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on/o7/2017 b- Endorfnas @ Exercicio. TOTALSPORT B - Endorfinas e Exercicio Ricardo Dantas de Lucas ‘Quem nunca experimentou a sensagao de bem estar, euforia ou relaxamento proporcionada apés 0 término de um treino ? Neste artigo serdo discutidos alguns aspectos relacionados a estas alteragdes no comportamento ¢ as alteragoes da B+ endorfina durante e apés o exercicio, Dentre as varias substancias que sdo diariamente secretadas em nosso organismo a fim de manter sempre um funcionamento organico equilibrado (homeostase), os horménios so as que desempenham o papel principal Os horménios so substancias que sao produzidas em glandulas especificas do corpo (célula hospedeira) e atuam sobre outros tecidos ou érgdos do corpo (células alvos). Em situagdes de desequilibrio organico qualquer, os horménios entram em cena a fim de amenizar ou restabelecer a homeostase (psicofisiolégica). Podemos considerar 0 exercicio fisico como sendo uma situacao de estresse ao organismo, j@ que diversas fungdes e necessidades organicas (principalmente energéticas) sao alteradas. Dentre os diversos horménios que sao liberados constantemente no organismo, os opidides endégenos, sendo as mais conhecidas a f- endorfina, e também a encefalina e a dinorfina, parecem desempenhar um papel bastante importante no controle do estresse, Na década de setenta, enquanto um grupo de cientistas estudavam os efeitos analgésicos dos peptidios opidceos (como a morfina) sobre a fungo cerebral, descobriram que nosso cérebro apresenta dreas receptoras que reconhecem estas substancias como neurotransmissores ou neuromoduladores, concluindo que nosso préprio cérebro produzia substancias semelhantes aos opiéceos, capazes de realizar alteragdes comportamentais. ‘Atualmente sabemos que a f-endorfina & responsdvel por diversas alterag5es psicofisiolégicas, que vao desde o controle da dor até a sensacao de bem estar proporcionada pela pratica da alividade fisica (Harber & Sutton, 1984), embora alguns autores ainda discordem (McGowan ot al., 1993). A f-endorfina pode ser encontrada basicamente om regides especificas do sistema nervoso central (SNC), ou mesmo na cifculagdo sangiiinea (plasmatica). Assim sendo, Thorén et al. (1990) apontam que a f-endorfina pode ter tanto um efeito sobre areas cerebrais responsdvels pela modulacéo da dor, do humor, dopresséo, ansiedade como pela inibicdo do sistema nervoso simpatico (responsavel pela modulagao de diversos érgaos, como coracdo, intestino etc...). Desta forma muitos estudos tem tentando verificar o efeito do exercicio fisico sobre as concentragées de endorfinas no SNC (cérebro) ou no plasma. Estudos que tentam identificar estes opidides no SNC so bastante invasivos e consequentemente restritos a animais, Shyiu et al. (1982) encontrou um aumento significative nas concentragées cerebrais de f-endorfina e consequentemente um aumento no limiar da dor apés um exercicio prolongado de intensidade moderada, em ratos. Hoffmann et al. (1990) encontrou que estes niveis elevados de f-endorfina no SNC permanecem elevados até 48 horas apds exercicio, retornando aos valores normais em 96 horas apés o exercicio, também em ratos. Desta forma estes estudos demonstram que o exercicio prolongado altera as concentracdes fixendorfina no SNC, sendo possivelmente responsdveis pelas alteragdes comportamentos. Entretanto devemos analisar estes resultados com cuidado, pois so estudos que utilizam um modelo experimental animal e podem se diferr significantemente das respostas em humanos. Em humanos, muitos estudos tem verificado as respostas da {j-endorfina plasmatica (sangiiinea) durante o exercicio e suas possiveis conseqiiéncias. Atualmente sabemos que a f-endorfina & secretada para o sangue, pela glandula pituitéria (taribém conhecida como hipéfise), que é responsavel pela liberagdo de diversos outros horménios, entre eles 0 horménio de crescimento (GH). Heitkamp et al. (1993) verificaram um aumento plasmatico signticante das p- endorfina e também do horménio adrenocorticotréfico (ACTH) (horménio hipofisiario que iré estimular a producao de adrenalina e cortisol, hormdnios tipicos do estresse), apés uma corrida de maratona. O aumento dos dois horménios ocorreu de forma bastante similar, atingindo os valores mais altos ao término da corrida (~ 5 vezes maior que em repouso) @ retomando aos valores de repouso apés 24 horas. Desta forma a f-endorfina ¢ liberada em situagdes de estresse do organismo e parece estar envolvida na promogao de um efeito analgésico, e também na melhora dos aspectos emocionais. Por outro lado alguns estudos nao tem verificado aumento da B-endorfina apds exercicios de intensidade leve a moderada (< 60% VO2max) (Langenteld et al, 1987). O exercicio de musculagao (resisténcia) também parece ndo ser capaz de alterar a concentragao plasmatica de f-endorfina, como demonstrado recentemente por Kraemer et al. (1996). Desta forma a intensidade e a duragao do exercicio parece ser responsével pela potencial alleracdo desias substéncias no sangue. A fim de verificar as respostas da f-endorfina © outros horménios durante um exercicio predominantemente aerébio © anaerdbio, Schwarz & Kindermann (1990) compararam em uma bicicleta ergométrica, um exercicio continuo com cagas incrementais (aerdbio) € um exercicio maximo de 1 minuto de duragdo (anaerébio). Estes autores encontraram aumentos similares ao término dos dois tipos de exercicio, embora durante o teste incremental 0 aumento significante da f-endorfina hitp/wwatotalsport.com brfcolunasiicarda/ed2800 rim 18 on/o7/2017 b- Endorfnas @ Exercicio. ocorreu somente apés o limiar anaerébio (~75 % VO2max). Estes autores encontraram ainda uma forte relagao entre a f- endorfina e outros horménios relacionados ao exercicio (ACTH, Adrenalina). Outros estudos demonstraram no existir diferengas na concentragées de p-endorfina entre os sexos (Rahkila et al., 1987), ‘embora muitos autores associam 0 aumento da secregéo desta substdncia a alguns distirbios no ciclo menstrual da mulher. Isto provavelmente ocorre pelo efeito da f-endorfina em inibir a liberagao do horménio estimulador da gonadotrofina, que também é liberado pela hipéfise e iré estimular a producao dos horménios sexuals (McArthur & Simmons, 1985). Embora muitos estudos tem sido realizados a fim de melhor compreender as respostas dos opidides endégenos durante o exercicio, muitas duvidas ainda permanecem e devem ser melhor investigadas, embora existam um consenso de que de que exista uma grande variagao interindividual, nas respostas dos opidides endégenos ao exercicio. Grande parte da alteragdes do estado de humor e bem estar que seguem um pratica de atividade fisica, pode ser atribuida aos efeitos no SNC que a fendorfina proporciona (Harber & Sutton, 1984). Uma possivel dependéncia causada pelo exercicio fisico também vem sendo alvo de estudos recentes. Multos de nés j4 experimentou a sensacao de desconforto, irritabilidade, ansiedade, alteragao no estado do humor e depressao causada pela deprivagdo de um ou alguns dias de treino. Eslas sensagées desagradaveis parecem ser similares a sindrome de abstinéncia que grande parte das drogas causa, © possivelmente estao relacionadas a producao e dependéncia dos opidides endégenos. Thorén et al. (1990) aponta que o alcool estimula a produgao dos opidides endégenos em certas areas do SNC, sendo um dos fatores que causa dependéncia desta substdncia, Desta forma estes autores propdem que o exercicio fisico regular juntamente com um tratamento psiquidtrico e uma intervengdo psicossocial podem favorecer uma conversao da fonte exégena da dependéncia dos opidides (alcoolismo) para uma dependéncia endégena proporcionada pelo exercicio. Embora exista muitas publicagées cienttficas nesta area, algumas diividas ainda permanecem, como por exemplo: ‘+ Qual a quantidade minima de exercicio, para causar este efeito de “dependéncia® e abstinéncia ? + Serd que com o treinamento, 0 organismo necessita de menores concentragdes destes opidides endégenos para causar os mesmos efeitos? + Qual a intensidade e duracao minima capaz de causar aumentos significativos na produgao destes substancias ? + Serd que exercicios que utllizem grupos musculares maiores, proporcionam maior estimulo para a produgo deste opidides ? Mesmo ainda existindo muitas duvidas e incertezas em relagao aos mecanismos exatos da relacao dos opidides endégenos © 0 exercicio, podemos afirmar com certeza que a atividade fisica regular constitui em uma das melhores maneiras de atingir um equilibrio total do organismo (satide fisica e mental). Referencias Bibliograficas Langenfeld, M.E.; Hart, L.S.; Kao, P.C. Plasma ft - endorfina response to one-hour bicycling and running at 60% VO2max. Med Sei Sports Exerc. V. 19, pp.83-86, 1987. Harber VJ; Sutton JR Endorphins and exercise. Sports Med v.1(2), pp. 154-71, 1984. Heitkamp, H-Ch.; Schmid, K; Scheib, K. B - endorfina and adrenocorticotropic hormone production during marathon and incremental exercise. Eur. J. Appl Physiol. v. 66, pp. 269-274, 1993, Hoffmann, P.; Terenius, L; Thorén, P. Cerebrospinal fluid immunoreactive beta-endorphin concentration is increase by long-lasting voluntary exercise in the spontaneously hypertensive rat. Regulatory Peptides, v. 28, pp. 233-239, 1990. MeArthur, J.W. Endorphins and exercise in females: possible connection with reproductive dysfunction. Med Sci Sports Exerc. V. 17, pp. 82-88, 1985. McGowan RW; Pierce EF; Eastman N; Tripathi HL; Dewey T; Olson K. Beta- endorphins and mood state during resistance exercise. Percept Mot Skills v. 76(2), pp. 376-8, 1993. Mondin GW; Morgan WP; Piering PN; Stegner AJ; Stotesbery CL; Trine MR; Wu MY. Psychological consequences of exercise deprivation in habitual exercisers. Med Sci Sports Exerc. V. 28(9), pp.1199-1203, 1996. Rahikila, P.; Hakala, E.; Salminen, K; Laatikainen, T. Response of plasma endorphins to running exercise in male and female endurance athletes. Med Sci Sports Exerc, V, 19, pp. 451-455, 1987. ‘Schwarz, L ; Kindermann, W. B - Endorfina, adrenocorticotropic, cortisol and catecholamines during aerobic and anaerobic exercise. Eur. J. Appl Physiol. V. 61, pp. 165-171, 1990. hitp/wwatotalsport.com brfcolunasiicarda/ed2800 rim 218 07/2017 b- Endorfnas @ Exercicio. Shyu, B-C.; Andersson, A; Thorén, P. Endorphin mediated increase in pain thresold induced by long-lasting exercise in rats. Life Sci. V. 30, pp. 833-840, 1982. Thorén, P,; Floras, J.S.; Hoffmann, P.; Seals, D.R. Endorphins and exercise: physiological mechanisms and clinical implications. Med. Sci. Sports Exerc. V. 22 (4), pp. 417-428, 1990. Ricardo Dantas de Lucas Bacharel em Educagao Fisica pela UNESP - Rio Claro Técnico de Atletas de Endurance Mestrando em Ciéncias da Motricidade na UNESP- Rio Claro Prof. Treinamento Esportivo da Universidade de Franca (UNIFRAN) Email: rdi@linkway.com br TOTALSPORT hitp/wwatotalsport.com brfcolunasiicarda/ed2800 rim 38

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