Este documento resume um artigo que discute a inserção da Sociologia no ensino médio brasileiro em diferentes períodos históricos. A autora analisa como a Sociologia foi introduzida na década de 1920 para ajudar a compreender a sociedade, mas foi removida em 1942. Ela voltou nos anos 1990 associada à redemocratização para promover valores democráticos.
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Fichamento
Original Title
Fichamento: MEUCCI, Simone. Sociologia na educação básica: um balanço da experiência remota e recente
Este documento resume um artigo que discute a inserção da Sociologia no ensino médio brasileiro em diferentes períodos históricos. A autora analisa como a Sociologia foi introduzida na década de 1920 para ajudar a compreender a sociedade, mas foi removida em 1942. Ela voltou nos anos 1990 associada à redemocratização para promover valores democráticos.
Este documento resume um artigo que discute a inserção da Sociologia no ensino médio brasileiro em diferentes períodos históricos. A autora analisa como a Sociologia foi introduzida na década de 1920 para ajudar a compreender a sociedade, mas foi removida em 1942. Ela voltou nos anos 1990 associada à redemocratização para promover valores democráticos.
Sociologia na educao bsica: um balano da experincia remota e
recente. Revista Cincias Sociais Unisinos, So Leopoldo (RS), vol.51, n.03. pp.251- 260, set./dez. 2015.
RESENHA
O ensino de Sociologia no ensino mdio brasileiro passou, desde os primrdios
de sua institucionalizao, por momentos de descontinuidade quanto a sua permanncia como disciplina obrigatria. No artigo intitulado Sociologia na educao bsica no Brasil: um balano da experincia remota e recente, Simone Meucci faz uma discusso que tem como foco os dois perodos em que o ensino da disciplina obteve carter obrigatrio na educao bsica, relacionando-os s particularidades histrico, poltico e sociais de cada um dos momentos. Para tal empreendimento, a autora mobiliza trs nveis de anlise, buscando dar conta da relao Estado-sociedade, dos agentes reivindicadores da institucionalizao e das condies de produo e circulao do conhecimento sociolgico. Segundo Meucci, a insero do ensino de Sociologia no ensino mdio se deu atravs da Lei Rocha Vaz (1925), surgindo em um momento em que se buscava uma maior centralizao em termos de contedo, tendo essa mesma lei criado instncias responsveis por regulamentar e fiscalizar tanto o ensino secundrio quanto o superior. Buscava-se, com a lei, uma estrutura administrativa regular, alm de um currculo estvel para essas esferas do ensino. Entretanto, esse ensino, sobre o qual se depositaram essas reformas era um ensino bastante restrito, direcionado s camadas mais elevadas, cujo o contedo formativo se apresentava com a predominncia de lnguas estrangeiras, como o ingls e o francs, de modo que a sociologia, bem como a filosofia, apareciam apenas no ltimo ano dessa fase. Quanto aos condicionantes histrico-sociais responsveis pela insero da Sociologia do ensino secundrio desse perodo, Meucci aponta a centralidade da ideia de crise que se perpetuou por toda a dcada de 20. Essa crise se deu pelo declnio da economia agrrio-exportadora e, consequentemente do pacto oligrquico, que eram os sustentculos do poder poltico no perodo. Com a emergncia da industrializao, novos atores sociais surgiam, com novas formas de vida no mbito urbano. Em conjunto, esses fatores contriburam para a crtica dos moldes tradicionais de dominao. Dada essa noo de crise, a Sociologia surgia como uma maneira compreender as leis naturais que regeriam a sociedade, para ento elaborar instituies que fossem adequadas ela. Para Meucci, existe uma relao ntima estabelecida entre a crtica do Estado Liberal, o desejo pela centralizao do poder estatal e a aspirao pela difuso do saber sociolgico. Com a funo de compreender e definir a realidade social, a Sociologia contribuiria no estabelecimento da forma poltica possvel ao contexto brasileiro. Para a autora, a lei responsvel por inserir a Sociologia tinha um duplo anseio, qual seja a centralizao do ensino e o desejo de se disseminar um conhecimento que fosse capaz de possibilitar a compreenso das noes antiliberais da vida social. Esse aspecto, afirma a autora, um primeiro indicativo da importncia da Sociologia para elite brasileira daquele perodo. As atenes em torno da Sociologia permanecem no decorrer da dcada de 30, no perodo ps-golpe. Aps Vargas assumir, em 1931, houve outra reforma conhecida pelo nome do ministro Francisco Campos. Entre as reformas do ministro, havia a proposta de uma regulao mais rgida do Estado no mbito da educao, alm de estabelecer uma reforma do ensino superior e secundrio. Com uma inspeo em nvel nacional, houve uma padronizao da cultura escolar, estabelecendo, em termos administrativos e didtico-pedaggicos, uma homogeneidade da dimenso escolar. A partir dessa nova reforma, a Sociologia tornou-se uma realidade daqueles que ingressariam no ensino superior, situando o conhecimento acerca do social como um monoplio das elites brasileiras. Vista enquanto uma forma de decifrar a sociedade, era funo da Sociologia reorganizar o Estado e manter a ordem social, ocultando as desigualdades sociais. Em 1942, a Sociologia retirada no ensino secundrio por meio da Reforma Capanema. Aqui, a autora estabelece uma relao entre esse fato e o esgotamento do pacto que teria dado origem ao Estado Novo. Durante esse perodo, a Sociologia foi vista no mbito acadmico com uma importante contribuio para a racionalizao do pensamento, vinculada a democratizao e modernizao. Dados dos fatos, Meucci pontua que a Sociologia estaria permeada por representaes contrarias, j que havia sido, no perodo precedente, considerada antidemocrtica considerando sua trajetria no ensino secundrio. Em 1990 e 2000, a sociologia retorna ao ensino mdio, como parte de um processo associado a redemocratizao do pas ps-ditadura. Nesse perodo, o que estava em questo, dadas as consequncias da ditadura, era o estabelecimento de uma repblica democrtica. Com a Constituio de 88, emerge uma concepo de Estado diversa, manifestando-se em mbitos como sade, previdncia e educao. Neste ltimo, a aprovao da Lei de Diretriz e Bases da Educao Nacional, em 1996, foi um importante marco. Meucci aponta que esses textos oficiais pareciam apontar para a exigncia de agentes sociais distintos daqueles do perodo precedente, que estivessem com concordncia com o cenrio institucional reelaborado. Nas palavras da autora, entendia- se que a educao formal, em todos os seus nveis, deveria oferecer condies favorveis para o desenvolvimento de atitudes autnomas e crticas. (p. 00) Nesse nterim, a sociologia retorna cena vinculada redefinio do Estado, situando-se como um importante elemento no que tange ao estabelecimento de valores democrticos, entrando na pauta de agentes que reivindicavam sua reintroduo no ensino secundrio. Desse modo, Meucci aponta como a LDB foi importante nesse processo, por mencionar a disciplinas em seu texto oficial, fato que sustentou as demandas por sua reintroduo, principalmente pelo projeto do deputado Padre Roque Zimmermann que aps ter sua aprovao no Legistativo e veto no Executivo, teve determinada sua obrigatoriedade em 2006 pelo Conselho Nacional de Educao (fato que no encerrou os embates que ainda se prolongaram por algum tempo). Como possvel perceber, o ensino de Sociologia esteve no seio de complexos conflitos, sendo, como pontuou a autora, parte da trama poltica do pas. Mesmo reinserida no ensino secundrio, seu carter apresentava-se de maneira bastante diversa em relao ao que possua na dcada de 30, quando estava a servio da elite brasileira, Nesse momento, a demanda pela reintroduo da disciplina ocorreu em um perodo em que se demandava e buscava transformar o ensino em um fator universalizante, como um direito que caberia ao Estado assegurar. Tratando acerca das transformaes curriculares do ensino mdio, Meucci pontua que a Sociologia e a Filosofia eram as nicas disciplinas inditas desta fase, alm de apontar que esse ingresso foi parte de um movimento que, a partir do incio do anos 2000, passou a introduzir novos contedos. Segundo a autora, esse contexto fez emergir novas formas de expresso e percepo de mundo, fatores que denotam um amplo movimento no currculo escolar. Para a autora, a Sociologia tem uma funo integradora, se pensarmos em seus componentes curriculares e nos contedos novos de carter transversal, algo que se observa e se confirma no documento do Exame Nacional do Ensino Mdio no que concerne as capacidades exigidas. No que diz respeito ao ENEM, a autora aponta que ele poderia oferecer-nos importantes consideraes para pensarmos como a Sociologia est situada na escola, bem como na sociedade brasileira, devido aos seus contedos e ao espao que vem adquirindo nas ltimas edies. Para a autora, a sociedade enxerga o exame como um indutor de contedos e prticas, oscilando entre pontos de vista negativos e positivos. essa oposio de concepes, a autora atribui a percepo de crise brasileira, que surgiu em 2013 e se acentuou em 2014. Segundo Meucci, esse pensamento leva a desqualificao da presidenta, do seu partido e das aes do Estado. Esse sentimento se estende ao ENEM, que segundo a autora manifesta o protagonismo do Estado que, embora ataque o governo, no deixa de evidenciar que uma das questes em jogo a viso de mundo que disseminada com esse novo currculo. Desse modo, a hiptese de Simone Meucci, lanada aps sua discusso, de que foram constitudos fortes vnculos da Sociologia com a democratizao que, com o declnio da percepo de sua eficcia, faz com que aumentem as questes em torno de qual seria a sua funo e sua posio na dimenso escolar. Em suma, a abordagem da autora mostra-nos como a permanncia ou a no- permanncia da Sociologia enquanto disciplina obrigatria no ensino secundrio, esteve vinculada a uma descontinuidade no mbito poltico, o que mostra-nos, tambm, uma ruptura no que diz respeito ao seu carter, estando em um primeiro momento associada a um regime autoritrio e posteriormente, a um regime democrtico. Alm disso, a disciplina no se situa mais como um projeto das elites, pois est inclusa em um ambiente mais universalizado, de ampliao do acesso ao ensino. Desse modo, a Sociologia, no incio do atual sculo, esteve situada em alicerces distintos, sendo, nas palavras da autora, uma nova disciplina escolar, com novos desafios bem diferentes dos quais se via atrelada no passado.