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1 eceioe do desjo a vida ema andi se constitui como uma barreira a elaboragio simbélica. A imagem nao €o real, mas situa o lugar do gozo, que mais tarde sera conceituado como sendo da ordem do real. A nocio de unidade ambigua diz respei to a0 fato de que a mesma imagem que garante a unidade é mortifera Por tras do eu esta a morte, o negativo da imagem, tratada em O Sensi nario, livto 11: 0s quatro conceitos fundamentais da psicandlise (1964) ‘como anamorfose. registro simbélico assume uma importéncia cada v censino de Lacan. Em O Semindrio, liv 5 j existe uma rclagao entre 08 registros simbdlico e imagindrio em que o primeiro determina o segun- do, o que corresponde 3 idéia freudiana de que o Ideal do eu determina o eu ideal. A dialética mortifera ev-outro passa a set mediada por um terceiro termo, o significante, e 0 real nfo mais se mantém isolado no imaginario, sendo tratado por meio de elementos simbélicos. ( caminho se abre para que UM seja simbélico, para que ele se constitua a partir das imagens privilegiadas do Outro, que passam a ser ramadas de insignias do Ideal. A imagem se significantiza e se liga a ‘uma frase, a um rotciro significante. O go70, antes isolado no imagin‘: rio, € capturado na fantasia, que passa a ser o sustentéculo dodesejo. O saber acumulado sobre o eu ¢ sua paixdo de unidade serio transferi- dos para a fantasia, que exerceré, no grafo do desejo, a fungio de n6, ‘mais tarde desempenhada pelo sintoma. Para comprovar que a ambigitidade simbilica é decisiva, Lacan enfatiza que, enquanto 0 Outro nfo fala, nada de intersubjetivo pode se estabelecer, seja porque é da natureza da fala ser a fala do Outro, s porque as satisfagdes do ser falante devem passar pela intermediagio da fala. O mesmo ecorre com 0 cireuito do desejo, tansitivismo No plano imaginétio, entre 0 sujeitoe 0 outro existe, a principio, uma fronteira frig, ambigua, no sentido de ela ser transponivel. A relacio narctscaesté aherta a um transitivismo permanente, que podemosius- trar com um fragmento de wm caso clinico. Trata-se de um menino que até seus dois anos de idade permaneceu em um estado autista, Uma determinada contingéncia desencadcia um estado psicético. A safda do estado autista se dé através de uma passagem delicada, pois ela supe a experiéncia dilacerante da invasio do gozo do Outro sem que o sujeito tenha tido qualquer ancoramento nos registros simbélico e imaginitio, O trabalho psicanalitico, iniciado quando tem aproximadamente cinco anos, abre a possibilidade de produeio dos meios de fixago no simbé Nasco: anbig onidade liebe no magintio, que reduzainvaio do goro do Out, etabil- tando a sua psicose Em certo momento deste abalho, anterior a estruturagio do est ito do eu no registro imaginario, essa crianca chega & sesso gritando, fm pleno desespero. Sua mae relata que, no caminho para 0 consult6- Fo, ocorr um acidente, Um homem de moto se chor fatto, seu corpo projetars-se no ar, caindo pesadamente no chao. Vendo Hivena, a crianca se atirou no chao gritando de forma desesperada. Sua Hike pOcle constatar com clareza que o menino havia experimentado a Wiieda do corpo do homem como se la houvesse ocorrido em seu pré- Hie corpo. Tal epis6dio demohstra o inicio da constitaigdo da imagem Sspecularno campo imagindrio soba prevaléncia do transitivismo, no {Wal wrelagto especular entre o eu e o outro ainda nao esti bem enlagada AG Fegistro simbolico, tornando possivel a fixagio de um traco distinti- Hot imagem. Nas sees subseqiientes, um jogo simbélico se interpés Ho Fegistro imaginario, permitindo a0 sujeito ordenar gradativamente 0 fatatuto do exe distingui-lo do outro Que sou no desejo do Outro? Beat cites sinha cimagindsa, Ens dois modos de BEE possbisdade pare o sujcto deve ditingut Conc tl. te Ss aicicrics gnteceee came Bei cado Ouro? DD desciose clena na demands st, na al do Outro que modi tera 3a su deseo. E asvim que os objeos orl eral ho Mise}o do qual ele esta excluido, o desejo do Outro. Ste arins spores devehune’cchaeneto tence MOiitro deseja, latente desde a origem, De inicio, isto esté velado para 0 Bieito, © 0 sc descortinaré pouco a pouco na experiéncia do feipo. Wisin, a experiéncia do espelbo é sustentada pelo desejo do Outro. O ui. Bb 3 iesprecacio da pergunra: “Quesou nodesso te Gos? MM tives,» caidas Go opto ube © determined HHO Fspetho, mas sim pelo significante, Tal mudanca de concepao (0s cteuitos do dejo a vida € nt nds tem implicagées clinicas. Se antes a quebra da unidade do eu podia ser airibufda a uma desordem do imagingrio, a uma regressio a0 Estédio do espelho, em O Semindro, iro 5, a regressio passa aset atribuida a tum retorno aos significants de antigas demandas. O sujcto somente se entrega A experiéncia do espelho para satisfazer 0 desejo do Outro. objeto tem aio seu papel, desempenhado de forma ilusériae engana. dora, Esse ¢ todo o valor da atividade jubilatoria da crianga diante do i seu espelho. A imagem do corpo € conquistada como algo que a0 mes cia dessa experiéncia est no fato de ela oferecer ao sujeito uma realidade virtual, irrealizada, eapta da como tal ea ser conquistada, Toda possibilidade de construgso da realidade para o homem passa necessariamente por af (O ser natcisico nao pode ser pensado sem um Outro desejante. © corpo far Mino espelho porque héa presenca do Outro, A jubilagio | dacrianea vem cobrir a falta do Outro. Em “Fungao e campo da fala e mo tempo existe e nfo existe, ¢ aimporta dlalinguagem em psicandlise” (1953), Lacan esclarece que 0 momento fem que 0 sujito se faz objeto na parada do espelho ¢ permitido pelo reconhecimento ¢ amor do Outro, ou se, ca mie, Esse amor se origina ¢ situa-se em um “eu” que é 0 “eu ideal”; a partir dat, este “eu ideal” clabora-se em um Ideal de um certo “eu”, Desejada, a crianga ocupa 0 Jugar de Ideal do Outro. A propria crianga € simultaneamente o “eu © 0 “Ideal do eu”, dividida em relacio a0 objeto primordial de seu desejo, a ma | we ‘No Esquema R, pode-se ver que a crianga, situada na extremida \ de ideal” 1, liga-se a mae, situada em M, como desejo de seu desejo. Ora, a_ do Outro. Na nieurose, €6 pai que sustenta todo o ediffeio,jé que cle intervém ara proibit. E justamente por isso que cle faz passar 0 objeto do imbélica. Para chegar a de- intervém como real ¢ como elemento bictivagao € exatamente isto: ser capturado pelo dese <.& desejo da mie categoria propriamen N® sempenhar essa fungio, 0 pa maxima, resultado do complexo de Edipo. £ assim que o pai intervém ddiretamente na constituigdo do Ideal do eu. A identificagio do swjeito como falo, como objeto do descjo da mae, sera efetivamente destru(da $20 do puro principio si fo pelo Nome o represe do-Pai, gu como presenga velada, Iso correspond & clin ‘ea da metafora, que supe umm goz0 que passa pelo Nome-do-Pai, pelo Edipo. Tacan transformou o Esqtema R em Esquema I para explicar a psicose. Neste diltimo, o falo esté ausente e 0 Nome-do-Pai,, foracluido. ‘Natcsemo:ambiga onidade Ni psicose, haium buraco que passa do Imaginério ao Simbdlico, o que iio posle ser esclarecido pelo esquema do Estédio da Espelho. A ambigitidade simbélica ¢ constituinte e produz efeitos se uddesejo se apresenta de forma ambigsa, que nao permite orientar 0 Aujelto em relagao a esse ou aquele objeto. Ha um interesse do sujeito Hhirelagio desejante, o que exige uma certa prudéncia do analista para Isis iicoreer nos equivocos apontados por Lacan nos casos de Elizabeth Von, Re Dora Lacan desenha um quadrado situando o histérico frente 20 descjo Wh Ouiro. f da natureza do desejo como tal necesstar do apoio do Dulko, pois o Outro é o lugar onde o significante ordena o descjo. lita que vai do descjo& fantasia mostra com clareza que esta sustenta #realiza 0 desejo Bou WV Iito de o desejo ter de ser interpretado implica ambigtiidades, Na Dita 0 sujeito faz uso da fantasia para encontrar seu lugar de objeto, De passe que na neurose obssessiva ele se posiciona na fantasia como Avjeito. Bim algumas situac6es 0 desejo pode se apresentar de forma tuthadora, produzindo c os diversos. Na angiistia, por exemplo, HGo do valor libidinal da imagem do corpo, e que isto decorre da TP Wieutdade propria & constituicao da imay cea corsa oo Beet tuleitos, houve um obstéculo. O olhar do Outro, que deveria acom- Millar 6 reconhecimento da crianca de sua imagem especular, € um Milenio simblico, ov seja, um olhar que ndo dé testemunho de um SP Posiivel reconhecimento reciproco. O Outro materno introduz, no cora- a ee eeey io da constituigso do eu, uma rupeura da imagem do eu, respondendo a0 olhar nao com um sorriso, mas sim com uma recusa. O Outro nao se oferece como especulariza o simbélica, positiva, capaz de produzir reconhecimento. Ele antes se apresenta como uma carer Por sua, roxicom: como modo de liberagao d: é uma solugio de ruprura com o impéri0 Bet com o falo imagir btengao de gozo do toxic: ‘mano ni pasa pelo Outro do discutso universal. A posigio do roxicé ano se evel pasando a caipar 6 Tugar do Outro, do imperativo a Fi, a tentativa di POPTANtG, CoMIG ade Um ser uno e consistente, a droga al sujeito jeve se submeter. Neste relatério, perseguimos a idéia, contida em O Seminario, livro 5, de que a ambigiiidade simbélica ¢ decisiva e se deve ao fato de ‘© Outro funcionar para o sujeito como a sede do desejo. O fato de a fl do sujeio permite ambigtidades. A partir de O Seminario, liv constr6i uma nova teoria do simbélico, um simbélico pensado a partir a fala do Outro, de o sen desejo ser 0 desejo do Outro, do UME preciso retirar do conjunto do Outro 0 §,. Se 0 Outsp existe, o desejo sustenta-se a partir do furo, do vazio, A fantasia, antes a sustentacZo do desejo, passa a ser uma defesa que recobre o horror. Dito de outro modo, se 0 Outro nio existe, o sintoma deixa comportar apenas um efeito de sentida suscetivel de ser interpretado para adguirir valor de gozo. Neste sentido, estas consideragbes permitem pen: uma mudanga definitiva na problematica ambigua da relacio do sujeito com o Outxo. O encontro nio é com 0 Outro, mas sim eom 0 abjeto, O sujito se dirige ao Outro e se depara com o objeto, Asim, nfo se trata de um sujeito que tenta construir uma identificacio com os ideais do Outro, mas sim uma identificacio corporal, js que 0 tam corpo vivo, Hum corpo vivo que fla, o que apon entre 0 g0z0 ¢ 0 Outro, uma nova discussio, uma nova aambigtidade, podendo ser entio estabelecida, oafeta apenas aadisjuncio Referéncias bibliogréficas LACAN, fsa Jan: Jorge Zabar Bar, 1998 {19579} © ambi Lire Si fortes do teoecite. Ro deTc Eton, 1989. Jocge Zabar Editor, 12 (19725) 0 Semin, Hiro 20: mais, ands. Rio de Jancico: Jonge Zahar Editor, 1985 Fondamentais de pcan, Rio d Narcisismo: ambigua unidade Fatima Sarmento restora, EBP-Bahia) Andes Schimmenti, Célia Salles, lordan Gurgel, Léda Guimarées, Marcela Antelo, Marcelo Veras, Maria Luiza Mirenda, Nora Gongalves, Paulo Gabrielli, Sonia Vicente, Tania Abreu, Fisterelatdrio se baseia em © Semindrio, livro 5: as formagées do i onsciente (1957-8), de J. Lacan, e pretende demonstrat, em primeiro Tgar, que nio se pode considerar o ser narcfsico sem 0 Outro. AN principal proposicio a ser sustentada é a de que a ambigitidade do imaginario é calcada na ambigiidade significant. Esta afirmagio de- forte de uma premissa fundamental deste Semindrio: 0 Outro da fala [ieeriste 2 constituicso do sujeito. © prévio aqui é 0 Outro, um Outro Auistentado pelo simbélico e no pela aingua. Dito de outro modo, a iin central que anima este semindrio € ade subordinaratrfade go70, Uibido ¢ imaginario ao simbolic. Lacan, no entanto,jévislumbrava neste momento umaseparagso real e simbolico no campo significante, tal como o demonstra seu {iment de que a formagées do inconsciente sio unc His de um certo primarismo na linguagem, o que Freud denominara Me "processo psiquico primario”. A descoberta do inconsciente foi pre- Ppa por esse primarismo, que é tecido como uma linguagem. nente a apre- Uina unidade exterior Pitas passagens desse seminario norveiam nosso pensamento. Na pr Hneira, Lacan afiema que a imagem tem um Ster cativante, que vai lfm dos mecanismos instintivos” (:136) que predominam nos animais Nohomem, soma-scaisso um “toque suplementar”, que se prende a0 Tilo de que a imagem do outro “esté muito profundamente ligada & TW [4] que é sempre evocada pelo objeto” seja como desejo,seja Gamo hostilidade, o que leva o objeto a ser situado a uma certa distan % Lacan relaciona 0 toque suplementar deste objeto cativante com 0 creitos do deseo na vida © na ads “a ambigitidade que esté na propria base da formagio do eu” ambigi dade que faz com que “sua unidade fique fora dele mesmo”, erigindo-a «em relagao a seu semelhante, nele encontrando a unidade de defesa que € a de seu ser como ser narcisico. A ambigiidade da imagem narcisica é demonstrada pelo fendme no do riso uma vez.que, no homem, hé entre esse fendmeno ea fungio do imagingrio uma relacio muito estreita. Com efeito, oriso se vale do duplo, do s6sia, porém, de forma mais precisa, aponta o desmasca- ramento relativo & ambigtiidade da imagem narcisica. Lembremos 0 exemplo daquele que, em sua presungao pomposa, nos faz rir por ter levado um tombo. O iso advém da derrisio dessa imagem ¢ eclode porque, em nossa imaginagio, esse personagem imaginario continua tra maha caquinto quo iste derealpermantes cornchae no chao. A ambigiidade do narcsismo se desmascara pois alguma coisa é liberada da “coercao da imagem” no preciso momento em que “2 imagem também vai passear sozinha AA segunda passagem se refere a Confissdes, de Santo Agostinho ((256-7), em que a palidez mortal do recém-nascido, ao ver seu irmao de leite no seio da mae, denuncia que o rival nio intervém puta e sim: plesmente na relagio triangula, uma vex que imaginariamente ee jf se

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