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Resumo: Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de elaborar algumas questões
referentes ao ensino da arte, enfatizando e analisando a forma como é desenvolvido
nas escolas, questões nas quais não prestamos atenção cotidianamente por já
fazerem parte constitutiva das relações do sistema de ensino e do ensino da arte
especialmente, ou quando atentamos para elas, as vemos como anomalias que
devem ser eliminadas, produto de pessoas ignorantes. Estas questões precisam ser
apreendidas, absorvidas e modificadas pelo caráter negativo e poder de exclusão que
possuem, tornando necessárias mudanças urgentes e efetivas na forma de atuação
dos profissionais da arte diante dos alunos e de suas contribuições culturais, ainda
que não sejam os professores os únicos responsáveis.
Resumen: Este trabajo se llevó a cabo para preparar algunas cuestiones relativas a la
enseñanza del arte, haciendo hincapié en el análisis y la forma en que se desarrolla en
las escuelas, cuestiones en las que ya no la atención a las relaciones cotidianas son
parte constitutiva del sistema educativo y enseñanza del arte en particular, o cuando
buscan las anomalías que vemos la forma en que deben ser eliminadas, el producto
de gente ignorante. Estas cuestiones deben ser aprendidas, absorbido y modificado
por el carácter negativo de la exclusión y el poder que tienen, lo que requiere medidas
urgentes y eficaces a los cambios en la forma de actuación de los profesionales de la
técnica frente a los estudiantes y sus contribuciones culturales, incluso si los
profesores no son los únicos responsables.
A epígrafe que inicia este texto foi retirada do livro de Sandra Mara Corazza
"Para uma filosofia do inferno na educação", e como a própria autora diz no
primeiro capítulo do mesmo: "Ao realizar uma experimentação do inferno, o
livro busca formular novas indagações, valorar outros valores, conceber novos
afetos, adensar diferentes emoções.", e este é um dos objetivos deste trabalho,
um novo ângulo para enxergar o ensino da Arte, diferente do que taxamos de
"normal", onde tudo está no seu devido lugar, institucionalizado.
Alguma vez você já se perguntou por que arte na escola? Em caso positivo, que respostas você
encontrou para justificar o tempo a ela destinado no currículo escolar? A maioria das pessoas não duvida,
por exemplo, da importância das aulas de matemática, língua portuguesa ou ciências... Mas arte? Para
quê? Além disso, outra questão se coloca: será que aquilo que se tem ensinado nas aulas de arte é de
fato arte?2
O tempo destinado às disciplinas de arte é este por que assim foi instituído
pelas autoridades governamentais e estudiosos da educação que constituíram
a lei que rege a educação do nosso país. Podemos verificar que este não é o
caso apenas da disciplina do ensino da Arte, também ocorre com o ensino da
filosofia, sociologia. Deveríamos questionar por que este tempo é destinado a
disciplinas que não tem importância para a construção das futuras mãos de
obra. BARBOSA diz o seguinte:
Todas as classes têm direito de acesso aos códigos da cultura erudita, porque esses são os códigos dominantes -
os códigos do poder. É necessário conhecê-los, ser versado neles, mas tais códigos continuarão como um
conhecimento exterior a não ser que o indivíduo tenha dominado as referências culturais da sua própria classe, a
porta de entrada para a assimilação do "outro". A mobilidade social depende da interrelação entre os códigos
culturais das diferentes classes sociais e o entendimento do mundo depende de uma ampla visão que integre o
erudito e o popular.5
3- Tudo isso precisa ser reconhecido para que o mundo continue em harmonia,
cada indivíduo em seu devido lugar;
"A maioria das pessoas não duvida, por exemplo, da importância das aulas de
matemática, língua portuguesa ou ciências... Mas arte? Para quê?" (ibid: nota
2)
A maioria das pessoas pensa desta forma por que estão completamente
excluídas do que definimos como arte, e não fazem parte do público ao qual
esta arte é destinada, podemos verificar em escolas particulares que atendem
a classe A a forma como a área de arte é valorizada e em muitas vezes serve
de chamariz para os pais dos alunos, diferentemente das escolas públicas e
daquelas que atendem as classes mais baixas, certamente ao longo das vidas
práticas das classes sociais menos favorecidas esse saber não fará falta,
diferentemente de saber ler e escrever corretamente a língua pátria ou fazer
um cálculo matemático.
"será que aquilo que se tem ensinado nas aulas de arte é de fato arte?"
Para responder a esta questão devemos primeiramente recorrer a outras
perguntas: o que é arte? Ou arte de quem?
O trecho a seguir foi extraído de um texto de Ana Mae Barbosa retirado do livro
"Inquietações e mudanças no ensino da Arte" organizado pela mesma, e
mostra dificuldade de atualização dos professores de arte, ainda que descreva
esta dificuldade especificamente na prática profissional e não nas idéias, serve
como forma de ilustrar o problema que temos para revolver as raízes do ensino
da arte.
A falta de um aprofundamento dos professores de ensino fundamental e médio pode retardar a nova Arte-
Educação em sua missão de favorecer o conhecimento nas e sobre Artes Visuais, organizado de forma a relacionar
produção artística com análise, informação histórica e contextualização. Nas Artes Visuais, estar apto a produzir
uma imagem e ser capaz de ler uma imagem e seu contexto são habilidades interrelacionadas, o desenvolvimento
de uma ajudando no desenvolvimento da outra. (Analice D. Pillar e Denise Vieira)6
Além de tudo isso precisamos principalmente aceitar que ainda que tenhamos
estudado muitos anos a arte, e tenhamos conhecimentos a passar para os
nossos alunos isso não significa que eles não tenham seus próprios códigos
estéticos ou que não dominem outras linguagens e que estes devem ser
ignorados, também devemos levar em consideração a bagagem que eles
carregam e o fato de se comunicarem com o mundo todo o tempo. Não é a
partir do momento que são matriculados na escola que começam a
desenvolver a linguagem.
É bastante importante que pensemos que nada do que mostrarmos aos alunos
terá significado se não souberem por que realmente precisam ter aulas de arte
e se precisam, para que e porque a arte existe, que terrenos domina e que eles
podem escolher gostar dela ou não, resumidamente falando, ainda que todos
os conteúdos da História da Arte sejam ensinados aos nossos alunos e eles
aprendam o domínio de todas as técnicas das Artes Visuais, será necessário
que haja uma educação política e social a respeito da arte, talvez assim
sejamos capazes de amenizar os embates e as barreiras cruéis interpostas
pela própria arte entre ambos os lados, professores/ alunos, ricos/ pobres.
Nós deveríamos ser mais específicos: que memórias, mitos, símbolos, valores e identidades podem ser oferecidos
por uma cultura global, dirigida basicamente ao comércio e, no caso da cultura, organizada por apenas alguns
conglomerados culturais operando globalmente?7
2. Classe de arte ou arte de classe
Assim, nossas questões como professores
de arte são: que conteúdo de arte deveríamos
ensinar, quais histórias devemos revelar e
quais interesses culturais e sociais devemos
promover?8
Donald Soucy
A arte, é claro, por muito tempo tem sido usada para promover idéias de superioridade e, conseqüentemente, de
inferioridade cultural e étnica. E, penso eu, da mesma forma tem sido usado o ensino da arte. Tomemos, por
exemplo, a posição adotada, em 1985, por um relatório enviado ao congresso dos Estados Unidos sobre o ensino
de arte nas escolas o relatório referia-se à "importância, poder e destino das populações protestantes de língua
inglesa da Terra" (Clarke, p. Cciii). Segundo o relatório, essa população branca alcançaria seu destino mais
rapidamente se ela fosse educada em valores e habilidades artísticas específicas.11
Através da criação de "outros", inventamos a nós próprios, já que sabemos quem somos pela exclusão de quem
não somos. Através da criação de "outros" os grupos dominantes tornam-se mais poderosos. Os professores de
arte podem ver como os conteúdos da história da arte criaram "outros". Como as mulheres e as minorias culturais
são todas como outros, como pessoas de importância secundária?12
Quando afirmamos para nossos alunos de classes sociais com menor poder
aquisitivo que sua cultura é ruim, além de rebaixarmos sua alto estima, os
afastamos ainda mais da arte e de qualquer possibilidade de interagir com ela,
enquanto professores devemos trabalhar para minimizar os estragos causados
por essa gangorra social ainda que seja apenas no universo da arte, pois a arte
é apenas uma das muitas áreas onde estes conflitos acontecem, obviamente
estas ações não são apenas responsabilidade dos professores e mudanças
efetivas envolvem as outras tantas áreas que rondam o nosso sistema político
e econômico, mas essas mudanças precisam iniciar de alguma forma e para
que haja cobrança aos demais setores é necessário que a consciência social
esteja "consciente".
Estamos acostumados a não romper ou questionar algumas estruturas sociais
estabilizadas, estruturas estas que colocam alguns indivíduos em um pedestal
superior em relação aos demais, e nós, professores de arte, estamos inseridos
neste esquema, pois além de sermos professores nós dominamos os códigos
artísticos oficiais e estamos encarregados de ensiná-los a quem supostamente
nada sabe sobre o assunto.
Nas escolas, esses são alguns dos sentimentos com os quais convivem os
professores. Concordo com Roger L. Taylor quando escreve que:
As tradições e atividades teóricas da nossa sociedade, bem como as teorias, colocam-se diante da massa como
algo extremamente distante. Isso produz uma sensação de ignorância e inadequação, que no entanto é
facilmente descartada por muitas pessoas com o argumento de que essas atividades, das quais são excluídas, são
todas um tanto inúteis. Há o sentimento comum de terem muito pouco a ver com o mundo real como o
vivenciam.13
1 CORAZZA, Sandra Mara. Para uma filosofia no inferno da educação. Página 12.
2 MARTINS, Celeste Mirian; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do ensino da
Arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer a arte. Página 10.
3 Idem.
4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm
5 BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. Página 20.
12 SOUCY, Donald. Não existe expressão sem conteúdo. In: Arte educação contemporânea:
consonâncias
internacionais. Página 47
13 T AYLOR, Roger L. Arte, inimiga do povo. Página 27/28.
Referências Bibliográficas:
TAYLOR, Roger. Arte, inimiga do povo. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005.
BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e mudanças no ensino da Arte. São Paulo:
Cortez, 2008.
Currículo resumido:
Pâmela Souza da Silva.