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Seeia ec) JOAO REIS” _ LEAL AMADO TTnawNG FERNANDES EGINA REDINHA A RA JORGE BOERS ie ITOS SEG, ee rere ee i amen A OPGAO PELA INDEMNIZACAO EM SUBSTITUICAO DA REINTEGRACAO A PEDIDO DO TRABALHADOR E O DIREITO A SALARIOS INTERCALARES EM CASO DE RECURSO Sénta De Caavauso Apresentagao A interpretagao do art. 390.9/1 do CT, no sentido de se manter 0 direito do trabalhador aos salérios incercalares, em caso de recusso da deciséo da Lt instincia, quando este oprou pela indemnizago em substicuigio da reintegra- sao, parece-nos levancar alumas questées, de foro constitucional, em face do discico fundamental do empregador de acesso a0 direto e& tutela juisdicional efectiva, plasmado no art. 20.° da CRP ®, Considerando que, sobre esta matéria, recaiu 0 Ac. n.° 284/2011 do ‘Tribunal Constitucional e que 0 Decreto-Lei n.° 295/209, de 13.10, intro. duziu no Cédigo do Processo do Trabalho (CPT) o art. 98.°-N com o intuito de co-responsabilizar © Estado no pagamento dos saldrios intercalares, crm SS" Professora Auxliar Convidada do Departamento de Diceto da Universidade Por twealense Infante D. Henrique do lasttuto Superior da Maia, Advogada, © E com muito gosto que nos associamos a esta homenagem ao extraordindtio juslaboralite que ¢ Jorge Leite, cua gentien, preocupagio e generosdade que o caracerzam, fazem do Mestre, um Homem de qualidades impates. © presente artigo tem origem num recurso para o Teibunal Consticucional que patrocinmos em 2009, no qual suscitémos a inconstitucionalidade do art. 437.9!1 do CT 2005, em vigor & data dos factos retratados nos autos, na intepretagio que recanhece, em ‘aso de recurso, 0 diteito do crabalhador a receber salérios intercalares sé a0 tel julgado da decisto, quando este optou pela indemnizasZo substirutiva Ceiba Eors® 226 Sénia de Carvalho certas situagées de morosidade processual, julgamos pertinente revisitar, com a screnidade dada pelo decurso do tempo, esta temética, Ainda que, de forma superficial, entendemos necessdtio, para contextua- lizagio deste problema, analisar os efeitos da ilicitude do despedimento ¢ 05 princfpios que norteiam esta matéria. 1. O despedimento ilicito enquanto incumprimento do contrato de tra- balho por parte do empregador Os efeitos da declaragéo judicial da ilicitude do despedimento do traba- Ihador pelo empregador, nos cermos do art. 381.° ¢ 382.° do CT, estio indi- “ cados no art. 389.°: a indemnizacéo do trabalhador por todos os danos cau- sados, patrimoniais € nao patrimoniais, e a reintegracio no seu posto de trabalho, sem prejuizo da sua categoria e antiguidade, A estes efeitos, acresce ainda o direito do trabalhador a receber salétios intercalares, previsto no art, 390.° do CT. Extes efeitos da iliciuude do despedimento no vinculo laboral correspon- dem para parte da doutrina ¢ da jurisprudéncia, em que se destaca Monteiro Femandes, ao traramento normal da invalidade do negécio jurfdico, ou sea, 4 recomposigio do estado de coisas que se teria verificado sem pritica do acto, nos cermos do art. 289.°/1 do CC, tendo, como consequéncia, 0 renascimento do contrato de trabalho com a sentenga que julga 0 despedimento ilicito ®, Nao aderimos, no entanto, a esta doutrina, considerando, na estcira de Pedro Romano Martinez, que 0 despedimento ilicizo nao € invdlido, produ- tindo, como efeito, a imediata cessagao do contrato de trabalho, ainda que, em determinados casos, possa restabelecer-se, retroactivamente, o vinculo. Com efeito, conforme observa Pedro Romano Martinez, sendo a resolu- ‘¢40 um acto juridico unilateral e recepticio, 0 efeito extintivo verifica-se no momento em que foi comunicada ao trabalhador, sendo certo que, se o tra- balhador nao impugnar judicialmente o despedimento dentro do prazo legal, a cessagio do vinculo, ainda que ilicita, torna-se defnitiva ©, Dintito do rabalho, V6 Edigio, Almedina, 2012, pp. 487-488, Nesse sentido, Pedro Romano Martinez, Direito do Trabalho, 6.* Edigho, Almedina, Coimbra, 2013, pp. 946-947. Cabe, por isso, 20 eebalhadorilcitamente despedido, contestatjudicialmente os moti- ves da resolusio, competindo ao tribunal apreciar a justificagé invocade, O prazo legal, que Combs eavors® | i (5rd aN A opsio pela it Nesse « que os acto: balho, onde cumpriment mento ilicis: do emprega: Alicia gto de inder Assim, tamente des dade, nos te de indemni: (are, 562.9 6 do CC®, Esta ob lidade civil « E,noa Thador aos s: despediment ilicicude do « io cemos divi dual, vatia ener cesteja em causa oral, uma dent nagio da decis: declarativa de judicial da rege © Nese © Nese Neste nos termos do trabalho ilicitan © cumprimente nna execugio do cempregador. Aosta pl indernsao em subiigh de reimagresi a pedide do talbudr.. 228 Nesse sentido, acompanhamos Romano Martinez quando, sustentando que 05 actos relacionados com 2 execucéo ou inexecucéo do contrato de tra- balho, onde se inclui o despedimento, tém de ser analisados como modos de cumprimento ou de incumprimento desse contrato, defende que o despedi- mento ilfcito representz o incumprimento do concrato de trabalho por parte do empregador °, A ilicitude do despedimento cria, por isso, para o empregador, a obriga- Gio de indemnizar 0 trabalhador pelo prejuizo causado, Assim, 0 contrato de trabalho no ambito do qual o trabalhador foi ilici- tamente despedido, subsiste, nfo como consequéncia da declaracio de invali- dade, nos termos do art. 289.° do CC, mas do prinefpio geral da obtigacéo de indemnizar, que impée a reconstituicio natural da situacéo que existira (art. 562.° do CO), salvaguardadas as hipdteses previstas no art. 566.°, n.° 1, doc, Esta obrigacio de indemnizar fundamenta-se no instituco da responsabi- lidade civil contratual, no qual se enquadra 0 despedimento ilicito . E, no ambito desta doutrina, que deve ser entendido 0 direito do traba- Ihador aos salérios intercalares correspondentes ao periodo decortido entre 0 despedimento ¢ 0 transito em julgedo da decisio do tribunal que declare @ ilicitude do despedimento, reconhecido no art. 390.°/1 do CT. ‘io temos dévidas em qualficar de caducidade, para a impugnacéo do despedimento indivie dual, vaia entre 60 dias ¢ um ano, por aplcasto do art. 387.°e do art, 337.° do CT. consoante «tcjaem causa uma devisio comunicada por escrito ou um despedimenco baseado em decisto dra, uma dentineis ou caducidade iregularmenteexcridas. Em termos processuais, 3 impug, nagio da decisio de despedimenco individual comunicada por escito cortesponde a aeqio declarativa de condenasio com proceso especial, de naturera ungente, para impugnagso, judicial da vegularidade ¢ licitude do despedimento, previsia nos ans. 98° B e ss do CPT ¢ 40s restantes casos a forma de processo comum. 3 Nesse sentido, Pedro Romano Martinez, Direito do Trabalha, city p. 945, G Neste sentido, Pedro Romano Martinez, Dircite de Trabalho, itp. 945, "Neste sentido, Romano Martine, Dirt do mebalho, ci, p. 946, sublinha que, ‘as termos do regime estabelecido para os contratos em geral, a subsisténcia do contrata de trabalho iliamente resolve depender da verificagSo cumulatva dos seguintes presupostos: © cumprimento das obrigagées contratats ainda sex possivel, o trabalhador manter Interesee na execucio do contato € a exccuséo do contrato no ser excessivamente onerosa para o empregador. Colne Baio Sinia de Carvalho Como vimos, verificada declaragio de ilicitude do despedimento, na sequéncia da impugnagio judicial do despedimento pelo trabalhador, o contrato de trabalho subsiste, recaindo sobre o empregador a obrigacéo de reconstituir 2 situacéo que existtia, se 0 facto ilicito nao se tivesse verificado. Por fora da reconstituicio natural, emergente do principio geral da obri- gacio de indemnizar, é imposto, ao empregador, 0 pagamento das retribuicées que este deixou de auferir desde 2 data do despedimento até ao trinsito em julgado da deciséo do tribunal. Na tese por nés sufragada, os salérios insercalares correspondem a0 res- sarcimento dos lucros cessantes softidos pelo trabalhador, ou seja, os venci- mentos que o trabalhador deixou de auferir na sequéncia do despedimento ilicito, os quais cém de ser alegados e peticionados para serem atendidos pelo ‘Tribunal ®, Como iremos analisar mais adiante neste escrito, este dircico 20s salérios intercalares no se trata de um direito absoluto, padendo ser afistado, no caso deo trabalhador arranjar novo emprego ou receber 0 subsidio de desemprego, ‘extinguindo-se com a cessagio do vinculo laboral Assim, pese embora a designacéo dada pelo legislador, no se trata, em tigor, de uma compensagio, mas de uma indemnizagao, que esta dependente da prova dos vencimentos que 0 trabalhador deixou de auferir, na sequéncia do despedimento ilicito, até ao transito em julgado da decisio que declara ilfcito 0 despedimento c condena o empregador na reintegracéo do trabalhador ‘out, no caso de opsio pelo trabalhador pela indemnizagao substitutiva, como iremos sustentar, até & decisio que, declarando 0 despedimento ilicito, condena © empregador na referida indemnizacio ®. © Manifestaalgumas dividas acerca da natureza indemnizatotia dos saliiesintercalaes, Jilio Gomes, Direito do Trabalho, Volume , Relagéesindividuais de trabalho, Coirnbra Editora, Coimbra, p, 1020, n. 2444, ® O art. 437.9 do CT resolveu controvérsia doutrinal acerca do sentido de “renter? ppassando a valer a data do trinsito em julgado da decisio judicial, o que significa que, havendo ecutso, atender-seed i decséo do tribunal de recurso, sea o Tribunal da Relagio ou Supremo Tribunal de Justia. Neste sentido, Pedro Romano Martinez, em anotagio 20 art. 437.9, in Pedro Romano Martinez, Luis Miguel Monteiro, Joana Vasconcelos, José Manuel Viaionga, Pedro Madeira de Brito, Guilherme Dray, Luis Gongalves da Silva, Almedina, Ciidigo do Trababho Anotado, 6.* edigéo, Almedina, Coimbra, 2008, p. 785, Masia do Rosirio Palma Ramalho, Direito do Trabaloe, Parte II — Sitwasées Laborais Individuais, Almedina, Coimbra, 2006, p. 858, Jilio Manuel Vieira Gomes, Direito do Trabalho, cit, p. 1021. Cle. sobte esta Coimbra Bara” Apri: E prime respor uma f do da t buigés eade > goes v da acy subsec A que o nao fe mente mento 7 zatéri: art. 13 compe de resp lucros, E no art, entre a questio, ‘leita e pp. 234 : revista e incentive reparade Romano tt 387, io pela indemnizagio em subsetnigio da reintegray apedido do trabalbador.. 227 Este direito aos salérios intercalares, tendo como fundamento 0 incum- primenco pelo empregador do contrato de trabalho, deve ser enquadrado na responsabilidade civil, instiruto que, ainda que acessoriamente possa assumnit uma fungao preventiva ou punitiva, esté orientado para a reparagao patrimonial do dano causado Assim se compreende que este principio do pagamento integral das retti- buicdes intercalares perdidas pelo trabalhador, entre a data do despedimento €.a decisio do tribunal, comporte excepgdes Nio so devidas, nos termos do al. 8) do art. 390.°/2 do CT, as retribui- bes vencidas entre a data do despeditento ¢ trinta dias ances da proposicura da accio, se 0 trabalhador nao intentar a acgéo judicial dentro dos 30 dias subsequentes 20 despedimento ‘? As als, 4) ¢ ¢) do art. 390.°/2 do CT mandam deduzir as importincias que o trabalhador aufira com a cessacio do contrato ¢ que nio receberia, se nio fosse o despedimento, bem como as importincias auferidas, nomeada- mente, a riculo de subsidio de desemprego, como consequéncia do despedi- mento, devendo 0 empregador entregar essa quantia & seguranga social. Tendo presente que os salirios intercalares assumem a natureza indemni- raréria, esta dedusio do aliunde perceptum, que ja constava da alinea 6) art. 13.9/2 da LCCT, é uma manifestagao da compensatio lucri cum dammo ou compensacéo das vantagens que impée que, sempre que 0 facto constitutive de responsabilidade tenha produzido ao lesado, néo apenas danos, mas também luctos, estes devem compensar-se com aqueles. Esta figura é assim, uma manifestagio da teoria da diferenge consagrada no art. 366.° do CC, de acordo com a qual, é necessirio apurar a diferenca entre a situaeio patrimonial actual do lesado, na daca mais recente possivel, ¢ questéo, no imbito do direito anterior ao Cédigo do Trabalho, Leal Amado, Deipedimento Llcite¢salriosinteralarer sentenga versus decséo final, Questées Laborais, Ano 1X. 2002, p. 234-236. _Nesse sentido, Métio [iio Almeida Costa, Direta das Obrigaies, 11. edigéo, revista e actualzads, Coimbra, 2008, pp. 521 ¢ 55. 8 Esta disposigto, inicialmente justfcada pelo combate & inéscia do wabalhador Incentivindo-o a recorrer de forma expedita ao tribunal, sab pena de ndo set integralmence ‘eparado 0 prejuizo softido com 0 despedimentailicto, perdeu algum sentido, como observa Romano Martinez, Dieito do mabatho, cit, p. 949, perante o prazo de 60 diss, prevsto no att. 387.272 do CT, apicivel 4 generlidade dos despedimentosindividuas, Coimbra Eitort 228 Sénia de Carvalho aquela em que este se encontraria, se nao fosse 0 facto danoso, devendo a indemnizagio compensar a diferenca existente entre aquelas duas situagbes (?. wabalhador, por forca da compensatio iucri cum damno, néo pode set colocado numa situagéo mais vantajosa do que aquela em que estaria, sc 0 empregador tivesse cumprido pontualmente © conerato de trabalho 9. Com efeito, 0 reconhecimento 20 crabalhador,ilicitamente despedido, do direico a receber os salétios intercalares, estando este a desempenhar outra actividade remunerada, que 0 despedimento tornou possivel, ou a receber subsidio de desemprego, equivaleria a reconhecer-the o dizeito 2 obter um ganho superior 20 que lhe era devido caso nao tivesse sido despedido ™, Aaal. a) do art. 390.°/2 do CT, na esteira do art. 437.°/2 do CT 2003 e da al. 6) do art. 13.°/2 da LCCT, exige um nexo de causalidade entre a cessa- gio do vinculo e 0 recebimento dos rendimentos para justificar 2 respectiva dedugio, a qual existiré sempre que seja posstvel concluir que o beneficio néo teria existido, nao fora o despedimento ¢ a situagio de inactividade do traba- Thador ®, Nesse sentido, Mirio Ji Almeida Coste, Direito das Obrigasée, cit. pp. 777-718. [Nesse sentido, Mirio jlo Almeida Costa, Direito das Obrigaséer, ct, pp. 778-779. Impée-se reftrir que, relativamente as dedugées 2 fazer nos sldios itercalares, devem considerar-se excluidas do disposto na al. a) do art. 390.9/2 do CT tolas as quantias que © trabalhador auferiu durante 0 periodo intercalar ¢ que néo apresentem qualquer conexéo relevante com 2 exoneragio da prestagio laboral por este devids, nomeadamente, as quantias percebidas pelo crabalhador que se nfo reconduzam a rendimentos de wabalho, bem como aquelas que, tatando-se de rendimentos de trabalho, sejam o resultado de uma actvidade ciada anteriormente 20 despedimenco ¢ que, na plena vigéncia do contrato de trabalho cxigindrio, coexistia com este. Nesse sentido, ainda que a propésito do art. 13.°/2, al. 6) dz LCCT, wd, Joana Vasconcelos, Despedimento Iii, salirios intercalaresededugées, RDES, Ano NOI, 1990, n.% 1-2-3-4, pp. 209-210, 180" Esea solugéo esté de acordo com a finalidade ressarcitbria reconhecida 20 da responsabilidade civil, no nosso ordenamento, Por outro lado, a consagragio da teoria da diferenga, no art. 566.° do CC, também demonstra, de forma inequivoce, que néo & propésito da responsabilidade civil permittr que 0 beneficirio enriquesa, ainda que, excepeionalmente, possam ser encontradas, no nosso ordenamenco juridico, algumas manifestagées, como 2 Timitagio equitativa da indemnizagio prevista no 494.° do CC, das fungées acessias preven tivas€ punitivas da responsabilidad civil 9 Ce Joana Vasconcelos, Despedimentailicito... Dineito do Trabalho, tit, pp. 950-951. ‘Accste propésito,caberd referir que alguma doutrina convocou 0 disposto no att. 795.272 do CC para justificar a dedugéo das vantagens obtidas com 2 eessacio do contrato, Nese A opeao pele ir O direi iremos deme 2. Aopsao do con Assubsi: nao é uma c de indemniz lidade civil Por isso 0 da reine a reposicio « E, nesse a0 trabalhac indemnizaga Seo ta nativa, 2 ind final de julg: Onel reintegrado goria ¢ antig Relative prolixa a ref cegracio um. situagéo que retroactivo © sentido, Nunes bra, 1984, pp. 8 "Vd, p. 848, jlio M oO) Ae oposigio & reine Mantinee, Diret a New A opto pela indemmnisagio em snbsteuigh reintegregio a pedido do trabalbador O direito aos salérios intercalares ndo é, pois, um direito absolute ¢, como iremos demonstrar, nao poder manter-se apés a extingio do vinculo laboral. 2. A opsio pela indemnizacio substitutiva como forma de cessagéo atipica do contrat de trabalho A subsisténcia do contrato de trabalho, na perspectiva por nés sufragada, nao é uma consequéncia da ilicitude do despedimento, mas sim da obrigagéo de indemnizar, reconstituindo a situagio que existiria, bascada na responsabi- lidade civil decorrente do despediment ilicito. Por isso, é que o principio geral, em mavéria de ilicitude do despedimento, €0 da reintegtacio do trabalhador, enquanto forma de assegurar plenamente 2 reposigio da situagéo que existia antes do despedimento ilicito “9, E, nesse sentido, que os arts 389.°/1, al. 6) e 391.° do CT reconhecem ao trabalhador a faculdade de optar pela reincegragéo na empresa ou pela indemnizagao em substituicéo da reintegracio. Seo trabalhador nao pretender a reintegracéo, terd de requeres, em alter- nativa, a indemnizagéo substivutiva, até ao termo da discussio em audiéncia final de julgamento, nos termos do art. 391.9/1 do CT “7, O no 1 do are. 389.° do CT reconhece 20 trabalhador o direito a ser reintegrado no mesmo estabelecimento da empresa, sem prejuizo da sua cate- goria e antiguidade. Relativamente a esta fSrmula, cumpre assinalar que é manifestamente prolixa a referencia & categoria e antiguidade, atendendo a que, sendo a rein- tegragdo uma forma de realizar 2 obrigagio de indemnizar, reconstituindo a situagao que existiria se nao tivesse havido despedimento ilicito, esta tem efeito retroactivo "9), sentido, Nunes de Almeida e Messias Carvalho, A mulidade do despedimento, Almedina, Coim- bbra, 1984, pp. 211-212, Joana Vasconcelos, Despedimentoileto... cit, p. 198. 8 Va. nesse sentido, Maria do Rosirio Palma Ramalho, Direito do Trabalho, ct, p. 848, Jdlio Manuel Vieira Gomes, Direito do trabalho, cit, pp. 1018-1019. © A existincia da indemnnizagéo como alternativa torna compreensivel o direito de ‘posigao i reintegragéo recanhecido ao empregador (art. 392.2 do CT), como dé nots Romano Matinee, Direito do srabatho, ci. p. 955. 9 "Nesse sentido, Romano Martinez, Direito do trabalho, eit, p. 955. Cointe Eator® 230 Sinia de Carvalho Por outro lado, ¢ de aplaudir a maior flexibilidade reconhecida ao empre- gador na reintegracio do trabalhador no mesmo estabelecimento da empresa, tem substituigio da anterior alusdo 20 posto de trabalho ©, ‘Também é, no entanto, verdade que a reintegracio nio se verifica numa de duas hipéteses: no caso de oposi¢ao fundamentada do empregador, legi mada por decisio judicial especifica (art. 392.° do CT) ¢ quando o trabalhador ‘optar por uma indemniza¢éo em substivuicéo da reintegracio (art, 391.° CT) a fixar pelo tribunal, atendendo ao valor da retribuicio e ao grau de ilicitude do despedimenco. A indemnizagéo, que, como jé notimos, configura uma alternativa & reintegragio, acarteta, segundo Monteiro Fernandes, “a extingéo udefinitivan do vinculo por vontade do trabalhador, apés uma operacio repristinatéria gue 16 Afaticiamente o teria feito "renascer”, com a ressalva que este renascimento, no nosso entendimento, é consequéncia da restauracéo natural, ditada pela obri- gacdo de indemnizar A opcéo pela indemnizacéo substitutiva revela a falta de interesse do trabalhador na execugio do contrato, uma das condigées subjacentes & subsis- téncia do vinculo labora ilicitamente resolvido pelo empregador. Neste sentido, a declaragio judicial de ilicitude do despedimento que condena o empregador na indemnizagio substitutiva no implica a subsistén- cia do vinculo, que, assim, cessou, por iniciativa do trabalhador. Assim, impée-se acrescentar is formas tipicas a cessagao do contrato resultante da opcéo do trabalhador pela indemnizacéo substitutiva da reinte- gracio, prevista no art. 391.° do CT ®, 0 Anténio Monteiro Fernandes, Direito do aba, cit. pp. 492-493, Pedro Romano Martinen, Dirito do rabalho, ct, pp. 955. 9 Anténlo Monteiro Fernandes, Direto do trabalho, cit, p. 490. No mesmo sentido, Furtado Martins, Depedimento iit e reintegracdo do sabalhador, RDES, n.* 3/4, p. 509, ‘dem, Cestagdo do contrato, 32 ed, Revista ¢ actualizada, Principia, Lisboa, 2012, pp. 492-493. 9 Nesse sentido, vd. Pedro Romano Martinez, Direito do trabalho, cit. p. 947. Impondo-se ainda acrescentar a resolucio judicial do contraco na sequéncia da procedéncia da oposigio do empregador & reintegrasio, como nota Monteiro Fecnandes, Direte do taba- tho, cit, p. 492. Na jurisprudéncia, afiemam a ezssagio do contrato na sequéncia da opgio pela indemnizagéo, entre outros, os Acs do STJ de 15:5.1996, CJST], Ano TV, 1996, T i, P. 255 e de 9.10.2002, Processo n.° 0153448, publicado em wonudesipt/ss. Este cltimo serd seguido pelo acérdao uniformizador de jurisprudéncia n.° 1/2004, de 20.11.2003, publi- ‘ado no DR I-Sétie A, de 09.01.2004, p. 126. No mesmo sentido, ft: 0: Acs de 12.7.2007, Processo 2 0654104 ¢ de 8.10.2008, Proceso n.° 0851983, publicades em wwrw.dgs pls A opcio, ia da ope: A que os indeme N 9.10.26 rrabalh pela ine ral fina necessar acirdlia Er coma implice contrat pre se | pagame cessacic N indemr trabalh depend do dest Al regracic o por inici: facto de respectiv: pedimen oO: labora it tabalhad npre- oresa, uma tador cT) tude waa Divas ue sé »,no abri- edo bsis- que tén- rato ate A epcio pela indermnizagio om substcuigao da reintegragéo a pedido do trabalbador. 231 Hi controverso na dourrina € 0 momento em que a cessagao, na sequéncia da opcio do trabalhador pela indemnizagio, produz efeitos. ‘A doutrina e a jurisprudéncia tendem, de forma expressiva, a considerar que os efeitos da extingio do contrato resultante da opgio do trabalhador pela indemnizagio produzem-se na data do transito em julgado da decisio judicial Na jurisprudéncia, assume especial destaque 0 Acérdio do STJ de 9.10,2002, quando decidiu que “na acgao de impugnagio do despedimento pelo rrabalhador, quer esteja em causa a reintegragéo do trabalbador, quer a sua opedo pela indemnizagao de antiguidade, 0 momento que releua como referéncia tempo- ral final para a definigéo dos direitos que o art. 13.° da LCT the confere, é néo necessariamente a sentenca da 1.4 instancia, mas aquela deciséo, seja sentenga ou acirdlio, que, declaranda ilicto o acto de despedimento, transite em julgado” ©, Em sintese, o Tribunal reconheceu que, a0 contririo do que se verifica com a reintegragio, em que a declaragao judicial da ilicitude do despedimenso implica a subsisténcia do vinculo, néo se produzindo o efeito extintive do contrato, tipico do despedimento, tudo se passando como se 0 contrato sem- pre se tivesse mantido em vigor, a sentenga que condenar o empregador no pagamento da indemnizacio, por opgio do tabalhador, rem por efeito a cessagio do contrato. Nese sentido, o citado aresto sustentou que a opcéo do trabalhador, pela indemnizacdo de antiguidade, representa uma manifestagio de vontade do trabalhador no sentido de pér termo ao contrato, a qual, no encanto, fica dependente da supervenigncia de uma decisio judicial que declare a ilicitude do despedimento °. Alicergado nestes arguments, o Tribunal considerou que, quer na rein- tegragio, quer na opcéo pela indemnizacio, independentemente de a sentenga 85 Nesse sentido, Pedro Furtado Martins, Casapao do contate, city pp. 492-493. ©) Citado na nossa nota 21 © O cirado aresto aponta como trago distintivo do que designa de ‘rescisfo do contrato por inicativa do teabalhador’ em relasio &s situagées tradicionais de cessagéo do contrato © facto de esta se verificar num momento em que 0 contrato nio esti em vigor, esando a respectiva eficcia resciséria da relagio laboral dependence da decisio que declare aquele des- ppedimento ilicito. Jd nos restantes casos a exssagdo ocorze quando @ conteato esti em vigor. (© STJ conc, ness sentido, que o contraio s8 se considera cessado na data da sentenga, € nfo na dara da notificacio desa opgio 4 entidade patronal, acrescencando que “a relagio Inboralinterrompida pelo despedimento s6 pode ser “morta” pela rescisio por iniiatva do ‘tabalhador depois de “ressuscicada" pela delaragio judicial da iicicude daquele despedimento” Coir Edor® 232. Bee Sénia de Carvalho ter sido impugnada ow nao, 2 coeréncia légica do sistema impunha que os efeitos que, no artigo 13.° da LCCT eram imputados a sentenga da 1. ins- tincia, tendo como referéncia a “situaczo padrao” de despedimento julgado ilfcito, por sentenca no impugnada, se reporcassem a “decsao judicial final no sentido da ilicitude do despedimento”. Este acérdéo seré abundantemente citado, servindo de apoio a0 acérdéo uniformizador de jurisprudéncia n.° 1/2004 que definiu que, declarada judi- cialmente a ilicitude do despedimento, 0 momento a atender, como limite temporal final, para a definicio dos direitos confetidos ao trabalhador, & data dos factos em andlise, no artigo 13.°/1, al. a) ¢ n.° 3 da LOCT, & a data da deciséo final, sentenca ou acérdéo, que haja declarado ot confirmado aquela ilicitude. Também escorado no acérdio do STJ de 9.10.2002, o ST] concluiu que © momento relevante, como teferéncia temporal final, para a definigio dos direitos dos dircicos em causa, é 0 mesmo, “guer este em causa a reintegragto do trabalhador, quer a sua opgio pela indemnizagio de antiguidade’ © Ora, € neste ponto que divergimos desta orientacéo jurisprudencial, con- siderando que os efeitos da extingéo do vinculo, na sequéncia da opcéo pela indemnizagio, devem reportar-se 4 daca da sertenga, que, declarando o des- pedimento ilcito, condena o empregador na indemnizacio substitutiva, Com efeito, seri a sentenga que deciara 0 despedimento ilfcito que, nos ter mos do art. 562.° do CC, repritina 0 contraco cessado pot resolucéo, ainda que ta, de molde a que este seja definitivamente considerado cessado, por iniciativa do trabalhados, quando a sentenga conhece a indemnizacéo substicutiva 9, Sea aludida sentenga da 1.* instancia declarar o despedimento ilicito, seré a partir dessa data que o contrato deve ser considerado cessado para todos os efeitos legais, incluindo o disposto no art. 390.° do CT, ainda que a decisio ndo transite em julgado. © | Acéedéo uniformizador de jurisprudéncia n.° 1/2004, de 20.11.2003, ec, p. 137. Mais tarde seguido, nos Acs de 12,7.2007, Processo n.8 0654104 e de 8/10/2008, Processo 0851983, jé ctados na nots supra 21. A assinalar, em sentido contritio, o Ae do ST) de 25.05.2005, Processo 058249, publicade em swrwidest pois. Este ares, argumentando a impossibilidade de aplicar a condenacio exina vel ales petitum prevista no art.74.° do CPT. decidiu que 0 tribunal néo podia condenar a entidade empregadora 2 pagar as rettibuigSes ineccalares vincendas at& data do transivo em julgado da decsio que dedatou o despedimento ifcito, x © autor se limicou a pedir a reribuigées vincendas até & sentenga, 9 No sentido propugnado pelo Ac do ST] de 9.10.2002, cit Cine Ear A .opséo pe Cor fechos: I) ilicito ec do contr 1 instar gador, na constante Nio momentc formulad do contra 3. Efeito inde calare Relat aos salfric doutrina contrato Com balho, ent razées, pos depois do indemniza: ax Romano Ma herme Dray, p-8l7,eme do Ciidigo do ae Be Luis Miguel Gonsalves da Com efeito, 0 recurso aos tribunais superiores pode ter um de dois des- fechos 1) confitmada a decsio da 1.*instincia, considerando o despedimenco ilcito ¢ condenando o empregadot na indemaizagio, mantendovst a cessaedo. do concrato, por iniciativa do trabalhador; 2) € tevogada a sentenca da | instincia¢ considerado cessado 0 contrato na data da resolucio pelo empre- sador, ndo se verificando a repristinacgo do contrato, nem nenhum dos efvitos constantes dos arts 389.° ¢ 390.° do cr. Nio resulta, em nenhum destes cenétios, a eprstinagéo do conteato para momento ulterior & deciséo que julgou procedente o pedido de indemnizagio formulado pelo trabalhador, em alternativa & reintegracdo. Seguindo o raciocinio expendido, se 0 despedimento s6 for declarado icito pelo ribunal superior, sera daca dessa deciséo que se reporta a cessagso do contrato, na sequéncia da opcio pela indemnizacéo. 3. Efeito da cessagio do contrato de trabalho, resultante da opgio pela indemnizacéo substirutiva, no direito do trabalhador aos salérios inter. calares Relativamente a0 efeico da cessagio do contrato de trabalho no direico 208 salérios incercalares, previsto no art. 390.°/1 do CT, acompanhamos 2 doucrina que sustenta que este direito estd dependente da subsisténcia do contrato de trabalho, Com efeito, como assinala Pedro Romano Martinez, 0 contrato de tra- balho, entre o despedimento e o trinsito em julgado, pode cessar por vérias Tazbes, por exemplo, a caducidade por forsa da morte do trabalhador, ocortide depots do despedimento, a reforma por velhice, ou, como vimos, a opgio pela indemnlzacéo, em altenativa & reintegragéo, conhecida por sentenga judicial °*. Sm Nesse sentido, Pedro Romano Martinea, et anotasio 20 art. 390.°, in Pedro Romano Martinez, Luis Miguel Monteic, Joana Vasconcelos, Pedro Madcira de Bete, Gu hetme Dray, Lufs Gongalves da Silva, Cidigo do Trabalho Anotado, 9. ed, Almedine, 2013, 47,617, @m consonincia com a posgio jd defendida na anotagio a0 ar. 437.2, na 62 digi do Cédigo do Trabalbo Anotado, cits p. 786. htt Romario Martins, em anotagio 20 at. 390°, in Pedro Romano Marines, Cis Miguel Monti, Joana Vasconcelos, Pedro Madeita de Bit, Guilherme Dray, Lu Goncalves da Silva, Cédige do Trabalho Anotado, cit, p. 817, CCoirtr Edtorse Sonia de Carvalho Nao haverd, por certo, ditvidas em considerar que, se o trabalhador mor- rer depois do despedimento ilicito, os saldtios intercalares s6 sio devidos até 4 data da morte, o mesmo ocorrendo na eventualidade de 0 trabalhador se reformar por velhice, depois do despedimento ilicito © Ora, também a cessagio do contrato, na sequincia da opcio pela indem- nizagio substitutiva, tera como efeito a perda do direito aos salérios intercala. res a partir da sentenca, atendendo a que o contrato cessa nesse momento ©, Entendemos que milita, em favor da posicio aqui sufragada, o facto de © direito aos salérios intercalares consubstanciar uma indemnizacio pelo nio cumprimento de um contrato de execuggo continuada, como é 0 contrato de trabalho. Por cl facto, no pode o ditcito aos salitios intercalares manter-se, depois de cessado 0 vineulo, cesagio que se verfica com a prolagéo da decisto que declara o despedimento ilicico e julga procedente o pedido de indemnizagso de antiguidade. © principio geral da obrigagio de indemnizacio, onde se insere 0 paga- mento dos salérios intercalares, assenta na reconsttuigo natural da situagio Que existiria, se 0 facto ilfcito nao tivesse verificado. Assim, sendo estes salirios intercalares, um dos meios de indemnizacio dos prejuizos softidos pelo trabalhador na x contrat, consubstanciado no despedimenco ‘éncia do incumprimento do ito, admitit o respectivo paga- Creche dte Romano Martinez, em anotacio 20 art. 390*, in Ped Romano Martinez, Eis Miguel Monceiro, Joana Vasconcelos, Pedro Madeite de Brito, Guilherme Dray, Lu Gonsalves da Silva, Cédigo do Trabalho Anotado, cit. p. 817. Na jurisprudéncia, od he do ST) de 14.4.1993, publicado com o 1.° convencional JSTJO0018807, em ip a Dropésito da cesagio do dirito a salétiosinterelaesveificada «caducidade do conta por morte do trabalhados: No Ac de 21.02.2006, Proc 0553639, publiado em satwedes put, © ST), perante a caducidade do contato na sequéncia da reforma do trabalhados, devidin neg seat dreto&indemnivagso por anigidade, pela qual optara na Pl limitando,iualments, © diteto 20s saliios intercalaresacé& data da ceforma. Alertamos para o facto de'» sumo reconheces, em sentido contrétio, o direito as etribuigbes intercalates desde a dats do des, pedimento até & data da decsio final. cin Redro Romano Mattines, ea anocagéo 20 st. 390.%, in Pedro Romano Mattinen, Luls Miguel Monteiro, Joana Vasconcelos, Pedro Madeira de Brivo, Guilherme Dray, Laie Gongalves da Silva, Cédigo do Trabalho Anotado, cit, p. 817. Ch. Jorge Leite « Couticho de med, Coletines dei Leis do Trabatho, 1985, Coimbra Edltoce, Coimbra, 1985, p. 263, Ee seido iene propésito do ar. 12° do DL 372-AV75, de 16/7, queinsticuis o Regime Geral da Cessagio do Conttato de Trabalho, Cintra tors Os Fs tre oO: rei ter Ibe sal illic rar Few con pre hav Gon serdc iin aufer ese! ments or 8 se om alae 0), de io vis ue 40 Bs to 235 eto pela indemnizagzo em rubitwigio de reintgrasoa pedide do abalradon. mento depois de cessado 0 contrato, significaria aceitar que o lesado (traba- Ihador ilicitamente despedido) lucrasse com o dano, em sentido manifestamente contritio ao propugnado pela teoria da diferenga consagrada no art. 566,° do CC € a finalidade ressarcitéria da responsabilidade civil. pagamento dos salarios intercalares, depois de cessado 0 vinculo con- tratual, coloca 0 trabalhador numa situagio mais vantajosa do que estatia, se 0 facto ilfcito nio se tivesse verificado, uma vez que, 0 trabalhador, cessardo © contrato por sua iniciativa, ndo tem direito aos vencimentos posteriores 3 data da cessacio. Nesse sentido, acarretando 2 opcio pela indemnizacéo substitutiva da ‘eintegragio até a0 termo da discusséo em audiéncia final de julgamento, nos termos do art. 391.°/1 do CT, a cessagio do concrato, por iniciativa do traba- thador, deixa de haver qualquer fundamento legal para 0 pagamento dos salérios intercalares a pastir da data da sentenga que, julgando o despedimento illcito ¢ reconhecendo o direito do trabalhadot a indemnizacio, faz cessar 0 contrato 80, O trabalhador, fazendo cessar 0 contrato por sua iniciativa, esed 2 exone- rar-se das obrigacées emergentes do contrato de trabalho, mas também a abrir mio dos direitos emergentes da relagio laboral, nomeadamente, 0 ditcito as retribuig6es e subsidios, tutelado através dos salitios intercalares, Julgamos que também reforga a posigio assumida neste escrito o facto de 0 recebimento destes salitios intercalares, depois de cessado 0 contrato, poder configurar, para o trabalhador, uma situacio de cnriquecimento sem causa, prevista no art. 473.°/2 do CC, pois, dada a extingio vinculo laboral, passa a haver um locupletamento do trabalhador & custa do empobrecimento da enti- dade patronal, sem causa justificaciva ©. GY Pedro Romano Mactiner, em anotagio 20 art. 390. in Pedro Romano Martine, Luis Miguel Monteiro, Joana Vasconcelos, Pedro Madeira de Brito, Guilherme Dray, Luts Goncalves da Silva, Cidigo do Trabalho Anatado, cit, p. 817. Conforme referimos, os salirios serto devidos até & decisso que declara 0 despedimento ilicito, 0 que poder ocorrer na 1. ingtincia ou em sede de recusso. 0 Estard aqui presente a condictio ob causam finitam, a0 abrigo da qual o beneficio auferide pelo uabalhador, os saléios intercalates, depois de extinte o contrat, cortesponde 2 um enriquecimento sem causa, atendendo a que deteou de exstir a causa que leitinava «esse beneficio, neste caso, o vineulo contratual momentaneamente repristinada com a decla ratio de lictude do despedimento, Sobre esta figura, nd. Luls Menezes Leitio, O enriqueci- ‘mento sem causa no Direto Civil (Extudo dogmitico sobre a viabilidade da configungdo uniudria Cin Eira 236 Sinia de Carvatho E, com base nestes argumentos, que consideramos sustentével defender {que no so devidos salirios intercalares, a partir da cessacéo do vinculo labo- ral, na sequéncia da opcéo pelo trabalhador pela indemnizacéo substicutiva, a qual produz efeitos na decisio judicial, seja esta proferida na 1.2 instincia ou em sede de recurso, que declare a ilicitude do despedimento e condene o empregador no pagamento da indemnizagio, A constitucionalidade da manutengio do direito aos salérios intercala- res até ao transito em julgado da deciséo final, em face da opsao pelo trabalhador pela indemnizagio substitutiva, em sede de recurso. Como demos a conhecer, no inicio deste artigo, o diteito do trabalhador a0s saldtios intercalares até ao transito em julgado da decisto, em caso de recurso, depois de o contrato ter cessado, na sequéncia da opcio pela indem- nizagio, com a prolagio da decisio da 1.* instincia que declarou o despedi- mento ilicito, levantou-nos algumas diividas em face do direito fundamental do empregador ao acesso a0 direito, consagrado no art. 20.° da CRP ¢ do princfpio da igualdade, plasmado no art. 13.° da CRP, que tivemas ocasiao de suscitar junto do Tribunal Constitucional, tendo recaido sobre o nosso recurso © Acérdao n.° 284/201 &, Em sintese, alegémos que, sob 0 ponto de vista constitucional, 2 imposi- io ao empregador do pagamento dos saldtios intercalares até & decisio final das instancias de recurso, depois da extincio do vinculo laboral se cer verificado na decisio da 1. instancia, que declarou o despedimento ilicito e condenou © empregador na indemnizagio de antiguidade, violava o direlto fundamental do empregador de acesso ao recurso da decisio condenatdria de 1. instincia que declarou o despedimento ilicico, com efeitos discriminatérios contratios 420 principio da igualdade. Em apoio da nossa tes, referimos 0 agravamento, de forma muito signi- ficativa, dos montantes devidos ao trabalhador em caso de despedimento ilfcito, enquanto o empregador percorre as instincias de recurso, decorrente da moro- sidade dos tribunais, cujas decisdes em sede de recurso chegam a demorar anos lo instsute, face comeraposgdo entre as diferentes eategoras de enviquecimento sem cava), Almedina, Coimbra, 2005. pp. 486 ess. Acérdio n.° 284/201, Processo n.° 73/09, Dirio da Reptiblica — 2.* Sétic, Ne 137, de 19.07.2011, p. 30041 Coins iors no ser ince Factos, cuja “interpretade indemnizagé finuagio de da deciséo fi Em sin blematica 0 €0 dircito 3 do CT 2002 ultrapassou desproporcic do ditcito d: Ora, ta pagamento ¢ crita no art. direito ean balhador as causa (art. 5: Confort consagea um diteito, liber garantias 6, Um dos acesso a0 die ado por insu Che Chey Const p. 409. Conk Anotaday cit, 9. conceito indetere ser definido em A oppo pela indemnizasto em subati ‘to a pedide do mabathader.. 237 ler © Tribunal Constitucional, rejeitando a nossa fundamentacio, considerou e Bio ser inconstitucional o artigo 437.*/1 do CT 2003, aplicdvel 3 data dos . factos, cuja redac¢io pouco diverge da actual do art. 390.¢/1 do CT, quando nm | “interpretado no sentido que em caso de opedo do trabalhador pelo recebimentn d | i indemnizagéo antiguidade, 0 autor mantém, em cato de recurso, o direine 4 con- i Lnmasita de recebimento dos vencimentosintercalares até ao irénsito em julgado da decsio final” °, te Em sintese, o Tribunal Consticucional identificou como cere desta pro- . blemética o conflito entre dois dircitos fundamentais —o do acesso a0 dircito ¢ 0 direito& seguranga no emprego, este iltimo prosseguido pelo artigo 437.°/1 do CT 2003, de forma a apur se, nesseexercico de ponderacio, o legislador i ultrapassou a margem de liberdade de conformagio que lhe cabe, sacrificando desproporcionalmente o diteito do empregador a0 acesso 2 justica, em favor 5 do direito do teabalhador & seguranga no emprego &. i | Ora, também nés entendemos que estio subjacentes & imposigfo de Pagamento dos saldrios intercalares até 20 trnsito em julgado da deciséo pres- ' crita no art. 390.° do CT o direito fundamental do empregador a0 acesso 20 | direito c & tutela efectiva (art. 20.° da CRP) e 0 diteico fundamental do ene. balhador & seguranga no emprego © & proibicio do despedimento sem juste causa (art. 53.° da CRP). Conforme referem Gomes Canotilho e Vital Moreira, o art. 20.° da CRP consagra um dircito fundamental independentemente da sua reconducdo a dircito, liberdade e garantia ou a dircito andlogo aos direitos, liberdadles garantias 9, Um dos aspectos essenciais para a concretizagio efectiva do direito 20 actsto 20 direito e aos tribunais resulta do facto de este nfo poder ser prejudi. cado por insuficiéncia de meios econémicos (att. 20.°/1, in fine) °n, bs, Oft Acérdio n.° 286/2011, Processo n.° 73/08, cit, p. 30046. Gh Ch. Acérdio n.° 28472011, Processo n° 73/09, cc, p. 30044 09 p. 409. i a gEanforme aleram Gomes Canotilho « Vital Motccs, Continigde da Republica Gawtads cis ps Ay a inafcéncia de eis econimicasrefecida no art 20211, in fing & wen Soneene indeterminado que, pecmitindo ura ampla dscicionariedad lgilativa, no pode ‘er definido em cermos to testes que cause uma ceciva impossibildade de acest junta, Consituizéo a Replica Anotade, Vol. 1, 4+ ed, revista, Coimbra Editora, 2007, Coins Eston 238 Sina de Carvalho A doutrina considera abrangidos pelo diseito de acesso aos tribunais quae to “wbdireitos”: (1) 0 direito de acgéo ou de acesso aos tribunais; (2) o dite 420 processo perante os tribunais; (3) 0 direito & deciséo da causa pelos tribuna (4) 0 dircito & execucéo das deciséies dos eribunais Para a nossa temdtica, interessam-nos, apenas, os direitos de acco ¢ 0 direito a0 proceso perante os tribunais, Como ensinam Gomes Canotilho e Vital Moreira, 0 direito de acgéo corresponde ao direito subjectivo de levar determinada pretensio a0 conheci- mento do érgio judicial, solicitando a abercura de um processo, recaindo sobre este érgio o dever de se pronunciar mediante decisto fundamentada “, Ora, este direito ¢ indissocivel do diteito a0 due process, ou seja, 0 direito a um processo equitativo, o qual deve ser entendido num sencido amplo, no 86 como um processo justo na sua conformagio legislativa, mas também como lum processo materialmente informado pelos principios materiais da jusciga, nos varios momentos processuais “, O direito & turela jurisdicional efectiva seferido na epigrafe ou direito & turela efectiva, na férmula empregue no art. 20.°/5 da CRP, sendo conctetizado, em primeiro lugas, através do legislador, impede-o de, na organizagéo dos tribunais e no desenho dos instrumentos processuais, criar dificuldades exces sivas ¢ materialmente injustificadas no dircito de acesso aos tribunais ¢ «situa- 96cs de indefesa» originadas por conilizos de competéncia negativos entre virios wibunais Apesar de o direito de acesso aos tribunais ¢ & tutela judicial efectiva nao fundamentar um direito subjectivo 20 duplo grau de jurisdiggo, é entendimento Pacifico que, embora o legislador tenha liberdade para proceder & regulacio dos requisitos ¢ graus de recurso, no pode fazé-lo de forma discriminatéria, nem impor limites de forma excessiva “, ©8 Gomes Canositho ¢ Vial Moreira, Consttuigéo da Republica Anotade, ct, p. 414 0 Gomes Canotilho ¢ Vital Moreira, Constimipto da Repiiblica Amorada, cit, pp. 414-415, “© Gomes Canoritho e Vital Moreira, Consttnio da Replica Anotada, cit, p. 415, Sobre a densificacio deste principio através de outtos principio, vd, Gomes Canotilho Vital Moreira, Constitnigio da Republice Anotada, cit, pp. 415-416 Gomes Canotilho ¢ Vital Moreita, Conttcuipio da Republica Partugueta, cit p. 418. “© que é econhecido no Acérdio n.* 284/201, Processo n.° 73/09, cit, p. 30044. Comb East bigéo de primeire no Capi regime ¢ Ap emprege dos desp no nore Bt minatér posto de Pare © direite segurang Als ao direity “ Os aucores 408 direitos a mesma f ej elence seconhecen 20 trabalho gerante an oo despedimer de reintege Portuguesa, Esa com justa ¢ quanto aos Gar. 351. cue inobse trabalhador caso de desy via, 14, 415, ee MA. A ops pela indermizagao em substzuigt da reincegrao a pedido do tabalbador... 239 O dircito fundamental do trabalhador & seguranca no emprego ¢ & proi- cio do despedimenco sem justa causa, previsto no art. 53.2 da CRE é 0 primeiro dos direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores, identificados ‘no Capitulo III, 05 quais séo direitos especificos dos trabalhadores, sujeicos 20 regime dos direitos fundamentais *. A primeira ¢, ralvez, a mais relevante dimensfo do direico & seguranca no emprego, considerado expressio directa do direito 20 trabalho, é 2 proibicéo dos despedimentos sem justa causa, sendo esse aspecto destacado expressamente no normative “), E, assim, constitucionalmente proibido o despedimento livre ou discri- minatério por parte dos empregadores. O trabalhador, depois de obtido 0 posto de trabalho, tem direito a manté-lo, salvo justa causa“, Parece-nos resultar, de forma nitida, do art. 390.° do CT, a coliséo entre © direito do empregador a0 acesso 20 dircito e o direito do trabalhador & seguranga no emprego ¢ & proibi¢ao do despedimento sem justa causa. Alids, para minimizar esta compressio do direito do empregador 20 acesso 10 direito, 0 nosso ordenamento, aproximando-se de forma, ainda que muito Gomes Canotiho ¢ Vital Moreira, Constitigto da Repitlice Portuguesa, cit, p. 705. Os autores, ob cit, p- 762, entendem que o direto a0 trabalho, prevsto no capiculo dedicado a0s direitos econdmicos, sociaise culturais,eseé “para or direitos econdmicos, scias e cultura, ‘na mesa possio em gue s enconiraodircita a vide no quadro des direitos, iberdades egarantias, ‘jo eleneo igualmente inicia.” Pe” Gomes Canto e Vial More, Contr d Repibce Portuguesa, it, p. 707, reconhecem a0 diteito ao trabalho, previsto no art. 58.°, duas vertentes: na positiva, 0 dircito 0 trabalho consiste no diceto a procurar ea obter empregos na negatva, o diteto a0 trabalho sgarance a manutengio do emprego, 0 diteito de nao ser privado dele. ©! Ainda no imbito do mesmo dircivo, € reconhecido 20 trabalhador, em caso de

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