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Grátis Pelo Sistema de Ensino a Distancia – SED
CNPJ º 21.221.528/0001-60
Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls.
173/173 vº, Fundada em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em
27 de Outubro de 1984
Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira
Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Apostila 18
Deste ato distante de nós cerca de 3.300 anos, desejamos extrair lições para o
ministro do século 21, tarefa esta do intérprete da Bíblia Sagrada.
O Ato de Consagração
vv. 1-13
Purificação, Vestidura, Unção dos Consagrandos
vv. 14-17
Oferta pelo pecado dos Sacerdotes
vv. 18-21
Oferta queimada
vv. 22-36
Oferta de paz
Uma análise da liturgia nos mostra em primeiro lugar o oferecimento de uma
oferta pelo pecado, que seria totalmente consumida de acordo com as
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instruções do capítulo 4 do mesmo livro; e o oferecimento de dois carneiros.
O primeiro seria oferecido em holocausto, de acordo com o capítulo 1. O
segundo, porém tem uma parte especialíssima na cerimônia, razão porque é
chamado de "o carneiro da consagração", conforme o verso 22 deste
capítulo 8.
As partes do corpo tocadas pelo sangue são orelha, mão e pé. Esse toque
pelo sangue lava-os e dedica-os simbolicamente ao Senhor. Quer também
dizer que o ministro de Deus ouvirá e obedecerá, e suas mãos e pés servirão
ao Senhor.
Há quem apenas deseja falar, conversar; dê ouvidos, pois para isso sua
orelha foi ungida. Há quem queira injeções de otimismo cristão, de
esperança. Há quem tenha sérios sentimentos de culpa, de rejeição. Há
quem precise ser confrontado. Uma coisa, porém, é certa: você tem
autoridade dada por Deus e pela igreja que o chamou para dar esse
conselho, essa exortação ou esse confronto.
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em suspenso. Talvez os lábios digam algo, mas a expressão facial, as mãos,
a expressão corporal digam outra. Você precisa "ouvir" corretamente os
sentimentos de quem está à sua frente.
Desde que você começa a ouvir, está fazendo Psicoterapia Pastoral. Isso é
afirmado pelo Dr. Wayne Oates, autor ou co-autor de mais de quarenta livros
e por muitos anos professor de Aconselhamento Pastoral (Pastoral Care), no
The Southern Baptist Theological Seminary em Louisville. Você é visto
dentro de um esquema todo especial: há um significado simbólico em você
como ministro de Deus. O pastor, por exemplo, é um ponto de referência na
igreja para o povo de Deus. Ele simboliza e representa a comunidade cristã,
e é agente dessa comunidade de Cristo, de Deus.
Use suas mãos para abençoar a criança, o jovem, o adulto, o idoso. E faça-o
com carinho. Leve-os à consciência do santo, lembrando ao crente em Jesus
Cristo que a rigor, para o povo de Deus, não existem espaços separados,
compartimentos estanques entre o secular e o religioso, o sagrado e o
profano, pois a vida pública, social, civil do crente em Jesus Cristo há de ser
normatizada pelo senso do santo.
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rotina de vida. O nascimento de uma criança, a morte de um parente, o fim
de um casamento, o desemprego, a aposentadoria são crises . Você há de
entrar em contato e reduzir a ansiedade, encorajando a pessoa a agir.
Lembre-se de que cada situação de crise é única, sem igual. Ou como o
povo diz, "Cada caso é um caso".
Mais do que nunca, é preciso ser imitador de Cristo. Para sê-lo, porém, é
preciso andar no Espírito, andar santamente. E andar santamente exige
análise freqüente de nós mesmos, submissão do eu a Deus, e plenitude do
Espírito Santo, que é o Seu controle em nossas vidas.
CONCLUSÃO
Nossa oração é que nosso ministério seja pontuado agora, hoje, sempre pela
disciplina, obediência, entrega e consagração total àquele que é o Mestre de
nossas vidas, Senhor do nosso futuro, Salvador de nosso ser.
A Catedral
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Uma catedral para a honra e a glória
de nosso Senhor Jesus Cristo
se constrói momento a momento
à medida que uma mão se estende
e toca outra mão
com amor humano,
e à medida que um coração responde
em amor a outro coração
capacitado pelo Espírito Santo
para anelar, escutar, elevar
e amar-nos uns aos outros.
Para que todos, em todo lugar
possamos oferecer outros dons
que Deus nos tem dado:
Integridade nas relações,
Alegria e paz na fidelidade,
Fortaleza para fazer por meio da igreja,
Mais do que pedimos ou imaginamos.
Margaret Shannon
Parte II
LEVANDO A SÉRIO A CEIA DO SENHOR
"Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus,
na noite em que foi traído, tomou o pão; e, havendo dado graças, o partiu e disse:
Isto é o meu corpo que é por vós; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é
o novo pacto do meu sangue; Fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em
memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do
cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. De modo que
qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será
culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si
mesmo, e assim como do pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe, come
e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor" (1Co
11.23-29).
A Ceia Memorial tem sido celebrada num ambiente espiritual, profundo, reverente
e cheio de certeza, além do destaque que a Ceia do Senhor nos fala numa
linguagem silenciosa porém plena de energia. Temos o pão e o vinho, elementos
simples, porém altamente destacados nesta celebração. E nesta simplicidade, ela
se torna um meio de comunicação de algumas importantes mensagens para o
povo de Deus. Quando levamos a sério a celebração da Ceia do Senhor, usamos
de determinadas linguagens:
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Paulo diz isso: "Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as
vezes que o beberdes, em memória de mim", ou seja, "para que pensem
novamente em mim."
Quando João escreveu a narrativa que abre o Evangelho que leva o seu
nome, ele disse "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça
e de verdade"; a palavra grega utilizada não é do hebraico: é grega, tem
outra origem. O impressionante, no entanto, é que o vocábulo utilizado por
João para dizer, "o Verbo habitou, marcou presença, manifestou-se entre
nós", é a palavra grega que diz skinê. Percebam o som do hebraico sh ki nah
e do grego s ki nê. As duas palavras têm praticamente o mesmo radical.
Coincidência, ou vontade de Deus que as palavras assemelhadas fossem
usadas pelo escritor sagrado?
Para que se manifeste a glória de Deus, e para que pensemos nEle, é que a
Ceia do Senhor é celebrada por Sua Igreja. Jesus Cristo estabeleceu duas
ordenanças, e somente duas: o Batismo e a Ceia Memorial. São ordenanças
sem qualquer benefício acessório para a salvação. Uma pessoa em sendo
salva por Jesus Cristo, na verdade não precisa, para acrescentar algum valor
maior à salvação, do Batismo. O malfeitor da cruz não precisou se batizar,
mas já estava com Jesus Cristo no paraíso após a crueldade daquele
momento.
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desfraldada. E não existe sentimento maior, e quem já passou por isso o
sabe, que estar num outro país, e se emocionar com o verde-amarelo
tremulando nos mastros com outras bandeiras. Isso se chama filia, o amor
cívico, patriótico. Não é doença, não: é patriotismo mesmo!
Paulo disse: "Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos
ajuntais, não para melhor, mas para pior" (v. 17). Aconteceu, infelizmente,
com a igreja de Corinto, que se reuniu não para o melhor, mas para o pior;
reunia-se para a indignidade. Não confundamos as coisas: quando falamos
de comunhão, não estamos falando de encontro sobrenatural, místico; não
estamos dizendo que nos unimos a Jesus Cristo através do Nirvana, como
querem pregar as religiões orientais; não estamos tendo uma visão, não;
não é comunicação com um morto como querem ensinar por aí, não! A
Palavra nos ensina que a Ceia do Senhor é um memorial. Não há comunhão
física, ao se participar da Ceia do Senhor, entre o homem pecador e o Deus
perfeito, mas uma comunhão espiritual, sem dúvida, pela lembrança de
Cristo na cruz, se a levamos a sério.
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Deus. Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos
ajuntais, não para melhor, mas para pior".
Quando celebramos a Ceia usamos esse tipo de linguagem. "De modo que
qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente,
será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a
si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice".
Interessante que a Ceia do Senhor não torna ninguém melhor: ninguém vai
sair melhor porque tomou a Ceia do Senhor. E, no entanto, há um paradoxo:
o irmão pode sair pior se tomou a Ceia do Senhor indignamente! É o que
Paulo diz, por essa razão é dever de cada um solene e seriamente examinar-
se sobre quais são os seus interesses e propósitos quando se aproxima da
Mesa do Senhor. Veja bem a seriedade de seus objetivos.
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coisa: se o irmão vier à Mesa do Senhor com as mãos sujas, "será culpado
do corpo e do sangue do Senhor" (1Co 11.27b)! O irmão não sai melhor, mas
pode sair pior do santuário. Quanto seriedade é exigida dos participantes?!
Então, estou vindo com fé na morte de Jesus Cristo? Vivo diariamente pelo
poder da ressurreição de Jesus Cristo? São perguntas que tenho que fazer!
É Jesus realmente o alimento da minha alma? Sou eu um dos Seus, e sou eu
um com os Seus? Estou em harmonia, minha vida é digna da comunhão com
os outros crentes? Permanece a minha aliança com o Deus vivo? Se não
conheço a Jesus Cristo, como posso me lembrar dEle?
Phillip Henry diz que o crente quando for participar da Ceia deve fazer três
perguntas:
· Que é que eu sou? Filho de Deus, salvo pelo sangue de Jesus? Lavado
pelo Seu sangue?
· Que é que eu tenho feito? Minhas mãos estão limpas, ou manchadas. Meu
coração está limpo, ou borrado, sujo?
· Que é que eu desejo? Quais os meus sonhos e visões, que almejo na
Causa de Jesus Cristo?
Não é sério? Então, devemos dar graças a Deus pelo privilégio de termos um
diálogo com a Ceia do Senhor, e, assim, que venhamos à mesa do Senhor
em espírito de comemoração porque essa é a linguagem que falamos agora,
em comunhão espiritual porque essa é a realidade que vivemos agora, e
consagração pessoal porque esse é o propósito, o objetivo, o alvo de nossa
vida sempre. E lembrando, sobretudo, que a Ceia do Senhor não é um
funeral (para que cara triste?): a Ceia do Senhor é uma celebração de fé, de
alegria, de esperança porque nós olhamos para o dia da volta de nosso
Senhor Jesus Cristo!
Parte III
O DIÁLOGO DA CEIA DO SENHOR
Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na
noite em que foi traído, tomou o pão; e, havendo dado graças, o partiu e disse:
Isto é o meu corpo que é por vós; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é
o novo pacto do meu sangue; Fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em
memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do
cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. De modo que
qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será
culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si
mesmo, e assim como do pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe, come
e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor" (1Co
11.23-29).
A Ceia Memorial tem sido celebrada num ambiente espiritual, profundo, reverente
e cheio de certeza, além do destaque que a Ceia do Senhor nos fala numa
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linguagem silenciosa porém plena de energia. Temos o pão e temos o vinho,
elementos simples e destacados nesta celebração. E nesta simplicidade, ela se
torna um meio de comunicação de algumas importantes mensagens para o povo
de Deus.
Quando João escreveu a narrativa que abre o Evangelho que leva o seu
nome, ele disse "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça
e de verdade"; a palavra grega utilizada nada tem a ver com o hebraico: é
outra língua, outra origem, não tem a mesma categoria, inclusive lingüística.
Pois bem, a palavra que João utilizou para dizer "o Verbo habitou, marcou
presença, manifestou-se entre nós", é a palavra grega que diz skinê.
Percebam o som do hebraico sh ki nah e do grego s ki nê. As duas palavras
têm praticamente o mesmo radical. Coincidência, ou vontade de Deus que as
palavras assemelhadas fossem usadas pelo escritor sagrado?
Para que se manifeste a glória de Deus, e para que pensemos nEle, é que a
Ceia do Senhor é celebrada por Sua Igreja. Jesus Cristo estabeleceu duas
ordenanças, e somente duas: o Batismo e a Ceia Memorial. São ordenanças
sem qualquer benefício acessório para a salvação. Uma pessoa em sendo
salva por Jesus Cristo, na verdade não precisa do Batismo para acrescentar
algum valor maior à salvação. O malfeitor da cruz não precisou se batizar,
mas já estava com Jesus Cristo no paraíso após aquele momento cruel. Não
é preciso, mas o batismo é um ato de obediência: Jesus até foi batizado por
João, e mandou que a Igreja praticasse o batismo, o que fazemos como
testemunho público do que Jesus Cristo fez na nossa vida.
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cálice, dizemos que o sangue de Jesus Cristo foi derramado por mim e por
você, por nós. Estamos pregando a mensagem de livramento de redenção
para todo o que crê!
Paulo disse: "Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos
ajuntais, não para melhor, mas para pior" (v. 17). Isso aconteceu,
infelizmente, com a igreja de Corinto, que se reunia para a indignidade. Que
coisa triste, reunirem-se os nossos irmãos para atos indignos!
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Ao longo destes quase quarenta anos de ministério da palavra e das
ordenanças, tenho me emocionado sempre que participo da Ceia Memorial!
E cada vez que seguro a côdea de pão, e o parto na frente dos participantes,
eu me emociono, porque me vem à mente que sou indigno pecador, e que
pela graça de Deus fui feito Seu filho! Lembro-me, quando tomo esta jarra de
vinho, e derramo um pouco no cálice, fico com as mãos trêmulas ainda; são
39 anos celebrando a Ceia do Senhor praticamente mês a mês (e houve
época quando o fiz duas vezes no mês), mas ainda hoje tremo quando tenho
na minha mente e coração a cena de Jesus Cristo no Calvário, e o Seu
sangue escorrendo pelas mãos, pela Sua testa, pela face, e pelo tronco da
cruz... Sim; há uma comunhão espiritual pela lembrança de Cristo na cruz, e
pela nossa identificação com essa cruz: a minha cruz, não de Cristo, mas a
minha cruz!
Quando celebramos a Ceia usamos essa linguagem. "De modo que qualquer
que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado
do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e
assim coma do pão e beba do cálice". Interessante que a Ceia do Senhor não
torna ninguém melhor. Na verdade, ninguém vai sair melhor porque tomou a
Ceia do Senhor. E agora o paradoxo: o irmão pode sair pior se tomou a Ceia
do Senhor indignamente! É o que Paulo diz, por essa razão é dever de cada
um solene e seriamente examinar-se sobre quais são os seus interesses em
Jesus Cristo. Você participou da Ceia só porque os outros iam ver, e você ia
ficar com vergonha se ficasse sentado e não participasse? Quais são seus
propósitos quando se aproxima da Mesa do Senhor?
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Fiquei arrepiado! Que coisa impressionante a legislação, como eram as
normas no acampamento de Israel no deserto: somente podiam se
aproximar dos móveis os sacerdotes, nem os levitas quer eram os seus
auxiliares. Quando havia necessidade de desmontar o tabernáculo para ir
para outro lugar, os sacerdotes entravam, embalavam os móveis, com várias
camadas de tecidos (e de cores diferentes para mostrar o grau de santidade
do objeto), e depois que tudo era embalado, e ninguém via a forma do
objeto, os levitas pegavam o pacote e faziam o carregamento nos carros de
boi para o transporte pelo deserto. E sempre é lembrado o seguinte: "e o
estranho que se chegar será morto" (Nm 3.10, etc.). Os levitas funcionavam,
entre outros deveres, como guardas de segurança do tabernáculo.
A lei não era fácil: era marcial, lei de guerra! O "estranho" não era o pagão,
não; era o próprio povo de Israel. Só que há uma diferença muito grande: na
Igreja Cristã o pastor não é o sacerdote, e os outros, o "povão"! Na Igreja de
Cristo fomos todos elevados ao sacerdócio, por isso podemos nos
aproximar dos objetos, da Mesa do Senhor! Mas tem uma coisa: se o irmão
vier à Mesa do Senhor com as mãos sujas, "será culpado do corpo e do
sangue do Senhor" (1Co 11.27b)! O irmão não sai melhor, mas pode sair pior
do santuário.
Então, estou vindo com fé na morte de Jesus Cristo? Vivo diariamente pelo
poder da ressurreição de Jesus Cristo? São perguntas que tenho que fazer!
É Jesus realmente o alimento da minha alma? Sou eu um dos Seus, e sou eu
um com os Seus? Estou em harmonia, minha vida é digna da comunhão com
os outros crentes? Permanece a minha aliança com o Deus vivo? Se não
conheço a Jesus Cristo, como posso me lembrar dEle?
Por isso que Phillip Henry diz que o crente quando for participar da Ceia
deve fazer três perguntas:
· Que é que eu sou? Filho de Deus, salvo pelo sangue de Jesus? Lavado
pelo Seu sangue?
· Que é que eu tenho feito? Minhas mãos estão limpas, ou manchadas. Meu
coração está limpo, ou borrado, sujo? · Que é que eu desejo? Quais os meus
sonhos e visões, que almejo na Causa de Jesus Cristo?
Então, devemos dar graças a Deus pelo privilégio de termos um diálogo com
a Ceia do Senhor, e, assim, que venhamos à mesa do Senhor em espírito de
comemoração porque essa é a linguagem que falamos agora, em comunhão
espiritual porque essa é a realidade que vivemos agora, e consagração
pessoal porque esse é o propósito, o objetivo, o alvo de nossa vida sempre.
E lembrando, sobretudo, que a Ceia do Senhor não é um funeral (para que
cara triste?): a Ceia do Senhor é uma celebração de fé, de alegria, de
esperança porque nós olhamos para aquele dia! Que o Senhor nos ajude e
abençoe!
Patte IV
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VESTIMENTA NA IGREJA
Introdução:
"Nesta casa não tem moda, tem recato". Faço minhas as palavras da personagem
de Tarcísio Meira na série Um só Coração, da Rede Globo, para asseverar a
minha convicção espiritual em relação a vestimenta do cristão verdadeiro, pois
creio que na igreja de Jesus Cristo não deve existir a preocupação exagerada com
a moda, mas sim com o recato e o decoro que devem ser peculiares aos santos.
Há algum tempo temos alertado a igreja sobre esta questão, mas parece que não
temos sido bem-sucedido nestes alertas, razão pela qual decidimos tratar
francamente deste assunto com toda a igreja.
O trágico é reconhecer que esta nudez desenfreada chegou à igreja. Chegou para
ficar e se estabelecer como referencial de comportamento cristão, o que é
absurdo. Porém, em nome de Jesus, mesmo sob a pecha de radical, de
retrógrado, de antiquado ou de autoritário, pretendemos persistir no combate
desta maldição, bem como no combate de toda a sorte de malignidade que tenta
corromper os parâmetros de Deus para a santidade do cristão, permanecendo fiel
a Cristo e a convicção ministerial que temos de que a igreja brasileira necessita
urgentemente experimentar um avivamento de santidade.
Tais vestimentas são precursoras de muitas outras medidas adotadas por Deus,
relacionadas a moral e aos bons costumes, visando o bem-estar físico, social e
espiritual da humanidade. Medidas que se tornaram necessárias por causa da
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corrupção imposta pelo pecado à natureza humana.
Devemos observar que mesmo sob maldição, em pecado, Deus não expulsou o
homem do Éden nu, para a desonra. Deus fez túnicas de peles, verso 21. Ou seja,
roupa que cobre tudo o que deve ser preservado e que indica parâmetros de
moralidade e de respeito entre serem humanos.
Neste texto Deus exige roupas especiais, roupas de gala, para o sacerdote na
ministração do culto e da adoração.
Se a sua mente tenta justificar a não aplicação deste texto em sua vida, devo
ressaltar que a Palavra de Deus assevera que, a partir do sacrifício de Jesus, com
o rasgar do véu no templo, todos fomos feitos sacerdotes para Deus, Apocalipse
1.6 e 1 Pedro 2.9.
Podemos verificar também os versos 31-35 e 39-43 de Êxodo 28, que fazem
referência aos paramentos e assessórios sacerdotais, destacando a preocupação
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de Deus até com os calções, ou seja, com a roupa íntima do sacerdote, verso 42,
indicando que o cuidado de Deus vai além da roupa aparente.
Vale ressaltar que o Texto Sagrado alerta até mesmo aqueles que não são servos
de Deus e que não têm, por isso, uma experiência íntima com ele, a tomarem
cuidado com os seus trajes quando estiverem em uma situação que saibam que
estarão diante de Deus.
Este texto mostra que Naamã ao se dirigir ao servo de Deus, desejando causar
boa impressão e agrada-lo, levou roupas finas e luxuosas, roupas de festa. Este
gesto de Naamã aponta para o reconhecimento da superioridade do profeta em
relação a ele e para o reconhecimento da soberania de Deus em relação a sua
vida e circunstância.
Naamã, o grande general, não entendia bem tudo o que estava acontecendo.
Ficou frustrado e aborrecido ao se sentir desprezado pelo profeta, bem como pelo
fato de o profeta não aceitar os seus presentes. Afinal, eram roupas especiais,
com aplicações em ouro, prata e cravejadas de pedras preciosas. Porém, o seu
coração ainda era obstinado e Deus conduziu o profeta para que, com aquela
atitude, Naamã fosse quebrantado, humilhado, curado e salvo.
Desta maravilhosa narrativa bíblica fica para nós a seguinte lição: não é molambo,
nem trapo velho encardido, nem modismo, nem roupas indecorosas ou falta de
roupa que se deve levar para a presença do Senhor ou do servo de Deus, que o
representa na ministração para as nossas vidas.
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Devemos ter a consciência de que estamos diante do próprio Deus e que, por
isso, devemos estar bem trajados, levando o melhor possível, mesmo que com
roupas humildes e simples, mas com decência e decoro, mostrando que
reconhecemos a superioridade e a soberania de Deus, o Deus que está pronto a
nos quebrantar, a nos curar e ministrar salvação.
A entrega de roupas novas para o filho, "a melhor roupa", indica a transformação
de vida que o jovem experimentara. Os farrapos de uma vida dissoluta e
distanciada de Deus e dos parâmetros da moralidade devem ser jogados fora e
trocados por vestimentas novas, limpas e decentes.
Quando nos convertemos Deus nos honra e nos dá novas vestes, vestes
espirituais, que simbolizam a nossa restauração e a retomada da nossa condição
de filhos. Estas roupas novas simbolizam o perdão que nos foi outorgado,
servindo também como prova da nossa aceitação na casa do Pai, bem como da
restituição do nosso direito espiritual como herdeiros de Deus em Cristo.
Em Jesus não somos mais pessoas separadas de Deus, como que deserdadas
por causa do pecado. Em Cristo nos tornamos pessoas especiais, tendo regatado
a nossa posição espiritual como filhos de Deus, não podemos mais permanecer
maltrapilhos, desnudados ou vestidos de maneira indecorosa. A condição de
coitado, miserável e nu é para aqueles que serão vomitados pelo Senhor devido a
mornidão espiritual, Apocalipse 3.14-22, em especial osversos 16-18, e não para
os filhos que vivem em perfeita comunhão com o Pai.
Estes versos falam em trajes decorosos e sem luxúria como a vestimenta ideal
para o servo de Deus.
Mais uma vez a sua mente, principalmente a dos homens, pode estar tentando se
justificar dizendo que o ensinamento paulino não se aplica a você. Isso não é
verdade. A exigência de decoro e de moralidade na vestimenta é para mulheres e
homens ao mesmo tempo. O que comprova isso é o contexto geral do capítulo,
em especial o verso 8, que exige dos homens um alto padrão de santidade para a
oração.
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Decoro é recato no comportamento e decência no vestir. Está relacionado com a
postura que adotamos para a vida. Luxúria é comportamento desregrado em
relação a sexualidade. É licenciosidade moral que denota a lascívia, que é
pecado, e a concupiscência, que é o desejo de pecar, do indivíduo. A luxúria se
contrapõe acirradamente ao decoro.
Em contrapartida, Deus exige dos seus filhos uma vestimenta decorosa e isenta
de qualquer sintoma de luxúria. Ou seja, Deus exige de nós um comportamento
recatado através do qual as pessoas percebam que estamos libertos do desejo de
pecar e que fomos restaurados em nossa moralidade, em nosso caráter, que é
agora santificado pela ação do Espírito Santo que em nós habita.
O termo traduzido por "traje decoroso", utilizado por Paulo, no original, ultrapassa
a idéia de vestuário simplesmente. Paulo usa o termo para fazer referência
também a moralidade sexual que nos é exigida por Deus e que deve se refletir em
nossas roupas.
Conclusão:
Outros textos poderíamos estudar sobre o tema, tais como João 19.23-24, que
falam das roupas de boa qualidade, de valor e de discreta beleza usadas por
Jesus; Apocalipse 7.9-17, que fala da roupa dos mártires na glória, que eram as
mesmas vestes que usavam aqui na terra, pois não haverá tempo para trocar de
roupa antes de entramos no céu; e Apocalipse 16.15, que descreve o fato de
termos as roupas sempre à mão como sinal de preparo espiritual para o encontro
com Jesus, mas creio que já vimos o bastante para estabelecermos parâmetros
éticos para a nossa igreja, no que diz respeito a nossa vestimenta.
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Talvez você esteja se perguntando: Onde se pretende chegar com este estudo?
Ou quem sabe você esta ruminando com os seus botões... "Já até sei qual vai ser
o resultado disso". Não importa. Não nos preocupa nem mesmo o fato de você
pensar que este assunto não deveria ser tratado na igreja.
Mas devemos tratar destas questões na igreja sim, visto que imoralidade,
promiscuidade, lascívia, exploração da sensualidade na vestimenta e o
cinicamente chamado nu artístico são ações maléficas do diabo contra a natureza
humana e a sociedade. O resultado dessas estratégias diabólicas tem sido a
violência sexual contra as crianças, a gravidez na adolescência, a prostituição
desenfreada, a banalização do adultério, a aceitação parcimoniosa do divórcio e,
como decorrência, famílias destroçadas. O resultado da imoralidade no vestir é
uma sociedade corrompida, desigual e agonizante como percebemos a nossa.
Será mesmo que não temos razões que justificam estudar este tema?
Vale ressaltar ainda que este estudo, embora de cunho ético, é também
evangelístico. Pois apresenta o evangelho verdadeiro, sem ajustes humanos, sem
relativizações éticas e sem a tentativa de se fazer a vontade humana. Este estudo
apresenta o evangelho que é a luta por se fazer a vontade de Deus, que nos quer
santos para ele e santificadores pelo testemunho cristão autêntico. Se você
procura outro evangelho que não o de Jesus Cristo, bateu no estudo errado. A
igreja de Cristo não é o seu lugar.
Por fim, vamos ao objetivo deste estudo que não é nada que a igreja já não saiba,
pois em diversas ocasiões manifestamos nossa posição bíblica sobre a questão
da vestimenta do cristão, como já dissemos neste estudo.
Uma vez realizado o estudo, nossa oração é para Deus, pelo Espírito Santo, toque
em nossas mentes e corações a fim de que mudemos radicalmente a maneira de
nos vestirmos. Não só na igreja, mas em casa, no trabalho, na escola, na igreja,
em fim, em todo o lugar onde estivermos e no nosso cotidiano.
Não é o pastor que manda. É Bíblia. É Palavra de Deus. Lógico que cabe ao
pastor a ministração da Palavra e a supervisão quanto a obediência aos
ensinamentos do Senhor. Por isso, de hoje em diante, devem ser estabelecidas
algumas regras bíblicas em relação a vestimenta que se usará para a participação
e para ministração nos cultos. Seria uma bênção se estas normas fossem
aplicadas pelos irmãos e irmãs de modo geral, pois o pastor não deve se dar ao
trabalho de vigiar ninguém. Deus há de restaurar e transformar a consciência de
cada um, visto que, como pastores, não podemos fazer o papel do Espírito Santo
no convencimento das pessoas.
Porém, no que diz respeito a utilização do púlpito, ao estar na frente para ministrar
o culto, para cantar, para declamar, para qualquer coisa, bem como para se subir
na plataforma para ministrar o louvor, o culto ou qualquer outra participação, não
se deve permitido blusas de alças (aquelas blusas que só tem as alcinhas e mais
nada), tomara que caia (que para os mais afoitos devia chamar "pena que não
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caiu"), decote umbilical, no cóxi ou no "rego", e nem decotes meia-taça que
projetam os seios para os olhos incautos dos homens ávidos por aconchego ou
mesmo dos desavisados... Haja unção para olhar e não pecar.
Seja para dirigir programa, para ministrar o culto ou o louvor. Seja para apresentar
visitantes, fazer anúncios, cantar, tocar, cantar em conjunto ou pregar. Não
importa. Diante da igreja, para ministrar na presença de Deus, não se deve
permitir mais uma vestimenta indecorosa, modismos exagerados e imorais, ou
mesmo roupas esculachadas, que não condizem com o padrão de Deus para a
vestimenta do salvo e nem com o testemunho cristão.
Isto por quê? Porque fomos restaurados por Deus da nossa natureza pecaminosa
e porque estamos dispostos a obedecer ao Senhor, fazendo a sua vontade,
expressa na Bíblia Sagrada, mesmo que para isso tenhamos que fazer uma
"fogueira santa" com as roupas que usávamos até sermos exortados na Palavra
de Deus. Seria maravilhoso se num domingo fizéssemos esta fogueira para
queimar as roupas das quais o Senhor nos libertou depois de termos estudado a
Palavra.
Esperamos no Senhor que este estudo seja suficiente para uma tomada de
posição nossa como igreja de Cristo no Brasil. Não precisaríamos ouvir críticas ou
cobranças por causa de vestimenta.
Somos nós e os nossos filhos que nos vestimos indevidamente. Somos nós que
compramos as roupas dos nossos filhos. Se não compramos, admitimos que eles
comprem ou que usem. Vamos assumir a nossa responsabilidade e corrigir a
nossa conduta moral, diante de Deus, no que diz respeito a vestimenta.
20
Amém.
Parte V
“ALEFREI-ME QUANDO ME DISSERAM..."
Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” (Sl 122.1)
A Casa de Deus
21
culturas. Todas essas distinções, no entanto, se evaporam no canto
congregacional, no canto coral, na oração, na leitura bíblica, na entrega dos bens
e vidas, na mesma expectativa quanto à pregação. O crente há de compreender
que, ao vir ao culto, algo vai acontecer: sua vida será agraciada pela presença de
Deus, pela compreensão do grande, eterno amor, e enriquecida pela comunhão
dos irmãos, aquilo que é tão bem expresso na Bênção Apostólica: “A graça do
Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam
com todos vós” (2Co 13.13). É o senso de conjunto, de adoração conjunta em
perfeito acordo com o que Paulo acentuou em Filipenses 3.5: “Pelo que todos
quanto somos perfeitos tenhamos este sentimento, e, se sentis alguma coisa de
modo diverso, Deus também vo-lo revelará”. Há um popular hineto que diz:
“Quando estou com o povo de Deus,
eu sinto a maior alegria;
quando estou com o povo de Deus,
eu sinto real harmonia...”
22
culto não é um drama encenado para uma platéia de espectadores, ou realizado
tão somente pelo oficiante sem a presença de um auditório. É ato corporativo.
Aliás, a alegria do culto divino é um sentimento antecipado, e acentuada essa
alegria quando compartilhamos a adoração com outros crentes. Portanto, não
basta a um cristão dizer que pode orar, cantar, ler e meditar em casa, ou ligar a
TV e ter a igreja eletrônica com um pregador de estúdio “olhando” para você (?!)
da tela fria do televisor, porque nada vai compensar o culto que você perdeu, e
nada vai comprar as bênçãos divinas, os temores afastados, as falsas idéias e
doutrinas corrigidas, e a fé revigorada na adoração coletiva.
Algo Prático
23
crescer para a Igreja de Cristo em sua expressão local, a comunidade de fé de
você faz parte.
Quando deixamos a congregação, quando nos ausentamos da igreja, não
recebemos as bênçãos do culto, perdemos o fervor, o espírito de unidade, não
levamos os filhos a crescer e a igreja perde a cooperação.
Se a adoração, o louvor, o culto não nos transformar, não pode ser chamado culto,
louvor, adoração (cf. Mt 5.23,24), visto que adorar, louvar, cultuar é transformar-
se. Se a adoração não nos levar a maior obediência, é só agitação, mas não um
ato de culto. Quando entramos no templo é a expectativa, quando saímos é
obediência; quando entramos é fé e esperança, quando saímos é amor.
Neemias nos inspira: “porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto
não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força” (8.10b), por isso,
“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!”
Parte VI
A IGREJA PRECISA DE TEOLOGIA?
Introdução e Conceitos
É comum ouvirmos que "a teologia mata a religião" ou que "a Igreja não precisa de
teologia e, sim, de vida". Serão verdadeiras essas afirmações? Admitimos que há
muita coisa por aí levando o nome de "teologia" que não passa de especulação
humana, por não se basear em pressupostos de uma hermenêutica bíblica. E até
a "boa teologia", quando se torna um fim em si mesma, pode não ter qualquer uso
prático e reduzir-se a mero academicismo. Não é disto que falamos aqui.
Perguntamos se a verdadeira Teologia é necessária à Igreja.
Como podemos conhecer a Deus sem estudar a revelação que Ele faz de Si
mesmo? Como saber quem Ele é e o que Ele tem feito e faz, quem somos nós em
relação a Ele, o que Ele requer de nós,etc., se não investigarmos o que Ele deixou
revelado para nosso conhecimento? Pois esse é o trabalho da Teologia. Esse
trabalho parte de três pressupostos: O primeiro é o de que Deus existe; o
segundo, de que Ele pode ser conhecido, embora não de modo exaustivo e
completo; e o terceiro, de que Ele tem Se revelado tanto por meio de Suas obras
(criação e providência - Revelação Geral - Sl19:1,2; At 14:17), como,
principalmente, nas Santas Escrituras (Revelação Especial - Hb1:1,2; 1 Pd
1:20,21). É porque Deus Se revelou que podemos conhece-Lo. Nosso
24
conhecimento de Deus não é intuitivo, nem natural, mas comunicado por Ele
mesmo através dos meios que soberanamente escolheu. "Fazer teologia",
portanto, não é inventar teorias a respeito de Deus e de Suas obras, nem mesmo
"descobrir" a Deus, mas conhecer e compreender a revelação que Ele próprio deu
de Si. Por isso, qualquer estudo de Deus que não tiver a Sua revelação como
base, meio e princípio regulador não é "teologia", devidamente entendida.
A palavra "teologia" não ocorre na Bíblia e o termo que lhe é equivalente, no N.T.,
é "doutrina" ( "didache" ou "didaskalia", no grego), que vem de uma raiz que
significa "ensinar" e pode se referir tanto ao ato de ensinar, propriamente, como ao
conteúdo do que é ensinado (Rm 6:17;1Tm 6:3-4; 2Tim 4:3-4; Tito 1:2,9, etc.).
Podemos dizer, de modo mais completo agora, que Teologia é o conjunto de
verdades extraídas dos ensinos bíblicos a respeito de Deus e de Sua obra, e que
são apresentadas de modo sistemático, na forma de um corpo de doutrinas. A
essa forma ordenada de doutrinas, dá-se inclusive, o nome de "Teologia
Sistemática". O adjetivo aqui, não altera o conceito de "teologia".
Assim entendidas, fica evidente que não há diferença entre Teologia e Doutrina.
Mas voltemos ao nosso tema. Duas são as razões geralmente apresentadas para
se dizer que a Igreja não precisa de Teologia. Elas se baseiam em duas falsas
antíteses:
Mas como sabemos que esses são os fatos? Que sentido teriam esses
acontecimentos se não tivessem sido interpretados? É a doutrina que lhes dá
sentido. Como viemos a saber que aquele menino que nasceu em Belém é o Filho
de Deus? Por que descansamos na eficácia da Sua morte para a expiação dos
nossos pecados? Por que sabemos que a Sua ressurreição, há dois mil anos
atrás, garante a nossa justificação? É porque esses fatos são todos explicados e
interpretados pela doutrina.
25
Esta não só informa o fato como também dá o seu significado. A doutrina não
salva, mas pode tornar o homem sábio para a salvação (2Tm 3:15). Doutrina sem
fato é mito, mas fato sem doutrina é mera história.
O Cristianismo, portanto, consiste em "fatos que são doutrinas e doutrinas que são
fatos", na expressão de B.B. Warfield. Ele diz: "A Encarnação é uma doutrina:
nenhum olho viu o Filho de Deus descer dos céus e entrar no ventre da virgem;
mas se isso não for um fato histórico também, nossa fé é vã e permanecemos
ainda em nossos pecados"( Selected Shorter Writings, vol 2, p. 234). Fato e
doutrina se complementam no Cristianismo. Quando João diz: "E o Verbo se fez
carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade" (Jo 1:14), não está
apenas apresentando um fato; está explicando-o também. Quando Paulo afirma
que Jesus "foi entregue por causa das nossas transgressões,e ressuscitou por
causa da nossa justificação" (Rm 4:25), de igual modo está dando uma
interpretação aos fatos da morte e ressurreição de Cristo. Isto é o que se vê em
toda a Escritura, especialmente nas epístolas.
Sem essa explicação, sua mensagem (a dos céus) passaria despercebida e eles
poderiam até ocupar o lugar do Criador, gerando a idolatria (devido ao pecado),
como lemos em Rm 1:18-32. Não é o acontece quando as pessoas dizem que "a
natureza é sábia", ou quando a chamam de "mãe natureza"?. Sem a revelação do
Criador, a criatura toma o seu lugar. Daí dizer-se que para se conhecer a Deus é
preciso que Ele fale, e não somente que Ele aja.
26
no tempo: a doutrina passa a ser um produto da vida cristã, não a sua norma. Há
até quem interprete assim a célebre divisa: "Igreja reformada sempre se
reformando".
Mas será essa a visão bíblica do Cristianismo? Podemos dizer, com base na
palavra de Deus, que o Cristianismo é vida e não doutrina, ou, primeiramente vida,
depois doutrina? Existe tal antítese? Se essa posição for verdadeira, então não
haverá verdade absoluta, nem princípio fixo, nem revelação objetiva. Tudo cairá
no campo dos valores relativos e passará a depender do subjetivismo, da
"piedade", das emoções. Não admira que haja tanta "fluidez" e instabilidade entre
os que assim pensam, e que sejam facilmente levados "por todo vento de
doutrina". Para estes, a doutrina é o que menos interessa.
Concordamos também que Cristianismo é vida, e graças a Deus por isso! Onde a
vida não se manifesta, nos moldes escriturísticos, falta a alma da verdadeira
religião. Mas devemos ou podemos prescindir da doutrina para que essa vida se
manifeste? Antes de tudo, é a verdade de Deus relativa? Depende o seu valor do
lugar e da época em que se encontram os homens? Sabemos que esta é a
posição atual dos que se denominam pluralistas e esse é o pressuposto básico
desta posição. Será que aquilo que foi deixado por Paulo e pelos outros apóstolos
como doutrina para os seus dias deveria ser mudado nos dias de Agostinho,
depois nos dias de Lutero e Calvino, depois nos dias de Warfield e dos Hodge e,
assim, sucessivamente, até os nossos dias, para dar lugar às manifestações de
vida? Não creio que a Bíblia justifique essa posição nem que esses teólogos a
tenham entendido assim. O princípio de que "a Igreja reformada deve estar
sempre se reformando" visa manter sempre a mesma posição em relação à
verdade, não alterá-la, para que seja aplicável em todas as épocas. É para que
continue sempre sacudindo de si toda tradição e acréscimo humano que não
estejam de acordo com os valores fixos e absolutos da palavra de Deus.
Reformar é voltar às origens, ao que foi intencionado no princípio por Deus. E não
há outra forma de se fazer isto a não ser pela doutrina.
Foi a doutrina bíblica, tão bem exposta pelos reformadores e tão negligenciada
pela Igreja, que a trouxe de volta às origens e lhe recuperou a vida, no século XVI.
Foi a falta da verdadeira doutrina que enfraqueceu a Igreja e a lançou num
tradicionalismo vazio e pagão. É a correta aplicação da doutrina que produz a
verdadeira vida cristã. Não basta apenas um sentimento religioso para fazer de
um homem um cristão. É preciso que sua vida seja moldada na doutrina de
Cristo.É a doutrina que dá característica à vida.
Sem dúvida, não estamos afirmando que apenas a doutrina, independente da obra
santificadora do Espírito, produz vida. A doutrina é, isto sim, o meio que o Espírito
soberanamente usa para nos fazer conhecer a vontade de Deus e nos levar a
praticá-la. É através dela que ficamos sabendo que a vontade de Deus é a nossa
santificação e que, sem esta, ninguém verá o Senhor ( 1 Ts 4:3; Hb 12:14). É ela
que nos aponta os meios de graça deixados pelo próprio Senhor, que é quem nos
27
santifica (Lv 20:7-8; Ef 5:26). Nas epístolas paulinas, a íntima relação entre
doutrina e prática é evidenciada pelo seu método de apresentar primeiro a
argumentação teológica (doutrinária) para depois tirar as implicações práticas dela
decorrentes (Ex. Rm 1-11: doutrina; 12-16: prática). Isso se torna ainda mais claro
na oração sacerdotal de Cristo, em que Ele associa a prática da santificação com
a doutrina da Palavra: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 15 :
17) e em João 7:17, onde o fazer a vontade de Deus está ligado ao conhecer a
doutrina: "Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da
doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo".
Parte VII
A IGREJA, CORPO DE CRISTO
TEXTO: EFÉSIOS 1:22-23
- Outros títulos:
28
- A Igreja como corpo deve:
- ministrar
- manter a unidade da fé
- reconhecer ministérios
- participar do louvor, da comunhão, dos desafios
- instruir seus filhos na Palavra
29
graça e autoridade.
- A igreja como corpo, recebeu do Senhor Jesus, toda a autoridade e poder para
se tornar uma igreja viva e vitoriosa.
2.5 - Autoridade para ligar e desligar - Mat. 18:18; Mat. 16:19; 1Cor. 5:3-5
- Para exercer esta autoridade a igreja precisa estar em perfeita sintonia com o
Espírito Santo. Esta autoridade não é um exercício individual, e, sim, coletivo.
30
3.0 - CONTESTANDO A AUTORIDADE DELEGADA
- A nossa obediência deve ser praticada não em função da pessoa mas da
autoridade nela investida. Não se obedece a homens, e, sim, à autoridade de
Deus que está nesse homem.
- Obs. Watchamann Nee: "A maior das exigências que Deus faz ao homem não é
a de carregar a cruz, servir, dar ofertas, ou negar-se a si mesmo. A maior das
exigências é que ele obedeça" - 1 Sam. 15:22-23
Parte IX
A IGREJA, CORPO DE CRISTO III
TEXTO: ROMANOS 12:1-2
31
resultados positivos, é necessário que o membro exercite a Koinonia e a Diakonia.
32
Parte X
A IGREJA, CORPO DE CRISTO IV
TEXTO: EZEQUIEL 37:1-14
Ezequiel não só foi levado ao vale de ossos secos. Ele andou pôr entre aqueles
ossos. Conviveu com a morte. Sentiu os odores daquele ambiente fétido.
- A experiência de Neemias - Ne. 2:11-15
- Esta convivência foi necessária:
1.1 - para identificar a situação do povo
1.2 - para comprometer o profeta com o desafio de restauração
1.3 - para mostrar qual o propósito de Deus
O texto de Ezequiel 37:6 nos ensina quatro verdades básicas sobre a harmonia do
corpo de Cristo.
33
3.0 - COMO SE PROCESSA ESTA RESTAURAÇÃO?
Ezequiel foi o instrumento usado pôr Deus para restaurar os ossos secos. Cabe a
cada membro do corpo a mesma responsabilidade. O processo de restauração
ocorre através da ação profética.
Parte XI
A IGREJA, CORPO DE CRISTO V
TEXTO: PROVÉRBIOS 4:7
Pôr falta de sabedoria, a igreja tem lutado mais contra si mesma do que contra os
verdadeiros adversários; tem usado ignorantemente a armadura de Saul; tem
fomentado divisões; tem perdido enfim o poder de atuação.
"Realmente estará em perigo a sorte do mundo, se não surgirem homens mais
sábios. O homem sábio é aquele que é capaz de reconhecer um necessitado, um
pobre, um que precisa de oração".(Concílio Vaticano II)
34
A sabedoria não é uma virtude isolada, e muito menos eletrizante. Não é contrária
a verdadeira espiritualidade. Ela é antes de tudo o fiel da balança espiritual.
Parte XII
A IGREJA QUE FAZ A DIFERENÇA
Mateus 26.17-30
Introdução
A igreja será apenas uma instituição humana se não tiver a visão de Jesus Cristo
para o contexto e a realidade histórica na qual está inserida.
A igreja deve interagir na história, não andar a reboque da historieta escrita nos
alfarrábios desta geração corrompida e perversa. Somos o povo do Deus que é
Senhor da história e que se manifesta através da história. A igreja é manifestação
de Deus na história. Não podemos nos contentar em causar impacto na história
com os nossos escândalos ou com a nossa inércia contemplativa enquanto o céu
não vem. É imperativo fazermos diferença no mundo, escrevendo a história da
salvação na vida das pessoas e para isto, é imperioso resgatarmos a relevância
da igreja no contexto sociocultural em que trilhamos a jornada da santificação.
Mas amados, a igreja só será relevante para o mundo e para o Reino, fazendo
verdadeira diferença neste mundo com Agência reformadora de Deus, quando...
35
Como Jesus, devemos admitir nossa humanidade em sua plenitude mas sempre
orando: "não se faça a minha vontade, mas a tua", Lucas 22.42.
Vale ressaltar a expressão "o Mestre diz". Mestre, didáskalos, alguém que ensina
revestido de capacidade, honra e dignidade. Jesus, sendo Deus, é Senhor do
tempo e fala com autoridade quanto a brevidade do tempo para a pregação do
evangelho. "Meu tempo está próximo", diz o Mestre.
A Igreja não pode postergar a pregação. Não sabemos quando o Mestre voltará,
Mateus 25.13. Estar preparados para adentrarmos com ele em sua glória implica
em testemunho e pregação incessantes.
Devemos buscar a consciência de que o Senhor está em seu trono de glória para
receber de nós um culto "vivo, santo e agradável", Romanos 12.1, resultado de
mentes renovadas em Cristo no entendimento dos mistérios da salvação, 1
Coríntios 2.14-16.
36
4. Somos contristados pela possibilidade de sermos o traidor – (Vs. 21 e 22).
A expressão do verso 21, "me entregará", no original, denota que Jesus bem sabia
das intenções daqueles que o perseguiam. É assombroso que muitos crentes não
sintam o sabor amargo de pecado como sentiram Moisés, Jacó, Isaías, Jeremias,
Pedro, Paulo e muitos outros indicados no Texto Sagrado, insistindo nos passos
de Caim e na decisão diabólica tomada por Judas Iscariotes, persistindo na
traição.
No culto verdadeiro Deus sempre manifesta sua glória, Isaías 6.1-8, e se nos
dispomos à perfeita adoração, sempre somos levados à contrição e ao
arrependimento, a fim de que dediquemos nossas vidas em perfeito louvor,
evidenciado na proclamação do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo.
Em quinto e último lugar, afirmo que a igreja fará diferença no mundo e resgatará
sua relevância e autoridade na pregação quando...
37
confissão sincera diante de nosso Advogado e único mediador, Jesus Cristo, l
João 1.8, 2.2 e 1 Timóteo 2.5, nos impõe a comunhão que afaga o coração e
acarinha o aflito e o existencialmente desesperançado. Pelo que, a igreja deve
retirar-se do templo, após o culto prestado, restaurada, perdoada, transbordando
em amor e alegria e amalgamada no sangue de Jesus Cristo.
Todo o nosso pecado e preconceito devem ser abandonados aos pés da cruz de
Cristo, o Cristo que "é tudo em todos", Colossenses 3.11.
Conclusão
Parte XIII
A LIDERANÇA CRISTÃ E O DISCIPULADO
38
Português Corrente (edição da Sociedade Bíblica de Portugal, 1993): "É em Cristo
que todo o edifício está seguro e cresce até se transformar num templo que honre
ao Senhor" (Ef 2.21).
Creio também no discipulado cristão, pois é somente observar a ênfase dada por
Jesus ao cuidado, carinho, busca e instrução dos que O seguiam. "Discípulo", por
sinal, parece ser a palavra favorita de Jesus para aqueles cuja vida estava ligada
a dEle. Aparece 269 vezes nos Evangelhos e no livro dos Atos dos Apóstolos.
O líder cristão do século 21 não pode esquecer que as condições do discípulo são
um daqueles princípios imutáveis, apesar das transformações litúrgicas,
administrativas, pelas quais a Igreja de Cristo vem passando através dos séculos.
Quem as declara são os Evangelhos:
· Transportar a cruz (Lc 14.27). A cruz não é brinquedo, mas instrumento de
morte, na qual o eu deve morrer. Ir-para-o-Calvário é um caminho escolhido
deliberadamente, visto que a cruz é o símbolo da perseguição, vergonha e abuso
que o mundo jogou sobre o Filho de Deus e jogará sobre os que escolhem
navegar contra a corrente, o discípulo.
· Renúncia (Lc 14.33), que é entrega irrevogável a Jesus Cristo, autonegação, nos
termos de Lucas 14.26 e Mateus 16.24. Nosso amor a Jesus e à Sua causa há de
ser tão evidente que, em comparação, todos os demais serão diminuídos. Billy
Graham afirmou que "a salvação é de graça, mas o discipulado custa tudo o que
temos".
· Constância (Jo 8.31). É passar a viver em companhia de Jesus, comunhão de
destinos com Ele, segui-Lo, permanecer nEle. O verdadeiro discípulo se
caracteriza pela estabilidade.
· Produção de frutos (Jo 15.8). União frutífera como Senhor (Jo 15.4,5).
39
o discipulado.
· Um ser solitário. Quem mora na roça vive praticamente num sistema de clã
(estilo semita bíblico). Na cidade grande está perdido.
· Um ser pobre. Mora em invasão.
· Um ser que sonha. Não perdeu essa capacidade.
· Um ser que escuta. E a ele muitos "discipuladores" querem falar.
IMPEDIMENTOS
Liderança que não encarna ideais e falta de mobilização do povo de Deus. Falar
de liderança é falar de pastores, presbíteros, diáconos, ministros na várias áreas,
professores, conselheiros, relatores, etc. Através da história, Deus tem chamado
homens e mulheres para abençoar Seu povo.
40
No século 21 muita coisa tem mudado: igrejas querem dinheiro, não poder do
Espírito; santuários cheios de pessoas, mas não de poder; animação, mas não
renovação.
A liderança cristã não pode prescindir de utilizar a Bíblia Sagrada como fonte de
reflexão, de meditação, de discipulado e caminho de vida. O desenvolvimento do
Salmo 119 bem o demonstra. Afinal, a Bíblia se evidencia Palavra de Deus nas
profecias e cumprimentos, em mostrar o ser humano em sua realidade e pelos
seus efeitos na vida do homem que é transformado em discípulo de Jesus Cristo.
Por essa razão, há o líder de nela meditar (Sl 1.1,2), de nela viver (v.3) e conhecê-
la para crescer em graça (v.3).
Tratando-se de uma nova moral para o Terceiro Milênio, não se pode negar a
sobrevivência do mais apto, ou seja, daquele que soubesse compatibilizar os
interesses do indivíduo com os da sociedade. As religiões nada fizeram para
melhorar os padrões de moralidade da sociedade como um todo, visto que vivem
41
confinadas em suas próprias doutrinas, e consideram os elementos de outras
religiões como gentios ou pagãos.
A nova moral, como a nova religião, tem que ser universal excluindo apenas um
grupo, os fanáticos. A idéia de Deus não é indispensável para um comportamento
moral. A proposta é a de um código de ética baseado na ciência, pois a
Astronomia mostra a insignificância do ser humano no universo; a Biologia, a
Genética, a Teoria da Evolução e a Sociobiologia de mostram que o ser humano
não foi criado à semelhança de Deus, e sim do macaco e de outros animais. Valle
declara não acreditar em outra vida, por isso o céu deve ser procurado nesta,
evitando, também que a vida se transforme em um inferno. O destino do ser
humano é entregar aos descendentes os genes que recebeu dos antepassados, o
que o transforma em uma máquina de sobrevivência apenas.
Igreja
É PRECISO...
Quem é Deus? É o Deus único (Is 45.22; Dt 6.4); é o Deus que está presente (Ez
48.35); é o Deus Vivo, Santo e Verdadeiro.
42
supremo da moralidade" (Goethe)
* "Um grande mestre"
* "(Jesus com) seu perfeito idealismo, é a mais alta regra da vida, a mais
destacada e a mais virtuosa. Ele criou o mundo das almas puras..." (Ernest
Renan)
* "(foi Jesus quem) pôs à luz, pela primeira vez, o valor de cada alma humana e
ninguém pode desfazer o que ele fez" (Harnack).
Pedro faz a confissão de fé evangélica ao dizer "o Cristo, o Filho do Deus Vivo"
(Mt 16.16).
Livros sugeridos
BLANCHARD, John. Aceptado por Dios. Edinburgh, El Estandarte de la Verdad,
1974. Trad. J.M. Blauch. 128 p.
BROWN, Lavonn D. Truths that Make a Difference. Nashville, Convention Press,
1980.
CHRISTIAN, C.W. Shaping your Faith. Waco, Word, 1973.
KNUTSON, Kent S. His Only Son Our Lord. Minneapolis, Augsburg, 1966.
LAMEGO, Maria J.R. e RAHM, Haroldo. Eu Sou Quem Sou. SP, Loyola, 1976.82
p.
NEILL, Stephen. Quem é Jesus Cristo? Rio, Confederação Evangélica do Brasil,
1961. Trad. L. A Caruso
SNOWDEN, Rita. Christianity Close to life. Glasgow, Collins, 1978. 57 p.
VALLE, Huáscar Terra do. Tratado de Teologia Profana. SP, Alfa Ômega, 1998.
349 p.
Parte XIV
A MISSÃO DA IGREJA
Na confrontação com a opressão espiritual
43
compromissos teológicos. Uma antiga abordagem foi o debate em torno de
evangelização e “civilização.”1 Hoje é mais comum falar-se em evangelismo e
responsabilidade social. Diferentes autores do século XX têm procurado expressar
a missão da igreja em termos de desenvolvimento, presença cristã, diálogo inter-
religioso, justiça e paz, diaconia e outros conceitos.
I. ANTECEDENTES
A reflexão sistemática e abrangente sobre o trabalho missionário protestante na
América Latina foi desencadeada pela célebre Conferência Missionária Mundial,
realizada em Edimburgo em 1910.2 Todavia, esse estímulo ocorreu às avessas,
uma vez que somente foram convidadas para a conferência as sociedades
missionárias que atuavam entre povos não-cristãos.3 Isso excluiu a América
Latina do âmbito daquele encontro, sendo admitidas apenas as missões que
trabalhavam entre as tribos pagãs desse continente.
44
Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos,
convidou vários delegados interessados na América Latina a se reunirem
informalmente para discutir como essa lacuna poderia ser suprida. Como
resultado desses entendimentos, realizou-se em Nova York, em março de 1913,
uma conferência sobre missões na América Latina, sob os auspícios da
Conferência de Missões Estrangeiras da América do Norte.4 Essa conferência
criou a Comissão de Cooperação na América Latina (CCLA), tendo como
presidente o próprio Robert Speer e como secretário executivo Samuel Guy
Inman.
Por sua vez, a CCLA patrocinou o Congresso de Ação Cristã na América Latina,
reunido no Panamá em fevereiro de 1916, o maior encontro das forças
protestantes desse continente realizado até aquela data. O Congresso mostrou a
necessidade de maior cooperação em áreas como educação religiosa, missões,
literatura e formação teológica. Mais especificamente, suas metas principais foram
a evangelização das classes cultas, a unificação da educação teológica através de
seminários unidos, o desejo de dar uma dimensão social ao trabalho missionário
na América Latina e o esforço em promover a unidade protestante.5
45
histórico declinante do hemisfério norte, buscava aproximar-se do catolicismo
posterior ao Concílio Vaticano II (1962-1965) e procurava responder à difícil
situação social do continente com uma teologia radical, que eventualmente
identificou-se com a célebre “teologia da libertação.”
O primeiro CLADE foi organizado pela Associação Evangelística Billy Graham, sob
o impulso do Congresso Mundial de Evangelização (Berlim, 1966), convocado
pela revista evangélica Christianity Today. O CLADE I permitiu que líderes
preocupados em relacionar a fé evangélica com a realidade latino-americana
compartilhassem as suas inquietações. Para Valdir Steuernagel, esse congresso
teve duas marcas distintivas:
46
Foi no CLADE I que se articulou a criação da Fraternidade Teológica Latino-
Americana, organizada no ano seguinte em Cochabamba, Bolívia, tendo Pedro
Savage como seu primeiro secretário e Samuel Escobar como seu primeiro
presidente. Escobar assim expressou os objetivos da Fraternidade:
47
Samuel Escobar é autor de vários livros sobre teologia e missiologia: Diálogo entre
Cristo y Marx (1967), Quien es Cristo Hoy? (1970, com C. René Padilla),
Decadencia da la Religión (1972), Christian Mission and Social Justice (1978, com
John Driver), Irrupción Juvenil (1978), La Fe Evangelica y las Teologías de la
Liberación (1987), Evangelio y Realidad Social (1988), Liberation Themes in
Reformational Perspective (1989), Paulo Freire: Una Pedagogia Latinoamericana
(1993), entre outros. Um dos seus livros mais recentes é Desafios da Igreja na
América Latina: História, Estratégia e Teologia de Missões, publicado em 1998
pela Editora Ultimato.
Escobar também escreveu diversos ensaios que foram publicados como capítulos
de livros. Alguns títulos representativos podem dar-nos uma idéia de seus temas
prediletos: “Social Concern and World Evangelism,” em Christ the Liberator (1971);
“The Social Impact of the Gospel,” em Is Revolution Change? (1972); “Evangelism
and Man´s Search for Freedom, Justice and Fulfillment,” em Let the Earth Hear His
Voice (1974); “The Role of Translation in Developing Indigenous Theologies: A
Latin American View,” em Bible Translation and the Spread of the Church (1990);
“Latin America,” em Toward the Twenty-First Century in Christian Mission (1993);
“A Pauline Paradigm of Mission: A Latin American Reading,” em The Good News
of the Kingdom (1993); “La Presencia Protestante en America Latina: Conflicto de
Interpretaciones,” em Historia y Misión: Revisión de Perspectivas (1994); “The
Church in Latin America after Five Hundred Years” e “Conflict of Interpretations of
Popular Protestantism,” em New Face of the Church in Latin America: Between
Tradition and Change (1994); “The Search for a Missiological Christology in Latin
America,” em Emerging Voices in Global Christian Theology (1994); “The Training
of Missiologists for a Latin American Context,” em Missiological Education for the
Twenty-First Century (1996); “Religion and Social Change at the Grass Roots in
Latin America,”19 em The Role of NGOs: Charity and Empowerment (1997).
48
International Mission Leaders” (EMQ, 1992), “500 Years after Columbus: Requiem
or Te Deum?” (EMQ, 1992), “The Legacy of John Alexander Mackay” (IBMR,
1992), “The Whole Gospel for the Whole World from Latin America”
(Transformation, 1993), “Missions´ New World Order: The Twenty-First Century
Calls for us to Give up our Nineteenth-Century Models for Worldwide Ministry”
(Christianity Today, 1994), “Beyond Liberation Theology: A Review Article”
(Themelios, 1994), “A Missiological Approach to Latin American Protestantism”
(IRM, 1998).20
49
que eles patrocinaram duas grandes conferências mundiais sobre missões e
evangelização.22
50
oradores do terceiro mundo. O impacto de líderes como Samuel Escobar e C.
René Padilla, através do grupo de Discipulado Radical, foi de especial
importância.
Afirmamos que Deus é tanto o Criador como o Juiz de todos os homens. Portanto,
devemos partilhar da sua preocupação com a justiça e a reconciliação em toda a
sociedade humana e com a libertação dos homens de todo tipo de opressão.
Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, não importa qual
seja a sua raça, religião, cor, cultura, classe, sexo ou idade, tem uma dignidade
intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada.
Também aqui manifestamos o nosso arrependimento, tanto pela nossa
negligência quanto por às vezes termos considerado a evangelização e a
preocupação social como mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o
ser humano não seja o mesmo que a reconciliação com Deus, nem a ação social
seja evangelismo, nem a libertação política seja salvação, todavia afirmamos que
tanto a evangelização como o envolvimento socio-político são parte do nosso
dever cristão.27
51
No âmbito continental, Samuel Escobar teve uma importante participação no
Primeiro Congresso Latino-Americano de Evangelização (CLADE I, Bogotá, 1969),
planejado em resposta a pedidos de delegados latino-americanos presentes no
Congresso de Berlim, três anos antes.29 Dentre os 28 discursos principais, a sua
apresentação sobre a responsabilidade social da igreja recebeu a atenção mais
entusiástica. Ele argumentou eloqüentemente que tanto a evangelização quanto a
ação social são necessárias para o testemunho cristão.30 Escobar afirmou a certa
altura:
Orlando Costas comenta que 1969 foi para os protestantes o que 1968 havia sido
para os católicos (II Conferência Episcopal Latino-Americana, em Medellín,
Colômbia). Naquele ano, além do CLADE I, os protestantes latino-americanos
realizaram ainda outra grande conferência – a Conferência Evangélica Latino-
Americana (CELA III), em Buenos Aires. Apesar das diferenças existentes entre os
dois movimentos, Costa vê nos documentos de ambos os eventos a emergência
de novas tendências missiológicas caracterizadas por um tríplice interesse: a
busca de um entendimento histórico de missões, de uma expressão mais
autêntica de unidade cristã no empreendimento missionário e de uma reflexão
missiológica mais séria e profunda. Em sua opinião, essa terceira busca tem
assumido várias formas, uma das quais é o modelo ético-missiológico — missão
da perspectiva de questões éticas — articulado por, entre outros, Samuel Escobar
e C. René Padilla.33
O próprio Escobar acha que o seu modelo pode ser melhor descrito como
“holístico.”34 Ele argumenta que os evangélicos latino-americanos escolheram o
Pacto de Lausanne como uma expressão do seu consenso doutrinário básico e do
seu claro compromisso com um modelo de missão integral e bíblico.35
Em um capítulo sobre a América Latina que escreveu para o livro Toward the
52
Twenty-First Century in Christian Mission (1993), Escobar menciona duas outras
conferências missionárias latino-americanas, ambas realizadas no Brasil. Uma
delas foi o Primeiro Congresso Missionário Latino-Americano (Curitiba, 1976), cujo
pacto manteve a ênfase de Lausanne sobre a preocupação social como parte da
missão da igreja: “Assim como no passado o chamado de Jesus Cristo e da sua
missão foi um chamado para cruzar fronteiras geográficas, hoje o Senhor está nos
chamando para cruzarmos as fronteiras da desigualdade, injustiça e idolatria
ideológica.”36
Ele acha que a base desse questionamento tem sido o compromisso claro com a
tarefa de missões e evangelização, mas também o esforço consciente de executar
essa tarefa segundo moldes bíblicos. Assim sendo, testemunha-se o surgimento
de uma nova teologia contextual que conclama à “integridade” da missão e
procura associar o zelo evangelístico com a paixão holística.39
Ele observa que os grandes missionários dos primeiros 1800 anos da igreja
dificilmente fariam a distinção entre “espiritual” (evangelização) e “o resto,” que
McGavran faz. Eles não procurariam estabelecer prioridades nesses termos, pois
operavam com uma noção bíblica holística do ser humano. O que o movimento do
Crescimento da Igreja necessita é o corretivo de uma sólida teologia bíblica.
Escobar argumenta que o grande dilema para o qual a missiologia deve estar
alerta é diferente: A obra missionária será realizada segundo o modelo de Jesus e
a prática apostólica, ou irá adotar as técnicas e padrões da sociologia
53
funcionalista, do marketing e das relações públicas?41
Se, por um lado, Escobar diverge da escola do Crescimento da Igreja, por outro
lado ele não sente entusiasmo pela Teologia da Libertação. Ele observa como, no
início das missões protestantes na América Latina, o evangelho era a verdadeira
força libertadora nas vidas dos latino-americanos, e a religião oficial uma força
opressora.44 Em décadas recentes, à medida que a Igreja Católica Romana
latino-americana buscou nova relevância social e política, a Teologia da
Libertação foi uma das conseqüências desse processo.
Escobar entende que a Teologia da Libertação é uma voz eloqüente que procura
reinterpretar a história cristã e a mensagem cristã. A missiologia evangélica deve
avaliá-la.45 A Teologia da Libertação confronta a missiologia evangélica com dois
desafios, um na área da consciência histórica e o outro na da hermenêutica. Com
relação ao primeiro, embora Escobar considere inadequadas a análise marxista e
a “escatologia” da Teologia da Libertação, ele admite que a missiologia evangélica
está aprendendo a encarar a história missionária com uma atitude menos ingênua
e mais madura. Ele admite: “Nós não mais podemos aceitar uma missiologia que
recusa-se a levar a sério as realidades políticas e sociais.”46
54
da Fraternidade Teológica Latino-Americana têm refletido sobre o Jesus dos
evangelhos, sobre como a sua obra e ensino são relevantes para todas as áreas
da vida, tanto individual quanto social. Essa reflexão inclui uma crítica do
cristianismo evangélico na América Latina. Escobar cita novamente seu amigo
René Padilla: “(O evangelicalismo) afirma o poder transformador de Cristo em
relação ao indivíduo, mas é totalmente incapaz de relacionar o Evangelho com a
ética social e a vida social.”48
Essa missiologia cristológica busca um novo modelo para inspirar e moldar a ação
missionária. O material bíblico é abordado a partir de várias perspectivas
possuidoras de significado missiológico. Há uma séria reflexão acerca daquilo que
os evangelhos dizem sobre a pessoa e a obra de Jesus de Nazaré. Há também
uma preocupação quanto às marcas da missão de Jesus, com o entendimento de
que ser seu discípulo é ser chamado por ele tanto para conhecê-lo quanto para
participar da sua missão. Além disso, há uma busca do significado e da
“integridade” do evangelho — Jesus Cristo é tanto o conteúdo quanto o modelo e
o alvo da proclamação do evangelho.
Escobar identifica essa reflexão missiológica que está vindo não só da América
Latina, mas também da África e da Ásia, como uma missiologia crítica da periferia.
Ele observa que tal missiologia “é caracterizada por uma forte ênfase
hermenêutica que insiste na importância de ler o mundo e ler a Palavra, mesmo
que essa leitura signifique um exame incômodo e sério da herança evangélica.”49
Ele argumenta que seria grandemente desejável para a globalização das missões
e da teologia evangélica se as diferentes correntes missiológicas do
evangelicalismo (européias, crescimento da igreja, terceiro mundo) pudessem
convergir em um movimento mais articulado e cooperativo para enfrentar a tarefa
missionária do terceiro milênio.
55
dos leigos, suas formas contextualizadas de culto e ação missionária e o destaque
dado ao ministério do Espírito Santo e ao elemento de conflito espiritual
relacionado com a missão da igreja.
Ao mesmo tempo que expressa sua admiração pelas igrejas populares, Escobar
reconhece que, com sua ênfase na conversão de indivíduos ao evangelho, elas
enfrentam os riscos do excesso de individualismo, espírito de competição, falta de
uma eclesiologia clara e atitudes sectárias. Para superar esses problemas ele
novamente propõe o modelo de missão integral, que vai além da experiência
religiosa pessoal para incluir a comunidade e o mundo.53
REFLEXÕES FINAIS
Samuel Escobar não se identifica como um reformado ou calvinista. Sua biografia
e envolvimentos revelam uma conexão preponderante com a tradição anabatista,
uma vez que está filiado à Igreja Menonita. Não obstante, algumas de suas suas
ênfases certamente contariam com o aval de João Calvino e de muitos dos seus
seguidores. Nos escritos do grande reformador, seja em seus comentários, cartas,
sermões ou nas Institutas, vemos uma preocupação constante com as implicações
sociais e comunitárias do Evangelho, fato que tem sido amplamente documentado
por diversos pesquisadores.54 Historicamente, os reformados têm acentuado um
conceito abrangente acerca da missão da igreja, muito embora as suas práticas
nem sempre tenham correspondido às suas convicções.
Não precisamos concordar com tudo o que Samuel Escobar tem escrito. Na
realidade, alguns pontos da sua missiologia merecem reparos, como a sua ênfase
quase que exclusiva sobre as massas empobrecidas da América Latina como
objeto da ação missionária da igreja. Ainda que isso não deixe de ser importante,
o nosso continente testemunha o crescimento cada mais acentuado de uma
classe média significativa que também deve ser alvo do interesse da igreja. Ao
56
lado disso, Escobar tende a superestimar os valores positivos das igrejas
populares, dando pouca atenção a alguns sérios problemas apresentados pelas
mesmas, notadamente nas áreas doutrinária e ética, como é caso de alguns
recentes movimentos neopentecostais.
Não obstante, Escobar e seus colegas têm algo importante a dizer às igrejas
evangélicas históricas da América Latina e do Brasil, que realmente correm o risco
de tornar-se irrelevantes na sociedade caso não despertem para algumas
dolorosas realidades que existem ao seu redor. Tal ocorrência seria um retrocesso
histórico lastimável, pois que a igreja cristã em geral e as igrejas evangélicas de
modo particular têm uma longa e honrosa tradição de “missão integral” ao mundo.
Basta lembrarmos o intenso esforço de missões e de reforma social gerado pelos
grandes despertamentos dos séculos XVIII e XIX, na Europa e nos Estados
Unidos.
Como cristãos brasileiros preocupados tanto com a missão da igreja quanto com
as difíceis realidades sócio-econômicas de nosso país, devemos levar a sério os
desafios desses líderes, que falam com convicção, coerência e clareza sobre a
necessidade de um entendimento abrangente da tarefa da igreja no mundo, como
agente e instrumento de Deus. Como Escobar destaca, a atitude e as ações de
Deus em relação ao mundo, especialmente como reveladas no seu Filho, Jesus
Cristo, são o nosso grande paradigma de missão. A Bíblia fala de um Deus que
toma a iniciativa, que busca a humanidade com amor e compaixão, que quer dar
vida e dignidade à sua criação. Isso foi ilustrado de maneira extraordinária por
Jesus, quando, em seu ministério terreno, manifestou o interesse de Deus por
57
todos os tipos de pessoas e pela pessoa integral.
58
1517-1948, eds. Ruth Rouse e Stephen C. Neill, 3ª ed., 353-402 (Genebra: World
Council of Churches, 1986).
Daí o subtítulo utilizado: “Para considerar os problemas missionários relativos ao
mundo não-cristão.”
William R. Hogg, Ecumenical Foundations: A History of the International
Missionary Council and its Nineteenth-Century Background (Nova York: Harper
and Brothers, 1952), 131-32.
John Kessler e Wilton M. Nelson, “Panamá 1916 y su Impacto sobre el
Protestantismo Latinoamericano,” Pastoralia 1/2, ed. especial (Novembro 1978): 5-
21.
Entre os latino-americanos presentes no congresso estavam apenas três
brasileiros, os presbiterianos Eduardo Carlos Pereira, Álvaro Reis e Erasmo
Braga. Erasmo eventualmente tornou-se o secretário da Comissão Brasileira de
Cooperação, entidade que promoveu o maior esforço cooperativo até hoje
empreendido pelas igrejas evangélicas brasileiras e foi precursora da
Confederação Evangélica do Brasil.
O historiador Sidney Rooy identifica uma seqüência de três séries ou ciclos de
encontros do protestantismo latino-americano. Ver Samuel Escobar, “Los
‘CLADEs’ y la Misión de la Iglesia,” Iglesia y Misión 67/68 (Jan-Jul 1999), 20.
Um dos primeiros e mais importantes articuladores dessa teologia foi o sacerdote
peruano Gustavo Gutiérrez, autor de Uma Teologia da Libertação (1971). Outros
nomes importantes no campo católico são Juan Luis Segundo, Jon Sobrino, José
Porfirio Miranda, Hugo Assmann, Henrique Dussel e Leonardo Boff; no campo
protestante destacaram-se José Miguez Bonino e Rubem Alves, entre outros.
Entre os evangélicos conservadores, o órgão cooperativo correspondente ao CLAI
é a Confraternidade de Evangélicos da América Latina (CONELA).
Os próprios locais dessas conferências e congressos são reveladores. Das três
CELAs, duas realizaram-se na cosmopolita e culta Buenos Aires, enquanto que
todos os CLADEs ocorreram nos países andinos, com seus enormes problemas
sociais e suas dinâmicas igrejas populares.
Citado por Tito Paredes em “Visión Histórica de los ‘CLADEs’,” Iglesia y Misión
67/68 (Jan-Jul 1999), 13.
Escobar, “Los ‘CLADEs’ y la Misión de la Iglesia,” 22.
Os critérios de seleção procuram ser os mais abrangentes possíveis em termos de
faixas etárias dos participantes, sexo, identidade étnica e filiação eclesiástica.
Neste último aspecto, metade das inscrições é reservada para participantes
pentecostais. Iglesia y Misión 67/68 (Jan-Jul 1999), 35.
Outros membros bem conhecidos da Fraternidade Teológica são C. René Padilla,
Rolando Gutiérrez, Tito Paredes, Emílio A. Núnez e o brasileiro Valdir
Steuernagel.
Sobre a sua relação com o Brasil, o próprio Escobar afirma em uma obra recente:
“Desde a minha primeira visita ao Brasil, em 1953, como jovem delegado peruano
a um congresso mundial da juventude batista, apaixonei-me por esse imenso país.
Em 1959 e 1960 percorri como evangelista e discipulador um bom número de
centros universitários. Cheguei de avião, um velho Catalina da Panair, de Iquitos,
na selva peruana, até Manaus. Dali percorri o Norte e o Nordeste, até chegar a
São Paulo, onde, entre 1962 e 1964, trabalhei como missionário na frente
59
estudantil, nos primeiros anos da Aliança Bíblica Universitária.” Samuel Escobar,
Desafios da Igreja na América Latina: História, Estratégia e Teologia de Missões
(Viçosa, MG: Editora Ultimato, 1997), 11.
Por força de suas ocupações, Escobar também foi responsável por vários
periódicos. Por exemplo, ele foi editor de Certeza, uma revista para estudantes
universitários, e diretor de Pensamiento Cristiano, um órgão de exposição do
pensamento evangélico, publicado na Argentina.
Por exemplo, em 1982 Escobar participou da Consulta de Teólogos do Terceiro
Mundo, realizada em Seul, na Coréia do Sul. A revista Evangelical Review of
Theology, órgão oficial da referida Comissão Teológica, publicou os trabalhos
apresentados nessa consulta, um deles escrito por Escobar e três colegas latino-
americanos. Ver Samuel Escobar, Pedro Arana, Valdir Steuernagel e Rodrigo
Zapata, “A Latin American Critique of Latin American Theology,” Evangelical
Review of Theology 7, nº 1 (abril 1983): 48-62. Mais recentemente, em março de
1998, Escobar participou de uma conferência sobre economia e missões
promovida pelo Concílio de Ministérios Internacionais das igrejas menonitas norte-
americanas. Segundo o Mennonite Brethren Herald, “o missiologista Samuel
Escobar disse que um conceito holístico de missão conclama os cristãos a
compartilhar tanto a vida espiritual quanto recursos materiais e a utilizar
instrumentos espirituais, culturais e tecnológicos.”
Escobar também leciona no curso de Administração do Eastern College, em nível
de pós-gradução. Seu papel principal é ajudar os estudantes a considerar as
missões cristãs no contexto da justiça econômica.
Também publicado em Annals of the American Academy of Political & Social
Science 554 (Nov 1997).
Para os leitores não familiarizados com o inglês, esta é a tradução dos títulos dos
artigos de Escobar: “A responsabilidade social da igreja na América Latina”; “Além
da teologia da libertação: missiologia evangélica na América Latina”;
“Transformação em Ayacucho: da violência à paz e esperança”; “Missões e
renovação no catolicismo latino-americano”; “O recrutamento de estudantes para
missões”; “A missiologia de McGavran foi devorada por um leão?”; “De Lausanne
1974 até Manilla 1989: a peregrinação da missão urbana”; “Um movimento
dividido: três abordagens da evangelização mundial permanecem em tensão entre
si”; “Teologia evangélica na América Latina: o desenvolvimento de uma cristologia
missiológica”; “Missão na América Latina: uma perspectiva evangélica”;
“Elementos de estilo na formação de novos líderes missionários internacionais”;
“500 anos após Colombo: Requiem ou Te Deum?”; “O legado de John A. Mackay”;
“O evangelho inteiro para o mundo inteiro a partir da América Latina”; “A nova
ordem mundial das missões: o século XXI nos conclama a abandonarmos nossos
modelos de ministério mundial procedentes do século XIX”; “Além da teologia da
libertação: artigo-resenha” e “Uma abordagem missiológica do protestantismo
latino-americano.”
Como no Brasil, historicamente, o termo “evangélico” tem sido virtualmente
sinônimo de “protestante,” os estudiosos estão utilizado o anglicismo “evangelical”
para designar especificamente os evangélicos conservadores, em distinção dos
progressistas ou liberais, como ocorre nos Estados Unidos. David Bosch
menciona pelo menos seis tipos básicos: (1) novos evangelicais (como Billy
60
Graham), que tentam unificar todos os evangelicais; (2) evangelicais separatistas
(como Carl McIntire e o seu Concílio Internacional de Igrejas Cristãs); (3)
evangelicais por confissão (como Peter Beyerhaus); (4) evangelicais pentecostais
e carismáticos; (5) evangelicais radicais (como Samuel Escobar, René Padilla e
Orlando Costas); e (6) evangelicais ecumênicos (como John Stott, Festo
Kivengere e Arthur Glasser). Ver Internet, www.homenet.com.br/cem/postura.html.
61
Escobar, “Mission in Latin America,” 241.
Escobar, “Latin America,” 134. “Anômicas” deriva de “anomia,” a instabilidade
social resultante do colapso dos padrões e valores; no sentido individual, significa
a inquietação, alienação e incerteza que decorre da ausência de propósito ou
ideais.
Samuel Escobar, “Beyond Liberation Theology: Evangelical Missiology in Latin
America,” International Bulletin of Missionary Research 6 (Julho 1982), 108.
Ibid., 110.
Ibid., 111.
Samuel Escobar, “Evangelical Theology in Latin America: The Development of a
Missiological Christology,” Missiology 19 (Julho 1991), 316.
Ibid., 321.
Ibid., 328.
Samuel Escobar, “The Elements of Style in Crafting New International Mission
Leaders,” Evangelical Missions Quarterly 28 (Janeiro 1992), 7.
Escobar, Desafios da Igreja na América Latina, 19.
Ibid., 48. Há poucos anos, Escobar participou de mais uma consulta da Comissão
Teológica da Fraternidade Evangélica Mundial. Tal consulta, realizada em Londres
de 9 a 14 de abril de 1996, teve como tema “Fé e Esperança para o Futuro: Por
Uma Teologia Evangélica Vital e Coerente para o Século XXI.” Escobar foi o autor
de um dos seis estudos apresentados ao plenário, sob o título “Discernindo o
Espírito na América Latina,” em que revela o seu grande interesse pela dimensão
pneumatológica da missão da igreja e conclama os evangélicos a estarem
receptivos ao novo vento do Espírito que sopra na igreja, gerando uma
espiritualidade nova e radical. Samuel Escobar, “Mañana – Discerning the Spirit in
Latin America,” Evangelical Review of Theology 20/4 (Outubro 1996).
Escobar, Desafios da Igreja na América Latina, 64. É o caso de André Biéler, O
Pensamento Econômico e Social de Calvino, trad. Waldyr Carvalho Luz (São
Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990). Ver também, do autor do presente
artigo, “Amando a Deus e ao Próximo: João Calvino e o Diaconato em Genebra,”
Fides Reformata 2:2 (Jul-Dez 1997), 69-88, e “Jonathan Edwards: Teólogo do
Coração e do Intelecto,” Fides Reformata 3:1 (Jan-Jun 1998), 72-87
Parte XV
A MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA
Introdução:
Que é missão integral? O que envolve a missão da Igreja a ponto de
investigarmos o que é mito e o que é realidade?
62
autores que não aparecem no livro de Steuernagel. Além disso, obras como as de
René Padilla e Timóteo Carriker são dignas de nota, conforme observamos no
capítulo sobre o conceito de missão integral da Igreja na teologia contemporânea.
Por causa dessa variedade de autores foi preciso adotar alguns critérios, vez ou
outra mencionados no corpo deste trabalho.
63
e ação social "a evangelização tem uma certa prioridade. Não estamos falando em
prioridade temporal, mas em prioridade lógica, pois há situações em que o
ministério social precisa vir primeiro" (STOTT, 1983, p. 23).
E na prática?
E mais: "A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na
totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é
morta" (Idem, V).
64
particular das teologias do evangelho social e da libertação, foi um dos fatores que
colaboraram para a polarização entre evangelização e a ação social no meio
evangélico. O esforço de se combater a teologia do evangelho social e depois a
teologia da libertação (por causa da ênfase social à parte do evangelho bíblico e
de uma filosofia marxista, principalmente desta última), provocou um mal-estar na
igreja brasileira. Resultado: No afã de se preservar o espiritual, a Igreja acabou se
equivocando e não enxergou a mensagem social autêntica que o mesmo
evangelho oferecia.
Veremos a seguir que pelo menos três fatores contribuíram negativamente para o
surgimento do mito da dicotomia humana, isto é, o platonismo, a influência
missionária européia e norte-americana e a teologia sistemática.
Norman L. Geisler (1985, p. 154) observa que parte do descuido do "homem total"
tem sua origem na ênfase platônica não-cristã sobre a dualidade do ser humano.
"Esta ênfase foi dirigida pelos cristãos na Idade Média e tem sido transmitida para
o presente". Em síntese o platonismo argumenta que o ser humano é
essencialmente um ser espiritual e que apenas tem conexão funcional com um
corpo que, na melhor das hipóteses, é um impedimento e, na pior, um grande mal.
A correção deste erro está no ensino bíblico acerca da unidade essencial do ser
65
humano.
Outro fator que infelizmente tem colaborado para a dicotomia humana é a teologia
sistemática, independente de sua linha confessional. Embora a teologia
sistemática seja uma tentativa interessante de organizar em um ou mais
compêndios conceitos e pensamentos religiosos variados, é preciso ter cautela
com a mesma. Bruce A. DEMAREST, em seu artigo Teologia Sistemática (In
EHTIC1990, p. 515), faz uma advertência importante:
66
1.2. A realidade da missão integral da Igreja
Por mais óbvia que pareça esta afirmação, sabemos que a ortopraxia da missão
integral não é tão óbvia como deveria ser. Não é fácil inculcar na cabeça do nosso
povo que o envolvimento da Igreja deve ser total. Não só no que se refere ao
indivíduo, mas também à criação de Deus em geral. Onde está, por exemplo, a
consciência ecológica da Igreja? (4)
Além disso, a Igreja como sal da terra e luz do mundo deve fazer a diferença nos
vários setores da sociedade, principalmente no socorro aos menos favorecidos.
67
esperanças da sociedade e a medida em que seu serviço ajuda a aliviar a dor
humana e a transformar as condições sociais que têm condenado milhões de
homens, mulheres e crianças à pobreza. Sem esta dimensão a igreja perde sua
autenticidade e credibilidade, pois somente na medida em que conseguir dar
visibilidade e concreticidade à sua vocação de amor e serviço ela pode esperar
ser ouvida e respeitada. (COSTAS, 1994, pp. 113,4).
Quando dizemos que a missão integral da Igreja é bíblica, significa que ela (a
missão integral da Igreja) não é uma filosofia cega ou um modismo passageiro. A
missão da Igreja não é filosofia e muito menos modismo. É uma verdade bíblica
que precisa ser resgatada e praticada em sua totalidade. A Bíblia não existe para
o deleite de nossa mente carnal. A Bíblia não incentiva nenhum blá-blá-blá teórico
desinteressado. A Bíblia é doutrina e prática. A opção por apenas um desses seus
aspectos (doutrina ou prática) causará profunda ojeriza em Deus. Sua Palavra é
um todo, como um todo deve ser a missão integral de Sua Igreja.
Tanto no Antigo como no Novo Testamentos a Bíblia ordena à igreja que ministre
à pessoa como um todo. Isto quer dizer que se deve atender tanto às
necessidades físicas como às espirituais, que estão inseparavelmente
relacionadas, ainda que sejam separadas em termos funcionais.
68
Segue abaixo uma abordagem resumida sobre o assunto.
a. No Antigo Testamento
b. No Novo Testamento
Em Mateus 4.23 lemos também: "Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas
sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e
enfermidades entre o povo". E ainda em Mateus (cap. 25) notamos que além da
questão do se "fazer igualmente a Cristo", a nossa atitude para com os
desfavorecidos deste mundo será um critério importante de julgamento no Juízo
Final.
69
ministérios. Veja por exemplo Atos 5 e 6.
Várias igrejas foram orientadas por cartas a agirem com a mesma visão de
integralidade bíblica dos apóstolos. Destacamos, dentre outras, as igrejas de
Corinto (II Co 8 e 9), da Galácia (Gl 6.2-10) e das doze tribos da dispersão (Tg 2.
1-7,14-26; 5.1-6).
No Antigo Testamento Javé é o Deus soberano sobre toda a sua criação. Esta
imagem de Deus está no coração do Novo Testamento também. Um Deus
soberano e misericordioso é o ator último das parábolas de Jesus. É este Deus
salvador que alcança além das leis judaicas. Sua aproximação do homem exige a
atitude de conversão. O seu reino tem um escopo universal até cósmico. Os
marginalizados, mulheres, samaritanos, e gentios recebem a misericórdia de
Deus.
Deus tem um plano salvífico que alcança tanto judeu quanto gentio, e Ele vai
cumpri-lo. A confiança no cumprimento do seu plano dá a igreja motivação para
perseverar até o fim.
70
participação da igreja na evangelização mundial tem pouca significância. Muito
pelo contrário, a missio Dei exige os missiones eclesiae. São praticamente dois
lados da mesma moeda.
É na nossa história humana que Deus se revela e o faz com movimento para
frente. Percebemos, através da história, a sua conclusão. Assim, a perspectiva
cristã da história é essencialmente escatológica. A humanidade está indo na
direção do cumprimento, julgamento e salvação, e este movimento entrou na sua
fase final com a ressurreição de Cristo. Hoje é o dia da salvação.
Padilla desenvolve seu tratado em termos de desafios. Diz ele que o maior desafio
que a igreja enfrenta atualmente é o desafio da missão integral (1992, p. 139).
O desafio da missão integral, por sua vez, subdivide-se em outros três, a saber: O
desafio da evangelização e do discipulado, o desafio da colaboração e da unidade
e o desafio do desenvolvimento e da justiça. Seus argumentos principais são os
seguintes:
Porque há um mundo, uma igreja e um evangelho, a missão cristã não pode ser
71
outra coisa que missão realizada em colaboração mútua. Chegou o momento de
encontrar maneiras de reduzir a distância entre as igrejas no Ocidente e no
Terceiro Mundo. Já há experiências úteis que estão sendo levadas a cabo com
este propósito, mas é necessário fazer muito mais para desenvolver modelos de
solidariedade acima das barreiras políticas, econômicas, sociais e culturais, e para
estimular a colaboração mútua entre as igrejas.
O desafio tanto para os cristãos no Ocidente como para os cristãos nos países
subdesenvolvidos é criar modelos de missão centrados num estilo de vida
profético, modelos que apontem para Jesus Cristo como Senhor da totalidade da
vida, à universalidade da igreja e à interdependência dos seres humanos no
mundo.
Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a
ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que
evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever
cristão.
É preciso sim que a Igreja seja a consciência da sociedade e a voz profética que
denuncia os desmandos desta mesma sociedade. Não devemos, como Igreja de
72
Cristo, partir para a ignorância e violência, mas podemos e devemos fazer
confrontações sociais sérias. Confrontação não é violência. Robert C. Linthicum
(1996, pp. 171,2) explica:
Por outro lado, violência é o exercício da força física, a fim de ganhar uma disputa.
Enquanto a confrontação é verbal, a violência é física. De uma forma mais
profunda, essas palavras não são sinônimas, e sim antônimas, pois, em sua
própria natureza, um ato de violência é a indicação de que a confrontação falhou.
A confrontação boa e eficaz nunca deve levar à violência, mas à resolução do
problema.
E até onde podemos e devemos ir nesta questão toda? Até onde os direitos sejam
verdadeiramente assegurados, o amor ao próximo evidenciado, a moral
dignificada, o evangelho e o bom testemunho não sejam prejudicados e,
sobretudo, o nome de Jesus seja glorificado.
O governo tem (e como tem!) suas culpas e responsabilidades, mas não podemos
ficar indiferentes ao que ocorre em nossa volta, simplesmente criticando por
criticar o governo. Pesa (e como pesa!) sobre o povo de Deus também a
responsabilidade pelo bem-estar social do nosso país.
73
propósitos e se amava de verdade. Internamente ela estava pegando fogo,
desejosa de pregar o evangelho, em obediência ao mandado de Cristo. Porém,
externamente os desafios eram humanamente insuperáveis. Pilatos, Herodes e
muita gente se levantaram contra a Igreja de Deus. Então a Igreja orou: "agora,
Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem
com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes as mãos para fazer curas,
sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus" (At 4.29,30).
E Deus atendeu ao clamor de sua Igreja (At 4.31). Atendeu porque a Igreja deixou
de lado seus próprios interesses para servir ao mundo. Hoje, o que muito se vê, à
nível de igreja local, é a própria igreja criando obstáculos para não fazer a obra do
Senhor. Externamente desfruta-se de uma liberdade religiosa como nunca se viu,
mas internamente muito de nossas igrejas estão enfermas, quando na verdade
eram elas que deveriam estar curando!
A seguir daremos duas sugestões práticas para que esse quadro sombrio possa
se reverter.
O que muito tem contribuído para um mau desempenho da Igreja em sua missão
integral é a falta de estruturas que funcionem. Estruturas enrijecidas pelo
tradicionalismo matam ou impedem a visão de uma igreja.
Contudo, por uma questão de prudência e respeito àqueles que não pensam como
nós, é preciso que os paradigmas sejam quebrados aos poucos. As idéias devem
ser amadurecidas no meio da comunidade, sem atropelos, mas progressivamente.
Uma coisa aprendi em meus poucos anos de ministério pastoral: Se a igreja não
comprar a nossa idéia, não será por meio de decreto conciliar que conseguiremos
74
qualquer êxito. Um diálogo franco, aberto e amigável é a chave do sucesso.
E como revitalizar uma igreja que começou com tanto entusiasmo por missões e
de repente esfriou? Em primeiro lugar é preciso reconscientizar a igreja de sua
missão no mundo. Em segundo lugar é preciso conscientizá-la de que ela está no
mundo para servir o mundo integralmente.
Se a igreja chegou a se empolgar com missão algum dia, é sinal que ela tem
potencial para fazer, com a graça de Deus, o que fez antes. Sermões e estudos
bíblicos missionários, filmes específicos como As Primícias, Etal e Atrás do Sol,
além do auxílio de uma boa agência ou junta missionária, com certeza produzirão
novo alento. Geralmente a frieza por missões acontece por causa da rotina. Uma
vez que o mal foi detectado é necessário que seja combatido com atividades
variadas.
O mais importante é que a igreja seja cientificada de que sua missão no mundo é
integral. Evangelizar não é simplesmente distribuir folhetos como alguns pensam,
mas sim, atender o indivíduo na totalidade de suas necessidades. Por isso
mesmo, a Igreja nunca deveria deixar se levar pela prática do paternalismo e
assistencialismo paliativos, porém, deveria partir sempre para uma ação social
transformadora, do indivíduo e da sociedade, para a honra e glória de Deus Pai.
Cada igreja deve refletir sobre sua motivação em praticar evangelismo e ação
social, e todas as atividades nestas direções devem estar debaixo do serviço a
Deus em primeiro lugar (A. C. BARRO, sem data, p. 5). O ponto de partida é o
parâmetro bíblico e o contexto da igreja local.
Conclusão:
Missão integral é uma realidade bíblica. Os mitos não fazem sentido quando são
75
resultados baratos de um reducionismo evangélico, polarização entre
evangelização e ação social, e quando se deixa de contemplar o indivíduo em sua
totalidade. Os mitos (pelo menos os que aqui estudamos) deturpam a missão
integral da Igreja.
Se queremos atentar para o ensino bíblico, então devemos almejar por uma igreja
brasileira autêntica, que não seja ela mesma um mito, mas a realidade bíblica de
uma missão integral em nossa sociedade.
Bibliografia
ALLEN, E. Anthony. Saúde integral a partir da igreja local. Londrina/Curitiba:
Descoberta, 1998.
CARRIKER, C. Timóteo. Missão integral: Uma teologia bíblica. São Paulo: Editora
Sepal, 1992.
ESCOBAR, Samuel et al. Tive fome: Um desafio a servir a Deus no mundo. V.1.
Série Lausanne. São Paulo/Belo Horizonte: ABU/Visão Mundial, 1989.
76
KIVITZ, Ed René. Quebrando paradigmas. São Paulo: Abba press, 1995.
STOTT, John R.W. O cristão em uma sociedade não cristã. Niterói: Vinde, 1989.
ZANDRINO, Dr. Ricardo. Curar também é tarefa da igreja. São Paulo: Nascente,
1986.
Parte XVI
A MISSÃO DA IGREJA
Uma perspectiva latino-americana
Uma das questões mais cruciais da missiologia é a definição do próprio conceito
de missão. O que se deve entender por missões cristãs? Quais são a natureza e
os objetivos da missão da igreja? Evidentemente essas perguntas podem receber
uma grande variedade de respostas a partir de diferentes pressupostos e
compromissos teológicos. Uma antiga abordagem foi o debate em torno de
77
evangelização e “civilização.”1 Hoje é mais comum falar-se em evangelismo e
responsabilidade social. Diferentes autores do século XX têm procurado expressar
a missão da igreja em termos de desenvolvimento, presença cristã, diálogo inter-
religioso, justiça e paz, diaconia e outros conceitos.
I. ANTECEDENTES
78
Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos,
convidou vários delegados interessados na América Latina a se reunirem
informalmente para discutir como essa lacuna poderia ser suprida. Como
resultado desses entendimentos, realizou-se em Nova York, em março de 1913,
uma conferência sobre missões na América Latina, sob os auspícios da
Conferência de Missões Estrangeiras da América do Norte.4 Essa conferência
criou a Comissão de Cooperação na América Latina (CCLA), tendo como
presidente o próprio Robert Speer e como secretário executivo Samuel Guy
Inman.
Por sua vez, a CCLA patrocinou o Congresso de Ação Cristã na América Latina,
reunido no Panamá em fevereiro de 1916, o maior encontro das forças
protestantes desse continente realizado até aquela data. O Congresso mostrou a
necessidade de maior cooperação em áreas como educação religiosa, missões,
literatura e formação teológica. Mais especificamente, suas metas principais foram
a evangelização das classes cultas, a unificação da educação teológica através de
seminários unidos, o desejo de dar uma dimensão social ao trabalho missionário
na América Latina e o esforço em promover a unidade protestante.5
79
histórico declinante do hemisfério norte, buscava aproximar-se do catolicismo
posterior ao Concílio Vaticano II (1962-1965) e procurava responder à difícil
situação social do continente com uma teologia radical, que eventualmente
identificou-se com a célebre “teologia da libertação.”
O primeiro CLADE foi organizado pela Associação Evangelística Billy Graham, sob
o impulso do Congresso Mundial de Evangelização (Berlim, 1966), convocado
pela revista evangélica Christianity Today. O CLADE I permitiu que líderes
preocupados em relacionar a fé evangélica com a realidade latino-americana
compartilhassem as suas inquietações. Para Valdir Steuernagel, esse congresso
teve duas marcas distintivas:
80
Foi no CLADE I que se articulou a criação da Fraternidade Teológica Latino-
Americana, organizada no ano seguinte em Cochabamba, Bolívia, tendo Pedro
Savage como seu primeiro secretário e Samuel Escobar como seu primeiro
presidente. Escobar assim expressou os objetivos da Fraternidade:
81
Filadélfia, Estados Unidos.18 Ele também leciona sobre missões em seu país
natal, o Peru.
Samuel Escobar é autor de vários livros sobre teologia e missiologia: Diálogo entre
Cristo y Marx (1967), Quien es Cristo Hoy? (1970, com C. René Padilla),
Decadencia da la Religión (1972), Christian Mission and Social Justice (1978, com
John Driver), Irrupción Juvenil (1978), La Fe Evangelica y las Teologías de la
Liberación (1987), Evangelio y Realidad Social (1988), Liberation Themes in
Reformational Perspective (1989), Paulo Freire: Una Pedagogia Latinoamericana
(1993), entre outros. Um dos seus livros mais recentes é Desafios da Igreja na
América Latina: História, Estratégia e Teologia de Missões, publicado em 1998
pela Editora Ultimato.
Escobar também escreveu diversos ensaios que foram publicados como capítulos
de livros. Alguns títulos representativos podem dar-nos uma idéia de seus temas
prediletos: “Social Concern and World Evangelism,” em Christ the Liberator (1971);
“The Social Impact of the Gospel,” em Is Revolution Change? (1972); “Evangelism
and Man´s Search for Freedom, Justice and Fulfillment,” em Let the Earth Hear His
Voice (1974); “The Role of Translation in Developing Indigenous Theologies: A
Latin American View,” em Bible Translation and the Spread of the Church (1990);
“Latin America,” em Toward the Twenty-First Century in Christian Mission (1993);
“A Pauline Paradigm of Mission: A Latin American Reading,” em The Good News
of the Kingdom (1993); “La Presencia Protestante en America Latina: Conflicto de
Interpretaciones,” em Historia y Misión: Revisión de Perspectivas (1994); “The
Church in Latin America after Five Hundred Years” e “Conflict of Interpretations of
Popular Protestantism,” em New Face of the Church in Latin America: Between
Tradition and Change (1994); “The Search for a Missiological Christology in Latin
America,” em Emerging Voices in Global Christian Theology (1994); “The Training
of Missiologists for a Latin American Context,” em Missiological Education for the
Twenty-First Century (1996); “Religion and Social Change at the Grass Roots in
Latin America,”19 em The Role of NGOs: Charity and Empowerment (1997).
82
of a Missiological Christology” (Missiology, 1991), “Mission in Latin America: An
Evangelical Pespective” (Missiology, 1992), “The Elements of Style in Crafting New
International Mission Leaders” (EMQ, 1992), “500 Years after Columbus: Requiem
or Te Deum?” (EMQ, 1992), “The Legacy of John Alexander Mackay” (IBMR,
1992), “The Whole Gospel for the Whole World from Latin America”
(Transformation, 1993), “Missions´ New World Order: The Twenty-First Century
Calls for us to Give up our Nineteenth-Century Models for Worldwide Ministry”
(Christianity Today, 1994), “Beyond Liberation Theology: A Review Article”
(Themelios, 1994), “A Missiological Approach to Latin American Protestantism”
(IRM, 1998).20
83
especialmente entre 1948 e 1975. Ele observa que, em meados da década de 60,
os evangélicos começaram a constituir uma comunidade verdadeiramente global
com uma visão abrangente de missões, em particular depois de 1966, o ano em
que eles patrocinaram duas grandes conferências mundiais sobre missões e
evangelização.22
84
de abertura, diversidade de perspectivas e profundidade de análise jamais
alcançado anteriormente em uma assembléia evangélica.”26 Uma das grandes
influências nas deliberações do congresso veio através das contribuições de
oradores do terceiro mundo. O impacto de líderes como Samuel Escobar e C.
René Padilla, através do grupo de Discipulado Radical, foi de especial
importância.
Afirmamos que Deus é tanto o Criador como o Juiz de todos os homens. Portanto,
devemos partilhar da sua preocupação com a justiça e a reconciliação em toda a
sociedade humana e com a libertação dos homens de todo tipo de opressão.
Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, não importa qual
seja a sua raça, religião, cor, cultura, classe, sexo ou idade, tem uma dignidade
intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada.
Também aqui manifestamos o nosso arrependimento, tanto pela nossa
negligência quanto por às vezes termos considerado a evangelização e a
preocupação social como mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o
ser humano não seja o mesmo que a reconciliação com Deus, nem a ação social
seja evangelismo, nem a libertação política seja salvação, todavia afirmamos que
tanto a evangelização como o envolvimento socio-político são parte do nosso
dever cristão.27
85
interesse pela integridade do Evangelho que nos motiva a acentuarmos a sua
dimensão social.28
Orlando Costas comenta que 1969 foi para os protestantes o que 1968 havia sido
para os católicos (II Conferência Episcopal Latino-Americana, em Medellín,
Colômbia). Naquele ano, além do CLADE I, os protestantes latino-americanos
realizaram ainda outra grande conferência – a Conferência Evangélica Latino-
Americana (CELA III), em Buenos Aires. Apesar das diferenças existentes entre os
dois movimentos, Costa vê nos documentos de ambos os eventos a emergência
de novas tendências missiológicas caracterizadas por um tríplice interesse: a
busca de um entendimento histórico de missões, de uma expressão mais
autêntica de unidade cristã no empreendimento missionário e de uma reflexão
missiológica mais séria e profunda. Em sua opinião, essa terceira busca tem
assumido várias formas, uma das quais é o modelo ético-missiológico — missão
da perspectiva de questões éticas — articulado por, entre outros, Samuel Escobar
e C. René Padilla.33
O próprio Escobar acha que o seu modelo pode ser melhor descrito como
“holístico.”34 Ele argumenta que os evangélicos latino-americanos escolheram o
Pacto de Lausanne como uma expressão do seu consenso doutrinário básico e do
86
seu claro compromisso com um modelo de missão integral e bíblico.35
Em um capítulo sobre a América Latina que escreveu para o livro Toward the
Twenty-First Century in Christian Mission (1993), Escobar menciona duas outras
conferências missionárias latino-americanas, ambas realizadas no Brasil. Uma
delas foi o Primeiro Congresso Missionário Latino-Americano (Curitiba, 1976), cujo
pacto manteve a ênfase de Lausanne sobre a preocupação social como parte da
missão da igreja: “Assim como no passado o chamado de Jesus Cristo e da sua
missão foi um chamado para cruzar fronteiras geográficas, hoje o Senhor está nos
chamando para cruzarmos as fronteiras da desigualdade, injustiça e idolatria
ideológica.”36
Ele acha que a base desse questionamento tem sido o compromisso claro com a
tarefa de missões e evangelização, mas também o esforço consciente de executar
essa tarefa segundo moldes bíblicos. Assim sendo, testemunha-se o surgimento
de uma nova teologia contextual que conclama à “integridade” da missão e
procura associar o zelo evangelístico com a paixão holística.39
Ele observa que os grandes missionários dos primeiros 1800 anos da igreja
dificilmente fariam a distinção entre “espiritual” (evangelização) e “o resto,” que
McGavran faz. Eles não procurariam estabelecer prioridades nesses termos, pois
operavam com uma noção bíblica holística do ser humano. O que o movimento do
Crescimento da Igreja necessita é o corretivo de uma sólida teologia bíblica.
87
Escobar argumenta que o grande dilema para o qual a missiologia deve estar
alerta é diferente: A obra missionária será realizada segundo o modelo de Jesus e
a prática apostólica, ou irá adotar as técnicas e padrões da sociologia
funcionalista, do marketing e das relações públicas?41
Se, por um lado, Escobar diverge da escola do Crescimento da Igreja, por outro
lado ele não sente entusiasmo pela Teologia da Libertação. Ele observa como, no
início das missões protestantes na América Latina, o evangelho era a verdadeira
força libertadora nas vidas dos latino-americanos, e a religião oficial uma força
opressora.44 Em décadas recentes, à medida que a Igreja Católica Romana
latino-americana buscou nova relevância social e política, a Teologia da
Libertação foi uma das conseqüências desse processo.
Escobar entende que a Teologia da Libertação é uma voz eloqüente que procura
reinterpretar a história cristã e a mensagem cristã. A missiologia evangélica deve
avaliá-la.45 A Teologia da Libertação confronta a missiologia evangélica com dois
desafios, um na área da consciência histórica e o outro na da hermenêutica. Com
relação ao primeiro, embora Escobar considere inadequadas a análise marxista e
a “escatologia” da Teologia da Libertação, ele admite que a missiologia evangélica
está aprendendo a encarar a história missionária com uma atitude menos ingênua
e mais madura. Ele admite: “Nós não mais podemos aceitar uma missiologia que
recusa-se a levar a sério as realidades políticas e sociais.”46
88
René Padilla, enfatize “o discipulado cristão como algo que implica em colocar a
totalidade da vida debaixo do senhorio de Jesus Cristo.”47 Contra o Cristo
“docético” do catolicismo latino-americano tradicional, Escobar e os seus colegas
da Fraternidade Teológica Latino-Americana têm refletido sobre o Jesus dos
evangelhos, sobre como a sua obra e ensino são relevantes para todas as áreas
da vida, tanto individual quanto social. Essa reflexão inclui uma crítica do
cristianismo evangélico na América Latina. Escobar cita novamente seu amigo
René Padilla: “(O evangelicalismo) afirma o poder transformador de Cristo em
relação ao indivíduo, mas é totalmente incapaz de relacionar o Evangelho com a
ética social e a vida social.”48
Essa missiologia cristológica busca um novo modelo para inspirar e moldar a ação
missionária. O material bíblico é abordado a partir de várias perspectivas
possuidoras de significado missiológico. Há uma séria reflexão acerca daquilo que
os evangelhos dizem sobre a pessoa e a obra de Jesus de Nazaré. Há também
uma preocupação quanto às marcas da missão de Jesus, com o entendimento de
que ser seu discípulo é ser chamado por ele tanto para conhecê-lo quanto para
participar da sua missão. Além disso, há uma busca do significado e da
“integridade” do evangelho — Jesus Cristo é tanto o conteúdo quanto o modelo e
o alvo da proclamação do evangelho.
Escobar identifica essa reflexão missiológica que está vindo não só da América
Latina, mas também da África e da Ásia, como uma missiologia crítica da periferia.
Ele observa que tal missiologia “é caracterizada por uma forte ênfase
hermenêutica que insiste na importância de ler o mundo e ler a Palavra, mesmo
que essa leitura signifique um exame incômodo e sério da herança evangélica.”49
Ele argumenta que seria grandemente desejável para a globalização das missões
e da teologia evangélica se as diferentes correntes missiológicas do
evangelicalismo (européias, crescimento da igreja, terceiro mundo) pudessem
convergir em um movimento mais articulado e cooperativo para enfrentar a tarefa
missionária do terceiro milênio.
89
elaborado com base em convicções bíblicas, experiência de vida, consciência
histórica e preocupação pastoral.”51 Mais uma vez ele expressa o seu entusiasmo
pelo protestantismo popular (pentecostalismo) devido a sua ênfase na mobilização
dos leigos, suas formas contextualizadas de culto e ação missionária e o destaque
dado ao ministério do Espírito Santo e ao elemento de conflito espiritual
relacionado com a missão da igreja.
Ao mesmo tempo que expressa sua admiração pelas igrejas populares, Escobar
reconhece que, com sua ênfase na conversão de indivíduos ao evangelho, elas
enfrentam os riscos do excesso de individualismo, espírito de competição, falta de
uma eclesiologia clara e atitudes sectárias. Para superar esses problemas ele
novamente propõe o modelo de missão integral, que vai além da experiência
religiosa pessoal para incluir a comunidade e o mundo.53
REFLEXÕES FINAIS
Não precisamos concordar com tudo o que Samuel Escobar tem escrito. Na
realidade, alguns pontos da sua missiologia merecem reparos, como a sua ênfase
90
quase que exclusiva sobre as massas empobrecidas da América Latina como
objeto da ação missionária da igreja. Ainda que isso não deixe de ser importante,
o nosso continente testemunha o crescimento cada mais acentuado de uma
classe média significativa que também deve ser alvo do interesse da igreja. Ao
lado disso, Escobar tende a superestimar os valores positivos das igrejas
populares, dando pouca atenção a alguns sérios problemas apresentados pelas
mesmas, notadamente nas áreas doutrinária e ética, como é caso de alguns
recentes movimentos neopentecostais.
Não obstante, Escobar e seus colegas têm algo importante a dizer às igrejas
evangélicas históricas da América Latina e do Brasil, que realmente correm o risco
de tornar-se irrelevantes na sociedade caso não despertem para algumas
dolorosas realidades que existem ao seu redor. Tal ocorrência seria um retrocesso
histórico lastimável, pois que a igreja cristã em geral e as igrejas evangélicas de
modo particular têm uma longa e honrosa tradição de “missão integral” ao mundo.
Basta lembrarmos o intenso esforço de missões e de reforma social gerado pelos
grandes despertamentos dos séculos XVIII e XIX, na Europa e nos Estados
Unidos.
Como cristãos brasileiros preocupados tanto com a missão da igreja quanto com
as difíceis realidades sócio-econômicas de nosso país, devemos levar a sério os
desafios desses líderes, que falam com convicção, coerência e clareza sobre a
necessidade de um entendimento abrangente da tarefa da igreja no mundo, como
agente e instrumento de Deus. Como Escobar destaca, a atitude e as ações de
Deus em relação ao mundo, especialmente como reveladas no seu Filho, Jesus
91
Cristo, são o nosso grande paradigma de missão. A Bíblia fala de um Deus que
toma a iniciativa, que busca a humanidade com amor e compaixão, que quer dar
vida e dignidade à sua criação. Isso foi ilustrado de maneira extraordinária por
Jesus, quando, em seu ministério terreno, manifestou o interesse de Deus por
todos os tipos de pessoas e pela pessoa integral.
92
ecumênico. Seus líderes, como Joseph H. Oldham, John R. Mott e Robert E.
Speer, eram provenientes do movimento cristão de estudantes. Ver Kenneth S.
Latourette, “Ecumenical Bearings of the Missionary Movement and the
International Missionary Council,” em A History of the Ecumenical Movement:
1517-1948, eds. Ruth Rouse e Stephen C. Neill, 3ª ed., 353-402 (Genebra: World
Council of Churches, 1986).
Daí o subtítulo utilizado: “Para considerar os problemas missionários relativos ao
mundo não-cristão.”
William R. Hogg, Ecumenical Foundations: A History of the International
Missionary Council and its Nineteenth-Century Background (Nova York: Harper
and Brothers, 1952), 131-32.
John Kessler e Wilton M. Nelson, “Panamá 1916 y su Impacto sobre el
Protestantismo Latinoamericano,” Pastoralia 1/2, ed. especial (Novembro 1978): 5-
21.
Entre os latino-americanos presentes no congresso estavam apenas três
brasileiros, os presbiterianos Eduardo Carlos Pereira, Álvaro Reis e Erasmo
Braga. Erasmo eventualmente tornou-se o secretário da Comissão Brasileira de
Cooperação, entidade que promoveu o maior esforço cooperativo até hoje
empreendido pelas igrejas evangélicas brasileiras e foi precursora da
Confederação Evangélica do Brasil.
O historiador Sidney Rooy identifica uma seqüência de três séries ou ciclos de
encontros do protestantismo latino-americano. Ver Samuel Escobar, “Los
‘CLADEs’ y la Misión de la Iglesia,” Iglesia y Misión 67/68 (Jan-Jul 1999), 20.
Um dos primeiros e mais importantes articuladores dessa teologia foi o sacerdote
peruano Gustavo Gutiérrez, autor de Uma Teologia da Libertação (1971). Outros
nomes importantes no campo católico são Juan Luis Segundo, Jon Sobrino, José
Porfirio Miranda, Hugo Assmann, Henrique Dussel e Leonardo Boff; no campo
protestante destacaram-se José Miguez Bonino e Rubem Alves, entre outros.
Entre os evangélicos conservadores, o órgão cooperativo correspondente ao CLAI
é a Confraternidade de Evangélicos da América Latina (CONELA).
Os próprios locais dessas conferências e congressos são reveladores. Das três
CELAs, duas realizaram-se na cosmopolita e culta Buenos Aires, enquanto que
todos os CLADEs ocorreram nos países andinos, com seus enormes problemas
sociais e suas dinâmicas igrejas populares.
Citado por Tito Paredes em “Visión Histórica de los ‘CLADEs’,” Iglesia y Misión
67/68 (Jan-Jul 1999), 13.
Escobar, “Los ‘CLADEs’ y la Misión de la Iglesia,” 22.
Os critérios de seleção procuram ser os mais abrangentes possíveis em termos de
faixas etárias dos participantes, sexo, identidade étnica e filiação eclesiástica.
Neste último aspecto, metade das inscrições é reservada para participantes
pentecostais. Iglesia y Misión 67/68 (Jan-Jul 1999), 35.
Outros membros bem conhecidos da Fraternidade Teológica são C. René Padilla,
Rolando Gutiérrez, Tito Paredes, Emílio A. Núnez e o brasileiro Valdir
Steuernagel.
Sobre a sua relação com o Brasil, o próprio Escobar afirma em uma obra recente:
“Desde a minha primeira visita ao Brasil, em 1953, como jovem delegado peruano
a um congresso mundial da juventude batista, apaixonei-me por esse imenso país.
93
Em 1959 e 1960 percorri como evangelista e discipulador um bom número de
centros universitários. Cheguei de avião, um velho Catalina da Panair, de Iquitos,
na selva peruana, até Manaus. Dali percorri o Norte e o Nordeste, até chegar a
São Paulo, onde, entre 1962 e 1964, trabalhei como missionário na frente
estudantil, nos primeiros anos da Aliança Bíblica Universitária.” Samuel Escobar,
Desafios da Igreja na América Latina: História, Estratégia e Teologia de Missões
(Viçosa, MG: Editora Ultimato, 1997), 11.
Por força de suas ocupações, Escobar também foi responsável por vários
periódicos. Por exemplo, ele foi editor de Certeza, uma revista para estudantes
universitários, e diretor de Pensamiento Cristiano, um órgão de exposição do
pensamento evangélico, publicado na Argentina.
Por exemplo, em 1982 Escobar participou da Consulta de Teólogos do Terceiro
Mundo, realizada em Seul, na Coréia do Sul. A revista Evangelical Review of
Theology, órgão oficial da referida Comissão Teológica, publicou os trabalhos
apresentados nessa consulta, um deles escrito por Escobar e três colegas latino-
americanos. Ver Samuel Escobar, Pedro Arana, Valdir Steuernagel e Rodrigo
Zapata, “A Latin American Critique of Latin American Theology,” Evangelical
Review of Theology 7, nº 1 (abril 1983): 48-62. Mais recentemente, em março de
1998, Escobar participou de uma conferência sobre economia e missões
promovida pelo Concílio de Ministérios Internacionais das igrejas menonitas norte-
americanas. Segundo o Mennonite Brethren Herald, “o missiologista Samuel
Escobar disse que um conceito holístico de missão conclama os cristãos a
compartilhar tanto a vida espiritual quanto recursos materiais e a utilizar
instrumentos espirituais, culturais e tecnológicos.”
Escobar também leciona no curso de Administração do Eastern College, em nível
de pós-gradução. Seu papel principal é ajudar os estudantes a considerar as
missões cristãs no contexto da justiça econômica.
Também publicado em Annals of the American Academy of Political & Social
Science 554 (Nov 1997).
Para os leitores não familiarizados com o inglês, esta é a tradução dos títulos dos
artigos de Escobar: “A responsabilidade social da igreja na América Latina”; “Além
da teologia da libertação: missiologia evangélica na América Latina”;
“Transformação em Ayacucho: da violência à paz e esperança”; “Missões e
renovação no catolicismo latino-americano”; “O recrutamento de estudantes para
missões”; “A missiologia de McGavran foi devorada por um leão?”; “De Lausanne
1974 até Manilla 1989: a peregrinação da missão urbana”; “Um movimento
dividido: três abordagens da evangelização mundial permanecem em tensão entre
si”; “Teologia evangélica na América Latina: o desenvolvimento de uma cristologia
missiológica”; “Missão na América Latina: uma perspectiva evangélica”;
“Elementos de estilo na formação de novos líderes missionários internacionais”;
“500 anos após Colombo: Requiem ou Te Deum?”; “O legado de John A. Mackay”;
“O evangelho inteiro para o mundo inteiro a partir da América Latina”; “A nova
ordem mundial das missões: o século XXI nos conclama a abandonarmos nossos
modelos de ministério mundial procedentes do século XIX”; “Além da teologia da
libertação: artigo-resenha” e “Uma abordagem missiológica do protestantismo
latino-americano.”
Como no Brasil, historicamente, o termo “evangélico” tem sido virtualmente
94
sinônimo de “protestante,” os estudiosos estão utilizado o anglicismo “evangelical”
para designar especificamente os evangélicos conservadores, em distinção dos
progressistas ou liberais, como ocorre nos Estados Unidos. David Bosch
menciona pelo menos seis tipos básicos: (1) novos evangelicais (como Billy
Graham), que tentam unificar todos os evangelicais; (2) evangelicais separatistas
(como Carl McIntire e o seu Concílio Internacional de Igrejas Cristãs); (3)
evangelicais por confissão (como Peter Beyerhaus); (4) evangelicais pentecostais
e carismáticos; (5) evangelicais radicais (como Samuel Escobar, René Padilla e
Orlando Costas); e (6) evangelicais ecumênicos (como John Stott, Festo
Kivengere e Arthur Glasser). Ver Internet, www.homenet.com.br/cem/postura.html.
95
(Março 1978): 170-175.
Samuel Escobar, “Has McGavran´s Missiology been Devoured by a Lion?”
Missiology 17 (Julho 1989), 349-350.
Ibid., 350.
Escobar, “Mission in Latin America,” 241.
Escobar, “Latin America,” 134. “Anômicas” deriva de “anomia,” a instabilidade
social resultante do colapso dos padrões e valores; no sentido individual, significa
a inquietação, alienação e incerteza que decorre da ausência de propósito ou
ideais.
Samuel Escobar, “Beyond Liberation Theology: Evangelical Missiology in Latin
America,” International Bulletin of Missionary Research 6 (Julho 1982), 108.
Ibid., 110.
Ibid., 111.
Samuel Escobar, “Evangelical Theology in Latin America: The Development of a
Missiological Christology,” Missiology 19 (Julho 1991), 316.
Ibid., 321.
Ibid., 328.
Samuel Escobar, “The Elements of Style in Crafting New International Mission
Leaders,” Evangelical Missions Quarterly 28 (Janeiro 1992), 7.
Escobar, Desafios da Igreja na América Latina, 19.
Ibid., 48. Há poucos anos, Escobar participou de mais uma consulta da Comissão
Teológica da Fraternidade Evangélica Mundial. Tal consulta, realizada em Londres
de 9 a 14 de abril de 1996, teve como tema “Fé e Esperança para o Futuro: Por
Uma Teologia Evangélica Vital e Coerente para o Século XXI.” Escobar foi o autor
de um dos seis estudos apresentados ao plenário, sob o título “Discernindo o
Espírito na América Latina,” em que revela o seu grande interesse pela dimensão
pneumatológica da missão da igreja e conclama os evangélicos a estarem
receptivos ao novo vento do Espírito que sopra na igreja, gerando uma
espiritualidade nova e radical. Samuel Escobar, “Mañana – Discerning the Spirit in
Latin America,” Evangelical Review of Theology 20/4 (Outubro 1996).
Escobar, Desafios da Igreja na América Latina, 64.
É o caso de André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, trad.
Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990). Ver também,
do autor do presente artigo, “Amando a Deus e ao Próximo: João Calvino e o
Diaconato em Genebra,” Fides Reformata 2:2 (Jul-Dez 1997), 69-88, e “Jonathan
Edwards: Teólogo do Coração e do Intelecto,” Fides Reformata 3:1 (Jan-Jun
1998), 72-87
Parte XVII
APRENDENDO DA HISTÓRIA DOS AVIVAMENTOS
Estamos vivendo numa época em que muitos membros das nossas igrejas oram:
"Aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos."(1) Talvez não se expressem
exatamente com estas palavras, mas de fato almejam um avivamento autêntico.
Outros se arrepiam imediatamente quando ouvem falar do assunto. Não é que não
queiram que as igrejas sejam vivas e dispostas para a obra do Senhor; ao
96
contrário. Mas avivamento? Já passamos por tanta confusão, tribulação e
separação amarga. Não seria melhor evitar o assunto? Neste artigo estudaremos
um pouco da história para ver se podemos descobrir algumas lições para os dias
de hoje. Não é possível repetir a história, mas podemos aprender com ela.
Por volta de 1700 havia muitas famílias presbiterianas espalhadas por todas as
colônias, especialmente escocesas-irlandesas, e em 1701 um jovem pastor do
nordeste da Irlanda, Francis Makemie, iniciou o seu trabalho itinerante de Nova
York até as Carolinas.(3) Ele é considerado o "pai do presbiterianismo americano,"
tendo organizado igrejas e até consagrado ministros. Era um homem preparado
para o trabalho de Deus: conversão clara, chamada consciente, visão ampla,
santificação constante e disposição incansável. O Senhor abençoou o seu
trabalho. Muitas igrejas foram organizadas e já cinco anos depois o presbitério
reuniu-se pela primeira vez em Filadélfia. No ano seguinte, Makemie foi preso por
ter pregado em Nova York. Ele defendeu o seu próprio caso, que ficou famoso na
jurisprudência sobre a liberdade religiosa. Foi absolvido, mas adoeceu gravemente
devido à permanência no calabouço e foi promovido à glória. Porém, o
crescimento continuou e em 1717 organizou-se o primeiro sínodo. Foi adotada a
ordem eclesiástica da Escócia, e também o seu selo e lema: Nec Tamen
Consumebatur.(4)
97
industrializados. Os escoceses sabiam fazer isto, só que não conseguiam vender
o whisky a tempo. Nesse caso, o pastor podia ser pago em espécie e, chegando
em casa depois de uma longa cavalgada numa tempestade de neve, era tentado a
tomar uns tragos. E havia outros problemas. Portanto, não é de estranhar que
algumas pessoas reconhecessem que a igreja precisava ser purificada para
tornar-se realmente uma igreja puritana. E essa purificação devia começar com o
corpo ministerial.(5)
Essa ênfase na pregação tinha sido (re)iniciada naquela região por "Dominie"(8)
Theodore J. Frelinghuysen, o pastor de uma das Igrejas Reformadas holandesas,
que eram muitas por causa da antiga colonização holandesa e que continuaram a
crescer mesmo depois da conquista de Nova Amsterdã pelos ingleses.(9) Nesse
sentido, o Rev. Theodore era herdeiro de uma ênfase do puritanismo holandês,
que por sua vez tinha recebido muita influência do puritanismo inglês(10) não
somente uma doutrina e fé bíblicas, mas também uma ética e comportamento
bíblicos. Quando, pois, o jovem ministro Gilbert Tennent começou a pregar como o
seu colega reformado (1733), isso não foi algo estranho ao puritanismo
presbiteriano americano.(11) Ao mesmo tempo, o Senhor estava operando nas
Igrejas Congregacionais do nordeste americano (1734) e algum tempo depois o
Rev. Jonathan Edwards pregou o seu célebre sermão "Pecadores nas mãos de
um Deus irado" (1741).(12) Na Inglaterra, a pregação de George Whitefield e de
John Wesley levou muitas pessoas ao Senhor, e quando Whitefield fez uma
campanha evangelística nas colônias (1739-1741), em dois anos mais de trinta mil
pessoas foram ganhas, ou seja, 10% da população americana da época.(13)
98
mortos" e outros termos negativos. Não era incomum o uso de linguagem violenta,
mas o impacto do sermão de Gilbert foi mais amplo pelo fato de ter sido impresso.
(14) Também puderam ser observados vários desvios teológicos, tais como: a Lei
não se aplicaria aos crentes; se alguém não sabia quando estivera sem Cristo,
não poderia ser considerado convertido; se alguém não sentia o sopro do Espírito
Santo como um vento verdadeiro, seria um crente carnal. Algumas irregularidades
contra a ordem presbiteriana também azedaram as relações eclesiásticas, já
tensas por causa da frieza, zombaria e forte oposição dos tradicionalistas e de um
certo radicalismo e farisaismo dos avivados, afetando ambos os grupos como um
vírus maligno.
99
rei poderoso, uma frase de um dos seus 600 hinos: "Inspira a minha alma, ó graça
real, e toca meus lábios com fogo celestial."(19)
Um problema muito interessante era a tensão entre educação e missão. O fato era
que as igrejas, congregações e pontos de pregação se multiplicavam, mas havia
falta de pastores para atender aqueles vastos campos. Não é que os
presbiterianos não tivessem visão, mas havia falta de obreiros por causa das
rigorosas exigências na educação teológica, o que diminuia o número dos que
podiam estudar. Mas os que conseguiam fazer o curso teológico saíam como
homens bem preparados. Quando chegavam aos seus campos de trabalho,
freqüentemente na então fronteira colonial, eram bem-vindos como pastores e
também como professores, porque eram as pessoas mais educadas da
comunidade. Os colonos pediam que o pastor ensinasse seus filhos.(20) Mas o
bom era o inimigo do melhor, porque uma vez envolvidos no ensino diário, mal
sobrava tempo para visitarem as congregações espalhadas, que às vezes perdiam
o contato com a igreja presbiteriana e filiavam-se a outras denominações.(21)
Porém, a paz entre os dois grupos deve ter sido um pouco difícil, especialmente
para os da Ala Velha, por causa da maioria numérica da Ala Nova. No começo do
cisma os avivados eram uma minoria, mas cresceram muito durante os anos da
100
separação.(24) Um pouco de estatística pastoral demonstra isto claramente: em
1741 a Ala Velha tinha 27 pastores e a Ala Nova 22; em 1758 a Ala Velha tinha 23
pastores e a Ala Nova 73.
De fato, foi como o historiador Trinterud afirmou: "Two sides, two tides" (duas alas,
duas marés).(25) Mas qual teria sido a causa dessa diferença tão patente? Muito
se tem discutido. A Ala Velha insistiu que os avivados tinham sido beneficiados
pela imigração e fundos do Velho Mundo, mas assim também o foram os
tradicionalistas. Talvez tenhamos de lembrar a distinção entre causas diurnas,
patentes a todos, e causas noturnas, ocultas à maioria.(26) Embora a Ala Velha
também tenha feito algo pelas missões nacionais, a "causa diurna" do crescimento
maior da Ala Nova deve ter sido o trabalho evangelístico mais intenso e mais
descentralizado dos irmãos avivados, as missões sendo sempre um índice preciso
do avivamento autêntico.
E existiria ainda alguma "causa noturna"? Cremos que sim. O fato é que o
avivamento real procura maior santificação em todos os setores da vida,
começando pelo individual. Faltando essa característica essencial, o avivamento
não passa de emoção litúrgica. Sem dúvida, no início a Ala Velha não reconheceu
essa necessidade premente de santificação, focalizando suas críticas em
aspectos mais circunstanciais. Dos doze "protestadores" que iniciaram o cisma
expulsando os avivados, quatro tinham problemas morais e, no fim desse período,
mais quatro, ou seja, ao todo dois terços do mesmo grupo! Em virtude do
"corporativismo," os seus presbitérios faltaram com a disciplina fraternal. Sim,
infelizmente a "causa noturna" mais provável por que o braço tradicionalista da
Igreja Presbiteriana americana murchou até mesmo durante o "Grande
Despertamento" foi a falta de santificação, santificação esta que é o alvo do
Espírito Santo em cada efusão especial do poder do alto, para que a igreja seja
testemunha no tempo e no lugar onde Deus a colocou na história.
101
entender o que o Senhor quer de nós. Aquela súplica — "Aviva a tua obra, ó
Senhor, no decorrer dos anos" — é uma oração ensinada pelo próprio Espírito
Santo. E o Senhor nos convoca a renovarmos a aliança que ele estabeleceu
conosco, renová-la em todos os seus aspectos. Um dia especial para enfatizar
essa renovação da aliança pode ser para nós presbiterianos o dia do aniversário
da nossa igreja, 12 de agosto. Ou talvez o dia de Pentecoste, o dia do aniversário
da igreja universal. Mas, qualquer dia que seja, seria um dia de oração e jejum
para que o Senhor não nos lance fora, ao contrário, nos use, não para o nosso
próprio triunfalismo oco, e sim para a sua glória, para a salvação de muitos
perdidos, e para a santificação e edificação da igreja, a fim de que ela seja sal da
terra e luz neste mundo tenebroso, como é o desejo profundo de todo verdadeiro
presbiteriano.
Notas
3 Sobre Makemie, ver I. M. Page, The Life Story of Rev. Francis Makemie (Grand
Rapids: Eerdmans, 1938).
6 Sobre Tennent e sua escola, ver M. A. Tennent, Light in Darkness: The Story of
William Tennent, Sr. and the Log College (Greensboro, NC: Greensboro Printing
Co., 1971).
102
Rapids: Eerdmans, 1978).
12 Jonathan Edwards, Pecadores nas Mãos de um Deus Irado, 3a. ed. (São
Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, c.1993).
16 Se houve também uma dupla lealdade por causa de ligações maçônicas, não
ficou claro até agora. Nesse século XVIII de racionalismo, a maçonaria era uma
espécie de reação mística contra o árido deísmo. Começou em Londres em 1717
e trinta anos depois já era influente na colônia americana.
17 "The Old and New Side" do século XVIII não devem ser confundidos com "The
Old and New School" do século XIX.
18 Ver Jonathan Edwards, A Vida de David Brainerd (São José dos Campos, SP:
Editora Fiel, 1993). Para essa biografia do seu genro, Edwards baseou-se em
grande parte no diário de Brainerd.
19 "Almighty grace, my soul inspire, and touch my lips with heavenly fire."
103
congregacionais: na região de Boston havia nessa altura quase três vezes mais
pastores avivados do que tradicionalistas.
Parte XVIII
AS QUATRO INDISPENSÁVEIS QUALIDADES
Uma Igreja Missionária
"E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora,
Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando,
e impondo sobre eles as mãos, os despediram" (At 13.2,3).
Atos 13.2 inicia assim: "E, servindo eles ao Senhor...". O particípio presente
leitourgountwn (servindo [ARA], workshiping [NIV]), do verbo leitourgéw, é
empregado por Lucas em Atos 13.2 com o mesmo significado de latréw, isto é,
"servir em adoração"; "prestar culto a Deus". O particípio presente indica ação
contínua.
104
das nações ao Deus trino e uno".
E ainda:
Talvez um dos piores males que têm assolado, dividido e enfraquecido a igreja
brasileira em nossos dias seja os constantes debates em torno da tarefa prioritária
da igreja. E não estamos nos referindo à questão da evangelização e
responsabilidade social, outro assunto desnecessariamente polarizado. Ao
contrário, estamos falando da dicotomia existente entre culto e missões. E a
discussão não é se a igreja deve adorar ou evangelizar (embora às vezes é o que
de fato acontece), mas sim, o que deve ser considerado em primeiro lugar.
Não existe dicotomia alguma entre culto e missão. O culto é a reunião do povo
enviado ao mundo para celebrar o que Deus fez em Cristo e está fazendo
mediante a participação deles na ação testemunhal do Espírito. A missão é a
culminação e antecipação do culto. No culto e na missão a comunidade redimida
dá evidência concreta do fato de que é, ao mesmo tempo, um povo de oração e
testemunho".
Vemos, então, que o culto deve levar a igreja a fazer missões (cf. At 2.42-47), e
missões, por sua vez, devem levar os perdidos a prestarem culto a Deus (cf. At
13.44-49). Pois uma adoração que não leva a igreja a evangelizar não passa de
mera contemplação, e uma evangelização que não leva os pecadores a adorarem
a Deus está fora dos propósitos do próprio Deus. "A liturgia sem missão é como
um rio sem manancial, a missão sem culto é como um rio sem mar. Ambos são
necessários. Sem um o outro perde sua vitalidade e significado".
105
José Martins disse corretamente: "A oração é a essência da obra missionária. Não
é só uma atividade necessária ao sucesso da obra - é a obra em si. É a prática
mais missionária possível, quando vivida de maneira bíblica". É evidente que
Martins não quer dizer que oração e missões são a mesma coisa, e sim, que
essas duas atividades devem vir interligadas uma na outra. Nunca é demais
enfatizar a importância da prática da oração na obra missionária.
Implicitamente porque o versículo dois diz o seguinte: "E, servindo eles ao Senhor,
e jejuando...". O fato da igreja estar jejuando subentende-se que ela estava
também orando.
Seria incoerente pensar que uma igreja que estava adorando a Deus e jejuando
não estivesse em oração. Nem toda oração é feita em jejum, mas todo jejum
bíblico é feito com oração. Além disso, temos uma evidência explícita de que a
igreja de Antioquia realmente orava naquela ocasião: "Então, jejuando e orando..."
(v3). Não sabemos ao certo se o jejum do verso 3 é o mesmo do verso 2. Pela
urgência do chamado do Espírito, tudo indica que sim. Mas se é o mesmo ou
deixa de ser, não é tão importante sabermos. Basta saber que a igreja de
Antioquia era uma igreja de oração e que fazia da oração a base de sua missão.
Agora, mais do que simplesmente orar, a igreja de Antioquia era uma igreja que
exercia a prática do jejum. É impressionante a ênfase que Lucas dá ao jejum na
igreja de Antioquia. Em Atos 13.2 ele diz que a igreja jejuava, e não menciona a
oração, embora sabemos que ela também orava, conforme dissemos acima. No
verso 3, do mesmo capítulo 13, Lucas coloca a palavra "jejuando" na frente de
"orando". No texto grego é a mesma coisa: nestéusantes kai proseuxamenoi. A
ordem das palavras é significativa e não pode ser menosprezada, como tem feito
a maioria dos autores que consultamos.
A ênfase de Lucas é importante por duas razões pelo menos: 1) Não devemos
pensar que a igreja de Antioquia jejuava porque trazia resquícios do judaísmo.
Esta não seria uma forma inteligente de pensar, primeiro porque Lucas era gentio
(provavelmente da cidade de Antioquia da Síria) e, por isso mesmo, qual o
interesse dele em dar tanta ênfase a uma prática estritamente judaica? Segundo,
a igreja de Antioquia foi uma das igrejas mais anti-judaicas do passado, naquilo
que se refere às práticas religiosas do judaísmo. Direta ou indiretamente o
Concílio de Jerusalém de Atos 15 aconteceu em razão desse anti-judaísmo-
cerimonialista. 2) Acreditamos que Lucas fez questão em enfatizar a prática do
106
jejum pela igreja de Antioquia, primeiramente para mostrar que jejum e oração não
são incompatíveis na vida de uma igreja e, em segundo lugar, mostrar como esta
prática era (e deve ser) valorizada no meio de uma igreja verdadeiramente
missionária.
Apesar da Igreja Primitiva ter vivido momentos de muitas provações, nada indica
que naquela ocasião especial de Atos 13 a igreja de Antioquia estivesse jejuando
e orando porque passava por momentos difíceis. Pelo contrário, o contexto
próximo (cap. 12) indica que a Igreja Primitiva, de modo geral, estava vivendo um
dos seus melhores dias. Pedro havia sido libertado milagrosamente da prisão e
um dos maiores inimigos da igreja, o rei Herodes Agripa I, foi morto mediante a
intervenção de um anjo do Senhor. Enquanto isso, "a palavra do Senhor crescia e
se multiplicava" (At 12.24).
107
fervorosas orações.
Que Deus conceda à igreja brasileira a graça de ser uma igreja que se alegre em
estar em Sua presença, intercedendo dia após dia pela obra missionária do Brasil
e do mundo.
Enquanto a igreja orava, é provável que o Espírito Santo falou pelos profetas que
ali estavam, tornando Sua vontade conhecida. Não sabemos ao certo como o
Espírito Santo falou aos profetas da igreja de Antioquia. Seja como for, Ele falou e
a igreja ouviu.
A igreja de Antioquia era uma igreja sensível à voz do Espírito, e mais do que
aguçar os ouvidos para ouvir a Sua voz, ela ouviu, principalmente, obedecendo. E
é exatamente nesse sentido de fazer o que Deus ordena que a igreja brasileira
hoje deve ouvir, através da Escritura, o que "o Espírito diz às igrejas".
Se ouvir o Espírito Santo significa obedecê-lo, uma das grandes expressões dessa
obediência é estar no mundo para ouvir o mundo. E o que significa ouvir o
mundo? John Stott responde: "O mundo de hoje está repleto de clamores que
refletem ira, frustração e sofrimento. Mas muitas vezes nós nos fazemos de
surdos diante dessas vozes de angústia". Stott nos lembra, ainda, que existem
dois grupos de pessoas no mundo que, além de precisarem ouvir o que a igreja
tem a lhes dizer, precisam, antes, ser ouvidos pela igreja. Diz ele:
108
"responder antes de ouvir é estultícia e vergonha".
A melhor coisa é ouvir antes de falar, procurar penetrar no mundo das idéias e
pensamentos da outra pessoa, tentar descobrir quais são as suas possíveis
objeções ao evangelho e então compartilhar com ela as boas novas de Jesus
Cristo de uma maneira que fale às suas necessidades. Esta atividade desafiadora,
humilde e perspicaz é chamada, e com razão, de "contextualização". Mas é
essencial acrescentar que contextualizar o evangelho não é de maneira alguma
manipulá-lo.
... Em segundo lugar, temos o sofrimento dos pobres e dos famintos, dos
despossuídos e dos oprimidos. Muitos de nós só agora é que estão despertando
para a obrigação que a Escritura sempre colocou sobre o povo de Deus, de
preocupar-se com a justiça social. Nós deveríamos ouvir com mais atenção os
clamores e os suspiros daqueles que estão sofrendo. Quero compartilhar aqui um
versículo bíblico que nós temos negligenciado e que, em se tratando deste
assunto, quem sabe deveríamos destacar. Ele contém uma solene palavra de
Deus para aqueles que, dentre o seu povo, carecem de consciência social.
Encontra-se em Provérbios 21.13: "O que tapa o ouvido ao clamor do pobre
também clamará e não será ouvido.
Se a igreja brasileira der ouvidos à voz do Espírito, com certeza ouvirá a voz dos
que precisam ser ouvidos.
109
compromissada com Deus (servindo a Deus, jejuando e orando, Atos 13.2,3)
e com os missionários (impondo sobre eles [Barnabé e Saulo] as mãos, os
despediram, Atos 13.3).
A palavra que Paulo está usando aqui para "associar-se" é uma palavra
comercial, usada quando duas pessoas decidem formar uma sociedade.
Assim como eles se tornam sócios, em um projeto missionário um dos
sócios é o missionário e sua família, e o outro é a igreja local; a igreja e a
família estão indo juntas ao campo.
110
Lucas registra que a igreja de Antioquia "acompanhou" as viagens
missionárias de Paulo e este, por sua vez, relatava a ela as coisas que Deus
fazia por seu intermédio. Em Atos 14.26-28, por exemplo, a primeira viagem
missionária termina com o retorno de Paulo e Barnabé à igreja enviadora
para repartir os "lucros" com os "sócios", para compartilhar os frutos do
trabalho com ela: "... navegaram para Antioquia, onde tinham sido
recomendados à graça de Deus para a obra que haviam já cumprido. Ali
chegados, reunida a igreja, relataram quantas cousas fizera Deus com eles e
como abrira aos gentios a porta da fé. E permaneceram não pouco tempo
com os discípulos".
Em Atos 13.3 não aconteceu o que vemos hoje em dia. Paulo e Barnabé não
foram lançados num campo e deixados "ao deus dará". A igreja não se
esqueceu daqueles que enviou e os missionários, por outro lado, não se
lembraram da igreja somente quando o dinheiro da missão encurtou. Não
queremos generalizar, mas não é, infelizmente, o que muitas vezes temos
visto? Além disso, a igreja de Antioquia não entregou Paulo e Barnabé aos
cuidados da igreja de Jerusalém e muito menos os deixou por conta de uma
agência missionária. De maneira nenhuma! A igreja de Antioquia tinha
responsabilidade missionária. Havia nela o que Queiroz chama de
"personalização".
111
2. A igreja local, compreendendo sua importância para missões, não pode
transferir esta responsabilidade.
Notas
Segundo Orlando Costas, "a prova de uma vigorosa experiência cultual será
a participação dinâmica na missão: a prova de um fiel compromisso
missionário será uma profunda experiência de culto" (Orlando E. COSTAS,
Compromiso y misión. San José-Costa Rica: Editorial Caribe, 1979, p. 151).
Idem, p. 150.
Ibidem.
Cf. Evangelização e responsabilidade social. 2a ed. São Paulo-Belo
Horizonte: ABU Editora/Mundo Cristão, 1985, p. 17-25. Por falar em
evangelização e responsabilidade social da igreja, vale a pena ressaltar que
o verdadeiro conceito de missão para a igreja de Antioquia era (como os
missiólogos contemporâneos costumam denominar) o de missão integral,
isto é, o indivíduo assistido em sua totalidade, conforme Atos 11.27-30.
COSTAS, op. cit., p. 150.
Idem, p. 150,151.
7 José MARTINS, A oração dominical e missões. In: Missões e a igreja
brasileira: perspectivas teológicas, p. 67. V. t. Durvalina B. BEZERRA, A
missão de interceder: oração na obra missionária. Londrina: Descoberta,
2001, p. 229-244.
Cf. Simon J. KISTEMAKER, New Testament Commentary: Exposition of the
Acts of the Apostles. Grand Rapids: Baker Book House, 1990, p. 20,21..
Cf. KISTEMAKER, op. cit., p. 455.
John STOTT, Ouça o Espírito, ouça o mundo. 2ª ed. São Paulo: ABU Editora,
1998, p. 123..
STOTT, p. 123-125.
COSTAS, p. 113.
Idem, p. 113,114.
112
KISTEMAKER, op. cit., p. 455. V. t. J. H. BAVINCK, An introduction to the
science of missions. Phillipsburg: The Presbyterian and Reformed
Publishing Company, 1960, p. 58-60.
KISTEMAKER, p. 455. Cf. Atos 15.40.
Walter L. LIEFELD, Imposição de mãos. In: ELWELL, Walter A. (ed.).
Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã, Vol. II. São Paulo: Vida
Nova, 1990, p. 323.
Idem, p. 324.
A expressão "os despediram" de Atos 13.3 reforça a idéia de que a igreja de
Antioquia estava enviando Paulo e Barnabé, e continuaria vinculada a eles,
uma vez que o verbo apolyw, diferentemente de apospaw (At 21.1), não
sugere "despedida definitiva". V. t. Paul E. PIERSON, Atos que contam.
Londrina: Descoberta, 2000, p. 117.
Edison QUEIROZ, O melhor para missões. 2a ed. Londrina-Curitiba:
Descoberta, 1999, p. 50. V. t. Neal Pirolo, A missão de enviar: como sustentar
o seu missionário. Londrina: Descoberta, 2001, p. 13-31,179-200; Hugo PIRIZ,
A igreja e a integridade pessoal e familiar do obreiro do Senhor. In:
STEUERNAGEL, Valdir (ed.). E o Verbo se fez carne: desde a América Latina.
113
A missão da igreja. Belo Horizonte: Missão Editora, 1994, p.117-126 e O. E.
COSTAS, La misión, el ministerio y el Espírito Santo: el caso de la iglesia de
Antioquia. In: Misión y ministerio en America Latina, artigo não publicado, p.
1-7.
Parte XIX
ATOS 1.8 E A MISSÃO DA IGREJA
"Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos
confins da terra".
1. O poder do Espírito
Quando o Espírito Santo foi derramado por ocasião do Pentecostes, "com grande
poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor Jesus..." (At
4.33). E ainda: "Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes
sinais..." (At 6.8). Temos também a declaração de Pedro na casa de Cornélio a
114
respeito de Jesus, que "Deus ungiu...com o Espírito Santo e poder..." (At 10.38).
Nestes exemplos Lucas revela que desde o princípio o evangelho foi disseminado
pelo poder do Espírito Santo.
2. Poder e testemunho
"Logo antes de sua ascensão, Jesus disse a seus discípulos, como está registrado
em Atos 1.8: "... sereis minhas testemunhas [kai esesthe mou martyres]...",
começando em Jerusalém e espalhando-se geográfica e culturalmente para fora,
para os confins da terra (eôs eschatou tês gês). Muito dessa comissão, quanto à
expansão geográfica e cultural da Igreja, se cumpriu. Mas provavelmente não
captamos as palavras de Cristo em todo o seu peso: "...sereis minhas
testemunhas...".(3)
115
declaração de um fato como testemunha ocular de um ocorrido;
o testemunho evangelístico da natureza e da importância de Cristo;
martírio. (5).
Pela própria natureza da evangelização e pelas perseguições e adversidades
futuras que desafiariam a Igreja Primitiva, seria imprescindível o poder do alto para
testemunhar de Jesus. Que a igreja muitas vezes testemunhou ao preço de
sangue é algo que dispensa comentários. Contudo, é importante ressaltar, pelo
menos, dois aspectos do testemunho pelos quais os cristãos muitas vezes tiveram
que pagar com a vida. A Igreja em Atos testemunhava:
"Cristo era "poderoso em obras e palavras" (Lc 24.19). Seus milagres são
chamados dynameis (cf. Heb. gebûrôt; i.é, "atos poderosos"), porque neles, o
reino de Deus na terra começa a ter efeito poderoso, e a luta contra o diabo é
levada a efeito no nível da existência humana (Mt 12.22-30; Mc 6.2; Lc 19.37; At
10.58). Jesus é o "mais forte" que, como Representante de Deus, subjuga o
"homem forte", o diabo (cf. Mc 1.8 com 3.22-30). Os milagres de Jesus são
operados por um poder dentro dEle (Mc 5.39 par. Lc 5.17; Mc 6.14). Lucas liga
este poder, dado por Deus, com o Espírito Santo em Lc 1.35; 4.14; At 1.8; 10.38.
Os milagres, portanto, são encarados como evidência da parte de Deus quanto a
Jesus ser o Messias, Aquele que foi ungido pelo Espírito (At 2.22; 10.38). A
glorificação do Messias faz dEle, em grau ainda maior, Mediador do poder
salvífico de Deus. É, pois, pelo poder do Espírito que Jesus derramou sobre os
Seus servos, que estes podem operar atos poderosos (At 4.7; 6.8; 8.13; 19.11)".
(6).
Às vezes os sinais e prodígios preparavam o palco, por assim dizer, para uma
pregação cheia do Espírito (cf. At 3; 16.16-34); outras vezes estavam intercalados
numa pregação (cf. At 20.7-12), mas na maioria das vezes sucediam a mensagem
do evangelho (cf. At 19.8-12).
Os cristãos primitivos levavam a Palavra para qualquer lugar que fossem (8.4). O
que manteve Paulo dezoito meses ou mais em Corinto foi a Palavra (18.5). Em
Éfeso a mesma coisa, durante os dois anos em que trabalhou ali (19.10). E
116
quando Lucas quer indicar o sucesso de uma missão, ele diz que a Palavra do
Senhor "crescia e prevalecia poderosamente" (9).
"A pregação autoritativa dos apóstolos (At 4.33; Cf. 6.8-10) é vista como prova de
um poder sobrenatural" (10). Não é por menos que o evangelho causou tanto
impacto sobre Teófilo (At 1.1; cf. Lc 1.1), o centurião Cornélio (10.44), o procônsul
de Chipre (13.7) e os cidadãos de Antioquia (13.44). Não é de admirar que o
ministério da Palavra fosse prioridade para os doze (6.4). Também não é de
admirar que eles comprometessem seus convertidos com ela (20.28) e que os
missionários anônimos de Atos 8.4 a tinham como sua grande arma. Quando
alguém cria é porque a Palavra trouxe fé (4.4). Quando alguém recebia o Espírito
isto acontecia por ouvir a Palavra (10.44). Quando alguém se tornava cristão é
porque o Espírito iluminava o coração dos ouvintes com a mensagem apostólica
(16.14). "Não é exagero dizer que a Palavra é o principal instrumento na missão
evangelizadora da igreja, sob o poder do Espírito de Deus". (11).
Será que o poder do Espírito dos tempos bíblicos continua sendo o mesmo para a
igreja evangélica brasileira hoje? Com certeza, pois precisamos testemunhar. E
não é possível um testemunho autêntico de Jesus sem o poder do Espírito. A
Igreja Primitiva tinha desafios imensuráveis, mas não se curvava diante deles.
Clamava a Deus para ser revestida com mais e mais poder para proclamar com
ousadia e intrepidez as verdades do Senhor a quem ela tanto amava (At 4.23-31).
Era uma igreja de oração que buscava constantemente a plenitude e enchimento
do Espírito Santo. A igreja de hoje, principalmente no mundo ocidental, também
possui seus desafios. Felizmente (ou seria infelizmente?) seus desafios são mais
de ordem interna que externa. Atualmente já não são tantos os Pilatos, os
Herodes, os judeus e gentios que estão perseguindo a igreja. Hoje, a igreja é
perseguida pelo fantasma de sua própria morbidez por persistir, muitas vezes,
numa vida contemplativa, alienada do mundo, com pouca ou nenhuma perspectiva
da missão para a qual ela foi chamada.
E Deus atendeu ao clamor de sua igreja (At 4.31). Atendeu porque a igreja deixou
de lado seus próprios interesses para servir ao mundo. Hoje, o que muito se vê, à
nível de igreja local, é a própria igreja criando obstáculos para não fazer a obra do
Senhor. Externamente desfruta-se de uma liberdade religiosa como nunca se viu,
117
mas internamente muito de nossas igrejas estão enfermas, quando na verdade
eram elas que deveriam estar curando!".
Gostaria de concluir este tópico com uma declaração urgente e atual do Comitê de
Lausanne sobre a importância do poder do Espírito Santo na missão da igreja:
"Cremos no poder do Espírito Santo. O Pai enviou o seu Espírito para dar
testemunho do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão.
Convicção de pecado, fé em Cristo, novo nascimento e crescimento cristão, é tudo
obra dele. De mais a mais, o Espírito Santo é um Espírito missionário; de maneira
que a evangelização deve surgir espontaneamente numa igreja cheia do Espírito.
A igreja que não é missionária se contradiz a si mesma e debela o Espírito. A
evangelização mundial só se tornará realidade quando o Espírito renovar a igreja
na verdade, na sabedoria, na fé, na santidade, no amor e no poder. Portanto,
instamos com todos os cristãos para que orem pedindo pela visita do soberano
Espírito de Deus, a fim de que o seu fruto todo apareça em todo o seu povo, e que
todos os seus dons enriqueçam o corpo de Cristo. Só então a igreja inteira se
tornará um instrumento adequado em suas mãos, para que toda a terra ouça a
Sua voz". (12).
118
país. Jesus ordena que o trabalho missionário da igreja seja te...kai, isto é, temos
que evangelizar lá sem esquecer de cá e vice-versa.
Uma aplicação contextualizada das regiões citadas por Jesus fica por conta da
nossa imaginação, mas sem, evidentemente, deturpar o texto bíblico. Jerusalém
foi o berço dos acontecimentos básicos do cristianismo. Boa parte do ministério de
Jesus ocorreu em Jerusalém. Nela Jesus morreu, ressuscitou e ordenou a
evangelização do mundo. Nela Jesus prometeu o Espírito Santo e nela, no dia de
Pentecostes, a igreja cristã foi inaugurada e habilitada para cumprir a Grande
Comissão. Para efeito de comparação e aplicação da ordem de Jesus, podemos
identificar Jerusalém com a cidade em que moramos. A Judéia, por sua vez, era a
província que tinha Jerusalém como capital. Supomos que a nossa Judéia seja o
estado onde estamos vivendo. Samaria era uma região mais afastada, situada ao
norte da Judéia. Poderíamos comparar Samaria ao nosso paísl? Os confins da
terra (14) significam, naturalmente, que devemos ser testemunhas de Jesus para
todos os povos. Atualmente sabe-se que "os confins da terra" de Atos 1.8 é mais
que "universalidade concebida de forma geográfica". É geografia sim mas também
é etnia. A missão da igreja contemporânea é mais do que missão estrangeira, é
missão transcultural que envolve, por exemplo, os índios do Brasil.
NOTAS
(1) Harry Boer, missionário reformado na Nigéria na década de 50, escreveu
Pentecost and Missions (1961). "A tese desse trabalho", segundo Samuel Escobar
(Desafios da Igreja na América Latina (São Paulo: Ultimato, 1997), p. 43), "é que
no estudo de missões prestou-se muita atenção à Grande Comissão, mas não de
igual modo a Pentecostes, e que o ponto de partida de missões no Novo
Testamento é o que aconteceu em Pentecostes. Ele propõe uma revisão não só
da teologia de missões, mas da teologia em geral, à luz desse fato. Seu cuidadoso
estudo do material bíblico seguia a convicção de que escreveu-se muito sobre a
obra do Espírito Santo na salvação dos seres humanos, mas muito pouco sobre
seu significado crucial para o testemunho missionário da igreja. O assunto não foi
totalmente ignorado, mas deveria ser central na reflexão sobre missões, e tem
sido relegado à periferia". Desde que não se entenda que o Pentecostes deve ser
desvinculado da Grande Comissão, a ponto de não ter ligação alguma com ela,
estou de pleno acordo com Boer e Escobar.
(2) Cf. R. C. Sproul, O Mistério do Espírito Santo (São Paulo: Cultura Cristã,
1997), p. 144.
(3) (3) C. van Engen, Povo Missionário, Povo de Deus (São Paulo: Vida Nova,
1996), pp. 122,3 (Grifo nosso).
(5) Cf. Kittel, G. & Friedrich, G., "martys", em The Theological Dictionary of the
New Testament apud C. van Engen, Op. Cit., p. 123.
119
(6) O.Betz, "Poder" em Dicionário de Teologia do Novo Testamento, Vol. III (3. ed.
São Paulo: Vida Nova, 1985), p. 576.
(7) Barret apud M.Green, Evangelização na Igreja Primitiva (2. ed. São Paulo: Vida
Nova, 1989), p.185. Barret, segundo Green, afirma que "a pregação ou
recebimento desta Palavra é mencionado nada menos que trinta e duas vezes em
Atos" (p. 202).
(9) Foi assim na Judéia (6.7), Samaria (8.4-7,14), na primeira viagem missionária
(13.49) e na Ásia (19.20).
(12) O Pacto de Lausanne, XIV. V.t. Jonh Stott Comenta o Pacto de Lausanne
(São Paulo: ABU Editora), 1983.
(14) Convém lembrar que o conceito de confins da terra da maioria das pessoas
nos tempos bíblicos não era o mesmo conceito de Jesus e do Espírito Santo. A
concepção geográfica dos cristãos primitivos era limitada. Paulo, por exemplo,
mostrou-se desejoso de ir à Espanha (Rm 15.24,28), naturalmente porque
entendia que ela fosse os confins do extremo ocidental da terra.
BATISMO DE CRIANÇAS
Algumas Considerações
120
A prática de batizar os filhos dos cristãos vem desde os primórdios do
cristianismo. Pais da Igreja, como Irineu (século II), se referem ao batismo infantil.
Orígines (século IV) foi batizado quando criança. Hoje, milhares de cristãos
evangélicos no mundo continuam a prática, embora alguns pais permitam que
seus filhos sejam batizados apenas porque faz parte da tradição religiosa na qual
nasceram. Para outros, o batismo é um ato pelo qual consagram seus filhos ao
Senhor, com votos solenes de educá-los nos caminhos de Deus até, a idade da
razão.
Alguns me perguntam por que apresentei meus quatro filhos para serem
batizados, quando cada um ainda não tinha mais que dois meses. Minha resposta
é que acredito estar seguindo a tradição bíblica, que remonta ao tempo do Antigo
Testamento, e que não foi abolida no Novo, de incluir os filhos dos fiéis na aliança
de Deus com o seu povo. Batizei meus filhos crendo que, através desse rito
iniciatório, eles passaram a fazer parte da Igreja visível de Cristo aqui na terra.
Minha crença sé baseia no fato de que, quando Deus fez um pacto com Abraão,
incluiu seus filhos na aliança, e determinou que fossem todos circuncidados (Gn.
17.1-14). A circuncisão, na verdade, era o selo da fé que Abraão tinha (ver Rm 4-
3,11 com Gn 15.6), mas, mesmo assim, Deus determinou-lhe que circuncidasse
Ismael e, mais tarde, Isaque, antes de completar duas semanas (Gn. 21.4).
Abraão creu e o sinal da sua fé foi aplicado à Isaque, mesmo quando este ainda
não podia crer como seu pai. Mais tarde, quando Moisés aspergiu com o sangue
da aliança as tábuas da Lei dada por Deus, aspergiu também todo o povo
presente no monte Sinai, incluindo obviamente as mães e seus filhos de colo (Hb
9.19-20).
Foi uma grande alegria ter meus filhos batizados e vê-los, assim, receber o selo
da fé que minha esposa e eu temos no Senhor Jesus. Deus sempre tratou com
famílias (Dt 29.9-12), embora nunca em detrimento da responsabilidade individual.
Assim, Deus mandou que Noé e sua família entrassem na arca (Gn. 7.1), chamou
Abraão e sua família (Gn 12.1-3) e castigou Acã, Coré e suas famílias juntamente.
Paulo, ao refletir sobre a história de Israel e ao mencionar a passagem dos
israelitas pelo Mar Morto, diz que todo o povo foi batizado com Moisés, na nuvem
121
e no mar inclusive as crianças, é claro, pois havia milhares delas (1 Co 10.1-4).
Não é de se admirar, portanto, que Pedro, no dia de Pentecostes, ao chamar os
ouvintes ao arrependimento, à fé em Cristo e ao batismo, disse-lhes que a
promessa do Espírito Santo era para eles e para seus filhos (At 2.38-39). E não é
de admirar que os apóstolos batizavam casas inteiras em suas viagens
missionárias: Paulo batizou Lídia e toda sua casa (,At. 16.15), o carcereiro e todos
os seus (At 16.3233), a casa de Estéfanas (1 Co 1.16). É verdade que não se
mencionam crianças nessas passagens, mas o entendimento mais natural de
"casa" e "todos os seus" é que se refira à família do que creu e fica difícil imaginar
que, se houvesse crianças, elas teriam sido excluídas. Pois, para Paulo, os filhos
dos crentes eram "santos" (1 Co 7.14), ao contrário dos filhos dos incrédulos.
Talvez ele estivesse seguindo o que o Senhor Jesus havia dito, que não
impedissem as crianças de virem a Ele (Mc 10.13-16).
Compreendo a dificuldade que alguns terão quanto ao batismo infantil, pois não há
exemplos claros de crianças sendo batizadas no Novo Testamento. É verdade.
Mas é igualmente verdade que não há nenhum exemplo de um filho de crente
sendo batizado em idade adulta. Neste caso, talvez seja mais seguro ficar com o
ensino do Antigo Testamento., Se os judeus que se converteram a Cristo não
podiam batizar seus filhos, era de se esperar que houvesse alguma proibição
neste sentido por parte dos apóstolos, já que estavam acostumados a incluir seus
filhos em todos os aspectos da religião judaica. Mas não há nenhuma proibição
apostólica quanto a isso.
Compreendo também que alguns têm dificuldades com o batismo infantil por
causa da prática da Igreja Católica e de algumas denominações evangélicas, que
adotam a idéia da regeneração batismal, isto é, que, pelo batismo, a criança tenha
seus pecados lavados e seja salva. Pessoalmente não creio que seja este o
ensino bíblico. O batismo infantil não salva a criança. Meus filhos terão de exercer
fé pessoal em Cristo Jesus. Não serão salvos pela minha fé ou da minha esposa.
Eles terão de se converter de seus pecados e crer no Senhor Jesus, para que
sejam salvos. O batismo foi apenas o ritual de iniciação pelo qual foram admitidos
na comunhão, da Igreja visível. Simboliza a fé dos seus país nas promessas de
Deus quanto aos seus filhos (cf. Pv 22.6; At 2.38; At 16.31) e expressa os termos
da aliança que nós e nossos filhos temos com o Senhor (Dt ' 6.6,7; Ef 6.4). Se, ao
crescer, uma criança que foi batizada resolver desviar-se dos caminhos em que foi
criada, é da sua inteira responsabilidade, assim como os que foram batizados em
idade adulta, e que se desviam depois.
Certamente que o Novo Testamento fala do batismo como sendo uma expressão
de fé e de arrependimento por parte daqueles que se convertem a Cristo - coisas
que uma criança em tenra idade não pode fazer. Por outro lado, lembremos que
passagens assim não tinham em vista os filhos dos fiéis, mas toda uma primeira
geração de adultos que se converteram pela pregação do Evangelho.
Mas, ao fim, tanto os que batizaram seus filhos quanto os que os apresentaram,
devem orar com eles e por eles, serem exemplos de vida cristã, levá-los à Igreja,
122
instruí-los nas Escrituras e viver de tal modo que, ao crescer, os filhos desejem
servir ao mesmo Deus de seus pais.
Parte XX
COMO MEMBROS DO CORPO DE CRISTO
"Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros
do corpo, embora muitos formam um só corpo, assim também é Cristo. Pois em
um só Espirito fomos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos,
quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espirito. Para
que não haja divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns
dos outros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se
regozijam com ele. Ora, vos sois corpo de Cristo, e individualmente seus
membros"
(1Co 12.12,13,24-27)
A IGREJA
A Igreja é isso: uma congregação de crentes cuja única cabeça é Jesus Cristo. É
uma fraternidade de pessoas que crêem em Jesus Cristo como Salvador pessoal,
e Lhe obedecem seguindo-O como discípulos e tendo-O como Senhor.
Sim, formamos uma comunidade (At 2.42; 1Jo 1.3,6,7), e, se comunidade temos
algo em comum: a fé comum em Cristo Jesus (Tt 1.4; 1Co 1.9), o sangue de
Cristo (1Co 10.16), o Espírito Santo (Fp 2.1; 2Co 13.13). A verdadeira comunidade
cristã é criada e sustentada por uma fé e uma vida comuns em Cristo, um
compromisso de obediência comum a Cristo como Senhor, uma participação
comum no Espirito.
123
Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mc 3.35).
Há condições, pois pode uma pessoa ser cristã e não ser membro de uma Igreja
local. Por outro lado, há quem participe da comunhão terrena, mas não do
nascimento celestial. Por isso, "Saíram dentre nós, mas não eram dos nosso;
porque, se fossem dos nosso, teriam permanecido conosco; mas todos eles
saíram para que se manifestasse que não são dos nossos" (1Jo 2.19).
Importa que isso aconteça porque o salvo é batizado no Espírito Santo, e assim
unido à Igreja de Deus: "Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um
só corpo , quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi
dado beber de um só Espírito" (1Co 12.13), e essa expressão "batismo no Espírito
Santo"significa o ministério do Espírito em favor do que crê. Não se pode ser
membro por ordem de outros, por procuração, ou sem exercício da fé como no
124
caso de recém-nascidos.
E isso para ir ao encontro do Senhor e dos irmãos (Sl 84.2,4; 133.1), para receber
do Senhor bênçãos e mais abundância de vida (Sl 133.3; Mt 18.20; Jo 10.10),
para imitar o exemplo dos primeiros cristãos (At 2.46).
Mas é preciso recordar e viver a comunhão com Cristo no batismo (Rm 6.3,4), na
125
morte (v.4), na ressurreição (v.5; Ef 2.6), na vida eterna (v.8). Crucificados com
Ele (Gl 2.20), vivificados com Ele (Ef 2.5), e com Ele nos céus (Ef 2.6; cf. Mt 8.11;
23.2; Cl 3.1; 2Ts 2.4; hb 8.1; Ap 3.21). E também a comunhão com os outros, tão
essencial que João a põe como prova de conversão (1Jo 3.14-18; cf. Jo 13.35;
17.21; 1Co 13.1-13).
A IGREJA LOCAL
Dizer isso significa que ninguém tem privilégio especial sobre outro. Só Cristo!
Então, já que há direitos iguais de acesso a Deus, há privilégios iguais na igreja.
Essa é a razão porque somos uma fraternidade, uma família da qual Deus é o Pai,
e Jesus Cristo o irmão mais velho (R.M. 8.29; Mt 6.9; 12.50; 23.9; Lc 8.21; Ef 4.6;
1Pe 1.17). A igreja não é uma relação de sócios ou de membros ou de filiados. É
uma comunhão. Se alguém está fora dessa comunhão, seja por falta grave,
abandono, escândalo, falsa doutrina, deve ser excluído da igreja porque, de fato,
já se auto-excluiu (Rm 16.17; 1Co 5.5,3-5, 9-11,13; 2Ts 3.6,14,15; 1Tm 1.18-20; Tt
2.10,13; 2Jo 9-11; Jd 4,10-13, 16-19; 1Tm 5.2b; 2Tm 3.5; Tt 3.10).
126
Vicente , dizendo que é o melhor patrão, e cantasse muito para ele (já que ele
gosta de música sertaneja), e não fizesse meu serviço com o gado, ele me
mandaria embora!" Jesus não falou naqueles que dizem "Senhor, Senhor! E que
não entrarão no reino dos céus?"
Que nos comprometamos a ter cuidado uns dos outros, que nos lembremos uns
dos outros em nossas orações, que nos ajudemos mutuamente em nossas
enfermidades (Tg 5.16b), a cultivar relações francas e a delicadeza no trato e a
estar pronto a perdoar as ofensas (Mt 6.12-15), a buscar a paz com todos. Que
Deus nos ajude!
Parte XXI
COMO SE FAZ UMA GRANDE IGREJA
"Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse,
tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a
si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém
santa e sem defeito" (Ef 5.15b-27).
127
É desejo comum que esta nossa igreja seja grande em todos os sentidos. Por
isso, oramos no sentido que cresça em número e espiritualidade. Uma grande
igreja não é a que tem o maior templo da cidade, nem as melhores salas para a
educação religiosa do seu povo, o melhor coro, ou o maior balancete mensal, ou a
que levanta as maiores ofertas missionárias e para outros fins. Não é aquela cujo
pastor é o melhor orador da cidade, e os membros os mais destacados da
sociedade.
No entanto, incidentalmente, uma grande igreja pode ter tudo o que foi
mencionado.. No entanto, uma grande igreja é a quem tem certas características
bíblicas que passaremos a enumerar.
Cada crente é chamado por Deus para ser um ministro. Isso é interessante porque
podemos pensar que a palavra "ministro" é tão elevada, pois, afinal de contas, é
utilizada no primeiro escalão do governo. Falamos em Ministro da Educação,
Ministro das Finanças, e assim por diante. Palavra, portanto, usada para pessoas
de altíssimo gabarito, do alto escalão do governo.
A Bíblia diz que nós temos um serviço. Essa palavra "ministro" é usada,
sobretudo, para dizer "servo" e o conseqüente serviço prestado. Somos todos
chamados para ser ministros de Jesus Cristo. Isso é algo básico, é um conceito
bíblico, evangélico em todos os sentidos porque Jesus declarou "O Filho do
Homem (Cristo) não veio para ser servido, mas para servir...",e é igualmente
prático (cf. Ef 4.11,12; Mc 10.45).
Talvez uma pergunta esteja na mente dos leitores: "se todos vão ser ministros,
quem vai ser o pastor?" É precisamente neste tipo de pergunta que há mal-
entendidos, pelo fato de algumas pessoas ainda presumirem que o pastor tem que
fazer tudo na igreja, de preferência ao mesmo tempo, e, estar em todas as
reuniões, algumas marcadas ao mesmo tempo, e, se possível, que ele tenha o
singular condão nunca esperado de outras pessoas, de estar presente em todas
essas reuniões.
128
dizer que cada um de nós tem um ministério. Você vai dizer, "Pastor, não sei qual
é o meu ministério, o meu dom". Os chamados testes dos dons dão uma pista.
Dom não é o talento natural, pois alguém pode ter um grande talento em certa
área, e não ter sido capacitada por Deus para exercê-lo no ambiente de formação
espiritual da igreja. Você reconhece o seu dom espiritual pela compulsão que
parte do seu íntimo. Você sente o desejo de realizar algo. Há um irmão em nossa
igreja que tem o evidente carisma do socorro, da ajuda. Não é a contribuição em
dinheiro para resolver a débil situação econômica de alguém. É que no momento
em que você diz "Preciso de tal coisa", ele responde "Pronto, diga onde está que
vou buscar". Sem alarde, ele diz "Vou resolver".
Essa é uma grande igreja, a que tem um ministério para cada pessoa. Cada um
sabe qual o seu ministério, se evangelismo, se ação social, se ensino. Cada um
faz alegria, com prazer, e não é preciso pedir "Por favor" porque o Espírito Santo
já capacitou para tal trabalho. Soube de uma igreja no estado da Flórida (EUA)
onde não indicação para os cargos. As posições são disponíveis e os membros
dizem à Comissão, "Quero trabalhar nessa função", e os cargos vão sendo
preenchidos de acordo com a vontade de trabalhar da pessoa. Assim fazendo,
trabalha quem quer trabalhar, porque infelizmente, muita gente fica esquecida
quando a Comissão de Indicações vai estudar os nomes e cargos. Uns são
esquecidos, outros recebem três, quatro, cinco cargos. Com um ministério para
cada um, essa é uma grande igreja!
Como é possível obter uma fé estável, firme, que não seja levada por todo vento
de heresia ou de corrupção? Temos algumas pistas na Palavra de Deus. Uma
muito simples é compartilhando as experiências nos cultos. A Carta aos Hebreus
quase que diz "Não deixando a vossa congregação como é costume de... Fulano
de Tal..."Mas o Espírito Santo diz "Não deixando a vossa congregação como é
costume de alguns". E esses "alguns" sabem quem são e quais são os costumes:
de faltar sem necessidade, de passear pelas outras igrejas (o chamado "turismo
eclesiástico").
Irmão amado, irmã querida, qual a sua mesa espiritual? Já imaginou se seu filho
resolvesse que amanhã vai almoçar na casa do vizinho, e terça-feira na casa da
tia, quarta-feira vai para a do primo, e assim cada dia da semana. Seria uma
tremenda economia para o irmã, mas o feijão-com-arroz é em casa. Fora, há
banquete, mas há tantos banquetes que fazem mal. Feijão-com-arroz bem
preparado, bem temperado edifica, faz crescer, engorda e faz ficar bonito. O
mesmo com a doutrina: edifica, fortalece, encaminha.
O hábito da freqüência sistemática aos cultos é uma bênção na vida do cristão por
ser fundamental para a firmeza de suas convicções. Li uma frase (mas não vou
dar 100% de crédito porque conheço a luta de alguns irmãos): "No domingo de
manhã, vêm todos; à noite, só os fiéis". Achei-a um tanto pesada. É meio
129
complicado para um igreja de centrão da cidade ter uma altíssima freqüência à
noite: há quem more muito distante, há quem seja idoso, há quem tenha filhos
ainda pequenos, e outra tantas razões. Porém, se você não tem nenhum desses
impedimentos, venha. Traga sua alegria, seu louvor, sua contribuição de presença
à Celebração do Nome de Jesus.
E o Culto de Oração nas quartas ou quintas-feiras que tem virado uma lástima em
algumas igrejas? Alguém me repassou uma Nota de Falecimento que diz o
seguinte:
Nota de falecimento
Faleceu, na Igreja dos negligentes e frios na fé, dona "Reunião de Oração", que já
estava enferma desde os primeiros séculos da era cristã.
130
entrega, de quebrantamento, de reconhecimento do senhorio de Jesus Cristo
sobre nós com o objetivo nosso de aprender.
E é uma atividade que se demonstra em tudo o que fazemos. Como Jesus
expressou: "São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem
bons, todo o teu corpo será luminoso; mas, se forem maus, o teu corpo ficará em
trevas"(Lc 11.34), e Paulo, o apóstolo, em Filipenses 3.13,14, "Irmãos, quanto a
mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das
coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus". É uma atividade que olha para o alvo que é a cruz de Jesus Cristo, o
próprio Senhor Jesus Cristo.
Através do estudo da Palavra. Não posso entender o crente que não se alegra
com a leitura da Palavra de Deus. Isso quando a Bíblia fala tanto de alegria e
felicidade. Há até uma bem-aventurança: no Salmo 1, onde fala do "varão que tem
o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita dia e noite". Prefiro esta última
expressão "dia e noite" a uma outra tradução que ensina "de dia e de noite",
porque a primeira fala de constância, permanência na Palavra, enquanto a
segunda pode dar idéia de tirar uma horinha de dia, e outra horinha de noite para
meditar na Palavra. Ela só é meditação constante quando aplicada à vida e cada
coisa que fizermos, cada palavra que pronunciarmos, cada atitude que
expressamos está marcada por essa disciplina que vem da Escritura Sagrada.
Nossa igreja tem realizado seminários e simpósios de capacitação. Eles vêm para
melhorar a nossa vida pessoal e da igreja como um todo.
131
UMA GRANDE IGREJA É AQUELA QUE TEM UMA VIDA DE TESTEMUNHO
Mateus 5.16 e Atos 1.8b são textos basilares sobre o testemunho do cristão:
"Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens..."; "Vós sois a luz do mundo";
"Vós sois o sal da terra". Tudo isso é testemunho! O apóstolo Paulo tem uma
expressão em 2Coríntios 3.2< "Vós sois... conhecida e lida por todos os homens,
estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo ministério, escrita não
com tinta, mas pelo espírito do Deus vivente..." O que é impressionante é que
muita gente nunca vai abrir a Bíblia Sagrada, mas vai ler a minha e a sua vida, a
única Bíblia que estas pessoas irão ler. Portanto, uma grande igrejaé aquela que
tem uma vida de testemunho.
O conteúdo do testemunho aponta para Jesus Cristo e Sua obra na vida humana.
Somente temos que ler o livro dos Atos dos Apóstolos para confirmar o que foi
dito. Que livro extraordinário! É uma leitura empolgante. Parece que estamos
andando com os discípulos, e entrando com eles nas cidades, e participando das
pregações. Nesse livro, o testemunho é pessoal, e começa na própria experiência
de Pedro (At 2.32), de Pedro e João (3.4-6), de Estêvão (7.56), de Paulo (20.24;
132
22.14,15).
Não obstante, nada acontecerá sem o poder do Espírito Santo. Absoluta nada.
Não haverá um ministério para cada um; não haverá estabilidade de fé; nem vida
de disciplina, nem vida de testemunho.
Assim é com a igreja: sem o fogo do Espírito, a igreja não tem sentido. É um clube
religioso, é uma reunião de amigos, de gente idealista, mas não é uma igreja onde
Jesus Cristo é Senhor. É uma mascarada, uma fantasia. Lembremos que o fogo
que aquece a igreja é o Espírito Santo, na inspiração de Zacarias 4.6, "Não por
força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos".
133
EXPRESSÕES PARA DESCREVER O MINISTÉRIO DO ESPÍRITO
O Novo Testamento tem dois termos para descrever o ministério do Espírito Santo
na vida e experiência dos crentes: a habitação do Espírito Santo e a plenitude do
Espírito Santo ou ser cheio do Espírito. O primeiro se refere à conversão (1Co
3.16; Tg 4.5). O segundo significa ser controlado pelo Espírito Santo (Ef 5.18).
Por incrível que possa parecer, Paulo faz uma analogia entre a intoxicação
alcoólica, a embriaguez, e o controle do Espírito de Deus. Ele o faz em Efésios
5.18: "Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do
Espírito". Quando uma pessoa está "cheia de vinho" não significa que está cheia
da cabeça aos pés como uma garrafa, mas que cada parte de seu corpo está
afetada pela bebida: seu modo de caminhar, sua conversa, seu olhar, seus
pensamentos.
Ser "cheio do Espírito" significa que cada ação nossa, cada pensamento e palavra
está sob Sua influência. É o controle e o domínio do Espírito Santo sobre. A
plenitude do Espírito Santo não é instantânea como a embriaguez também não o
é. Sua comunhão com o Espírito vai fazendo com que sua vida seja controlada, e
cada vez mais controlada, de tal modo que quando você fala, anda ou toca as
pessoas, todos compreendem que você está sob o domínio do Espírito de Deus.
Esta deve ser uma nova hora para cada pessoa que lê esta reflexão. A hora de
cada crente renovar sua aliança com Deus. A hora de se firmar mais e cada vez
mais em Jesus Cristo, nossa Rocha Eterna. A hora de buscar a plenitude do
Espírito, se o que desejamos é uma vida abundante e vitoriosa.
Parte XXII
CREIO NA CONTRIBUIÇÃO CRISTÃ
A causa de Jesus Cristo tem seu lado financeiro, o que ninguém desconhece. Isso
faz lembrar a palavra de um evangelista que afirmou com muita propriedade, "Na
verdade, a água da vida é grátis, mas o balde em que é transportada tem que ser
comprado." Quer isso significar que quando se anuncia o reino de Deus isso é
feito de modo absolutamente gratuito, havendo, no entanto, um custo financeiro.
Quando os irmãos se reúnem para o crescimento, quando a igreja se reúne para a
edificação ou quando espalha a mensagem através de ondas do rádio, da
televisão, ou através da imprensa escrita, a água da vida é levada. E o crente que
se consagra, reconhece que o dinheiro não é o lado profano, secular, de algo
134
sagrado chamado Igreja. A contabilidade de uma igreja local é tão sagrada quanto
a mensagem que sai do púlpito, tão sagrada quanto a lição da Escola Bíblica que
é repassada para os alunos em uma classe; tão sagrada quanto uma cesta básica
que é dada para uma família menos valida, porque na Igreja de Jesus Cristo não
reconhecemos coisas profanas e coisas sagradas. Para o cristão, tudo tem
sacralidade. Assim o era no Antigo Testamento. A Constituição do povo de Israel
era a própria Lei de Moisés. O aspecto civil da lei de Moisés confundia-se com o
lado cultual, ritual e litúrgico.
Dinheiro, portanto, é assunto sério. Tão sério, tão sagrado que Jesus tinha um
tesoureiro no colégio apostólico. E havia pessoas fiéis que sustentavam o Seu
ministério. Vamos a Lucas 8.2,3, que apresentam o seguinte: "E também algumas
mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades:
Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; E Joana, mulher de
Cusa, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras as quais o serviam com
seus bens." Sustentavam a obra de Jesus Cristo.
Sim; existe um aspecto sagrado no dinheiro que entregamos à igreja. Há, até,
quem pense que a Bíblia ensina que o dinheiro é a raiz de todos os males. E
alguém disse, "Está na Bíblia". Isso não existe na palavra de Deus. Se assim
fosse, não seria ordenado "trazei todos os dízimos à casa do tesouro". O que a
Bíblia diz, é que "o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males". O que a Escritura
ensina é que a avareza, o amor ao dinheiro, a ganância, é a raiz de todos os
problemas e sofrimentos. No livro de Jó no capítulo 31, diz o verso 24: "Se no ouro
pus a minha esperança, ou disse ao ouro fino: Tu és a minha segurança; Se me
alegrei por ser grande a minha riqueza, e por ter a minha mão alcançado muito;
Também isto seria pecado para ser punido pelos juizes, pois eu teria sido infiel a
Deus que está lá em cima." Na palavra de Jesus, em Lucas 12.15: "Acautelai-vos
e guardai-vos da avareza; a vida de um homem não consiste na abundância dos
bens que ele possui". Mateus 6.24, faz parte do "Sermão do Monte. Nele está que
"Ninguém pode servir a dois senhores. Ou a de odiar a um e amar o outro, ou se
devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e as riquezas".
Algumas traduções têm "Não podeis servir a Deus e a Mamon". Mamon é a
personalização do dinheiro, das riquezas.
Temos nesta história todo um sistema de valores. Dinheiro, não é apenas um meio
de adquirir bens. Dinheiro é um sistema de valores. É um sistema de valores
econômicos, espirituais e morais. Por isso que o valor de um objeto é medido pela
quantidade de dinheiro que nós gastamos nele. Se alguém vai comprar um
refrigerador, e a loja diz que custa R$ 450,00, e há um outro bem semelhante nas
135
características e funções e custa R$ 580,00, você vai querer saber porque um
custa duzentos e pouco e o outro quinhentos e alguma coisa. E normalmente se
dá mais valor ao que custa mais caro. Então, nós colocamos no dinheiro um
sistema de valores porque damos preço a um objeto pela quantidade de dinheiro
investido nele.
O dízimo faz parte desse sistema de valores. Dar é sinal da graça de Deus. Tive a
curiosidade de olhar na Concordância Bíblica a palavra dar, que também pode ser
doar e oferecer. A lista de versículos relacionados com dar, doar e oferecer é
imensa, indo de Gênesis 4:12 a Apocalipse 22:12. Por isso, a Bíblia diz tantas
vezes, "Que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu filho unigênito".
Também há uma palavra de Jesus registrada fora dos Evangelhos, no livro dos
Atos dos Apóstolos (chamado, aliás, de "o Evangelho do Espírito"): "Mais bem
aventurada coisa é dar do que receber".
Realmente, a Escritura mostra que dar é sinal da graça de Deus na sua vida e a
disposição de fazê-lo é dom da operação do Espírito Santo no coração. Romanos
12 fala sobre isso, e uma das graças do Espírito na nossa vida chama-se o dom
da liberalidade, o carisma de ser liberal. É aquela pessoa que dá o dízimo, no
entanto, o carisma é tão forte na sua vida que se a igreja pedir o segundo dízimo
dá, e se a igreja pedir uma contribuição para ajudar a uma determinada causa,
também dá. Contribuir está intimamente ligado ao estado de vida espiritual e onde
há contribuição generosa e liberal a Deus, podemos reconhecer a ação do Espírito
Santo de Deus.
No caso particular dos Batistas, quando o fiel entrega o dízimo, uma parte dele é
enviada para a Convenção Batista do seu Estado. A Convenção estadual reúne
das igrejas do seu campo e remete uma porcentagem para a Convenção Batista
Brasileira, a qual, por sua vez, divide toda a contribuição recolhida pelos diversos
apostolados e ministérios que realiza, enviando uma parte à Aliança Batista
Mundial. Nesse ponto, forçosamente nós temos que entrar no sistema de Deus
para o financiamento do Seu projeto. O projeto de Deus é o programa de
expansão do Seu reino neste mundo. É o governo soberano de Deus nos
corações. E parte desse projeto é 10% da renda pessoal.
136
Então o que é e o que não é o dízimo? Vamos esclarecer algumas coisas. Vamos
começar com o que o dízimo não é:
137
derramar sobre vós uma benção em abundância." Há outras bênçãos além de
dinheiro. Quantas vezes o dinheiro tem sido maldição; mais dinheiro uma pessoa
tem, mais miserável é, às vezes, para a obra de Cristo. As bênçãos são a graça, a
misericórdia, o crescimento espiritual. Por isso, não dê o dízimo para pagar
promessa. Não dê o dízimo com medo, não.
"Então o que é o dízimo, pastor?"
Aprendo que o dízimo é uma solução. A Bíblia me mostra que o dízimo é uma
solução para o crente pessoalmente falando. Porque um vai dizer, eu ganho
pouco e o outro vai dizer, eu ganho muito. Eu vou dar quanto? A resposta é a
mesma. 10%. Isso significa que o dízimo é proporcional. Isso diz que o dízimo é
adequado, é ponderado. É um guia para o padrão de crescimento do crente na
138
contribuição. E assim, nos ajuda a desenvolver a disciplina de um padrão, o
padrão de contribuir, além de nos ajudar também a estabelecer corretamente
quais são as prioridades da nossa vida.
É solução para não só para o crente individual, mas, é solução para a expansão
da igreja, porque as causas missionárias, os planos evangelísticos, o
desenvolvimento na educação dos novos e dos antigos crentes, tudo se executará
com largueza, com amplitude, com visão por causa do dízimo. Um problema
financeiro que a igreja tem será resolvido com facilidade. Aliás, não haverá
problema financeiro.
Oferta alçada é mais do que dízimo, sabiam? Há quem pense que oferta é menor
do que o Dízimo. Se o seu dízimo é de R$ 100,00, oferta é R$ 120,00, 200,00,
250,00, etc. Contribuição é menos. Se você deve dar R$ 100,00, e dá R$ 80,00,
está dando uma contribuição. Está fora do padrão. Quando você então se une a
outros crentes na sua igreja e você dá o dízimo, você começou a cooperar. O
plano cooperativo começa com você.
Que mais? A Convenção Batista Baiana por sua vez, remete 20% para o Rio de
Janeiro, onde fica a sede da Convenção Batista Brasileira. E a Convenção Batista
Brasileira recebe da Convenção Baiana; da Sergipana; da Capixaba; da Mineira;
da Amazonense; da Paraense; da Paraibana e assim por diante. Todas as
Convenções mandam uma parte (20%, 30%, 10%), quanto estiver estipulado em
assembléia da respectiva Convenção. A Convenção Batista Brasileira recebe
então, o dinheiro das Convenções que na verdade é o dinheiro que veio das
igrejas; que na verdade é o seu dinheiro; que na verdade é o dinheiro do Senhor.
E dessa maneira distribui pelos diversos ministérios que ela executa: Junta de
Missões Mundiais; Junta de Missões Nacionais; Junta de Rádio e Televisão;
139
JUERP, Seminários, Aliança Batista Mundial, e assim por diante... Os missionários
que estão no Japão, no Canadá, na Romênia, na África, enfim, espalhados pelo
mundo, recebem porque o irmão deu o dízimo na igreja.
O pastor Roberto McAlister, já falecido, faz uma pergunta, "Que é melhor: saúde
ou um bom tratamento médico?". O que é que você prefere irmão, saúde ou o
melhor médico da cidade tratando do seu terrível caso ? "Que é melhor, um filho
simples e obediente ou um filho brilhante sem caráter? Que é melhor, um
casamento humilde com muito amor ou um casamento infeliz com muito dinheiro?"
O que é melhor? Porque tudo depende do senso de valores e Jesus Cristo fala de
valores quando diz que devemos buscar o Reino de Deus e a sua justiça, porque
o restante vem acrescentado.
Quer dizer, se eu colocar o dízimo como o meu ponto de partida, a minha falta de
fé vai se transformar em confiança e em sinceridade. Não vai haver falta de
recursos para fazer a obra do Senhor, na casa do Senhor. A conquista de almas
vai aumentar porque eu só tenho que fazer uma coisa, uma aliança com Deus;
uma aliança com o Senhor na base da fé, na base da dependência Dele, pois
certas coisas só podem ser realizadas com o Espírito Santo. Por isso, não é
dever, é privilégio do crente, o de participar da obra do Senhor, da causa do
Senhor; do projeto de Deus.
Parte XXIII
DESAFIOS DA LIDERANÇA CRISTÃ
140
atinge o cerne da autoridade e da liderança da Igreja de Jesus Cristo. Wiersbe
lembra que Paulo exclamou com as veras da sua alma: "não me envergonho do
evangelho!" E sugere que talvez o evangelho afirme: "(mas) eu me envergonho
dos cristãos". Quanta coisa tem sido praticada em nome do evangelho, com
aparência de evangelho, com linguagem de evangelho, e tem dado como
resultado superficialidade de convicções, confusão mental e espiritual, e
enfraquecimento da fé porque os líderes, pastores ou não, têm aberto campo para
a falta de ética, para a manipulação dos sentimentos, para a falta de integridade.
Não podemos fazer por menos: o instrumento que Deus tem para unir as pessoas,
fatos e acontecimentos é a Igreja de Cristo. O líder há de ser íntegro, "limpo de
mãos" (cf. Cl 1.9,10; 2.10; Sl 24.3,4), e "puro de coração" (cf. Sl 24.3,4). O líder
cristão deve possuir uma mente como a de Cristo (cf. 1Co 2.16); sua vontade é
honesta (Ed 9.6).
O fato é que na época de Jeremias a religião parecia com esta do século 21: o
povo dizia crer, mas havia influência secularista, pois o que cria não fazia
diferença quanto ao modo de viver. O ideal evangélico está expresso em
2Coríntios 5.17. Além disso, na época de Jeremias, a religião havia se tornado um
"grande negócio". É só conferir com as exclamações do profeta Jeremias que não
tolerava os abusos como em 5.30,31 e Lamentações 4.13. Tudo isso é o que A.
W. Tozer chamou de "tratamento comercial" do evangelho. Esse mesmo
"tratamento comercial" é responsável pelo pragmatismo religioso: "visto que a
igreja está cheia, Deus está abençoando", afirmam.
É evidente que o culto é mensurado pela transformação causada nos que cultuam
a Deus, e há de ser sempre "em espírito e em verdade" (Jo 4.23,24), ou não há de
ser culto. É gratidão, reconhecimento, louvor, e (embora não seja o propósito
primário) terapêutico. Ao tempo que o cultuante reconhece o cuidado, carinho e
amor de Deus, louva-O e sai aliviado das tensões, dos cuidados e preocupações,
terapia grupal no louvor comunitário.
O culto, por ser dinâmico, envolve mudanças, mas envolve igualmente o que
nunca deve ser mudado. Deus não muda; as verdades eternas não mudam; a
Palavra de Deus não muda. Questiona-se a ressurreição de Jesus Cristo, a
realidade do pecado, a necessidade de salvação, e a singularidade da obra
redentora de Cristo. Mas o método pode mudar porque não são estáticos, mas se
141
adequam aos tempos e circunstâncias.
142
mesmos chegamos. Nesse ponto, vai se revelar o líder espiritual em
contraposição ao líder natural. Segundo Sanders, o paralelo entre estas duas
qualidades de líderes é o seguinte:
O Líder Natural
· É autoconfiante
· Conhece os homens
· Toma as próprias decisões
· Usa os próprios métodos
· Gosta de comandar os outros (e ser obedecido)
· É motivado por questões pessoais
· É independente.
Parte XXIV
DISCIPLINA NA IGREJA
Introdução
Disciplina eclesiástica é um termo em risco de extinção no atual vocabulário
cristão. Desde que os princípios do pós-modernismo encontraram lugar no
seio da igreja,(1) qualquer conceito que ameace o individualismo e a
liberdade de escolha quanto ao estilo de vida, comportamento, etc., é logo
taxado de arcaico, passé. A dicotomia prática de muitos cristãos gera a
ilusão de que a igreja não tem nada a ver com o procedimento "secular" de
seus membros. Nessa "nova era" antropocêntrica, a igreja é vista como uma
organização altamente dependente do indivíduo, e que precisa conservá-lo
ao custo de várias exceções. O medo da impopularidade leva muitos líderes
à cumplicidade e pecados são justificados em nome de uma atitude mais
"humana."(2) Por outro lado, o que dizer daqueles que, em nome do zelo
pela disciplina, cometeram injustiças e causaram mais males que bens?(3)
Em todo esse contexto, a disciplina tem uma vida curta e a tolerância
consagra-se como a virtude da moda.(4 )Porém, o que acontece com uma
igreja sem disciplina?
143
deste artigo é delinear alguns fatores da importância da disciplina
eclesiástica entre os membros do corpo de Cristo. O autor está plenamente
consciente de que um artigo como este não coloca um ponto final no diálogo
sobre o assunto. Porém, o que motiva esta reflexão é a esperança de que a
mesma seja útil para elucidar a muitos quanto ao aspecto bíblico-teológico
da disciplina.
I. Errando o alvo
A igreja cristã tem sido acusada de ser o único exército que atira nos seus
feridos.(6) O grau de verdade dessa acusação é, muitas vezes, devido a mal-
entendidos com relação à disciplina eclesiástica. Tais mal-entendidos estão
presentes em pelo menos dois grupos: 1) os que aplicam a disciplina, e 2) os
que sofrem a aplicação da mesma. Como cada caso deve ser analisado
individualmente, só nos cabe aqui listar os mal-entendidos mais comuns em
relação à disciplina eclesiástica.
A. Disciplina e Despotismo
B. Disciplina e Discriminação
144
Há sempre a possibilidade de que o disciplinado não se submeta à
disciplina, e acuse a igreja de discriminação. Tal atitude apenas manifesta
ignorância e estupidez (Pv 12.1 - tradução literal). Segundo as Escrituras, é o
pecado e a determinação em segui-lo que gera discriminação, e não a
disciplina (1 Co 5.5 e 1 Tm 1.20).
C. Disciplina e Arbitrariedade
A. A Necessidade da Disciplina
145
Aquele que ordena a disciplina na igreja é o mesmo que estabelece o padrão
a ser seguido no exercício da mesma. Esse padrão consiste primeiramente
em amor paternal (Hb 12.4-13). É certo que o mundo vê a disciplina como
expressão de ira e hostilidade, mas as Escrituras mostram que a disciplina
de Deus é um exercício do seu amor por seus filhos. Amor e disciplina
possuem conexão vital (Ap 3.19). Além do mais, disciplina envolve
relacionamento familiar (Hb. 12.7-9), e quando os cristãos recebem disciplina
divina, o Pai celestial está apenas tratando-os como seus filhos. Deus não
disciplina bastardos, ou seja, filhos ilegítimos (v. 8). O padrão de disciplina
divina revela também maravilhosos benefícios. A disciplina que vem do
Senhor "é para o nosso bem (v. 10)." Ainda que seja inicialmente doloroso
receber disciplina, a mesma produz paz e retidão (v. 11). O v. 13 ensina que o
propósito de Deus em disciplinar não é o de incapacitar permanentemente o
pecador, mas antes de restaurá-lo à saúde espiritual.
B. Os Passos da Disciplina
1. Abordagem individual- O v. 15 (Se teu irmão pecar vai argui-lo entre ti e ele
só...) ensina que a confrontação é um tarefa cristã. Uma das melhores coisas
146
a se fazer por um irmão em pecado é confrontá-lo em amor (Pv 27.5-6). Mas é
sempre arriscado confrontar alguém, pois nunca se pode prever a reação do
mesmo. Jesus, todavia, dirige nossa atenção para a alegre possibilidade de
que tal irmão nos ouça. Além do mais, o termo grego e)/legcon ("arguir,
instruir, confrontar," v. 15) também pode ser traduzido como "trazer à luz,
expor."(10) É significativo o fato de que esse é o mesmo termo usado em
João 16.8 para descrever o ministério do Espírito em relação àqueles que
estão no mundo, em convencê-los (confrontá-los) "do pecado, da justiça, e
do juízo." Assim, antes de confrontar um irmão, podemos sempre clamar por
socorro Àquele cujo ministério de confrontação é sempre eficaz.
147
eclesiástica "não é uma atividade a ser realizada facilmente, mas algo a ser
conduzido na presença do Senhor."(12)
Sendo que Cristo deseja sua igreja "sem mácula, nem ruga, nem coisa
semelhante, porém santa e sem defeito" (Ef 5.27), a disciplina eclesiástica é
altamente relevante, pois é um meio instituído por Deus para manter pura a
sua igreja. O servo de Deus sempre deve almejar a pureza da noiva do
Cordeiro (2 Co 11.1-3), mesmo diante da possibilidade da sua contaminação
pelo mundo.
C. Disciplina e Evangelismo
A disciplina evidencia o amor cristão pelo pecador, ainda que esse pecador
148
seja um dos membros da igreja. Esse amor pelo pecador cristão também
reflete o amor da mesma pelo pecador incrédulo. A disciplina eclesiástica
ressalta a seriedade do pecado. Sem a visão dessa seriedade, a igreja não é
corretamente motivada a buscar a redenção do pecador. Há uma relação
entre disciplina eclesiástica e evangelismo.
Conclusão
1 Ver Os Guinness, Dining With the Devil: The Megachurch Movement Flirts
With Modernity (Grand Rapids: Baker, 1993).
149
4 Josh N.D. McDowell, Tolerating the Intolerable: A Mandate of Love
(Wheaton, Illinois: Josh McDowell Ministry).
150
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos
de Deus; e nós o somos. Por isso o mundo não nos conhece; porque não
conheceu a ele. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o
que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos” (1Jo 3.1,2).
Sou fascinado pela Primeira Carta de João. Ela tem qualidades extraordinárias.
Este é o mesmo João que um dia, ao passarem Jesus e os discípulos por
Samaria, ao perceber a má vontade dos samaritanos em receber o grupo porque
era composto de judeus (pois havia inimizade entre samaritanos e judeus, como,
por sinal, ainda hoje acontece), indaga de Jesus se não seria conveniente pedir
um raio que acabasse com os samaritanos tão sem hospitalidade (cf. Lc 9.51-54).
Este tão intolerante e raivoso João é o mesmo que quase sessenta depois,
amadurecido, experimentado, tem agora um tratamento absolutamente diferente.
Escreve esta carta debaixo de uma ternura tão grande, como atestam suas
palavras do início até o verso final.
É nessa carta que ele diz que “Deus é amor” (4.8); que “temos um advogado para
com o Pai” (2.1); e, ainda, “Eu escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de
Deus permanece em vós, e já vencestes o Maligno” (2.14).
É MARAVILHOSO...
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos
de Deus; e nós o somos” (v. 1). É maravilhoso sermos “chamados filhos de Deus”.
Quem são os filhos de Deus? A pergunta tem pertinência porque existe uma
teologia popular que afirma que todos são filhos de Deus. Ouvi nesta semana um
pedaço de conversa no supermercado em que um cidadão dizia para o outro: “...
mas eu também sou filho de Deus...” Talvez fosse, não queremos julgar, mas a
idéia geral e popular é essa.
É popular, mas não é da Bíblia, que ensina que somos criaturas de Deus, ou como
o apóstolo Paulo deixou registrado, “somos feitura sua, criados em Cristo Jesus
para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas” (Ef
2.10). A palavra “feitura” é muito sugestiva na língua em que Paulo escreveu esta
carta; é poeimia, de onde vem nossa palavra “poema”. Somos uma obra de arte
de Deus, mas tão somente criaturas.
151
Então, se todos somos criaturas, quem é filho de Deus? Há inúmeras referências
na Bíblia Sagrada sobre isso. Gálatas 3, verso 26, não deixa por menos: “Pois
todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus.” Já fez uma tremenda limitação,
pois quem não tem fé em Jesus Cristo não é filho de Deus!
Se assim é, que teologia é essa que ensina que todos somos filhos de Deus? Se
alguém não acompanha a Jesus, não o considera com responsabilidade na vida,
não tem um comprometimento sério com Ele pode efetivamente ser chamado
“filho de Deus”? Pela Escritura Sagrada, não. Vamos, então, ao Evangelho de
João. É o mesmo escritor da carta que estamos apreciando. Diz ele: “Veio [Cristo]
para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o
receberam, aos que crêem no seu nome [aos que têm fé-adesão, compromisso],
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.11,12).Quem é filho de
Deus? Os que têm fé e crêem em Cristo Jesus.
Diz a Palavra de Deus, ainda, que são filhos de Deus os que andam em
sinceridade. Ser sincero é ter uma face autêntica, ser puro de mãos e limpo de
coração. A palavra sincero vem do teatro greco-romano. O modo de fazer teatro
era diferente do nosso, visto que a postura corporal, o tom da voz, a expressão
facial têm enorme importância no teatro moderno. No teatro romano, usavam-se
máscaras: uma tinha a boca voltada para cima como se estivesse sorrindo, e dava
idéia de alegria, e a outra tinha a boca voltada para baixo como se chorasse, e
denotava tristeza. Para passar alegria, colocava-se no rosto a máscara feita de
cera denotando felicidade; se tristeza, a máscara triste de cera era colocada no
rosto. Quando o ator não estava de máscara, sem a cera no rosto, portanto,
estava com a verdadeira face aparecendo. Uma pessoa “sincera” (sem cera) ´não
está mascarada, mostra quem é. E diz a Bíblia que quem anda na honestidade de
seu coração voltado para a fé em Jesus Cristo, essa pessoa é filha de Deus. E o
propósito do evangelho é patente: “...para que vos torneis irrepreensíveis e
sinceros, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e perversa,
entre a qual resplandeceis como luminares no mundo” (Fp 2.15).
Diz a Palavra Santa que é filho de Deus quem é praticante da justiça. Palavrinha
boa... justiça! Ser justo é ser reto no que se faz. Nas artes gráficas, justificar é
colocar tudo reto; o mesmo em informática: pode-se justificar pelo lado esquerdo,
pelo direito ou pelo meio. A Palavra de Deus é tão clara quando diz, “Justificados,
pois, pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).
Glória a Deus porque pela fé somos considerados retos diante de Deus: tudo o
que é passado vai para a lixeira da eternidade, e agora temos uma vida toda nova
porque fomos considerados justos pelo Senhor, palavras Suas. Essa citação
encontra outra versão em 1João 3.10: “Nisto são manifestos os filhos de Deus, e
os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus”. A Bíblia diz, ainda,
que são filhos de Deus os que promovem a paz. “Bem-aventurados os
pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).
152
paz.
Voltando ao texto básico (“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai: que
fôssemos chamados filhos de Deus; e nós o somos. Por isso o mundo não nos
conhece; porque não conheceu a ele.
Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de
ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele;
porque assim como é, o veremos”, 1Jo 3.1,2), descobrimos que é mais
extraordinária uma declaração que vem a seguir:
João nos apresenta o aspecto natural: fala de geração.. Paulo diz que fomos
adotados, mas João diz que fomos gerados, e isso é mais íntimo. Uma pessoa
quis falar de uma criança que havia adotado. Ao ser indagada pelo interlocutor,
“então, é seu filho de criação?”, respondeu com muita ternura, “Não, é meu filho
do coração...” Que lindo jogo de palavras. Há o filho que nasce do ventre e há o
que nasce do coração. Os apóstolos usam ambas as figuras. A Bíblia diz que
Deus nos gera no coração agora! Precisamos entender, no entanto, na lei romana,
sob a qual Paulo viveu, adoção era considerada como equivalente à verdadeira
filiação. E como a nossa lei é herdeira direta da linha-mestra do Direito Romano,
também no nosso Direito o filho adotado é reputado como filho que nasceu do
153
ventre daquela mãe. Neste verso, duas das suas idéias centrais se encontram: o
amor e a filiação da parte de Deus. Um amor que tem como fim, como objetivo
que os seres humanos sejam chamados Seus filhos. É como claramente diz João:
? Recebemos o amor e a disciplina da parte do Pai: “Vede que grande amor nos
tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus” (1Jo 1.3) e “É para
disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o filho a quem o
pai não corrija?” (Hb 12.7).
? Somos filhos da ressurreição: “porque já não podem mais morrer; pois são
iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição” (Lc 20.36).
154
Este texto é referendado por “o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado,
à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo
ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados
juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim
estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4.16, 17).
Nós o veremos como é. Não como homem de dores, não na Sua Paixão, isso já
ficou para trás! Vamos vê-Lo gloriosamente retornando como a Bíblia descreve:
“Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá” (Ap 1.7a), e, repetimos, “Então
aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se
lamentarão, e verão vir o Filho do homem sobre as nuvens do céu, com poder e
grande glória” (Mt 24.30). Agora o veremos na Sua glória como Rei dos reis e
Senhor dos senhores! Há uma terceira etapa: isso vai completar nossa
semelhança com Ele. Isso é extraordinário porque “Quando Cristo, que é a nossa
vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” (Cl
3.4). Agora, precisamos ter a mente de Cristo como Paulo enfatiza (“nós temos a
mente de Cristo, 1Co 2.16), precisamos imitar a Jesus Cristo agora (“sede pois
imitadores de Deus, como filhos amados”, Ef 5.1). Mas quando Jesus retornar, vai
de tal maneira que não somente teremos a mente de Cristo, mas também o corpo
semelhante ao corpo glorioso de Cristo. A Bíblia é um tanto econômica sobre esse
assunto. Paulo, por exemplo, não soube como dizer como seria este corpo igual
ao corpo glorioso de Cristo. Por isso, colocou uma expressão, “corpo espiritual”.
Como seria este “corpo espiritual”? É só lembrar o episódio da transfiguração:
“tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago e a João, irmão deste, e os conduziu à
parte a um alto monte; e foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandeceu
como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mt 17.1, 2). Esta
visão extraordinariamente gloriosa pode ser uma pista para entendermos o “corpo
espiritual” de que fala Paulo. Implícito em todo o que foi dito por João e Paulo está
a Segunda Vinda, a transformação dos corpos operada na ressurreição, a
reconfiguração dos que estiverem vivos naquela ocasião. E tudo isso começa com
uma coisa: a fé. E não é verdade? Tudo começa com fé. E essa felicidade de que
estamos gozando tem algo tremendamente emblemático: a própria palavra
começa com a sílaba – FÉ -. Diga a Jesus: “Senhor, eu creio no que Tu falas,
creio no que Tu pregas, creio na salvação trazida por Ti! Eu creio na Tua cruz,
creio e quero receber as bênçãos do Calvário!” O pecado é incompatível com o
fato de ser filho de Deus; é incompatível com o propósito da manifestação de
Cristo. Mas o querido leitor não precisa esperar pela Segunda Vinda de Jesus
Cristo para receber a filiação divina: pela fé, agora, segundo o ensino da Bíblia,
você pode se tornar filho de Deus!
Parte XXVI
EVANGELIZAÇÃO - A AÇÃO DO EVANGELHO
O mundo atual no qual vivemos se encontra em um estado terrível
pecaminosidade, onde muitas pessoas a cada dia seguem rumo à morte, sem
esperança alguma de salvação. Porém há um povo sobre a terra que recebeu
uma mensagem de vida, de luz, para ser entregue aos homens. Este povo não
155
pode parar diante das densas trevas que se levantam.
Este povo é diferente, pois serve a um Deus inigualável, possui uma mensagem
diferente, faz uma oração distinta e tem um poder único, este povo são os remidos
do Senhor Jesus Cristo, comprado pelo sangue, comprados por um alto preço de
sangue. Não fomos tomados emprestados da mão do diabo, fomos conquistados
por Cristo.
Este povo não pode calar, porque se isto fizer-se até mesmo as pedras clamariam.
Não podemos nos deter, com as coisas deste mundo. Temos que avançar,
colocando o reino das trevas em retirada. Levantando bem alto a bandeira do
Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Muito campo ainda falta para ser conquistado, muita terra para ser alcançada,
nada pode nos impedir, Deus nos chamou para destruir as obras do diabo, e
anunciarmos ao mundo que o Rei está voltando.
O Evangelismo é uma arma poderosa se usada de forma correta, para isso vamos
analisar o que a Bíblia nos ensina com respeito a este tema.
EVANGELHO
EVANGELIZAÇÃO
156
empenhar-se apaixonadamente na propagação do evangelho.
EVANGELISMO
1 - Informação: Evangelismo é uma ação que tem por fim informar. Se faz
necessário que o ser humano seja informado de sua condição de pecador e
de sua vida distanciada da presença de Deus, da necessidade de arrepender-
se de seus pecados e ser informado que Deus o ama (Jo 3.16), que entregou
seu filho para salva-lo. Nesta área de informação deve-se utilizar todos os
meios de comunicação possível, desde o rádio até a Internet.
Quando lemos a Bíblia Sagrada, vamos encontrar alguns motivos fortes que
nos levam a querer fazer evangelismo, vejamos alguns destes pontos fortes:
157
2 - A Ordem de Jesus - Nesta ordem de Jesus podemos ver que se faz
necessário a existência de um discipulado obediente, espiritual e dinâmico;
implica também, na organização eficiente da evangelização local e
missionária. Na ordem de Jesus registrada em Marcos 16.15, distinguem-se
os seguintes elementos:
a) O Campo de Atividade para a Evangelização - O mundo inteiro;
b) O Alvo a ser Atingindo - O homem;
c) A Tarefa específica a ser cumprida - A pregação do evangelho.
158
Vamos ver algumas características que este grande evangelista possuía, e
como ele organizou uma campanha de evangelismo bem preparada e
equipada.
1 - Características Pessoais
a) Esforçado - Jesus era esforçado na obra que realizava, a Bíblia relata que
dois dos discípulos de João Batista o seguiam, desejosos de saber onde o
mestre morava, Jesus os convidou a acompanhá-lo e permaneceu com eles
quase todo aquele dia, ensinado-lhes a palavra de Deus, eles queriam
apenas conhecer aonde o Mestre morava porém Jesus aproveitou a
oportunidade para convence-los de que Ele era o Messias esperado por
Israel.
b) Paciência e Determinação - Neste mesmo episódio revela duas outras
características de Jesus a Paciência e Determinação, Ele não tinha pressa
em evangelizar, ele podia apenas ter mostrado onde morava e pronto, mas
ele viu a oportunidade de ensinar mais a respeito dEle e da sua missão.
c) Compaixão - Em Mateus 14.14, vamos encontrar quando a Bíblia afirma
que Jesus por compaixão as almas que ali estavam as curou de suas
enfermidades, e nós quantas vezes passamos perto de pessoas que
precisam de uma palavra e nada fazemos.
d) Espírito de Sacrifício - Jesus durante toda a sua vida, viveu uma vida de
sacrifícios, pois ele mesmo declarou (Mt 20.28). Foi justamente isso que ele
fez durante seu ministério terreno, passava noites inteiras orando, passava
horas e mais horas curando os enfermos, percorria vilas e cidades pregando
a palavra de Deus e jamais despediu uma pessoa sem lhe ajudar, este
exemplo é que nós devemos seguir.
e) Preciso - Jesus não gastava tempo com filosofias humanas e
especulações Ele ia direto ao ponto sem perda de tempo. ( Lc 5.21-24). Jesus
não permitia que qualquer debate que Ele tivesse, tomasse outro rumo a não
ser o reino de Deus (Jo 3.1-21; Jo 4.1-30), infelizmente quando muitos vão
evangelizar se deixam levar com conversas que os desviam totalmente do
objetivo.
f) Espírito Compreensivo e Perdoador - Jesus compreendia as fraquezas
humanas, e ao invés de ser um juiz implacável, Ele perdoava aos que se
arrependiam, podemos ver isso claramente na mulher adúltera (João 8.1-11).
O evangelista precisa aprender com o Mestre a combater o pecado,
procurando, contudo, salvar o pecador, a considerar o pecador como um
enfermo, que precisa de cuidados e não de açoites.
g) Dinamismo - Jesus era dinâmico não parava um momento a não ser o
necessário para descansar e repor as energias perdidas das caminhadas,
precisamos aprender com Ele.
159
Jesus empregou, na evangelização, dois métodos: Ensino Pessoal (Zaqueu,
A Mulher Samaritana, Nicodemos) e Proclamação às Massas. Os métodos de
evangelismo são imutáveis. As técnicas, estas sim, podem evoluir, serem
substituídas, modificadas para se adaptar-se as necessidades.
Atualmente contamos com grande variedade de recursos técnicos, que
ajudam a divulgação do evangelho; ampliação sonora, projeção luminosa,
gravação em discos, CDs, rádio, televisão, Internet e etc. Contudo seja qual
for o recurso empregado como auxiliar na evangelização, forçosamente
teremos de usar um dos dois métodos de Jesus - ou ensinar individualmente
ou Proclamar às Massas.
A Obra de evangelização necessita de grandes e poderosos pregadores para
as massas e de inumerável quantidade de pessoas treinadas para o ensino
individual.
160
estivermos todos empenhados em falar de Cristo todos os dias; se
estivermos determinados a abrir novas frentes e organizarmos novas
igrejas, os resultados de nosso trabalho serão multiplicados.
2. O Evangelismo Primitivo era Dinâmico - Os discípulos não esperavam que
os pecadores lhe viessem ao encontro, pelo contrário, saíam a procura
deles, percorrendo ruas, vilas e cidades, ensinando e proclamando
incessantemente o evangelho.
3. O Evangelismo Primitivo dava Ênfase ao Ensino - A Evangelização atual
com a tendência de supervalorização das concentrações, em detrimento da
evangelização pessoal, restando ao ensino quase exclusivamente o campo
da educação religiosa para os já crentes. O ensino tendo por objetivo a
evangelização pode facilmente ser usado pelas igrejas, organizando classes
especiais para interessados e visitantes.
4. O Evangelismo Primitivo era Ousado - Homens iletrados enfrentam
sábios; pobres e humildes desafiaram ricos e poderosos, testemunhando de
Cristo, mesmo quando a sombra das mais terríveis ameaças.
5. O Evangelismo Primitivo era culto - Assim como Deus usou a Pedro e
outros incultos para darem testemunho da Palavra de Deus, também se
utilizou de homens como Lucas, Mateus, Paulo e tantos outros, homens
formados, que diante da alta sociedade dava grande testemunho e defesa a
causa do Mestre.
6. O Evangelismo Primitivo era Impulsionado e Dirigido pelo Espírito Santo -
Os primitivos discípulos viviam cheios do Espírito Santo, de alegria e gozo
espiritual. Isso explica todas as demais características da evangelização
daqueles dias. (At 4.8,31; 5.17-41; 7.55).
Se colocarmos em prática estes métodos utilizado pela Igreja Primitiva,
iremos logra êxito, na evangelização do mundo no qual vivemos.
A PESSOA DO EVANGELISTA
161
invés de ganharem perdem.
162
2. Nunca Discutir - E ao servo do Senhor não convém contender (II Tm
2.24,25).
Existem muitas outras atitudes que não são corretas à um evangelistas
porém se ele tem êxito nestes dois pontos estará realizando um bom
trabalho.
Todo trabalho para se obter êxito se faz necessário que se tenha uma
estratégia de ação. Este tipo de assunto é bastante utilizado pelas grandes
empresas que desenvolvem seus planos de trabalho anual ou mensal.
Para que Ter uma estratégia ? Será que isto é bom ? Traçar ou ter uma
estratégia nada mais é que realizar o que Jesus realizou , Ele tinha um alvo a
alcançar e para chegar a este alvo Ele usou de estratégias de trabalho., Ele
próprio nos ensinou a traçar nossos objetivos para se analisar se os
recursos são suficientes. (Lc 14.28-33).
Ter uma estratégia de trabalho não é coisa da invenção do homem, Ter uma
estratégia é até mesmo recomendada pela Bíblia, vejamos o que diz:
Pv 16.9 "Devemos fazer nossos planos, confiando na direção que Deus nos
dá"
Pv 18.15 "O homem inteligente sempre está pronto para considerar novas
idéias."
Desta forma notamos que a estratégia tem respaldo Bíblico, basta apenas
que nós venhamos a aceitar e pratica-la.
163
2. Ajuda a medir a eficácia - Uma tarefa é eficaz quando ela atinge seus
objetivos. O planejamento estratégico requer que os alvos sejam expressos
de forma clara, isto nos capacita a medir o progresso e saber quando o que
foi projetado a fazer não esta ocorrendo bem.
CRUZADA EVANGELÍSTICA
A importância da Oração.
Publicidade
164
Os planos de publicidade de uma Cruzada devem ser feitos com muitos
meses de antecedência.
Música
A Música tem papel muito importante numa Cruzada. Meses de ensaio para
bandas, conjuntos, orquestras e corais, para que se apresentem muito bem.
A Pregação
O Apelo
165
CONCLUSÃO
Referências Bibliográficas
1. BÍCEGO, Valdir Nunes - Manual de Evangelismo, Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembléias de Deus, 1999.
2. LIMA, Delcyr de Souza - Doutrina e Prática da Evangelização, Rio de
Janeiro.
3. WAGNER, Peter - Estratégias Para o Crescimento da Igreja, Editora Sepal,
Julho/1995 - São Paulo/SP
4. ELISANGELA, IDACI - Dinamismo no Evangelismo Atual - Semadeal
-Fevereiro/2001 - Maceió/AL
Parte XXVII
IGREJA: RETOMADA DO PROJETO DE DEUS
(EFÉSIOS Cap: 2)
166
ti.
[7] Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso
das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência.
[8] Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de
Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus.
[9] Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua
descendência no decurso das suas gerações.
[10] Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência:
todo macho entre vós será circuncidado.
[11] Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre
mim e vós.
[12] O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas
gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer
estrangeiro, que não for da tua estirpe.
[13] Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu
dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua.
[14] O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será
eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança.
Contudo, é aliança.
Algum efésio poderia perguntar: "e daí que eu não sou circuncidado, que não faço
parte desse pacto?" Esta é a resposta de Paulo: estar fora do pacto é estar sem
saída existencial. Literalmente perdido. Não adiantava o efésio tentar seguir a lei
moral, ele não passara pela circuncisão (que era uma ordenança); não pertencia
ao povo para quem valia a pena cumprir a lei, por causa do pacto que havia
celebrado com Deus. Não bastava converter-se ao Deus dos judeus, era
necessário tornar-se judeu.
[13] Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes
aproximados pelo sangue de Cristo.
167
Israel, uma vez que fomos aproximados ao mesmo Deus e às mesmas
possibilidades.
[14] Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a
parede da separação que estava no meio, a inimizade,
[15] aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para
que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz,
Por isso o sangue de Jesus nos aproximou: ao morrer sem pecado, Jesus, o
representante da raça humana, satisfez a justiça divina, isto é, pagou pelo nosso
crime; tornando-se, portanto, única porta de entrada para o pacto com Deus.
Quem entra por essa porta recebe a verdadeira circuncisão, que o torna, de fato,
membro do povo de Deus: CL 2:11 - Nele, também fostes circuncidados, não por
intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão
de Cristo
A sombra que esses vestíbulos (as ordenanças) para o pacto eram, foi projetada a
partir do corpo de Cristo, com a chegada de Jesus fomos libertos da caverna
(Platão dizia que estávamos todos presos numa caverna, de costas para a
entrada, só víamos as sombras do mundo real, o mundo das idéias).
Jesus fez isto com um objetivo: criar um novo homem. Segundo Francis Foulkes
(Efésios: introdução e comentário; série cultura cristã - Eds. Mundo Cristão e Vida
Nova) a idéia presente aqui é a de, dos dois, criar uma coisa única - muito mais
profunda que a idéia de um único povo.
É um conceito de unidade absoluta.
Penso que isso nos remete à questão do significado desse novo homem. Parece
claro que não se trata de fazer de todos os cristãos uma única pessoa, pois, nem
Deus é uma pessoa só. Também, não se reduz ao fato de cada seguidor de Cristo
ser uma nova criatura, como deixou claro a colocação de Francis Foulkes.
William Barclay, citado por Foulkes, diz que é um novo tipo de criação. Não seria,
entretanto, uma retomada da criação?
Voltemos ao início.
168
GN 1:26, 27- Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme
a nossa semelhança; (...) Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou;
Esse texto marca uma mudança de ritmo e de forma na criação: até então Deus
falava e tudo vinha à existência, na criação do homem temos, antecedendo-a,
uma declaração de intenção e uma descrição.
Façamos o homem...
A teologia cristã entende que essa afirmação nos apresenta a Trindade, doutrina
que afirma haver um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, como
declara G. W. Bromiley1
Gosto de pensar nesse texto como uma declaração de intenção, é como se fosse
o resultado de uma conferência entre as três Pessoas.
Como os anjos poderiam pecar se não fossem moralmente livres; uma vez que
pecar (pelo menos no ato primeiro) exige capacidade de escolha?
Como qualquer ser pode ser julgado, se não for moralmente responsável?
169
Além do que, parece não haver dúvidas de que os anjos, também, são racionais,
senão estariam impossibilitados de comunicar-se e de arrazoar conosco, como
fizeram, por exemplo, com Ló (Gn 19:10-22).
Gosto de pensar que esta imagem-semelhança inclui, além do já citado, algo que
só é comum a Deus e a nós: a unidade.
"A última palavra hebraica da Shema (Dt 6.4,5) é echad, um substantivo coletivo,
em outras palavras, um substantivo que demonstra unidade, ao mesmo tempo que
se trata de uma unidade que contém várias entidades. Poderíamos citar um bom
número de exemplos.(...) Em Nm 13.23 os espias pararam em Escol, onde
'cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas'. A palavra que aqui aparece
com 'um', em 'um cacho', novamente é echad, no hebraico. Mas, como é evidente,
esse único cacho de uvas consistia em muitas uvas."
Stanley Rosenthal3
Macho e fêmea parecem ser uma criação só, pois, o barro e o sopro (que dá vida
ao ser humano) só aparecem uma vez. O segundo ser não é uma segunda
criação, é uma duplicação. Sendo que, no segundo ser, Deus fez desabrochar
características que não fizera desabrochar no primeiro.
170
da queda: E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos
os seres humanos (Gn 3:20). E por que? Penso que só após a queda o macho
teve autoridade para tal: e à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos
da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu
marido, e ele te governará (Gn 3:16). Se Deus condenou a mulher a essa
condição subserviente ao homem como consequência da queda, é de se supor
que antes não era assim, isto é, a relação entre ambos não era de autoridade; era,
quero crer, de unidade.
Me parece que o projeto divino passava estritamente pela unidade: criou um casal
apenas, logo, uma só família; criou-os tendo a si como modelo: o que caracteriza
a trindade é o amor, vínculo da perfeição, isto é, que une perfeitamente; logo,
criou-os para, a exemplo da trindade, amarem-se com esse amor que unifica.
Criou-os para viverem em unidade. Criou-os como unidade. Se não tivéssemos
caído, seríamos bilhões, talvez, entretanto, à semelhança da trindade, nos
amaríamos tanto que, apesar de muitos, seríamos um só homem: o homem à
imagem e semelhança de Deus.
A queda foi marcada pela quebra de unidade entre o homem e Deus; entre o
macho e a fêmea.
para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz,
Não seria uma nova criação, pois, para admitir isso teríamos de considerar que a
171
primeira continha uma falha. Creio, de fato, tratar-se da retomada do projeto do
Gênesis; como disse Jesus: LC 19:10 - Porque o Filho do Homem veio buscar e
salvar o que se havia perdido. (ed. revista e corrigida)
Segundo vejo, a Igreja é, por definição, este novo homem. Por esse novo homem
Jesus se sacrificou.
Se esse é o destino da Igreja, este deve ser o moto de seu dia a dia.
[17] E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos
que estavam perto;
A paz é o princípio da unidade: paz com Deus; paz consigo mesmo; paz com o
próximo. Interessante pensar que evangelizar é chamar à paz. Uma outra forma,
portanto, de definir pecado é estado de guerra consigo mesmo, e/ou com Deus,
e/ou com o próximo, e/ou com a natureza.
Paz ,penso, entre outras coisas, é uma aceitação geral: aceitamos as demandas
de Deus; aceitamos o que somos e as mudanças que precisamos sofrer;
aceitamos o próximo; aceitamos a natureza.
Sem paz, isto é, sem que nos aceitemos mutuamente, o novo homem não pode
ser vivido.
Todo mundo pode ir ao Pai, Jesus Cristo é a estrada e o Espírito Santo é o ônibus
que nos leva. Todos estamos dentro desse ônibus (fomos batizados, mergulhados
nele - 1Co 12.13). Certamente é por isso que cada um de nós chega à presença
do Pai e tem de dizer: "Pai nosso". A gente está na presença do Pai, mas, não
está sozinho, todos os irmãos foram junto.
172
[19] Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e
sois da família de Deus,
Somos da mesma nação; estamos no mesmo lugar, um lugar de todos nós; temos
o mesmo nome e o mesmo pai. Somos irmãos.
[20] edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo,
Cristo Jesus, a pedra angular;
[21] no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao
Senhor,
A Igreja, para ser santuário, tem de crescer em Cristo, para crescer em Cristo tem
ter unidade (bem ajustado - formando uma parede só), Jesus é o alicerce e o
construtor que ajusta cada pedra e material: (EF 3:18,19 - a fim de poderdes
compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura,
e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento,
para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.)
É na realidade do novo homem que Deus é adorado como quer e deve ser.
[22] no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de
Deus no Espírito.
Em Jesus estamos sendo tornados um, para que Deus possa ter sua morada;
apesar da boa vontade de Davi e de Salomão, um Deus vivo tem de morar numa
casa viva.
Deus nos criou como unidade para que o expressássemos. Perdemos isso, ainda
que a graça comum o tenha mantido em parte.
O novo homem retoma o seu destino: (AP 21:3 - Então, ouvi grande voz vinda do
trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com
eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.) ser a morada
173
de Deus - a Trindade.
Penso que esse é o desafio dado a cada igreja local: alcançar essa unidade.
Isso implica em que o primeiro projeto para a igreja local deveria ser um projeto de
comunhão e, consequentemente, de pastoreio.
Parte XXVIII
MÁRTIRES CRISTÃOS
Muitos foram os Mártires Cristãos, mas fizemos uma coletânia dos mais famosos e
armazenamos a maior quantidade de informações possíveis neste estudo.
Nem todos os mártires do cristianismo viveram junto com Cristo, os que isso
fizeram eram os apóstolos; também fizemos um breve esquema para que se tenha
uma idéia de quem eram os Apóstolos de Cristo.
Clique nos nome dos mártires que estão sublinhados para ver uma breve biografia
sobre os mesmos.
(Setor Personagens Bíblicos).
Os Mártires Apóstolos
"Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago e a João, irmão deste, e
os conduziu à parte a um alto monte;" (Mt. 17:1) "E levando consigo Pedro e os
dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se."
(Mt. 26:37)
"E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago, e João, irmão
de Tiago." (Mc.5:37)
174
Os Trabalhadores Silenciosos
Os Pouco Conhecidos
O Traidor
Judas Iscariotes
Foi substituído por Matias após ter traído o Senhor e ter se matatado:
Matias - Paulo
175
Policarpo - Inácio - Papias
Fontes de Pesquisa:
- Dicionário Aurélio
- Bíblia Thompson
- Manual Bíblico Halley
- The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997
- Barsa Enciclopédia, 1974
- Centro de Pesquisas Religiosas
- Encyclopédia Universal Ilustrada Europeu-Americana, pp. 1262 - 1265.
- Encyclopédia e Dicionário Internacional, p. 10486.
Colaboradores:
- Verônica
- Carlos Magno
- Iranilde Campos
Parte XXIX
MORDOMIA DO DÍZIMO
Introdução (1)
O dízimo é o método de Deus para abençoar seus filhos na vida material, como os
têm abençoado, pela fé, na vida espiritual.
Crer ou não crer na Palavra de Deus é crer ou não crer no próprio Deus. A pessoa
que diz crer em Deus e não entrega seus dízimos está negando, na prática, a fé
que diz ter no coração. Nós somos salvos pela fé, não pelas obras, mas a fé que
não se transforma em atos de obediência não é a fé válida para a salvação. Além
de ser uma prova de fé, o dízimo é também uma demonstração de amor a Deus.
Amor que nos identifica com o caráter e os propósitos do Senhor e que nos leva a
adora-lo com atos objetivos, e não apenas com palavras.
Dízimo não é tributo. O imposto é compulsório. Quem não paga é autuado. Dízimo
é compromisso que pauta a partir do voluntariado consciente, Gênesis 14.20 e
28.22. É o reconhecimento de que, não apenas o dízimo, mas a totalidade dos
bens e do ser pertencem ao Senhor.
176
1. Conceito e origem da mordomia do dízimo (2)
A mordomia do dízimo é o perfeito uso do dinheiro que pertence a Deus por direito
de criador e sustentador de todas as coisas que compõem o universo, onde Deus
colocou o homem para cultivá-lo com inteligência, habilidade e fidelidade. A
mordomia do dízimo envolve, portanto, tanto á fidelidade na entrega do que
pertence a Deus como na habilidade na aplicação ou gasto deste dinheiro
consagrado. Não é difícil entender que o dízimo só deve ser usado em coisas
consagradas e para a glorificação do de Deus, preservando-se o que se denomina
de fidelidade de propósito, Salmo 24.1-10.
Enquanto cálculo matemático de 10% de uma quantia é isto e nada mais. Não
pode ser menos como alguns gostariam e não pode ser mais porque é inalterável
no tempo e no espaço. 10% de uma determinada quantia de dinheiro ou do peso
de um corpo qualquer será sempre 10%.
Enquanto dinheiro separado para Deus, o dízimo sofre uma certa força
carismática, visto que o Senhor de todas as coisas promete bênçãos especiais
aos fiéis dizimistas conforme o Texto Sagrado, Malaquia 3.10-12.
Os dizimistas fiéis sabem o quanto é bom confiar em Deus e praticar esta doutrina
bíblica tão negligenciada por muitos servos. O desafio é aprendermos a
dependência da graça sustentadora do Senhor e não essencialmente dos
recursos financeiros.
177
sustentador de Deus tem-se manifestado por meio da confiança daqueles que
fielmente dizimam em amor de suas rendas para o Senhor.
É dever de todo cristão dizimar à luz de Malaquias 3:10 onde Deus nos ordena
dizendo: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na
minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos exércitos, se eu não
vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dele
vos advenha a maior abastança".
Todo o cristão sincero deveria ter verdadeira alegria ao contribuir para o sustento
do Reino de Deus. Esta atitude é a normal e correta, mas em se tratando de uma
ordem, mesmo que não seja com muita alegria, vale a pena cumpri-la para o
nosso próprio bem. Como alguém afirmou, o crente deve começar a dizimar ainda
que sem muito entusiasmo porque é tão bom contribuir que começando por
obrigação terminará por alegria e consagração.
Verificamos ainda, em Malaquias 3.8, que o crente só pode ser ofertante depois
de ser dizimista. O povo de Israel roubava a Deus nos dízimos e nas ofertas
alçadas. É uma questão lógica, o que é de Deus é o dízimo e não podemos ofertar
ao Senhor usando o que pertence a ele.
Quem poderá ser bom mordomo deixando de fazer o que Deus ordenou?
Certamente o servo fiel é mais agradável ao seu Senhor. Por muitos séculos Deus
tem comprovado sua fidelidade para com os homens que lhe obedeceram com
amor e dedicação.
Vale ressaltar que o dízimo deve ser entregue do valor bruto dos nossos
178
rendimentos. Os descontos previdenciários e os impostos que nos são deduzidos
em folha de pagamento ou em carnês, são para nosso benefício e são também
um compromisso espiritual, Mateus 22.21. Deus não deve pagar nosso impostos
ou taxas previdenciárias. Entregar ao Senhor o dízimo do valor líquido não é
fidelidade integral. O problema é que não existe fidelidade parcial.
Fala-se em cristãos que dão o seu dízimo parte em casas filantrópicas e parte na
igreja. Este não é o método bíblico que manda trazer todo dízimo a Casa do
Tesouro e consequentemente o dízimo todo para a administração da igreja. O
crente não deve fazer as coisas conforme sua conveniência somente, mas de
acordo com a consciência de Deus refletida nos ensinos da Bíblia, a sua Palavra
Santa e Infalível.
Como agência do Reino de Deus a igreja está credenciada para gerenciar os seus
negócios do Rei quer sejam especificamente espirituais ou materiais. Se houver
falha na mordomia da administração do dízimo por parte da igreja, o membro tem
direito de questionar e até de orientar a correção, mas nunca de tomar atitudes
pessoais para as quais não foi credenciado por Deus. É pecado, conforme o
preceito bíblico, o cristão arrogar-se o direito de aplicação e administração do seu
próprio dízimo.
Conclusão (6)
Causa perplexidade ouvir certos membros de igreja afirmando que não dão o
179
dízimo porque não podem. Caso isso fosse verdade, teríamos de eliminar da
Bíblia Filipenses 4.13. Ora, se eu posso todas as coisas, então posso entregar o
dízimo a Deus. Pela fé, o crente pode todas as coisas que não contrariam a
natureza de Deus, e as que contrariam o caráter do senhor, que constitui pecado,
nos são lícitas mas não devemos praticá-las, 1 Coríntios 6.12 e 10.23.
Muito mais valem 9/10 do nosso salário com as bênçãos de Deus, do que todo um
salário sem as suas bênçãos, Ageu 1.3-6. E não só sem as bênçãos, mas com as
maldições previstas no juízo divino que se impõe pela suserania (7) do Senhor.
Amém.
Notas
(1) FALCÃO SOBRINHO, João. Estou Convosco. Rio de Janeiro: CPCCBB, 1997.
124 p. (pp. 74-75).
(2) CÂNDIDO, Daniel Oliveira. Reflexões sobre Mordomia Cristã. Duque de
Caxias: AFE, 1982. 231 p. (pp. 161).
(3) Id. Ibid. pp. 162.
(4) Id. Ibid. pp. 162-163.
(5) Id. Ibid. pp. 163-164.
(5) MOTTA, Waldomiro. A Doutrina Bíblica da Mordomia. 3. Ed. Rio de janeiro:
JUERP, 1986. 62 p. (pp. 31-32).
(7) Ação de soberania em conceder livre arbítrio ao seus vassalos para o exercício
de aparente ou relativa autonomia
Parte XXX
MOTIVAÇÕES PERIGOSAS PARA O MINISTÉRIO
Uma breve Reflexão sobre alguns motivos errados para o Ministério
Falar de vocação não é uma tarefa fácil. Como explicar os vislumbres de certezas
espirituais ?
Pode a vocação de Deus ser descrita ?
Talvez devesse deixar tal desafio para os mais experientes nas lidas pastorais;
não obstante, quero pisar neste terreno mui solenemente.
Nestes doze anos de ministério tenho visto alguns pastores perderem o rumo
original e ministérios infrutíferos com igrejas fracas e em declínio. Entendo que
grande culpa dos problemas destas igrejas deve-se a nós mesmos, seus pastores.
180
seus postos. Após ler estas considerações de Peterson, fiz a seguinte pergunta: O
que tem levado nossos jovens ao ministério ? Minha pergunta levanta a questão
sobre as reais motivações de nossos vocacionados para o Ministério Pastoral.
Talvez nem todos têm consciência de que errar na vocação trás conseqüências
desagradáveis para si mesmos e também para suas futuras igrejas. Embora uma
vaga vocação para o ministério possa levar ao pastorado, não sustentará o pastor
através das ásperas realidades da vida na igreja. É preciso avaliar as verdadeiras
motivações, antes de ingressar nos seminários.
Por motivação queremos dizer os motivos internos que levam uma pessoa à ação.
Todos nós tomamos decisões na vida motivados por algo ou alguma coisa em
dado momento de nossa existência e considerando as diversas situações da vida.
Falando da motivação que leva um jovem a decidir pelo ministério, entendemos
que todo genuíno vocacionado deve ter como ambição ser um instrumento de
Deus . Sua única motivação para ser pastor é seu desejo ardente de realizar a
obra de Deus e para a glória de Deus. Contudo, é possível que nem sempre esta
seja a mola propulsora de um ou outro aspirante ao pastorado. A título de alertar-
nos para este perigo, alisto cinco possíveis motivações erradas e egocêntricas que
podem levar alguém ao Ministério:
2) Status social: Não é de hoje que a sede de posição cega as pessoas . O "ser
pastor", mesmo que em nossos dias não é lá muito bem visto, até mesmo pelos
escândalos envolvendo alguns líderes cristãos, os títulos de Reverendo e Pastor
transmitem uma certa dose de autoridade que dignifica o ser humano, e lhe
confere status social. Não obstante, liderar não é fácil. Às vezes pregar pode ser
uma tortura. Pastorear ovelhas relutantes é uma atividade esmagadora. Ser uma
figura pública sob os olhares de todos e viver sob constantes cobranças, mesmo
que estas não sejam verbais, sacodem o nosso coração. Nós pastores
inevitavelmente armazenamos um certo nível de frustração em nosso trabalho.
Ficamos frustrados com os conflitos da igreja, com a futilidade de nossos planos e
com o fracasso do nosso povo. O status social não pode sustentar o nosso
181
ministério e fazer com que vivamos nossa vocação de modo responsável.
5) Falta de opções: É possível que alguém decida ser um pastor, pois depois de
tentativas inglórias de ingressar em alguma outra faculdade, ou por não ter
condições financeiras de custear um curso em uma universidade , percebeu que
poderia fazer um curso de nível superior pago pelo Presbitério e ainda recebendo
ajuda de custo de sua Igreja. Nossos jovens precisam ver que o candidato ao
ministério, sendo seu chamado imposto por Deus, não é uma preferência entre
outras alternativas, ou por falta delas. Ele é pastor não por falta de alternativas,
mas porque esta é a única alternativa possível para ele, e insisto: Vocação
pastoral não pode ser por falta de opções, mas porque foi imposta por Deus.
182
Todos nós que somos pastores sabemos como o ministério é desgastante, e
ninguém pode cumprir o difícil papel de pastor se não tiver a consciência de que
foi comissionado por Deus. Na qualidade de pastores e tutores eclesiásticos, faz-
se necessária nossa orientação aos aspirantes e candidatos ao Ministério de que
não há como alguém sobreviver no pastorado, caso sinta que esta foi uma escolha
sua e não de Deus.
Parte XXXI
O ANÚNCIO DA IGREJA
Neste trecho, entendo que o Senhor Jesus apresenta a Igreja como seu propósito;
assim como esboça sua composição, seu caráter e missão:
[13] Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos:
Quem diz o povo ser o Filho do Homem?
Embora, em seu ministério público, Jesus tenha interagido com quase todos os
partidos judaicos: os herodianos, que, conforme indica o nome, eram partidários
de Herodes; os zelotes, que queriam, pela força das armas, libertar Israel do
domínio romano; os fariseus, ortodoxos estudiosos das escrituras; e os saduceus,
partido da classe sacerdotal; foi com o povo que Jesus, de fato, desenvolveu o
seu ministério. Ao povo pregou; alimentou; curou. Foi com o povo que andou e
que se confundiu.
A pergunta era, portanto, uma aferição: o que as bençãos recebidas pelo povo
geraram neste em termos de compreensão de quem Jesus era?
[14] E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros:
Jeremias ou algum dos profetas.
183
o salvador vislumbrado pelos patriarcas e anunciado pelos profetas. Certo, porém,
incompleto, se parasse por aí: todos criam que o messias seria o maior dos
profetas (Dt 18.15), entretanto, um profeta. Pedro teria ido apenas um pouco mais
adiante que o povo. Ele vai mais longe: "o filho do Deus vivo". Revolucionário! Os
teólogos, de então, diziam que Deus era único, logo, não podia ter filho. Por que?
Porque se Deus tivesse um filho, este teria de ser um Deus também, então, já não
seria um único Deus, mas, dois deuses. Eles não conheciam a doutrina da
Trindade, não sabiam que há três pessoas e um só Deus. Pedro disse-o: Jesus de
Nazaré é o Cristo; Jesus de Nazaré é Deus. Resposta completa. Os teólogos
entenderam que Deus haveria de mandar um salvador, entenderam ser um
grande profeta - Moisés assim pareceu dizer (Dt 18.15) - não entenderam que, ao
anunciar um salvador, Deus anunciava a sua visita. Não imaginavam que a
salvação humana custaria tão grande preço.
Franco Zefirelli, cineasta italiano, fez o filme Jesus, que chamou de seu afresco. O
filme, originariamente, apresentado em duas partes, tinha, como término de sua
primeira parte, cena que procurava retratar o texto que estamos trabalhando:
Zefirelli descreve Pedro ajoelhando-se enquanto proferia a declaração em questão
e, ato contínuo, os demais discípulos tomados pelo impacto da afirmação,
testemunhando sua concordância, também se ajoelham. Não sei se foi assim
mesmo que aconteceu, porém, indubitavelmente, é a cena que mais se coaduna
com a profundidade do que foi dito. Jesus é mais que um profeta a ser ouvido;
mais que um mestre a ser seguido; é Deus a ser adorado. Esse é o conhecimento,
acerca de Jesus, que dá vida eterna (Jo 17.30).
[17] Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi
carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus.
Não foi a convivência com Jesus que os fez saber a verdade. Foi uma revelação!
O conhecimento-experiência, acerca de Jesus, que dá vida eterna, é uma
revelação do Pai - Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o
TROUXER; e eu o ressuscitarei no último dia. (JO 6:44).
[18] Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Que pedra?
Que igreja?
Igreja é uma palavra que pode ser traduzida por reunião, assembléia, nação e
afins; por se tratar de ajuntamento de pessoas que têm afinidades, características
e/ou objetivos comuns. Portanto, Jesus está falando de um grupo de pessoas
especiais: as pessoas que receberam a mesma revelação que Pedro e os
discípulos.
A Igreja é a reunião daqueles que, a exemplo de Pedro, receberam, do Pai, a
184
revelação de que Jesus Cristo é Deus vindo para salvar-nos, que deve ser
adorado, adoração, esta, que começa com a entrega da vida.
A Igreja é a reunião dos adoradores de Jesus. Neste sentido a missão da Igreja é
agradar o seu Senhor; é a Igreja como noiva: - Então, veio um dos sete anjos que
têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem,
mostrar-te-ei a noiva , a esposa do Cordeiro (AP 21:9); - Vi também a cidade
santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como
noiva adornada para o seu esposo (AP 21:2).
A noiva, na sua ação de adorar, é a satisfação do desejo do Pai: - Mas vem a hora
e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em
verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores (JO 4:23).
185
A palavra reunião pode dar uma conotação equivocada: de que só há igreja
quando essas pessoas, de características especiais, e encontram. Por isso gosto
muito do que o Pedro disse: 1PE 2:9 - Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio
real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes
as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.
Aliás, Jesus disse "e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" num contexto
muito peculiar: Haviam três nações, representadas por três cidades, que tinham
pretensões universais: romanos, representados por Roma; judeus, representados
por Jerusalém e os gregos, representados por Atenas. Os romanos acreditavam
que a salvação do mundo estava em todos se submeterem à sua "pax", o que
significava submeter-se a eles. Os judeus acreditavam que a salvação dos
homens estava na submissão destes a eles que, como sacerdotes, os conduziriam
no caminho de Deus; os gregos, por sua vez, acreditavam que a tal salvação
estava em todos submeterem-se a seu modo de pensar.
Jesus diz que vai fundar uma nação que libertará de fato os homens do inferno.
Pois, sua nação atacará o inferno e as portas deste não resistirão ao ataque
daquela, liberando os seus prisioneiros. Por que ataque? Porque fala das portas
não prevalecerem. Jesus falava no contexto das cidades muradas, onde a porta é
o último bastião, a última defesa, se as portas não resistem ao ataque, a cidade é
invadida e tomada.
Outro elemento que, penso, está contido nessa afirmação é o fato de a igreja ser o
braço ministerial de Jesus Cristo, uma nação de soldados da libertação, pois,
como disse João: 1JO 3:8 -Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir
as obras do diabo.
A medida que a igreja vai sendo edificada vai, também, assumindo seu papel
ministerial, ou seja, destruindo as obras do diabo. Quanto mais a igreja adora,
mais eficaz se torna contra o inferno.
Parte XXXII
O PADRÃO BÍBLICO DE AVIVAMENTO
Estas são algumas das perguntas que procuraremos responder no decorrer desse
estudo.
186
I - O significado bíblico do termo "Avivamento":.
O verbo "avivar", em suas várias formas (2), é usado mais de 250 vezes no Antigo
Testamento, das quais 55 vezes estão num grau chamado piel. Um verbo nas
formas do Piel expressa uma ação ativa intensiva no hebraico. Neste sentido, o
avivamento é sempre indicado como uma obra ativa e intensiva de Deus. Alguns
exemplos de sua ocorrência são as clássicas orações de Davi, como esta:
"Porventura, não tornarás a vivificar-nos (3), para que em ti se regozije o teu
povo?" (Sl 85.6) (4), e da clássica oração do profeta Habacuque: "Tenho ouvido, ó
Senhor, as tuas declarações, e me sinto alarmado; aviva a tua obra, ó Senhor, no
decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te
da misericórdia" (Hc 3.2).
187
Transcrevo-as quase que na íntegra.
Não há vida piedosa sem doutrina. A doutrina é a base da ética. A teologia é mãe
da ética. "Assim como o homem crê no seu coração, assim ele é" (Pv 23.7).
Muitos crentes confundem avivamento com forma de culto, com liturgia animada,
188
com coreografia e instrumental aparatoso.
Louvor que não produz mudança de vida, quebrantamento, obediência e não leva
as pessoas a confiarem em Deus, não é louvor, é barulho aos ouvidos de Deus.
Assim diz o Senhor: "Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não
ouvirei as melodias das tuas liras" (Am 5.23).
Hoje estamos vivendo a época dos shows evangélicos, dos show-men, dos
animadores de programas religiosos, do "rock evangélico", das músicas badaladas
por um ritmo sensual.
Mais do que nunca é preciso tocar a trombeta em Sião e condenar a idéia de que
precisamos imitar o mundo para atrair o mundo. A música do mundo tem entrado
nas igrejas, para vergonha nossa e para derrota nossa. O louvor que agrada a
Deus precisa ser em espírito e em verdade. O louvor precisa ser bíblico, senão é
fogo estranho. Davi, no Salmo 40, versículo 3, fala-nos sobre as balizas do louvor
que agrada a Deus: "E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao
nosso Deus; muitos verão estas coisa, temerão e confiarão no Senhor". Primeiro,
vemos a origem deste cântico: "E me pôs nos lábios". Este louvor vem de Deus e
não do homem. Segundo, vemos a natureza deste cântico: "E me pôs nos lábios
um novo cântico". Não é um novo de edição, mas novo de natureza. É um cântico
que expressa a marca da sua nova vida, liberta do tremendal de lama (v2).
Terceiro, vemos o objetivo deste cântico: "... Um hino de louvor ao nosso Deus".
Este cântico não é para entreter ou agradar o gosto e preferência das pessoas.
Este cântico vem de Deus e volta para Deus. Deus é o seu alfa e o seu ômega.
Quarto, vemos o resultado deste cântico: "Muitos verão estas coisas, temerão e
confiarão no Senhor". O louvor bíblico leva as pessoas a temerem a Deus, a
confiarem em Deus. O verdadeiro louvor leva as pessoas a se voltarem para
Deus.
À luz destas coisas, é preciso dizer que avivamento não é mudança litúrgica, é
mudança de vida. Avivamento não é histeria carnal, é choro pelo pecado. Deus
não procura adoração. Ele procura adoradores.
189
Todavia, é preciso dizer que, embora o avivamento não seja mudança de liturgia,
todo avivamento mexe com a liturgia. O avivamento desinstala a liturgia ritualista,
cerimonialista, formalista, fria e morta e põe em seu lugar uma liturgia viva, alegre,
ungida, onde há liberdade do Espírito, sem abandonar a ordem e a decência. Em
épocas de avivamento, a liturgia é desingessada e o povo com alegria e liberdade
do Espírito adora a Deus, em espírito e em verdade, sem regras rígidas pré-
estabelecidas. Cada culto é um acontecimento singular, novo, onde há abertura
para o que Deus deseja falar e fazer com o seu povo.
Hoje existem muitos cultos solenes, aparatosos, pomposos, mas estão mortos.
Disse J. I. Packer no seu livro "Na Dinâmica do Espírito": "Não há nada mais
solene do que um cadáver. Há cultos solenes que estão mortos". Embora o
avivamento não seja mudança litúrgica, todo avivamento muda a liturgia,
tornando-a bíblica, alegre, ungida, dirigida pelo Espírito de Deus. Devemos clamar
como os puritanos: "Queremos liturgia pura".
Deus pode e faz maravilhas, curas e prodígios extraordinários quando Ele quer.
Ele é soberano. Ninguém pode deter a sua mão. Ninguém pode ser o conselheiro
de Deus. Ninguém pode instruir a Deus e dizer o que Ele pode e o que Ele não
pode fazer. Ninguém pode obstaculá-lo nem ensinar-lhe qualquer coisa. Ele faz
tudo quanto Ele quer, como quer, onde quer, quando quer, com quem quer. "Ele
faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade" (Ef 1.11). Ele não
obedece à agenda dos homens. Ele não se deixa pressionar. Ele é livre.
Entretanto, esta não é a ênfase do avivamento. A igreja hoje está correndo mais
atrás de sinais do que atrás de santidade. A igreja hoje empolga-se mais com
milagres do que com vida cheia do Espírito. A igreja hoje anseia mais as bênçãos
de Deus do que o Deus das bênçãos. A igreja hoje busca mais uma vida
antropocêntrica do que teocêntrica.
Avivamento não é efervescência carismática. Uma igreja pode ter todos os dons
sem ser uma igreja avivada. Avivamento não é conhecido pelos dons do Espírito,
mas pelo fruto do Espírito.
A igreja de Corinto possuía todos os dons, todavia, era uma igreja imatura e bebê
espiritualmente. Naquela igreja profundamente carismática, havia divisões,
cismas, brigas, partidos, contendas, imoralidade e irmãos levando outros irmãos
aos tribunais mundanos. Havia falta de compreensão acerca do casamento e da
liberdade cristã. Naquela igreja a ceia do Senhor estava sendo incompreendida,
os dons estavam sendo usados erradamente, a ressurreição dos crentes estava
sendo negada, e a cooperação financeira com os pobres negligenciada.
190
É verdade que, em épocas de avivamento, os dons são buscados e exercidos
para a glória de Deus e a edificação da igreja, mas a ênfase carismática não é
sinônimo de avivamento.
Certamente, aqueles que assim pensam não estudam com critério a Bíblia nem a
história da igreja. Os pontos culminantes da igreja aconteceram em épocas de
avivamento. Desde o Antigo Testamento que esta é uma verdade incontestável. É
só olhar para os grandes despertamentos na época de Ezequias, de Josias e de
Neemias. É só ver o grande avivamento em Jerusalém, em Samaria, em Antioquia
da Síria e em Éfeso. É só ver o que Deus fez na Reforma do Século XVI, na
Inglaterra, no século XVIII e em outros grandes avivamentos da história.
Certamente, avivamento não é uma onda, não é um modismo. Ele possui firmes
lastros históricos. Ele é nossa herança e nosso legado e deve continuar sendo
nossa aspiração e nossa busca constante.
dicotomizada da vida.
Esta não é a visão bíblica nem a visão do verdadeiro avivamento. Tudo em nossa
vida é vazado pelo sagrado. Toda a nossa vida é cúltica. Todo o nosso viver é
litúrgico. O grande avivalista John Wesley lutou pelas causas sociais na Inglaterra
ao mesmo tempo que pregou sobre avivamento. Finney pregou ardorosamente
contra a escravidão nos EUA no século passado ao mesmo tempo que foi o maior
avivalista do seu país. João Calvino atacou com veemência os juros extorsivos em
Genebra. O avivamento sempre traz profundas mudanças políticas, econômicas,
sociais e morais. O avivamento não leva a igreja à fuga, mas ao enfrentamento.
191
é para a igreja, pessoas que já têm vida; evangelização é para o mundo, pessoas
que estão mortas em delitos e pecados. Avivamento é para crentes nascidos de
novo; evangelização é para pecadores inconversos. Na evangelização, a igreja
trabalha para Deus; no avivamento, Deus trabalha para a igreja. Na
evangelização, a igreja vai aos pecadores; no avivamento, os pecadores correm
para a igreja. Na evangelização, os pregadores apelam aos pecadores; no
avivamento, os pecadores apelam aos pregadores.
É uma experiência na vida da Igreja quando o Espírito Santo realiza uma obra
incomum. Ele a realiza, primeiramente, entre os membros da Igreja: é um reviver
dos crentes. Não se pode reviver algo que nunca teve vida; assim, por definição, o
avivamento é primeiramente uma vivificação, um revigoramento, um
despertamento de membros de igreja que se acham letárgicos, dormentes, quase
moribundos (8).
Como a própria expressão define, neste sentido não apenas a igreja, mas a
sociedade não-cristã também é beneficiada pelo avivamento. Isto acontece
porque, além da atuação soberana do Espírito Santo no mundo, na igreja passa a
existir uma conscientização profunda de sua missão; isto é, a missão integral de
servir o mundo evangelística e socialmente. No avivamento a igreja vive a missão
para a qual foi chamada.
192
começa na igreja e termina na comunidade maior onde ela vive. Os efeitos do
reavivamento são muito mais perceptíveis nas mudanças morais que acontecem
na região ou num país onde ele acontece. Ele não se limita simplesmente aos
membros das igrejas atingidas pela obra de Deus. Ele causa impacto em toda a
comunidade onde a igreja de Deus está inserida" (9).
Por mais simplória e pleonástica que esta declaração pareça ser, ela é tão
autêntica e singular como dois e dois são quatro. Estamos falando do único
padrão inerrante e infalível de avivamento: a Bíblia.
Uma vez que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática, é ela e somente ela
que nos pode dar a direção certa deste assunto. A relação entre a Bíblia e o
avivamento é tão intrínseca que é impossível um avivamento de verdade sem que
a Bíblia faça parte dele.
Além disso, numa época de tantos extremos como este em que vivemos, é
fundamental o equilíbrio que só a Bíblia oferece. Sabemos que hoje existem desde
aqueles que vêem toda e qualquer manifestação entusiástica como avivamento,
até àqueles que negam a sua existência, ou quando muito acham que avivamento
é a mais nova onda do momento, uma coqueluche moderna, uma inovação
humana sem respaldo bíblico. É necessário, mais do que nunca, recorrermos à lei
e ao testemunho.
Permita-me ilustrar o que queremos dizer por "extremos". Edwin Orr (10), uma das
maiores autoridades sobre avivamentos, disse que viu duas igrejas nos Estados
Unidos convidando pessoas para suas reuniões de avivamentos. Uma delas dizia:
"Reavivamento aqui todas às segundas-feiras à noite", enquanto que a outra
prometia: "Reavivamento aqui todas às noites, exceto às segundas-feiras". Orr
menciona este fato para relatar um desses extremos em que a palavra
"avivamento" ou "reavivamento" é usada aleatoriamente, como se o avivamento
fosse produzido simplesmente pelo desempenho humano com data e hora
marcadas.
193
persuadidos com e para a Bíblia. Avivamento onde a Bíblia não está presente não
passa de um mero pentecostalismo convencional.
Depois temos os patriarcas que por vários séculos lideraram o povo de Deus.
Sempre que a vitalidade espiritual do povo se desvanecia, eles agiam como a
força que promovia novo vigor. O breve avivamento na casa de Jacó é um bom
exemplo disso (Gn 35.1-15). Mais tarde, sob a liderança de Moisés, há períodos
empolgantes de refrigério, especialmente nos acontecimentos ligados à primeira
páscoa (Ex 12.21-28), na outorga da lei do Senhor no Sinai (Ex 19.1-25; 24.1-8;
32.1-35.29) e no levantamento da serpente de bronze no monte Hor (Nm 21.4-9).
194
inimigos. Um dos maiores movimentos avivalistas aparece no final desse período,
sob a direção de Samuel (I Sm 7.1-17).
Que Deus derrame do seu Espírito sobre nós para que possamos, como igreja e
povo brasileiros, experimentar mais uma vez daquele "fogo abrasador" que nos
purifica e nos santifica para uma vida cristã de obediência à sua Palavra.
195
NOTAS
(1) Cf. D. M. Lloyd-Jones, DO TEMOR À FÉ (2ª ed. São Paulo: Editora Vida,
1987), pp. 73,4. Veja também, de Gerard Van Groningen, AVIVAMENTO SOB UM
PRISMA VÉTERO-TESTAMENTÁRIO no site www.ipcb.org.br.
(2) Os termos "avivamento", "reavivamento", "renovação", "despertamento",
"vivificação", "reviver" e "tornar a viver" são usados no mesmo sentido.
(3) O significado literal da expressão hebraica "vivificar-nos", do Salmo 85.6, é
"causa-nos viver", onde se reconhece que a vitalidade espiritual depende
inteiramente de Deus.
(4) O Novo Comentário da Bíblia, Edições Vida Nova, dá a este Salmo o sugestivo
título: UMA ORAÇÃO PEDINDO REAVIVAMENTO.
(5) Para um ponto de vista diferente, veja a obra do Dr. Paul E. Pierson, A
HISTÓRIA DOS AVIVAMENTOS, material apostilado pela Faculdade Teológica
Sul Americana de Londrina - PR.
(6) Uma posição semelhante foi apresentada pelo Rev. Edijéce Martins Ferreira,
em entrevista ao Jornal Brasil Presbiteriano (Abril/94, p. 12): "Confunde-se
avivamento com atitude pessoal e inclusive corporal (física), com expressão
emocional, levantar de mãos, etc. Essas atitudes em si não são propriamente
prejudiciais. Todavia, pela confusão que se faz a doutrina sai perdendo. Há uma
superficialidade doutrinária muito grande, porque se dá ênfase excessiva ao
louvor, a sermões eletrizantes, a práticas pentecostais, quando avivamento é tão
somente uma consciência clara e profunda da vontade de Deus (que é doutrinária)
e uma disposição plena de obediência (que é prática)".
(7) R. Coleman, A CHEGADA DO AVIVAMENTO MUNDIAL (São Paulo: CPAD,
1996), p. 18.
(8) D. M. Lloyd-Jones, OS PURITANOS: SUAS ORIGENS E SEUS
SUCESSORES (São Paulo: PES, 1993), pp. 15,6. Veja também, do mesmo autor,
o excelente livro AVIVAMENTO (São Paulo: PES, 1992) 320 pp.
(9) Héber C. Campos, CRESCIMENTO DA IGREJA: COM REFORMA OU COM
REAVIVAMENTO? In Fides Reformata, Vol I, Nº 1 (São Paulo: 1996), pp. 44,5.
(10) Citado por Brian H. Edwards em REVIVAL! A PEOPLE SATURED WITH
GOD
(England: Evangelical Press, 1994), p. 25.
(11) H. C. Campos, op. cit., p. 45.
(12) R. Coleman, op. cit., p. 53.
(13) Idem.
(14) Idem, p. 61
Parte XXXII
O QUE É MINISTÉRIO?
TEXTO 2 CORÍNTIOS 6:1-10
196
- qual a sua visão do seu ministério pessoal?
A - Na muita paciência
B - Nas aflições
- esta palavra tem o sentido de "espremer", "restringir", "afligir". Não podemos nos
esquecer de que o pastor é antes de tudo um sacerdote chamado para interceder
junto a Deus pelo povo. As aflições não podem nos afastar deste propósito.
- Há duas situações neste contexto que precisam ser compreendidas:
- A primeira é a de aceitar as aflições como uma disciplina de Deus. Isto é. Tudo o
que acontece nesse campo de dores vem de Deus. Esse conceito nasceu no Séc.
XVII na França e na Itália e foi chamado de Quietismo. A síntese desse
movimento era que o mal foi planejado para o nosso bem. Portanto devemos nos
aquietar.
- O outro lado que se opõe frontalmente ao quietismo, é chamado de Ativistas.
Para os ativistas, através do exercício da fé, podemos acabar com todas as
enfermidades, com todas as dificuldades da vida. Todo mal vem de Satanás e
deve ser enfrentado com ousadia!
- O pastor segundo os ativistas não deve ficar deprimido. Tem de ser um heroi 24
horas por dia!
C - Nas privações
197
pastorado.
- Privação - tem o sentido de passar por "experiências adversas". Quem ainda não
passou por esses vales profundos de pobreza ministerial.
- Há momentos em que a Bíblia parece um livro fechado. Você não consegue tirar
nem uma gota de inspiração.
- Ilust. eu ouvi uma certa ocasião um pastor afirmar que nós precisamos ter pelo
ao menos três pessoas compartilhando do nosso ministério.
D - Nas angústias
A - Em açoites
198
- Aqui também corremos um outro perigo: o de produzir um estado de melancolia.
Freud analizando os aspectos da melancolia chegou à conclusão que ela produz
"uma anulação do interesse pelo mundo exterior, uma perda da capacidade de
amar, uma inibição de toda atividade e uma diminuição dos sentimentos de valor
próprio até o ponto de auto-recriminações e auto-injúrias..." (As Máscaras da
Melancolia, pg. 87).
- Paulo tinha as marcas de Cristo em seu corpo. Estas marcas ainda são
necessárias ao ministério.
- Lembre-se: ministério sem dor não é ministério. Precisamos estar preparados
para sofrermos esses golpes. Eles fazem parte da nossa chamada.
B - nas prisões
C - nos tumultos
199
ausência planejada". E afirma: "Nas igrejas crescentes, a breve ausência do
pastor realmente fortalece a sua igreja, fazendo o resto da equipe funcionar como
uma unidade . Eles experimentam a alegria de saber que a igreja não é um
espetáculo de um único homem." (Igrejas amigáveis e acolhedoras).
2.4 - Em quarto lugar Paulo nos mostra como devemos ser. Uma série de
virtudes são apresentadas neste bloco.
Introdução
Orlando E. Costas (1942-1987) nasceu em Porto Rico e faleceu nos Estados
Unidos, vitimado por um câncer, aos 45 anos de idade. Era pastor e teólogo
batista. Graduou-se doutor em teologia e missiologia nos Estados Unidos. Foi
reitor e professor do Seminário Bíblico Latino-Americano de Costa Rica; fundou o
200
Centro Evangélico Latino-Americano de Estudos Pastorais (CELEP), em 1973, em
San José, Costa Rica. Atuou como administrador da faculdade do Eastern Baptist
Theological Seminary, na Filadélfia, onde também foi professor de missiologia e
diretor de estudos hispânicos. Além disso, ocupou o cargo de segundo vice-
presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) e, na ocasião de seu
falecimento, atuava como professor no Andover Newton Theological School, em
Massachussetts, e como vice-presidente da Fraternidade Teológica Latino-
Americana.
201
militar do general Augusto Pinochet.
Além disso, o rol de membros de uma igreja, segundo Costas, também não pode
servir como critério de avaliação de crescimento. Ele entendia que antes de tudo
algumas questões importantes deveriam ser levadas em consideração, como por
exemplo: O crescimento é motivado pelo Espírito Santo? O crescimento está
relacionado com os frutos do Espírito? A fé do crente é vibrante, calorosa e
esperançosa? Ele é amoroso? Sua fé é vista através da ação? A fidelidade,
espiritualidade e encarnação (2) estão presentes na vida da igreja?
É importante deixarmos claro que Orlando Costas não era (e jamais foi) contra o
crescimento da igreja. Pelo contrário. O que Costas questionava, e com razão,
eram os meios muitas vezes utilizados para se chegar em tal crescimento.
Orlando Costas dizia que o crescimento numérico da igreja, propriamente dito, "é
parte fundamental do ser da igreja" (3), pois nenhuma igreja foi formada para ficar
estagnada e parada no tempo. Embora nem todas as igrejas tenham vocação para
ser mega-igreja, todas devem crescer. Isto é um princípio bíblico que Costas fazia
questão em destacar.
Temos no Brasil igrejas abençoadas: algumas grandes, outras nem tanto, mas
que estão crescendo saudavelmente. Contudo, esta não é a realidade geral em
nosso país. Independente de ser pentecostal ou histórica, sabemos de tantas
igrejas que estão marcando passo, engessadas em suas tradições ou em seus
usos e costumes, com pouca ou nenhuma perspectiva de sua missão e de seu
crescimento. Por outro lado, existem aquelas que experimentam um crescimento
fenomenal e intrigante até. As igrejas pentecostais do Brasil sempre serão um
desafio saudável às igrejas históricas. Contudo, fica a pergunta: aquelas estão
crescendo realmente com saúde, do mesmo modo como estas deveriam crescer?
Vimos no tópico anterior que o crescimento numérico não tem sido tão favorável
para a igreja evangélica brasileira de modo geral. O que não significa dizer que
não haja igrejas crescendo com autenticidade, de acordo com os preceitos
bíblicos. Porém, esta não é a regra geral. E por que não? Porque nem sempre a
ética cristã de uma vida santificada tem andado de mãos dadas com o
crescimento de nossas igrejas. O que, por si só, segundo Orlando Costas, não
202
pode ser aceito como crescimento verdadeiro.
As palavras de Shelley deve nos levar a uma reflexão séria, até porque o maior
potencial de uma igreja é o crente novo. A igreja não pode servir de tropeço para
ela mesma. Há alguns anos escrevi uma lição para a escola dominical na qual
dizia: "Reconhecemos que há muita coisa boa que uma igreja local pode fazer
além de missões, mas, por outro lado, se a 'muita coisa boa' estiver desassociada
de missões, então não é tão boa quanto se pensa'.
À luz do que vimos até aqui, a conclusão que chegamos é que a igreja brasileira
não é, essencialmente, uma igreja missionária. Boa parte de nossas igrejas que
pensam serem missionárias na verdade apenas fazem missões, quando fazem!
Um exemplo a ser considerado é a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB),
denominação da qual sou pastor. Infelizmente a IPB é hoje o que jamais deveria
203
ser. A igreja que se orgulha de sua teologia calvinista esquece que Calvino
possuía uma consciência missionária profunda (8) sendo, inclusive, o responsável
pelo envio dos primeiros missionários ao Brasil em 1555 (9).
A igreja brasileira não é um caso perdido. Pelo contrário, é uma igreja que está
caminhando, embora a passos não tão largos como gostaríamos, mas caminha na
esperança de um futuro promissor. Com a graça de Deus chegaremos lá! Aos
poucos o velho conceito de fazer missões vai dando lugar ao ser missões. Isto
está acontecendo porque a igreja, consciente ou inconscientemente, começa a
crescer conceitualmente também; o que significa, segundo Costas, "expansão na
inteligência da fé: o grau de consciência que a comunidade eclesial tem a respeito
da sua existência e razão de ser, sua compreensão da fé cristã, seu conhecimento
da fonte dessa fé (as Escrituras), sua interação com a história dessa fé e sua
compreensão do mundo que rodeia. Esta dimensão dá à igreja firmeza intelectual
para enfrentar a todo tipo de doutrina e capacidade crítica para evitar a
fossilização e garantir a criatividade evangelizadora, orgânica e ética" (10).
Talvez um dos teólogos que mais chamou a atenção da igreja para sua dimensão
conceitual (embora não com esta terminologia, mas com a mesma ênfase), tenha
sido o Dr. Martin Lloyd-Jones, um pastor britânico já falecido. Li vários livros do Dr.
Jones e notei que muito da preocupação conceitual de Orlando Costas era a
daquele também. O doutor costumava dizer, por exemplo, que "se você estiver
errado em sua doutrina, estará errado em todos os aspectos da sua vida" (11).
204
acarretaria numa deficiência danosa. Na verdade, cada dimensão da igreja só tem
razão de ser se for vivenciada nas outras. Citemos um pequeno exemplo:
Crescimento numérico sem qualidade pode ser comparado ao câncer que cresce
mas não é bom. Qualidade sem crescimento é inconcebível. A igreja evangélica
brasileira ainda não entendeu como deveria essas dimensões e suas implicações.
E de quem é a culpa? Certamente são daquelas lideranças que muitas vezes
refletem em suas igrejas uma mentalidade tacanha e retrógrada. São aquelas
pessoas que confundem a boa tradição bíblica e evangélica pelo tradicionalismo
mórbido; inovação saudável e revitalizadora pelo inovacionismo e oba-oba.
À luz do que vimos até aqui fica difícil dizer: "A igreja brasileira tem esta cara". De
certo modo, ainda somos uma grande colcha de retalhos; porém, esta dimensão
que nos faz olhar para dentro de nós mesmos, sem deixar de olhar para fora,
precisa ser devidamente analisada e exercitada pela igreja brasileira como um
todo. Estamos adentrando em um novo milênio e a igreja continua sonolenta em
muitos dos aspectos de sua missão integral.
Esta é a dimensão encarnacional da igreja. Orlando Costas entendia que sem este
crescimento a igreja perderia sua autenticidade e credibilidade no mundo, já que
"somente na medida em que conseguir dar visibilidade e concreticidade à sua
vocação de amor e serviço ela pode esperar ser ouvida e respeitada" (12). Para
Costas, os cristãos foram colocados no mundo "para ser a consciência da
sociedade" (13). Uma consciência que estende a mão em ajuda aos fracos e
oprimidos. Felizmente, a consciência social da igreja brasileira hoje parece ser
maior do que algumas décadas atrás. Contudo, se por um lado a igreja vem
melhorando em sua visão social, por outro, ainda não amadureceu tanto em sua
concepção de missão integral, justamente porque ao se discutir prioridades (como
por exemplo as que envolvem evangelização e ação social) a igreja deixa de fazer
bem uma e outra coisa. Evangelização e responsabilidade social são partes
integrantes da missio Dei, portanto, inseparáveis e indispensáveis na missão
integral da igreja de Jesus Cristo no mundo e para o mundo.
É pena que a igreja foi, e muitas vezes tem sido ainda hoje, influenciada pelos
sistemas políticos e deixado de ser a voz profética de Deus na sociedade. A igreja
brasileira não pode se calar diante dos males sociais.
205
A igreja brasileira não está parada, mas poderia andar um pouco mais depressa,
porque, quanto à participação nos problemas da sociedade, ainda temos um longo
caminho pela frente. Que Deus nos ajude!
Conclusão:
Vivemos na esperança de dias melhores para a igreja brasileira. De uma igreja
que se consolide pela visão integral de sua missão no mundo.
Nossa igreja brasileira ainda não é a igreja dos sonhos, a igreja que gostaríamos
de ser, mas com certeza esse dia vai chegar.
Deus visitará seu povo e o avivará para honra e glória do Seu nome!
NOTAS
1. L. A. T. Sayão, verbete ORLANDO E. COSTAS em Enciclopédia histórico-
teológica da igreja cristã, Vol. I (São Paulo: Vida Nova, 1988), p. 362.
4. Idem.
5. Idem.
7. Bruce Shelley, A IGREJA: O POVO DE DEUS (São Paulo: Vida Nova, 1984) pp.
126,7.
206
10. Costas, op. cit., p. 113.
13. Costas, COMPROMISO Y MISION (San José: Editorial Caribe, 1979) p. 102.
Parte XXXIII
PERIGOS SUTIS AO MINISTÉRIO PASTORAL
"Quando fui convidado para escrever este artigo para a nossa Revista
PROPOSTA, logo pensei em algo sobre o ministério pastoral. Trata-se de um
desejo de compartilhar com meus irmãos e colegas pastores, alguns perigos do
ministério, os quais tenho constatado em minha própria caminhada. Como
sempre, são sutilezas que procuram desestabilizar e adulterar o nosso pastorado.
Penso que na essência, todo pastor deseja grandes mudanças em suas igrejas e
daí a quantidade exorbitante de atividades a que nos entregamos todos os dias:
aconselhamentos, visitas, escrever artigos, fazer ligações telefônicas, preparar
estudos e sermões, separar tempo para planejar, reunir-se com a liderança, etc...
Obviamente, existe por trás deste excesso de atividades uma cultura – nosso
mundo é voltado para o sucesso. Em razão disso, em nossas muitas atividades
eclesiásticas somos cada vez mais dominados por superlativos. Orgulhamos por
ter uma grande Igreja, um grande coral, um grande...
207
vida espiritual. Solidão é o remédio contra o ativismo pastoral. Cito Henry Nouwen
quando ele afirma que na solidão, descobrimos que ser é mais importante que ter
e que valemos muito mais que o resultado de nossos esforços.
Aprendemos com nosso Senhor Jesus em Lucas 5:15,16, que a ação interna
(oração) tem precedência sobre a ação externa (proclamação). O v.15 nos informa
que muitas pessoas procuravam a Jesus para serem curadas por ele e o v.16
afirma “ele porém se retirava para lugares solitários e orava”. Jesus percebeu o
perigo e não caiu na armadilha de se entregar ás atividades, negligenciando sua
vida devocional.
O pastor que imita as ações e a pregação de Jesus, sem, ao mesmo tempo, imitar
sua vida profunda de oração, são um prejuízo para a fé e um empecilho para o
crescimento da igreja.
Nós pastores insistimos com nossas ovelhas sobre a necessidade delas terem um
tempo a sós com Deus. Mas não podemos nos esquecer que somos ovelhas
também, e que ter uma vida profunda de oração não perde o seu valor quando
somos ordenados ao ministério.
Não me entendam mal. A princípio não há nada de errado em tudo isto; o perigo é
sutil. Neste processo da secularização da igreja, movida á produção, homens e
mulheres com quem vivemos e trabalhamos podem se tornar meros objetos.
Pouco a pouco todos se transformam em instrumentos de trabalho. Sob a pressão
de que estão trabalhando para Jesus, usamos estas pessoas como empregados
para cumprirem uma missão que nem sempre é de Deus e sim do pastor.
Talvez devêssemos perguntar: Como posso saber se estou sendo bem sucedido
no cumprimento de meu ministério? Creio que Efésios 4:11-15 delineia qual é a
expectativa de Deus para nós pastores – Dentre algumas das medidas de sucesso
em nosso ministério, está o fato de que precisamos preparar pessoas para o
ministério. Para fazer isto preciso gastar tempo com as pessoas – ajuda-las, ouvi-
las, aconselha-las, etc...Pessoas são a razão de nosso ministério.
Precisamos ser lembrados que fomos chamados para pastorear e não para
208
administrar. Para isto é que existem presbíteros regentes e docentes. Nós
pastores precisamos pastorear, dedicar tempo ás nossas ovelhas para visitá-las e
orienta-las espiritualmente. Deixe a administração com o presbítero regente.
É surpreendente ver que Jesus não agiu desta maneira. Em Mateus 9:36 lemos
que Ele andava pela cidade e vendo as pessoas compadecia-se delas porque
eram como ovelhas sem pastor. Eram pessoas aflitas. Aflitas por falta de trabalho,
medo da violência, sem acesso a uma boa escola e inseguras quanto ao dia
seguinte. Eram pessoas exaustas, talvez pela sobrecarga de trabalho, não ter
tempo para o lazer ou por causa dos problemas do dia-a-dia. O texto ainda fala
que eram pessoas sem rumo na vida. Pessoas com crises no casamento,
problemas com os filhos, na vida profissional, emocional e existencial.
Nós pastores precisamos seguir o exemplo de Jesus e olhar para a nossa cidade,
para o nosso bairro e ter uma proposta pastoral para estas pessoas aflitas,
exaustas e sem rumo na vida. Nosso ministério corre o perigo de ser exercido
basicamente dentro da Igreja. Creio que já está na hora de desenvolve-lo “fora da
igreja” também. De tanto se afastar do “mundo”, nossa linguagem vai se tornando
“igrejeira” e quem é de fora entende muito pouco do que falamos.
Creio que para evitar que nosso pastorado seja adulterado, precisamos buscar a
“paz da cidade” ( Jr 29:7 ) e para tanto é mister nos envolvermos com ela. Se faz
necessário construir relacionamentos, estabelecer amizades e se identificar com
as pessoas da comunidade, sejam crentes ou não. Nossa espiritualidade pastoral
não pode ser desenvolvida apenas dentro da igreja; precisamos, por exemplo,
fazer parte da sociedade amigos de bairro, visitar a Câmara Municipal, o prefeito
da cidade, nos envolver em atividades promovidas pelas pessoas da vizinhança,
etc... Imagine se Jesus fosse o pastor de sua igreja! Por onde você acha que ele
andaria ? Quem ele visitaria ? Se formos bem honestos, teremos que duramente
admitir que ele andaria pela nossa cidade, visitando asilos, hospitais, lanchonetes,
prisões, os vizinhos que moram próximos á igreja, etc...Ele não resumiria seu
ministério apenas aos salvos.
Nas palavras de Eugene Peterson “quando o trabalho que executamos para Jesus
como pastores esmaece nossa consciência do mundo, afasta dele o foco de
nossa atenção, colocamo-nos em competição contra ele, ou, simplesmente leva-
209
nos a evita-lo, podemos dizer que nossa ordenação foi adulterada”.
A título de aplicação daquilo que foi dito aqui, penso que temos que responder a
três perguntas:
1) Quais são as atividades que você tem durante a semana em que você se
coloca na presença de Deus na perspectiva de ovelha, de filho e não de um
funcionário da igreja?
2) Quem são as pessoas que estão sendo afetadas pela sua vida? Pela
convivência espiritual com você?
Parte XXXIV
REFLETINDO SOBRE LIDERANÇA CRISTÃ
São essas últimas que detêm o dom de liderança. Uma música popular dos anos
70 de forte mensagem diz que "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".
Deus utiliza seres humanos como seu método. Assim aconteceu com Moisés, com
Josué e com os apóstolos. Um líder tem limitações, e Moisés reconhecia as suas
próprias (Ex 4.10), mas no seu aprendizado teve que aprender a delegar (Ex
18.27). Como parte do seu aprendizado, foi humilde bastante a ponto de atender
conselhos que lhe foram dados. Desse modo, treinou os líderes escolhidos dentre
critérios bem determinados: que fossem capazes, tementes a Deus, pessoas de
palavra e não avarentos (Ex 18.20,21). É um Josué, homem submisso ã vontade
210
de Deus (Js 6.2), hábil na distribuição de tarefas (vv. 6,7), e em dar ordens claras
(v.10). Quanto à liderança espiritual e à preparação de outros líderes da igreja
apostólica, há de ser lembrada a palavra de Paulo em 2Timóteo 2.2: "e o que de
mim ouviste diante de muitas testemunhas, transmite-o a homens fiéis, que sejam
idôneos para também ensinarem os outros".
TEOLOGIA DA LIDERANÇA
Além disso, pela fé a unidade da igreja é mantida. Não é demais dizer que a Igreja
é variada e multiforme. Romanos 16 o lembra com extrema clareza: havia naquela
comunidade cristã: mulheres, homens, judeus e gentios, livres, libertos e escravos,
jovens e idosos, todos agindo, reagindo e interagindo para o bem comum e para o
bem da causa de Jesus Cristo.
Pela fé, o líder é estimula a desenvolver seu potencial (1Co 11.1), e pela fé, o líder
cristão exerce a perseverança.
Mais: o líder tem poder. Duas palavras gregas são elucidativas do conceito de
poder: kratos e dynamis. Kratos é "poder, autoridade", especialmente no sentido
de "poder político, comando, autoridade de mando". Vocábulos como democracia,
tecnocracia, gerontocracia veiculam a idéia de "poder do povo", "poder da técnica"
e "autoridade dos idosos". Dynamis, por outro lado, traduz "força, potência",
permitindo que se chegue ao universo semântico de "força ou espiritual, atividade,
energia", e dando-nos vocábulos como dínamo, dinamite e dinamismo.
211
QUALIDADES DO LÍDER
Funções do Líder
Parte XXXIV
REVITALIZANDO A IGREJA
Introdução:
Aonde chegaremos como igreja se continuarmos insistindo em ser apenas o
que temos sido e em praticar somente aquilo que temos praticado nestes últimos
anos?
212
Tais confrontações se materializam na leitura do perfil traçado de muitas de
nossas igrejas, tomando-se por base o alto índice de exclusões, o número de
dizimistas fiéis, a média do número de membros e a incontável massa de líderes
neopentecostais oriundos de nossa denominação.
Se analisarmos muitas de nossas igrejas sem ufanismo e sem o amor platônico
que nos foi inculcado, temos que a admitir que a situação é caótica. Precisamos
estudar mais as nossas doutrinas, deveríamos corre o risco de rever os nossos
posicionamentos doutrinários, carecemos de uma reformulação da proposta de
educação teológica e prosseguir repensando a denominação, mas creio que
devemos urgentemente buscar a revitalização de nossas igrejas, para a retomada
dos ideais de Cristo para a igreja e a manifestação da glória de Deus em nossos
arraiais.
213
* Missão é a definição objetiva e clara da nossa identidade como igreja local,
independente da Denominação, buscando compreender o nosso corpo de
doutrinas, o que cremos, e a nossa missão prática no mundo, o que devemos
fazer.
214
II - Declaração de Missão e de Visão cabíveis para a revitalização da igreja
Não há mistério nem inovações. A nossa missão só pode ser baseada em textos
como Mateus 28.19 e 20 e Marcos 16.15, que apresentam a Grande Comissão
delegada por Jesus e ainda, em textos como Lucas 24.44-48 e João 20.21, que
determinam a formatação missiológica designada pelo próprio Cristo para a sua
igreja.
Esta declaração de missão proporciona uma vida eclesiástica equilibrada e
contém tudo que é essencial para o fortalecimento doutrinário, para a maturidade
espiritual e para o crescimento numérico da igreja. Logo, essa missão promoverá
relevância histórica e ministerial para a igreja, incitando seus membros e sua
liderança à constante renovação do entendimento de si mesma, de suas doutrinas
e de suas estratégias ministeriais. A igreja deve se permitir a uma permanente
autocrítica e praticar uma continuada hermenêutica histórica, se deseja cumprir
sua missão.
Com relação a visão, ainda tomando por base Darrell Robinson, afirmamos que:
* Nossa visão é ser Corpo Vivo de Cristo, com todas as suas implicações, vivendo,
coletiva e individualmente, sob sua autoridade e seu senhorio, cumprindo a nossa
missão evangelizadora com autoridade espiritual e relevância sociocultural,
exercendo influência ético-cristã na sociedade.
215
visão que seus membros têm de Deus e ela cumpre sua missão na mesma
proporção em que crê no poder de Deus ainda atuante no mundo.
Muitas vezes, lidar com estas antíteses não é nada agradável e exige uma firmeza
doutrinária hercúlea e uma identidade denominacional capaz de intercambiar
relacionamento sem se permitir ser influenciado. Diversos líderes postergam ao
máximo a decisão de iniciar a revitalização da igreja na tentativa de evitar os
desgastes decorrentes destas antíteses, muitas vezes lamentando, ao final, a
perda de seus membros para a igreja neopentecostal que se acampou nas
redondezas.
216
não necessariamente a verdade.
Depois de se permitir a estas antíteses, a pergunta talvez seja; o que vai mudar
realmente? A resposta não é simples e nem resumida na palavra tudo. Na
verdade, as mudanças reais acontecerão, primeiro, por que a igreja terá uma
identidade denominacional e doutrinária própria, não o perfil do pastor. Segundo;
na formação da liderança, que será mais efetiva e sempre direcionada pelo
serviço cristão, e não pela iconografia muitas vezes perniciosa. Terceiro,
doutrinariamente, nada. Os ajustes doutrinários possíveis são os promovidos pela
CBB, como no caso do Espírito Santo. A igreja apenas se adequará a estes
ajustes para permanecer fiel a Declaração Doutrinária da Convenção Batista
Brasileira.
Em quarto lugar, no que diz respeito a Eclesiologia, nada mudará também. A
Eclesiologia trata dos postulados filosóficos sobre o ser igreja, o que não se pode
prescindir como Batistas. As mudanças se efetivarão na expressão cúltica, na
forma do praticar o culto, que será ajustado ao Texto Sagrado, renunciando
tradicionalismo histórico e promovendo mudanças radicais de vida nos membros
da igreja. A igreja se tornará mais contextualizada e menos ritualista; mais informal
e menos eclesiástica, visto que bater palmas, utilizar bateria e guitarras, bem
como cantar hinetos ou fazer coreografias nas músicas, não são temas
contemplados no estudo da Eclesiologia Batista.
IV - Objetivos gerais para uma igreja de visão no cumprimento de sua
missão
217
Para que a igreja tenha a motivação correta, após a revitalização, deve-se
estabelecer os objetivos gerais que a impulsionarão e que indicarão o seu modo
peculiar de ser igreja viva na adoração, na educação cristã, na comunhão, nos
ministérios e na proclamação, fazendo o que todas as igrejas devem fazer, porém
do jeito e da maneira mais apropriada para a realidade sociocultural na qual
interage.
Tendo definido, como batistas, a Declaração de Missão e de Visão, pode-se então
estabelecer os objetivos gerais que nortearão a eclesiologia, a expressão cúltica,
as estratégias ministeriais e a identidade denominacional levados a efeito pela
igreja revitalizada.
Vale ressaltar que a motivação da igreja deve ser a consciência objetiva quanto a
missão e quanto a visão futura que se projeta do quanto se deseja alargar os
horizontes do reino de Deus a partir do ministério prático da igreja. Em outras
palavras, a motivação da igreja revitalizada deve derivar dos objetivos gerais
definidos a partir da consciência de missão e da visão alargada em seus
horizontes.
Podemos agora asseverar que os objetivos gerais de uma igreja revitalizada são
os seguintes:
Somente instrução bíblica com esta perspectiva pode oferecer à igreja referências
claras de ensino bíblico profundo que se conciliem com uma unção incontestável
na vida comunitária do cristão.
218
pela amizade e pela convivência com o cristão, Mateus 3.8-9 e 28.19-20, Lucas
24.45-48, Atos 1.8, 2 Timóteo 4.1-2 e 1 Pedro 3.14-16.
A vivência prática da fé, com dedicação, com amor extremado pelos pecadores e
com entusiasmo contagiante, é fator determinante na evangelização. Uma igreja,
por mais ortodoxa que seja e por melhor que seja a sua doutrina, mesmo que
tenha um conhecimento bíblico apurado, dificilmente experimentará crescimento
real se não aprender a vivenciar e a transmitir a outros a sua fé de forma pessoal
e contagiante.
4.4 Adoração cristocêntrica que propicie verdadeiro louvor em culto vivo - Isto é o
que nos permite libertação da preocupação escravista com a liturgia ou com os
estilos, motivando-nos à participação efetiva e vívida na adoração, a partir da
convicção de que Deus se faz presente em nossas celebrações. É a igreja se
tornar sensível à ação do Espírito Santo que a guiará na exaltação a Cristo e na
ministração de um culto vivo, santo e agradável a Deus, Salmo 92.1-4; Isaías
38.17-20; Sofonias 3.17; Romanos 12.1; Apocalipse 5.11-12.
A verdadeira adoração nos conclama a declararmos a superioridade absoluta de
Deus, bem como a pequenez do adorador. Adoração é um mistério. É um
exercício do espírito humano no encontro pessoal com Deus, no qual cantamos,
glorificamos e magnificamos ao Senhor por sua santidade e por sua ação salvífica
em nosso favor. Adorar é abrir o coração ao amor de Deus e render a nossa
vontade aos propósitos dele.
A igreja que vivencia este tipo de comunhão valoriza as pessoas e torna seu
ministério muito mais efetivo, visto que são satisfeitas as necessidades do ser
integral. A prática do verdadeiro amor dá à igreja um brilho divino e uma alegria
que se intensificam nos relacionamentos interpessoais de seus membros.
4.6 Fidelidade voluntária e incondicional na consagração de vidas e no sustento
financeiro da obra - Isto é o entendimento pessoal de cada membro no fato de que
é Deus quem nos sustenta e de que a contribuição financeira é apenas um reflexo
da dedicação amorável de nossas vidas ao Senhor. É saber que conversão e
senhorio estão amalgamados e que a insistência em não dizimar e ofertar é
confissão objetiva de incredulidade, 1 Crônicas 29.10-17; Ageu 2.8-9; Malaquias
3.7-12; Atos 2.45 e 4.34-35 e 2 Coríntios 9.6-14.
219
para o cristão. Em vez de encararmos a contribuição como uma obrigação
desagradável e penosa, devemos compreender que a dedicação de vidas
expressa na fidelidade nos dízimos e ofertas é um fértil meio de graça na igreja,
pois por intermédio dela o Espírito Santo ministra graça e prosperidade à igreja.
220
tradicionalização suicida da igreja, bem como a mortificação da consciência cristã
no fazer igreja.
Conclusão
221
Sem tais definições, penso, é impossível levar adiante a revitalização da igreja que
carece de resgatar sua identidade doutrinária e denominacional, voltando a sentir-
se uma Igreja Viva que proclama a salvação e a libertação em Cristo em meio a
esta geração corrompida e perversa, Atos 2.40.
Uma igreja verdadeiramente viva e motivada pela missão não tem receios de
ultrapassar barreiras, de quebrar paradigmas, de romper as fronteiras e de alargar
seus horizontes. Não se pode ter medo de se praticar culto vivo, santo e agradável
a Deus. Não se pode ter fobia de evangelismo responsável, de discipulado
biblicamente instrutivo, de sacerdócio universal e de comunhão dinâmica em
amor. Pois estas são as características distintivas da igreja de Jesus Cristo no
Texto Sagrado.
Finalmente, desejo ressaltar que a igreja, como Corpo Vivo de Cristo, não é mera
sociedade de pessoas humanas. Se considerarmos apenas a tradição histórica e
os pressupostos denominacionais para sermos e fazermos igreja, jamais
compreenderemos o que realmente significa ser o povo de Deus que em Cristo é
chamado para as boas obras. As denominações são expressões sociológicas. A
diferença básica entre o ser e o fazer igreja e uma denominação reside na
comunhão com Cristo, que somente a igreja pode desenvolver. Não existe
Eclesiologia, o fazer igreja, dissociada da Cristologia, do ser igreja.
Parte XXXV
222
UM PROJETO DE REVITALIZAÇÃO PARA A IGREJA LOCAL
O presente trabalho é uma tentativa de se apresentar, de modo prático (assim
esperamos), alguns princípios fundamentais de revitalização da igreja local,
visando seu crescimento numérico. Como ficará evidente, a nossa intenção não é
lidar com modelos de igrejas propriamente dito, porque acreditamos que cada
caso é um caso, mas nos basearemos em princípios gerais e em nossa
experiência pastoral.
1. A REVITALIZAÇÃO DA LIDERANÇA
Não são poucas as igrejas que conhecemos que nos obrigam a fazer uma
inevitável pergunta: "Onde está a liderança?". Um líder não é capaz somente pela
sua boa reputação dentro e fora da igreja, o que é deveras significativo. Mas
também é preciso que ele capacite e equipe novos líderes, que por sua vez
capacitem e formem outros líderes.
Sendo assim, como revitalizar uma igreja cuja liderança está cansada e os
liderados insatisfeitos? Em nossa pouca experiência temos aprendido que o
223
segredo do sucesso está no investimento. Invista-se na liderança e na formação
de novos líderes e a igreja como um todo reagirá positivamente.
Quando fui pastor em uma das igrejas da Grande São Paulo, pude perceber um
pouco da força do que acabamos de dizer. Pegamos uma junta diaconal debilitada
e sem muito compromisso. Aos poucos (ir devagar é fundamental quando se
chega em uma nova igreja) fomos renovando a junta diaconal, trocando os
"irrecuperáveis" por novos. Investimos na nova liderança, viajamos com eles para
um encontro de diáconos no Rio de Janeiro, recebemos orientações específicas
de líderes de juntas diaconais que estavam dando certo e em pouco tempo a junta
diaconal de nossa igreja se tornou uma das mais atuantes da Grande São Paulo.
Os diáconos reconquistaram a credibilidade da igreja, e a mesma se colocou à
disposição para ajudá-los no que fosse preciso. O que seria daquela igreja se
todos os setores fossem revitalizados? Infelizmente não foi possível continuar ali
para ver os resultados.
Minha proposta é: 1) Quando uma liderança está "viciada" é preciso ser trocada.
Geralmente não vale a pena tentar recuperá-la. É perda de tempo. Tem que ser
trocada. Aos poucos, mas precisa ser trocada. Revitalização nem sempre significa
tentar recuperar o que não tem jeito. Mudança também é revitalização. Existe
muita gente boa no ministério errado. 2) Tem muita gente nova na igreja que daria
um bom líder. Meu ex-professor, Dr. Elias Dantas, disse acertadamente que "o
maior fenômeno de revitalização na igreja é o crente novo". E ele sabia o que
estava dizendo porque levava isso a sério nas igrejas que pastoreava.
Acredito que muitos dos problemas de uma igreja, quer sejam de ordem espiritual,
quer sejam de ordem administrativa, seriam resolvidos com mais facilidade, ou até
mesmo não existiriam, se todos os membros da igreja descobrissem e usassem
seus dons ministeriais. Orlando Costas (Compromiso y misión, p. 62) acertou
quando disse que "o crescimento da igreja depende de uma eficaz mobilização de
seus membros". E esta "mobilização", a meu ver, só é possível quando os
membros de uma igreja estão no lugar certo.
Schwarz faz uma declaração alarmante: "De uma pesquisa que fizemos com 1600
cristãos ativos em suas igrejas, no ambiente de fala alemã, na Europa,
descobrimos que 80% deles não sabem os seus dons espirituais". Será que o
resultado da pesquisa seria diferente se fosse feita com 1600 cristãos ativos nas
igrejas do Brasil? Acredito que não e digo por quê. Ministrei sobre o tema na
região sul do País durante quase um ano, e pude constatar que o resultado da
pesquisa não foi diferente.
224
veremos adiante, é fundamental que os ministérios sejam orientados pelos dons.
Novos líderes devem ser formados a partir de seus dons.
E quem, por assim dizer, daria o ponta pé inicial do discipulado? Como pastor,
entendo que os próprios pastores deveriam iniciar o processo de discipulado, por
uma simples razão: Uma das principais atribuições do pastor é instruir, orientar e
superintender as atividades da igreja, a fim de tornar eficiente a vida espiritual do
povo de Deus.
Às vezes é preciso coragem para quebrar paradigmas que não funcionam mais e
que, portanto, já não têm nenhum valor prático.
225
À primeira vista parece fácil mudar aquilo que se tornou obsoleto. Mas nem
sempre é tão simples assim. Primeiro é preciso mudar a mentalidade dos
acomodados e principalmente dos saudosistas, daqueles que confundem
inovação com inovacionismo; a boa tradição com tradicionalismo.
Algumas coisas podem ser citadas como exemplos do que não devem passar pelo
teste de qualidade de uma igreja local: liderança inibidora, horário e duração do
culto inadequados, conceitos desmotivadores de administração das finanças, etc.
Aprendi com um colega de ministério a separar um domingo por mês para falar de
forma mais específica sobre a importância da igreja local em missões. O Domingo
Missionário, como era chamado, era dedicado às missões. Pregávamos sobre
missões, a igreja orava por missões e contribuía financeiramente com a obra
missionária. Mas isso não aconteceu de um dia para o outro. Foi preciso um
trabalho de base, de muita conscientização e investimento que valeram a pena.
Entendíamos que separar um domingo por mês para missões era o mínimo que
estávamos fazendo. O ideal seria todos os domingos. Mesmo assim foi
226
gratificante. Segundo testemunho de irmãos antigos (que a principio foram
relutantes), aquele foi um dos períodos mais abençoados na vida daquela igreja. E
não poderia ser diferente. Quando uma igreja se envolve com missões, todas as
demais áreas são abençoadas por Deus, inclusive a financeira. Prove!
A experiência nos ensinou que evangelizar não é uma opção de vida de uma
igreja local, mas a própria vida de uma igreja local. O que está "matando" muito
crente novo (que desperdício!) é a igreja não-funcional, que se limita a suas
atividades internas, fechada em quatro paredes. A igreja local precisa resgatar sua
visão missionária, excelência maior de seu chamado, como bem declarou o
apóstolo Pedro: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo
de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (I Pe 2.9).
Vejamos alguns exemplos de como a igreja poderá revitalizar sua visão
missionária.
Como revitalizar uma igreja que começou com tanta empolgação para fazer
missões e de repente esfriou? Em primeiro lugar, é preciso reconscientizar a igreja
de sua missão no mundo. Em segundo lugar, é preciso conscientizá-la de que ela
está no mundo para servir o mundo integralmente.
Se a igreja chegou a se empolgar com missão algum dia, é sinal que ela tem
potencial para fazer, com a graça de Deus, o que fez antes. Sermões e estudos
bíblicos missionários, filmes específicos como por exemplo As Primícias, Etal e
Atrás do Sol, além do auxílio de associações evangélicas e agências missionárias,
certamente produzirão novo alento.
A igreja deve ser redirecionada. Geralmente a frieza por missões acontece por
causa da rotina. Uma vez que o mal foi detectado é necessário que seja
combatido com atividades variadas.
Além disso, é importante que a igreja saiba que sua missão no mundo é integral.
Isto é, evangelizar não é simplesmente distribuir folhetos como alguns pensam,
mas sim, atender o indivíduo na totalidade de suas necessidades. Por outro lado,
a igreja nunca deve deixar se levar pela prática do paternalismo e assistencialismo
paliativos, mas sempre partir para uma ação social transformadora, do indivíduo e
da sociedade, para a honra e glória de Deus Pai. O ponto de partida será o
parâmetro bíblico e o contexto da igreja local.
Conclusão:
Mais coisas poderiam ser ditas como parte integrante de um projeto de
revitalização para a igreja local, como por exemplo, a espiritualidade contagiante
da igreja local com relacionamentos marcados pelo amor fraternal, um culto
inspirador, a formação de grupos familiares ou células, etc. Entretanto,
227
entendemos que a formação de uma liderança capacitadora, as estruturas da
igreja sendo funcionais e o compromisso missionário revitalizado, naturalmente
resultarão em novas realizações.
Parte XXXVI
UMA IGREJA RENOVADA
TEXTO: ROMANOS 12: 1-2
PROPÓSITO:
A igreja não sobrevive sem uma comunicação interna. O grande fator de dispersão
que a enfraquece é a falta de uma boa comunicação entre seus membros.
- cada membro tem a sua função. Um membro não deve aspirar o lugar do outro.
Quando isto ocorre todo o corpo é prejudicado.
- A quebra deste princípio provoca:
a - desvalorização do membro
b - contestação da vontade de Deus
c - afastamento dos outros membros
d - desperdício de forças
228
- este princípio visa dar a todos a mesma chance de trabalho. Um membro não
pode inibir a ação do outro.
Parte XXXVII
UNIDADE NA VARIEDADE
Romanos 16.3-16
No último capítulo da Carta aos Romanos, Paulo faz recomendações, saudações
e votos. São saudações individuais a vinte e seis pessoas e a cinco famílias,
grupos de pessoas ou "igrejas no lar". Das pessoas mencionadas, pelo menos oito
229
são mulheres. Treze dos nomes aparecem em inscrições ou documentos que tem
a ver com a nobreza e com o palácio do imperador naquela cidade (cf. Fp 4.22).
No entanto, são, na maioria, escravos.
A COLORIDA VARIEDADE
230
As saudações não são longas, mas são muito expressivas, cheias de gratidão e
plenas de amor:
MEMÓRIAS
As duas idosas irmãs em Cristo têm histórias não contadas no texto. Pérside
("natural da Pérsia") e Maria são pessoas que não se entregam. Eram avançadas
na idade, e incansáveis no trabalho. Aliás, Paulo usa uma palavrinha que diz isso:
kopian, que significa "trabalhar até o cansaço"
A UNIDADE
231
em comunidade. E se não há o alicerce de Jesus Cristo, essa experiência que
deveria ser abençoada, abençoadora, enriquecedora, torna-se amarga e, em
certos casos, traumatizante. Muitos problemas afloram porque nossos irmãos em
Cristo (em quem corre o mesmo de Jesus nas veias) são tratados apenas como
outras pessoas, gente que enche os bancos da igreja, mas não como irmãos no
Nome de Jesus Cristo, nosso Salvador.
PRECIOSAS LIÇÕES
Sacrifício de uns pelos outros (vv. 3-5a). Aqui temos Priscila e Áqüila, o casal
amado, recebendo do apóstolo o reconhecimento pelo modo através do qual
compartilharam de suas lutas, a ponto de quase serem mortos.
Trabalho pelo bem comum (v.6). Paulo saúda a irmã na fé chamada Maria. É
digno de observação que as mulheres são significativamente proeminentes na
vida da Igreja de Cristo. Nesta lista há solteiras, casadas, viúvas, mães e todas
executando um admirável ministério na Causa do Senhor.
Temos membros de uma mesma família fazendo parte com outras famílias de
uma mesma família de fé. Paulo até o menciona. No verso 10, ele fala dos "da
casa de Aristóbulo"; no verso 11, "os da casa de Narciso", no verso 13, de Rufo,
sua mãe e sua irmã, e no verso 15, de Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã
(provavelmente, pai, mãe e filhos).
O Novo Testamento menciona que, em muitas ocasiões, famílias inteiras eram
batizadas (cf. At 10.44-48; 16.15, 33330-34; 18.8; 1Co 1.16; 16.19; Cl 4.15; Fm 2).
Havia casos em que pequenos grupos se reuniam em uma casa. É o caso de um
núcleo que tinha seus encontros na casa de Áquila e Priscila (v. 5a). Alguns foram
companheiros de prisão do apóstolo (cf. v.7). Dr. Dale Moody, nosso ex-professor,
fez uma significativa afirmação ao dizer que será um dia glorioso quando os
cárceres forem transformados em púlpitos.
Aceitação de uns pelos outros (v. 16). Paulo recomenda uma saudação muito
comum no Oriente Próximo ainda hoje: o beijo (cf. Gn 29.11; 33.4; 1Sm 10.1).
Além de ser um sinal de afeição entre parentes,um sinal de amor, havia, também,
um tom de homenagem (Gn 29.11; Ct 1.2). No Novo Testamento,é um sinal de
232
amizade e saudação (Mt 26.48).
Oração
Senhor, nós Te pedimos:
Que nos conheçamos sempre melhor
Em nossas aspirações e nos compreendamos
Mais e mais em nossas limitações.
Que cada um de nós sinta e viva
as dificuldades dos outros.
Que ninguém fique alheio aos momentos
De cansaço, dissabor e desânimo do próximo.
Que nossas discussões não nos dividam,
Mas nos unam na busca da verdade e do bem. Que cada um de nós, ao construir
a própria vida,
Não impeça o outro de viver a sua.
Que nossas diferenças não excluam ninguém da comunidade.
Que olhemos para cada um, Senhor,
Com os Teus olhos e nos amemos com o Teu coração.
Que a nossa fraternidade não se feche em si mesma,
233
Mas seja disponível, aberta e sensível
Aos problemas de cada um.
E que, no fim de todos os caminhos,
Além de todas as buscas, e depois de cada encontro,
Não haja vencidos nem vencedores,
Mas somente irmãos.
Assim seja. Amém!
(Autor desconhecido)
Parte XXXVIII
O QUE LEVOU A IGREJA
Em Antioquia a fazer Missões
Em Atos 13 o horizonte de Lucas se alarga pois o nome de Jesus seria
maciçamente testemunhado além da Judéia e Samaria. A partir de Antioquia
chegaria aos confins da terra. Os dois diáconos evangelistas prepararam o
caminho. Estevão através de seu ensino e martírio, Filipe através de sua
evangelização ousada junto aos samaritanos e ao etíope. O mesmo efeito tiveram
as duas principais conversões relatadas por Lucas, a de Saulo, que também fora
comissionado a ser o apóstolo dos gentios, e a de Cornélio, através do apóstolo
Pedro. Evangelistas anônimos também pregaram o evangelho aos "helenistas" em
Antioquia. Mas sempre a ação esteve limitada à Palestina e à Síria. Ninguém tinha
tido a visão de levar as boas novas às nações além mar, apesar de Chipre ter sido
mencionada em Atos 11:19. Agora, finalmente, vai ser dado esse passo
significativo.
Foi quando eles estavam "servindo ao Senhor, e jejuando" que o Espírito Santo
lhes disse: "separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho
chamado" (At.13:2). Algumas perguntas precisam ser respondidas.
234
A quem o Espírito Santo revelou a sua vontade? Quem eram "eles", as pessoas
que estavam jejuando e orando?
Foi algo muito vago e possivelmente nos ensina que devemos nos contentar com
as instruções de Deus para o dia de hoje. A instrução do Espírito Santo foi
"separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado",
muito semelhante ao chamado de Abrão: "vai para a terra que te mostrarei". Na
verdade em ambos os casos o chamado era claro mas a terra e o país não.
Não sabemos. O mais provável é que Deus tenha falado à igreja através de um de
seus profetas. Mas seu chamado também poderia ter sido interno e não externo,
ou seja, através do testemunho do Espírito em seus corações e mentes.
Independente de como o receberam, a primeira reação deles foi a de orar e jejuar,
em parte, ao que parece, para testar o chamado de Deus e em parte para
interceder pelos dois que seriam enviados. Notamos que o jejum não é
mencionado isoladamente. Ele é ligado ao culto e à oração, pois raras vezes, ou
nunca, o jejum é um fim em si mesmo. O jejum é uma ação negativa em relação a
uma função positiva. Então jejuando e orando, ou seja, prontos para a obediência,
"impondo sobre eles as mãos os despediram".
Isto não era uma ordenação ao ministério muito menos uma nomeação para o
apostolado já que Paulo insiste que seu apostolado não era da parte de homens,
mas sim uma despedida, comissionando-os para o serviço missionário.
De acordo com Atos 13:4 Barnabé e Saulo foram enviados pelo Espírito Santo que
anteriormente havia instruído a igreja no sentido de separá-los para ele. Mas de
acordo com o versículo seguinte foi a igreja que, após a imposição de mãos, os
despediu. É verdade que o último verbo pode ser entendido como "deixou-os ir",
livrando-os de suas responsabilidades de ensino na igreja, pois às vezes Lucas
235
usa o verbo "adulou" no sentido de soltar. Mas ele também o usa no sentido de
dispensar. Portanto creio que seria certo dizer que o Espírito os enviou instruindo
a igreja a fazê-lo e que a igreja os enviou, por ter recebido instruções do Espírito.
Esse equilíbrio é sadio e evita ambos os extremos. O primeiro é a tendência para
o individualismo pelo qual uma pessoa alega direção pessoal e direta do Espírito
sem nenhuma referência à igreja. O segundo é a tendência para o
institucionalismo, pelo qual todas as decisões são tomadas pela igreja sem
nenhuma referência ao Espírito.
Conclusão
Não há indícios para crermos que Saulo e Barnabé eram voluntários para o
trabalho missionário. Eles foram enviados pelo Espírito através da igreja. Portanto
cabe a toda igreja local, e em especial aos seus líderes, ser sensível ao Espírito
Santo, a fim de descobrir a quem ele está concedendo dons ou chamado.
Parte XXXIX
MINISTÉRIOS FIÉIS
Não existe chamada mais honrosa e elevada que a divina para o ministério
integral. É senso comum que qualquer outra atividade desenvolvida pelos cristãos
tem sua pertinência na Causa de Cristo e não deve ser minimizada. No entanto, a
Escritura Sagrada dá grande importância a homens e mulheres que foram
separados como profetas, evangelistas, missionários e pastores. O apóstolo Paulo
mesmo demonstrou uma clara visão do seu ministério, e suas cartas o revelam
(1).
236
desenvolvimento, detalhes que merecem análise. Paulo menciona que sua palavra
sempre foi destemida, havia transmitido a vontade de Deus sem quaisquer
reservas; menciona, ainda, que sempre trabalhou com as próprias mãos para
satisfazer as suas necessidades pessoais, nada cobiçou de outras pessoas, pelo
contrário, seu trabalho, não o reservava para si, mas ajudava a suprir as
necessidades de outros menos validos.
Paulo recorda aos seus colegas de ministério algumas realidades próprias do seu
múnus ministerial e profético: o dever que não é outro senão vigiar, alimentar,
cuidar do rebanho do Senhor que lhes foi confiado, tarefa que ninguém escolhe,
antes, pelo contrário, para ela é escolhido; o perigo a que estão sujeitos, bem na
medida do pensamento contemporâneo de que "o preço da liberdade é a eterna
vigilância". Os participantes da obra divina correm o perigo da contaminação do
mundo, do secularismo, da inveja ou do sucesso. É verdadeiramente uma luta
ingente, feroz e constante mantida pelos profetas, pastores, evangelistas,
educadores, missionários, obreiros em geral para manter a pureza e a
intocabilidade da Igreja de Jesus Cristo sob a sua liderança espiritual.
Antes de sua partida, traz à memória de seus amados três características de seu
próprio ministério, e, por extensão, de todos os fiéis ministros, missionários,
profetas, obreiros do Reino de Deus.
"Passei pregando o reino de Deus" (v. 25). O método de Deus para a salvação
dos perdidos não é outro senão a pregação, pois "aprouve a Deus salvar pela
loucura da pregação...(2)" Outros métodos são auxiliares, contribuem, ajudam,
não são, porém, prioritários.
A palavra pregar é usada por Paulo cinqüenta e nove vezes nas suas cartas. Até
mencionou que "Cristo não me enviou para batizar"(3). Da mesma forma,
escreveu, "cheguei a Trôade para pregar o evangelho"(4), e a Timóteo exortou
com a seguinte expressão: "Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo"(5).
Para Paulo, precioso é o evangelho, não a sua vida(6). Esta convicção que
queimava a sua consciência ela a reflete igualmente em Atos 21.13, Filipenses
1.19-26 e 3.8, entre outros tocantes exemplos de dedicação, consagração e
abandono de seu espírito ao Espírito de Deus. Para o apóstolo, prioritário é
pregar, proclamar essa mensagem abençoada e abençoadora de um evangelho
eficaz para a salvação de todo aquele que crê.
237
"Não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus" (v. 27). Spurgeon fez
referência a pregadores que enfatizavam apenas certas doutrinas. É o que
podemos chamar de "evangelho light". Esses pregadores falam de doutrinas como
o reavivamento, a cura divina, e outras igualmente populares. Entretanto, os
ministros fiéis não se prendem a um assunto favorito, mas proclamam todas as
Doutrinas da Graça.
"Estou limpo do sangue de todos" (v. 26). Estas palavras são um eco de Ezequiel
33.1 - 9,
"todo aquele que ouvir o som da trombeta, e não se der por avisado; e vier a
espada, e o levar, o seu sangue será sobre a sua cabeça"(7).
Diz a Bíblia na Linguagem de Hoje: "Esse alguém é responsável por sua própria
morte". Paulo também o disse ecoando o profeta Ezequiel, "estou limpo do sangue
de todos" (8), frase do missionário vertida pela BLH como "se algum de vocês se
perder, eu não sou responsável"
Nosso problema, quantas vezes, tem sido o desejo de ver resultados visíveis em
lugar de deixarmos os resultados com Deus. Pode o missionário, o evangelista, o
pastor ficar tão ansioso e não se lembrar da recomendação bíblica, "Lança o teu
pão sobre as águas", até porque nos garante a conclusão desta recomendação
que "depois de muitos dias o acharás"(9). Garante a Escritura que a Palavra de
Deus "não voltará vazia"(10), razão porque não precisamos nos preocupar com os
238
resultados visíveis imediatos. O Senhor da seara é fiel, desse modo, os Seus
servos devem ser fiéis na entrega da mensagem e na obrigação por causa de sua
divina comissão.
ÚLTIMO PENSAMENTOS
"E eis agora sei..." (v. 25a). Gloriosa certeza! Extraordinária convicção! Em outro
espaço, também o fez com a afirmação de "sei em quem pus a minha confiança e
estou certo de que ele tem poder para me guardar na minha missão até ao dia
marcado", o Dia do Juízo(11). Com esta expressão de fé e esperança, o apóstolo
introduziu os pensamentos acima analisados.
NOTAS
(1) Cf. 15.14ss.; 1Coríntios 16.10ss.; 2Coríntios 2.14-6.10; 10.1ss.; Colossenses
1.24-2.23; etc.
(2) 1Coríntios 1.21b.
(3) 1Coríntios 1.17.
(4) 1Coríntios 2.12a.
(5) 2Timóteo 4.2a.
(6) Cf. Atos 20.24
(7) Cf. v.4.
(8) Cf. Atos 20.26b.
(9) Eclesiastes 11.1.
(10) Isaías 55.11.
(11) 2Timóteo 1.12 (O Novo Testamento, Tradução Interconfessional, Lisboa,
Sociedade Bíblica de Portugal, 1978)
O MINISTÉRIO DA PALAVRA
239
Introdução(1)
Em uma pesquisa realizada entre pastores perguntou-se qual seria o alvo final do
trabalho pastoral e muitos responderam ser a evangelização, outros a união dos
crentes com o Senhor, uns poucos disseram ser o preparo do crente para a
eternidade e para o mundo atual e, lamentavelmente, muitos não souberam
responder a questão proposta.
É espantoso notar que muitos pastores dirigem igrejas e pregam sem ter uma
noção clara quanto a finalidade do Ministério, o que ressalta o fato de que não
desenvolveram uma visão bíblica para o Ministério da Palavra. Estão pastores
mas não são Pastores na acepção bíblica da tarefa pastoral.
240
1. Aperfeiçoamentos dos crentes
Deus espera que os pastores entreguem a Cristo a obra acabada, isto é, cristãos
aperfeiçoados em Jesus, edificados na igreja, cheios do pleno conhecimento e
firmados doutrinariamente. Cristãos que tenham uma identidade doutrinária
definida e que interagem na obra do ministério da igreja de modo geral, Efésios
4.10-16.
Devemos servir com esmero e amor no presente para que sejamos encontrados
fiéis no tempo em que formos convocados ao serviço celestial, Mateus 6.21-24;
Marcos 10.43-45; Lucas 12.35-38; João 12.26; 13.13-17; Gálatas 5.13; Hebreus
10.22-25 e Apocalipse 22.3-4.
O pastor deve ter uma visão horizonal do Reino de Deus, isto é, deve enxergar
além do horizonte da igreja local ou de sua denominação. Há uma realidade muito
maior e superior do que a própria igreja local que é a Igreja Universal, Invisível e
Gloriosa, sendo a igreja local condicionada pelos sinaléticos denominacionais
apenas uma ínfima expressão da grande totalidade do que constitui-se a Igreja de
Deus em Cristo, João 17.11 e 20-23; Efésios 4.4-7; Hebreus 12.22-24; Apocalipse
7.9-15.
241
II – A Relevância da Tarefa Pastoral para a Sociedade (3)
242
validade das emoções e da intuição na percepção ideológica da verdade e da fé,
tornando a igreja e o labor pastoral relevantes e essenciais para o nosso contexto
sociocultural.
Conclusão (4)
243
É urgente e premente a necessidade de resgatarmos a credibilidade do Ministério
da Palavra pois somente aqueles que abrem seus corações e suas mentes para a
mensagem bíblica e à instrução pastoral crescerão espiritualmente. Os cristãos
que resistem a autoridade pastoral ou que vivem buscando referenciais externos
para abalizar a proclamação de seu pastor, além de se tornarem infelizes,
excluem-se da nutrição espiritual que emana do púlpito da igreja.
Notas
244
discipulado; é o crescimento do crente individual e da igreja como corpo forte,
robusto, poderoso. É, ainda, a consecução do múltiplo propósito que Jesus tem
para Sua igreja que é o de derrubar as portas do inferno, o de resgatar vidas das
mãos de Satanás, de batizar essas pessoas e de discipulá-las. E esses dom foram
dados por Deus em resposta às orações do Seu povo. O povo de Deus pedia.
Relatos da Bíblia mostram que quando Deus ou o Senhor Jesus Cristo chamou, o
vocacionado estava numa atividade como Moisés que apascentava ovelhas. Ou
como Davi que também apascentava ovelhas e os outros que acabei de
mencionar. A Escritura Sagrada enfatiza a vocação divina, um sentimento tão forte
naquele que é chamado que levou Isaías, que estava cultuando no templo, a
exclamar como está registrado em Isaías no capítulo 6, no final do verso 8 onde
ele diz: "Envia-me a mim". A mesma coisa aconteceu com Amós. Amós estava
apascentando o gado e quando ele estava pastoreando o gado, ouviu a palavra do
Senhor. E respondeu "Eu não era profeta, nem filho de profeta". Ele está falando
aqui a Amazias. "Mas boieiro e cultivador." Era agricultor. "Mas o Senhor me tirou
de após o gado e me disse: Vai, profetiza o meu povo Israel." É assim que Deus
faz. É assim que Deus age. Ou como dizia o saudoso pastor Valdívio Coelho,
"Uma chamada divina, que envolve um preparo divino para uma obra divina". E
isso tem base bíblica, 2Coríntios, capítulo 3, fala sobre esse assunto. Por essa
razão, se alguém entra no ministério sem chamada vai ser um infeliz; mas, se
você também ouviu a chamada e não entrou no ministério, vai ser tremendamente
infeliz por uma razão, e essa razão está na palavra de Jesus Cristo em João no
capítulo 15 que diz "Não fostes vós que me escolhestes mas fui eu que vos
escolhei e vos designei para que vades e deis fruto." E se alguém abandona essa
chamada há de ser infeliz. Por isso a pergunta base é: Que é um pastor?
245
temos agora alguma variante. E quero dizer aos irmãos, especialmente os crentes
mais novos, aqueles que estão ainda se preparando para o batismo, Que é um
Pastor?
O PASTOR É UM PROFETA
No entanto, a palavra tem conotação muito mais ampla, muito mais profunda e
mais consistente e séria porque pela Bíblia Sagrada, profeta é quem fala em nome
de Deus, é o porta-voz de Deus. E a Bíblia ensina que isso é um carisma.
1Coríntios capítulo12 menciona entre os dons o de profecia. E porque profetiza,
ou seja, por que proclama a palavra do Senhor, porque edifica, exorta, consola
homens individualmente e a igreja como um todo, quando a proclamação não
existe, vai chegar a derrota e na Palavra Santa está com toda clareza e com toda
as palavras a expressão de Provérbios 29 que fala "Não havendo profecia o povo
se corrompe". Portanto, a função primária, basilar, fundamental do profeta é se
colocar entre Deus e a pessoa humana e comunicar o propósito eterno, comunicar
a sua vontade.
Sem dúvida alguma irmãos há uma tradição milenar atrás de cada sermão que é
pregado de qualquer púlpito cristão. E mesmo assim, cada sermão deve ser atual.
Apesar de uma tradição milenar desde o tempo dos profetas, cada sermão deve
advertir sobre o pecar, deve advertir sobre a justiça e deve advertir sobre o juízo
de Deus. Cada sermão há de chamar a atenção para as conseqüências morais e
espirituais da conduta do ouvinte. E aquele que é arrependido deve apontar a
misericórdia e deve apontar o perdão de Deus e a bênção da vida com Deus. Por
isso, a palavra do profeta nunca é: "Assim eu digo", "assim diz Walter Baptista",
não. A palavra do profeta é: "Assim diz o Senhor". "Ou palavra do Senhor que veio
a...". Como está na Bíblia Sagrada. Como profeta, o ministro da palavra tem
mensagem. Mensagem de luz, mensagem de vida, mensagem de conforto, de
inspiração, de salvação que deve ser sempre fiel e reta e ortodoxa. Palavra de
orientação para a vida porque Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente.
Cada profeta então é uma sentinela guardando a doutrina que veio dos lábios do
Senhor e do ensino apostólico. Sentinela e pastor.
Acontece que hoje está muito fácil se chamar "pastor". Há tantos desqualificados
sendo chamados de "pastor" que é uma verdadeira calamidade. É um quadro que
vemos amiúde. Mas a Bíblia mostra que não é assim. A Bíblia diz que sempre
existiram aproveitadores, que sempre existiram mal intencionados, que sempre
existiram cavadores de lucro. E a palavra de Deus vai dizer assim,
"Estes cães são gulosos, nunca se podem fartar; são pastores que nada
246
compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para sua
ganância, todos sem exceção" (Is 56.11).
Nunca foi tão fácil para alguns, talvez devêssemos dizer para tantos,
reivindicarem, falarem em nome do Senhor, explorando uma pessoa simples,
incauta e até mesmo aquele que está desejosa de ser manipulada. Nunca foi tão
fácil como nos dias de hoje, e, no entanto, a palavra do Senhor é tão clara sobre
este assunto porque diz em Jeremias 3:15 "Dar-vos-ei pastores segundo o meu
coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência". Por isso,
Paulo recomenda "Não desprezeis as profecias". Pastor é, então, o quê? Um
profeta.
O PASTOR É UM ANJO.
Agora ninguém espere ver um par de asas nas costas do pastor Walter nem
debaixo do paletó. É porque tem uma história que diz que o pastor foi almoçar na
casa de uma família. E quando chegou, a menininha da família começou a andar
por trás da cadeira do pastor. Ia lá e vinha cá, fazia a volta e ia, olhava e mexia e
tocava no pastor. Aí a mão disse: "Rosinha pára com isso, menina! Que história é
essa, você andando para lá e para cá?!". A menina respondeu: "Eu estou
procurando as asas: a senhora não disse que o pastor é um anjo...". Então há
quem queira ver essas asas nas costas do pastor.
Mas vamos entender irmãos. Porque a palavra "anjo" tem significado. Anjo é
aquele que traz uma mensagem, um mensageiro. E Paulo se refere a isso quando
em Gálatas no capítulo 4.14, ele diz: "Embora minha enfermidade na carne vos
fosse uma tentação, não me rejeitastes, nem me desprezastes antes me
recebestes como a um anjo de Deus". E no Apocalipse também a palavra "anjo" é
usada largamente quando as sete cartas são enviadas ao pastor, ao anjo, da
igreja de Filadélfia e às demais.
247
auditório, que estava completamente vazio. Quando ali chegou, foi para o palco, e
com a voz poderosa de pregador, exclamou:
e repetiu,
É necessário que haja da parte do pastor verdadeira conversão. Como poderia ele
falar de uma experiência que não conhece? O que se pode dizer de uma
determinada fruta, o seu gosto, se nunca se experimentou da mesma? Quando eu
estava em Singapura, falaram de uma fruta chamada durian. É da família da jaca,
da fruta-pão, da pinha, da graviola. Essa fruta é um pouco maior que uma graviola;
mais espinhenta que a jaca, e dizem que é a fruta mais saborosa do mundo. Essa
foi a declaração que ouvi por lá, e li, até, afirmando esse fato. Fomos, finalmente,
apresentados à durian. Se é mais saborosa, não sei porque não tive coragem de
experimentar. No entanto, eu sei que é a mais fedorenta do mundo... Fede que
nem esgoto. Dizem que quando se come um bago da fruta, é algo deliciossíssimo.
Não tive coragem porque o fedor era de esgoto em dia de chuva. Meus amados,
não posso falar do sabor da durian porque não o conheço.
Outra coisa que o pastor deve ter é piedade cristã para resistir ao escrutínio das
outras pessoas. Está na palavra em 1Timóteo 4.12. O apostolo Paulo ele diz o
seguinte ao jovem pastor Timóteo, "Ninguém despreze a tua mocidade: mas sê o
exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na amor, no espírito, na fé, na pureza". No
boletim de hoje, foi transcrita uma palavra do Pr Nilson Fanini bem parecida com
essa. Como o pastor tem sido vítima de cobranças fiscais. Sua vida é vasculhada
e os procuradores de agulha no palheiro usam lente de aumento sobre as falhas
do ministro do evangelho. Por quê? Para orar com ele? Nem sempre.
Ele precisa ter uma fé sadia também e ter uma fé que seja ortodoxa. Aliás, se não
for ortodoxa nem é sadia nem é fé. Que não seja amante de novidades. Hoje é um
tempo em que se ama a novidade. Nós preferimos ficar com a Palavra sempre. Há
muita novidade barateando o culto divino, nós preferimos o culto digno do nome
do Senhor. Há muito culto que satisfaz mais ao ego dos chamados pastores que
realmente às necessidades do povo.
Pois é, o pastor é um anjo. Por isso ele precisa de ter todas essas características
248
aí. Ele precisa conhecer a Deus, andar com Deus, ter comunhão com Ele. Ele
precisa conhecer as ciências teológicas. Ele tem que ter capacidade mental e eu
diria capacidade acadêmica, conhecimento bíblico adequado. Ele pode não saber
tudo, é verdade, mas o que ele sabe, deve saber bem e ele deve continuar
aprendendo, lendo, lendo muito para saber cada vez mais. Por isso, não é demais
até lembrar que Paulo tinha muito amor pelos livros, por isso pediu que quando
viesse, Timóteo trouxesse o livro.
Primeira coisa que nós dissemos é que o pastor é um profeta. Segunda coisa, o
pastor é um anjo, mas há uma terceira o pastor é um homem. Descobri que ser
anjo não é difícil e que também não é difícil ser profeta. Difícil é ser humano.
Pastores são não somente humanos mas precisam ser plenamente humanos.
Razão porque todo pastor pede uma dose de compreensão, uma dose de
paciência e uma dose de tolerância. Isso é dito porque há quem espere que o
pastor, qualquer pastor de qualquer igreja em qualquer lugar, seja um bom
pregador e que tenha dois bons sermões todo domingo e que tenha um bom
estudo em todo Culto de Oração e que atenda no gabinete a qualquer hora do dia,
inclusive no seu dia de folga, e que seja somente sorrisos; que não canse e que
não desanime em certas horas, e que não tenha tristezas e que tenha inclusive p
condão de fazer a maravilha das maravilhas que é estar em dois lugares ao
mesmo tempo. Talvez, se possível for, em três lugares ao mesmo tempo, como já
tem acontecido comigo, dois compromissos, três compromissos e a pessoa fica
zangada porque a só se pode atender a um deles.
249
"Sabe, que nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis. Os homens serão amantes
de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a
pais e mães, ingratos, profanos",
e aí segue com um catálogo de coisas do nosso tempo. É nesse mundo que nós
exercemos o ministério. São dias difíceis. E a descrição do coração desses
homens ímpios é a de um povo que se distancia de Deus, de um povo que
transgride as leis da decência. É um povo saturado de orgulho, de lascívia, com
novas formas de piedade, negando, porém, o Deus vivo e verdadeiro. E Paulo fala
de blasfêmia; fala de ingratidão, de calúnia, de atrevimento, de orgulho. Por isso,
enquanto o mundo desce a ladeira do inferno, Timóteo, o jovem pastor, é exortado
à fidelidade à palavra de Deus bem como todos os outros pastores. Porque de
hora em hora o mundo piora. Mas como o pastor é um servo da palavra, ele deve
manter na consciência que ele pertence ao seu povo. Ao povo que o Senhor lhe
confiou. Ele pertence à palavra que ele anuncia. Ele pertence a Deus que o
escolheu e o comprou e o fez ministro de Sua palavra. Isso quer dizer que há de
ser homem de oração e totalmente submisso e consagrado a Cristo e à Sua
causa, pois sem Deus na vida, não tem o que oferecer, não tem o que dizer a
quem busca o seu conselho ou a quem vai ouvir os seus sermões.
"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder
seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados;
perplexos, mas não desanimados; Perseguidos, mas não desamparados;
abatidos, mas não destruídos; Levando sempre por toda a parte o morrer do
Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em
nossos corpos".
Mas ele é um ministro. Ministro vem de minister onde está a raiz minus que quer
dizer menos. Ministro era o escravo. Ministro quer dizer isso aí. Pensa-se que hoje
a palavra "ministro" é pomposa e nós dizemos o primeiro escalão do governo, os
ministros. Ministro quer dizer escravo. Porque era uma pessoa que tinha de
menos. Não o procuravam porque tinha de mais, mas, sim tinha de menos. Por
isso, era ele que tinha que carregar cargas, transportar uma mesa, pegar uma
250
coisa ali adiante, fazer isso. Trabalho pesado era do minister, do escravo. O pastor
é ao mesmo tempo um mestre e um ministro. Ele ao mesmo tempo passa e
repassa aquilo que ele tem de mais, mas, ao mesmo tempo ele também sendo
mestre, ele é um servo, é um ministro.
Virou moda fazer o perfil do pastor. Uma igreja em nossa cidade, quando foi
escolher o novo pastor, fez o "perfil do pastor". Entre outras coisas dizia que o
pastor deveria ter até determinada idade. Nilson Fanini não poderia ser pastor
daquela igreja, Billy Graham. Nenhum desses grandes homens de Deus podia ser
pastor. Porque já haviam passado daquela idade. O único perfil que conheço e
reconheço é o que está no Novo Testamento, na palavra de Deus: 1Timóteo 3;
Tito 1;1Pedro 5.
O pastor é humano, muito humano, é vulnerável, razão porque ele busca o poder
de Deus; e não pode ter medo de responsabilidades; não pode ter medo de
críticas e não pode ter medo do aparente fracasso.
Pastores são profetas, são anjos e são homens, simples homens, mas, pastores
são cooperadores, são facilitadores na obra do Senhor e o ministro do evangelho
é um servo voluntário como Jesus e há de caracterizar-se pela unção do Espírito
debaixo de cujo poder vive. E já que um enorme muro de separação existe e
sempre tem existido entre os homens (Paulo fala disso em Efésios 2), ao ministro
do evangelho é confiada a causa da reconciliação porque já chegou a boa nova de
que em Jesus Cristo há salvação, a barreira foi quebrada e nós somos feitos um.
O que é necessário é amar a Cristo. Porque quando isso acontece, esse amor de
Cristo se estende naturalmente àqueles a quem Jesus Cristo também ama, o Seu
rebanho. Jesus perguntou a Pedro: "Pedro, tu me amas? Simão, filho de Jonas, tu
me amas verdadeiramente?" A pergunta foi essa. A pergunta foi Pedro agapos
me? Tu me amas verdadeiramente? E Pedro deu uma resposta infeliz. Os irmãos
viram que na Bíblia, Pedro dizer assim: "Senhor, Tu sabes que eu Te amo." Mas
Jesus perguntou três vezes, "Senhor, Tu sabes que eu Te amo". Ele não disse
agapo te. Pedro, agapos me? Ele devia responder, "Agapo te". Ele disse: "Filo te"
é outra palavra. Filo, vem de filos que quer dizer amigo. "Senhor, Tu sabes que eu
sou teu amigo". Foi isso que Pedro respondeu para Jesus, que pergunta de novo:
"Pedro, tu me amas de verdade?". "Ó Senhor, Tu sabes que eu sou teu amigo." E
finalmente, a resposta, "Senhor, Tu sabe todas as coisas. Tu sabes que eu te
251
amo". Por isso, Jesus disse, "Apascenta os meus cordeirinhos, pastoreia minhas
ovelhas." O amor a Jesus Cristo meus irmãos, é condição sine qua non para que
um ministro do evangelho possa se sustentar no evangelho da Palavra, no
ministério e sempre nesse amor a Cristo, a Deus, e aos irmãos.
Parte XXXX
Dos Sínodos e Concílios
Comentário do Capítulo XXXI da Confissão de Fé de Westminster
As várias denominações de hoje empregam a palavra “sínodo” de maneiras
diferentes. Para nós, os presbiterianos, o sínodo – composto de ministros e
presbíteros dos presbitérios – é o grau acima do presbitério e abaixo do supremo
concílio (ou assembléia geral) na sua ordem de governo eclesiástico.
252
diretamente de Cristo aquela medida adicional que é exigida para o seu trabalho
como oficiais da igreja do Senhor.
Não estão reunidos em nome de Cristo os que, sem ter em conta o mandato de
Deus, no qual proíbe que se acrescente ou diminua algo à sua Palavra, decretam
o que lhes dá na telha; pois estes, não contentes com os oráculos da Escritura,
que são a regra da perfeita sabedoria, não cessam de inventar coisas novas. E
visto que Jesus Cristo não promete estar presente em todos os concílios, mas
tenha posto um sinal particular para diferenciar os verdadeiros dos que não são,
253
não podemos fazer pouco caso dessa diferença. O pacto que Deus fez
antigamente com os sacerdotes levitas foi que ensinassem o que ouviam de sua
boca (Ml 2.7). Ele também pediu o mesmo aos seus profetas e apóstolos. E
àqueles que quebrassem esse pacto Deus não os reconheceria como sacerdotes
seus, nem lhes daria autoridade alguma. Resolvam essa dificuldade os
adversários, diz Calvino, se desejam que se dê crédito às decisões dos homens
tomadas à margem da Palavra de Deus [4].
“Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer
particulares, podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem
constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e
outra coisa”.
Uma decisão conciliar equivocada é aquela que resulta em algum prejuízo para a
igreja. O concílio não é a igreja, mas o seu representante. Uma igreja pode ser
bem ou mal representada. Qualquer resolução do concílio, seja ela boa ou má, vai
refletir primeiramente na igreja representada por ele. A igreja é o termômetro das
resoluções de um concílio. O Novo Testamento é muito claro nisso. Após a
decisão do primeiro concílio da Igreja – que se reuniu com o propósito de opor-se
aos esforços judaizantes – os que foram enviados à Jerusalém desceram logo
para Antioquia e, tendo reunido a comunidade, entregaram a epístola. “Quando a
leram, sobremaneira se alegraram pelo conforto recebido” (At 15.31). Percebe-se
que a igreja de Antioquia foi ricamente abençoada pela decisão daquele Concílio.
E não podia ser diferente porque o que foi resolvido ali “pareceu bem ao Espírito
Santo e a nós” (At 15.28). “O Espírito revelou o que os líderes da igreja deveriam
dizer e fazer” [6].
254
“Os sínodos e concílios não devem discutir nem determinar coisa alguma que não
seja eclesiástica; não devem imiscuir-se nos negócios civis do Estado, a não ser
por humilde petição em casos extraordinários, ou por conselhos, em satisfação de
consciência, se o magistrado civil os convidar a fazê-lo”.
O caráter eclesiástico dos sínodos e concílios nunca deve ser perdido de vista.
Por serem assembléias eclesiásticas, não estão sob a jurisdição dos sínodos e
concílios assuntos meramente científicos, políticos, comerciais ou equivalentes.
Não devem se envolver nos negócios civis do Estado, a não ser por humilde
petição deste em casos extraordinários, quando toca diretamente nos interesses
da igreja [8], ou por conselhos, em satisfação de consciência, se o magistrado civil
os convidar a fazê-lo. Isso tudo é compreensível porque aos sínodos e concílios
somente lhes correspondem assuntos como os de doutrina e moral, de governo da
igreja e disciplina, e quaisquer outros que tenham a ver com a preservação da
unidade e da boa ordem na igreja de Jesus Cristo. Mais particularmente, têm que
ver com (a) assuntos que devido a sua natureza correspondam à jurisdição de
assembléias menores, mas que por uma ou outra razão, ditas assembléias
menores não podem resolver; e (b) assuntos que devido a sua natureza,
correspondam à jurisdição de uma assembléia maior, visto que pertencem às
igrejas em geral, tais como assuntos relacionados com a confissão, a ordem
eclesiástica ou a liturgia da igreja.
Contudo, se por um lado os sínodos e concílios não devem tratar de assuntos que
pertencem à jurisdição do magistrado civil, do outro eles devem ensinar aos
membros das igrejas seus deveres com respeito ao poder civil, e do cumprimento
desses deveres como obrigação religiosa (cf. Rm 13.1-7; 1Pe 2.11-17).
Notas
[1] Portanto, toda vez que aparecer a palavra “concílio” neste artigo entenda-se
concílios em geral.
[2] Cf. J. H. Hall, Concílios eclesiásticos, p. 318.
[3] Cf. L. Berkhof, Manual, p. 261.
[4] Institución, IV,ix,2. Calvino está pensando principalmente nos concílios católico-
romanos.
[5] Cf. Calvino, Institución, IV,ix,10,11.
[6] Kistemaker, Acts, p. 562.
[7] Cf. A. A. Hodge, Comentário, p. 350,51.
[8] Cf. A. A. Hodge, Comentário, p. 350.
Bibliografia
255
CLIE, 1987.
KISTEMAKER, S. J. Exposition of the Acts of the Apostles. New Testament
Commentary. Grand Rapids: Baker Book House, 1990.
WHEATON, D. H. Sínodo. In: EHTIC. Vol. III. São Paulo: Vida Nova, 1990.
Parte XXXXI
Obedeçam a Seus Líderes
Comentário de Hebreus 13.17 - Por Simon Kistemaker
Este versículo não tem conexão com os versículos precedentes. Nós precisamos
voltar ao versículo 7 onde a mesma expressão – seus líderes – ocorre. E no
versículo 24 o escritor mais uma vez emprega essa expressão.
17. Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam
por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com
alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.
A falta de obediência prevalece entre alguns dos leitores. Observe, por exemplo, a
admoestação do autor para não se deixarem “envolver por doutrinas várias e
estranhas” (13.9). Os líderes precisavam de ajuda e encorajamento. Assim, o
apelo para obedecer a eles e submeter-se à sua autoridade é oportuno. É claro,
os leitores poderiam questionar se essa autoridade era auto-imposta pelos líderes
ou delegada a eles por Cristo. Se um líder é um ministro dedicado da Palavra de
Deus, ele prova, assim, que Cristo lhe deu autoridade. E se Cristo confiou a tarefa
de liderança a alguém, as pessoas não devem questionar sua autoridade (At
20.28; Ef 4.11; 1Pe 5.1-3).
b. Cuidado prestado. Os líderes levavam a sério a tarefa que lhe havia sido dada
por Deus. “Pois velam por vossa alma.” Eles literalmente perdem sono por causa
do bem-estar espiritual dos crentes. Eles conhecem a Palavra de Deus falada ao
profeta Ezequiel: “Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; da
minha boca ouvirás a palavra e os avisarás da minha parte. Quando eu disser ao
perverso: Certamente, morrerás, e tu não o avisares e nada disseres para o
advertir do seu mau caminho, para lhe salvar a vida, esse perverso morrerá na
sua iniqüidade, mas o seu sangue da tua mão o requererei” (3.17,18).
256
quando necessário. João Calvino escreve que, “Quanto mais pesada a
responsabilidade deles, maior honra merecem, pois quanto mais alguém sofre por
nossa causa, e quanto maior for sua dificuldade e maiores os riscos que
enfrentam por nós, maiores também nossas obrigações para com eles”. Esses
líderes devem prestar contas a Deus, porque ele é o superior deles; isso não quer
dizer que os membros não são tidos como responsáveis. Eles certamente são.
Eles, também, devem trabalhar juntos, harmoniosamente, para que a tarefa dos
líderes seja uma alegria e não um peso.
257
vigente? A resposta é sim, é deve ser sim! Roma construía grandes estradas para
cidades circunvizinhas, onde o comércio se propagava com facilidade. Todo o
comércio era obrigado a caminhar pelas estradas de Roma. Foi a época da frase:
“Todos os caminhos levam à Roma”. Onde um Império destes beneficia o
Evangelho? A resposta é simples! Os evangelistas utilizavam-se das mesmas
estradas usadas pelos comerciantes para disseminar a Palavra de Deus. A
diferença estava nos propósitos de cada um, isto é, o comerciante ia pelo dinheiro,
já os evangelistas iam por Cristo. Um outro benefício disto, era que, para se viajar,
não necessitava-se de passaporte! Sabe-se até de um certo homem que viajou
para Roma 72 vezes, sem precisar de “burocracia” nenhuma.
O judaísmo foi, ao contrário do que alguns pensam, uma faísca que ajudou na
grande fogueira do cristianismo. Principalmente porque os judeus tinham grandes
privilégios para com os romanos, pois ficaram ao lado de César na guerra e, eram
fiéis à preferência deste Imperador, até os tempos da Igreja Primitiva. Os
romanos, inclusive, passaram até a admirar os costumes e religião dos judeus. E
isto foi causa até mesmo de grandes proselitismos e ajudas vindas deles (Lc. 7:5).
Muitos romanos da época não aceitavam o judaísmo como religião por causa de
seus rituais, principalmente o da circuncisão, que achavam ser um ato de
selvageria. Mas, quando a circuncisão foi substituída pelo batismo nas águas, na
Graça, muitos começaram a aceitar a religião cristã. Num período onde as
religiões de “mistério”, onde as pessoas tinham que ser “iniciadas”, isto é, passar
por processos de “batismos” de aceitação e “pactos” de sangue, onde haviam
morte ou dor, de uma vítima ou do próprio iniciado, o Evangelho veio como um
refrigério, pois exigia-se do convertido, renúncia do “eu” (Mt. 16:24) através do
sacrifício já feito na cruz do Calvário, por Cristo Jesus, não necessitando o ser
humano fazer mais sacrifício ou penitência alguma! Isto era algo muito chamativo
para as pessoas da época, que apenas conheciam deuses carrascos e
extremamente exigentes! Sabe-se de uma religião daqueles tempos, por exemplo,
que a pessoa, para ser iniciada nela, devia deitar-se no chão, de barriga para
cima, e um animal era sacrificado sobre sua barriga, para que seus pecados
fossem perdoados! Os romanos se assustavam com a religião judaica porque
acabavam generalizando, achando que os sacrifícios deles também eram assim.
As religiões serviam para saciar o desejo de segurança espiritual dos homens,
principalmente a segurança após a morte. Mas, muitas delas, ofereciam medo
para adentrar-se nelas e ainda, após serem iniciados, os homens ainda ficavam
na incerteza, com tantas exigências rituais enquanto participavam das tais. Na
verdade, quando as pessoas adentravam as religiões da época da Igreja Primitiva,
seus pontos de interrogações e incertezas não diminuíam, ao contrário disto,
258
geravam mais dúvidas e indagações como: “estaríamos conforme as exigências
rituais religiosas prescritas na lei por nós seguidas?”; “estariam nossas atitudes
agradando as exigências de tais leis?”; “como consegue-se alcançar exigências
tão transcendentes sendo o homem tão falho?” O Evangelho, com seu sacrifício
perfeito – Jesus Cristo – conseguiu suprir todas as necessidades e incertezas
humanas, para aqueles que crêem (Hb. 8 – 10).
Desta forma, assim como Roma foi o berço de muitos filósofos ateus, contribuiu de
igual modo com a pregação do Evangelho. Vê-se isto até mesmo através da
tolerância e conservação dos judeus neste Império. Os judeus nunca foram
proibidos de terem sua religião por nenhum imperador romano. É certo que
houveram tempos onde os cristãos foram fortemente perseguidos por alguns
líderes romanos, mas isto, no fundo, contribuiu muito mais do que atrapalhou, pois
com a perseguição assirrada, houve uma disseminação maior dos cristãos pelo
mundo, pois quando havia afronta em uma região, os cristãos acabavam se
espalhando por outros lugares, levando consigo o Evangelho da Graça.
Enfim, na igreja contemporânea não temos de igual modo uma língua quase que
mundial como nos tempos romanos? Sim! O inglês, que é uma língua muito
conhecida por onde passamos (quase todo o mundo tem o inglês como língua
comercial). Ou ainda o espanhol (está em 84 países, também como língua
comercial). E isto, sem contar com os meios de comunicação de que dispomos na
atualidade, como a Internet. Se temos, atualmente, tanta chance quanto a Igreja
Primitiva teve de pregar o Evangelho a toda a criatura, se o evangelismo “Ontem”
e “Hoje” seguem rumos bem semelhante, o que estamos esperando?
259
pessoa da Trindade. Neste tipo de monoteísmo, Jeová era visto como o Deus
solitário, sem ninguém que se equiparasse a Ele, nem que o Ser equiparado a Ele,
fosse de Sua mesma natureza. Para expor tal fato, necessita-se de argumentos
bíblicos bem apurados e, muitos dos que seguiam a religião judaica, eram bem
instruídos, em contrapartida, os cristãos eram bem pouco estudados! Por este
motivo, muitos dos principais e fariseus não criam no Evangelho. Isso não ocorre,
às vezes, também em nossa época? É claro que sim! Porém, a culpa agora é
nossa, pois temos condições de estudar para atingirmos tanto a doutos quanto a
indoutos em nossas pregações e, por motivos variados, não estudamos, não
pesquisamos, não crescemos “na Graça e no conhecimento” junto (2ª Pe 3.18), e
acabamos, em muitos lugares, só alcançando os indoutos! É claro que para a
pregação do Evangelho, o primordial são os valores espirituais, mas, os materiais
também contam. Não façamos da nossa “preguiça” ou “falta de vontade” um
estorvo à pregação das Boas Novas do Reino de Deus! Nenhum dos discípulos de
Cristo saíram a pregar o Evangelho sem antes serem preparados para tal.
Perceba-se que deixaram de ser chamados de “discípulos” (literalmente “alunos”
ou “aprendizes”) e só foram chamados de “apóstolos” (que significa “enviados”)
depois do período de aprendizado com Jesus Cristo! Chega de desculpas irmãos!
Vamos nos preparar, os “campos brancos estão para a ceifa” (Jo 4.35).
Outra dificuldade de se pregar o Evangelho naquela época, era pelo fato de que
os judeus sabiam que “o Cristo” havia morrido numa cruz. A cruz, segundo o livro
de Deuteronômio 21:22,23, era o lugar onde morriam os malditos e, para os
judeus, o Cristo nunca teria de passar por esta humilhação, aliás, para eles, o
Cristo não passaria por humilhação nenhuma! Esqueceram-se de ver em Isaías
53, que o Messias seria também o Servo Sofredor que levaria sobre Si a nossa
“maldição” através de Sua expiação. Eles achavam, ao contrário do que o próprio
Jesus ensinou, que Ele teria grandes poderes políticos, e nada disto aconteceu,
pois O Messias, na verdade, não seria o “rei do pecado”. O Império que realmente
subjugava a humanidade, não era o de César, mas sim o Império da Morte. Como
o Império da Morte estava em outra dimensão, no mundo espiritual, e isto acabava
prejudicando a esfera do material, Cristo aniquilou o mal pela raiz, pela causa, no
mundo espiritual, isto é, o Reino dele não foi deste mundo porque Sua luta foi
contra um reino que também não era daqui (Jo. 18:36; Hb. 2:14).
260
pública comemorá-las e, ao contrário do judaísmo, que esperava-se a pessoa vir
por si mesma e tornar-se um prosélito, o cristianismo por sua vez, ia até as
pessoas proclamando as Boas Novas e convidando-as a renunciarem todas as
práticas antigas, principalmente as práticas religiosas romanas. Perceba-se que os
pregadores primitivos “ia” às pessoas, não as esperava “vir” até elas. Isto é para
que percebamos como o Evangelho também encontrou dificuldades contra o
paganismo greco-romano, não tão diferente como hoje!
O culto greco-romano era realizado apenas por uma questão de cultura. Ninguém
queria saber se realmente haviam ou não os deuses aos quais adoravam e
serviam, simplesmente cultuavam sem inquirirem nada à respeito do que criam.
Os seus cultos eram apenas um ritual passado de geração-a-geração, e seguiam
apenas para não perderem as tradições. Era o famoso: “Nasci nesta religião e vou
morrer nela!” Seguiam os ritos, então, apenas por uma questão de tradicionalismo,
mas não porque era a verdade. Isto tudo era bem diferente do Evangelho, com
seus cultos calorosos e avivados. Cultos esses aos quais não prostravam-se
diante de imagens ou objetos considerados sagrados, mas sim, uma crença no
Deus que havia morrido e ressuscitado, e que estava ainda no meio deles por
intermédio do Espírito Santo.
Não seriam estas as dificuldades básicas de hoje também? Não temos atualmente
religiões bem semelhantes às judaicas e às romanas do período da Igreja
Primitiva? Não pregaram eles o Evangelho, apesar de tudo isto, a toda a criatura?
Se o evangelismo “Ontem” e “Hoje” encontra as mesmas dificuldades, e mesmo
assim eles conseguiram, o que estamos esperando?
261
Esqueceram-se eles de seus próprios pecados e da necessidade primordial do
perdão de Deus para que o “Reino dos Céus” fosse manifesto em sua vida
espiritual. Queriam eles resolver um problema terreno e material olvidando o
espiritual (Mt. 6:33).
Os cristãos sempre usavam como fato e como prova de que Jesus era o Messias,
as promessas feitas por Deus aos profetas no Antigo Testamento. Fatos estes,
que nunca ninguém conseguiu refutar. Os judeus-cristãos mostravam que todas
as promessas cumpriram-se em Jesus, e com isto, conseguiram ganhar muitos à
Salvação. Porém, também perderam muitos, como já exposto anteriormente, pelo
fato de os judeus não aceitarem a idéia de que Jesus era o Messias tendo morrido
numa cruz. Não entendiam que Jesus não era maldito, mas sim, que tornou-se
maldição por nós (II Co. 5:21). Jesus ressuscitou ao terceiro dia, não como
maldito, mas como o Vitorioso, pois não recebeu o salário do pecado, que é a
morte, mas garantiu-nos o Dom gratuito de Deus, a Vida Eterna, vencendo as
ânsias da morte (Rm. 6:23).
Os judeus tentavam argumentar o fato de não ser Jesus o Messias, por intermédio
de muitas afirmações que diziam não ter respostas, porém, quando chegavam à
ressurreição de Cristo, não havia como negar, Ele realmente ressuscitara, andou
entre seus discípulos por espaço de quarenta dias (At. 1:3) e apareceu a mais de
quinhentos irmãos (I Co. 15:3-8). Não somente isto levava os judeus da época a
se calarem diante da Verdade, como também, toda a vida de Jesus, onde não
houve sequer uma profecia que não foi cumprida Nele, e onde não houve pecado
algum (Mt. 26:56: Jo. 8:46).
Muitos, no decorrer da história, disseram que apesar desta briga judaica contra o
cristianismo, na verdade, são ambas as religiões a mesma coisa. Disseram até
mesmo que Jesus foi uma tolice judaica seguida por pessoas sem escrúpulo e que
não raciocinam. Porém, tolices não permanecem por tanto tempo sem serem
desmentidas, e Jesus permaneceu, firmando ainda a Sua Igreja para continuar
disseminando a Verdade através da pregação do Evangelho a todos os povos (Mt.
28:18-20).
262
O Evangelho tem uma mensagem que alcança todo tipo de coração. E isto foi
mostrado desde os tempos de Jesus até aos nossos dias. Percebemos na História
da Igreja Primitiva que o Evangelho foi bem recebido pelos gentios, pois estes
eram comumente considerados como sem valor pelos judeus tradicionais da
época. Os gentios eram tratados como servos, eram humilhados e sofriam para
que outros se alegrassem. É aí onde o Evangelho foi de encontro às necessidades
deles! Imaginem só um Deus que já havia passado pela situação de servo, sendo
humilhado, que sofreu para a alegria de muitos, enfim, que conhecia de perto o
que eles passavam?! Este era o Deus que precisavam!
Antioquia foi o início de tudo. Ali aconteceu a primeira faísca que acendeu a
grande fogueira da evangelização mundial. Parece que a grande dificuldade
encontrada por eles, foi apenas a tradução do Evangelho para as línguas dos
povos evangelizados. Não a tradução somente das palavras mas principalmente a
tradução das idéias. Existiam palavras escritas nos originais, ou em suas cópias,
que não eram muito convenientes entre os gentios, pois traziam sentido estranho
quando traduzidas literalmente. Mas, graças a Deus, muitos eruditos da época,
como também os contemporâneos, passaram a traduzir as Escrituras de forma
mais empática. Isto gerou uma boa recepção do Evangelho entre os intelectuais e
os escravos.
Um outro motivo pelo qual o Evangelho era bem aceito, foi o medo dos demônios
que os gentios tinham, principalmente os que seguiam religiões animistas.
Percebendo que pelo nome de Jesus os demônios eram expulsos, e não através
de sacrifícios aos espíritos, encontraram segurança na mensagem cristã,
facilitando a aceitação de Jesus Cristo como único e suficiente Salvador. Para que
outros deuses ou intermediários, pensavam, se Jesus era Todo-Poderoso e Auto-
Suficiente contra os ataques dos maus espíritos?
Os primeiros cristãos, ao que percebe-se, lutavam principalmente contra a
idolatria. Tudo o que tivesse apenas aparência de idolatria era de imediato
abandonado por eles. Um exemplo claro quanto a isso foi a perseguição de Nero
aos cristãos que não declaravam que o Imperador era “Senhor” (Kyrios no grego).
Os primeiros cristãos consideravam que se chamassem César de “Senhor”
estariam tirando o senhorio absoluto de Jesus Cristo! Isto lhes seria abominável! É
claro que historicamente falando, César não exigia apenas a proclamação dele
como “Senhor”, mas, como mostra-nos historiadores como Eusébio de Cesaréia,
exigia até mesmo sacrifícios e cultos a ele mesmo. Estes primeiros cristãos
sabiam que toda e qualquer semelhança com o mal prejudicaria suas vidas,
concernente à salvação, como também a proclamação do Evangelho. O que
estamos esperando para sermos diferentes também em nossa época?
O cristianismo sempre foi ousado! Sempre se arriscou! E isto fez com que o Reino
dos Céus lucrasse. Os cristãos primitivos se arriscavam bastante, mesmo que
olhando para as lutas impostas pelo mundo. Com tudo isto, Jesus foi anunciado
até os confins da terra, pois a Palavra de Deus nunca volta vazia. As tribulações
que pareciam servir de derrota para a mensagem cristã, foram na verdade usadas
por Deus como meio para chamar a atenção de todos os povos ao Evangelho. Os
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mártires cristãos, que talvez até pensavam alguns que tornariam-se em escândalo
para as pessoas da época, exterminando até mesmo o desejo de servir a Cristo
dos que assistiam seus martírios, acabaram por incentivar muitos que iam nas
arenas para ver sangue e sofrimento por diversão, a também aceitarem o Grande
e Único Deus – Jesus Cristo – por Quem esses homens e mulheres corajosos
morriam! Ninguém morreria por uma farsa, por um deus que não fosse menos do
que o Único e Verdadeiro! Isto não aconteceu com os japoneses Kamikazes e
nem ocorre com os muçulmanos, pois os que morriam por Cristo sabiam que não
eram eles mesmos quem impetravam sobre si a morte, mas que eram levados ao
matadouro para serem oferecidos como oferta com cheiro suave ao Deus que
tudo aquilo permitia por causa de seu Plano Eterno da Salvação. Não morriam
para serem salvos, porque já eram salvos em Cristo Jesus! Não morriam para
salvar, pois sabiam que eles mesmos necessitaram da salvação outorgada por
Cristo no Calvário.
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sabe “o Clube da Luluzinha”, façam o favor! Acreditem se quiser, existem igrejas
onde a frase que mais se ouve do púlpito é: “Quem não quiser seguir a nossa
cartilha, a porta da rua é a serventia da casa!” O interessante é que Jesus não
ordenou à Sua Igreja seguir cartilhas de homens, mas Sua Santa Palavra – A
Bíblia Sagrada, como vemos em Marcos 7:
O autor Jorge A. Leon, em seu livro “La Comunicación Del Evangelio en el Mundo
Actual”, afirma que: “1º A evangelização deve ser tensora – o ponto em que a
pessoa se decide por Cristo; 2º Deve haver constante evangelização, tanto para
os que não conhecem a Cristo, como àqueles que já conhecem, devido
exatamente às conversões erradas.”
VI. O ENTUSIASMO DOS EVANGELISTAS DE ONTEM E DOS DE HOJE
Os evangelistas da Igreja Primitiva usavam um meio muito eficaz na proclamação
do Evangelho: seus próprios testemunhos de vida. Eles não somente pregavam o
Evangelho – eles eram o Evangelho. Eles não somente pregavam a mensagem da
cruz – eles tomavam cada um a sua cruz. Não somente pregavam a Jesus Cristo
– eram verdadeiros imitadores de Cristo.
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perder a própria vida! A vida dos evangelistas era um grande exemplo de fé,
coragem e desprendimento material. Sua devoção fazia com que outros se
contagiassem e acabassem também se convencendo de que Cristo é real e
verdadeiramente ressuscitou!
Havia entre eles uma comunhão muito grande. Ninguém naquela época passava
necessidades enquanto outros tinham de sobra, pois todas as coisas eram
comuns entre eles. Quem tinha muito, não suportava ver o sofrimento do que nada
tinha! Como já ouviu-se em um hino cristão, éramos conhecidos pelo amor. Muitos
até diziam: “Vejam como se amam!”, mas infelizmente hoje, somos conhecidos de
forma diferente. Atualmente ouvimos pessoas dizendo: “Vejam com se separam!”
O caráter dos cristãos daquela época era totalmente modificado. Enquanto isso,
muitos evangelistas de hoje não ensinam que o “barro” deve ser moldado pelo
“Oleiro”. Muitas vezes tentamos encaixar a Palavra de Deus em nossas maneiras
mesquinhas e exclusivistas de viver, e ainda chamamos a isso de liberdade cristã!
Porém, não somos livres para fazer o que quisermos da maneira que queremos,
como se houvesse um tipo de ética cristã individualista. Somos livres para
servirmos a Deus através da “Ética Absoluta Univérsica” por meio de Sua Palavra.
Além de tudo, os primeiros cristãos eram felizes, mesmo numa arena cheia de
leões famintos querendo devorá-los, envoltos em faixas embebidas em azeite ou
piche amarrados a um poste pegando fogo, ou em qualquer outro lugar de
martírio. Eles sentiam-se lisonjeados quando surrados por causa da fé cristã. A
alegria deles, mesmo diante de tais circunstâncias, fazia com que muitos
espectadores se convertessem ao Evangelho.
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vivo, não é Deus de mortos!
O Evangelho deve ser para nós o que foi para os primeiros evangelistas: a razão
da estada da Igreja aqui na terra, a razão de sermos luz, sal e imitadores de
Cristo. O Evangelho deve ser uma chama ardendo em nossos corações, e o amor
às almas a lenha que ajuda esse fogo a queimar!
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caminhar. O ensino produz na vida do ser humano a fé e o sustento necessário
para que nos tornemos discípulos e discipuladores. O ensino evangelístico mostra
o que Deus quer de cada um e o que quer da sociedade evangélica: um corpo
bem ajustado, pela ligação de cada uma das partes.
Enfim, o último método utilizado que descreveremos aqui, apesar de muitos outros
utilizados pela Igreja Primitiva, foi o da evangelização literária. Um tipo de
evangelização diferente da oral, no sentido que não mudava-se o teor da
mensagem quando era passada de pessoa a pessoa, pois o que está escrito não
se muda. A escrita foi um método que muito ajudou, e ainda ajuda, a examinar-se
com detalhes o quer-se dizer com a mensagem. E isto de uma maneira bem mais
hermenêutica, pois temos o texto ali diante de nós para inquirirmos sobre ele. Os
crentes de Beréia por exemplo foram evangelizados por tal método, ao que
parece! Porque não conhecermos mais a Bíblia para podermos fazer como o
apóstolo Paulo diante do povo bereano? Qual o valor dado ao estudo minucioso
da Palavra de Deus em cursos e seminários pelos nossos atuais evangelistas?
Esperamos que a resposta seja positiva!
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custasse a vida! Eles tinham sentimento agradecido pela salvação até mesmo
diante de uma perseguição ou agravos físicos sofridos nesta vida. Não
murmuravam, não reclamavam a vida financeira, dos cultos que não estavam
como eles queriam, a falta de um meio de transporte para levá-los aos locais de
evangelismo, etc. Parece que mesmo diante de muitas dificuldades, se lhes
perguntássemos como estavam passando, a resposta seria: “melhor do que
mereço”!
A segunda motivação era o sentimento de responsabilidade. Eles sabiam que
eram os “atalaias” de Deus. A função do atalaia era ficar de guarda no ponto mais
alto dos muros do reino. Conforme o toque de sua trombeta o povo se comportava
de maneira diferente. Por exemplo, se o atalaia percebia que um reino inimigo se
aproximava, tocava a trombeta no ritmo de guerra para que o povo se preparasse
para tal. Se fosse uma visita cordial de um reino amigo, o toque da trombeta seria
em ritmo amistoso, e assim por diante. Os evangelistas dos primeiros séculos
tinham semelhante responsabilidade concernente à pregação do Evangelho.
Sabiam que se eles não dessem o “sonido da trombeta” ou se este fosse incerto,
muitas pessoas seriam dizimadas ao inferno. Toquemos a trombeta em Sião!
A terceira motivação era o sentimento de preocupação, que é semelhante ao de
responsabilidade. Eles preocupavam-se com o futuro das pessoas. Não o futuro
temporal, com o que se vestiriam ou o que comeriam. A preocupação primária
deles era com a eternidade do ser humano. Por causa disto alguns até acham que
os evangelistas da Igreja Primitiva tentavam ganhar as pessoas através do medo
quanto a vida após a morte, mas não era esta a causa do evangelismo deles –
ganhar as pessoas – como se fosse um jogo de quem convence mais. Não é uma
questão de quem tem mais seguidores, de qual a maior religião do mundo, mas
sim, uma questão de amor e compaixão pela vida do próximo. É uma preocupação
que vem pelo fato de sabermos o que o futuro sem Cristo reserva para a
humanidade descrente. Eles choravam com os que choram. Não se conformavam
em saber que seu Imperador, seu vizinho, seu irmão, seu pai ou mãe iriam para o
inferno! Sabiam que isto era um fato, e não um “conto de fadas”. Será que muitos
de nós, atualmente, não nos acomodamos a ponto de sermos passivos quanto a
salvação do próximo? Moisés colocou sua vida em risco por causa de um povo
pecador! Não colocamos nem mesmo nosso tempo, nosso nome, nossa vida
financeira, nosso cargo eclesial, etc. em risco por causa de uma alma. Será que
não seremos culpados de muito sangue? Não estaria na hora de despertarmos do
sono? Não está na hora de pregarmos o Evangelho a todo o mundo?
O mundo, às vezes, não está tão longe de nós! Pode estar em nossa volta, isto é,
no serviço, na escola, na rua, ou mesmo em nossa casa. Evangelizemos a tempo
e fora de tempo. Mas, preguemos a Palavra de Deus, e não conceitos humanos,
passageiros e exclusivistas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história deve servir-nos como alerta. O que aconteceu de ruim no passado deve
valer-nos como disciplina para não mais errarmos como antes. O que aconteceu
de bom deve servir-nos como auxílio para a compreensão de nossa tarefa e para
que possamos continuar a desenvolvermo-nos na “economia divina”. A História é
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linear, e não circular como pensa as religiões orientais. Assim, devemos sempre
nos perguntar: como posso melhorar na linha do tempo? Olhando a linha e
aprendendo através dela parece ser um bom começo!
NOTA BIBLIOGRÁFICA
CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 1999;
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1995;
GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova,
1989;
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Exodus,
1997;
PENHA, João da. Períodos Filosóficos. Série Princípios. 3ª ed. São Paulo: Ática,
1994.
Estude com fé depois de ter terminado os seus estudos, envie seu questionário
com as respostas devidas para o endereço de e-mail: teologiagratis@hotmail.com,
se assim quiser, logo após respondido e corrigido o questionário, alcançando
media acima de 7,5, solicite o seu Lindo DIPLOMA de Formatura e a sua
Credencial de Seminarista formado, também poderá solicitar estagio missionário
em uma de nossas igrejas no Brasil ou exterior traves da Federação Internacional
das Igrejas e Pastores no Brasil ou Fenipe, que depois do Estagio se assim o
achar apto para o Ministério poderá solicitar a sua ordenação por uma de nossas
organizações filiadas no Brasil ou no exterior, assim você poderá também receber
a sua Credencial de Ministro Aspirante ao Ministério de Nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo. Esta apostila tem 270 pagina boa sorte.
Sem nadas mais graça e Paz da Parte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo
bons estudos.
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