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CHAVE HERMENÊUTICA: OLHE PARA JESUS E VOCÊ ENTENDERÁ A PALAVRA.

"O Verbo se fez carne...", sendo assim, a Encarnação torna-se nossa única e possível
chave hermenêutica para entender a Palavra, a mim mesmo, o próximo e a realidade
atual.

1. Deve-se ler existêncialmente a Bíblia como tendo seu espirito realizada em Cristo.
Ele veio para cumprir tudo. Cumpriu? Sim! Está consumado! Mas cumpriu de uma
maneira legal-aos-sentidos? Não! Prova disso que o cumprimento da Palavra em Jesus
era justamente aquilo que os mestres da Lei em Seus dias chamavam de
transgressão. Assim, há um espírito até na Lei. Jesus cumpriu esse espírito, não suas
materializações!

2. Deve-se ler as "falas" de Jesus e não somente fazer (quando se faz) exegese do
texto. Antes disso, deve-se perguntar: qual o significado desse ensino de Jesus para
Jesus? E a resposta é uma só: veja como Ele lidou com a vida, com as pessoas, com
os fatos! Conferindo uma coisa com a outra fica-se livre da construção de dois seres
irreconciliáveis: o Jesus que viveu cheio de amor e graça, e o Jesus que ensinou
coisas que só os interpretes autorizados conseguem "captar".

3. Desse modo, então, não se faz jamais uma interpretação textual que não coincida
com o comportamento e com a atitude de Jesus na questão, conforme o Evangelho.
Eu confiro tudo com o espírito de Jesus, conforme o Evangelho.

4. Só assim Jesus não fica esquizofrênico ante os nossos sentidos: o que Ele disse, Ele
viveu; e o que Ele viveu, é o que Ele disse.

"Assim, Jesus é a chave hermenêutica para se discernir a Palavra, mas mesmo assim,
eu só a conhecerei como Verdade, se eu mesmo a provar na minha carne; e isto é o
que acontece quando a gente anda no Caminho; e assim é mesmo quando a gente
tropeça."

Leia também:

O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

Para ouvir Deus nesses dias...

O que vem primeiro: a Escritura ou a Palavra?

É pra comer. Não é pra conhecer o cardápio

Jesus lia as Escrituras


O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

Jesus, a Chave que abre as Escrituras

"Cristo é o Mestre, as Escrituras são apenas o servo. A verdadeira prova a submeter todos os Livros é ver se eles operam
a vontade de Cristo ou não. Nenhum Livro que não prega Cristo pode ser apostólico, muito embora sejam Pedro ou
Paulo seu autor. E nenhum Livro que prega a Cristo pode deixar de ser apostólico, sejam seus autores Judas, Ananias,
Pilatos ou Herodes"
Martinho Lutero

Os evangelhos são narrativas históricas das ações e acontecimentos relacionados a Jesus, bem
como de Suas Palavras. O Evangelho, todavia, é um espírito. Os evangelhos são o corpo. O
Evangelho é o espírito no corpo.

Para muitos, os evangelhos são apenas narrativas. Para outros, eles são palavras inspiradas. Para
muito mais gente ainda, eles são apenas palavras mágicas. E para a maioria, eles são somente os
quatro primeiros livros do Novo Testamento, sendo, portanto, parte da Bíblia Sagrada.

Todavia, o Evangelho é espírito e vida. Deus é espírito, e, portanto, Suas palavras são espírito e
vida, pois carregam o poder da Verdade Absoluta e produz vida onde quer que cheguem.

Para melhor entender, suponha que os evangelhos não tivessem sido escritos. Decerto, sabemos
que ainda assim, haveria um Evangelho a ser anunciado até os confins da Terra como Boa Notícia,
visto ser o Evangelho um espírito, e não um livro.

Assim, o espírito do Evangelho é só uma forma de expressar-se acerca da Essência da Palavra. É a


Plenitude da Revelação. Trata-se da forma de interpretação bíblica que olha para Jesus Cristo
como a Chave Hermenêutica dessa Revelação.

De modo algum se está dizendo aqui que só Jesus interessa na Bíblia, mas, por outro lado, nada
interessa senão a partir Dele e nada é Palavra de Deus se não for compatível com Ele, por mais
'bíblico' e 'teológico' que seja!

Leio a Bíblia a partir de Jesus e não Jesus a partir da Bíblia. Assim, meus livros não são
considerados "teológicos" pelos teólogos, posto que nesses escritos raramente haja uma designação
hermenêutica teologicamente aceitável; e nem tampouco há neles sistematizações que busquem o
fechamento lógico de qualquer pacote de pensamento.

Isso porque creio que Jesus – que é Deus Manifesto entre nós - abre as Escrituras para nós. Cristo é
a síntese das Escrituras e o Espírito da Graça é o agente hermenêutico que me aproxima do texto
com a fé de que encontrarei a Palavra.

É a partir daí, então, que se interpreta a Antiga Aliança, os Profetas e todo o Novo Testamento.
Isso porque Ele é a Palavra! A Encarnação Absoluta Dela, o Verbo Vivo de Deus, cheio de Graça e
Verdade! E as próprias palavras de Jesus só podem ser entendidas se tiverem sua concreção no
Evangelho vivido por Jesus de Nazaré.

Veja o livro de Atos dos Apóstolos: é um livro de atos, de ações. Mas sabemos que os únicos atos
absolutos e irretocáveis feitos na Terra são os Atos de Jesus. Portanto, há Evangelho em Atos, mas
o Atos não é o Evangelho. Digo isto porque se os critérios de Jesus forem aplicados aos atos dos
apóstolos, os próprios apóstolos serão sempre relativizados.
Quando lemos o Atos, não se lê o Evangelho da Graça — esse só está plenificado em Jesus —, mas a
tentativa humana de começar a viver conforme a fé em Jesus. E, em tal processo, há acertos,
erros, equívocos, ação do Espírito, infantilidades, ambigüidades, milagres, diferenças, medos,
ousadias, coragem maravilhosas, dúvidas atrozes, e todas as demais coisas concernentes aos
homens que vivem no Caminho. Assim, o livro dos Atos Apostólicos é um livro de história, e não
quer ser visto como o Evangelho.

A tentativa infantil de dizer que a igreja é o Corpo de Cristo - e logo, Cristo estava agindo como
antes agira, só que agora em Seu Corpo Comunitário - é bela, mas não é verdadeira como valor
absoluto. O Pedro que recebeu a revelação é o mesmo que recebeu a repreensão: Arreda, Satanás
(Mt 16).

Em Jesus está toda a revelação e toda a referência para se julgar e entender o que quer que
pretenda ser canônico. Onde o 'espírito do Evangelho' está presente, aí há o que levar para a alma
e para a vida. No mais, vejo registros históricos da infância da fé e da consciência permeando toda
a Escritura.

O exercício não é difícil: Basta olhar para Jesus, fazendo um caminho de observação. Deve-se
perguntar: Qual o significado das falas e dos ensinos de Jesus para o próprio Jesus? E a resposta é
uma só: Veja como Ele tratou a vida, a religião, os políticos, os pobres, os ricos, os doentes, os
párias, os segregados, os esquecidos, os seres proibidos, os publicanos, as meretrizes, os
santarrões, e tudo e todos. Conferindo uma coisa com a outra, ficamos livres da construção de dois
seres irreconciliáveis: o Jesus que viveu cheio de amor e graça e o Jesus que ensinou coisas que só
os intérpretes autorizados conseguem "captar".

Desse modo, então, não se faz jamais uma interpretação textual que não coincida com o
comportamento e com a atitude de Jesus na dinâmica de seus movimentos e encontros narrados.

Assim, eu confiro tudo com o espírito de Jesus, conforme o Evangelho. Só assim Jesus não fica
esquizofrênico ante os nossos sentidos: o que Ele disse, Ele viveu; e o que Ele viveu, é o que Ele
disse.

"Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e Nele estão TODOS os tesouros da sabedoria e do
conhecimento."

"Ele é o resplendor da glória do Pai e a expressão EXATA do Seu Ser, sustentando todas as coisas pela Palavra de Seu
poder!"

Olhe para Ele, e tudo fica interpretado! O resto, irmãos, é invenção de quem não quer lidar com
gente e prefere lidar com letras.

E a leitura do Antigo Testamento?

"Eis aí vêm dias... em que firmarei Nova Aliança...: Na mente (não mais em tábuas), lhes imprimirei as minhas leis,
também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, eles serão o meu povo (...) Pois perdoarei as suas iniqüidades e
dos seus pecados jamais me lembrarei."
Grito do Profeta Jeremias – 31. 31-34

Após tais exercícios devocionais sob o Novo Testamento, muitos me endereçam questões de
perplexidade e confusão relacionadas aos conteúdos do Velho Testamento.
Mas estou certo de que esse conflito nem Paulo e nem o escritor de Hebreus tinham, por exemplo.
Digo isto porque Paulo recorre ao Antigo Testamento, aos salmos, e aos profetas, a fim de mostrar
que aquela "Fase Humana" havia ficado sepultada em Jesus; e que, conforme as mesmas Escrituras,
em Cristo começaria uma nova consciência, não como mandamentos de exterioridades, mas como
percepção fundada no amor, na justiça e na verdade — tudo isto inscrito e gravado no coração.

Paulo também diz que a Lei foi dada, e com ela as causalidades e seus efeitos, a fim de que se
avultasse (exagerasse) a consciência do pecado em nós. O próprio Paulo revelou que a Lei era
parte da infância da consciência, como já nos referimos aqui, pois nos servia de guia, de servo que
pega e leva para a escola — embora, agora, já andando no Caminho pela fé, ele diga que já não se
precisa mais da Lei-Babá.

Além disso, toda a argumentação do apóstolo acerca da justificação pela fé conforme o dom da
Graça se fundamentava nas declarações dos salmos e dos profetas; bem como, além do que estava
declarado abertamente nos Textos, Paulo interpretava também o que estava apenas implícito na
leitura — e ele faz isso lendo a Escritura a partir de Jesus, e não Jesus a partir da Escritura.

Isto porque Paulo lia o Velho Testamento a partir da consciência adquirida em Jesus. Ou seja:
Jesus era a "Chave Hermenêutica" de Paulo, e partir dessa Chave, Paulo interpreta Abraão, Sara e
Hagar, Ismael e Isaque, Esaú e Jacó e outros — sempre com o propósito de mostrar como Jesus era
o cumprimento de todas as coisas.

E foi também a partir da mesma "Chave Hermenêutica" que o escritor de Hebreus interpretou os
cerimoniais e os ritos descritos nos Livros da Lei, discernindo seus símbolos, utensílios e
arquiteturas.

A carta aos Hebreus chega ao ponto de dizer que Jesus era maior do que Moisés, e maior do que
tudo no Velho Testamento; chamando o que era pertinente à Velha Aliança de coisa obsoleta e sem
utilidade, "antiquada, envelhecida e prestes a desaparecer". Hoje, ele diria que a Velha Aliança
era chamada "velha", dado seu prazo de validade vencido.

Assim, o que se tem no Velho Testamento, na Antiga Aliança é o seguinte:

1. A justificação pela fé, mediante a qual todos foram justificados, de Adão a João Batista.
Hebreus 11 declara isto. E isso embora as pessoas vivessem sob "o regime da lei", conforme
Paulo. A justificação, entretanto, segundo Hebreus e Paulo (em todas as suas cartas),
sempre aconteceu pela fé, e nunca pela Lei. Esta é, afinal, a tese de Paulo em Romanos e
Gálatas; em especial.

2. A busca humana de se justificar pela Lei; pois, estava dito que aquele que desejasse se
justificar pela Lei, esse teria que cumpri-la toda. E Jesus, dando continuidade aos profetas,
deixou claro que tal obediência à Lei deveria ser por dentro e por fora. Mas é Davi quem diz:
"Se observares iniqüidade, quem, Senhor, subsistirá?" Para então também declarar: "Bem-
aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniqüidade".
3- A declaração, especialmente fundada no Livro de Jó, de que as calamidades da vida
não são absolutas quanto a determinar o juízo de Deus sobre os homens. E Jó é a
prova disso. Normalmente, todo homem acaba colhendo o que planta, mesmo que
isto não chegue com cara de calamidade. Muitas vezes, somente a própria pessoa
sente as conseqüências. Entretanto, conforme Jó e o Eclesiastes, as calamidades não
nos vêm como aplicativo absoluto de uma Lei de Causa e Efeito; e, menos ainda, têm
elas o poder de justiça; pois, muitas vezes, é o homem inocente de certos males
aquele que recebe as suas conseqüências; e, outras vezes, aquele que faz algo que
deveria trazer um efeito negativo equivalente ao mau-causa praticado,
aparentemente, sai ileso. E o que ninguém sabe é o tamanho do desmonte na alma
desse ser; pois, quando não vem como mal externo (calamidade), sempre vem como
mal interno (medo, solidão, angústia, designificação existencial, amargura,
sofreguidão do ódio, desespero da morte, etc.).

3. O que não há no Velho Testamento é justificação sem Sangue. Na Antiga Aliança, a própria
Lei foi sancionada com derramamento de sangue; conforme o primeiro rito de "vestimenta
espiritual" praticado "por Deus" no Gênesis, quando cobriu o homem e sua mulher com as
peles de um animal morto para vesti-los.

Assim, meus irmãos, no Antigo Testamento, nós tanto temos a manifestação da devoção humana de
forma primitiva; assim como temos a linha mestra de indicação do Caminho, e que é uma linha
carregada de sangue de bodes e de touros; até que chegou o Cordeiro, que já havia sido imolado
desde antes da fundação do mundo (portanto, infinitamente anterior à Lei); e, Nele, toda a Lei —
tanto os mandamentos de conduta individual e social (10 mandamentos; por exemplo) como
também as leis e ritos cerimoniais — foram cumpridos; e, com isto, tudo o mais se torna obsoleto,
visto que o que agora prevalece explícita e encarnadamente é o Evangelho da Nova Aliança; e
Nele, a obediência é conseqüência da fé que nasce do Amor que nos amou primeiro e que se
entregou por nós.

Para os que ainda são da Lei, a emoção prevalente como "motor da obediência" é o medo. Já no
Caminho do Evangelho nada tem sentido se não for o amor e a gratidão aquilo que movem o ser.

Por último, quero dizer que, na existência, existe causa e efeito em tudo (na justiça legal, nas leis
naturais, nas leis econômicas, nas leis físicas, nas leis relacionais, nas leis conjugais, nas leis
negociais, etc.) — menos no que tange à salvação em Cristo, conforme o Evangelho.

No Evangelho, a Lei fica para o Estado na regulamentação dos vínculos sociais (Romanos 13). Mas
ela, a Lei, nada tem a ver com a justiça de Deus para salvação, que salva até o condenado pela lei
como fez com o ladrão ao lado de Cristo.

Assim, no tempo Antigo, temos gente tentando viver pela Lei, com toda sinceridade; temos gente
fazendo de conta que guardava a Lei, com toda falsidade; e temos gente que vivia sob a Lei por fé
e esperança num Amor Maior – que os absolvesse dos rigores da própria Lei que os expôs como
transgressores.

Quem se dedicar a leitura atenta dos evangelhos e das inúmeras afirmações de Paulo em suas
cartas, mas em especial Romanos de 9 a 11, saberá que a finalidade da Lei é Cristo.
Jesus, a chave que abre o coração

"Perguntou-Lhe Pilatos: O que é a verdade?"

Ora, conquanto Jesus seja também uma informação histórica — afinal Ele existiu, e nós não
estávamos lá quando isto aconteceu; razão pela qual dependemos completamente das descrições
que os evangelhos fazem de Jesus a fim de melhor discernir seu espírito —, no entanto, o
discernimento de Quem Ele era, só acontece como revelação de Deus no coração.

A Verdade não existe como Explicação, mas tão somente como Encarnação. A Verdade se fez
carne! É Alguém. A Verdade é uma Pessoa! Por isso, a Verdade só pode ser vivida, não pensada.
Todo pensamento acerca dela decorre da experiência. A Verdade não é objeto de prosa... O Jesus
do Evangelho não é para ser aceito, mas para ser conhecido. A Verdade que vejo em Jesus —
Encarnada Nele — eu mesmo tenho que conhecer na minha própria encarnação, que é o único
estado de existência que eu tive até hoje.

Foi assim com Pedro. Ele conheceu a Verdade em Jesus, e teve que experimentá-la em si mesmo.
E, provavelmente, o dia no qual ele negou a Jesus, tenha sido um dia de muito mais verdade que a
noite da Transfiguração.

Portanto, é preciso que cada um conheça Jesus e Sua Palavra, para si mesmo. É preciso que cada
um aprenda a Ter sua própria consciência em fé, a fim de viver a Palavra por si mesmo.

Em resumo, a Encarnação é a chave hermenêutica do conhecimento bíblico, mas essa chave tem
que abrir antes o meu coração. E isto só acontece no encontro entre a Verdade e a Vida.

Ora, tal encontro só se dá no Caminho, e é a isso que chamamos Consciência do Evangelho. Por
isso, aproveito-me deste trabalho para propor um exercício pessoal libertador:

• Quero convidá-lo a pegar os evangelhos e relê-los como se fosse a primeira vez, e faça-o
como se nunca tivesse ouvido nenhuma interpretação deles. Pois, assim fazendo, você logo
saberá que o que eu digo é apenas uma Nova Repetição do que não muda nunca, pois
quando se tenta mudá-lo, nunca é para o bem, pois, trata-se daquilo que é eterno: o
Evangelho.

A necessidade de escrever a mensagem de Jesus veio do afastamento cada vez maior da sua fonte
histórica - o próprio Jesus de Nazaré (Lucas 1:1-4; João 20:30-31). Em meados de 70 D.C., já não
vivia a quase totalidade das "testemunhas oculares" do Senhor ressuscitado (Lucas 1:2; 1 Cor 15:3-
8). Esse distanciamento cronológico entre Jesus e as comunidades só poderia ser vencido pela
palavra escrita. E assim se formaram as duas grandes coleções ou "corpus" das Cartas de Paulo e
dos Evangelhos.

Como alerta, devo dizer que o primeiro inimigo a ser vencido no estudo bíblico é o pré-
condicionamento na interpretação.

Então, meu querido, soda cáustica na cabeça, uma boa chacoalhada, limpeza, e início de leitura pessoal e aberta
para a Palavra e para o Espírito. Então você verá que começará a surgir o Jesus real das páginas dos
evangelhos! Experimente!

Que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos.

Caio
Para ouvir a Deus nestes dias...

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos nossos pais, pelo
profetas, nestes ULTIMOS DIAS, nos falou pelo FILHO, a quem constituiu herdeiro de
todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
Aos Hebreus 1.1-2

Em meio às centenas de comentários que já se fizeram ao que é escrito no site, as


observações acerca da falta de referências bíblicas que indicassem capítulos e
versículos que co-substanciassem cada tópico nos chamaram a atenção.

A questão, contudo, não é tópica, é básica! Sim, é acerca da Base de qualquer tópico!
Como sistematizar um Fundamento? O Fundamento oferece Alicerce a tudo que sobre
ele se constrói e o que se constrói sem conexão com o Fundamento poderá se cercar
de muitas indicações textuais isoladas, sem, contudo, estar edificado sobre a Pedra
Angular, sobre a Rocha Eterna dos Séculos, sobre o espírito do Evangelho
"escondido" nas narrativas dos evangelhos.

Todos, porém, acostumaram-se à estética ortográfica de abreviaturas, números, pontos


e dois-pontos, que são subentendidos como rubricas divinas que assinaram desde as
mais sadias praxes até o erguimento de loucuras apoiadas sobre um Livro dentro do
qual tudo se acha quando qualquer coisa se procura, dado o volume disponível nessa
Biblio-teca.

Porém, a prática apologética do "diga-me onde isso está" não impediu que se
construíssem castelos de areia sobre as nuvens dos devaneios teológicos
contemporâneos.

Não empacotamos versículos quando escrevemos porque nos falta o costume de


pinçar passagens das Escrituras para provar aquilo que nós vemos em toda ela, o
tempo inteiro! Isso porque olhamos para a Bíblia a partir de Jesus, que é a Palavra
Encarnada.

Não entupimos os escritos publicados de versículos bíblicos que respaldem o texto por
uma razão muito simples: isso não é suficiente! É porque as Escrituras são lidas assim,
fazendo dos textos uma coletânea sistematizada por assuntos, que inclusive, podem se
antagonizar! - que a Bíblia é a mãe de quase todas as heresias. Sem a "prova" em
Cristo, qualquer tolice pode ser teologicamente comprovada.
Na arte de interpretar as Escrituras, os "artistas" fizeram muita "arte" mesmo! Tudo
para fazer com que ela seja conforme a conveniência, a consciência ou a doença de
quem a estudou. Na história, foi tomando o Livro como força-motivadora que se
ordenaram Cruzadas, extorquiram viúvas e órfãos, bandeiraram conquistas
colonizadoras, massacraram judeus, adestraram indígenas e des-almaram negros,
queimando também "infiéis" e amaldiçoando rivais.

No presente tempo, a Bíblia é guia controversa de Educação Moral e Cívica! E nada é


mais rico do que as Escrituras em oferecer os heróis e as ilustrações para o infame
teatro neo-pentecostal de "sacrifícios" de arrecadação! O Livro Sagrado é retorcido
para dar base para a ambição e a cobiça dos "novos" crentes, que se baseiam em
promessas que Deus não fez. Ela é ídolo carregado nas mãos, como quem carrega a
lâmpada mágica do Gênio das nossas vontades, da qual emanam "só saúde e sorte",
além - obviamente - de carros e celulares! De seus objetos e símbolos vem a
criatividade inócua que decora os templos com candelabros e bandeiras de Israel; e
tem também um vasto cardápio de profecias e ajuizamentos para os decretos do
ressentimento, que gritam seus textos de vitória sobre os inimigos! Sim, para os tais, é
uma delícia que os versículos 8 e 9 do Salmo 137, por exemplo, sejam inspirados.

Não preciso dizer que a Bíblia não é culpada. São os alquimistas da religião que tiram
de tudo desse tubo de ensaio para seduzir as massas desesperadas por alguma coisa
que seja "cristã" ou "bíblica", já que no Brasil, por exemplo, todos nasceram
cristianizados.

* Hermenêutica é a arte de interpretar o texto.

Marcelo Quintela
O que vem primeiro: a Escritura ou a Palavra?
Não é de estranhar que o pai da fé, Abraão, tenha vivido pela fé
na Palavra antes de haver Escritura, mostrando-nos assim, que a
Palavra precede a Escritura.

A fé vem pelo ouvir-escutar-crer-render-se à Palavra.

E a pregação só é Palavra se o Espírito estiver soprando.

Do contrário, é só prega-ação!

E a pregação que não é Palavra, é apenas estudo bíblico, podendo


gerar mais doença que libertação.

A grande tentação é fazer a Escritura se passar por Palavra.

As Escrituras se iluminam como a Palavra somente quando aquele


que a busca tem como motivação o encontro com a Palavra de
Deus.

Ou, então, quando o Deus da Palavra fala antes ao coração!

A Bíblia é o Livro.

A Escritura é o Texto.

A Palavra, É! E é Revelação!

Jesus é o Verbo Encarnado!

É o Espírito quem revela a Jesus como Palavra e a Palavra em


Jesus.

Caio
É pra comer. Não é pra conhecer o cardapio

Sem "teologia" e sem "doutrina" de nenhum tipo, a simples leitura do Evangelho nos deixa saber o
que é bom para a vida, e como também se deve viver, sem que isto demande nenhuma
"explicação" especial àquele que deseja se beneficiar da Boa Nova.

Sim, a Boa Nova não tenta convencer à priori. Ela simplesmente diz: "Me experimente. Se você
provar, você saberá que é verdade. Não antes. Não por nenhum outro modo ou meio."

O convencimento da Boa Nova vem da realização do que é Bom. É simples assim.

Um "Evangelho" que seja um pacote de crenças e doutrinas e uma "embalagem de Deus" segundo
algumas teologias, serve muito à criação de um espírito religioso, e que se arroga a ser melhor não
por causa do Bem que realize, mas em razão da suposta superioridade dos valores de conduta
apregoados.

"Eu vim para que tenham vida; e vida em abundância"— jamais poderá ser substituído por "Eu vim
para que vocês fiquem sabendo qual é o conjunto da verdade e, assim, sejam superiores aos
demais homens ignorantes".

O único modo de aferição da verdade do Evangelho só acontece na vida, e não porque alguém
ganhou uma discussão teológica contra um herege, mas sim pelo resultado da existência, se é
plena de vida, conforme a justiça, a paz e a alegria no Espírito Santo.

Desse modo, o Evangelho não tenta explicar nada, mas convida a uma confiança que é fruto de se
ter tido um toque da Graça, e que se transforma numa atração, e que se entrega como rendição,
gerando a resposta do "seguir" a Jesus.

Assim, aquele que se entrega a Jesus não recebe um pacote de explicações, mas sim aceita seguir
porque foi convencido pela experiência do bem do Evangelho, e que tocou o indivíduo de alguma
forma, fazendo-o provar que o "Senhor é bom".

Portanto, tal pessoa não fica preocupada em "entender Deus". Sua felicidade está em que Deus a
entende. Assim, ela caminha sem querer saber o que Deus está planejando, mas apenas o que
Jesus propõe como caminho. E, para ela, cada coisa não é passível de uma explicação, mas sim de
uma resposta própria. Desse modo, se impotente, ela ora; se abastada, ela agradece; se visitada
pela calamidade, ela confia no bem oculto no amor de Deus; se é objeto de perseguição, ela
exulta; se milagres acontecem, ela se alegra; se não acontecem, ela se entrega ao milagre da
confiança...

Enfim, tal pessoa aprende o "como", não o "por quê" das coisas. Aliás, ela até poderá aprender o
"por quê", desde que antes tenha a coragem, em fé, de viver conforme o "como" do Evangelho.

É o "como" do Evangelho que explica o seu "por quê"—isto quando explica. E, normalmente, a
"explicação" nunca é "lógica pela lógica", mas sim algo que se experimenta como bem interior,
inexplicável, e que convence o coração acerca da verdade pela paz que promove no interior, e
cujos frutos se manifestam como "modo" de caminhar.

Não é à toa que Paulo diz que é a "bondade de Deus que conduz ao arrependimento". Sim, no
Evangelho, tudo o que se estabelece como genuíno e duradouro decorre da experiência da bondade
de Deus.
É, portanto, a experiência de Deus como bem para o ser, aquilo que muda a mente, que provoca a
metanóia, que gera o arrependimento—a mudança de mente e, por conseguinte, de caminho.

Como eu disse no início o Evangelho não oferece explicações, mas diz como se deve viver. E é
desse "como", que não é um manual de condutas, mas sim um modo de ver, de ser, de valorizar, de
desvalorizar, de reagir, de agir conforme princípios, e de enfrentar a existência—que vem o
crescimento da fé.

Por isto é que no Evangelho as coisas caminham de fé em fé; assim como também crescem de
experiência em experiência (Rm 5:1-5). E no final não se fica entendendo tudo, mas se
experimenta o amor de Deus, e que traz consigo uma esperança que não nos deixa jamais confusos
acerca de nada, muito menos acerca das tribulações e dos absurdos da existência.

Somente aquele que se abandona e pratica o Evangelho em fé, e conforme toda a confiança, é que
experimenta a Verdade conforme Jesus; visto que a Verdade só se faz verdade para o indivíduo, se
for por ele provada, conforme Jesus (João 7: 17).

Daí o escritor de Hebreus advertir quanto a se "ter provado os poderes do mundo vindouro" e ter
deixado para trás o que se sabe por experiência do coração, conforme a experiência da Graça.

O grande mal que se pode fazer a si mesmo, segundo o Evangelho—e sem explicações doutrinário-
teológicas—, é experimentar o seu bem e, depois, trocá-lo pela religião das normas, mas que não
produz bem real à vida; antes, pelo contrário, seca-a dos bens originais e dá a ela a presunção da
verdade na forma de religião. Aliás, esse é o espírito inteiro da Carta aos Hebreus.

A "Queda" se consumou na experiência, não na especulação acerca da verdade ou da mentira, do


bem ou do mal. "Tomou do fruto e comeu"— é o que se diz. Assim foi com o primeiro Adão e, muito
mais, é assim concernentemente ao segundo Adão: Jesus. "Quem comer tem a vida... quem de
mim se alimenta, por mim viverá..."

Ora, assim como o pecado se fez consumar pela experiência, assim também o bem do Evangelho se
faz conhecer pela experiência da fé, e que dá acesso ao fruto da Árvore da Vida.

"Tomai e comei!" — é assim no Evangelho.

Caio
Jesus lia as Escrituras

Sendo o Verbo, como Ele não conheceria um derivado da Palavra, que é a Escritura?

A questão, porém, é outra: Como Jesus lia as Escrituras? Ou como ouvia as palavras dela?

Aqui falo do modo como Jesus interpretou as Escrituras, e do espírito de entendimento que Ele nos
dá a fim a discernirmos a Palavra na Escritura.

Isto porque Jesus diz que Suas palavras são a Palavra, e nos recomenda que as percebamos como
espírito e vida, e não como letra estática, morta, mumificada, e que se oferece para exumação aos
"Caçadores de Múmias", nos quais se tornaram muitos exegetas e hermeutas da Escritura.

Um exemplo extraordinário está mostrado em Lucas 20: 27-40 e Mateus 22: 23-33.

A narrativa diz que chegaram alguns dos saduceus, que diziam não haver ressurreição—e que
também não criam em anjos e em coisas do gênero—, e perguntaram-lhe:

Mestre, Moisés nos deixou escrito que se morrer alguém casado, porém sem filhos, o irmão dele
deve casar-se com a viúva de seu irmão, a fim de lhe suscitar descendência.

Pois bem, havia, entre nós sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos; então o segundo,
e depois o terceiro; e assim todos os sete tanto se casaram com ela, como também morreram, sem
deixar filhos.

Ora, os saduceus não criam em ressurreição, e nem em anjos. Jesus ensinava o oposto.

Alguém diria: que sorte da mulher deles!

Enfim, morreu também a mulher.

Todos estavam ouvindo. Então, eles disseram:

Agora é o problema. Nossa questão é a seguinte: Na ressurreição, de qual deles será ela esposa,
pois os sete por esposa a tiveram?

Respondeu-lhes Jesus:

Errais não conhecendo as Escrituras e nem o poder de Deus.

Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento; mas os que são havidos por dignos de
alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem se casam nem se dão em
casamento; porque já não podem mais morrer; pois são como os anjos nos céus, e são filhos de
Deus, sendo filhos da ressurreição.

E já que eles tinham usado o letrismo de Moisés a fim de criar uma Escritura, literalmente, sem
espírito, Jesus também lhes disse, citando Moisés:

Quanto a ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, quando o próprio
Moisés indicou, na passagem a respeito da sarça, chamando ao Senhor de o Deus de Abraão, e Deus
de Isaque, e Deus de Jacó?
Ora, Ele não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para Ele todos vivem!

Veja por você mesmo. Peça a Deus que o ilumine, a fim de que você discirna o espírito da Palavra.

Jesus é questionado com algo que deveria criar um problema moral e legal para a mensagem da
ressurreição, visto que a Doutrina Moral, para os saduceus—que eram também, na sua maioria, da
classe sacerdotal—, era muito mais importante que a vida; pois quem perde o espírito da Palavra,
fica apenas com a falta de ressurreição das letras da Escritura.

Então, Jesus lhes responde apanhando o problema moral e legal, e o redimensionando na escala do
espírito. Simplesmente diz que a imortalidade também não será moral e nem legal. E isto porque
os elementos que condicionam a legalidade e moralidade são inexistentes numa dimensão onde
cada um experimenta individuação completa e mergulha no amor e no entendimento absoluto.

No entanto, Ele fala não apenas do que sabe em-si-mesmo. Ele toma a Escritura em Gênesis—cujo
texto, em total simplicidade, Jesus atribui a Moisés—, e mostra o que não está escrito, porém está
dito.

O espírito da Palavra não está no que está escrito, mas no que está dito. E o modo como Jesus lê as
Escrituras nos mostra a diferença entre uma coisa e outra; entre a letra e o espírito da Palavra.

Não está escrito que Deus é Deus de vivos e não de mortos, e que, portanto, a ressurreição é um
estado também natural.

Em nenhum lugar do Velho Testamento isto está escrito. Todavia, está dito. E Jesus nos mostra isto
apenas mostrando a sutileza do espírito do texto, e que se manifesta pela simples afirmação
PRESENTE de que Deus É o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E como não se diz
que Deus FOI o Deus daqueles homens; e como mesmo os três tendo existido na Terra em estado de
contemporaneidade por algum espaço de tempo; tendo eles também morrido em sucessão; seria
uma incongruência não os enterrar no passado da história, se tivessem morrido. Como porém
viviam; era certo chamá-los na relação de vida PERMANENTE diante de Deus, pois para Deus, todos
vivem.

Assim, Jesus não lhes tira dúvidas. Ao contrário, lança dúvidas nas certezas deles com a simples
afirmação de Seu imperturbável entendimento espiritual. E mostra a eles que era Verdade o que
Ele dizia, mas os deixa sem poder pegar em nada, visto que aquilo não estava escrito para dizer o
que Ele disse, ainda que dissesse exatamente isto.

É assim o espírito da Palavra!

Caio

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