e avalia a produtividade em termos somente da biomassa industrial e comercial. Vé © Festo como lixo ¢ ervas daninhas. Como afitma Bethel, um Consultor internacional de silvicultura, referindo-se a grande biomassa tipica das florestas dimidas dos trépicos: B preciso dizer que, de um ponto de vista do supri- mento de matéria-prima industrial, isso 6 relativamente insignificante. O importante 6 quanto dessa biomassa re. bresenta drvores ¢ partes de drvores das espécies proferidas que podem sor comercializadas com lucro... Segundo os modelos de utilizacao de nossos dias, a maioria das drvores dessas florestas tropicais timidas 6 claramente, do ponto de vista da matéria-prima industrial, erva-daninha 8 © ponto de vista das matérias-primas industriais é a sil- vicultura reducionista do capitalismo que divide a demo- 38 MoNocuTuRAs DA MENTE Je Hlixo", que devem ser destruidos. Esse “lixo”, por : Riera que contém a Agua € 0s ciclos dos Griqueza de biomassa qi ; isientes da natureza e que satisfuz as necessidades de pd forragem, fertilizantes, fibras ¢ remédios das comu- nidades agricola po aan como a silvicultura “cientifica” exclui as funed =e producdo de alimento da floresta € destréi sua divers “Gade, vista como “erva-daninha”, a agricultura “cientifica “jambém destréi espécies que podem ser paeeeeco mento, apesar de nfo poderem ser vendidas no mercado. 2). A Revolugio Verde substituiu nao s6 as variedades de “fementes, mas safras inteiras do Terceiro Mundo. Assim das comunidades locais eram conside- ‘inferiores” ¢ “de ma qualidade”. $6 uma agronomia + tendenciosa, enraizada no patriarcado capitalista, poderia “chamar safras nutritivas como 0 nachinim ¢ 0 jowarde infe- Stiores. As camponesas conhecem as necessidades nutri- _ sionais de sua familia ¢ 0 teor nutritive das safras que cul- > tivam. Entre as plantas cultivadas, preferem aquelas com | méximo teor nuttitivo as que tém valor de mercado. O que quais todos os nento” agricola esto. g Subordinados. A Tabela 1 mostra que aquilo que a Revo- B lcdo Verde declarou setem cereais “inferiores” so, na ver- 39 MONOCULTIRAS DA Mere dade, superiores em teor nutritivo aos cereais tidos como “superiores”, 0 arroz ¢ 0 trigo, Uma habitante de uma aldeia do Himalaia disse-me: “Sem nosso mandua'e nosso jan- gora, nao trabalhartamos como trabalhamos. Esses gros so nossa fonte de satide e forga.” Tabela 1. Teor nutritivo de diversas plantas cultivadas. Proteina| Minerais | ca | re | (ex) | Googe 200 mg) Bajra 116 23 42 5,0 Nachinim |_73 27 344 64 Jowar 10,4 16 25 58 Trigo Garinba) |g 06 3 Arroz (farinba) 68 06 10 3, __ Nao sendo comercialmente tteis, as safras populares sao tratadas como “ervas-daninhas” e destruidas com vene- nos. O exemplo mais extremo dessa destruigao foi o da batua, uma verdura importante com um elevado teor nutri. Ivo ¢ rica em vitamina A, que cresce associada a0 igo. Todavia, com o uso intensivo de Fettilizantes, a batwa tornase um grande concorrente do trigo e, por isso, declararam que cla € uma “erva-daninha”, que é eliminada com herbicidas. Quarenta mil ctiangas da India ficam cegas todo ano por falta de vitamina A, ¢ os herbicidas contribuem para essa tagédia ao destruir as fontes de vitamina A que s siveis a todos. Milhares de 10 aces- mulheres da grea rural que 40 MONOCULTURAS DA MENT resistentes a herbicidas vai Golmos. A introdugio de sal © -qumentar 0 uso desses produtos quimicos e, com isso, vai au- io de plantas titeis econdmica € |} mentar també ecologicamente. A resisténcia aos herbicidas também exclui ‘a possibilidade de rotacio de culturas € de safias mistas, icultura sustentavel e ecologicamen- spécies sio destruidas pelos hherbicidas, Estimativas norte-americanas mostram hoje um $$ 4 bilhdes por ano devido a perda resul- a destrui- idade com 4 base nas plantas e na biomassa, ‘As estratégias da engenharia genética voltadas para E tesisténcia ¢ que esto destruindo espécies de plantas titeis ‘também podem acabar criando superetvas-daninhas, Ha o intima entre as ervas-daninhas € as safras agri- f colas, principalmente nos tr6picos, onde as variedades dani- Ee nhas e as variedades cultivadas interagem geneticamente - remente, produzindo novas varie- = dades. Os genes da tolerincia a herbicidas que os enge- | ftheiros genéticos esto tentando introduvir na agricultura "podem ser transferidos para as ervas-daninhas das proxin ‘ades em conseqiiéncia de um cruzamento genético que | ocorre naturalmente. | Rescassez de variedades de plantas titeis em nivel local |) foi criada pelos sistemas de saber dominante que despre- § 72m 0 valor do saber local e declaram que as plantas Gteis “para as comunidades locais sto “ervas;daninhas". Como 0 _ saber dominante € criado com base na perspectiva de gma § produco comercial cada vez maior € s6 reage aos valores 41

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