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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS GERAIS

INSTITUTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

JOYCE PALHA COLAÇA

O GUARANI COMO LÍNGUA OFICIAL E A PROMOÇÃO DE

UM BILINGUISMO IMAGINÁRIO NO PARAGUAI

Trabalho apresentado como pré-


requisito para obtenção do título de
doutor ao programa de pós-
graduação em Estudos da
Linguagem da Universidade
Federal Fluminense.

ORIENTAÇÃO: Prof.ª Dr.ª Bethania Sampaio Corrêa Mariani – UFF

CO-ORIENTAÇÃO: Prof.ª Dr.ª María Teresa Celada – USP

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Março de 2015
JOYCE PALHA COLAÇA

Trabalho apresentado como pré-


requisito para obtenção do título de
doutor ao programa de pós-
graduação em Estudos da
Linguagem da Universidade
Federal Fluminense.
Defendido em ____________________________

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Bethania Sampaio Corrêa Mariani (orientadora) – UFF
_________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª María Teresa Celada (co-orientadora) – USP
_________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Carolina María Rodríguez Zucolillo – UNICAMP
_________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Fabiele Stockmans De Nardi - UFPE
_________________________________________________________________
Profª. Dr.ª Marcia Paraquett Fernandes – UFBA
_________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Vanise Gomes de Medeiros – UFF
_________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª María Aurora Consuelo Alfaro Lagorio – UFRJ (suplente)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Xoán Carlos Lagares Diez – UFF (suplente)

UFF

Niterói, 2015
Ao meu pai Francisco, uma saudade presente.
E aos meus avós, Zuleide e Sebastião,
pelos sonhos que guardavam. Todos em memória.
Também ao Gui, meu príncipe, que partiu depois da defesa desta tese, em memória e no meu
coração.
AGRADECIMENTOS

A Deus, pela força que me move. Pode ser que seja fé.

A CAPES pela bolsa que me permitiu desenvolver esta tese com certa tranquilidade.

A Bethania Mariani, que me despertou para os sentidos possíveis, com afeto e dedicação, sem
nunca desistir de mim, apesar de toda a deriva.

A minha família: minha mãe, que sempre me disse que eu podia; A Jeca, que me presenteou
com o Gui e o Bubu, meus príncipes; Também ao Anderson que, na simplicidade, nos
acompanha nesta jornada; A Ronaldo e Rosane, mesmo distantes.

Aos colegas do Departamento de Letras Estrangeiras da UFS pelo incentivo na forma do


afastamento concedido, que possibilitou a conclusão desta tese. Muito em especial à Doris,
Acacia, Sabrina, Acassia, pelo companheirismo, amizade e trocas diárias no trabalho e na
vida. Ao Paulo e à Karina, pela afetuosidade e acolhimento. A Raquel, Célia e Melanie, pelas
palavras de apoio e pelo porvir.

A Doris e Walla, Acacia e Jeff, por serem minha família naquelas terras sergipanas.

Aos professores Xoán Lagares, Fabiele Stockmans e María Teresa Celada pela leitura e
colaboração na versão para qualificação desta tese. A Maite também por aceitar continuar de
perto o caminhar e pelo afeto nas conversas de orientação.

As professoras Carolina Rodríguez, Fabiele Stockmans, Márcia Paraquett e Vanise Medeiros


por aceitarem fazer parte no momento da defesa e pela leitura final. Também a Márcia por
mostrar-me o caminho da pesquisa, o amor à profissão e à vida.

Aos professores Consuelo Alfaro e Xoán Lagares, por aceitarem a leitura desta tese como
suplentes.

Aos meus amigos que entendem minha ausência, em especial, as minhas amigas que, mesmo
de longe, me acompanham e me ancoram: Aline, Andreia, Ceiça, Fabi, Jackie, Line, Mah,
Thaina e Vivi.

A Valéria, pelo amor, companheirismo, irmandade. Também por me adotar nos últimos
momentos de escrita desta tese.

Aos amigos do Laboratório Arquivos do Sujeito, para além da teoria, pelo afeto que nos une:
Alexandre Zanella, Ana Carnevale, Diego Barbosa, Felipe Dezerto, Juciele Dias, Fernanda
Lunkes, Marcos Sá, Márcia Cirigliano, Phellipe Marcel, Raphael Trajano e Thaís Costa.

A Lívia, amiga e comadre, pelo apoio incondicional e ouvidos generosos neste percurso.

A Ângela Baalbaki, pelo carinho e pelas conversas que resultaram nesta pesquisa.
Aos meus gatos que, alheios a qualquer tese, são motivo da minha alegria e do meu amor.

Ao Derlis, por todas as conversas sobre o guarani, por sua luta pela língua e por compartilhar
seu tereré.

Ao Padre Genaro e a Estela, pela afetuosa acolhida no Paraguai, e a toda a família Meza,
pelos momentos que compartilhamos.

A Professora Manuela Romero e a toda a equipe do Colégio Nacional de Assunção por terem
me recebido e colaborado com a pesquisa do arquivo.

A Miguel Angel de Verón e a Arnaldo Casco pela cessão do material com as ações da
Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai.
El subdesarrollo no es una etapa del desarrollo. Es su
consecuencia. El subdesarrollo de América Latina proviene
del desarrollo ajeno y continúa alimentándolo. Impotente
por su función de servidumbre internacional, moribundo
desde que nació, el sistema tiene pies de barro. Se postula a
sí mismo como destino y quisiera confundirse con la
eternidad. Toda memoria es subversiva, porque es diferente,
y también todo proyecto de futuro. Se obliga al zombi a
comer sin sal: la sal, peligrosa, podría despertarlo. El
sistema encuentra su paradigma en la inmutable sociedad de
las hormigas. Por eso se lleva mal con la historia de los
hombres, por lo mucho que cambia. Y porque en la historia
de los hombres cada acto de desconstrucción encuentra su
respuesta tarde o temprano, en un acto de creación.

Galeano, Las venas abiertas de América Latina, 2012 [1971]

No se nace bilingüe; se hace uno bilingüe.

Melià, La tercera lengua del Paraguay, 2013


RESUMO

Nesta tese, temos como objetivo compreender os processos de produção de sentidos


sobre as línguas guarani e espanhola em contexto de bilinguismo no Paraguai. Filiamo-nos às
pesquisas desenvolvidas no âmbito da História das Ideias Linguísticas (AUROUX, 1998,
2009 [1992], 2010 [1994]; ORLANDI, 1983, 1988, 2008 [1990]), em seu entrelaçamento com
Análise do Discurso de linha francesa (PÊCHEUX, 1988 [1975], 1990 [1969]; 2010 [1994]),
para construir nossa reflexão e avançar nos estudos referentes ao tema. Para compor nosso
arquivo de análise, tomamos os textos das Cartas Magnas desde o primeiro Regulamento de
Governo, de 1813, até a atual Constituição da República do Paraguai, de 1992, que
oficializou a língua guarani. Também fazem parte do nosso arquivo os textos da Lei Geral de
Educação nº 1264/1998 e da Lei n° 3231/2007 e da Lei de Línguas nº 4251/2010. Para
compreender os sentidos produzidos acerca do imaginário de bilinguismo, analisamos as
ações da Secretaria de Políticas Linguísticas, a partir da descrição de três projetos, dentre os
quais selecionamos o intitulado Rohayhu Che Ñe'ẽ: una semana en lengua guaraní.
Observamos o funcionamento dos discursos sobre o guarani no espaço de enunciação
(GUIMARÃES, 2005) paraguaio e, também, no latino-americano, por sua incorporação como
língua oficial de trabalho do Mercosul. Pela análise empreendida no decorrer desta tese,
verificamos como a memória (PÊCHEUX, 2007) sobre as línguas se inscreve nas
discursividades das leis de educação e na produção de políticas de línguas sobre o
bilinguismo, pela promoção de um bilinguismo imaginário, que significa a língua guarani
num lugar de tradição, de patrimônio e de identidade nacional em oposição à língua
espanhola, significada, pela historicidade dos processos de produção de sentidos, como a
língua de civilização e de conhecimento. No jogo das relações de forças travadas no embate
entre as línguas, nas textualidades analisadas, se materializam os efeitos de sentidos
produzidos ideológica e historicamente, em um processo que segue promovendo a língua
espanhola e silenciando a língua guarani no Paraguai.

PALAVRAS-CHAVE: História das Ideias Linguísticas; Análise do Discurso; Paraguai;


Língua guarani; Língua oficial; Bilinguismo imaginário.
RESUMEN

En esta tesis, tenemos como objetivo comprender los procesos de producción de


sentidos sobre las lenguas guaraní y española en contexto de bilingüismo en Paraguay. Nos
remitimos a las investigaciones desarrolladas en el ámbito de la Historia de las Ideas
Lingüísticas (AUROUX, 1998, 2009 [1992], 2010 [1994]; ORLANDI, 1983, 1988, 2008
[1990]), en su entrelazamiento con el Análisis del Discurso de línea francesa (PÊCHEUX,
1988 [1975], 1990 [1969]; 2010 [1994]), para construir nuestra reflexión y avanzar en los
estudios referentes al tema. Para componer nuestro archivo de análisis, tomamos los textos de
las Cartas Magnas desde el primer Reglamento de Gobierno, de 1813, hasta la actual
Constitución de la República de Paraguay, de 1992, que oficializó la lengua guaraní.
También forman parte de nuestro archivo los textos de la Ley General de Educación nº
1264/1998 y de la Ley n° 3231/2007 y de la Ley de Lenguas nº 4251/2010. Para comprender
los sentidos producidos acerca del imaginario de bilingüismo, analizamos las acciones de la
Secretaría de Políticas Lingüísticas del Paraguay, a partir de la descripción de tres proyectos,
de los que seleccionamos el intitulado Rohayhu Che Ñe'ẽ: una semana en lengua guaraní.
Observamos el funcionamiento de los discursos sobre el guaraní en el espacio de enunciación
(GUIMARÃES, 2005) paraguayo y, también, latinoamericano, por su incorporación como
lengua oficial de trabajo del Mercosur. Por el análisis hecho en el decurso de esta tesis,
verificamos como la memoria (PÊCHEUX, 2007) sobre las lenguas se inscribe en las
discursividades de las leyes de educación y en la producción de políticas de lenguas sobre el
bilingüismo, por la promoción de un bilingüismo imaginario, que significa la lengua guaraní
en un lugar de tradición, de patrimonio y de identidad nacional en oposición a la lengua
española, significada, por la historicidad de los procesos de producción de sentidos, como la
lengua de civilización y de conocimiento. En el juego de las relaciones de fuerzas, trabadas en
el embate entre las lenguas, en las textualidades analizadas, se materializan los efectos de
sentido producidos ideológica e históricamente, en un proceso que sigue promoviendo la
lengua española y silenciando la lengua guaraní en el Paraguay.

PALABRAS-CLAVE: Historia de las Ideas Lingüística; Análisis del Discurso; Paraguay;


Lengua guaraní; Lengua oficial; Bilingüismo imaginario.
SUMÁRIO

1. INTROUÇÃO .............................................................................................................................. 11
1.1 PRIMEIRAS PALAVRAS .................................................................................................... 11
1.2 O NOME DA LÍNGUA E O NOME NA LÍNGUA: A MARCA DA HISTÓRIA NO
GUARANI ...................................................................................................................................... 15
1.2.1 O nome da língua: che ñe' ẽ, ava ñe' ẽ; guarani, guarani paraguaio, jopará ............ 16
1.2.2 O nome na língua: a história no corpo do sujeito ........................................................ 22
1.3 A ORDEM DA ESCRITA E A ORGANIZAÇÃO DA TESE ......................................... 26
2. A HISTÓRIA DAS IDEIAS LINGUÍSTICAS E O ESTADO PARAGUAIO ............. 28
2.1 UMA HISTÓRIA DAS IDEIAS LINGUÍSTICAS ........................................................... 30
2.2 O POLÍTICO NA LÍNGUA E AS POLÍTICAS DE LÍNGUA ........................................ 53
2.3 SOBRE NAÇÕES E NACIONALISMO ............................................................................ 63
2.4 ENTRE O MATERNO, O OFICIAL E O NACIONAL, UMA DIVISÃO
IMAGINÁRIA ............................................................................................................................... 69
3. HISTÓRIA, LÍNGUA, SUJEITO: OS SENTIDOS NO (DIS)CURSO DA HISTÓRIA
................................................................................................................................................................ 88
3.1 SOBRE A HISTÓRIA E A HISTORICIDADE ................................................................. 89
3.2 O DISCURSO DA HISTÓRIA SOBRE O PARAGUAI .................................................. 95
3.2.1 A colônia, os jesuítas e as reduções .............................................................................. 98
3.2.2 O século XIX: da Independência à Guerra da Tríplice Aliança ............................. 112
3.2.3 Stroessner: nacionalismo e identidade nacional ....................................................... 131
3.3 OS ECOS DO DISCURSO DA HISTÓRIA NA CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO
NACIONAL ................................................................................................................................. 138
4. SENTIDOS SOBRE O GUARANI E O ESPANHOL: POLÍTICAS DE LÍNGUAS DO
ESTADO PARAGUAIO .............................................................................................................. 142
4.1 UMA HISTÓRIA DAS IDEIAS LINGUÍSTICAS DO GUARANI: O GUARANI
PARAGUAIO, A GRAMATIZAÇÃO E AS POLÍTICAS DE LÍNGUAS ........................ 145
4.2 AS CARTAS MAGNAS DO PARAGUAI, DE 1813 A 1992 ....................................... 152
4.3 OS DIZERES SOBRE A EDUCAÇÃO NA FORMA DA LEI ..................................... 166
4.3.1 A Lei Geral de Educação nº 1264/1998 ...................................................................... 168
4.3.2 A Lei n° 3231/2007, que cria a Direção Geral de Educação Escolar Indígena .... 178
4.4 A LEI DE LÍNGUAS Nº 4251/2010 .................................................................................. 183
4.4.1 A Academia da Língua Guarani e a Secretaria de Políticas Linguísticas .............. 193
5. A CONSTRUÇÃO DE UMA NAÇÃO BILÍNGUE? ....................................................... 197
5.1 A COMISSÃO NACIONAL DE BILINGUISMO .......................................................... 199
5.1.1 Decreto nº 6588/1994 .................................................................................................... 199
5.1.2 Sobre os objetivos da Comissão Nacional de Bilinguismo ...................................... 204
5.2 A SECRETARIA DE POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E AS POLÍTICAS DE LÍNGUAS
SOBRE O BILINGUISMO ........................................................................................................ 206
5.2.1 "Rohayhu Che Ñe’ ẽ: Una semana en lengua guaraní" ........................................... 210
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS: UM BILINGUISMO IMAGINÁRIO ........................... 213
REFERENCIAS ............................................................................................................................ 219
1. ARQUIVO ............................................................................................................................... 219
2. BIBLIOGRAFIA CITADA E CONSULTADA ................................................................. 220
3. ON LINE ................................................................................................................................... 231
ANEXOS ......................................................................................................................................... 234
I. Reglamento de Gobierno. Segundo Congreso (1813) .................................................... 235
II. Ley que establece la administración política de la república del Paraguay, y demás
que en ella se contiene / Constitución de la República del Paraguay (1844) ................. 237
III. Constitución de la República del Paraguay (1870) ..................................................... 243
IV. Constitución Nacional del Paraguay (1940) ................................................................ 255
V. Constitución de la República (1967) ............................................................................... 266
VI. Constitución de la República de Paraguay (1992) ...................................................... 290
VII. Ley General de Educación nº 1264 /1998 ................................................................... 338
VIII. Ley n° 3231/2007, que cria a Direção Geral de Educação Escolar Indígena ...... 358
IX. Ley de Lenguas del Paraguay nº 4251/2010 ................................................................. 362
X. Decreto nº 6588/1994 ........................................................................................................ 369
XI. Decreto nº 588, por el cual se integra la Comisión Nacional de Bilingüismo del
Ministerio de Educación y Cultura ....................................................................................... 372
XII. Comissão Nacional de Bilinguismo I ........................................................................... 375
XIII. Comissão Nacional de Bilinguismo II ........................................................................ 376
XIV. Acto de presentación de informe de la Comisión Nacional de Bilingüismo y la Red
de Cooperación Intercultural Multilingüe (Recim) ............................................................ 378
XV. Ações da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai ....................................... 382
XVI. "Rohayhu che ñe’ẽ: una semana en lengua guaraní" ............................................... 392
XVII. Lengua Guaraní se convierte en idioma oficial de trabajo del Parlamento del
Mercosur ................................................................................................................................... 394
XVIII. Una nación bilingüe que rechaza los nombres guaraní ........................................ 395
1. INTRODUÇÃO

1.1 PRIMEIRAS PALAVRAS

Nessa longa caminhada, outros escreveram sobre algumas das coisas


que eu estava observando. Mas não apressei meus passos, mesmo
correndo o risco de não ser a primeira a dizer. Porque não aposto no
"conteúdo", no "dado", na "informação", mas na construção dos
sentidos, e esse meu texto será sempre este meu texto no seu modo de
significar, com sua contribuição específica. (ORLANDI, 2008 [1990])

Uma das partes mais difíceis ao se lançar no doutorado é a escolha do objeto. Um


projeto de pesquisa passa a ser o projeto de nossas vidas durante determinado tempo e ocupa
um espaço significativo em nossas relações com o mundo. Este projeto, que ora se transforma
em uma tese, é resultado de um convite para uma mesa de políticas linguísticas. Naquela
ocasião, uma colega pressupôs que eu, professora de espanhol, dada a diversidade linguística
já conhecida no mundo hispânico, teria, sem dúvidas, o que dizer sobre o tema. Foi então que
comecei a ler sobre a situação linguística de diversos países de fala hispana e me chamou a
atenção o Paraguai, por sua singularidade na América Latina: o Paraguai é o único país em
que uma língua de origem indígena, o guarani, ocupa o lugar de língua do Estado Nacional e é
projetada dentro de uma situação de bilinguismo, resultando na produção de instrumentos
linguísticos.
11
Assim começou esta tese, por um convite que se transformou em nossa primeira
questão: como a língua guarani alcançou o status de língua oficial no/do Paraguai? Durante o
percurso de nossa pesquisa, muitos foram os trabalhos a que tivemos acesso sobre o tema, e,
pela situação singular já exposta, pesquisadores de diversas áreas de estudo se lançaram nesta
investigação, entre elas a antropologia, a história, a sociolinguística e, também a Análise do
Discurso de linha materialista, campo em que se inscreve esta tese. Entretanto, como aponta
nossa epígrafe, em Análise do Discurso, apostamos na "construção dos sentidos" e, por esta
perspectiva, "esse meu texto será sempre este meu texto no seu modo de significar"
(ORLANDI, 2009 [1990], p. 13). Partindo, então, da aposta de contribuir na compreensão da
situação linguística do Paraguai, nos lançamos nesta jornada que é a escrita de uma tese, que
se desenvolveu a partir do escopo teórico da História das Ideias Linguísticas (AUROUX
2009, [1992]; ORLANDI, 2008 [1990], 2010 [1994]) em seu encontro com a Análise do
Discurso de linha francesa (PÊCHEUX, 1990 [1969]; 1988 [1975]; ORLANDI, 2002; 2009),
tal como vem se desenvolvendo no Brasil.

Com relação às condições de produção (PÊCHEUX & FUCHS, 1990 [1969]) desta
pesquisa, é preciso ressaltar sua especificidade pelo fato de que focaliza o caso do Paraguai e
seu desenvolvimento se deu no Brasil. Outra questão que devemos ressaltar se relaciona ao
recorte de nossas sequências discursivas. Como nos lembra Orlandi (1984), as sequências
discursivas são recortes de linguagem e situação que o analista opera em determinado corpus,
a partir de um gesto de interpretação (ORLANDI, 2010 [1994]), que busca as regularidades
no arquivo. Nesta tese, trabalhamos com sequências recortadas de um corpus heterogêneo.
Em um primeiro momento de análise, no capítulo 4, mobilizamos textualidades do arquivo
jurídico do Paraguai: as Cartas Magnas (Anexos I a VI1), a Lei Geral de Educação nº 1264
/1998 (Anexo VII), a Lei n° 3231/2007, que cria a Direção Geral de Educação Escolar
Indígena (Anexo VIII) e a Lei de Línguas nº 4251/2010 (Anexo IX) e o Decreto nº 6588/1994
(Anexo X), Decreto nº 588, por el cual se integra la Comisión Nacional de Bilingüismo del
Ministerio de Educación y Cultura (Anexo XI).. Na sequência, para compor nossa análise, no
quinto capítulo, mobilizamos textualidades de instituições governamentais: a Comissão
Nacional de Bilinguismo (Anexos XII e XIII), o Ato de apresentação do relatório da
Comissão Nacional de Bilinguismo e a Rede de Cooperação Intercultural Multilíngue (Anexo

1
Como veremos no final deste capítulo, todos os arquivos que compõem este corpus foram disponibilizados, em
anexo, organizados em números romanos do I ao XIV. Ao longo da tese, indicaremos o número de cada anexo
para facilitar sua consulta.
12
XIV), as Ações da Secretaria de Políticas Linguísticas (Anexo XV 2 ), o cartaz do projeto
"Rohayhu che ñe’ẽ: una semana en lengua guaraní" (Anexo XVI) e o texto do parlamentar
3
presidente da delegação paraguaia no Parlasul (Anexo XVII) para compreender o
funcionamento do discurso sobre o bilinguismo no Paraguai no âmbito das políticas de
línguas promovidas pelo governo.

O arquivo jurídico se constitui “a partir de materiais preexistentes” (COURTINE,


2009 [1981]), e, em nosso trabalho, podemos afirmar que é um arquivo cuja ordem já estava
explicitada, pois fizemos um recorte a partir da organização cronólógica já existente: as
Cartas Magnas seguem a ordem da sua promulgação e as leis referentes à educação também
são apresentadas na ordem de sua publicação, bem como a Lei de Línguas que encerra este
primeiro grupo de textualidades do arquivo jurídico, por haver sido publicada no ano de 2010.
O segundo tipo de corpus, que colocamos em relação ao primeiro, foi construído a partir de
nossa entrada no objeto e nossa aproximação à noção de "bilinguismo". Buscamos, deste
modo, reunir materiais com o objetivo de compor um arquivo para compreender o
funcionamento do imaginário de bilinguismo paraguaio, constituído pelos projetos da
Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai. Tanto no arquivo jurídico como naquele que
tivemos de compor, nossa entrada no corpus foi a partir de materiais em língua espanhola.
Decidimos, portanto, manter a língua dos originais dos textos que compõem o arquivo, visto
que, como analistas de discurso, operamos sobre a materialidade da língua (ORLANDI,
2009), o que resulta em não utilizar os textos traduzidos em nossa pesquisa. Justificamos
nossa posição teórica também por concordar com Dezerto (2013) quando afirma existir um
efeito de traduzibilidade, que sustenta uma prática tradutória e afeta o ensino de línguas
estrangeiras, apontando para o seu funcionamento, que produz uma imaginária relação direta
entre as línguas e entre o referente e o objeto. Ou seja, por não haver uma relação direta entre
referente e objeto em determinada língua, a tradução se produz como efeito. Por conseguinte,
nossas sequências discursivas serão apresentadas em espanhol, língua original dos
documentos, no corpo do texto, e uma tradução auxiliar será disponibilizada em nota de
rodapé. Por sua vez, as referências bibliográficas em língua estrangeira serão traduzidas ao

2
As ações da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, no momento de nossa pesquisa, ainda não estavam
disponíveis on line, na página da instituição (www.spl.gov.py. Acesso em: 10 de agosto de 2014). O órgão
tampouco contava com um arquivo físico organizado sobre o tema. Portanto, agradecemos a construção deste
arquivo ao Assessor de Comunicação desta instituição à época, o Sr. Arnaldo Casco, que nos disponibilizou os
dados, e ao Sr. Miguel Ángel Verón, que nos facilitou o contato.
3
Parlamento do Mercosul.
13
português no corpo do texto, como sugere o manual da Universidade Federal Fluminense,
local de produção desta tese, e, em nota de rodapé, seguirão seus textos originais.4

Em Análise do Discurso, consideramos construção do arquivo como um gesto


(ROMÃO, FERREIRA e DELA-SILVA, 2011), em que suas condições de produção são
significativas, tanto na conformação do arquivo jurídico como daquele construído ad hoc para
a realização de determinada pesquisa. A construção do arquivo que será objeto de análise
nesta tese sofreu alterações durante o percurso de pesquisa e de escrita, por duas questões
fundamentais. Por um lado, pela condição do próprio arquivo no Paraguai, que teve seus
prédios públicos destruídos - e com isso alguns de seus documentos - durante os confrontos
da Guerra da Tríplice Aliança (MELIÀ, 2003), da qual trataremos no terceiro capítulo. Ainda
com relação ao arquivo, muitos documentos referentes ao Paraguai, inclusive alguns
produzidos em língua guarani, estão na Espanha e em Buenos Aires, em virtude do seu
domínio em tempos remotos sobre o Paraguai (ibidem). Essa questão foi fundamental por ter
direcionado nossa pesquisa significativamente.

Por outro lado, este trabalho foi se encaminhando para um lugar outro, a partir de
nossas leituras e de nossa própria escrita sobre o objeto. À medida que íamos avançando no
estudo do tema, a recorrência do nome "bilinguismo" nas pesquisas sobre o Paraguai foi se
apresentando como uma questão e se colocou para nós a necessidade de sua compreensão.
Sobre esta questão, lembramos o trabalho de Mariani (2012), ao afirmar que

no conjunto dos textos arquivados e no conjunto de leituras que vai fazendo, o


pesquisador se depara com uma dispersão, de processos de produção de sentidos,
cabendo a ele, pesquisador, recortar e organizar as redes de enunciados
pertinentes à sua temática. (ibidem, p. 124. Grifos nossos)

Nesse caminhar em meio à dispersão, nos deparamos com este seu "aspecto
labiríntico", num infinito jogo de idas e vindas, cuja historicidade se marca em cada entrada
que fazemos no arquivo. É fundamental compreender que, neste percurso, como afirma
Mariani (ibidem, p. 123), "nós construímos o arquivo de pesquisa". Neste caminhar teórico-
analítico, nossas perguntas foram se transformando e passamos a reunir documentos que, de
nosso lugar teórico, julgamos fundamentais no que diz respeito à produção de saberes e à

4
Cf. Apresentação de trabalhos monográficos de Conclusão de Curso. 10ª ed. revisada e ampliada por Estela dos
Santos Abreu e José Carlos Abreu. Niterói, RJ: EdUFF, 2012. 90p.
14
circulação de ideias sobre as línguas guarani e espanhola no Paraguai. Duas perguntas nos
direcionaram nesta jornada: como o Estado atua pela promoção da língua guarani em sua
disputa pelo espaço de enunciação paraguaio com a língua espanhola? O que significa para a
língua guarani estar em situação de bilinguismo com a língua espanhola no Paraguai?

Por fim, foi na tentativa de compreender o imaginário que se produz sobre um


Paraguai bilíngue no contexto latino-americano e mundial que construímos esta tese, cuja
organização apresentamos na última seção deste capítulo.

1.2 O NOME DA LÍNGUA E O NOME NA LÍNGUA: A MARCA DA HISTÓRIA NO


GUARANI5
La conquista rompió las bases de aquellas civilizaciones.
(Galeano, 2012 [1971])

O ato de nomear marca em si uma história. Nomear, na perspectiva discursiva, é


estabelecer limites, criar fronteiras e inscrever a língua no processo de produção de sentidos.
Como afirma Mariani,

entendemos, nesta perspectiva, que o denominar não é apenas um aspecto do caráter


de designação das línguas. Denominar é significar, ou melhor, representa uma
vertente do processo social geral de produção de sentidos. O processo de
denominação não está na ordem da língua ou das coisas, mas organiza-se na
ordem do discursivo, o qual relembrando mais uma vez, consiste na relação entre o
linguístico e o histórico-social, ou entre linguagem e exterioridade. (1998, p. 118.
Grifos nossos.)

De acordo com a autora, então, "denominar é significar", o ato de denominar


"organiza-se na ordem do discursivo", por inscrever-se entre o linguístico e o histórico-social.
Partindo destas considerações, nossas reflexões sobre o gesto de nomear, nesta seção, se darão
em dois caminhos. Em uma primeira parte, levantamos algumas questões referentes ao nome

5
Chamamos a atenção aqui para o guarani, língua e sujeito.
15
da língua guarani, ou melhor, aos nomes que se produziram historicamente e que são
significados em relação à unidade imaginária desta língua. Posteriormente, direcionamos
nossa discussão ao ato de nomear os sujeitos em língua guarani, ou seja, de como o nome do
sujeito se inscreve na história de sua língua.

1.2.1 O nome da língua: che ñe' ẽ, ava ñe' ẽ; guarani, guarani paraguaio, jopará

"No começo era tudo igual" - nos conta Egufo - "mas


não deu certo. Aí, depois que Xixi fez os kura [gente],
fez a divisão do mundo dando uma língua para o índio e
uma língua para o karaiwa [não-índio]; deu também
6
flecha para o índio e arma de fogo para o karaiwa. "

O mito contado por Egufo, na epígrafe que inicia esta seção, coloca o nome na ordem
do divino: "Xixi fez os kura [gente], fez a divisão do mundo dando uma língua para o índio e
uma língua para o karaiwa [não-índio]". Queremos retomar essa divisão das línguas e, mais
especificamente, dos nomes das línguas para discorrer sobre o ato de nomear e sobre quem
nomeia7. Apresentaremos, nesta seção, algumas denominações sobre as línguas guarani, por
concordar que denominar é inscrever sentidos entre o "linguístico e o histórico-social"
(Mariani, 1998). De acordo com o Melià8,

Numerosos grupos indígenas que serão contatados pouco a pouco ao longo de várias
décadas de expedições, entradas e conquistas coloniais falavam uma língua, à que se
dará o nome de Guarani, por se chamar assim o primeiro grupo conhecido à
entrada do Rio da Prata.9 (MELIÀ, 2010a, p. 11. Tradução nossa. Itálico do autor.
Grifos em negrito nossos.)

6
Trecho de um mito Bakairi retirado do artigo Mito e discursividade: um processo metonímico (SOUZA, 2008,
p. 23).
7
Agradecemos à professora Tânia Conceição Clemente de Souza (UFRJ), que, na ocasião do Congresso
Internacional de História das Ideias Linguísticas (ICHOLS), em Portugal, no ano de 2014, nos perguntava sobre
o nome da língua guarani em guarani.Tal conversa resultou nesta discussão, quando a professora nos chamou a
atenção sobre o nome do projeto da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, "Rohayhu Che Ñe' ẽ",
questionando-nos sobre a referência ao nome da língua no projeto em análise.
8
Bartomeu Melià é um padre jesuíta e conhecido pesquisador da língua guarani.
9
"Numerosos grupos de indígenas que serán contactados popo a poco a lo largo de varias décadas de
expediciones, entradas y conquistas coloniales hablaban una lengua, a la que se dará el nombre de Guaraní, por
llamar-se así el primer grupo conocido a la entrada del Río de la Plata". (MELIÀ, 2010a, p. 11)
16
Conforme o autor (ibidem), durante as expedições, o primeiro encontro dos europeus
no Rio da Prata foi com um grupo que dizia "chamar-se Guarení"10 (ibidem) e assim, pouco a
pouco, a denominação Guarani foi sendo aplicada "àqueles indígenas do rio Paraná e do rio
Paraguai, aos que estavam além dos Saltos do Guairá e aos que habitavam a ambas margens
do rio Uruguai"11 (ibidem). Melià (ibidem) acrescenta que foram encontrados diversos grupos
com características culturais comuns, e que "todos eles foram chamados de Guarani". Para o
autor, "por estas e outras características comuns se pode falar de uma língua e cultura guarani
geral, ainda que não uniforme nem idêntica. Há varias línguas guaranis, não uma só" 12
(ibidem, p. 11-12.)

Interessa-nos, da perspectiva discursiva, ressaltar que o nome "guarani" traz a marca


da conquista, a marca do outro. O nome da língua em guarani Ñe' ẽ, que significa "palavra
individual" (VILLAGRA-BATOUX, 2002), aparece no projeto da Secretaria de Políticas
Linguísticas do Paraguay: "Rohayhu Che Ñe' ẽ: una semana en lengua guaraní". "Che ñe' ẽ " -
minha língua - minha palavra individual - aponta para o fato de o processo de nomeação
funcionar de modo diferente em língua indígena e em língua espanhola, em que a língua em
guarani é representada pelo termo "palavra" e não como um nome relacionado ao grupo 13. O
ato de nomear as línguas indígenas em referência aos grupos que as falam é um gesto no
político (GUIMARÃES, 2005) por produzir saberes sobre as línguas e sobre os povos nesta
divisão que significa, organizando o desconhecido ao europeu. Vale destacar, também, que,
ao longo desta tese, partindo de como os autores designavam a língua falada no Paraguai,
utilizamos "língua indígena", "língua guarani" e "guarani", como paráfrase (ORLANDI,
2009), tal como funciona no discurso do colonizador, cujos sentidos ressoam no nome da
língua, reconhecendo, entretanto, que a língua guarani da atualidade não é uma língua
indígena, sendo falada pela comunidade paraguaia em geral, como aponta Niro (2010).

Para além do nome da língua em si, entre "guarani" e "ñe' ẽ ", também é preciso dizer
que este processo de nomeação, seja em guarani, seja em língua espanhola, limita os sentidos

10
"llamarse Guarení" (ibidem).
11
"a aquelllos indígenas del río Paraná y río Paraguay, a los que estaban más allá de los Saltos del Guairá y a los
que habitaban a ambas márgenes del río Uruguay" (ibidem).
12
"Por estas características a todos ellos se los llamó Guaraní. Por estas y otras características comunes se puede
hablar de una lengua y una cultura guaraní general, si bien no uniforme ni idéntica. Hay varias lenguas
guaraníes, no una sola" (ibidem, p. 11-12).
13
Segundo a professora Tânia Conceição Clemente de Souza, este é um funcionamento similar com relação ao
nome da língua Bakairi.
17
para a língua guarani, como se esta fosse uma, como se fosse una. Neste ponto, lembramos
que

não há país que não seja multilíngue. Dito de outro modo: não há país monolíngue.
Não há Estado que, embora em sua institucionalidade apresente sua ou suas línguas
oficiais, nacionais, não se faça no contato com múltiplas línguas. E a língua não é
una, não é uma, não é pura. (ORLANDI, 2012, p. 6. Grifos nossos.)

"A língua não é una". Como nos ensina a autora, a língua de que tratamos, em nosso
estudo, a língua guarani, é uma construção imaginária das várias línguas que foram
designadas como sendo uma língua. Cabe- nos, então, avançar a partir de uma distinção e
formulação que realiza Guimarães e que nos parece, aqui, produtiva e pertinente:

A nomeação é o funcionamento semântico pelo qual algo recebe um nome (não


vou aqui discutir esse processo). A designação é o que se poderia chamar de
significação de um nome, mas não enquanto algo abstrato. Seria a significação
enquanto algo próprio das relações de linguagem, mas enquanto uma relação
lingüística (simbólica) remetida ao real, exposta ao real, ou seja, enquanto uma
relação tomada na história. (GUIMARÃES, 2005, p. 9. Itálicos do autor. Grifos em
negrito nossos.)

A designação, segundo o autor, tem sua espessura histórica por ser uma construção no
simbólico. A designação "guarani", de que tratamos nesta tese, no que tange os discursos
sobre a língua guarani, nos documentos oficiais e nos projetos da Secretaria de Políticas
Linguísticas, é a língua imaginária guarani, sistematizada e gramatizada (AUROUX, 2009
[1992]), e não uma língua indígena, tirada do seu espaço e transposta diretamente aos
documentos. Por esta discussão, podemos afirmar que o sintagma "língua guarani" - que, de
nosso ponto de vista, funciona como uma designação - reúne em si a história do processo de
construção da sociedade paraguaia como bilíngue, em que os nomes das línguas significam
frente à relação de forças estabelecida ideológica, social e historicamente.

No caso, entram no embate do nome da língua, pela historicidade de cada designação,


"guarani", "guarani paraguaio", "jopará", assim como "espanhol", "espanhol guaranizado",
"guarañol" e "castelhano guaranizado". Há muita discussão sobre os nomes das línguas e
sobre o que seriam as línguas faladas atualmente no Paraguai (MELIÀ, 2003; 2010, 2013;
VILLAGRA-BATOUX, 2002; GÓMEZ, 2007, 2009 [2006]; JIMÉNEZ, 2011; ZARRATEA,
2011), contudo, não pretendemos entrar neste campo e discutir qual nome seria mais
18
adequado mobilizar, por reconhecer que toda designação carregará em si uma historicidade.
Entretanto, deixamos nossas considerações sobre o tema, para explicitar que caminhos
tomaremos ao longo desta tese, uma vez que as políticas de língua não se constituem apenas
nos documentos oficiais, mas as teses, os especialistas, enfim, os teóricos também fazem,
direta ou indiretamente, políticas de língua. Ou seja, nossa decisão em utilizar uma outra
designação é também um gesto no político.

No que diz respeito às diferentes designações que circundam a língua guarani nos
documentos oficiais são necessárias algumas considerações. Zarratea (2011, p. 157) defende
que o jopará não é o guarani paraguaio, porque aquele guarda características da oralidade, não
tem uma escrita e tampouco teria sido sistematizado. O autor afirma ainda que "o jopará está
muito longe de constituir-se em dialeto do idioma guarani. É apenas um fenômeno da fala. É a
forma mais precária de falar o castelhano pelos guarani-falantes do castelhano."14 (Ibidem.
Itálico do autor.) Para nós, essas divisão que diz da língua, entre o guarani paraguaio e o
jopará é produtiva para manter a língua espanhola no seu status, por sustentar que a língua
falada no cotidiano, o jopará, é "a forma mais precária de falar o castelhano", colocando a
língua no lugar do erro e, assim, discriminando os falantes que dela se valem. Para compor
esta discussão, lembramos, aqui, o trabalho de Mariani (2011b) sobre as línguas em
Moçambique. De acordo com a autora,

a oposição entre português e pretoguês 15 demarca um modo de significar a


língua através da tradição de uma língua gramatizada, com escrita estabilizada,
com instrumentos linguísticos que tentam assegurar a forma imaginária dessa
língua. É, nesse sentido, é um uso asséptico da língua, em detrimento da língua que
foi se historicizando, modificando-se e incorporando traços da cultura do outro. Ou
seja, a língua imaginária se aprende na escola, mas a maior parte da produção
moçambicana, como vimos, dela estava ausente, em função do modo como se
processa a colonização linguística. (MARIANI, 2011b, p 123-124. Grifos nossos.)

Na relação de forças entre as línguas em Moçambique, como aponta a autora, o


português é significado "através da tradição de uma língua gramatizada" em detrimento da

14
"el jopará está muy lejos de constituirse en dialecto del idioma guaraní. Es apenas un fenómeno del habla. Es
la forma más precaria de hablar el castellano por los guaraní- hablantes del castellano." (ZARRATEA, 2011, p.
157)
15
"Pretoguês" é a maneira como os portugueses designavam a forma de falar português realizada pelos
colonizados negros em Moçambique.
19
outra, o pretoguês, resultado do confronto histórico e linguístico ocorrido naquelas terras. No
Paraguai, o jopará é significado pela via do erro, também "em função do modo como se
processa a colonização linguística (ibidem, p. 123-124). Entretanto, nessa relação, é preciso
salientar que o guarani paraguaio tampouco escapa dessa determinação do confronto histórico
e se marca na relação com a língua espanhola neste processo. Como apontaremos no capítulo
4, a disputa entre puristas e modernos discute a inserção deste guarani paraguaio nas políticas
de línguas do Estado.

Consideraremos, nesta tese, as distinções que faz Melià (2013) entre o guarani dos
povos indígenas, o guarani jesuítico, o guarani paraguaio e o jopará. Para este autor, no
Paraguai, não se trata de discutir o bilinguismo entre o guarani e o espanhol, mas de uma
situação em que entra em jogo uma "terceira língua do Paraguai 16", o jopará ou o guarañol,
que seria o resultado do processo histórico das duas línguas envolvidas.

De sua parte, o jopará não é tampouco uma realidade equidistante entre o


espanhol e o guarani, porque sua relação linguística com os dois sistemas não é
da mesma ordem. Sua relação com o espanhol, ainda que o espanhol paraguaio,
está definida como relação com uma norma estandarizada, sustentada pela literatura
e pela educação escolar; se há "code switching", este se faz por referência a um dos
termos realmente codificado, que é uma invocada correção normal do espanhol.
Entre o guarani e o jopará, entretanto, não há propriamente "code switching",
17
o jopará é o guarani historicamente hispanizado (...) (MELIÀ, 2013, p.82-83.
Aspas do autor. Grifos nossos.)

Como afirma o autor, a relação entre o jopará e o espanhol não é da mesma ordem que
a relação entre o jopará e o guarani, por haver uma manutenção na relação de forças que
historiciza uma hierarquia em que o espanhol aparece como a língua estandarizada. Dos
estudos discursivos, tomamos emprestadas as noções de língua fluida e língua imaginária de
Orlandi e Souza (1988) para afirmar que o guarani paraguaio, por sua sistematização,
funciona como língua imaginária, cujo sistema foi estabelecido pelo processo de gramatização
(AUROUX, 2009 [1992]) pelo qual passou desde a colônia. Com relação a este processo de

16
Cf. MELIÀ, Bartomeu. La tercera lengua del Paraguay y otros ensayos. Colección Academia Paraguaya de la
Lengua Española. Asunción, Paraguay, 2013. 207 p.
17
"Por su parte, el jopará no es tampoco una realidad equidistante entre el español y el guaraní, porque su
relación lingüística con los dos sistemas no es el del mismo orden. Su relación con el español, aun el español
paraguayo, queda definida como relación con una norma estandarizada, sostenida por la literatura y la educación
escolar; si hay "code switching", este se hace por referencia a uno de los términos realmente codificado, cual es
una invocada corrección normal del español. Entre el guaraní y el jopará, sin embargo, no hay propiamente
"code switching", el jopará es el guaraní históricamente hispanizado (...)"
20
gramatização, não estamos afirmando que o processo iniciado pelos jesuítas forjaria a língua
guarani da atualidade e sim afirmar que houve, nas condições de produção específicas das
reduções jesuíticas, um processo de gramatização de uma variedade da língua guarani, o
guarani jesuítico das reduções.

Por sua vez, o jopará, a língua da população, principalmente aquela com menor acesso
à educação em língua espanhola, é significada como a língua fluida, língua não contida nos
"sistemas", não submetida à organização, como diria a própria Orlandi (2009). De nossa
posição, trataremos do guarani paraguaio e do jopará em sua relação de proximidade. Isto
porque, se nos debruçamos sobre os registros sobre a situação linguística no Paraguai, de
acordo com o censo paraguaio de 2002, é possível verificar que o jopará não entra como
opção para a escolha do falante 18 . Por este motivo, trataremos como guarani, guarani
paraguaio e jopará, lembrando que a língua dos documentos produzidos pelo Estado
paraguaio se referem a este guarani - língua imaginária - e que, para nós, este também é
resultado da colonização linguística (MARIANI, 2004).

Com relação à outra língua oficial, nos limitamos a fazer um esclarecimento, pois não
é nosso intuito realizar uma análise nesse sentido. Nos documentos que trabalhamos, aparece,
majoritariamente, a designação castelhano, com alguma variação em que se pode ler
"espanhol" e "língua espanhola". Como exemplo deste uso, temos o texto da Carta de 1967,
em que se lê: "Los idiomas nacionales de la República son el español y el guaraní. Será de uso
oficial el español"19 (Art. 5. Constituição da República do Paraguai, 1967. Anexo V.). Assim,
retomaremos a designação "castelhano" sempre que ela aparecer nos recortes do corpus objeto
de análise 20 . Em nosso texto, prevalecerão "espanhol" e "língua espanhola", formas mais
regulares no contexto brasileiro, sinalizando para as condições de produção específicas deste
trabalho.

18
As opções são: Guarani falantes, guarani bilíngues, castelhano bilíngues, castelhano falantes. (Censo de
población y vivienda, 2002.)
19
"Os idiomas nacionais da República são o espanhol e o guarani. Será de uso oficial o espanhol " (Art. 5.
Constituição da República do Paraguai, 1967. Tradução nossa.).
20
A alternância do nome da língua nos documentos - que se dá também em outros países que tenha o espanhol
como língua oficial - não seria uma questão fácil de resolver, além de não ser nosso objetivo nesta pesquisa. De
fato, essa análise nos distanciaria dos objetivos centrais. Sobre este tema existem muitos estudos. Mencionamos
apenas um clássico: ALONSO, Amado. Castellano, español, idioma nacional. (Historia espiritual de tres
nombres). 3ª ed. Buenos Aires: Losada, 1958.
21
1.2.2 O nome na língua: a história no corpo do sujeito

Ao nascer, a criança cai dentro de uma língua e nela fica plantada mais
profundamente pelo nome que lhe é dado ou imposto. 21 (MELIÀ,
2010b)

Dar nome a uma criança se significa, em nossa sociedade, pelo efeito de obviedade
que traz este gesto, como um ato de simples escolha entre os nomes de uma lista. Entretanto,
baseados nos estudos de Guimarães (2005), podemos afirmar que a escolha do nome próprio
se constitui também como um gesto no simbólico. Ao nomeá-lo, o sujeito é inscrito numa
rede de relações de sentidos com os demais sujeitos22 e com o Estado. Sim, com o Estado. No
gesto de nomear, a língua do Estado é questão fundamental, como nos ensina Guimarães
(ibidem):

O sentido do nome próprio lhes constitui, em certa medida, O sentido constitui o


mundo que povoamos. E o constitui enquanto produz identificações sociais que são
o fundamento do funcionamento do indivíduo enquanto sujeito. E aqui é preciso
lembrar que este processo de identificação se faz no espaço de enunciação da
Língua do Estado, e assim identifica o indivíduo como cidadão. (ibidem, p. 41.
Grifos nossos.)

Pelo que afirma este autor, o processo de nomeação se faz "no espaço de enunciação
da língua do Estado", por identificar o indivíduo como cidadão em determinada língua e
espaço. Após o nascimento, os pais devem registrar o bebê para dar-lhe existência frente ao
Estado e isto deve ser feito em uma língua. Não raro nomes são proibidos por serem
diferentes do que se aceita como normal ou porque, supostamente, ofenderiam à criança. E em
que o gesto de nomear uma criança se vincularia a um estudo sobre as políticas de línguas?

Para nós, o gesto de nomear se vincula à memória das línguas, em que se impõe uma
relação do cidadão com o Estado. Tomamos como ponto de partida, para abordar esta questão,
uma notícia publicada recentemente em páginas de jornais on line do Paraguai, da qual

21
"Al nacer, el niño cae dentro de una lengua y en ella queda plantado más profundamente por el nombre que le
es dado o impuesto." (MELIÀ, 2010b, p. 197. Tradução nossa.)
22
Sobre esta questão, cf. Nome e constituição do sujeito (MARIANI, 2014).

22
apresentamos um recorte em nota de rodapé. 23 Na notícia, lê-se que uma funcionária do
Registro Civil do Paraguai teria se negado a registrar uma criança com o nome de Lautaro
Ñamandú. Tal nome, segundo a funcionária, ofenderia à criança ao que os pais explicaram
que ambos os nomes eram de origem indígena: Lautaro dos Mapuches do Chile e Ñamandú
da mitologia24 guarani, que representariam a força da criança, nascida prematura. Depois do
ocorrido, a Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai se pronunciou e apresentou um
projeto que tem como proposta elaborar, juntamente com o Registro Civil paraguaio, uma
lista de nomes possíveis no país, incluindo os nomes em língua guarani.

Tomados pelo enunciado-título de Mariani (2007a), "Quando as línguas eram corpos",


a veiculação da notícia, com a proibição do registro de um nome em língua indígena no
Paraguai, nos fez refletir sobre a marca da história no corpo do sujeito, em que nomear é um
gesto no simbólico, que produz efeitos de sentidos sobre o próprio sujeito, escrevendo sua
história pessoal e social, a partir do seu nome. Interessa-nos, então, retomar a questão de
Mariani sobre o nome próprio. Como afirma a autora,

a ausência do nome próprio 'conveniente e racional', nas palavras do colonizador,


remete para o lugar eurocêntrico de onde se fala nessa época histórica. Afinal, o que
seria um nome próprio conveniente? Conveniente pra quem? E racional, para o
europeu do século XV? (ibidem, p. 103. Aspas simples da autora. Grifos nossos.)

Como questiona a autora sobre o nome dos línguas na África, "o que seria um nome
próprio conveniente? Conveniente pra quem?" Voltando ao nome Lautaro Ñamandú, por
extensão, nos perguntamos: ofensivo pra quem?

23
Neste recorte, trazemos parte da notícia veiculada sobre o nome da criança: "El nombre de Lautaro Ñamandú,
con el que una pareja quiso inscribir a su hijo recién nacido en Asunción, provocó una reacción airada por parte
de una funcionaria del Registro Civil, que se negó a inscribir al niño alegando que 'odiaría a sus padres' por los
apelativos elegido. 'La funcionaria se puso muy violenta, nos maltrató, y se negó a inscribir a nuestro hijo. Nos
dijo que ése no era un nombre para una persona, y nos preguntó qué clase de padres íbamos a ser', relató a Efe
Rubén Cáceres, el padre del niño. Cáceres explicó que Lautaro es el nombre de un guerrero indígena de la etnia
de los mapuches chilenos, mientras que Ñamandú es un nombre sagrado en la mitología de los guaraníes, que
hace referencia al origen del universo." Disponível em: http://www.ultimahora.com/paraguay-una-nacion-
bilinge-que-rechaza-los-nombres-guarani-n864863.html. Publicada em: 17 de janeiro de 2015. Acesso em: 20 de
janeiro de 2015. (Anexo XVII)
24
Não vamos aqui tomar a discussão religiosa, mas queremos apontar que dizer, neste contexto, "mitologia
guarani" é inscrever os sentidos em uma rede que afirma haver uma religião católica aceita em que a religião
indígena passa a ser significada como da ordem da fantasia, do mitológico.
23
Num estudo sobre as comunidades indígenas tupinambás, Melià e Temple25 (2004)
afirmam que, nesse contexto:

ser filho, ou irmão ou do mesmo sangue, é compartilhar uma mesma identidade


com seus parentes; é participar do ser comum. Desde esse momento o recém-
nascido assume a morte de seu parente e esta morte lhe outorga uma alma de
vingança.
O nome da criança, significa uma consciência muito precisa: uma consciência de
matar; ou seja, a consciência de um ato contrário à morte do parente com o qual se
identifica a criança, morte que é devida também a um homicídio. O nome é uma
26
promessa de vingança. (Ibidem, p. 89-90. Tradução nossa. Itálicos dos autores.
Grifos em negrito nossos.)

O gesto de nomear tem historicidade. Como afirmam os autores sobre os tupinambás,


nomear no seio desta comunidade indígena significa vingar o nome do parente morto. A
criança carrega a simbologia que significa no interior da comunidade.

No caso referido nesta seção, do nome indígena negado à criança paraguaia, a


interdição do nome marca a interdição da própria língua. A individualização pelo Estado
(ORLANDI, 2009), marcada também pela entrada do sujeito na sociedade, a partir de seu
nome - ou da interdição deste - mostra como o discurso do europeu se inscreve na sociedade
paraguaia. Como postula Orlandi (2008 [1990], p. 59. Aspas da autora.), "o silêncio do
nomear faz intervir o 'interdiscurso' do outro (o europeu), fazendo-nos significar (quer
queiramos quer não) na história dos 'seus sentidos'."

A interdição do nome em mapuche e em guarani nos conduz a trazer, na introdução


desta tese, os diversos silenciamentos aos quais foram impostos - e aos quais continuam sendo
- os povos americanos, neste efeito de evidência, inclusive quando se trata de nomear. Como
resume Mariani, em seu estudo sobre os línguas 27,

25
Os autores retomam os estudos de Hans Staden e Forestan Fernandes para tratar dos tupinambás brasileiros.
26
"Ser hijo, o hermano o de la misma sangre, es compartir una misma identidad con sus parientes; es participar
del ser común. Desde ese momento el recién nacido asume la muerte de su pariente y esta muerte le otorga un
alma de venganza.
El nombre del niño significa una conciencia muy precisa: una conciencia de matar; es decir, la conciencia de un
acto contrario a la muerte del pariente con el cual se identifica el niño, muerte que es debida también a un
homicidio. El nombre es una promesa de venganza." (MELIÀ e TEMPLE, 2004, p. 89-90)
27
Trataremos da questão dos "línguas" no terceiro capítulo.
24
atribuir um nome próprio associado a um nome de família, e batizar de acordo
com os preceitos cristãos, são atos de linguagem, dizeres que significam visando
atribuir identidade unívoca, ou ainda, conferir uma individuação ligada a uma
linhagem. Por extensão são atos que permitem a inserção e a produção de
imaginários para aquele indivíduo designado com aquele nome. O nome próprio
carrega consigo o nome do pai e, no nome do pai, o nome da nação e da língua
dessa nação. Língua e traços histórico-culturais, como linhagem, inserção na fé
católica e, até mesmo, nacionalidade, se materializam nesse gesto de
nomeação/interpretação para os povos ocidentais. (MARIANI, 2007a, p. 103.
Grifos nossos.)

Segundo Mariani, no contexto da colonização, o gesto de nomear dos africanos não


era reconhecido pelos portugueses, que significavam suas formas de nomeação pela
irracionalidade. Para os portugueses, o nome próprio deveria representar uma "linhagem" e a
"inserção na fé católica". Em nosso estudo, no Paraguai atual, na sociedade civil, o gesto de
nomear também recorre a esta memória da colonização, em que se recupera uma "linhagem".
"O nome próprio carrega consigo o nome do pai e, no nome do pai, o nome da nação e da
língua dessa nação" (ibidem). E quando esta língua nacional é uma língua de origem
indígena? E quando não é possível nomear em língua guarani? A partir da notícia veiculada,
pela impossibilidade de nomeação da criança, podemos afirmar que o próprio gesto de
nomear explicita as marcas da colonização, tanto com relação à língua com que se escreverá o
nome da criança, como na própria ordem - nome do pai / nome da mãe28. Neste contexto, o
nome Lautaro Ñamandú não teria sido reconhecido pela funcionária tanto pela materialidade
da língua, por não ser um nome comum em língua espanhola, como pela falta de referência a
uma "linhagem" explicitada pelos nomes das famílias do pai e da mãe.

Com estas questões que apresentamos, objetivamos dar início à discussão que
queremos propor nesta tese, de como o político se inscreve nos diversos gestos e de como a
língua guarani é interditada e, como consequência, silenciada, pela memória da colonização
inscrita no simbólico.

28
No Paraguai, o nome do pai aparece primeiro dentre os sobrenomes da família.
25
1.3 A ORDEM DA ESCRITA E A ORGANIZAÇÃO DA TESE

Nesta seção, buscamos apresentar de maneira panorâmica os capítulos desta tese. A


escrita tem sua própria ordem e não é linear. Nosso trabalho como analistas do discurso é
buscar compreender os processos de produção de sentidos, na relação que se coloca pela
ordem da língua na ordem da história. Sendo assim, esta organização é um gesto, que nos
possibilitou produzir seis capítulos - entre os quais estão esta introdução e aquele que
funciona como conclusão. Passamos a descrevê-los.

Este primeiro capítulo de introdução está dividido em três seções. Nas Primeiras
palavras, apresentamos a motivação que nos levou a construir este trabalho e a pergunta que
direcionou nossa pesquisa até sua conclusão. Nesta seção, também justificamos nossa opção
teórica de manter o corpus em língua espanhola, bem como algumas questões sobre a
construção do arquivo. Na segunda seção deste capítulo, O nome da língua e o nome na
língua: a marca da história no guarani, trazemos algumas questões sobre o nome da língua
guarani e o próprio ato de nomear em língua guarani. Nesta terceira seção, A ordem da escrita
e a organização da tese, objetivamos apresentar os capítulos para situar, de modo geral, o
trabalho que ora se apresenta.

No segundo capítulo, A História das Ideias Linguísticas e o Estado paraguaio,


apresentamos o escopo teórico que norteia esta tese, a partir dos apontamentos realizados na
base de nosso campo de pesquisa, seguido de uma seção que visa discutir as políticas de
línguas sobre o guarani e o espanhol no Paraguai, além das discussões teóricas travadas sobre
Nações e nacionalismo e sobre a divisão imaginária que diz das línguas como maternas,
oficiais, nacionais ou estrangeiras.

Em História, língua, sujeito: os sentidos dos (dis)cursos da história, o terceiro


capítulo, seguimos a produção de sentidos sobre as línguas do/no Paraguai a partir do discurso
da História escrita sobre o Paraguai. Explicamos nossa concepção de história como discurso e
como a historicidade dos processos de produção de sentidos nos levou a selecionar três
períodos que dão nome a três subseções: 3.2.1 A colônia, os jesuítas e as reduções; 3.2.2 O
século XIX: da Independência à Guerra da Tríplice Aliança; e 3.2.3 Stroessner: nacionalismo
e identidade nacional. Na última seção, deste terceiro capítulo, 3.3 Os ecos do discurso

26
histórico na construção do imaginário nacional, buscamos discutir como o que se diz na
história sobre o Paraguai ressoa e produz sentidos que se repetem no imaginário social sobre o
Paraguai.

No quarto capítulo, Sentidos sobre o guarani e o espanhol: políticas de línguas do


Estado paraguaio, propomos Uma História das Ideias Linguísticas do guarani, e passamos,
na sequência para a análise de documentos oficiais do Paraguai: as Cartas Magnas, de 1813 a
1992; a Lei Geral de Educação nº 1264/1998; a Lei n° 3231/2007; e a Lei de Línguas nº
4251/2010, além de questões referentes ao papel da Academia da Língua Guarani e da
Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai.

Em A construção de uma nação bilíngue?, nosso quinto capítulo, objetivamos


compreender a situação do bilinguismo a partir da análise de documentos referentes à
Comissão Nacional de Bilinguismo e à Secretaria de Políticas Linguísticas, além de analisar
um projeto proposto por este órgão do governo, o "Rohayhu Che Ñe’ẽ: Una semana en lengua
guaraní".

No capítulo 6, Considerações finais: um bilinguismo imaginário, a partir de nossas


análises, propomos a noção de "bilinguismo imaginário" por verificar que o governo
paraguaio, a partir dos projetos que implementa, tem promovido uma imagem de bilinguismo
sem que realmente os projetos consigam desvincular-se da memória da colonização em que a
língua espanhola é significada como a mais adequada no espaço de enunciação paraguaio e
mundial na atualidade.

Por fim, na sequência, apresentamos as Referências e os Anexos, em que trazemos os


documentos do arquivo em sua íntegra.

27
2 A HISTÓRIA DAS IDEIAS LINGUÍSTICAS E O ESTADO PARAGUAIO

A atual Constituição da República do Paraguai, promulgada em 1992, oficializou a


língua guarani, juntamente com o espanhol, produzindo novos dizeres sobre as línguas deste
país e sobre o próprio país, significando-o como bilíngue. Vale lembrar o que afirma Niro
sobre esta situação: "o guarani é uma língua que resulta majoritária em uma vasta zona da
América do Sul e que conta com a particular característica de ser, diferente de outras línguas
ameríndias, também falada pela população não indígena."29 (2010, p. 209. Tradução nossa.)
Por estas questões, podemos afirmar que, no panorama histórico e linguístico da América
Latina, o reconhecimento oficial do guarani inaugura a possibilidade de uma nova rede de
sentidos, que inscreve, discursivamente, a língua guarani no lugar da instituição, da lei e de
um jogo político novo que implica relações de inclusão e de exclusão - e até de interdição, em
determinados espaços - das demais línguas do país, com as línguas indígenas, com a língua
de fronteira - na relação específica que aí se trava com o português do Brasil - ou, ainda, com
as línguas de imigração. De acordo com Zarratea,

estão identificados dentro do país 17 grupos étnicos de origem americana; é um


grupo amplamente majoritário (94%) resultante da intensa interação humana entre
guaranis e europeus; 6 grupos minoritários portadores de línguas e culturas
europeias e 4 grupos de origem asiática. Com relação às línguas, são faladas dentro

29
"El guaraní es una lengua que resulta mayoritaria en una vasta zona de América del Sur y que cuenta con la
particular característica de ser, a diferencia de otras lenguas amerindias, también hablada por la población no
indígena." (NIRO, 2010, p. 209)
28
30
país um total de 16 línguas através de dialetos. (ZARRATEA, 2011, p. 71. Grifos
nossos. Tradução nossa.)

O autor acrescenta afirmando que há, no total, 29 grupos culturais, somados os grupos
de falantes das duas línguas oficiais. Nesta realidade pluricultural, o guarani é a única língua
de origem indígena oficializada em proporção nacional no continente americano falada
também pela população não indígena31. Baseados, então, nas determinações da Carta Magna
de 1992, nos perguntamos:

1. O que significa para o guarani ser língua oficial da república paraguaia?

2. Quais são, então, as ações no âmbito político, econômico e social que possibilitam que a
língua guarani funcione no real como língua oficial?

3. Como o Estado atua pela promoção da língua guarani em sua disputa pelo espaço de
enunciação paraguaio com a língua espanhola?

4. Como as leis paraguaias promulgadas após a Constituição de 1992 significam as línguas


guarani e espanhola no Paraguai?

5. Como são significados o guarani e o espanhol nos projetos da Secretaria de Políticas


Linguísticas do Paraguai?

6. O que significa para a língua guarani estar em situação de bilinguismo com a língua
espanhola?

Estas questões foram se delineando ao longo de nossa pesquisa, quando, frente aos
diversos documentos que visam garantir o lugar do guarani na sociedade paraguaia,
analisamos os dizeres sobre esta língua e sobre a possibilidade de uma língua de origem
indígena ocupar todos os espaços institucionais daquele país. Assim, pretendemos fazer, neste
capítulo, um percurso que objetiva compreender os modos de produção dos sentidos sobre as
línguas guarani e espanhola no Paraguai, trazendo para este estudo algumas questões
formuladas no campo da História das Ideias Linguísticas, em sua vertente discursiva, que

30
"Se hallan identificados dentro del país 17 grupos étnicos de origen americano; es un grupo ampliamente
mayoritario (del 94%) resultante de la intensa interacción humana entre guaraníes y europeos; 6 grupos
minoritarios portadores de lenguas y culturas europeas y 4 grupos de origen asiático. En cuanto a las lenguas,
son habladas dentro del país un total de 16 lenguas a través de dialectos." (ZARRATEA, 2011, p. 71.)
31
No Peru, por exemplo, as línguas quíchua e aimará têm sua oficialidade reconhecida relacionada ao território
onde são faladas.
29
discutem a formação do Estado Nacional paraguaio, as denominações sobre as línguas e o
processo de gramatização de uma língua de origem indígena.

Escrever uma História das Ideias Linguísticas sobre uma língua de origem indígena
significa colocar em discussão as disputas históricas, territoriais e linguísticas, nas línguas e
sobre as línguas, colocando em relação os sentidos que aparecem como evidentes nas
formulações das políticas de línguas no Paraguai, e principalmente, aquelas que circulam no
cenário linguístico nacional como políticas pró-bilinguismo.

Dividimos o capítulo em quatro seções. Iniciaremos com Uma História das Ideias
Linguísticas, com o propósito de expor o campo teórico no qual nos baseamos para analisar as
discursividades sobre o guarani: a História das Ideias Linguísticas (AUROUX 2009 [1992];
ORLANDI, 1988, 2008 [1990]) na aliança que vem fazendo com a Análise do Discurso de
linha materialista no Brasil. Em seguida, em O político na língua e as políticas de língua,
explicitaremos as políticas linguísticas sobre o guarani a partir do conhecimento produzido no
campo da História das Ideias Linguísticas, com base em Orlandi (1998), Mariani (2004),
dentre outros. Na seção 2.3, intitulada Sobre nações e nacionalismo, discorreremos sobre a
relação entre língua, sujeito e nação em nosso campo teórico, pautados sobretudo em Orlandi
(2008 [1990], 2003 [1993], 2009), Rodríguez Zuccolillo (2000) e Thiesse (1999); Para
encerrar o capítulo com a seção 2.4, Entre o materno, o oficial e o nacional, uma divisão
imaginária, analisaremos o funcionamento das designações entre língua materna, língua
oficial e língua nacional.

2.1 UMA HISTÓRIA DAS IDEIAS LINGUÍSTICAS

Como já dissemos, no capítulo introdutório, nos filiamos teoricamente aos estudos da


História das Ideias Linguísticas, mais especificamente, no caminho iniciado por pesquisadores
brasileiros como Orlandi, Guimarães, Pessoa de Barros, entre outros, nos anos 1980, e que a
partir do convênio estabelecido com Auroux, com o projeto L'hiperlangue brésilienne (1998),
ganhou âmbito internacional. Com os estudos sobre a língua brasileira (ORLANDI, 2009), o
projeto coordenado pela professora Orlandi objetivava analisar os sentidos de “brasilidade”32

32
O projeto se intitulava “Discurso, Significação, Brasilidade” (ORLANDI, 2001b).
30
na perspectiva discursiva. Por este motivo, muitos dos trabalhos a que recorreremos tratam
mais detidamente sobre a língua nacional do/no Brasil e a colonização portuguesa. A partir
deste projeto e em sua articulação com os estudos em História das Ideias Linguísticas, outras
pesquisas se desenvolveram, em que se passou a pensar em outras línguas nacionais e outros
modos da relação língua-sujeito. Dentre outros, baseamo-nos nos trabalhos de Orlandi (1983,
1988, 2009 [1990]); Mariani (2007a, 2011a) sobre as línguas na África; Rodríguez-Alcalá
(2000, 2001a) sobre o guarani no/do Paraguai; Payer (2006, 2011) sobre a língua dos
imigrantes italianos no Brasil, dentre outros. Deste modo, pretendemos contribuir para as
reflexões dentro da teoria, pautados nestes estudos que nos norteiam e nos conduzem a
desenvolver as reflexões sobre nosso objeto. A partir das colocações postas, desenvolveremos
alguns pontos que nos parecem imprescindíveis para o desenrolar de nossa reflexões sobre
certos aspectos sobre as línguas no Paraguai.

Faremos, então, uma leitura sintomática (ALTHUSSER, 2003 [1971]) dos textos que
compõem nosso corpus, a fim de compreender a constituição, a formulação e a circulação dos
sentidos sobre língua e sujeito sempre em sua relação com o Estado no Paraguai. Althusser
(ibidem) propôs o modo de leitura que tomamos aqui, sintomal (ou sintomática), baseado na
leitura que fazia da obra de Marx. Para Althusser, era possível depreender no modo de escrita
de Marx os seus próprios meios de leitura dos seus predecessores. Reformulando a questão da
leitura sintomática em Althusser pela Análise do Discurso, Mariani (2008) afirma que este
tipo de método serviria “para construir um modo de ler que trabalha nas lacunas, nas
contradições, nos silêncios da materialidade do texto.” (ibidem, p. 4)

Não se pode esquecer ainda de um ponto fundamental em Análise do Discurso: não há


uma origem do dizer, não há um sentido anterior, nem um sujeito que domina aquilo que diz.
Entendemos, desse modo, que sujeito e sentido se constituem mutuamente (PÊCHEUX, 1988
[1975]; ORLANDI, 2009). Mariani (2006) propõe um deslocamento em que dirá que o sujeito
do inconsciente e a cadeia significante se constituem na simultaneidade de uma temporalidade
lógica (ibidem), ou seja, que a estrutura inconsciente em que se constitui o sujeito está
diretamente relacionada a sua entrada na rede de significantes. É então no simbólico,
compreendido na forma como Lacan define, que se constitui o sujeito e nessa constituição, em
que os significantes não têm sentido, nessa cadeia significante, o real já está posto, ou seja, o
real como impossível (Lacan, 1996 [1964], 1985; Pêcheux, 1988 [1975]). Esse deslocamento
aponta para o fato de que, na constituição dos sentidos e do sujeito, do ponto de vista da

31
Análise do Discurso, o significante está colocado, assim como o real, por quanto, podemos
afirmar que a língua se faz presente na constituição subjetiva, pois é pela relação do sujeito
com sua língua materna33, que o sujeito constitui o seu dizer.

Payer (2006), em seu estudo sobre a língua dos imigrantes italianos no Brasil, tratará
da língua enquanto materialidade simbólica que estrutura o sujeito de linguagem. Para a
autora, “o sujeito e o sentido se constituem ao mesmo tempo através da língua. Enquanto
materialidade simbólica, a língua estrutura como tal o sujeito de linguagem” 34. (ibidem, p.
195). Com base na proposição de Orlandi, no deslocamento feito por Mariani e na afirmação
de Payer, podemos afirmar que língua e sujeito se constituem mutuamente, visto que
consideramos a língua no processo de constituição dos sentidos, deslocamento este que nos
parece necessário para tratar da relação língua nacional/ sujeito nacional.

Com base nas questões desenvolvidas pelo campo teórico em que nos inscrevemos,
formulamos nossas perguntas de pesquisa, apresentadas anteriormente, com as quais
buscamos compreender a relação do sujeito com a língua quando seu dizer está determinado,
dentre outras questões, por uma língua oficial que não é sua língua materna, considerando,
desse modo, a relação língua nacional/sujeito nacional e língua oficial/cidadão no processo de
produção de sentidos sobre o guarani no Paraguai. Essas perguntas que fomos construindo
apontam para a compreensão da relação língua e sujeito e os efeitos dessa relação na
implementação das políticas de línguas do Paraguai. Também a partir destes questionamentos,
confrontaremos as noções de língua nacional, língua oficial e língua materna, noções que se
confundem e que se auto-recobrem pela instituição de uma língua oficial que se promove
como nacional, silenciando as línguas maternas.

Escrever uma História das Ideias Linguísticas discursivamente significa procurar


equivocar os sentidos fixados na história, colocando-se criticamente frente aos dizeres sobre
as línguas. Com nossa tese, almejamos compreender e analisar o processo de formulação e
circulação dos saberes sobre o guarani e o espanhol, bem como compreender o processo de
produção das políticas de línguas deste Estado na atualidade.

33
Consideramos relevante trazer aqui um esclarecimento: retomando os estudos de Serrani [1997], Payer (2006)
ressalta que a língua materna não é, necessariamente, aquela falada pela mãe. A língua materna, de que tratam os
estudos psicanalíticos, é uma função enquanto instrumento da estruturação simbólica e não se confunde com a
materialidade da língua, falada pela mãe, que é a "matéria dessa estruturação" (PAYER, 2006, p. 133)
34
Payer (2006) trabalha na relação que se estabelece no encontro da materialidade simbólica da língua materna -
de imigrantes italianos - com o português como nacional no/do Brasil.
32
Durante o século XIX, considerar a história nos estudos linguísticos significava
considerar a língua como produto da história, segundo analisa Orlandi (1983, p 14). Não
propomos neste trabalho considerar a língua como produto, mas falar da língua para falar da
história da sociedade paraguaia. Conforme ressaltou a autora (ibidem, p. 15-16) sobre o
trabalho em História das Ideias Linguísticas no Brasil,

(...) ao invés de fazer a história da sociedade brasileira aí incluindo a língua,


procuro mostrar como o estudo sobre a história da língua e de seu
conhecimento pode nos "falar" da sociedade e da história política da época,
assim como do que resulta como ideias que se constituem e que nos acompanham ao
longo de nossa história. (ibidem. Grifos nossos.)

Segundo Orlandi (ibidem), um estudo sobre a história da língua fala "da sociedade e da
história política da época" e nos aponta para a compreensão da constituição dos sentidos ao
longo da história, incluindo aí a inscrição dos sentidos na produção de políticas sobre as
línguas. Desse modo, fazer História das Ideias Linguísticas, na perspectiva tomada, é
considerar que as ideias sobre as línguas fazem história e fazem circular sentidos sobre as
línguas e sobre seus falantes. Trabalhar sob a perspectiva da História das Ideias Linguísticas
permite que leiamos a história das línguas sabendo que há história na língua e que há língua
na história, possibilitando também articular a história dos saberes metalinguísticos e das
políticas de línguas com a história da construção da língua nacional.

E como falar é um prática política (ORLANDI, 1988), pois inscreve diferenças, todo
dizer sobre as línguas é também uma prática política, por estabelecer uma divisão de sentidos.
Tomar a palavra é um ato político por fazer dizer certos sentidos e calar outros, por colocar na
ordem da evidência certas questões e não outras, por possibilitar que alguns dizeres colem na
história - do sujeito e da nação. Para poder ler de outro modo, a partir de uma perspectiva
materialista da língua e da história, o analista do discurso poderá ler a história, interpretá-la a
partir de um dispositivo teórico/analítico, que lhe possibilitará pôr em relação os sentidos,
num gesto de leitura (ORLANDI, 2010 [1994]) que investiga os saberes sobre as línguas. Nas
palavras de Orlandi, "organizamos uma reflexão que se inscreve nas chamadas novas práticas
de leitura, propostas pela Análise do Discurso francesa e que trabalham de maneira
característica a construção de arquivos, ou seja, a leitura da história, sua interpretação." (2001,
p. 9)

33
Essa leitura da história só é possível porque tratamos a história também como
discurso. Como trataremos mais adiante, no terceiro capítulo, a história também é contada e
recontada a partir de uma interpretação, que faz com que alguns sentidos colem e passem a ser
narrados como "verdade". E, ainda, pela leitura da história, a partir do que se diz sobre as
línguas, é possível relacionar o dizer com todas as suas possibilidades: pela materialidade do
texto podemos detectar as relações com o funcionamento da memória do dizer e, inclusive, o
que não foi dito, o que está silenciado. São as marcas dos dizeres sobre a língua na história e
nos textos que fazem história.

O próprio dessas práticas é relacionar o dizer com o não dizer, com o dito em
outro lugar e com o que poderia ser dito. Essa escuta tem de particular o ser
sensível às relações de sentido - seja pelo trabalho da memória (o interdiscurso)
seja pela menção (a intertextualidade). O que praticamos, então, são novos gestos
de leitura, percorrendo os caminhos dos sentidos. Em nosso caso, os sentidos que
sustentam a produção de um conhecimento linguístico que se foi produzindo junto à
constituição de nossa língua. (ORLANDI, 2001, p. 9. Grifos nossos.)

De acordo com o que nos diz Orlandi (ibidem), são gestos de leitura que nos fazem
escutar as relações de sentidos, considerando as possibilidades de produção de sentidos sobre
as línguas na história. Neste estudo é nosso objetivo compreender as relações de sentido na
memória do dizer sobre as línguas guarani e espanhola e fazer uma história do conhecimento
que foi produzido sobre elas, por meio de uma leitura discursiva do percurso histórico-
linguístico, que se organizou em torno dessas línguas.

No Paraguai, o guarani ocupa um lugar35 de língua oficial/nacional/materna, entretanto


é preciso desnaturalizar estes sentidos, no caso, através do suporte teórico-metodológico ao
qual nos filiamos. Analisar as línguas dos países que foram colonizados é buscar
compreender, de certa forma, a constituição dos novos Estados Nacionais, criados a partir da
projeção da imagem de unidade, a qual incide também na formação de imaginários de língua
nacional.

Para proceder a tal análise, tomamos as constituições nacionais, as leis sobre a


educação no país e as políticas de línguas não como textos prontos, em sua aparente

35
Consideramos a noção de "lugar" tal como abordado por Celada, em uma retomada dos estudos de sua tese
(CELADA, 2002). Conforme desenvolvido pela autora, "cuando decimos 'lugar' nos referimos específicamente a
los saberes que a tal lengua le son supuestos, de forma que pueda llegar a ser pensada o tomada como objeto de
aprendizaje y de todas las inversiones subjetivas que este trabajo implica." (2010, p. 39)
34
organização, mas como um processo sempre em curso, que constitui discursos sobre
determinado país. Para Orlandi,

Tomar esses textos como documentos é resultado de um efeito ideológico discursivo


elementar: toma-se como evidência o que na realidade é já uma construção do
imaginário discursivo. Tomar esses textos como documentos é já alinhar-se
numa interpretação dada da história. (ORLANDI, 2008 [1990], p. 140)

Como nos ensina a autora, ler estes textos pensando que estão prontos, sem relacioná-
los com o seu processo de construção, seria aceitar a evidência de um sentido fechado,
determinado e único ou, como afirma Orlandi (ibidem), seria alinhar-se "numa interpretação
dada da história". Objetivamos pensar nosso arquivo discursivamente como textos produzidos
em determinadas condições de produção, que guardam sua relação com a memória
(PÊCHEUX, 2007) e com o interdiscurso (PÊCHEUX, 1988 [1975]) e que, desse modo,
significam produzindo efeitos de sentidos. Nessa relação com a memória, o que se disse sobre
as línguas em determinadas condições históricas de produção faz ressoar sentidos para a
língua guarani e para a língua espanhola na atualidade. Baseados nos estudos de Serrani
(1991), trataremos dos sentidos que ressoam na história em que as paráfrases funcionam como
"ressonância interdiscursiva de significação". Nas palavras da autora:

Entendo que há paráfrase quando podemos estabelecer entre as unidades


envolvidas uma ressonância interdiscursiva de significação, que tende a
construir uma realidade (imaginária) de um sentido. Ressonância porque para
que haja paráfrase a significação é produzida por meio de um efeito de eco
entre as unidades; elas soam de novo, acontecendo uma vibração semântica
mútua. A meu ver, a noção de ressonância permite incluir na própria conceituação
de paráfrase, o sujeito da linguagem, pois ela sempre ressoa para alguém, tanto na
dimensão dos interlocutores empíricos projetados no discurso (projeção para qual é
fundamental o domínio das formações imaginárias_ quanto para a dimensão do
sujeito, no sentido foucaultiano do termo, ou seja, o do lugar dominante de
enunciação em uma formação discursiva de referência. (Ibidem, p. 103-104)

De acordo com as considerações de Serrani (ibidem), há paráfrase quando a


"significação é produzida por meio de um efeito de eco". Assim, mobilizaremos igualmente
"ecoar" e "ressoar" entendendo-os como efeito visto que, pela ressonância interdiscursiva de
significação, algo "soa de novo", tanto para os interlocutores, como para o sujeito. Partindo do
que afirma a autora e tomando nosso objeto, verificamos que certos sentidos ressoam na

35
relação que se trava entre a memória sobre o guarani e o espanhol e as políticas de línguas do
Estado paraguaio.

Destarte, podemos afirmar que, nesta relação, também se marca o funcionamento do


"discurso sobre" (ORLANDI, 2008 [1990]) na memória discursiva, produzindo sentidos para
a língua guarani e para a língua espanhola no Paraguai. Conforme Orlandi, o “discurso sobre”
se constitui como “uma das formas cruciais da institucionalização dos sentidos”, alçando um
dizer, silenciando outros. Por outro lado, “é um lugar importante para organizar as diferentes
vozes (dos discursos de)” (ORLANDI, ibidem, p. 37). Segundo Mariani, “os „discursos sobre‟
atuam na institucionalização dos sentidos, portanto, no efeito de linearidade e de
homogeneidade da memória” (1998, p. 60).

Também pelo funcionamento do "discurso sobre" a memória das línguas no Paraguai,


foi construída uma imagem de nação bilíngue, que teve seu reconhecimento oficial na
Constituição Nacional de 1992, vigente na atualidade, na qual se institui por meio de uma
política de línguas o que chamamos de bilinguismo oficial. Ou seja, há um efeito de
reconhecimento oficial de uma situação de bilinguismo nos documentos que dizem sobre as
línguas do Paraguai, e que, contudo, não promovem uma sociedade bilíngue, como
apontaremos posteriormente, no capítulo 5, ao tratar dos projetos políticos pró-bilinguismo no
país. Desse modo, ainda que circule um efeito de que a República do Paraguai considere
oficialmente o guarani materializado nas políticas linguísticas, fora de tais políticas, a língua
guarani ainda ocupa um lugar de língua familiar (vinculada ao âmbito familiar), língua para
ser falada entre os pares (MELIÀ, 2013), não sendo reconhecido o seu lugar de língua oficial
nas instituições públicas do país (ZARRATEA, 2011). Sobre este tema, Zarratea (ibidem, p.
91-92) faz uma crítica à determinação da Lei de Línguas, que estabelece que, dentre os
direitos linguísticos do cidadão, está o de comunicar-se com os funcionários de instituições
públicas em uma das duas línguas oficiais, como aponta o recorte na sequência: "comunicarse
con los funcionarios públicos en general en una de las dos lenguas oficiales"36 (Art. 9. Lei de
Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX). Segundo o autor, o ante-projeto desta lei previa que
todos os funcionários deviam ser bilíngues e os senadores teriam votado contra sua inclusão
deste modo e alteraram o artigo para a versão publicada na lei. Para Zarratea,

36
"Comunicar-se com os funcionários públicos em geral em uma das duas línguas oficiais" (Art. 9. Lei de
Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX. Tradução nossa.)
36
isso supunha naturalmente a existência ineludível de funcionários públicos
bilíngues. Os senhores Senadores não quiseram obrigar ao Estado a selecionar
empregados entre os cidadãos bilíngues, e isso revela a intenção de preservar os
cargos da função pública nas mãos dos castelhano-falantes, donos absolutos dos
37
cargos públicos desde a independência do Paraguai até nossos dias (ibidem, p. 92.
Grifos nossos).

Em sua crítica, Zarratea (ibidem) aponta para o que tomamos como um modo de
funcionamento que atravessa a produção das leis que promovem o bilinguismo. Não há um
rompimento com a memória da conformação da sociedade paraguaia, cujo poder esteve - e,
segundo o autor continua - nas mãos dos que falam a língua espanhola. A este funcionamento,
Melià (2010b, 2013) nomeará como sendo a "farsa do bilinguismo", por não ser o estado
paraguaio, de sua perspectiva, efetivamente bilíngue.

Partindo das questões apresentadas, pela leitura discursiva dos textos analisados, do
arquivo de dizeres sobre as línguas, este é um trabalho que procura refazer o caminho da
história e retomar o movimento do discurso sobre a língua guarani, desde a colonização até o
momento atual, em que é designada como oficial, levando em consideração o que isto pode
significar na relação entre língua, sujeito e nação no Paraguai e mesmo no continente
americano.

Por ser uma relação estabelecida historicamente, cujos sentidos são construídos
ideologicamente, consideramos a não evidência do lugar que cada língua ocupa no imaginário
dos falantes de determinado espaço. Tomamos aqui espaço, lembrando as colocações de
Guimarães (2005) e Branco (2013), em dois aspectos distintos e que definem,
discursivamente, a relação entre a língua, o espaço e seus falantes. Para Guimarães,

os espaços de enunciação são espaços de funcionamento de línguas, que se


dividem, redividem, se misturam, desfazem, transformam por uma disputa
incessante. São espaços „habitados‟ por falantes, ou seja, por sujeitos divididos por
seus direitos ao dizer e aos modos de dizer. (GUIMARÃES, 2005, p. 18. Grifos
nossos. Aspas do autor.)

37
"Ello suponía naturalmente la existencia ineludible de funcionarios públicos bilingües. Los señores Senadores
no quisieron obligar al Estado a seleccionar empleados entre los ciudadanos bilingües, y esto revela la intención
de preservar los cargos de la función pública en manos de los castellanohablantes, dueños absolutos de los cargos
públicos desde la independencia del Paraguay hasta nuestros días" (ZARRATEA, 2011, p. 92).
37
São, segundo o autor, espaços em que o político se inscreve numa disputa pelos
sentidos. Falar em espaço de enunciação é colocar em relação, em sua historicidade e
memória, as línguas que existem em determinado espaço e aquelas que também não estão aí.

Por exemplo, no Brasil se fala Português, na França, Francês, etc. Ou ainda, no


Paraguai se fala o Espanhol e o Guarani. Esta relação entre falantes e línguas
interessa enquanto um espaço regulado e de disputas pela palavra e pelas
línguas, enquanto espaço político, portanto. A língua é dividida no sentido de
que ela é necessariamente atravessada pelo político: ela é normativamente
dividida e é também a condição para se afirmar o pertencimento dos não incluídos, a
igualdade dos desigualmente divididos. (ibidem, p. 18. Grifos nossos.)

Conforme Guimarães, este espaço regulado pelo político produz um modo de dizer
sobre a língua e seus falantes, distintos por sua própria história. O espaço de enunciação, para
o autor, caracteriza-se, portanto, por um modo de organização político da língua determinado
não pelo território, mas pelos sujeitos que ocupam este lugar.

Complementarmente, podemos trazer o desenvolvimento sobre espaço no estudo de


Branco (2013) que, em sua tese de doutorado, se baseia na noção de “forma histórica espaço
de direito”, desenvolvida por Rodríguez-Alcalá (2011), para falar da língua portuguesa “em
espaço”. Branco (2013) buscou um modo de falar sobre a língua portuguesa do/no Brasil,
de/em Cabo Verde, de/na Angola, etc., na tentativa de sair da evidência da unidade da língua,
tratando-a como língua em espaço brasileiro, em espaço cabo-verdiano, em espaço angolano,
etc., apontando também, desse modo, para os diferentes funcionamentos discursivos da língua
portuguesa, por se conformarem de modo distinto nos diferentes lugares que ocupam.
Medeiros (2008), por sua vez, tratará da língua portuguesa "em solo brasileiro" para dar conta
dos processos que afetaram a materialidade da língua portuguesa no Brasil.

Apoiados nessas formulações sobre "espaço" e "em solo", podemos nos voltar para a
relação já posta por estes autores entre língua e Estado com o objetivo de não considerar este
último somente como espaço geograficamente determinado, mas como lugar de disputa de
sentidos de línguas e de sujeitos. Assim, consideramos que as línguas guarani e espanhola
disputam politicamente o espaço de enunciação paraguaio, num embate entre si, como línguas
reconhecidamente oficiais, e num embate com as outras línguas que não figuram como
oficiais no cenário linguístico nacional.

38
Partindo dessas considerações, é nosso objetivo compreender o que se diz sobre as
línguas indígenas e o espanhol em sua relação com o sujeito em um sistema republicano
determinado, em um espaço de disputas no político, significado como bilíngue pelas leis que
regulamentam o ser cidadão, bem como compreender os sentidos nas práticas sociais que,
para além do que está escrito no texto da lei, também determinam efeitos de sentidos para um
ser sujeito nacional ou para um ser cidadão nesse dado Estado.

A partir da explicitação dessas relações, podemos tomar a discussão sobre a língua


nacional/oficial para falar deste espaço de disputas de sentidos a fim de compreender o seu
funcionamento no espaço de enunciação brasileiro/ em solo brasileiro, para então pensar no
espaço paraguaio.

Para nós, brasileiros, parece evidente que falamos a língua portuguesa que figura em
nosso imaginário, simultaneamente, como nacional, oficial e materna, pela superposição do
nome da língua e pelo apagamento da historicidade que a possibilitou ocupar este lugar de
língua oficial. Desde a infância, em casa ou na escola, esta língua é colocada para nós como
nossa “língua materna”, efeito de evidência resultante de um projeto político de unidade
(imaginária), para constituição e legitimação de uma língua nacional portuguesa no Brasil. A
busca pela unidade linguística nacional se concretiza já nas práticas de um cidadão, como ir à
escola ou ler o jornal, práticas que regulam juridicamente a vida social. (MARIANI, 2011a).
Assim, esquecemos que não há nada de evidente em se falar uma língua, seja qual for. De
acordo com Pêcheux (1988 [1975]), o esquecimento produz evidências, contudo podemos
afirmar que não é evidente que falemos a língua portuguesa no Brasil, tal como não é da
ordem da evidência que, na América Latina, o Brasil seja o único país em que se fala o
português como língua materna. Tampouco é evidente que as línguas oficiais do nosso
continente sejam, majoritariamente, O espanhol e O português. O artigo definido grafado em
letra maiúscula representa nossa necessidade de reforçar essa imagem da unidade linguística
imaginária, apontando para o fato de o artigo determinar o nome da língua, como se só
houvesse uma língua, una e homogênea, a língua imaginária (ORLANDI e SOUZA, 1988)38.

Na perspectiva discursiva, as evidências são consideradas efeitos construídos


historicamente e, em um mesmo movimento, sua retomada alça determinados sentidos e
apaga as demais possibilidades do que poderia haver sido dito. Não se reconhece, deste modo,

38
Escolhemos este recurso baseados nos trabalhos de Orlandi e Mariani que já o utilizaram para marcar essa
determinação no nome da língua.
39
que, no continente americano, as línguas autóctones poderiam figurar como línguas nacionais,
caso não tivesse acontecido a colonização. Os efeitos de evidência que foram construídos em
torno à imagem das línguas nacionais apontam para uma memória. Como postula Pêcheux
(2007, p. 52), “memória deve ser entendida aqui não no sentido diretamente psicologista da
„memória individual‟, mas nos sentidos entrecruzados da memória mítica, da memória social
inscrita em práticas, e da memória construída do historiador”. A memória se inscreve em
práticas, produzindo efeitos de evidências e os sentidos silenciados neste gesto só aparecem
por sua projeção, por serem agora impossíveis.

Sobre a projeção de um futuro, lembramos o trabalho de Mariani sobre as línguas e a


colonização linguística em Moçambique, em que a autora analisa as formulações do poeta
moçambicano José Craveirinha e diz que pelo “relato de um passado histórico que poderia ter
sido outro, o discurso político da FRELIMO39 constrói um elo entre a necessidade de união
como resistência e forma de luta contra o colonizador e um passado interrompido”
(MARIANI, 2011a, p. 115. Itálicos da autora.). Pelo elo entre o que se busca, a união para
resistir à colonização, em que a língua é necessária, e aquilo que não aconteceu pelo próprio
discurso da necessidade de unidade, rememora-se um "passado interrompido" do qual só se
pode dizer a partir da formulação do impossível. Desse modo, retomando nosso trabalho, no
nosso dizer sobre as evidências e das possibilidades diante da história que aconteceu e daquilo
que poderia ter acontecido, também aparece um elo em que é justamente porque as evidências
de uma língua nacional se constroem que se apaga a outra história das línguas indígenas, a
história destes países e as línguas que hoje poderiam figurar de outras maneiras, agora
impossíveis. Assim, esquece-se que antes que chegassem, do continente americano, os
colonizadores já circulavam milhares de línguas não latinas, algumas do mesmo tronco
linguístico, outras não. Os habitantes da América recém-descoberta tampouco falavam uma só
língua. Esquece-se também do processo de colonização linguística (MARIANI, 2004) junto à
catequização pelo qual passaram os sujeitos que habitavam este continente. Nas palavras de
Mariani,

a colonização linguística é da ordem de um acontecimento, produz modificações em


sistemas linguísticos que vinham se constituindo em separado, ou ainda, provoca
reorganizações no funcionamento linguístico das línguas e rupturas em processos
semânticos estabilizados. Colonização linguística resulta de um processo
histórico de encontro entre pelo menos dois imaginários linguísticos
constitutivos de povos de sentidos desiguais, em condições de produções tais que

39
Frente de Libertação de Moçambique, criada em 1962.
40
uma dessas línguas – chamada de língua colonizadora – visa impor-se sobre a(s)
outra(s), colonizada(s). (ibidem, p. 28. Grifos nossos.)

Esse processo de colonização linguística, como traz a autora, se dá pelo encontro de


(pelo menos) "dois imaginários" em que uma língua se impõe sobre a outra, a que a autora
chama de "colonizada". Podemos então, a partir do que aí se formula, dizer que o encontro é
sempre desigual, sempre da ordem da diferença, em que deverá haver reorganizações no
imaginário sobre as línguas e nas próprias línguas envolvidas distintamente neste processo. O
Brasil, o Paraguai, o Uruguai, a Argentina e os demais países que compõem o subcontinente
da América Latina foram submetidos a uma colonização histórica (de exploração das riquezas
e dominação do território) e a uma colonização linguística (de imposição de uma língua pelo
encontro entre pelo menos dois imaginários linguísticos). No período da colonização, Igreja,
Estado e Língua estavam intimamente ligados – nos arriscamos a dizer que ainda estão – em
um processo histórico colonizador que impunha uma religião – a católica –, um chefe de
Estado – o Rei – e suas leis, e uma língua 40 . De acordo com Mariani (ibidem), os
conquistadores significavam o modo de organização das sociedades americanas daquele
momento pela falta, por serem sociedades que não apresentavam, de sua perspectiva, um
poder centralizador do Estado, representado também pelo poderio da Igreja Católica e pela
unidade imaginária de uma língua. Nesse sentido, se configura o que Mariani (ibidem)
compreende como sendo o funcionamento de uma ideologia do déficit, legitimava um dizer
sobre a língua da colônia a partir do que nela não há.

Para fazer esta afirmação, a autora retoma um enunciado de Gândavo 41 que circulava,
e, pela análise que empreende, afirma que o discurso sobre a língua materializa os sentidos
sobre a organização da sociedade indígena. Nas palavras da autora, “o F, o R e o L inexistem

40
Fazemos essa afirmação baseados nos estudos sobre as conquistas durante o período da colonização, dos quais
citamos "Norma e bilinguismo no espanhol americano: o caso andino" (ALFARO, 2011). Segundo a autora, "o
modelo peninsular segue o dos Reis Católicos que, no final do século XV e início do XVI, tinham investido num
projeto de unificação frente aos outros reinos ibéricos, em que a língua castelhana desempenha um relevante
papel de coesão interna" (ibidem, p. 195). Essa empreitada conquistadora se efetivou pela imposição da
catequese, que, segundo Alfaro (ibidem), teria sido resultado de uma política vacilante, visto que,
posteriormente, a prática catequética passou a ser realizada nas línguas indígenas.
41
A autora refere-se a um enunciado da obra História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos
Brasil, de Pero de Magalhães de Gândavo, de 1576, em que o autor afirma que nestas terras não há nem fé, nem
lei, nem rei. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ PesquisaObraForm.do?select_action=&
co_autor=104. Acesso em: 20 de janeiro de 2015.
41
na língua indígena e materializam a ausência de um poder religioso, de um poder real central
e de uma administração jurídica”42 (ibidem, p. 26.).

A partir das colocações da autora, podemos afirmar que é, também, na língua que se
marca essa falta, quando a partir da inexistência dos fonemas nas línguas indígenas, presume-
se a falta do poder centralizador da Igreja e do Estado nos países colonizados, neste caso, no
Brasil. Naquele momento histórico em que, imaginariamente, o rei era o representante de
Deus na terra, em que não se permitia desvincular os poderes de ambas as instituições, a falta
de um e de outro marcava o lugar da necessidade imaginária de organização, que deveria ser
feita através do processo colonizador. Como postula Mariani,

Na ótica do colonizador português, essas três instituições nucleares do aparelho


de Estado – religião, realeza e direito – simbolizam um estágio avançado de
civilização que tem como base uma única língua nacional gramatizada e escrita.
Desse ponto de vista, a língua portuguesa é também uma instituição que faz parte do
funcionamento social geral da nação, ao mesmo tempo em que dá legitimação
escrita às outras instituições do reino. (1994, p. 26. Grifos nossos.)

De acordo com esta afirmação, para que se desse o processo de colonização, da


perspectiva portuguesa, significada como um "estágio avançado de civilização", deveria haver
"uma única língua nacional", isto é, para colonizar e catequizar, impondo os poderes a que
nos referimos, era preciso fazê-lo em uma língua. Era a instituição de uma língua, a língua
portuguesa que deveria legitimar o processo, pois esta era a língua da civilização, em que se
organizava o aparelho de Estado, tal como observado pela autora ao analisar os textos
portugueses dos séculos XVI e XVII.

Ampliando esta discussão, a partir de nosso objeto de pesquisa, consideramos o


Paraguai também neste processo, tal como os demais países que foram colonizados sob o
domínio espanhol, podemos afirmar que a língua da civilização, que supunham praticar os
colonizadores, eram o português e o espanhol. Alfaro, tratando do caso andino, afirmara que
"a decisão política de castelhanizar aparece vacilante na documentação ao longo do processo
de colonização" (2011, p. 195), visto que esse processo, implementado também a partir da

42 Sobre este tema cf. ALCIDES. F, L e R: Gândavo e o ABC da colonização. Escritos II. p. 39-52. Disponível
em: www.casaruibarbosa.gov.br/escritos/numero03/FCRB_Escritos_3_3_Sergio.Alcides.pdf. Acesso em 20 de
janeiro de 2015. Da perspectiva discursiva, cf. os trabalhos de Orlandi (2003 [1993]; 2008) e Mariani (1994) que
tratam da colonização no Brasil.
42
língua do conquistador, sofreu uma alteração quando se decidiu implementar as línguas
indígenas no ensino da catequese. A partir do Terceiro Concílio de Lima (1582-1583)43, a
catequização deveria passar a ser feita em língua indígena. Era na língua dos próprios
colonizados que se deveria ensinar a fé católica e a devoção ao rei. A decisão do Concílio de
Lima aponta para uma questão importante, por materializar um dizer sobre o uso das línguas
no continente americano. Implementa-se a catequese em língua indígena por ser em suas
línguas que falavam os habitantes deste continente. Pode ser lido no discurso da história,
como veremos no capítulo 3, que houve uma decisão do Concílio, mas, pela materialidade
histórica inscrita na língua pela decisão do Concílio, as condições de produção apontam para
uma dominância das línguas indígenas, tanto na história das línguas no espaço brasileiro,
como com relação às línguas na província do Paraguai no século XVI.

Foi assim que, no Brasil, foi produzido o tupi jesuítico, pela regularização do tupi, e,
no Paraguai, foi produzido o guarani jesuítico, pela sistematização das línguas indígenas, com
base no conhecimento dos padres jesuítas e freis franciscanos sobre a gramática das línguas
de origem latina. O tupi e o guarani jesuíticos foram a materialização na língua do processo
colonizador.

No Paraguai, gramatização da língua guarani teve seu processo iniciado pela tradução
dos textos do catecismo para a América Espanhola pelo frade franciscano Luis de Bolaños 44
(Melià, 2003). Dedicamos uma seção no próximo capítulo ao processo de gramatização da
língua guarani na colônia em que trataremos da tradução dos textos em guarani e da produção
de gramáticas em língua guarani. Na América Portuguesa, o material catequético foi traduzido
principalmente por José de Anchieta, que posteriormente também escreveu Arte da
Gramática da Língua mais falada na Costa do Brasil, publicada em 1595, em Portugal.

O conhecimento produzido sobre as línguas indígenas, seja no Brasil, seja no


Paraguai, teve como base o conhecimento sobre as línguas europeias. Estas já haviam passado
pelo processo de gramatização (AUROUX, 2009 [1992]), pelo qual contavam com
instrumentos linguísticos, como gramáticas e dicionários, sobre os quais se apoiaram os
padres jesuítas no processo de gramatização das línguas indígenas que passariam a ser
instrumentalizadas. Para Auroux,
43
Cf. Chamorro (2009): Sentidos da conversão de indígenas nas terras baixas sul-americanas: uma
aproximação linguística.
44 O nome do frei aparece com variação nos textos transcritos pelos historiadores, ora como Luys Bolaños, Luys
de Bolaños, Luis Bolaños e Luis de Bolaños. Optamos por utilizar a última grafia nesta tese e não alterar a grafia
original quando for citação direta.
43
A gramática não é uma simples descrição da linguagem natural; é preciso
concebê-la também como um instrumento linguístico: do mesmo modo que um
martelo prolonga o gesto da mão, transformando-o, uma gramática prolonga a
fala natural e dá acesso a um corpo de regras e de formas que não figuram
juntas na competência de um mesmo locutor. Isso é ainda mais verdadeiro acerca
dos dicionários: qualquer que seja minha competência linguística, não domino
certamente a grande quantidade de palavras que figuram nos grandes dicionários
monolíngues que serão produzidos a partir do final do Renascimento (o contrário
tornaria esses dicionários inúteis a qualquer outro fim que não fosse a aprendizagem
de línguas estrangeiras). (ibidem, p. 70. Grifos nossos.)

Conforme postula o autor, "uma gramática não é uma simples descrição da linguagem
natural", mas é, assim como o dicionário, um prolongamento da fala natural que estende o
conhecimento sobre as línguas, impossível a um só locutor. Além disso, seguindo com
Auroux (2009 [1992]), podemos afirmar que, ao sistematizar o conhecimento sobre
determinada língua, produz-se conhecimento sobre esta e produz-se a partir de conhecimento
já formulado sobre outras línguas.

Ressalte-se que todo o processo de gramatização produz uma língua imaginária


(ORLANDI e SOUZA, 1988), fato pelo qual se cria uma imagem de língua, com regras e
exceções, mas não se consegue dominar a língua fluida. A língua imaginária, segundo Orlandi
e Souza (ibidem), se contrapõe à língua fluida. As línguas imaginárias são objetos-ficção:
“São as línguas-sistemas, normas, coerções, as línguas-instituição, a-históricas. Construção. É
a sistematização que faz com que elas percam a fluidez e se fixem em línguas imaginárias.”
(ibidem, p. 28. Grifos nossos.) Já a língua fluida é língua em movimento, que foge à
sistematização. Nas palavras das autoras,

a língua fluida é a que pode ser observada e reconhecida quando focalizamos os


processos discursivos, através da história da constituição de formas e sentidos,
tomando os textos como unidades (significativas) de análise, no contexto de sua
produção. (ibidem, p. 34. Grifos nossos.)

Funcionam então de modo diferente, “se a língua imaginária é a que os analistas fixam
na sua sistematização, a língua fluida é a que não pode ser contida no arcabouço dos sistemas
e fórmulas.” (ibidem, p. 34). A língua fluida é a língua em real funcionamento, sem que se a
prenda em normas ou estabilizações e a língua imaginária, por sua vez, uma criação: a reunião
das regras, o “sistema”da língua. Tanto com as línguas latinas, como é o caso do português e
do espanhol, por exemplo, como no conhecimento produzido sobre as línguas indígenas, não

44
há uma “imparcialidade” na sua constituição como objetos e no que se toma como regra em
uma ou outra língua.

Assim, a primeira gramática feita sobre as línguas latinas, a Gramática de la lengua


castellana, de Antonio de Nebrija (1492), inaugurou um modo de descrever, organizar e dizer
sobre as línguas, que produz e faz circular sentidos sobre as línguas até a atualidade, incluindo
aí os processos de gramatização das línguas indígenas das sociedades de tradição oral 45.

Com a gramatização - logo a escrita, depois a imprensa -, e em grande parte graças a


ela, constituíram-se espaços/tempos de comunicação cujas dimensões e
homogeneidade são incomparáveis ao que pode existir em uma sociedade oral, isto é
numa sociedade sem gramática. Isso não vale somente para as grandes línguas
europeias, mas também para todas a línguas do mundo em que os
instrumentos gramaticais europeus serão impostos aos locutores indígenas: por
exemplo, o quéchua, que se torna "a língua geral" do Peru, bem para além do
que se supunha a dominação inca, ou ainda o guarani na época da República
Jesuíta do Paraguai (1610/1767). (AUROUX, 2009 [1992], p. 71. Itálico e aspas
do autor. Grifos em negrito nossos.)

O quéchua no Peru, o tupi guarani no Brasil e o guarani no Paraguai não possuíam


escrita, eram línguas de tradição oral. Com a chegada dos colonizadores e sua necessidade de
se comunicar com os nativos, começou a instrumentalização das línguas destes a partir do
conhecimento já instituído sobre as línguas europeias e seu anterior processo de gramatização.
A gramática de Nebrija inaugurou esse processo pelo qual se passou a organizar as línguas a
partir de regras, estabelecendo recortes disciplinarizando os saberes sobre elas.

Tratando da questão da língua tupi no Brasil, Orlandi, retomando Mattoso Câmara, irá
afirmar que “os missionários disciplinaram o tupi – instituindo o tupi jesuítico – a fim de
instalar seu poder de negociação com o governo português” (ORLANDI, 2008 [1990], p. 87).
O Tupi jesuítico foi disciplinarizado tanto na teoria como na prática: . “A 'disciplinarização'
teórica, isto é, da construção de um saber a propósito das línguas dos índios, se mistura aqui
com 'disciplinarização' exercida na prática linguageira dos missionários no curso do seu
confronto com os índios (...)”. (ibidem, p. 88. Aspas simples da autora.) Essa
disciplinarização teórica promove os saberes sobre a língua indígena, a partir da perspectiva
europeia, “modificando-a no sentido dos modelos ocidentais”. (ibidem, p. 88) Já na prática, a
língua se modifica na sua própria estrutura, nas construções imaginárias. Isto fez com que o

45 Traremos as formulações de Calvet (2011 [1984]) sobre as sociedades de tradição oral e escrita para nosso
estudo para tratar da gramatização da língua guarani, mais especificamente, no quarto capítulo.
45
tupi jesuítico não fosse aquele falado na colônia brasileira no momento de sua gramatização
(AUROUX, 2009 [1992]), pois “o tupi, que as primeiras exposições dos europeus nos
fornecem, não é exatamente aquele que os indígenas exatamente falavam – como o português
também não é o que falamos, realmente.” (ORLANDI e SOUZA, 1988, p. 28. Grifos nossos.)
O que temos do tupi deixado pelos portugueses, o tupi jesuítico, é uma construção, uma
regularização de sistemas; é uma língua imaginária construída a partir da língua do
colonizador, assim como, no Paraguai, foi produzido um guarani jesuítico pela escrita da
língua guarani, que já implica uma apropriação, pela escrita, de uma língua de tradição oral.

Os padres jesuítas, no Brasil, começaram a comunicar-se e ensinar a fé católica em


língua indígena. Ou melhor, se comunicavam nesse tupi-jesuítico que era já uma construção
imaginária que modificava o tupi a partir da disciplinarização teórica e prática à qual se
submeteu. O tupi jesuítico, por sua vez, passou a ocupar esse lugar de língua de comunicação
e língua de catequização, a que se chamou “língua geral”.

No Paraguai, podemos afirmar que não só se construía história em guarani, mas


também se contava a história nesta língua ou, como afirma Melià (2009), o guarani era, no
Paraguai, língua que "escrevia história". Segundo este autor, o guarani já era a língua em que
se escreviam os documentos oficias e a história do Paraguai começou a ser documentada nesta
língua. Contudo, como registra Melià (2009), a língua guarani sofreu um apagamento na
história pelo qual não há mais tantos documentos em língua indígena do período da
colonização. Baseados nas considerações do autor, é possível afirmar que a língua guarani foi
sendo apagada pela necessidade do processo de criação de uma unidade nacional, tal como
aconteceu com o tupi em território brasileiro. Sobre isso, vale trazer as perguntas de Orlandi
(ibidem, p. 86), com relação ao espaço brasileiro: “Que língua apagamos para ter uma língua
nacional (o português)? De que língua (ou línguas) foi necessário nos distanciarmos
historicamente para termos uma língua portuguesa?” Mediante estas perguntas se pode
compreender que o processo de legitimação de uma língua nacional é construído juntamente
com o apagamento de outras línguas, aquelas das que "nos distanciamos" pelo próprio curso
da história contada, recontada, construída e significada a partir de uma língua nacional. Com
relação a isso, Souza e Ribeiro, retomando os questionamentos de Orlandi, afirmam que

O tupi e remanescentes de línguas africanas deveriam ser desconsiderados e


condenados ao desaparecimento dando lugar ao que seria, em termos políticos,

46
estabelecido como língua nacional. Fica evidenciado como a língua torna-se
historicamente o vetor central que rege o modo de relação do sujeito com o Estado.
(SOUZA e RIBEIRO, 2007, p.127. Grifos nossos.)

De acordo com os autores, para que para que haja uma língua nacional outras línguas
são silenciadas, "condenadas ao desaparecimento". Vale ressaltar que mesmo em um país
bilíngue em que há duas línguas legitimadas como oficiais, sendo, inclusive, uma indígena,
como é o caso do Paraguai, outras línguas foram silenciadas para que se instituíssem as
línguas do Estado.

Deste modo, se trazemos à baila o caso do país em estudo, cada uma das línguas
envolvidas sofreu um processo de unificação, instituído de forma imaginária, para que se
pudesse dizer: O castelhano, O guarani. Um processo de produção de sentidos para cada a
língua, como se esta fosse una, homogênea, como se estivesse estabilizada e implicasse um
sistema fechado, tal como afirmamos anteriormente: a língua imaginária de cada Estado
nacional. O que nos permite dizer que toda nação, assim dita, também passou por esse
processo de unificação, de produção de uma unidade imaginária, para que chegasse a uma
língua e para que cada língua tivesse um artigo determinando-a como a língua do país.

O funcionamento do discurso sobre a língua nacional, além de implicar no


apagamento das demais línguas existentes, implica o apagamento da fluidez (referida, com
frequência, como variedade ou variedades) dessa língua, e isto se materializa pelo processo de
gramatização, ao estabelecer limites para as línguas. Vejamos o que diz Auroux ao respeito:

Em um espaço linguístico vazio, ou praticamente vazio, de intervenções


tecnológicas, a liberdade de variação é evidentemente muito grande e as
descontinuidades dialetais, que afetam essencialmente traços que não se recobrem,
são pouco claras. A gramatização geralmente se apoiando sobre uma discussão
do que seja "bom uso", vai reduzir essa variação. (AUROUX, 2009 [1992], p.
70. Aspas do autor. Grifos nossos.)

O autor dirá então que o processo de gramatização provoca a escolha de uma


variedade da língua em detrimento de outras tantas, e que essa escolha sobre a variedade que
será gramatizada se apoia sobre "uma discussão do que seja bom uso", num trabalho de
inclusão e de exclusão de formas que as classifica e coloca em status diferentes diante dos

47
falantes, produzindo, também uma "classificação" dos próprios falantes: os que falam bem, os
que não, ou os que não sabem a sua língua.

E este processo, que se materializa como um discurso sobre uma determinada língua,
também – tal como acabamos de antecipar – a significa como melhor que outra, fazendo-a
parecer a mais adequada e, assim, esta vai ocupando o lugar de A língua. Há, desse modo, um
processo de seleção (não natural, convencional, inscrito sócio-histórica e politicamente em
que as relações de poder - sejam de classe, gênero, etc. – se dissimulam, o que implica numa
dominação político-ideológica) sobre as línguas em que as disputas de classe ficam apagadas,
fazendo ressoar os sentidos da língua oficial/nacional pela língua de uma elite. São as lutas de
classe inscritas na própria língua, na produção de sentidos sobre as línguas, em que umas são
significadas como mais apropriadas a determinados fins do que outras. Não é por simples
mágica que, geralmente, as línguas consideradas “cultas”, “mais adequadas” e “dignas de
ocuparem o lugar de língua nas gramáticas” sejam as das classes mais favorecidas e que a
língua do povo, a língua falada no dia a dia passe a ocupar o lugar de língua desprivilegiada,
incorreta, a NÃO-língua em comparação com A língua. A disputa de classes se inscreve na
própria língua e nas formulações realizadas sobre esta, nos dizeres que circundam os
discursos da parcialidade da “ciência linguística”.

Por esta razão, pelo funcionamento do "discurso sobre" possibilitado por dadas
condições de produção, são as línguas de determinados grupos, consideradas como as mais
adequadas, que chegam a ocupar esse lugar de língua oficial, sendo esta também uma
construção, da qual decanta uma imagem de língua. O próprio guarani como língua oficial,
com seu lugar reconhecido por lei, institucionalmente não comparece como uma língua de
prestígio: circula uma distinção entre a língua da classe alta, escolarizada, que em geral, fala
também o espanhol, e a língua da população campesina que fala, basicamente, a língua
indígena. O guarani segue figurando como a língua para ser falada no âmbito familiar, por
uma classe considerada menos escolarizada, dita como inferior.

É importante destacar que um dizer sobre o guarani como uma língua legitimada como
oficial – e não dialeto ou crioulo, por exemplo – imaginada com esse valor social não implica
no apagamento de um imaginário de déficit em relação ao espanhol, língua das classes mais
altas. E isso pode ser reforçado pelo discurso da ciência linguística sobre o guarani. Conceitos
que existem na sociolinguística como o conceito de “língua”, “dialeto” e “variedade”
terminam produzindo certos efeitos, organizando as línguas em uma escala de prestígio,
48
favorecendo a produção/circulação de sentidos sobre elas. Desse modo, uma língua passa a
ser significada como "dialeto" em oposição às outras, significadas como "línguas",
impedindo-lhe ocupar o lugar de língua oficial de determinado, por exemplo. Tal modo de
conceituá-las apaga as possibilidades de que uma língua, significada como dialeto, possa
alcançar o status de língua, língua nacional ou língua oficial.

Em um estudo que tem o objetivo de articular os saberes da linguística e da economia,


Mariani (2008b) propõe uma questão norteadora – “Quanto vale uma língua?”46 – a partir da
qual analisa um enunciado que tem circulado: “língua como variável econômica”. No artigo
resultante da pesquisa, a autora analisa as diferentes discussões sobre a língua e seu valor
econômico, considerando a dominação dos países ditos desenvolvidos sobre os países de
terceiro mundo. A autora trata ainda das políticas linguísticas para a manutenção de um país
bilíngue ou multilíngue. Com relação a isso, afirma que

em função do fato de que o multilingüismo gera custos ¾ o treino de funcionários


aptos a falar em mais de uma língua, por exemplo ¾ o Estado se vê diante da língua
como questão econômica. A formulação interna de políticas e planejamentos
lingüísticos visando à implementação do monolingüismo, nesse sentido, é muito
mais decorrência da esfera do econômico do que de discussões culturais e
nacionalistas (ibidem, p. 8. Grifos nossos.)

Em referência à discussão proposta pela autora, nos dias de hoje, a instituição de uma
língua oficial também é uma questão econômica, o valor da língua, desta perspectiva, tem a
ver com o interesse de investimento do Estado em uma ou outra língua, ou duas, no caso de
bilinguismo. Assim, como coloca Mariani, é possível perguntar-se quanto custa ser falante de
determinada língua em um país colonizado ou quanto custa um país bilíngue. Trazendo as
palavras da autora:

E, quanto custa ser falante de munduruku? Ou de alguma das vinte línguas nacionais
moçambicanas? Frente ao inglês, considerado cada vez mais língua global, qual o
custo da defesa e manutenção de um nacionalismo plurilíngüe? Ou de um
monolingüismo em um país de terceiro mundo? (ibidem, p. 11. Grifos nossos.)

Como pergunta Mariani, "qual o custo de um monolinguismo em um país de terceiro


mundo?" A questão da língua é uma questão do Estado, como já assinalavam Gadet e

46 A pergunta é também o título de seu trabalho: “Quanto vale uma língua? O apagamento do político nas
relações econômicas e linguísticas.” (MARIANI, 2008b)
49
Pêcheux (2010 [1981]), e retomando o que diz Mariani (2008b), podemos afirmar que é
também uma questão econômica do Estado.

A partir das reflexões postas e da ideologia da língua única, sustentada na atualidade


pelo discurso da globalização, promovendo uma língua de comunicação universal, quanto
custa manter um país monolíngue em que não é o inglês a língua oficial? Ou de outro modo,
como promover um nacionalismo plurilíngue se isso demandaria mais investimento? Essas
questões propostas pela autora nos levam ao encontro de nosso objeto em que podemos
pensar o custo da promoção do bilinguismo no Paraguai. De nossa perspectiva, duas questões
se colocam: 1. Quanto custou - e ainda custa - promover o espanhol como língua oficial no
Paraguai? e 2. Quanto custa promover o guarani como língua oficial no Paraguai? Pelos
discursos sobre a manutenção da língua espanhola e pela promoção do bilinguismo no
Paraguai, mesmo que o guarani seja língua materna da maioria da população, bem como
língua nacional, pela ideologia da comunicação mundial, parece não ter lugar a discussão para
um Paraguai monolíngue falante de guarani. De acordo com Mariani,

a ocidentalização representa tanto a adoção de instituições europeias quanto a


adaptação de instituições locais aos moldes europeus (o uso de vestido branco em
casamentos japoneses ou indianos, por exemplo). Representa, também, da parte
de muitos governos, aceitar sem aprofundadas discussões a língua de
colonização como língua comum à sociedade como um todo, ou seja, como
língua nacional e oficial, a fim de viabilizar de modo mais eficaz a entrada da ex-
colônia no mercado internacional. (ibidem, p. 9. Grifos nossos.)

O processo de colonização e, em consequência, de uma imposição à cultura europeia,


como nos mostra a autora, faz com que a aceitação desses costumes e de uma língua para a
entrada no mercado seja significada como evidente, sem que se discutam as questões
referentes à própria dominação. Não se discutem, de igual modo, as políticas de línguas em
prol desta unidade e desta adaptação a um mundo globalizado. E assim, pelo discurso do
conhecimento científico, sobretudo o formalista-logicista (PÊCHEUX, 1988 [1975]), vão
sendo escondidas as lutas políticas-ideológicas-sociais-históricas-econômicas que se
apresentam nas línguas e nas políticas de línguas 47 . Uma língua, por vezes falada por
determinada comunidade linguística, nunca chegará a ocupar o status de língua oficial pela
sua impossibilidade política e econômica, o que significa dizer que não é uma questão natural

47
Ainda neste capítulo trataremos das noções de políticas linguísticas e políticas de línguas.
50
a que irá determinar a dominação, são, por sua vez, questões históricas, políticas e
econômicas que contribuirão para tal. É pelo discurso sobre a necessidade de uma língua para
a comunicação mundial, pela globalização, que se instituem as línguas que podem figurar
nesse ambiente internacional. Pelo funcionamento ideológico no discurso sobre as línguas,
parece impossível não falar o inglês atualmente, assim como não é possível a promoção do
guarani, do quéchua ou qualquer outra língua minoritária, por exemplo.

Avançando em torno destas considerações, podemos trazer ainda outra discussão que
se refere às políticas do plurilinguismo. A respeito disso, nos interessam as análises de
Mariani (2008b) e de Branco48 (2013), em que as autoras discutem as políticas de línguas
sobre a língua portuguesa em África. Branco irá se perguntar até que ponto as políticas pelo
plurilinguismo realmente o promovem, visto que o que há é um apagamento das outras
línguas, pelo discurso da CPLP49, por sua indeterminação, e a produção de um sentido para a
língua portuguesa como aquela que deve agregar os países membros, uma língua portuguesa
que possibilitaria, inclusive, o desenvolvimento econômico dos países africanos. As análises
de Branco (ibidem) seguem os questionamentos de Mariani (ibidem), quando esta se pergunta
pelo valor da língua, como apontamos anteriormente, e questiona sobre quanto custa ser
plurilíngue ou monolíngue numa língua reconhecidamente minoritária. Branco, então, irá
dizer que esse plurilinguismo determina e direciona para uma divisão nas línguas que
continua apontando para a necessidade de uma língua para a comunicação, (em seu estudo é
analisada a língua portuguesa nesse lugar) regulamentada e legitimada, cujos sentidos
continuam promovendo uma hierarquização apagada pelo dizer sobre um gesto de
reconhecimento da diversidade. De nossa perspectiva, podemos dizer que, no estado
paraguaio, o guarani, também reconhecido oficialmente, aparece igualmente como símbolo do
respeito à diversidade linguística, o que, de fato, acaba não ocorrendo, já que é o espanhol o
requerido nas situações de uso formal da língua, como observam Zarratea (2011) e Melià
(2013), dentre outros. Por conseguinte, o próprio reconhecimento da diversidade faz ressoar
sentidos que circulam e que se fazem produtivos pela manutenção e reprodução da ordem
vigente.

Retomando Orlandi, podemos afirmar que ao dizer que “os sentidos funcionam pelo
fato mesmo de circularem. Um discurso que fala do índio é como o discurso sobre o pobre: é

48
Branco analisou, nos textos das organizações internacionais, os sentidos para língua portuguesa em tese de
doutorado defendida na UNICAMP (2013).
49
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
51
produtivo nas relações de poder” (2008 [1990], p. 144). Ao circularem os sentidos sobre o
pobre, sobre o índio, sobre os moçambicanos, cabo-verdianos ou angolanos, se reproduzem os
mesmos modos de "dizer sobre" (ORLANDI, 2008 [1990]; MARIANI, 1998) em que se
silenciam os seus próprios dizeres, configurando-se assim um modo bastante produtivo de
manutenção das relações de poder, que promovem a permanência de tudo como já estava,
uma organização daquilo que já se reproduzia no discurso da colonização. É desse modo que
se dá, de nossa perspectiva, o funcionamento do discurso sobre o guarani na memória
discursiva.

A esta discussão podemos acrescentar a noção de narratividade (MARIANI, 1998),


pela ideia de um mundo estabilizado, que se organiza, mesmo ao se reorganizar, dizendo
diferente. É o que permite que se conte uma história de outro modo, fazendo-a parecer lógica,
semanticamente estabilizada, apagando suas contradições. De acordo com Mariani,

A narratividade possibilita a reorganização imaginária do movimento histórico, é


o que permite que fatos antes “descartados” passem a fazer sentido para a história. A
narratividade, enfim, é o que permite o contar uma história coerente, sem falhas,
com estruturação temporal, com encadeamento de causas e conseqüências, com
personagens e cenários explicativos. (ibidem, p. 231. Grifos nossos).

É, portanto, pela narratividade, por esse "contar uma história coerente", que se pode
falar em diversidade, em defesa do plurilinguismo nos discurso sobre a CPLP, produzindo um
silenciamento das línguas ditas minoritárias pela promoção de um grupo que se pretende
homogêneo, não deixando espaço para a discussão sobre as condições históricas dos países
membros, fazendo figurar, no discurso da CPLP, A língua portuguesa como aquela que irá
possibilitar um encontro entre o que não se deixa encontrar, as diferenças inscritas na
memória de cada língua.

O "dizer sobre" é um modo de silenciar o "dizer do", o dizer do africano, o dizer do


índio, ou seja, como já foi dito, é o funcionamento do "discurso sobre" (ORLANDI, 2008
[1990]) operando efeitos de sentido sobre as línguas e na memória discursiva destas. "Fazer
dizer"50 também em português ou em espanhol é fazer não dizer em cabo-verdiano ou em
guarani, por exemplo. São também os sentidos sobre estes que falam em outras línguas, que
não sua dita língua materna, que procuramos compreender aqui. Quando analisamos uma lei
que institui uma língua oficial, e que diz das outras não oficiais, somos conduzidos por uma

50
Referimo-nos, aqui, ao título da obra Fazer dizer. Querer dizer, de Haroche (1992).
52
perspectiva materialista (PÊCHEUX, 1988 [1975]), em que a história significa para além do
que se diz sobre as línguas e sobre os seus falantes. E quando falamos em história, não
estamos falando somente da versão da história que ficou escrita, não é somente o discurso
histórico oficial (MARIANI, 1998) que consideramos. É também a história que não dominou
e que, contudo, inscreveu sentidos, fazendo ressoar as regularidades e deslizar os sentidos
sobre o que foi dito e, principalmente, o que não foi dito. Segundo Mariani, a Análise do
Discurso

se propõe a discutir e a definir a linguagem e a natureza da relação que se estabelece


com a exterioridade, tendo em vista seu objetivo principal: compreender os modos
de determinação histórica dos processos de produção de sentidos, na
perspectiva de uma semântica do discurso de cunho materialista (MARIANI,
1998, p. 23. Grifos nossos.).

Sob esta perspectiva, é necessário compreender discursivamente os processos de


produção dos sentidos em sua materialidade linguística e histórica, em que a língua significa
em sua relação com a história. Esses sentidos que ressoam na memória comparecem no
momento de formulação das políticas que incidem sobre as línguas.
Desse modo, pretendemos tratar, na seção que segue, trazer a discussão sobre noção de
políticas de línguas (ORLANDI, 1988), a inscrição do político na materialidade da língua e
nas políticas de línguas para, posteriormente, proceder a nossa análise.

2.2 O POLÍTICO NA LÍNGUA E AS POLÍTICAS DE LÍNGUA

Nesta seção, daremos continuidade às discussões em História das Ideias Linguísticas


sobre o guarani, considerando o processo de gramatização, de instituição e de promoção desta
língua. Como expusemos anteriormente, a promoção de uma língua indígena está atravessada
pela mudança na relação da língua na sociedade e com sua própria história. A inscrição do
político (GUIMARÃES, 2005) no gesto de planificação linguística e a historicidade da
produção de saberes sobre as línguas nos fizeram considerar questões anteriores à própria
formulação das políticas linguísticas sobre o guarani. Para avançarmos na análise de nosso
objeto, nos debruçamos agora sobre algumas questões fundamentais na História das Ideias

53
Linguísticas, como a noção de políticas de línguas (ORLANDI, 1988), que são primordiais
para a continuidade das discussões propostas.

De um outro campo teórico, Melià nos auxilia na compreensão da relação entre o


espanhol e o guarani no Paraguai:

O castelhano acede ao guarani exclusivamente a través da comunicação coloquial


em um processo cultural com muita frequência de tendência ruralizante (ruralização
que pode ser realizada com contatos mais ou menos ordinários com habitantes
guaranis, por exemplo, de empregador, de comerciante com o cliente, etc). Os
hispano-falantes que não saíram de um marco urbano, dificilmente
sobrepassam uma eficiência incipiente no uso do guarani; (...) Os falantes de
guarani, ao contrário, acedem ao manejo do espanhol por processo mais
estandarizados e formais que realmente coloquiais. De fato, a aquisição da
eficiência bilíngue a partir do guarani se caracteriza por fazer-se muito mais dentro
de um ensino de caráter "literário" que na tradição oral: a letra da escola, a letra do
51
jornal, a letra dos "papéis" (documentos); tudo do signo urbano (MELIÀ, 2013, p.
41-42. Grifos nossos. Tradução nossa.)

Analisando discursivamente a tensão entre o espanhol e o guarani, podemos constatar


que foi a partir destas duas redes de sentidos – de um lado, o guarani imaginado como uma
língua campesina, restrita ao familiar, de outro, o espanhol projetado no status de língua culta
da metrópole, como observa Melià (ibidem) –, que passamos a nos questionar sobre os lugares
de tais línguas em relação às formações imaginárias para língua, sujeito e nação. Nossas
perguntas iniciais de pesquisa nos direcionaram, então, para outras perguntas na medida em
que fomos lendo os documentos que versavam sobre as línguas em diversos âmbitos.
Queríamos compreender, em princípio, a constituição das línguas nacionais e, a partir delas,
os sujeitos nacionais que nelas se significam. Este continua sendo nosso objeto. Contudo, em
Análise do Discurso, o objeto não está pronto, ele também é uma construção a partir do gesto
do analista que, no percurso da análise, vai se deparando com os sentidos daquilo que lê e que

51
"El castellano accede al guaraní exclusivamente a través de la comunicación coloquial en un proceso cultural
con mucha frecuencia de tendencia ruralizante (ruralización que puede ser realizada con contactos más o menos
ordinarios con habitantes guaraníes, por ejemplo, de empleador, de comerciante con el cliente, etc.). Los
hispano-hablantes que no salieron de un marco urbano, difícilmente sobrepasan una eficiencia incipiente en el
uso del guaraní; (...) Los guaraní hablantes, por el contrario, acceden al manejo del español por procesos más
estandarizados y formales que realmente coloquiales. De hecho, la adquisición de la eficiencia bilingüe a partir
del guaraní se caracteriza por hacerse mucho más dentro de una enseñanza de carácter 'literario' que en la
tradición oral: la letra de la escuela, la letra del periódico, la letra de los 'papeles' (documentos); todo lo cual de
signo urbano." (MELIÀ, 2013, p. 41-42)
54
o fazem mudar o caminho, redefinir sua trajetória e até refazer sua pesquisa52. Pois conosco
não é diferente. Questionamo-nos como aqueles efeitos de sentidos materializados nas
Constituições como dados foram sendo constituídos ao longo de suas reformulações.
Perguntamo-nos também se houve deslizamento com relação ao que comparecia na primeira
Carta Magna ou se os efeitos sentido se estabilizaram ao longo das diferentes formulações
destes documentos. Essas perguntas dariam conta, talvez, dos processos de constituição e de
formulação dos dizeres sobre as línguas. Mas e como circulam estes sentidos? Orlandi (2001)
irá dizer, em suas análises, que interessa ao analista a constituição, a formulação e também a
circulação dos sentidos. Inscritos nessa teoria, também podemos afirmar que a circulação dos
sentidos sobre as línguas importa. E tal circulação, podemos dizer, nos direciona para o
trabalho com as políticas de línguas, na perspectiva da História das Ideias Linguísticas, pois é
na e pela interpretação das constituições nacionais e do que nelas se diz sobre as línguas, que
se pode ler como são formuladas as leis de educação de um país e os projetos promovidos por
sua Secretaria de Políticas Linguísticas. Partindo destas considerações, nos propomos a
analisar as constituições nacionais e como, a partir delas, se produziram as leis para o ensino
de línguas/em línguas indígenas e os projetos em favor do bilinguismo no Paraguai.
Compreendemos que estas leis e estes projetos já são resultado da interpretação sobre as
constituições nacionais e que, a partir de sua leitura, podemos entender como os efeitos de
sentido são produzidos sobre as línguas que aí figuram.

Para tanto, nesta subseção, traremos as questões teóricas sobre as políticas de línguas
(ORLANDI, 1988) tal como desenvolvidas nos estudos da História das Ideias Linguísticas,
bem como a diferença em sua relação com as políticas linguísticas (CALVET, 2002), conceito
advindo da sociolinguística. Desse modo, a partir das discussões feitas pelas duas correntes
teóricas, distinguiremos as duas noções, políticas linguísticas e políticas de línguas, trazendo
também os conceitos de Hamel de políticas da linguagem e políticas do discurso (HAMEL,
1993), bem como procuraremos avançar nestas questões, orientados pela Análise do Discurso
em seu encontro com a História das Ideias Linguísticas, com relação ao nosso objeto.

Buscamos ainda apontar algumas questões que fazem referência à relação entre
políticas de línguas e Estado, já pensando na constituição das línguas oficiais, abordando
algumas questões que envolvem a relação língua – Estado / língua – sujeito / cidadão –

52
Vale dizer que outras correntes teóricas também trabalham com a construção do objeto e que apenas
afirmamos aqui do lugar da Análise do Discurso nesta tese.
55
Estado. Essa reflexão nos leva à discussão das denominações das línguas como nacionais,
maternas, oficiais e estrangeiras.

Para iniciar tal discussão53, trazemos a definição de políticas linguísticas, de acordo


com Calvet, em sua obra Sociolinguística:

Chamaremos de política linguística um conjunto de escolhas conscientes


referentes às relações entre língua(s) e vida social e planejamento linguístico a
implementação prática de uma política linguística, em suma, a passagem ao ato.
(CALVET, 2002, p. 145. Grifos nossos.)

Da perspectiva da Sociolínguística, tal como formulado pelo autor, a política


linguística se apresenta como algo consciente, uma prática que sugere um planejamento que
interfere na vida social. Por essa definição, a política linguística é um "conjunto de escolhas"
que interfere na relação da língua com a sociedade. Após esse primeiro gesto, de formulação
das políticas, segundo Calvet, há um segundo momento que é a efetiva "implementação"
destas políticas em determinada sociedade.

Ressalte-se que ainda, no mesmo capítulo, Calvet salienta que a política linguística
não está somente no âmbito do Estado, podendo ser praticada na esfera familiar. Contudo,
para ter validade, pode-se perceber que a política linguística de que trata a sociolinguística é
fruto de uma política consciente, de um planejamento linguístico54 oficial que determina a
língua utilizada socialmente, um conjunto de políticas oficiais "implementadas pelos poderes
executivos” (ibidem, p. 170). O autor avança em suas considerações e afirma que este
planejamento pode ser regulado e gerido de duas formas: "In vivo" e "In vitro". Conforme
Calvet, “há dois tipos de gestão do plurilinguismo: um que procede das práticas sociais e
outro da intervenção sobre essas práticas” (ibidem, p. 146). Para o autor, o primeiro seria
praticado socialmente, sem intervenção inicial do Estado e o segundo nasce como política de
um Estado. Para o primeiro tipo, a gestão in vivo, define:

O primeiro a que chamaremos de gestão in vivo, refere-se ao modo como as


pessoas cotidianamente confrontadas com problemas de comunicação, os

53
Diniz (2012), em sua tese de doutorado, propôs uma discussão do conceito de políticas linguísticas e de
políticas de línguas, sob a perspectiva discursiva. Algumas de nossas considerações tocam àquelas feitas pelo
autor, mas nosso objeto nos leva para o apontamento de outras questões.
54 Calvet apresenta um Glossário no final de sua obra. Deste, selecionamos a definição de "planejamento
linguístico": “conjunto de políticas oficiais implementadas pelos poderes executivos para definir os usos de uma
ou mais línguas no território de um país; política linguística.” (CALVET, 2002, p. 170)
56
resolvem. (...) Dessa forma, o que chamaremos “línguas aproximativas” (os
pidgins), ou ainda línguas veiculares são produto típico de uma gestão in vivo do
plurilinguismo. Com efeito, nos dois casos a comunicação está assegurada graças à
“criação” de uma língua, e essa criação não deve nada a uma decisão oficial, a um
decreto ou a uma lei; ela é simplesmente o produto de uma prática. (ibidem, p. 146-
147. Grifos nossos.)

O planejamento "in vivo" seria então o encontro entre duas línguas, numa situação de
bilinguismo ou plurilinguismo, em que os próprios falantes, em sua prática, criam ou passam
a utilizar determinada língua, para o que Calvet exemplificará a partir da criação de um
pidgin55. O autor cita ainda a criação de novas palavras em todas as línguas como exemplo de
gestão in vivo. De outro modo, para a sociolinguística, está a gestão "in vitro" que trata da
interferência do Estado nas práticas linguísticas. De acordo com Calvet, esta gestão acontece
quando,

em seus laboratórios, linguistas analisam as situações e as línguas, descrevem-


nas, constroem hipóteses sobre o futuro das situações, proposições para regular
os problemas; depois os políticos estudam as hipóteses e as proposições, fazem
escolhas, aplicam-nas. (ibidem, p. 147. Grifos nossos.)

Como gestão "in vitro", estaria a ciência, na figura dos cientistas, com seu poder de
analisar a línguas. Os linguistas, "em seus laboratórios", analisam os problemas e decidem
sobre o futuro das línguas, sobre as práticas que, posteriormente, os políticos irão aplicar.
Parece haver uma relação direta entre aquilo que se depreende sobre as línguas e o que, a
partir do estudo, será aplicado. Desta perspectiva, a língua aparece como um objeto estável,
um sistema que pode ser analisado "em laboratórios", cujos resultados obtidos serão
aplicados. A língua é tomada como um sistema perfeito de regras sobre o qual se debruçarão
os linguistas e os políticos, para a formulação e implantação de leis que nada tem a ver com o
que efetivamente acontece na sociedade. Esse tipo de gestão parece estar, desse modo,
completamente fora do que é praticado pela sociedade, sendo contrário ao modo de gestão in
vivo. Analisando discursivamente o saber da sociolinguística, em Calvet, mesmo no conceito
de gestão in vivo, a língua parece estar mais uma vez, ou ainda, fora da história e do sujeito.
Segundo o autor, em sua filiação à sociolinguística, um e outro modo de gestão sobre a língua

55 Do mesmo glossário, “pidgin: sistema de comunicação linguística que não tem falantes nativos, sempre
utilizado, portanto, como segunda língua e que resulta do contato entre grupos de falantes de línguas diferentes;
língua de comércio, língua de contato. Quando se torna língua materna de uma comunidade, o pidgin passa a ser
designado como crioulo.”(CALVET, 2002, p. 170. Itálicos do autor.)
57
podem se confrontar, e não haveria como implantar, por exemplo, outra língua nacional se o
povo não o quiser. Retomando as palavras de Calvet,

por isso é difícil impor a um povo uma língua nacional que ele não quer ou que
ele não considera uma língua, mas um dialeto etc. Será igualmente pouco
coerente tentar impor para essa função uma língua minoritária, se já existe uma
língua veicular amplamente utilizada. (ibidem, p. 148. Grifos nossos.)

A gestão "in vitro" de que trata Calvet, essa imposição de uma língua nacional a um
povo que "não a quer", parece estar para além do desejo de um povo. Pensando pela Análise
do Discurso, o que seria o desejo do povo ou o que "é considerado" como língua ou dialeto
está inscrito na memória e nos sentidos sobre as línguas que circulam em determinadas
condições sócio-históricas de produção. "Não querer" uma língua ou "não considerá-la" como
língua não é algo que aconteça desvinculado da história sobre esta língua (em sua relação com
as outras), sobre seu percurso como língua e sobre o que a ciência e os políticos disseram
sobre o que é uma língua.

Desta perspectiva, trazemos para a discussão o caso específico do "crioulo cabo-


verdiano", como é tratada a língua de Cabo Verde, da perspectiva discursiva, este modo de
designá-la é resultado, de um lado, do processo de colonização linguística (MARIANI, 1994)
pelo que passou e, de outro, pelos saberes sobre a língua deste país que circularam desde a sua
colonização.

É nesse ponto que nos parece incidir a diferença teórica entre se utilizar como conceito
"políticas linguísticas" ou a noção "políticas de línguas". Situar-se num campo teórico em que
se utiliza esta última noção nos faz querer compreender além do momento de gestão sobre a
língua. Não se trata somente da gestão "in vivo" ou "in vitro", já que este é um dizer sobre a
política linguística filiado a um campo teórico. Em Análise do Discurso, interessa
compreender como o processo de formulação e implementação de qualquer política de línguas
está determinado pelas condições de produção e como este processo está materializado na
língua, fazendo circular efeitos de sentidos sobre estas.

Interessa-nos, desta perspectiva, analisar, em Calvet, a definição das políticas


linguísticas e o dizer sobre "gestão", um termo vinculado aos dizeres da economia, pelo qual
se apagam os sentidos sobre as línguas, que são anteriores a qualquer gestão sobre elas. Além

58
disso, o próprio termo "gestão", no sintagma “gestão da língua”, apresenta-se pelo discurso da
ciência sobre a língua, no imaginário de que seria possível tratar de um objeto por ele mesmo,
em um tubo de ensaio, em um laboratório – de acordo com o que sugerem os determinantes
“in vitro”, “in vivo”. A “gestão” aparece como um modo de organizar as políticas linguísticas
como se estas estivessem separadas das línguas e do seu modo de significar na sociedade em
que figuram. As denominações "in vivo" e "in vitro" materializam e reforçam também essa
imagem da ciência, dos cientistas em seus laboratórios, com seus tubos de ensaio. Analisando
o dizer da sociolinguística sobre as políticas linguísticas nota-se um apagamento dos
processos sócio-históricos-políticos-ideológicos e econômicos que produzem e reproduzem os
sentidos sobre as línguas. Sobre isso, podemos afirmar que não há ciência fora da política e
que toda prática científica tem consequências sobre os sujeitos e a história (ORLANDI, 2002).
Auroux (2009 [1992]) irá dizer que um dos legados mais prejudiciais dos comparatistas no
século XIX foi o mito da cientificidade. Para o autor,

Os comparatistas, considerando que sua disciplina era a “ciência”, entendiam por aí


três coisas: i) ela perseguia um objetivo de conhecimento puramente
desinteressado; ii) ela construía a representação dos fenômenos linguísticos; iii) ela
não exercia – e não devia exercer – nenhuma ação sobre esses mesmos
fenômenos. (ibidem, p. 7. Aspas do autor. Grifos nossos.)

Ao fazer essa crítica, o autor chama a atenção para uma ciência não desinteressada,
uma ciência que não está fora da história, pelo que podemos afirmar que toda ciência se
inscreve sócio-historicamente, em condições de produção determinadas. Privilegia-se, nesta
perspectiva, uma ciência cujos cientistas estão interpelados ideologicamente e se inscrevem
em redes de sentidos. Este é, portanto, o modo de fazer ciência ou, no caso de Auroux, uma
história das teorias (ideias) linguísticas que considera o próprio sujeito de linguagem.

Quando abordamos as políticas linguísticas, sob a perspectiva do campo teórico da


teoria materialista de construção de sentidos, podemos afirmar que toda política sobre a língua
é já um gesto no político (GUIMARÃES, 2005). Por este modo de fazer ciência e dos modos
de dizer sobre a ciência, Orlandi (1988) irá contrapor às políticas linguísticas as políticas de
línguas. Por esta concepção, diz a estudiosa, “falar é, em si, uma prática política. No sentido
largo do político, que assim considera as relações históricas e sociais do poder” (Orlandi,
1988, p. 7. Itálico da autora), considerando, assim, as políticas de línguas como um gesto

59
inscrito na história e não fora dela. Se falar é já em si uma prática política, falar sobre as
línguas é fazer surgirem os sentidos (ORLANDI, 2003 [1993]) sobre as línguas. É nesse
sentido que falar em políticas de línguas é falar de outro lugar, diferente do das políticas
linguísticas. Este deslocamento mostra-se na língua e no modo de pensar as políticas como
inscritas historicamente.

As políticas de línguas estão relacionadas a diversas questões, em que se analisam


tanto a formulação de políticas sobre as línguas como a produção de instrumentos
linguísticos, considerando-as práticas político-discursivas. Considera-se então, na perspectiva
da História das Ideias Linguísticas, uma prática do político na língua (GUIMARÃES, 2005),
em que há sentidos para os diferentes modos de falar da língua, de planejá-la ou de,
simplesmente, colocá-la em funcionamento. Vale ressaltar o que Orlandi (1988) chama de
processos menos evidentes, atentando para o simples fato de que falar é já um ato no
simbólico, um ato político e que, por isso, significa, mesmo que seja em um processo "menos
evidente". Nas palavras da autora,

Certamente haverá muitos sentidos a dar à noção de política linguística. E esses


sentidos vão desde a tematização mais formal do planejamento de uma política
linguística explícita assumida claramente como organizacional, até a
observação de processos institucionais, menos evidentes, inscritos de forma
implícita nos usos diferenciados (e diferenciadores) da linguagem. (ibidem, p. 7.
Grifos nossos.)

Desse modo, todo dizer sobre a língua e toda prática linguística instaura sentidos sobre
as línguas, todo processo institucional menos evidente é também uma prática simbólica e uma
prática política. Para avançar no que se entende como o político na língua, tomamos
emprestadas as palavras de Guimarães:

o político, ou a política, é para mim caracterizado pela contradição de uma


normatividade que estabelece (desigualmente) uma divisão do real e a afirmação de
pertencimento dos que não estão incluídos. Deste modo o político é um conflito
entre uma divisão normativa e desigual do real e uma redivisão pela qual os
desiguais afirmam seu pertencimento. Mais importante ainda para mim é que
deste ponto de vista o político é incontornável porque o homem fala. O homem
está sempre a assumir a palavra, por mais que lhe seja negada. (GUIMARÃES,
2005, p.16. Grifos nossos.)

60
Por essa definição que "o político é incontornável porque homem fala", podemos
dizer, com Guimarães, que não há gesto no simbólico que não seja político, todo dizer
instaura uma divisão na política dos sentidos que faz significar um dizer de um modo e não de
outro, que inscreve sentidos em determinada rede, ou, como diria Guimarães, em
determinados espaços de enunciação (ibidem). Complementando a noção de político, na
perspectiva discursiva, trazemos a definição de Mariani e Medeiros que entendem o político

como uma disputa pela estabilização ou pela desestabilização linguageira, disputa


que inscreve uma divisão no processo de produção de sentidos, tem-se, dessa
forma, a não separação entre sujeito, sentido e o político. Ou seja, o simples fato
de tomar a palavra já é em si uma prática política com todas as suas implicações.
(2010, p. 10. Grifos nossos.)

Retomando o que dizem as autoras, pela Análise do Discurso, considera-se sujeito,


sentido e político como indissociáveis, é no gesto de tomar a palavra que o sujeito inscreve
seu dizer, significando. É justamente nesta orientação que buscamos analisar o político na
língua, pela leitura de dizeres sobre a língua no Paraguai em nosso material de análise.
Considera-se que todo trabalho acerca da linguagem (e pela linguagem) constitui-se em um
trabalho do simbólico, tomando a historicidade dos processos de formação e de formulação
das políticas de línguas.

A noção de política de línguas se distancia, assim, do conceito de política linguística,


anteriormente formulado pelos estudos sociolinguísticos, pelo fato de que, na perspectiva aqui
apresentada,

faz parte da reflexão da política linguística não só procurar esclarecer fatos que se
situam no escopo da política da linguagem, como tornar conhecidos percursos
históricos que instituem uma política específica, ou ainda, questionar teorias e
métodos incapazes de apreender essa especificidade, e até mesmo elaborar conceitos
que melhor expressem essas relações na linguagem. (ORLANDI, 1988, p. 7. Grifos
nossos.)

61
Na perspectiva discursiva, pela análise das políticas de línguas, busca-se compreender,
dentre outras questões: a historicidade que resulta na ascensão de uma política linguística;
como a implementação de determinada ação produziu e fez circular efeitos de sentidos na
sociedade; como os dizeres sobre as línguas nas políticas linguísticas incidem na relação entre
língua e sujeito. É por considerar a língua como objeto simbólico (ORLANDI, 2002a),
inscrito no social e no histórico, que as denominações sobre as línguas e sobre suas políticas
nos fazem considerar para além das práticas oficiais do Estado e do povo, pensando também
nos pequenos gestos sobre as línguas, nas diversas instâncias do poder, também através de
seus aparelhos de estado: família, igreja, escola. (Althusser, 2003 [1971])

De outro campo teórico, Hamel, por sua vez, tratará do que denomina como políticas
da linguagem, que são

os processos históricos de mudança linguístico-discursiva de línguas nacionais e


subordinadas (autóctones ou de imigrantes), como também de sócio- e dialetos ao
interior de uma língua. Incluímos as políticas explícitas ou implícitas, de
instituições estatais, mas também as intervenções muitas vezes veladas de
56
outras forças sociais (HAMEL, 1993, p. 26-27. Tradução nossa. Grifos nossos.)

Hamel (1993) tratará das políticas da linguagem como processos históricos, a partir de
uma perspectiva de mudança, a que denomina como "linguístico-discursiva", incluindo já
nesta definição a noção do discursivo atrelado ao linguístico. Este autor afirma ainda que por
esta abordagem também se inserem os processos de instituições não estatais, por considerar
que as intervenções de outras "forças de poder" também instituem sentidos sobre as línguas,
devendo então ser objeto das políticas da linguagem, em consonância com o que afirmava
Orlandi (1988). São, então, segundo Hamel, tanto estes processos históricos que acontecem
com relação às línguas nacionais, como também as intervenções que afetam outros âmbitos
que constituem o interesse das políticas da linguagem.

Considerando o linguístico-discursivo, tal como dito anteriormente, Hamel afirma que


por incluir o que chama de "microníveis da interação verbal" - esses processos fora das

56
“Los procesos históricos de cambio linguístico-discursivo de lenguas nacionales y subordinadas (autóctonas o
de inmigrantes), como también de socio- y dialectos al interior de una lengua. Hemos incluido las políticas
explícitas o implícitas, de instituciones estatales, pero también las intervenciones muchas veces veladas de otras
fuerzas sociales." (HAMEL, 1993, p. 26-27)
62
grandes instituições que regulam o poder - deveríamos tratar para além das políticas da
linguagem, das políticas do discurso.

Em resumo, este exemplo de pesquisa empírica que inclui, mas não se limita ao
micro-nível da interação verbal, demonstra a necessidade de formular conceitos
integradores, tanto da linguagem como do político, para poder analisar o objeto das
políticas da linguagem em todas as suas dimensões. Rigorosamente, deveríamos
falar de políticas do discurso. (HAMEL, 1993, p. 22. Tradução nossa. Grifos
57
nossos.)

Pelo que afirma Hamel, as políticas da linguagem estariam inscritas em instituições do


governo, mas estas não seriam as únicas para as quais deveríamos direcionar nosso olhar.
Segundo o autor, deveríamos falar de políticas do discurso, considerando que todo o gesto
sobre a linguagem, em diversas dimensões, merece uma pesquisa. Considerando pela Análise
do Discurso que é no simbólico que se diz sobre as línguas e que este gesto está inscrito na
história, no político e no ideológico, afirmamos que toda política de línguas faz ressoar efeitos
de sentidos (PÊCHEUX, 1990 [1969]) sobre as línguas e sobre os sujeitos que por ela (se)
dizem/constituem. Para Mariani e Medeiros (2010, p. 9) “falar, nesta perspectiva, é inserir-se
em redes históricas de significações e em relações de força na sociedade”, em que se procura
compreender além do efeito do visível nas políticas linguísticas, pelas relações de força e de
poder, já apontadas pelo materialismo histórico. É deste modo que empreendemos nosso gesto
de leitura sobre o processo de gramatização e as políticas de línguas no Paraguai, buscando
analisar discursivamente como se materializa o funcionamento destas políticas nos discursos
sobre o guarani e o espanhol, promovendo como efeito um bilinguismo que chamaremos de
imaginário.

2.3 SOBRE NAÇÕES E NACIONALISMO

Nesta seção do trabalho, pretendemos retomar historicamente algumas relações


existentes entre as noções de nação e nacionalismo para poder compreender, posteriormente,

57 “En resumen, este ejemplo de investigación empírica que incluye, pero no se limita al micro nivel de la
interacción verbal, demuestra la necesidad de formular conceptos integradores, tanto del lenguaje como de lo
político, para poder analizar el objeto de las políticas del lenguaje en todas sus dimensiones. En rigor,
deberíamos hablar de políticas del discurso.” (HAMEL, 1993, p. 22. Tradução nossa.)
63
como ressoam os efeitos de sentidos sobre o Estado paraguaio, por meio das formações
imaginárias para esta nação e, por sua vez, para as imagens do guarani e do espanhol como
línguas nacionais e para a imagem de um sujeito nacional bilíngue.

Para entendermos nação e nacionalismo pelo campo da história, de modo a


compreender a reterritorialização pela Análise do Discurso, trataremos o conceito de nação a
partir das discussões desenvolvidas por Eric Hobsbawm (2013 [1974]), que parte do texto
sobre nação formulado por Renan58 (1997) ainda no século XIX. Ainda nesse caminho, são
importantes também as contribuições de Benedict Anderson (2008 [1983]) e Peter Burke
(2010 [2004]) quanto à formação das nações no mundo moderno em suas particularidades.
Cabe ressaltar que tais autores figuram em nossa escrita para que seja possível compreender
como o campo teórico no qual nos inscrevemos reterritorializa o conceito de nação e
nacionalismo a partir dos pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso. Com
isso, sempre seguindo os estudos da História das Ideias Linguísticas, pela Análise do Discurso
no Brasil, nos apoiaremos nos estudos de Orlandi (2008 [1990], 2009b, 2009c) sobre a
relação entre nação e língua nacional e, com relação ao nacionalismo paraguaio, encontramos
em Rodríguez Zuccolillo (2000) um estudo que nos ajuda a sustentar nossa discussão.

Para começar esta discussão, é importante ressaltar o quão recente é o conceito de


nação, por ter sido somente no século XVIII, com a Revolução Francesa, que os moldes de
uma nação foram sendo estabelecidos. Como afirma Renan, “As nações são algo novo na
história” (1997, p. 14). Antes do século XIX, as sociedades estavam divididas em impérios e
o sentimento de unidade se dava em relação ao rei, ao imperador, a um governante. Tal qual
afirma Renan (1997), em uma outra perspectiva dentro do campo da história, Hobsbawm
(2013[1974], p. 11) dirá que a nação é uma invenção moderna e “o sentido moderno da
palavra não é mais velho que o século XVIII (...)” Ainda de acordo com este autor, o
dicionário da Real Academia Espanhola (RAE) não apresenta os verbetes „Estado‟, „Nação‟ e
„língua‟ no sentido moderno até a sua edição de 1884, possibilitando-nos perceber que tais
verbetes são formulações do século XIX, pós Revolução Francesa (ibidem, p.27)59.

58
O texto original de Renan, publicado em francês, é do ano de 1882. Servimo-nos de sua tradução, publicada
pelos Cadernos da Pós/Letras da UERJ, no ano de 1997.
59
Lembramos, neste ponto, os estudos sobre os dicionários como instrumentos linguísticos, produzidos também
como discurso: cf. COLLINOT, Andre. MAZIÈRE, Francine. Un Prêt-a Parler: le dictionnaire. Paris: Press
Universitaires de France, 1997; NUNES, José Horta. Dicionários no Brasil: análise e história do século XVI ao
XIX. Campinas, SP: Pontes; São José do Rio Preto, SP: FAPERP; SP: FAPESP, 2006. Especificamente sobre o
Dicionário da Real Academia, cf.: OLIVEIRA, Ana Paula Fabro de. "A história que o dicionário (não) conta: a
64
Podemos ler em Anderson (2008 [1983]) que as novas nações americanas teriam se
inspirado nas próprias dinastias ao que, anos mais tarde, em uma reedição de sua obra, já
constatava que as novas nações do século XX tinham suas bases nas imagens das nações
europeias do século anterior. Conforme o autor, uma nação não só seria uma comunidade
imaginada como as novas nações do século XX não seriam imaginadas da mesma forma que
as primeiras, por se formarem a partir de uma concepção de nação já aceita e difundida no
dito velho mundo.
Seguindo um caminho que parece se aproximar do traçado por Renan (ibidem),
Hobsbawm (2013 [1974, p. 17) terá como hipótese de trabalho inicial a de que uma nação é
“qualquer corpo de pessoas suficientemente grande cujos membros consideram-se como
membros de uma „nação‟.” Estabelece aí um limite de tamanho ao qual não se pode chamar
de exato por não determinar o que seria o referente do sintagma “suficientemente grande” a
que se refere, ao que se poderiam opor as diversas nações de diferentes dimensões geográficas
e índices populacionais. Analisando esse dizer da história sobre a nação, podemos verificar
um imaginário para “o sujeito de responsabilidade” de carregar o espírito da nação por se
considerar membro deste grupo, ou seja, nesse dizer, é atribuída ao sujeito uma relação com a
unidade imaginária da nação. As nações são projetadas imaginariamente por assim dizer, nas
palavras destes autores, como um espírito de pertença com o qual certo grupo de identifica.

Hobsbawn também afirma que a criação de símbolos nacionais joga um papel


fundamental para a conformação de um Estado Nacional. Em suas palavras,

Naturalmente, os Estados iriam usar a maquinaria de comunicação,


crescentemente poderosa junto a seus habitantes – sobretudo as escolas primárias
– para difundir a imagem e a herança da “nação” e inculcar adesão a ela, bem
como liga-los ao país e à bandeira, frequentemente “inventando tradições”, ou
mesmo nações, com esse objetivo. (ibidem, p. 128. Grifos nossos. Aspas do autor.)

Como observa o autor, os Estados usam sua "maquinaria" para promover a imagem e a
herança da nação. Discursivamente, podemos afirmar que pela criação de símbolos nacionais
produz-se uma imagem de unidade mediante a construção de símbolos com os quais devem se
identificar os sujeitos. Discursivamente, a língua, o hino, a bandeira, assim como a língua
nacional, são objetos simbólicos que representam uma unidade imaginariamente construída

memória do franquismo nas definições lexicográficas da Real Academia Española". Este trabalho está em
andamento e o artigo referente a sua apresentação nos foi gentilmente cedido pela autora.
65
para uma nação. A esta afirmação vale acrescentar que não se cria um sentido de nação sem
que haja um trabalho histórico, ideológico e político.

Anderson (2008 [1983]) coloca em questão a produção de outros símbolos que, de sua
perspectiva, seriam formas de representar e conformar a nação como uma comunidade
imaginada. Segundo o autor, o censo, o mapa e o museu 60 são formas de representar ou
rememorar aquilo que não se vê diretamente, numa tentativa de construir uma identidade
nacional. Os censos visam encher os mapas com a população em si. São também, para
Anderson, importantes na construção de imagens para uma nação. São estes, através da
evidência de se apresentarem como “estando lá” e de guardarem as verdades da nação, sua
história, seus números e suas proporções geográficas, limites e produções, os responsáveis por
estabilizar a imagem da identidade nacional. Por este mapa imaginado a partir dos números do
censo, o Estado cria suas políticas, seus programas e suas necessidades. Os números de um
país se transformam em suas políticas. De nossa parte, vemos o censo como discurso61, por
considerá-lo por sua construção em condições de produção específicas.

Com relação à nosso objeto, no Paraguai, o censo de 1992 apontou para um número de
quase 90% de falantes de guarani (RODRÍGUEZ ZUCCOLILLO, 2000), incluindo neste
número os bilíngues. No mesmo ano, a constituição de 1992, em seu novo texto, afirma que o
Paraguai é um país bilíngue. Isto nos permite dizer que uma constituição nacional faz parte de
uma política, e quando diz da língua, implica em política de língua por promover e difundir
sentidos sobre as línguas e seus status no país. O censo e a constituição de 1992 fazem
circular os sentidos para um país bilíngue, pelos dizeres de uma constituição que faz
estabilizar oficialmente os sentidos sobre essa nação, o que se deve difundir, acreditar e
realizar, um modo de fazer de um sentido a lei como único sentido possível para determinada
república. Por estas considerações, podemos afirmar que a relação entre língua e nação não se
coloca para o sujeito diretamente, mas está no censo, na constituição, no mapa, nas
instituições.

O conceito de nação nos é caro por ser este, de acordo com Orlandi (2009), no
continente americano, atravessado por processos de colonização, uma relação intrínseca com
a língua nacional. Para Orlandi, falar de nação do lado de cá do Atlântico (como ela se refere)
é falar também da língua:
60
Da perspectiva discursiva, ver Romão (2011) e Sobrinho (2011) sobre o Museu da Língua Portuguesa.
61
Sobre o censo, na perspectiva discursiva, cf. Mariani, 2010: "Unidade idealizada na variedade concreta:
censos linguísticos, congressos sobre a língua falada e normas da pronúncia-padrão".
66
Falando da língua, fala da nação: “(...) não quer ter nenhum sotaque, desdenha e
sufoca a espontaneidade própria e vive de uma língua fictícia e imaginária” (ibidem,
p.17). Esta é a busca do real da língua no real de sua história, da nossa história
da língua, de sua relação com a nação e com o Estado. (ORLANDI, 2009, p. 7)

Concordando com Orlandi, podemos afirmar que as nações americanas se


desenvolveram como nações a partir da formação de um Estado e a instituição de uma língua
nacional, cuja história se organiza em sua relação com a formação da nação, filiada a uma
memória de colonização em nosso continente. Com Orlandi (ibidem), afirmamos que a
história da língua não está separada na história da nação, há aí uma relação de
entrecruzamento que se fixou no imaginário dos estados americanos como indissociável e que
faz ressoar sentidos sobre as nações e suas línguas.

Deste modo, podemos afirmar que a noção de língua nacional se construiu a partir da
configuração de um Estado nacional e antes disso não se podia falar de uma língua da nação,
apesar de já haver línguas em que se organizavam o Estado e suas leis. Da perspectiva
discursiva, entendemos que a ideia de língua nacional e a associação que se construiu
histórica e imaginariamente foi se discursivizando a partir dos dizeres oficiais sobre as nações
e suas línguas, pelas políticas de cada estado nacional ao impor sua língua a todos os sujeitos
que conformavam as novas nações, apesar da diversidade real existente. De outra perspectiva,
Burke (2010 [2004]) afirma que, dos meados do século XVIII em diante, os vínculos entre
língua e nação se tornaram cada vez mais estreitos e encontramos um número crescente de
exemplos de ideia de que “uma língua” deveria unir a trindade tradicional de “um rei, uma fé,
uma lei” (une roi, une foi, une loi).

Thiesse (1999) faz uma distinção fundamental ao afirmar que nação e Estado não se
superpõem, visto que são noções diferentes com princípios diferentes. A autora considera a
nação em seu funcionamento imaginário, que pela construção de uma identificação aos
símbolos nacionais, apaga as diferenças entre os sujeitos, produzindo um efeito de identidade
nacional. Já com relação ao Estado, para Thiesse (ibidem), este tem sua materialidade própria,
por organizar-se em uma estrutura político-econômico-geográfica, com instituições, leis e
pela promoção de suas ações enquanto unidade administrativa imaginária.

Considerando as colocações de Thiesse (ibidem), queremos afirmar que, embora haja


esta diferença nos modos de conformação da nação e do Estado, há, na atualidade, uma
67
projeção imaginária de um Estado nacional, que conjugaria as decisões políticas e uma
relação de reconhecimento intersubjetivo.

Com relação a nosso estudo, a questão que nos toca aqui é exatamente esta relação da
nação e da identificação com o nacional em sua relação intrínseca com a língua. Zucolillo
(2000), da perspectiva discursiva, afirma que, as pesquisas sobre as quais se debruça, que
tematizam o nacionalismo no Paraguai, não abordam a questão linguística e que o guarani é
assumido como "elemento cultural onipresente no transcurso da história" (ibidem, p. 30.
Itálico da autora). A autora afirma ainda que, nos discursos sobre a língua e sobre o
nacionalismo, "isso leva a atribuir à 'rejeição' do guarani um caráter marcadamente
antinacionalista e, portanto, a qualificar os seus responsáveis de antipatriotas. (ibidem.
Itálicos e aspas simples da autora.). Com relação aos discursos da reivindicação nacionalista,
Zucolillo afirma:

Essa associação entre nacionalismo e guarani leva (...) a reinterpretar a própria


manutenção da língua: uma vez que esse nacionalismo não constituiria, a rigor, um
fato novo mas apenas o ressurgimento de uma corrente essencial, ele seria
responsável não apenas pelo atual movimento de reivindicação da língua mas
62
também pela sua situação ao longo da história. (ibidem, p. 32. Itálicos da
autora. Grifos em negrito nossos.)

De acordo com a autora, os discursos sobre o nacionalismo, além de significarem o


guarani como um "elemento cultural", fazem ressoar os sentidos para a sua manutenção como
resultado de uma identificação com o nacional, apagando as condições históricas que
promoveram uma sociedade monolíngue.

Em continuidade a estas reflexões, propostas por Zucolillo (ibidem), em nosso estudo,


queremos compreender como, no estado paraguaio, a distinção proposta por Thiesse (1999) se
marca nas ações sobre uma língua que historicamente foi significada como língua da nação,
da identidade nacional, como aponta Zucolillo (ibidem), e que, na atualidade, vincula-se ao
Estado por sua promoção como língua oficial, devendo, então, ocupar este outro espaço, o da
instituição. Ademais, os embates entre a dita língua nacional e a reconhecidamente oficial,
bem como as demais designações possíveis que tampouco darão conta de dizer sobre as
línguas. Com relação a este tema, trataremos na seção seguinte sobre a divisão que diz das

62
Os itálicos da autora fazem referência à retomada dos termos recortados de seu corpus de análise.
68
línguas, que as faz significar de um ou outro modo e como, a partir de suas denominações
podem (ou não) representar sua nação e seus sujeitos.

2.4 ENTRE O MATERNO, O OFICIAL E O NACIONAL, UMA DIVISÃO IMAGINÁRIA

Nesta seção de nossa tese, retomaremos algumas formulações sobre a língua e os


diferentes modos de organizá-la frente a uma determinada sociedade. Dizer de uma língua em
um espaço específico e em um tempo determinado é classificá-la em relação a este espaço,
aos seus falantes e às demais línguas existentes neste ou em outros lugares. Nesta mesma
direção, Gadet e Pêcheux (2010 [1981]) já afirmavam que há língua e há línguas. Também
podemos retomar as noções já apresentadas: a língua fluida (ORLANDI e SOUZA, 1988),
como aquela que comporta todas as línguas possíveis, as que há para além daquela que tem
uma existência realizada, as línguas não gramatizadas, não instrumentalizadas. A língua
falada pelo povo, que tem uma ordem própria, uma ordem interna, cuja imposição está na
própria condição de ser língua; E a língua, aquela para a qual trabalha um Estado, em que se
investe, e que se reveste de A língua. Esta língua que se coloca como única para um povo, que
obedece às normas e que se faz obedecer, com toda sua proibição, sua gramática, suas obras
literárias, suas regras e seus acordos, se deixa capturar e se mostra como una, estável e
possível: é a língua imaginária (ibidem). O que há sempre são línguas em relação a outras,
línguas que ocupam espaços geográficos, institucionais, marginais ou de prestígio. Há línguas
para além da língua e qualquer tentativa de apreendê-las será sempre um gesto de
interpretação sobre elas em que se busca organizá-las, subordiná-las, silenciá-las ou promovê-
las.

Auroux (2009 [1992], p. 129) dirá que uma determinada língua (a brasileira, a
francesa) “é sempre um artefato”, que funciona e que se realiza pela criação de instrumentos
linguísticos que lhe dão a unidade imaginária necessária para que possam ser reconhecidas
como línguas e, mais especificamente, como língua oficial ou nacional de determinado espaço
político-geográfico. Também é de Auroux (2009 [1992], 2010 [1994]) a noção de

69
hiperlíngua 63 , à qual podemos recorrer para tratar desta divisão imaginária que se produz
sobre as línguas.

A língua empírica não tem existência autônoma (ou substancial, como diziam
antigamente os filósofos); ela existe nas manifestações sonoras ou escritas sem se
reduzir a elas, porque a característica de um enunciado linguístico é justamente a de
não ser simplesmente uma vibração do ar de um ambiente. Mas só existem, em
determinadas frações de espaço-tempo, sujeitos, dotados de determinadas
capacidades linguísticas ou ainda dotados de “gramáticas” (não
necessariamente idênticas), envoltos por um mundo e por artefatos técnicos,
entre os quais figuram (às vezes) gramáticas e dicionários. (...)
Denominaremos “hiperlíngua” a este espaço-tempo, assim estruturado.
Introduzir um novo objeto (por exemplo: um sujeito dotado de capacidades
linguísticas desviantes, um dicionário, ou ainda o meio de comunicar a distância)
muda a estrutura da hiperlíngua. Os acontecimentos na hiperlíngua (aquilo a que
chamamos “discursos”) mudam igualmente (mais ou menos) a estrutura.
(AUROUX, 2010 [1994], p. 243. Grifos nossos.)

De acordo com as colocações deste autor, uma língua é a realização como artefato da
hiperlíngua, que se estrutura em determinado espaço-tempo, em uma conjuntura histórica, por
sujeitos de seus discursos. Assim, podemos afirmar que uma língua nacional, por exemplo, é
sempre nacional em determinada nação, e em outro espaço, para outros sujeitos, poder-se-á
referir-se a esta mesma língua como estrangeira. Esta nossa primeira colocação é, exatamente,
uma tentativa de afirmar que estas designações são ideológicas e determinadas
historicamente. Observamos, deste modo, que o funcionamento destas designações se produz
na história. Para pensar nesta questão, tomemos um trecho de Pêcheux:

enunciaremos a título de proposição geral que os fenômenos linguísticos de


dimensão superior à frase podem efetivamente ser concebidos como um
funcionamento mas com a condição de acrescentar imediatamente que este
funcionamento não é integralmente linguístico, no sentido atual desse termo e que
não podemos defini-lo senão em referência ao mecanismo de colocação dos
protagonistas e do objeto de discurso, mecanismo de que chamamos de
"condições de produção" do discurso. (1990 [1969]), p. 78. Itálicos do autor.
Grifos em negrito nossos.)

De acordo com o autor, o funcionamento dos "fenômenos linguísticos", e estamos


tomando aqui as designações como tal, só podem ser definidas em referência "ao mecanismo"

63
Diniz argumenta que, do ponto de vista discursivo, é preciso afastar-se da noção de hiperlíngua, que, de sua
perspectiva, "se sustenta em uma noção de indivíduo dado a priori" (2012, p. 50). Embora concordemos com as
análises do autor, em nossa tese, abordaremos esta noção, tomando as considerações de Auroux (2010 [1994]),
na relação que o autor estabelece entre a hiperlíngua e a língua nacional, em espaço e tempo determinados.
70
das "condições de produção do discurso", em que se inscrevem os protagonistas e o objeto do
discurso. Para nós, as designações de que tratamos funcionam nesta trama em que
"protagonistas" - posteriormente, Pêcheux (1988 [1975]) trabalhará com a noção de "sujeitos"
- e o objeto do discurso se enlaçam, significando, deste modo, por seu funcionamento.

Retomando a formulação de Pêcheux (1990 [1969]), Orlandi dirá que:

Do ponto de vista da Análise do Discurso, o que importa destacar é o modo de


funcionamento da linguagem, sem esquecer que esse funcionamento não é
integralmente lingüístico, uma vez que dele fazem parte as condições de produção
que representam o mecanismo de situar os protagonistas e o objeto do discurso.
(ORLANDI, 1983, p. 107)

Para a autora, importa, então, destacar o "modo de funcionamento da linguagem". De


nossa parte, podemos afirmar que, enquanto linguagem, as designações "língua materna",
"língua nacional", "língua estrangeira" e "língua oficial" funcionam na discursividade
produzindo efeitos de sentido quando colocadas em relação. Tanto pelo próprio ato de
designar, que já é histórico, como quando atualizadas na enunciação, toda vez que se diz
delas. Ou seja, sempre que se mobilizam estas noções, nos dizeres sobre as línguas nos
diversos textos que circulam em dada sociedade.

Podemos, para isso, também lembrar que elas estão sempre em relação: uma língua
não é sempre língua materna, nacional ou estrangeira. Neste ponto, podemos voltar a um
enunciado base da Análise do Discurso para a qual “o sentido está sempre em relação a”.
(CANGUILHEM, 1994) Por esta perspectiva, o sentido sobre as línguas não é eterno,
evidente ou único, o sentido é construído, como dissemos em vários momentos, na história e
só faz sentido se já houver (efeitos de) sentido. Assim, dizer que o guarani é língua nacional
do Paraguai é afirmar pela história que o Paraguai é uma nação e que reconhece 64 o guarani
como sua língua.

Pensando neste funcionamento das designações sobre as línguas e baseados em


autores que já se debruçaram sobre o tema pela perspectiva discursiva (GADET e PÊCHEUX,
2010 [1981]; ORLANDI, 1983, 2008 [1990], 2009; GUIMARÃES, 2007; MARIANI, 2004;
2012; 2006; ZOPPI-FONTANA, 2009; BALDINI, 2010; DI RENZO, 2012; entre outros),
retomaremos algumas formulações sobre estas designações a fim de demonstrar o que se

64
Com "reconhecer" não queremos dizer que é uma atitude frente à língua, mas uma construção histórica, que se
inscreve na materialidade da língua, como nos dizeres da Constituição de 1967 (Anexo V), em que se afirma que
o guarani é língua nacional naquele espaço.
71
compreende sobre este modo de organizar a língua no espaço/tempo, no campo da História
das Ideias Linguísticas, além de tentar caminhar um pouco no entrelaçamento das ideias que
se construíram.

Para começar neste trajeto, acerca da ideia de língua nacional, trazemos, a formulação
de Di Renzo sobre o tema:

Como se sabe, a ideia de língua nacional está ligada à ideia de Estado, logo, seus
limites e fronteiras são, muito antes que territoriais, linguístico-imaginários. É
constitutiva da noção de Estado a ideia de unidade, específica e especialmente
linguística; justamente por isso se diz que fronteiras se dão no espaço do
imaginário. (DI RENZO, 2012, p. 14. Grifos nossos.)

Como coloca a autora, para além das linhas que o cercam territorialmente, o Estado é
contornado imaginariamente por uma fronteira linguística, que determina o início e o final de
uma nação, em seu encontro com a outra, em suas diferenças. Destarte, partindo das
colocações de Guimarães (2007), Di Renzo (2012) e Branco (2013), lembramos que a
configuração de um espaço, além das disputas políticas que nele se promovem, é determinado
por fronteiras linguístico-imaginárias que põem em relação o histórico, o linguístico, o
político e os sujeitos, num entrecortado de imagens em que não há uma anterioridade, no
sentido de que não há primeiro uma língua nacional para haver um Estado ou vice-versa, não
há um Estado para haver uma língua nacional e um sujeito que fala esta língua. As relações,
nos parece, são simultâneas e não subsequentes. Neste sentido, o projeto de um Estado
Nacional está diretamente ligado à configuração de uma língua nacional que sustenta a ideia
de unidade necessária à nação (GADET e PÊCHEUX, 2010 [1981]). Nas palavras de Di
Renzo (2012, p. 14), como transcrito anteriormente, “é constitutiva da noção de Estado a ideia
de unidade, específica e especialmente linguística.” Esta questão, para a qual aponta a autora,
é a do funcionamento ideológico que dispõe imaginariamente as línguas para seus Estados. A
vinculação língua nacional/ Estado nacional aparece como direta, em que a língua nacional
desempenha algumas funções pela garantia desta relação:

Com isso, a língua nacional tem pelo menos duas funções: de uma parte,
substituir/uniformizar a diversidade linguística utilizada e, de outra parte,
encarnar a nação, de modo a assegurar uma comunicação horizontal e vertical no
interior da nação, que sendo de caráter geográfico ou social, todos os cidadãos
devem compreendê-la e utilizá-la de maneira bem sucedida. (...) Acima de tudo, o

72
idioma oficial deve convencer seu povo de que sua língua é uma verdadeira língua
de cultura. (ibidem, p. 30. Grifos nossos.)

Segundo Di Renzo (ibidem), a língua nacional tem, imaginariamente, as funções de


“uniformizar a diversidade linguística” e “encarnar a nação”, carregando sobre si a
responsabilidade de representá-la. A língua faz parte do projeto de unidade sobre o qual se
funda uma nação, visto que é ela uma das marcas mais fortes e arraigadas da cultura nacional.
É pela língua que se reconhece o par nacional, e é também por ela que se desconhece o outro,
falante de outra língua que não a que se identifica como “nossa”.

Por estas colocações, já podemos apontar um primeiro modo de dizer sobre a língua,
relacionando-a a um Estado nacional, do modo como desenvolve Di Renzo, em sua obra
sobre o Estado Nacional e as políticas linguísticas, ao analisar os programas de ensino de
língua portuguesa do Liceu Cuiabano. Para a autora, “a ideia de língua nacional está ligada à
ideia de Estado” (ibidem, p. 14), que coloca a língua nacional no lugar de língua do Estado, e
que parece confirmar a coincidência já cristalizada no imaginário brasileiro entre língua
nacional e língua oficial.

Diversas pesquisas no Brasil já apontam para os processos de historicização e


produção dessa coincidência imaginária entre língua materna, nacional e oficial (ZOPPI-
FONTANA, 2009; GUIMARÃES, 2007; BALDINI, 2010), pela qual a evidência da unidade
faz com que, sob o nome de língua portuguesa, funcionem tais designações, esquecendo-se
(ou fazendo esquecer) que há falantes no país que não têm esta língua como materna, por
exemplo.

Se pensarmos na configuração da sociedade paraguaia e nas suas línguas oficiais,


veremos que esse modo de coincidência das línguas não segue os mesmos caminhos. Ao
longo da história do Brasil, houve uma conformação linguística para a unidade da língua
portuguesa que a fez ocupar o lugar de língua materna, nacional e oficial no imaginário social.
O guarani, por sua vez, até os dias atuais, mantém-se, no lugar de língua materna da maioria
da população rural, além de mostrar-se significativamente nos dados sobre o status das
línguas nos principais centros urbanos, bem como na capital. Rodríguez Zuccolillo (2000)
toma os dados do censo do ano de 1992 para afirmar que no meio rural o número de falantes
monolíngues em guarani oscila entre 40 e 80%. Esse percentual refere-se aos que vivem no
meio rural, contudo, nas cidades e na média nacional, o espanhol tampouco é língua que

73
domina. O guarani apresentava ainda, em 1992, médias de 87% de falantes no país frente a
57% de falantes de espanhol, em ambos os casos considerando-se os bilíngues. Com estes
dados, é difícil pensar em uma coincidência imaginária entre língua oficial, nacional e
materna para o espanhol, visto que a língua materna da maioria da população, como
afirmamos anteriormente, ainda é a guarani. A história paraguaia construiu para o guarani um
estado de língua nacional, materna e oficial cujo contraponto é o espanhol que é somente
língua oficial para a maioria da população e, em geral, é língua materna para os descendentes
de imigrantes.

Com o intuito de avançar na compreensão das designações sobre a língua no Paraguai,


vamos refazer um caminho que tenta retomar algumas questões que foram sendo lançadas
historicamente sobre os conceitos de língua materna, nacional e oficial. Nossa escrita se
baseia em diversos trabalhos que tiveram como objetivo tratar cronologicamente determinado
conceito – como o de língua materna em Aquino (2009) – ou ainda aqueles que se
propuseram a analisar determinada língua e sua denominação em um espaço histórico-
geográfico específico – tal como se apresenta o trabalho de Payer (2006) sobre a língua dos
imigrantes italianos no Brasil. Neste sentido, nos importa apresentar estes conceitos tal como
se desenvolveram a partir dos diversos estudos empreendidos no campo da História das Ideias
Linguísticas.

Aquino (2009), em sua dissertação de Mestrado, buscou refazer o percurso dos


sentidos de língua materna desde os textos clássicos, não para encontrar um sentido original
da denominação, mas com o objetivo de compreender os efeitos de sentidos que se
produziram desde seu primeiro registro. Baseado nas considerações de Tombeur (2005 apud
AQUINO, 2009), o autor afirma que, na Antiguidade Clássica, é possível remeter-se a uma
aparição do vocábulo “língua” combinado com o adjetivo “materno”, no livro IV das
Metamorfoses de Ovídio. Contudo, ainda segundo Aquino (ibidem), esta combinação não se
refere à língua materna e foi traduzida por diversos momentos em materna língua, por referir-
se não à língua da mãe, mas à insolência na fala da mãe. É, então, na Idade Média, que a
combinação que resulta em "língua materna", tem sua realização mais próxima dos sentidos
que hoje se atribuem à expressão. Dada a temporalidade desta designação, Aquino afirma que
se pode dizer que a "língua materna" é uma invenção medieval. (ibidem, p. 86)

De acordo com o autor, “a expressão língua materna nasce marcada pela oposição ao
latim e pela identificação com os leigos” (ibidem, p. 88), pois é, quando o latim assume o
74
lugar de língua de cultura, antes ocupado pelo grego, que os sentidos para língua materna
começam a aparecer em oposição àquela que era língua dos clérigos. Naquele momento
histórico, também se opõe à língua da igreja a língua dos advogados, que teriam por prática a
oralidade e cujas mudanças desencadeariam no surgimento das línguas latinas. Língua
materna, por sua vez, começaria a significar-se pela variedade de línguas coexistentes naquele
período de transformação com relação à língua latina, escrita, e relacionada à civilização. Em
contraponto, a língua materna, na lógica deste mundo semanticamente estabilizado
(PÊCHEUX, 1988 [1975]), era significada como a língua da barbárie, de suposta facilidade.
(AQUINO, 2009) Segundo Aquino, é ainda na Idade Média, em obras literárias e nos
documentos oficiais, que a expressão "língua materna" começa a propagar-se, inclusive na
escrita. Também é nesse período que "língua materna" começa a associar-se aos sentidos de
“língua natural, língua de território, língua de um país” (ibidem, p. 112), passando a inscrever-
se os sentidos para essa con(fusão) entre língua materna e língua nacional. Com relação ao
próprio adjetivo "materna", o autor afirma que não é possível dizer que essa associação faça
referência à língua da mãe – embora o adjetivo guarde na sua forma escrita tal relação – e
sustenta a hipótese de que "língua materna", inicialmente, faria referência à expressão clássica
"patrius sermo". (ibidem, p. 107).

Embora alguns registros da expressão apontem uma relação da língua materna com a
mãe e com o ambiente familiar, a análise do conjunto dos primeiros registros da
expressão língua materna não nos permite afirmar que a expressão tenha sido
criada para indicar a língua falada e ensinada pelas mulheres, correspondendo,
antes de tudo, às configurações sociopolíticas do mundo medieval, dividido
entre clérigos e leigos. (ibidem, p. 191. Grifos nossos.)

Por fim, Aquino faz coro com outros autores ao afirmar que o período de gramatização
(AUROUX, 2009 [1992]) da língua do Brasil do século XIX corresponde cronologicamente
ao período de formação da nação e da identidade nacional. Nesse processo, a língua no/do
Brasil passa a significar como língua materna e língua nacional, simultaneamente. Aí também
se inscreve o trabalho de Payer (2006) que discutirá, justamente, essa coincidência entre o
materno e o nacional que silencia as línguas dos imigrantes, em especial, a língua dos
italianos, foco de sua pesquisa. Em sua tese sobre os imigrantes italianos no Brasil, a autora
discute o embate entre a língua materna e a nacional, relacionando a primeira, que “se
aprende” em contexto não institucionalizado, ao âmbito ou universo do familiar; em
compensação, a nacional é a língua do Estado. Também nos estudos desta autora,
75
encontramos a relação que se estabelece entre a configuração de uma nação e sua língua,
contudo, no trabalho de Payer (ibidem), ganha ênfase a detalhada retomada sobre a língua
materna. Tratando das leis de ensino no contexto da imigração italiana no Brasil dos anos 30,
mais especificamente no estado do Espírito Santo, a autora discursa sobre a língua materna,
que, segundo ela, é a língua em que se constitui o sujeito. Retoma, para tanto, a máxima de
Orlandi (2009) sobre a constituição do sujeito e do sentido para afirmar que é na língua
materna que se constitui o sujeito e não em outra.

A noção de língua materna possibilita atingir por um viés específico, através de um


trabalho com a alteridade linguística presente no jogo entre a língua primeira do
imigrante e a língua nacional, a instância em que se alcança a mútua constituição
do sujeito e da língua, no sentido presente na obra de Orlandi, de que o “sujeito
e o sentido se constituem ao mesmo tempo”, de que “ao significar o sujeito se
significa”. (PAYER, 2006, p. 128. Grifos nossos.)

É a língua materna que o representa e em que se representa o sujeito, significando-se.


Neste trecho, a autora fala da mútua constituição, pela qual podemos pensar na dupla
interpelação pela língua materna e pela língua nacional, que funcionam de modo diferente e
que, portanto, estão na base da constituição subjetiva.

De acordo com Payer (ibidem), a língua materna é estruturante e não é possível ao


sujeito-falante escapar dessa língua, que fura, na materialidade linguística, a língua nacional,
quando não existe uma coincidência aparentemente evidente entre elas.

a história participa por seu lado, fazendo-a (s) significar, como língua nacional,
como língua estrangeira, língua materna, língua familiar, etc. Todas essas
dimensões da língua funcionam de fato na constituição do sujeito de linguagem,
que já é sujeito de direito desde a mais elementar responsabilidade por seu
dizer, conforme observa Haroche (1984), porém ainda mais, conforme a situação
observada, enquanto imigrante, dado o estatuto de “estrangeiro” em meio à
nacionalidade brasileira (...) (ibidem, p. 40. Grifos nossos.)

Por ser o sujeito duplamente afetado, pelo inconsciente e pela ideologia, podemos
dizer que o sujeito é também duplamente afetado pelos dizeres da/sobre a língua materna e
da/sobre a língua nacional, estando as duas na base da constituição subjetiva para que os
sentidos possam fazer sentido. Neste desde sempre, “desde a mais elementar responsabilidade
por seu dizer” (ibidem), o sujeito fala do lugar do sujeito de direito sem esquecer-se, no
sentido pecheutiano do termo (PÊCHEUX, 1988 [1975]), da língua em que se torna sujeito,

76
sua língua materna. É pela língua materna que o sujeito tem a sua entrada na linguagem, é
pelos dizeres na língua da mãe65 que sujeito e sentido comparecem. No caso dos imigrantes,
estudado pela autora, é a língua materna (italiano) que fura, pela sua memória, a inscrição
desses sujeitos nos enunciados em língua nacional (português). De acordo com Revuz, a
língua materna se encontra nas bases da estruturação psíquica, sendo, deste modo, impossível
ao sujeito abandoná-la por nela constituir-se (2002 [1998]). A língua materna é também, para
Payer, a que se inscreve na língua nacional, deixando-se entrever nesta, sendo, ademais, por
esta tomada.

Assim, considerando a situação em que não há coincidência entre a língua


materna de um sujeito e aquela que ele deve falar como língua nacional, a
relação entre o “singular” da rede que constitui o sujeito (o cultural, o local) e a
“rede maior” em que ela é tomada (nacional) será muito menos linear – se
podemos dizer assim – do que quando há esta coincidência, quando a rede de
valores significantes pode fluir de “instrumento” a “matéria” sem mudar de
“língua”, sem passar de uma materialidade a outra. (PAYER, 2006, p. 136. Aspas da
autora. Grifos nossos.)

Considerando nosso objeto, em nosso estudo sobre o guarani, vale sempre lembrar
essa língua materna que fura, que se marca, que se presentifica mesmo quando se fala em
espanhol. Como vimos no início deste tópico, quase 90% da população paraguaia fala guarani
(e se diz em guarani), se não como única língua, em concomitância com o espanhol, em
situação de bilinguismo66. Por esta razão, em conformidade com o que nos apontou Payer
(2006), a língua materna atravessa os dizeres, constitui o sujeito que diz em outra língua, que
pode não ser-lhe estrangeira, mas que tampouco ocupa um lugar de igualdade com relação ao
guarani. As disputas entre as línguas existem e fazem funcionar os sentidos sobre elas e sobre
os sujeitos. A língua guarani, materna para a maioria da população, é promovida como língua
nacional e, posteriormente, como oficial, sem que com isso se produza, completamente, um
efeito de unidade. O guarani é língua oficial e nacional tal como o é o espanhol, mas, nessa
suposta relação de equivalência, apaga-se a condição de ser o guarani a língua materna da
maioria dos paraguaios67. Nesse embate, se produz o efeito de um sujeito necessariamente

65
Lembramos, aqui, mais uma vez, que Payer (2006) toma os sentidos para "língua materna" como uma função,
tal como tratado pela perspectiva da psicanálise, já apontado no início deste capítulo.
66
Trataremos desta definição em outro momento de nosso percurso teórico, no quinto capítulo.
67
No censo de 2002, mais de 80% dos pesquisados declararam seus "lares" falantes de guarani. Não é nosso
objetivo fazer uma análise das pesquisas do censo, mas observamos que é significativa a mudança de uma
pesquisa individual, ou seja, o fato de não se perguntar quantos falantes de guarani há em cada lugar, como
77
bilíngue a quem se nega a história da sua língua materna. Como afirma Melià (2013, p. 39) no
fragmento que serve de epígrafe para esta tese, "não se nasce bilíngue; se faz68 um bilíngue."69

Temos de lembrar, como já colocado aqui mesmo nesta seção, que se a língua materna
chega a ser a língua nacional ou oficial, aí se trata da imagem desta língua diversa, que se
cristaliza num modo de vê-la e de sistematizá-la para torná-la “uma só língua”, a de um povo
e não a de um sujeito. A língua materna que se transpõe a língua nacional e/ou oficial é já
uma imagem daquela primeira, que se transforma pela língua do sujeito para a língua do povo.

A língua (materna) guarani se corporifica pelas diversas possibilidades de


representação pela linguagem e se molda para não ser somente a língua do um, mas de todo e
qualquer sujeito daquela nação quando passa a ser significada como língua nacional. É a
língua do Estado nação, que independente de cada sujeito, representa os paraguaios em sua
unidade imaginária que os faz identificar-se como um povo (THIESSE, 1999).

Dizer do encontro/confronto entre língua materna e a língua nacional e/ou oficial em


países colonizados como o Paraguai,

É problematizar esse tesouro de significantes em termos da heterogeneidade


linguística que o constituirá para os sujeitos usuários dessa mesma língua, uma
relação ao mesmo tempo íntima e estranha. Se é possível pensar na língua
nacional como arquivo, talvez aproximar e elaborar as questões que constituem tanto
as contradições históricas quando os enigmas “e os tormentos do sujeito”
70
(MARIANI, 2012, p. 132-133. Grifos nossos).

“Problematizar esse tesouro de significantes” é questioná-lo e questionar-se como


pesquisador sobre o lugar da língua materna na constituição subjetiva e no próprio embate
com a língua nacional, a partir das “contradições históricas” ideologicamente marcadas,
muitas vezes nas leis, como demonstraram Di Renzo (2012) e Payer (2006). É, desse modo,
equivocar a objetividade do lugar da língua nacional e a absorção, silenciamento ou
apagamento da língua materna no encontro com esta. É questionar, no caso da nação

também é significativo, mesmo com a generalização que supõe a pesquisa por "lares", o alto percentual que
representa o número de falantes de guarani, de acordo com estes resultados.
68
No contexto da discussão, Melià está tratando da promoção do bilinguismo pela aprendizagem como
imposição e não como uma questão natural. Decidimos, então, por tentar explicitar esta questão apontando, em
português, para este "fazer", como produzir um sujeito bilíngue.
69
"No se nace bilingüe; se hace uno bilingüe." (Melià, 2013, p. 39)
70
Neste texto, a autora faz referência a Belo (2007, p. 18.)
78
paraguaia, esta unidade nacional baseada no princípio de um suposto bilinguismo, produzido
imaginariamente.

É importante agora salientar, a partir dos estudos aqui retomados, que também no
trabalho de Payer (2006), como havíamos comentado a respeito da tese de Di Renzo (2012),
repete-se a confusão imaginária entre língua nacional e língua oficial. Embora as autoras
distingam a língua materna da língua nacional, ponto chave de seus trabalhos, em ambas as
pesquisas, a língua nacional é tomada como língua oficial, quando se diz sobre ela como a
língua do Estado. Para a nossa sociedade, a brasileira, esta questão é bastante pertinente, visto
que temos, atualmente, reconhecida, constitucionalmente, uma língua oficial majoritária.
Embora em algumas regiões do país se reconheçam as línguas indígenas como oficiais, além
da Língua Brasileira de Sinais desde 2002, na evidência dos sentidos, para todo brasileiro, a
língua oficial é a língua portuguesa. Questionam-se as autoras sobre a língua materna em seus
estudos, deixando escapar a dualidade/diferença entre língua nacional e língua oficial. Com
“deixando escapar”, não queremos dizer que haja uma intencionalidade, pois, como sujeitos
de linguagem, as autoras também estão na evidência da língua do estado brasileiro ser a
língua nacional. Característica essa das sociedades ditas monolíngues, em que uma língua que
ajuda a sustentar a ideia de nação se promove como a única língua da nação e do Estado, a
língua da lei e do ensino.

Para a língua da nação, se projeta a imagem do sujeito nacional, pela qual se entrelaça
à imagem de uma língua nacional, complementarmente, a ideia da língua com força de lei,
reconhecida oficialmente71. A língua oficial é a língua em que o cidadão exerce sua cidadania
frente aos aparelhos do governo. São processos de identificação pela língua, obrigatórios e
necessários, para que haja uma relação entre o cidadão e o Estado.

A língua nacional é elemento fundamental da construção da ideia de nação. E,


justamente, pela ideia de nação, tem-se a construção da cidadania que, por sua
vez, se dá por processos de identificação. Logo, pode-se dizer que a questão da
língua afeta necessariamente as relações com o Estado e vice-versa, produzindo
sujeitos e políticas que procuram, cada vez mais, legitimá-lo, visando a construção
da unidade em um determinado modelo de sociedade. (DI RENZO, 2012, p. 53.
Grifos nossos.)

71
Consideramos, neste ponto, as distinções que fez Thiesse (1999) sobre Estado e Nação, apresentadas na seção
anterior - 2.3 Sobre nações e nacionalismo.
79
Nesta afirmação, pode-se retomar o que dissemos anteriormente sobre a coincidência
entre língua oficial e língua nacional em um país imaginariamente projetado como
monolíngue. A língua nacional, que se construiu historicamente como a língua do povo 72
brasileiro, é a língua do Estado e do cidadão brasileiro. É a língua em que se estabelecem as
relações interpessoais e jurídicas. Lembramos que este sentido, tal como apontamos
anteriormente a partir do estudo de Aquino (2009), já figurava lá na Idade Média, pela
expressão "patrius sermo", um sentido da pátria, ainda que, para aquele período histórico, não
se possa falar em nação.

Em alguns estudos sobre as línguas nos/dos países africanos (FIRMINO, 2006;


MARIANI, 2007a), essa comunhão imaginária entre língua nacional e língua oficial fica
menos evidente ou não existe, pelo fato de não haver apenas uma língua nacional. Em alguns
casos, há aproximadamente vinte línguas nacionais e apenas uma oficial, marcando, dessa
forma, a não necessária coincidência entre ambas as designações. Na América Latina,
podemos tomar, como exemplo, o Peru, que tem como língua nacional e oficial o castelhano e
como línguas oficiais o quéchua e o aimará, que não são mais línguas reconhecidamente
nacionais. Isso porque, para o projeto daquela nação, o Estado não promoveu as línguas
indígenas como nacionais, além de tê-las silenciado historicamente. As línguas que antes
eram faladas extensivamente naquele território sofreram um processo de silenciamento que as
marginalizou, silenciando-as durante anos, até que, pelas políticas pro-plurilinguismo 73 , o
Estado passou a promovê-las como oficiais. Com relação a esta questão, nos interessa o
estudo de Xavier Albó74 (1988) sobre os idiomas oprimidos. De acordo com o autor, adjetivos
como “nativos, autóctones, vernáculos, indígenas (...) não expressam suficientemente as
dimensões que moldam suas peculiaridades”75 (ALBÓ, 1988, p. 76-77), porque neles não se
inscreve a história pela qual passaram estes idiomas, colonizados e oprimidos. Outro ponto
em que toca o autor e que nos parece o cerne para o desenvolvimento de seu trabalho é a
crítica a outros termos cunhados pela sociolinguística que aparecem como evidentes em sua

72
Sobre os sentidos de „povo‟, cf. Orlandi (2006).
73
Tratamos das questões referentes ao investimento (ou falta de) em políticas pro-bilinguismo e plurilinguismo,
no início deste capítulo.
74
Xavier Albó é um padre jesuíta espanhol, naturalizado boliviano, com formação em Antropologia e
Linguística, e trabalha em favor dos direitos dos indígenas bolivianos. Por sua dedicação ao movimento indígena
e, em consequência às línguas indígenas, teve seu nome vinculado a uma fundação para a promoção de pesquisas
sobre a Bolívia. A Fundação Xavier Albó foi criada no ano de 2006 e está disponível para pesquisa em:
http://www.fxa.org.bo/institucional/articulo/14.
75
"nativos, autóctonos, vernáculos, indígenas (...) no expresan suficientemente las dimensiones que moldean sus
peculiaridades.”
80
definição e, entretanto, tampouco alcançam um modo de dizer sobre as línguas marcadas por
uma história de dominação.

Outro grupo de conceitos elaborados pela sociolinguística, tais como idiomas de


baixo prestígio, não oficiais, sub-standard, com especialização funcional baixa, etc.,
nos acerca mais à problemática de línguas como o quíchua e o aimará. Mas estes
conceitos se limitam todavia à esfera fenomenológica. Simplesmente descrevem
algumas qualidades sociais destes idiomas, contrapostas às de outros (de alto
prestígio, etc.) que coexistem dentro da mesma estrutura social. Mas não
apresentam ainda uma explicação causal que pretende ir à raiz destas
peculiaridades. Por isso sugiro aqui caracterizar como idiomas oprimidos. 76
(ibidem, p. 77. Tradução nossa. Grifos nossos.)

Com este estudo, Albó (ibidem) sugere “idiomas oprimidos” por compreender que, ao
relacionar o idioma a este adjetivo, se pode considerar os estudos de cunho marxista já
desenvolvidos em diversas áreas das ciências humanas e que tratam da história da dominação
dos grupos sociais, não só com relação às línguas como também a outros aspectos sociais.
Para confirmar sua elaboração, Albó (1988) cita o trabalho de Paulo Freire (1970), Pedagogia
do oprimido, como resultado da reflexão deste autor sobre a situação de opressão sofrida
pelos países ditos subdesenvolvidos ou de terceiro mundo. Com isso, a nosso ver, Albó
aponta também para um ponto essencial, considerando que são idiomas oprimidos aqueles
provenientes das sociedades também oprimidas, fazendo-nos pensar, mais uma vez, sobre a
relação língua/Estado, em que só se pode considerar a língua inscrita sócio-historicamente.

Vale ressaltar que a estas designações que significam de modo diferente, Albó, como
vimos, chamará de idiomas oprimidos e não de línguas oprimidas. Sobre a noção de idioma,
Dias (1995), no campo da Semântica da Enunciação, relaciona o idiomático à língua,
afirmando que a idiomaticidade da língua se dá exatamente pela injunção à uma unidade e
afirma:

Tomar a relação entre o linguístico e o idiomático como automática e natural é uma


das faces do que Orlandi (1990) denomina ideológico, na forma de uma injunção do
empírico. O idiomático é então a injunção da unidade, do espaço/tempo comuns,
do domínio em que o efeito identidade se dá plenamente. (ibidem, p. 124)

76
"Otro grupo de conceptos elaborados por la sociolingüística, tales como idiomas de bajo prestigio, no
oficiales, substandard, con especialización funcional baja, etc., nos acerca más a la problemática de lenguas
como el quechua y el aymara. Pero estos conceptos se limitan todavía a la esfera fenomenológica. Simplemente
describen algunas cualidades sociales de estos idiomas, contrapuestas a las de otros (de alto prestigio, etc.) que
coexisten dentro de la misma estructura social. Pero no plantean aún una explicación causal que pretende ir a la
raíz de estas peculiaridades. Por eso sugiero aquí su caracterización como idiomas oprimidos." (ALBÓ, 1988, p.
77.)

81
O idiomático é, por esta concepção, essa ilusão de uma conjunção de sentidos sobre
uma mesma língua em que, para o sujeito, todos falam o mesmo idioma, compartilham todos
os sentidos, que estão depositados em um dicionário imaginário e global, e que, por sua vez,
garante a unidade imaginária de determinada língua. A esta noção, formulada por de Dias
(1995), podemos relacionar, em Análise do Discurso, a noção de língua imaginária
(ORLANDI e SOUZA, 1988) segundo a qual se constrói imaginariamente uma língua para
todos os falantes, que toma forma nos instrumentos linguísticos (AUROUX, 2009 [1992])
produzidos a fim de garantir a estabilidade da língua. Embora compreendamos, então, o
tratamento dado ao termo idiomático por Dias (1995) e que comparece de outro modo no
trabalho de Albó (1988), não distinguiremos entre uma e outra definição, optando, desse
modo, por falar em língua fluida e imaginária, a partir das colocações de Orlandi e Souza
(1988).

Retomando os estudos que se desenvolveram a partir das designações sobre as línguas,


também pela Semântica da Enunciação, em sua contribuição para a História das Ideias
Linguísticas no Brasil, tomamos de empréstimo as definições de Guimarães (2007) que nos
parecem esclarecedoras pelo detalhamento no dizer sobre a divisão imaginária das línguas.

Guimarães (ibidem) faz uma distinção que, segundo ele, representa as relações
imaginárias que funcionam sobre as línguas. Segundo o autor, “podemos considerar dois
modos de funcionamento das línguas num espaço de enunciação: Um que representa as
relações imaginárias cotidianas entre falantes e outro que representa as relações imaginárias
(ideológicas) institucionais.” (ibidem, p. 64)

Além de continuar nosso percurso pelas designações sobre as línguas e seus status nas
sociedades das quais fazem parte, analisaremos as definições desse autor, que as considera a
partir das relações imaginárias que os falantes têm com sua própria língua e com as demais.
Neste caso, para o falante não está colocada a questão do Estado, a língua do poder. A relação
imaginária se faz pela identificação da “sua língua”, língua que se aprende em casa, ou pela
língua do outro, aquela que não se aprende em casa, a possível segunda língua. As relações
imaginárias cotidianas entre falantes dividem a língua em:

Língua materna: é a língua cujos falantes a praticam pelo fato de a sociedade


em que se nasce a praticar; nesta medida ela é, em geral, a língua que se representa
como (que se apresenta como sendo) primeira para seus falantes.

82
Língua alheia: é toda língua que não se dá como materna para os falantes de um
espaço de enunciação.

Língua franca: é aquela praticada por grupos de falantes de línguas maternas


diferentes, e que são falantes desta língua para o intercurso comum. (ibidem, p. 64.
Grifos nossos.)

Se considerarmos as designações ora apresentadas, podemos dizer que, para este autor,
a língua materna é a língua da sociedade. Como vimos anteriormente, a partir do trabalho de
Payer (2006), não necessariamente a língua materna é a mesma da sociedade em que vive o
sujeito-falante, como no caso por ela estudado, em situação de imigração. Desse modo, essa
noção de língua materna se afasta daquela proposta pela autora, principalmente, por
considerar o social em sua definição. Payer (ibidem), baseada nos estudos psicanalíticos,
aponta para a língua materna como a língua interditada pelo social, que, por sua vez, se
representa pela língua nacional. Contudo, como apontado por Aquino, “a nação é um
elemento recorrente, um elemento que se interpõe na relação de pertencimento entre o falante
e a língua materna” (AQUINO, 2009, p. 02), havendo sempre esta tensão entre a língua
materna e a nacional, exatamente por não serem a mesma língua, nem serem materialmente a
mesma. (PAYER, 2006)

Guimarães distingue ainda a língua alheia como aquela que, em determinado espaço,
não aparece como língua materna para determinado grupo. Nesta definição, é importante dizer
que falar em língua alheia é considerar que os sentidos estão em relação. A língua alheia não é
materna de determinado grupo, mas, provavelmente de outro.

Com relação à noção de língua franca, proposta por Guimarães, podemos afirmar que
há várias línguas que funcionam como língua de comunicação e podem estas ser ou não
maternas para determinado sujeito. Este termo, advindo da sociolinguística, se deixa
interpenetrar pelo de língua alheia, já que pode ser a língua materna do outro a que funcionará
também como língua franca.

Como continuação de sua proposta de estudo, Guimarães define ainda outro grupo de
línguas, para as quais estão representadas as relações imaginárias (ideológicas) institucionais.
Se, no primeiro grupo de designações, as relações tinham como ponto central o falante e sua
perspectiva, nestas definições, as línguas são classificadas pelo funcionamento
social/institucional.

83
Língua nacional: é a língua de um povo, enquanto língua que o caracteriza, que dá
a seus falantes uma relação de pertencimento a esse povo.

Língua oficial: é a língua de um Estado, aquela que é obrigatória nas ações formais
do Estado.

Língua estrangeira: é a língua cujos falantes são o povo de uma Nação e Estado
diferente daquele dos faltantes considerados como referência. (GUIMARÃES, 2007,
p. 64. Grifos nossos.)

De acordo com as noções formuladas por Guimarães (2007), tratadas neste segundo
grupo, são as relações imaginárias institucionais, que consideram o falante enquanto sujeito
de um Estado nacional, cumpridor de deveres em sua língua, nos aparelhos de Estado
(ALTHUSSER, 2003 [1971]). A língua em que o sujeito exerce seus direitos – língua oficial
– ou aquela em se reconhece o sujeito como parte de uma nação – língua nacional. A primeira
tem a ver a com a obrigatoriedade do seu uso e de seu conhecimento para fins legais, a língua
em que se organizam as leis e a sociedade por elas regida. É, então, a língua oficial imposta
para todo e qualquer sujeito na posição de cidadão de direito. Já a língua nacional participa de
um projeto, justamente, de nacionalismo, em que a língua é um dos objetos simbólicos
(ORLANDI, 2002) que representam a nação, na sua unidade imaginária. Seja uma bandeira,
um hino nacional, uma língua ou a literatura nacional, todos são símbolos que projetam o
nacional e fazem o sujeito perceber-se (e acreditar nisso) como membro de um estado
nacional e não de outro. Outra bandeira, outro hino e outra língua – a língua estrangeira –
simbolizam representativamente outra nação, da qual não participa o sujeito que se toma
como referência.

A noção de língua estrangeira toma corpo no estudo de Rosa (2009) que trata desta
designação em contraposição à de língua materna no discurso dos pesquisadores na área da
linguagem. Os sentidos de língua materna compartilhados pela autora estão em conformidade
com aqueles tratados por Payer (2006), advindos dos saberes do campo psicanalítico. Com o
objetivo de relacionar/confrontar os sentidos sobre língua materna e língua estrangeira, Rosa
(2009) afirma que, em geral, a língua materna significa como familiar, segura, opondo-se à
estrangeira, que para o sujeito lhe seria estranha, a língua do outro 77. Contudo, a partir dos
trabalhos de Freud e Kristeva (1976; 1994 apud ROSA, 2009), a autora questiona tais

77
Neste estudo, Rosa (2009) retoma os estudos de: MILNER, J.C. O amor da língua. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 2012; e KRISTEVA, J. Estrangeiros para nós mesmos. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1994; dentre
outros.
84
sentidos, lembrando que estes autores trataram a língua materna como o estranho familiar.
Para Kristeva (1994), somos todos estrangeiros quando nos percebemos na diferença e, neste
sentido, a nossa língua materna também nos é estrangeira. Por fim, segundo Rosa,

Poderíamos dizer, tomando a relação entre línguas, que necessitamos de um


estrangeiro e de uma língua estrangeira para afirmarmos “nossa” língua como
materna, como “nosso” território. Seria essa relação com a alteridade, transposta
para outras línguas, o que constituiria a ilusão de “estar em casa” vivenciada
78
na chamada língua materna. Desse modo, a estrangeirização de outras línguas
vem reafirmar a pretensa familiaridade da língua que se tem por materna, colocando-
a como uma superfície estável, distante das turbulências dos (des)encontros. (ROSA,
2009, p. 79-80. Aspas da autora. Grifos em negrito nossos.)

Para Rosa, é nessa relação com o outro e com a língua estrangeira, que o sujeito se
afirma como tendo a sua língua, sendo esta estranha a si mesmo ou não, no confronto com a
outra língua, a estrangeira, a língua materna preserva os sentidos de pertencimento, o tal do
estranho familiar de que falávamos anteriormente. Nos dizeres de Revuz, “o encontro com a
língua estrangeira faz vir à consciência alguma coisa do laço muito específico que mantemos
com nossa língua” (2002 [1998], p. 215. Itálico da autora.).

Não pretendemos com esta retomada buscar uma definição sobre língua materna,
estrangeira, nacional ou oficial, mas tivemos como objetivo compreender alguns dos sentidos
que circulam sobre estas denominações e que aparecem, muitas vezes, como dadas, como
evidências. Após o percurso feito no trabalho de Aquino (2009), foi possível perceber que os
sentidos de língua materna foram deslizando e que, desde a Idade Média, língua materna e
língua nacional começam a confundir-se, o que posteriormente passa a ser uma característica
da formação dos estados nacionais e seus objetivos simbólicos que buscam a imagem de
unidade nacional. A concepção de língua materna nos trabalhos de Payer (2006), Rosa (2009),
Di Renzo (2012) e Mariani (2012), pelos estudos psicanalíticos, nos faz compreender a língua
materna na constituição subjetiva, além de não deixarem de demonstrar a relação desta com a
língua nacional. A língua materna, pois, direta e inversamente, se relaciona com os saberes
sobre a língua nacional, que a interdita, organiza, silencia.

A língua estrangeira se caracterizaria, de acordo com os trabalhos apresentados, como


a língua do outro, o estranho que não lhe é familiar ao sujeito, ou que se coloca

78
No âmbito da Linguística Aplicada, Almeida Filho (2002) dirá que é necessário "desestrangeirizar" a língua
para que, então, o sujeito possa aprendê-la.
85
imaginariamente pela divisão não só na relação com o materno, como na relação jurídica com
o que não é nacional. De um modo ou outro, cabe-nos salientar que são relações imaginárias,
cujos sentidos vão se formando em relação a uma e a outra designação, tendo como ponto de
partida/referência o sujeito que fala, que se inscreve no lugar do eu, que se significa pela
língua, a sua ou a do outro.

Com relação às línguas oficiais e línguas nacionais, vale ressaltar que estas não são
simples designações que não significam. A relação dos falantes com o Estado é feita através
de uma língua e, para alcançarem o status de cidadãos, neste processo “civilizatório”, esses
sujeitos devem falar a língua oficial, a língua legitimada pelos processos visíveis e invisíveis
do Estado. Em estudos sobre o conceito de "cidadão", Guimarães (2004) observa como este
termo funciona em sua relação com palavras como "civilidade", "democracia" e "progresso"
Sobre esta questão, lembramos Gadet e Pêcheux, que já afirmavam: “para se tornarem
cidadãos, os sujeitos devem, portanto, se liberar dos particularismos históricos que os
entravam: seus costumes locais, suas concepções ancestrais, seus „preconceitos‟... e sua língua
materna.” (2010 [1981], p. 37. Aspas simples dos autores.) Sendo assim, o sujeito é sempre
cidadão em uma língua determinada e legitimada pelo poder do Estado.

O discurso científico sobre a língua ajuda a constituir esse imaginário para a nossa
sociedade, em que a disputa por uma língua oficial e por uma gramática trabalha um
projeto de organização de nação por processos de linguagem que objetivizam
um modelo de cidadão com uma língua, um rosto, uma presença institucional
específica. (ORLANDI, 2008 [1990], p. 176. Itálico da autora. Grifos em negrito
nossos.)

Para uma língua nacional, se projeta um modelo de sujeito nacional, um homem para a
sua pátria. O “modelo de cidadão” que se projeta deve falar a língua do Estado e esquecer-se
enquanto cidadão de sua língua se esta não for a esperada/promovida pelo Estado em seus
aparelhos ideológicos. É preciso ainda dizer que esta língua do cidadão aparece em seu efeito
de evidência, como aquela que se deve falar quando se quer exercer seu direito, sendo
imaginariamente a única opção para tal. São as evidências históricas que a promovem como A
língua.

Por fim, queremos afirmar que todas as designações aqui apresentadas são
formulações que procuram dar conta de uma diversidade que não comporta apenas uma
língua, são imaginariamente modos de organizar as línguas para seus falantes, numa
86
referenciação que entendemos como circular, por suas definições relacionais. Ser língua
materna, como alguns trabalhos apontados, de acordo com o que fomos apresentando,
significa não ser estrangeira para determinado sujeito. Com Guimarães (2005), podemos
afirmar que designar é atribuir sentidos e, para tanto, organizar as línguas distribuindo-as em
grupos é significá-las (aprisioná-las em seus sentidos) a partir de um ponto, de uma
perspectiva. Nenhuma designação dará conta do que é materno ou estrangeiro, oficial ou
nacional. É somente e em cada trabalho que podemos dizer como funcionam discursivamente
os sentidos para uma e outra língua.

Em nosso trabalho, deste modo, tomaremos como não coincidentes as noções de


língua nacional e língua oficial, entendendo que o guarani é significado como língua da
identidade nacional, fazendo ressoar os sentidos para o imaginário nacionalista produzido nos
discursos sobre a língua, como analisado por Zucolillo (2000), mas que seu lugar como língua
oficial é, ainda, projetado, principalmente - e talvez somente -, nos documentos oficiais, sem
que isso afete, necessariamente, a relação do cidadão com o Estado.

87
3 HISTÓRIA, LÍNGUA, SUJEITO: OS SENTIDOS NO (DIS)CURSO DA HISTÓRIA

Fazer História é compreender os acontecimentos


humanos ao contá-los. Em outras palavras, é
compreender os sentidos dos acontecimentos humanos.
Uma história é, então, de um lado o relato de fatos
acontecidos com certos personagens, e de outro, é a
compreensão destes fatos quando tomados como
acontecimentos e enquanto tais contados.
(GUIMARÃES, 2004a)

No capítulo que se inicia, apresentaremos algumas questões que nos parecem pertinentes para
começar a compreender, discursivamente, a escrita da história do Paraguai. Em Sobre a história e a
historicidade apresentamos questões referentes à história significada como discurso, a partir da leitura
de pesquisadores que se inscrevem na perspectiva materialista de construção dos sentidos. Em
seguida, n'O discurso da História, trazemos uma leitura discursiva de três períodos históricos
específicos, que compõem o nosso trajeto de leitura da história pela compreensão da historicidade do
processo de produção dos sentidos sobre as línguas no Paraguai. E, por fim, a seção 3.3, Os ecos do
discurso da história na construção do imaginário nacional, em que apresentamos uma conclusão
parcial, retomando as questões apresentadas neste capítulo.

88
3.1 SOBRE A HISTÓRIA E A HISTORICIDADE

O passado é, por definição, um dado que nada mais


modificará. Mas o conhecimento do passado uma coisa
em progresso, que incessantemente se transforma e
aperfeiçoa. (BLOCH, 2001 [1997] ).

Nesta seção de nosso trabalho, buscamos dar a conhecer algumas questões


relacionadas ao fazer epistemológico em História das Ideias Linguísticas e a uma análise que
leve em conta o discurso histórico e o discurso da História, considerando a historicidade dos
processos de produção dos sentidos. Esse percurso nos permitirá avançar em nossas questões,
principalmente, no que tange os dizeres da história do Paraguai desde a sua colonização na
relação com as suas línguas.

Entendemos discurso histórico e discurso da História, tal como formula Orlandi. Nas
palavras da autora:

Para nós, há assim uma distinção entre discurso histórico e discurso da História.
No discurso histórico o homem elabora sua relação com o tempo e com a
memória. Por seu lado, o discurso da História79 é um subproduto - com suas
acentuadas características de instituição - do discurso histórico. As lendas, as
canções populares, são outros dos seus produtos, da mesma natureza, embora
menos formalizados institucionalmente. (2008 [1990], p. 141. Grifos nossos.)

Como afirma a autora, há o discurso histórico e o discurso histórico institucionalizado.


Neste capítulo, mobilizaremos as formulações de Orlandi (ibidem) para compreender o que se
diz na história do Paraguai, tanto nos dizeres do discurso da História, institucionalizado, como
nos demais relatos da história, o discurso histórico. Além disso, fazer uma tese que se
inscreve no âmbito da História das Ideias Linguísticas nos faz considerar que, na construção
dos saberes sobre as línguas, também está a história, por compreender que a história trata de
temas inerentes às sociedades e suas línguas e que as línguas estão na história, nesse duplo
entroncamento. Esta é uma contribuição fundamental proporcionada pelo entrelaçamento da
História das Ideias Linguísticas com a Análise do Discurso, por ser este um campo de saber
que questiona as aparentes verdades históricas ao trazer para a discussão a historicidade dos
processos de produção dos sentidos. Pela discussão articulada no campo da Análise do
79
A grafia de História, com a letra em maiúscula, foi um recurso utilizado pela autora. Seguiremos essa distinção
quando necessário.
89
Discurso, a História das Ideias Linguísticas não é somente um contar de fatos históricos, mas
a possibilidade de entender que também no contar da história (institucionalizada ou não) se
fazem histórias. De acordo com Mariani,

Seguindo esse ponto de vista, não é possível conceber a linguagem como um sistema
comunicativo que serviria apenas para designar ou informar o que 'existe', mas a
existência das "coisas" é resultado da sua constituição no âmbito da própria
relação linguagem/história; os sentidos só se produzem porque são históricos, e a
história, por sua vez, só existe como tal por que faz sentido. Língua e história são
processos inseparáveis. (MARIANI, 1998, p. 28. Grifos nossos.)

Como afirma Mariani, "os sentidos só se produzem na história", em uma via de mão
dupla, em que certos sentidos são construídos, repetidos ou silenciados. Ou seja, a História,
como disciplina, ao contar determinado evento significa, por ser o próprio gesto de contar
uma construção pela linguagem.

Do campo da filosofia, segundo De Certeau, "a operação histórica se refere à


combinação de um lugar social, de práticas 'científicas' e de uma escrita" (1982 [1975], p. 56.
Itálicos e aspas simples do autor), por compreender que a história pela relação entre um lugar,
uma disciplina e a construção de um texto, uma "literatura". Parafraseando o autor, a escrita
da história como literatura é como a escrita de um romance, uma ficção, discurso, o mito pelo
qual a sociedade se compreende. Discursivamente, a escrita da história aparece na relação
com a interpretação dos fatos, por ser pela escrita de uma versão que a história se corporifica.

Em "A história não existe?", Henry (2010 [1994]) dirá que todo "evento" histórico
reclama sentidos.

É verdade que é ilusório colocar para a história uma questão de origem e esperar
dela a explicação do que existe. Ao contrário, não há "fato" ou "evento"
histórico que não faça sentido, que não peça interpretação, que não reclame
que lhe achemos causas e consequências. É nisso que consiste para nós a história,
nesse fazer sentido, mesmo que possamos divergir sobre esse sentido em cada caso.
Isso vale para a nossa história pessoal, assim como para a outra, a grande História.
(ibidem, p. 47. Aspas do autor. Grifos nossos.)

A interpretação da história consiste nesse "fazer sentido" pela atribuição de causas e


consequências a todo "fato histórico" da história de um sujeito ou de uma comunidade. Desse
modo, podemos observar que nesse recontar um fato se inscrevem sentidos pela disputa
travada no gesto simbólico do dizer. Na perspectiva materialista dos sentidos, a história se

90
significa nos dizeres dos historiadores que, ao narrar um evento, se contam na história e
contam também o mundo. Assim, como nos ensina Orlandi,

Para a Análise do Discurso portanto o que interessa não é, em primeira instância,


que a linguagem realiza atos mas que a realidade (produção imaginária, construção
discursiva do referente) se constitui nos sentidos que o sujeito pratica. O sujeito, por
sua vez, ao dizer, se significa e significa o próprio mundo. Nessa perspectiva é que
consideramos que a linguagem é uma prática. Não no sentido de realizar atos mas
porque pratica sentidos, ação simbólica que intervém no real. Pratica, enfim, a
significação no mundo. O sentido é história e o sujeito se faz (se significa) na
historicidade em que está inscrito. (ORLANDI, 2008 [1990], p. 44. Grifos
nossos.)

Conforme a autora, então, podemos afirmar que, por tomar a história como discurso,
pela "construção discursiva do referente", os sujeitos se significam e significam o mundo por
sua inscrição ideológica, praticando sentidos na construção do referente pela linguagem como
simbólico e como prática de sentidos.

Pelo que vimos afirmando, não estamos tratando de um sentido determinista da


história, mas de uma história que direciona, que se significa nos dizeres do sujeito em
determinada língua. Devemos, para tanto, fazer uma distinção primordial, entre a (s) história
(s) e a disciplina de mesmo nome, História. Optamos por grafar a letra maiúscula na disciplina
para diferenciá-la do que chamaremos de história, os possíveis acontecimentos que não foram
enunciados, que não foram contados, ou que não tiveram seus sentidos privilegiados na
história institucionalizada, como a História que vai para o material didático, para ser ensinado
nos bancos da escola, em uma referência à pesquisa de Orlandi (1983) sobre "O discurso da
história pra escola".

O próprio escrever histórico inscreve sentidos que guardam uma íntima relação com as
formações discursivas, pela compreensão de que todo discurso se produz pelos saberes
advindos de determinada formação discursiva, por sua inscrição ideológica em uma rede de
sentidos. Por formação discursiva, entendemos com Pêcheux,

aquilo que numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição
dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes,
determina o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma arenga, de
um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.).
Isto equivale a afirmar que as palavras, expressões, proposições, etc., recebem seu
sentido da formação discursiva na qual são produzidas. (PÊCHEUX, 1988 [1975],
p. 160-161. Itálicos do autor. Grifos em negrito nossos.).
91
A formação discursiva determina, segundo o autor, "o que pode e deve ser dito", de
uma posição na estrutura social, a partir de uma conjuntura específica. A isso podemos
acrescentar que há várias possibilidades de inscrição em formações discursivas, redes que se
vinculam e se repelem, cujas fronteiras são porosas e estabelecem uma trama de sentidos, em
que uma formação discursiva se historiciza como dominante.

O discurso da história se inscreve pela formação discursiva que apoia seus sentidos,
significando-os como O sentido, podendo passar a ser tomado como a História. Entretanto,
pela compreensão da história como discurso, nesta perspectiva discursiva, o que há são efeitos
de sentido, produzidos pela inscrição em formações discursivas porosas e que se enlaçam e se
distanciam, num jogo de tensão, produzido pelo político da divisão dos sentidos
(GUIMARÃES, 2005). Por esta compreensão, na leitura da história, é preciso "tensionar", ou
seja, perseguir as tensões, na formação discursiva, ou, entre as formações discursivas, que, no
discurso da história, se encobrem. Equivocar as certezas pelas fronteiras porosas que saltam
na evidência dos sentidos institucionalizados.

Na produção de sentidos resultante deste processo discursivo (PÊCHEUX, 1988


[1975]), certos sentidos são ditos e outros são silenciados. Orlandi, em As formas do silêncio
(2007 [1997], p. 73), define o silêncio em sua ordem política: "Com efeito, a política do
silêncio se define pelo fato de que ao dizer algo apagamos necessariamente outros sentidos
possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva dada." O silêncio constitutivo
determina o que se pode dizer em uma formação discursiva dada, cuja relação se constrói
sócio-historicamente. Assim, ainda com as palavras de Orlandi (ibidem, p. 73 ), podemos
afirmar que "a relação dito/não dito pode ser contextualizada socio-historicamente, em
particular em relação ao que chamamos o 'poder dizer'."

Pela política do silêncio funciona o político na língua, o que nos permite afirmar que o
dizer divide sentidos, os possíveis e os impossíveis em determinadas condições de produção
(PÊCHEUX & FUCHS, 1990 [1969]). Nos estudos discursivos, consideramos as condições
de produção em dois sentidos: o estrito e o amplo. De acordo com Orlandi (2009), em Análise
do Discurso,

Podemos considerar as condições de produção em sentido estrito e temos as


circunstâncias da enunciação: é o contexto imediato. E se as considerarmos em
sentido amplo, as condições de produção incluem o contexto sócio-histórico,
ideológico. (ORLANDI, 2009, p. 30. Grifos nossos.)

92
De acordo com a autora, as condições de produção no sentido estrito se presentificam,
no momento da enunciação, no contexto imediato e “compreendem fundamentalmente os
sujeitos e a situação.” De outra forma, as condições de produção no sentido amplo
ultrapassam os limites do enunciado e se ancoram na história ou, dito de outro modo, têm sua
inscrição no sócio-histórico e no ideológico e se vinculam a uma memória pelo acesso ao
interdiscurso.

Nesta memória histórica, que é tecida na tensão entre a repetição e o esquecimento


(PÊCHEUX, 1988 [1975]) e pela regulação de sentidos (ACHARD, 2007), se demarca a
historicidade dos processos discursivos de produção dos sentidos e é na análise material da
língua que se demarcam os limites dos dizeres, suas bordas e seus transbordamentos.

A memória, por sua vez, tem suas características quando pensada em relação ao
discurso. E, nessa perspectiva, ela é tratada como interdiscurso. Este é definido
como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. Ou seja, é o que
chamamos de memória discursiva: o saber discursivo que torna possível todo
dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito que está na base
do dizível, sustentando cada tomada de palavra. O interdiscurso disponibiliza
dizeres que afetam o modo como o sujeito significa em uma situação discursiva
dada. (ORLANDI, 2009, p. 31. Grifos nossos.)

É na memória discursiva que os dizeres do interdiscurso comparecem para o sujeito


"sob a forma de um pré-construído", o "já dito", o que aparece como possível de se dizer no
momento da enunciação. A apreensão/compreensão do enunciado na história está na base
discursiva da História das Ideias Linguísticas ao questionar a história institucionalizada na
forma da construção de uma memória sobre as línguas.

A proposta de uma análise sobre a materialidade da história na língua, por um


mergulho na memória dos dizeres sobre as línguas, configura um modo de pensar a história
dos saberes sobre estas para além do discurso da história sobre as sociedades e suas línguas.
Traçar uma História das Ideias sobre as línguas no/do Paraguai é escrever uma história dos
saberes que percorre os dizeres sobre as línguas para entender os sentidos formulados e
aqueles que ressoam mesmo silenciados na disputa própria da construção simbólica da
história. E, neste simbólico que significa, a história se faz significar no e pelo sujeito por sua
inscrição na própria história. Para a Análise do Discurso, não é por escrever a história que se
faz a história, mas a construção pelo simbólico produz imaginariamente o referente
(ORLANDI, 2008), em que está implicado também o sujeito. Como aponta Guilhaumou,

93
do ponto de vista do historiador do discurso, os sujeitos de enunciação
produtores de enunciados significativos em uma conjuntura histórica
determinada dispõem de uma capacidade reflexiva inédita, de julgamentos
formulados a partir de argumentos enunciados em acontecimentos discursivos.
(GUILHAUMOU, 2009, p. 132-133)

Considerar os sujeitos da enunciação, como faz o autor, não significa "sacralizar


formulações individuais", ou aderir ao discurso dos que caminham para uma subjetividade
consciente, pela intencionalidade do historiador. A questão fundamental para o historiador do
discurso é questionar os acontecimentos linguísticos, dispondo de ferramentas que o
possibilitarão ler o trabalho do historiador de ofício, compreendendo também sua inscrição
como sujeito da/na história. (GUILHAUMOU, 2009)

Pelos estudos discursivos, considerar o simbólico na escrita da história, possibilitou o


deslocamento do sentido de história para historicidade do processo de constituição dos
sentidos. Consoante Nunes,

Trabalhar a historicidade implica em observar os processos de constituição dos


sentidos e com isso desconstruir as ilusões de clareza e de certitude. Ao mesmo
tempo, trabalhar a historicidade na leitura de arquivos leva a realizar percursos
inusitados, seguindo-se as pistas linguísticas, traçando percursos que desfazem
cronologias estabelecidas, que explicitam a repetição de mecanismos ideológicos
em diferentes momentos históricos, que localizam deslocamentos e rupturas.
Desse modo, o arquivo não é visto como um conjunto de "dados" objetivos dos
quais estaria excluída a espessura histórica, mas como uma materialidade
discursiva que traz as marcas da constituição dos sentidos. O material de arquivo
está sujeito à interpretação e, mais do que isso, à confrontação entre diferentes
formas de interpretação e, portanto, não corresponde a um espaço de
"comprovação", onde se suporia uma interpretação unívoca." (NUNES, 2005, p. 1-2.
Grifos nossos.)

Perseguir as "pistas linguísticas" na história e perseguir a história na língua, pela


leitura do arquivo, desconstruindo o esquema cronológico e lógico da história escrita oficial, é
considerar o arquivo "como uma materialidade discursiva que traz as marcas da constituição
dos sentidos". (ibidem, p. 1-2) Mediante a demarcação temporal, pelos períodos e lugares
estabelecidos, se constrói uma sequência que imprime à história uma organização, num
enlaçar de enredos, personagens e tempo estabelecidos. Talvez aí possamos retomar o que De
Certeau (1982 [1975]) dizia sobre a história como a escrita de um romance, pela escrita de
uma ficção. Em um trabalho que analisa discursivamente os diferentes textos, pela leitura do
arquivo, se busca compreender na dispersão a historicidade dos processos de produção dos

94
sentidos, a partir das pistas80 linguísticas, "traçando percursos (...) que explicitam a repetição
dos mecanismos ideológicos", pela inscrição na teoria materialista de construção e
compreensão dos sentidos, considerando as marcas da língua na história, como aponta Nunes
(2005, p. 1-2). Ainda pela teoria discursiva, podemos afirmar com Mariani que os textos
constituem

um vasto conjunto de práticas de linguagem, [e que] foram lidos não como


documentos históricos que conteriam fatos ou verdades históricas, mas sim como
práticas discursivas que foram constituídas pelos domínios de pensamento da
época e que ao mesmo tempo, contribuíram para a formação e transformação
destes mesmos domínios de pensamento. (MARIANI, 2004, p 68. Grifos nossos.)

Como afirma essa autora, os textos são "práticas discursivas que foram constituídas
pelos domínios de pensamento da época" e neste mesmo gesto contribuíram para as práticas
discursivas posteriores. Assim, a análise dos textos que fazem parte do arquivo que compõe
esta tese segue por este caminho, por tomar os documentos como discurso, efeitos de sentido
produzidos historicamente, e não documentos fechados em suas "verdades históricas".

A partir das questões aqui apresentadas, salientamos que esta tese se propõe a
percorrer os caminhos da história oficial em sua inscrição ideológica, para compreender a
historicidade dos sentidos sobre as línguas no Paraguai. Buscaremos, na próxima seção,
visitar a história do Paraguai desde a colônia perseguindo as pistas linguísticas que
possibilitam a compreensão de nosso objeto de estudo: as políticas linguísticas sobre o
guarani e o espanhol no Paraguai atual.

3.2 O DISCURSO DA HISTÓRIA SOBRE O PARAGUAI

Continuando o caminho que viemos percorrendo sobre a questão da história no


discurso, passamos, nesta seção, a considerar o discurso da história sobre o Paraguai,

80
Em "Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história", do campo da História, Ginzburg (1989) argumenta que é
preciso perseguir os sinais, indícios e pistas para decifrar a realidade, que é opaca.
95
perseguindo as pistas linguísticas que nos permitem conhecer os efeitos de sentidos sobre a
situação do guarani e do espanhol desde os escritos sobre a colonização.

Em sua reflexão sobre "a construção da identidade nacional"81, Orlandi afirma que
discursos fundadores "são enunciados que ecoam" e que "reverberam efeitos de nossa história
em nosso dia-a-dia, em nossa reconstrução cotidiana de nossos laços sociais, em nossa
identidade histórica" (2003 [1993], p.12. Grifos nossos.). Nesta obra, Orlandi está tratando
especificamente de enunciados que, segundo suas análises, instituem sentidos para o brasileiro
e para o Brasil, num direcionamento que constitui os dizeres sobre o nacional. Para nós, essa é
uma proposta fundamental por colocar em questão como efeitos de sentido ecoam na história,
sendo, então, possível, num trabalho com o discurso da história, compreender o fazer ecoar ou
o silenciar determinados sentidos.

Duas explicações se fazem fundamentais, neste caso: 1. como formula a autora, os


sentidos não têm início localizável. Eles estão sempre lá, se ressignificam, deslizam ou
permanecem, sem pertencer a um lugar específico, pois, consoante Orlandi, (ibidem, p. 7)
"relacionamos essa afirmação de que as idéias não têm lugares absolutos com o princípio
discursivo de que os sentidos não têm origem, não pertencendo, de direito, a lugar nenhum"; e
2. Não trataremos de enunciados em particular, como os estudos presentes na obra citada
(ORLANDI, ibidem), mas consideraremos o discurso da história, cujo contar da história, pelo
seu modo de enunciar, repetir, deslizar ou silenciar determinados dizeres, produz efeitos de
sentido na construção da identidade nacional paraguaia. Deste modo, não trataremos de
enunciados que se colocam como discursos fundadores, mas como o próprio dizer dos
historiadores funda sentidos sobre o Paraguai e sobre suas línguas.

Em nossa tese, mesmo não analisando enunciados determinados, é possível pensar


com Orlandi (ibidem) sobre a história como memória temporalizada e que se apresenta como
legítima a partir de um lugar institucionalizado. Nas palavras da autora, discursos fundadores
"são espaços da identidade histórica: é memória temporalizada, que se apresenta como
institucional, legítima". (ORLANDI, ibidem, p. 13) Baseados nestas considerações, também
tratamos o discurso histórico institucionalizado como "espaços da identidade histórica", como
memória que se apresenta como legítima, mas que se deixa entrever nas filiações de sentidos
que se materializam discursivamente na língua.

81
Tomamos este fragmento do título da obra da autora, a saber: "Discurso fundador: a formação do país e a
construção da identidade nacional". (ORLANDI, 2003 [1993]).
96
No entanto, nessa passagem do sem-sentido para o sentido, produzida nesses
lugares, não estamos pensando na história dos fatos, e sim o processo simbólico, no
qual, em grande medida, nem sempre é a razão que conta: inconsciente e ideologia
aí significam. Não é a cultura ou a história factuais, mas a das lendas, dos mitos,
da relação com a linguagem e com os sentidos. É a memória histórica que não
se faz pelo recurso à reflexão e às intenções, mas pela "filiação" (não
aprendizagem). Aquela na qual, ao significar, nos significamos. Assim, nessa
perspectiva, são outros os sentidos do histórico, do cultural e do social. Mas que
assim mesmo nos constroem um imaginário social que nos permite fazer parte
de um país, de um Estado, de uma história e de uma formação social
determinada. (ibidem, p. 13. Aspas da autora. Grifos nossos.)

De acordo com o que propõe a autora, não são as "histórias factuais" que buscamos
compreender, mas como o contar da (s) história (s), em sua relação com a linguagem, filia
sentidos que significam pela construção de um imaginário de um país, pelo qual sujeitos se
significam nesta relação de identificação com o nacional.

Deste modo, nossa reflexão sobre a história nos faz considerar como o discurso
histórico construiu "um imaginário social" que nos permite compreender como os sujeitos se
identificam com o seu país, como parte "de uma formação social determinada", sob o jugo de
um Estado, no efeito de compartilharem uma mesma história. Não pretendemos, aqui, dar
conta de toda a história paraguaia, por também entender que a completude não é possível, mas
ressaltaremos determinados dizeres, em momentos históricos distintos, que consideramos
fundamentais na construção da identidade nacional paraguaia, conforme o critério de recorte
do arquivo: o sistema de reciprocidade familiar entre europeus e indígenas, a falta de metais
preciosos no território assunceno, o Concílio de Lima, a catequese em língua guarani, a
expulsão dos jesuítas, a Independência do Paraguai, a guerra contra a Tríplice Aliança e o
longo governo de Strossner.

Para tanto, apresentamos três subseções que tratam dos períodos históricos que nos
parecem fundamentais na construção desta identidade nacional e uma tentativa de enlace que
busca compreender como os três períodos trazidos funcionam para a construção de um
imaginário social paraguaio, principalmente na sua relação com as línguas: 2.2.1 A colônia, os
jesuítas e as reduções; 2.2.2 O século XIX: da Independência à Guerra da Tríplice Aliança;
2.2.3 Strossner: nacionalismo e identidade nacional; e 2.3 O ecos da história na construção do
imaginário social. Na seleção dos eixos de que trataremos a seguir, estabelecemos como
critério para a seleção a regularidade da aparição destes períodos históricos em algumas
pesquisas já realizadas sobre o Paraguai, na sua relação com as línguas e com a identidade

97
nacional, como os trabalhos desenvolvidos por Rodrígues-Alcalá, 2000; Melià, 2003; Gómez,
2007; Gómez, 2009 [2006]; Jiménez, 2011; entre outros. Passemos aos dizeres da história.

3.2.1 A colônia, os jesuítas e as reduções

O discurso histórico sobre o Paraguai enlaça sentidos para os sujeitos paraguaios desde
o período anterior à colonização. Como explicitado anteriormente, nas subseções que
compõem este capítulo, trabalharemos com alguns historiadores e estudiosos de outras áreas
que versaram sobre a história do Paraguai, entendendo a história como discurso, por sua
inscrição em formações discursivas, como tratamos no início deste capítulo. São eles:
Lemogodeuc, 2002; Melià, 2003; Gómez, 2007; Gómez, 2009 [2006]; Chamorro, 2009;
Durán, 2011 [2010]; Areces, 2011 [2010]; Brezzo, 2011 [2010]; Telesca, 2011 [2010];
Nickson (2011 [2010]); Jiménez, 2011; Flecha, 2012. Antes de passarmos a realizar a leitura
discursiva dos dizeres da história oficial, valem alguns esclarecimentos acerca da metodologia
de trabalho e das concepções teóricas que se inscrevem nesta seção.

Por uma questão metodológica, foi feito um recorte temporal a partir do nosso objeto e
não trataremos da situação no continente americano pré-hispânico, por considerar, em nosso
estudo, principalmente a relação entre o espanhol e o guarani, cujo encontro se deu após a
"descoberta das Américas". Vale esclarecer que optamos por utilizar a expressão "descoberta
das Américas" entre aspas para fazer referência à vinculação deste sintagma ao discurso da
História, que vigorou durante quase cinco séculos, sobre a invasão europeia que aconteceu
neste continente pelos idos do século XV. Como já apontamos anteriormente, para a Análise
do Discurso, os sentidos não têm origem identificada, o que nos conduz a afirmar que os
dizeres sobre o Paraguai a partir da colônia possivelmente ressoam sentidos dos períodos
históricos anteriores. É preciso, por este motivo, ressaltar que a memória dos dizeres não se
organiza cronologicamente e nossa tentativa de organizar é já um gesto do analista
(ORLANDI, 2010 [1994]), baseado nos gestos dos estudiosos que anteriormente trataram dos
períodos históricos aqui tomados.

Como ponto inicial, é preciso marcar que a colonização espanhola, no território hoje
delimitado como Paraguai, não foi pacífica, como tampouco o foi nos demais espaços latino-
98
americanos. Diferente do que contava o discurso da história, que colocava a descoberta como
motivo de alegria para as nações americanas, houve muita resistência por parte dos indígenas
aqui estabelecidos frente ao modo de ocupação europeu. De acordo com o discurso da história
do Paraguai, houve resistência guarani durante mais de cento e vinte anos, ou seja, a
colonização não foi sem embate, sem luta e sem contradições. (DURÁN, 2011 [2010], p. 66)

Do campo dos estudos da História, de acordo com Durán (ibidem), teria sido
fundamental, nesse primeiro encontro, o sistema de reciprocidade familiar, em que espanhóis
tomavam como pares mulheres indígenas, conseguindo, assim, além das próprias amantes,
alianças familiares, que lhes facilitavam a entrada e a permanência na colônia, em troca de
material de ferro e armas de guerra (ibidem). Essas relações entre mulheres indígenas e
homens europeus são apontadas como um primeiro momento de encontro linguístico e de
sobrevalência/soberania das línguas indígenas no panorama americano, pois, na criação dos
filhos, supostamente, a língua guarani prevaleceria no Paraguai.

Um fenômeno que marcou a colonização nas diversas partes do continente americano


foi a presença dos línguas, intérpretes que aprendiam as línguas indígenas ou indígenas que
aprendiam as línguas dos colonizadores, com o objetivo de intermediar as relações entre
europeus e indígenas.

Mariani (2007), em seu texto Quando as línguas eram corpos, analisa


comparativamente os dizeres sobre os línguas na África e no Brasil nos "discursos da
colonização", com o objetivo de compreender as representações sobre as línguas e sobre os
línguas nos dois espaços. Para a autora,

é possível dizer que, colocadas em circulação a partir dos corpos dos línguas, as
línguas constituem não somente um saber lingüístico a ser partilhado, mas
também práticas sociais, culturais e religiosas a serem aprendidas ou impostas.
Pensemos nos línguas, então, como corpos significantes, corpos atravessados pela
linguagem. (MARIANI, 2007a, p. 88. Itálicos da autora. Grifos nossos.)

Tomando as análises de Mariani, podemos afirmar que no corpo dos línguas,


"atravessados pela linguagem" se inscrevem "práticas sociais, culturais e religiosas", corpos
que significam na história da colonização de modo diferente, a depender, inclusive de sua
origem. Como nos ensina a autora, são diferentes os sentidos produzidos para os línguas de
origem portuguesa e os línguas de origem americana ou africana.
99
No Paraguai, de acordo com Gómez (2007, p. 78), os primeiros bilíngues espanhol-
guarani teriam sido europeus chegados às terras no início da conquista. Posteriormente,
alguns indígenas teriam sido levados à Espanha para aprenderem a língua espanhola e se
tornarem "línguas", processo semelhante ao que aconteceu no Brasil, como aponta Mariani:

O termo língua figura principalmente nos textos portugueses a partir do final do


século XV, vindo a substituir o 'turgimão', que era empregado anteriormente.
Segundo os historiadores, esses portugueses que ficavam imersos na cultura
local absorvendo ritos e aprendendo a geografia do lugar eram chamados de
tangomãos ou lançados. Dito de outro modo, o língua (ou turgimão) designa um
lugar de intérprete e uma função: atuar como intermediário em transações
comerciais variadas. A atuação dos línguas, portanto, existe antes de a Coroa
Portuguesa sedimentar administrativa e religiosamente a terra descoberta, os
intérpretes eram deixados na costa para aprender a língua desconhecida, os
costumes do lugar, a geografia e a localização das riquezas. 82 (MARIANI,
2007a, p.88-89. Aspas e itálicos da autora. Grifos em negrito nossos.)

De acordo com os dizeres da colonização portuguesa, já havia a figura do "turgimão",


que tinha como objetivo conhecer a cultura local e aprender a geografia. Como aponta
Mariani, o lugar do língua como intérprete estaria marcado por uma função, ou seja, o
"língua" era o "intermediário em transações comerciais", deveria conhecer "os costumes do
lugar, a geografia e a localização das riquezas". Ainda sobre os línguas, Mariani (2007a)
afirma que, no discurso colonizador, comparecem de modo diferente os dizeres sobre um ou
outro tipo de "língua" de acordo com sua procedência. Os "línguas"indígenas só eram
significados como fiéis após se tornarem cristãos.

De outra perspectiva, Gómez (2007), retomando os estudos de Melià, aponta que os


motivos pelos quais europeus e indígenas aprendiam a língua do outro já começam a
estabelecer as relações dos paraguaios com as línguas até a sociedade atual. Segundo o autor,

Deplorável igualmente foi sobremaneira o papel dos intérpretes na chamada guerra


Guaranítica (1750-1756), pelas traduções incorretas ou tendenciosas que davam dos
papéis sequestrados dos índios. O padre jesuíta [Melià] acrescenta que este
bilinguismo de interpretação oferece um traço característico do que será o
bilinguismo paraguaio. O guarani é usado pelos castelhano-falantes com
propósitos tipicamente coloniais, sejam estes o exercício de um poder político, o
intercâmbio comercial ou a missão. As intenções dos guaranis ao falar
espanhol seriam diversas: entendem congraciar-se com os recém-chegados e

82
Neste trecho, a autora faz referência ao texto "O império marítimo português (1415-1825). (BOXER, 2001).
100
usar a língua de quem já começavam a chamar-se karaí, que passará a ser
sinônimo de "senhor".83 (GÓMEZ, 2007, p. 78-79. Itálicos do autor. Grifos em
negrito nossos. Tradução nossa.)

Em termos discursivos, podemos dizer que a memória dos usos do guarani e do


espanhol remontam ao período colonial e, embora não seja possível encontrar um início para a
memória das relações entre as línguas, podemos dizer que a formação da sociedade colonial
que ia se estabelecendo começa a direcionar certos sentidos sobre as línguas, ou como afirma
Gómez (ibidem), "este bilinguismo de interpretação oferece um traço característico do que
será o bilinguismo paraguaio"84. Ou seja, retomando Gómez, o uso do guarani pelos europeus
teria objetivos colonizadores, enquanto os indígenas buscavam se aproximar dos europeus, a
quem já chamavam de senhores. As relações entre as línguas - e os povos - se desenham e se
colocam já neste período inicial de colonização.

Ainda pelo discurso da história sobre o Paraguai e suas línguas, uma explicação que
ressalta quando se explica a falta de interesse espanhol pela colônia é a falta de metais
preciosos naquelas terras. Durán (2011 [2010], p. 64. Tradução nossa.) afirma que "depois do
descobrimento da serra da Prata (que não era outra coisa senão a conquista do Peru), Espanha
perdeu o interesse pelo Rio da Prata, um território que apesar do nome que tinha, não possuía
metais preciosos."85 De acordo com a autora, ainda houve outras incursões para o interior do
Paraguai, em regiões mais afastadas de Assunção, nessa empreitada exploratória, quando na
região de Guairá se teria encontrado algumas "pedras de raro brilho" que teria reacendido o
interesse pelo Paraguai:

Entretanto tudo mudou quando um dos "peregrinos" extraiu diante dos


ouvidores de Charcas um punhado de pedras de raro brilho provenientes das
minas de Guairá, e assegurou que não eram exploradas por falta de mineiros e de
um governador rico. O menosprezo pelo Paraguai se transformou, de imediato, em

83
"Deplorable igualmente fue sobremanera el papel de los intérpretes en la llamada guerra Guaranítica (1750-
1756), por las traducciones incorrectas o tendenciosas que daban de los papeles secuestrados a los indios. El
padre jesuita [Melià] añade que este bilingüismo de interpretación ofrece un rasgo característico de lo que será el
bilingüismo paraguayo. El guaraní es usado por los castellanohablantes con propósitos típicamente coloniales,
sean éstos el ejercicio de un poder político, el intercambio comercial o la misión. Las intenciones de los
guaraníes al hablar español serían diversas: entienden congraciarse con los recién llegados y usar la lengua de
quien ya empezaba a llamarse karaí, que se hará sinónimo de 'señor'." (GÓMEZ, 2007, p. 78-79.)
84
"este bilingüismo de interpretación ofrece un rasgo característico de lo que será el bilingüismo paraguayo".
85
"Después del descubrimiento de la sierra de la Plata (que no era otra cosa que la conquista del Perú), España
perdió interés por el Río de la Plata, un territorio que, a pesar del nombre que llevaba, no poseía metales
preciosos." (DURÁN, 2011 [2010], p. 64)
101
um cobiçado interesse".86 (DURÁN, 2011 [2010], p. 65. Grifos nossos. Tradução
nossa.)

Foi então que, em 1575, chegou o novo governador do Paraguai, Ortiz de Zárate, que
havia vendido todas as suas possessões no Peru para investir nas promissoras terras mais ao
sul do continente. Entretanto, essa confirmação de metais preciosos no Paraguai, segundo os
dizeres da história, não coincidia com a realidade. Até os dias atuais, aquela região é
conhecida por não ter riquezas minerais.

Teria sido também por esta época que chegaram a estas terras os fundadores das
reduções guaraníticas na região do Rio da Prata, os franciscanos Luis de Bolaños e Alonso de
San Buenaventura. (Ibidem). Estes freis teriam sido, segundo os registros, os primeiros a se
preocuparem em aprender o guarani e a fazer-se entender pelos índios, catequizando em
língua indígena (MELIÀ, 2003, p. 32).

Em 1583, o Concílio de Lima havia estabelecido certos moldes para a prática


catequética e, em 1603, o Sínodo de Assunção teria retomado estas diretrizes, adaptando-as à
realidade paraguaia. De acordo com Melià, dentre as diretivas do Concílio, estava a
predicação na "linguagem dos informantes" anterior ao próprio batismo, defendido por Luís
de Bolaños e seus companheiros.

Daí em diante, a missão se baseará em uma palavra anunciada no idioma do índio e


que poda ser compreendida. Na linguagem dos informantes a predicação é um
ato de palavra, tomado em seu mais amplo sentido, com relação à essa palavra
é o anúncio de verdades cristãs e tem por fim alcançar uma conversão, que se
concretizará no abandono do modo de vida antigo para dar lugar à adoção de um
modo de vida baseado na lei cristã. 87 (MELIÀ, 2003, p. 33. Grifos nossos.
Tradução nossa.)

86
"Pero todo cambió cuando uno de los 'peregrinos' extrajo ante los oidores de Charcas un puñado de piedras de
raro brillo provenientes de las minas de Guairá, y aseguró que no eran explotadas por falta de mineros y de un
gobernador rico. El menosprecio hacia el Paraguay se transformó, de pronto, en un codiciado interés." (DURÁN,
2011 [2010], p. 65)
87
"De ahí en adelante la misión se basará en una palabra anunciada en el idioma del indio y que pueda ser
comprendida. En el lenguaje de los informantes la predicación es un acto de palabra, tomado en su más amplio
sentido, en cuanto esa palabra es el anuncio de verdades cristianas y tiene por fin alcanzar una conversión, que se
concretará en el abandono del modo de vida antiguo para dar lugar a la adopción de un modo de ser nuevo
basado en la ley cristiana." (MELIÀ, 2003, p. 33)
102
De acordo com Meliá (ibidem), o ensino da palavra cristã em língua guarani88 serviria
para a aproximação do indígena aos ensinamentos cristãos, sempre com o objetivo de uma
posterior adoção ao modo de vida estabelecido pela lei da igreja, baseado nas suas verdades.
A predicação aparece como um "ato de palavras" que funcionaria como um "anúncio de
verdades cristãs", com o objetivo de "alcançar uma conversão" que culminaria na "adoção do
modo de vida baseado na lei cristã". O uso da língua indígena aparece então como um
instrumento de evangelização e os posteriores avanços com relação ao conhecimento desta
língua serão, em geral, com este objetivo. Em Colonização Lingüística, Mariani (2004)
aponta este mesmo funcionamento no processo de catequização brasileiro, quando José de
Anchieta começou a ensinar as leis cristãs em tupi-guarani. Bolívia, Brasil, México, Paraguai
e Peru teriam seguido os desígnios do Terceiro Concílio de Lima (1582-1583) que ordenava
que a fé cristã fosse professada nas línguas locais. Teria sido, então, a partir desta decisão que
o catecismo passou a ser traduzido e ensinado em guarani, náhuatl, e quéchua89.

Na perspectiva discursiva, podemos considerar que o Concílio de Lima foi, além de


um acontecimento histórico, um acontecimento linguístico (GUILHAUMOU, 2009), por
fazer inaugurar sentidos sobre as línguas americanas, principalmente com relação ao
investimento em novos "objetos linguísticos" (Guilhaumou, 2009). De acordo com
Guilhaumou (ibidem, p. 93), que exemplifica especificamente com o caso do francês, o
“acontecimento linguístico intervém na hiperlíngua para favorecer a dinâmica inovadora” e
acrescenta:

Por esta razão, seu conhecimento é uma abertura para a totalidade de um


processo de compreensão que se relaciona ao início de uma reflexão sobre a
acontecimentalidade da língua empírica, e, em decorrência, com um
desdobramento narrativo da língua francesa constitutiva do imaginário
lingüístico que associa a identidade da língua à identidade do nacional.
(GUILHAUMOU, 2009, p. 93. Grifos nossos.)

Segundo o autor, o acontecimento linguístico marca, no caso, o lugar da língua


francesa, pela "reflexão sobre a acontecimentalidade da língua empírica", cuja associação se

88
Retomando o que afirmamos no primeiro capítulo, utilizamos as expressões "língua indígena", "língua
guarani" e "guarani", numa relação de paráfrase, tal como funciona no discurso do colonizador, cujos sentidos
ressoam no nome da língua na atualidade.
89
"No âmbito da colonização espanhola, as línguas gerais foram objeto de decisão conciliar. Assim, o Terceiro
Concílio de Lima (1582-1583) ordena que aos indígenas sejam ensinadas as orações e o catecismo em sua
própria língua: o náhuatl no México; o quéchua no Peru; o guarani no Brasil e no Paraguai, até Santa Cruz da
Serra."(Tovar/Larrucea de Tovar apud CHAMORRO, 2009, p. 111. Itálicos dos autores.)

103
coloca como constitutiva do imaginário da relação existente entre a identidade de uma língua
e do nacional. Para Guilhaumou (ibidem, p, 131), o acontecimento linguístico inscreve-se em
um espaço e tempo determinados e está sujeito à interpretação por sua condição de língua
empírica, ou seja, por sua existência em uma língua específica, em espaço e tempo
determinados.

O acontecimento discursivo, por sua vez, circularia com mais fluidez por estas
barreiras, "num espaço de linhas menos visíveis" (ibidem, p. 131). Conforme Guilhaumou
(ibidem, p. 97), "O acontecimento lingüístico situa-se no espaço/tempo fundador de atos de
linguagem reguladores do acontecimento discursivo", materializando-se em três formas.

a) sujeitos que dispõem de capacidades lingüísticas próprias, que denominamos de


sujeitos cognitivos;
b) objetos lingüísticos, mais particularmente, no contexto da gramatização
moderna e contemporânea, instrumentos lingüísticos tais como os dicionários e
as gramáticas;
c) uma diversidade de julgamentos desses sujeitos desdobrados nesses instrumentos
adequados à tradução abstrata da língua empírica, julgamentos generalizantes sobre
os fatos da língua que podem se agrupar sob o rótulo de consciência lingüística.
(ibidem, p. 97. Grifos nossos.)

Como apresentado pelo autor, o acontecimento linguístico materializa o discursivo


pela inscrição na história, em um espaço e tempo determinados, por sujeitos determinados e
pela produção de objetos linguísticos próprios. Nas palavras do autor, o acontecimento
linguístico recorta o acontecimento. Podemos dizer que o acontecimento linguístico recorta o
acontecimento discursivo impondo-lhe limites por sua própria materialização em dada língua.
Para nós, interessa por o foco no processo de gramatização das línguas, pela criação de
instrumentos linguísticos (AUROUX 2009 [1992]), em determinadas línguas, que se
intensifica a partir da determinação do Terceiro Concílio de Lima.

Por estas questões, podemos afirmar que os dizeres do Terceiro Concílio de Lima
inauguram sentidos para as línguas indígenas no contexto americano, num espaço e tempo
determinados - Bolívia, Brasil, México, Paraguai e Peru, no século XVI - pela sua relação
com o ensino cristão e pelo reconhecimento de uma identificação do indígena com suas
línguas, funcionando como um acontecimento linguístico. Devemos lembrar que nem os
nomes dos referidos países estavam definidos, nem o sentido da "identidade nacional" trazida
por Guilhaumou, contudo, a organização espaço-tempo-língua-sujeitos começava a se
inscrever discursivamente. Baseados na direção que vai tomar a prática catequética, a partir

104
desta reunião, é que consideramos este Concílio um acontecimento linguístico, na medida em
que seus dizeres fundam atos de linguagem (GUILHAUMOU, 2009, p. 97) que irão
transformar a relação entre as línguas na colônia. Esse acontecimento linguístico fundará,
desse modo, discursos sobre as línguas e sobre a catequese, sobre os índios e sua relação com
a igreja e sobre os próprios freis franciscanos/padres jesuítas e sua prática religiosa.

Em seu artigo A Língua Brasileira, Orlandi irá dizer que a "colonização produz uma
clivagem - disjunção obrigada - que afeta a materialidade da língua brasileira" ( 2002, p. 27).
Em concordância com as análises da autora, afirmamos que a colonização no Paraguai afeta a
materialidade das línguas faladas atualmente, o guarani e o espanhol, que passaram pelo
encontro que, embora já ocorresse desde o início da chegada dos espanhóis, se multiplicou
quando do Concílio que passava a obrigar aos freis e padres um contato maior com a língua
indígena. O Terceiro Concílio de Lima, tomado aqui como acontecimento linguístico,
promove a necessidade de sistematização da língua indígena para a catequese, momento em
que a expansão cristã se marca ainda mais fortemente nesse período da colonização linguística
(MARIANI, 2004). Ou seja, o processo colonizador europeu nestas terras se fundou e se
fortaleceu a partir da ideia de necessidade de civilização dos povos indígenas, que deixou
marcas pelo confronto entre línguas diferentes, com memórias diferentes, em um embate
marcado historicamente pela desigualdade de forças. Entende-se por colonização linguística
este processo desigual, cujas relações de forças favorecem uma língua pela construção de uma
memória de legitimação em detrimento da outra. É a língua do colonizador que aparece como
língua de civilização frente às línguas indígenas que são significadas como debilitadas,
atrasadas, menos complexas. As relações entre os povos se transpõem para as imagens de suas
línguas, cuja memória se faz repetir na história, dentre outras formas, pelo funcionamento do
acontecimento linguístico permanecendo no “discurso sobre”, ao alçar um certo dizer sobre a
língua que segue ecoando na memória efeitos de sentido para o guarani, língua e sujeito. A
colonização linguística deixa ecos na história paraguaia atual, pelo gesto de catequizar para
civilizar que aparecia como autêntico naquele período e se mostra eficaz nos dizeres sobre a
língua guarani na atualidade, que insiste em significar a língua indígena como atrasada e
incapaz de cumprir determinadas funções.

Ainda com relação à colonização linguística no Brasil, Mariani postula que

tematizar a trajetória histórico-linguística constitutiva da institucionalização da


língua portuguesa no Brasil é estabelecer uma relação com o projeto colonizador
português de civilizar o Novo Mundo. Trata-se de um projeto de colonização
105
lingüística constituído com base no catolicismo jesuítico e em consonância com
um imaginário em torno da relação língua-nação vigente do século XVI ao
XVIII. Por outro lado, como essa história não se faz sem resistências lingüísticas na
colônia, tematizá-la é também discutir o papel da linguagem na transformação de
uma colônia em nação independente. (2004, p. 21. Grifos nossos.)

Por esta afirmação, podemos retomar o que vínhamos afirmando anteriormente de


como o catolicismo começa a construir um lugar para as línguas no novo continente. A autora
trata de um "catolicismo jesuítico" em suas análises. Já no Paraguai, a empreitada cristã tem
início com dois freis franciscanos, o que nos permite trabalhar com a ideia do catolicismo,
mas sem determinar sua filiação, pois, para nós, o processo inicial de catequese se deu de
forma bastante parecida, independente de se tratar de jesuítas ou franciscanos. O modelo
europeu posteriormente adotado e promovido nas colônias se reproduzia sob um imaginário já
conformado de nação, em torno da relação imaginária entre "língua-nação vigente do século
XVI ao XVIII", como aponta Mariani (ibidem).

Outro ponto que nos parece fundamental nessa empreitada catequética é que o
Concílio teria promovido o início do investimento no processo de gramatização (AUROUX,
2009 [1992]) da língua indígena pela tradução do catecismo. De acordo com Melià (1992),
não era difícil demonstrar com provas escritas e testemunhos que a primeira tradução do
catecismo era de Luis de Bolaños. Com base em formulações realizadas por Auroux (2009
[1992]), podemos afirmar que esta primeira tradução do catecismo dá início a um processo de
produção de conhecimento do sistema linguístico da língua guarani das reduções, bem como
do conhecimento metalinguístico sobre a língua guarani. Os freis Luis de Bolaños e Alonso
de San Buenaventura, como afirmamos anteriormente, segundo o discurso histórico, já teriam
conhecimento da língua oral e iniciaram o processo de escrita da língua indígena. Neste
processo, a colonização linguística se marca na própria materialidade da língua, pois sua
sistematização segue um modelo europeu, estabelecendo limites e fronteiras na própria
escrita, no caso, da língua guarani. A colonização se marca, desse modo, na estrutura da
língua, na sua escrita, no seu sistema, no que fica como próprio da língua. É a marca da
memória da colonização no sistema das línguas indígenas. A tradição escrita que se impõe
sobre uma língua de tradição oral, cuja memória se ressignifica, se recompõe, se reescreve.

Para Payer (2005), nessa relação entre a oralidade e a escrita, sempre haverá um
impossível de ser formulado, constitutivo na produção discursiva.

106
um lugar sócio-histórico particular de produção do discurso, que acolhe e
possibilita que circulem memórias discursivas que não puderam se inscrever
socialmente na ordem da escrita (...) possibilitando dizer algo que ainda não foi
dito” …[Assim,] pelo próprio funcionamento do discurso, não é todo o “não-dito”
que pode vir a ser dito: na medida em que sentidos não-ditos adquirem um
estatuto da linguagem, haverá sempre algo mais atuando como constitutivo
(não-formulável) para o sujeito. Estamos dizendo que, pelo trabalho de
formulação do passado, o sujeito pode ter acesso a sentidos que o constituem e que
estavam abafados a partir de uma história de silenciamentos. (PAYER, 2005: 54.
Aspas e itálicos da autora. Grifos em negrito nossos.)

Há, de acordo com a autora, para o sujeito um "algo mais atuando como constitutivo",
da ordem do "não-formulável" nessa escrita de uma língua oral. Dito de outro modo, um
impossível de ser dito atua na transposição do oral para o escrito, em que atua também uma
memória da oralidade, que não se transpõe como numa possibilidade de escritura mágica de
certos sentidos, também determinados pela ordem da oralidade. Indo além, também é
necessário considerar que, nesse processo de produção escrita, além da marca da gramática
latina na sistematização da língua indígena, é fundamental que apontemos também os temas
que se escrevem. A língua indígena passa a ser escrita a partir de uma concepção de língua e a
partir de temas do universo cultural cristão europeu. Essa é mais uma marca da colonização
como embate, como confronto entre dois imaginários, tal como aponta Mariani (2004). Não
só o sistema da língua se organiza a partir de uma escrita latina, como tudo o que é escrito
está à revelia do conhecimento indígena sobre sua cosmologia. Impõe-se, num mesmo gesto,
tanto a escrita de uma língua que não é a língua guarani, como a escrita de um mundo
diferente daquele conhecido e compartilhado pelos indígenas. A cosmologia cristã se impõe
sobre a indígena ao ser significada como a real salvação. Entretanto, há sempre o furo no
processo histórico, pelo funcionamento de uma resistência que se marca também na língua.
Nas palavras de Mariani (ibidem, p. 21), "como essa história não se faz sem resistências
lingüísticas na colônia, tematizá-la é também discutir o papel da linguagem na transformação
de uma colônia em nação independente.” Por essa perspectiva, podemos afirmar que o
batismo, que passou a ser realizado nas línguas indígenas, se marca como um gesto de
resistência pela língua. A entrada do sujeito na fé cristã se dá, inicialmente, pelo ato do
batismo, e ao adotar as línguas indígenas para o que era próprio do imaginário português faz
ressignifcar o gesto em sua materialidade.

Melià (2003), ao tratar do início da catequese em língua indígena, afirma que os textos
foram traduzidos diretamente das cartilhas que eram utilizadas na Espanha naquele período
para as diversas línguas do continente americano, numa transposição direta dos ensinamentos
107
cristãos, pela imposição que caracterizou a colonização linguística e a transformação das
sociedades indígenas.

A doutrina cristã é, inicialmente, essa coleção de orações chamadas comuns que se


encontrava, por exemplo, ao final das cartilhas ou métodos para aprender a ler,
primeiro livrinho de texto, muitas vezes o único, do que disporão as crianças nas
escolas da Espanha dos séculos XVI e XVII. Grande quantidade destas cartilhas
eram enviadas a América. Estas foram traduzidas e adaptadas muito
rapidamente às línguas indígenas mais diversas; e no que diz respeito à província
eclesiástica do Peru, se sabe que tais traduções já existiam antes de 1545.90 (MELIÀ,
2003, p. 34-35. Grifos nossos. Tradução nossa.)

A transposição direta das cartilhas impõe aos sujeitos do continente americano


sentidos não compartilhados ou, ainda, uma escrita sem sentido, uma imposição de sentidos
dominantes que não guardam relação com aquilo que os indígenas conhecem. A imposição da
religião atrelada à imposição do sistema escrito promove um impossível de ser dito em língua
indígena, uma sistematização do impossível, que se coloca como fundamental pelos
colonizadores e que fere a memória discursiva pela memória da língua pelo funcionamento da
colonização linguística que deixa suas marcas.

É também deste período a primeira gramática da língua guarani, do padre Alonso de


Aragona, cujos manuscritos foram conservados e publicados recentemente (MELIÀ, 2003, p.
169). De acordo com o autor, esta gramática se apresenta como um método de aprendizagem
de guarani para principiantes (MELIÀ, 2003, p. 170), que trata das estruturas básicas da
língua guarani através de esquemas gramaticais que retomam categorias gramaticais
familiares ao aprendiz europeu.

Assim pois, a referência é a que adota como base as gramáticas do latim, do


grego e do castelhano. Mas não se acredite com isso que todo o que não possa ser
enquadrado no esquema preestabelecido das gramáticas latinas ou castelhanas, deva,
pelo mesmo, ser eliminado. De fato, a diferença que aparece logo entre os modos
de dizer do guarani e os do latim ou castelhano, dará origem a uma
caracterização própria da língua indígena, já que esta sempre coincide com o
suposto modelo.91 (ibidem. Grifos nossos. Tradução nossa.)

90
"La doctrina cristiana es, inicialmente, esa colección de oraciones llamadas comunes que se encontraba, por
ejemplo, al final de las cartillas o métodos para aprender a leer, primer librito de texto, muchas veces el único,
del que dispondrán los niños escolares en la España de los siglos XVI y XVII. Gran cantidad de esas cartillas
eran enviadas a América. Fueron éstas traducidas y adaptadas muy pronto a las lenguas indígenas más diversas;
y en lo que hace a la provincia eclesiástica del Perú, se sabe que tales traducciones ya existían antes de 1545."
(MELIÀ, 2003, p. 34-35)
91
"Así pues, la referencia es la que adopta como base las gramáticas del latín, del griego y del castellano. Pero
no se crea con ello que todo lo que no pueda ser encasillado en el esquema preestablecido de las gramáticas
latinas o castellanas, deba, por lo mismo, ser eliminado. De hecho, la diferencia que aparece muy pronto entre
108
A primeira gramática da língua guarani é construída a partir do conhecimento
linguístico que tem o padre Alonso sobre as gramáticas de língua latina, ou como aponta
Auroux (2009 [1992]), o processo de gramatização da línguas americanas se faz a partir do
conhecimento das gramáticas do velho mundo. Segundo Melià,

Uma repreensão que se fez com frequência às gramáticas dos missioneiros é o


de haver submetido o sistema gramatical do guarani a outro, distante e
estranho, o da língua latina, sim que tivesse havido previamente um exame
detalhado das características particulares que definiam à língua guarani em relação
consigo mesma.92 (MELIÀ, 2003, p. 173. Grifos nossos. Tradução nossa.)

De acordo com Melià (2003), essa apreensão das línguas americanas pelo modelo da
língua latina, estranha aos processos de formação das línguas indígenas, foi alvo de diversas
críticas, tendo sido uma constante nos dizeres sobre os missioneiros, com relação à
gramatização da língua guarani. Contudo, como aponta o autor, mesmo com este modelo
latino, a dificuldade em sistematizar a língua guarani apareceu em diversos aspectos do seu
sistema linguístico, o que provocou uma série de descobertas por parte dos missioneiros de
diferenças fundamentais entre os dois sistemas (MELIÀ, 2003, p. 173).

El Arte de la lengua guaraní, de Antonio Ruiz de Montoya (1724), segue o mesmo


modelo latino como a gramática do padre Alonso de Aragona e tem como objetivo oferecer
meios para que os missioneiros possam expressar-se e compreender os índios. Embora os dois
trabalhos tenham sido forjados paralelamente, Melià (2003, p. 173) afirma que eles não têm
uma relação de dependência entre si93.

Pelo processo de gramatização da língua guarani das reduções, baseado em modelos


das gramáticas de língua latina, Melià (2003) tratará o guarani como "língua reduzida e
cristã94", fazendo uma analogia ao modo como se reduziu a língua indígena a um modelo, na

los modos de decir del guaraní y los del latín o castellano, dará origen a una caracterización propia de la lengua
indígena, ya que ésta siempre coincide con el supuesto modelo." (MELIÀ, 2003, p. 170)
92
"un reproche que se ha hecho con frecuencia a las gramáticas de los misioneros es el de haber sometido el
sistema gramatical del guaraní a otro, lejano y extraño, el de la lengua latina, sin que hubiera habido previamente
un detenido examen de las características particulares que definían a la lengua guaraní en relación consigo
misma." (MELIÀ, 2003, p. 173)
93
Melià (2003, p. 181) cita ainda a gramática do padre jesuíta Francisco Legal, que não chegou a ser publicada.
Melià faz referência a duas obras do autor em suas bibliografia, são elas: LEGAL, F. > a VII: Breve Noticia;
LEGAL, F. > a XII: Correciones.
94
"El guaraní, lengua 'reducida' y cristiana" é um subtítulo da obra de Melià. (2003, p. 179)
109
tentativa de compreensão dos fenômenos linguísticos, a partir de esquemas já conhecidos da
língua latina, limitando a língua guarani às possibilidades existentes naquela. Uma língua,
então, reduzida, e, além disso, cristã, pois apresentava temas basicamente referentes à igreja,
por serem os primeiros gramáticos freis e padres que tinham como interesse fundamental o
ensinamento da fé cristã.

Outra questão que aparece fortemente no Paraguai é a formação das reduções como
formação social.

Chamamos reduções aos povos de índios que vivendo ao seu modo antigo em
montanhas, serras e vales, em rios escondidos, em três, quatro ou seis casas
sozinhas, separados a léguas, dois ou três, e uns mais que outros, os reduziu a
diligência dos padres a povoados grandes, e a vida política e humana, a
beneficiar algodão com que se vistam. 95 (MONTOYA apud MELIÀ, 2003, p.157.
Grifos nossos. Tradução nossa.)

Este gesto que reduziu os indígenas a "povoados grandes, e a vida política e humana"
foram uma imposição do modo de organização da vida em comunidade, desrespeitando o
funcionamento da estrutura da sociedade indígena paraguaia. De acordo com a análise de
Melià,

o projeto da redução é ao mesmo tempo um empreendimento religioso e uma


realização socio-cultural, que afetava de entrada a própria estrutura da nação
guarani. A redução significa o passo de uma vida um tanto dispersa em pequenos
grupos, como era praticada pelos guaranis, a uma vida estável e organizada em
concentrações maiores.96 (2003, p. 157. Grifos nossos. Tradução nossa.)

O sistema colonizador europeu se instalou no continente americano, trazendo, então,


uma língua, uma religião e um modo de organização social distintos dos que aqui já existiam.
Uma imposição completa que nega qualquer possibilidade de manutenção do sistema indígena
vigente, substituindo suas formas sagradas, sua ordem comunitária, suas línguas. Silencia-se,
num gesto simbólico, pela língua, todo o conhecimento do mundo indígena acerca do mundo

95
A obra citada por Melià, neste trecho: MONTOYA, Conquista, f 6r, 1989, p. 58. "Llamamos reducciones a los
pueblos de indios que viviendo a su antigua usanza en montes, sierras y valles, en escondidos arroyos, en tres,
cuatro o seis casas solas, separados a legua, dos tres, y más unos de otros, los redujo a diligencia de los padres a
poblaciones grandes, y a vida política y humana, a beneficiar algodón con que se vistan." (MONTOYA apud
MELIÀ, 2003, p.157)
96
"El proyecto de la reducción es a la vez una empresa religiosa y una realización sociocultural, que afectaba de
entrada la estructura misma de la nación guaraní. La reducción significa el paso de una vida un tanto dispersa en
pequeños grupos, como era practicada por los guaraníes, a una vida estable y organizada en concentraciones
mayores." (MELIÀ, 2003, p.157).
110
e das relações interpessoais anteriores à chegada do colonizador. Marcam este período uma
violência física e simbólica no corpo do índio, pela negação de sua língua, de sua fé e de sua
sociabilidade. A tensão, no entanto, sempre existe. As fronteiras do ideológico se marcam e se
mostram frágeis nos gestos simbólicos da própria religião, como apontamos anteriormente. O
batismo, sacramento que marca o início da vida religiosa na fé cristã, é realizado em língua
guarani. Abre-se espaço para o furo no modo como a catequese se constrói atrelada a um novo
modo de significar, na língua do outro. É desta tensão que se trata a colonização histórica e
linguística, em que não existe uma imposição sem resistência, sem um encontro das
diferenças que se colocam tanto na língua como no modo como ocupam o espaço os povos
americanos e os europeus. Esse encontro, marcado e significado pela língua, afeta os dois
imaginários de maneira desigual na relação de forças, por aqueles que detêm o poder da
escrita aliado ao poder bélico. No jogo de forças que se colocava nesta tensão entre os dois
imaginários, em que ficaram os textos dos europeus que diziam sobre os índios (ORLANDI,
2008 [1990]), os europeus eram significados/se significavam como superiores enquanto os
indígenas eram significados pela diferença, a partir de espectros de uma sociedade diferente
da sua.

Apesar de todas as questões apontadas como marcas no simbólico de uma colonização


opressora, a gramatização da língua guarani, mesmo que a partir do modelo latino, produziu
um espaço em que a língua guarani foi o modo de comunicação mais eficaz nestas colônias,
pela construção política de um lugar que servia ao conquistador. Essa tentativa de apreensão e
de aprendizagem do guarani promoveu a língua guarani como língua geral do Paraguai,
submetendo a elas outras línguas indígenas aí existentes, incluindo a própria língua espanhola.
Pela sistematização da língua indígena das reduções a partir do Concílio de Lima e do Sínodo
de Assunção, bem como pelo aparecimento dos primeiros instrumentos linguísticos
(AUROUX, 2009 [1992]) em língua guarani - a "Gramática de Alonso de Aragona" e a"Arte
de Antonio Ruiz de Montoya" - e ainda pelo pequeno número de hispano-falantes letrados na
colônia, também pela falta de interesse econômico, possibilitaram que a língua guarani fosse
ocupando determinados espaços na sociedade paraguaia daquele tempo.

O guarani jesuítico (MELIÀ, 2003), este guarani gramatizado para o ensino da


catequese, já não era mais o guarani dos indígenas que o falavam como língua materna, era já
outro sistema linguístico. O estudo e a apropriação da língua guarani pelos franciscanos e
jesuítas, a partir dos modelos das línguas latinas, sistematizou as línguas indígenas do

111
continente americano a partir do seu conhecimento de funcionamentos linguísticos diferentes,
tanto no que diz respeito à sintaxe, quanto à fonética e morfologia das palavras, como pela
própria representação do que deveria ser escrito/produzido como resultado do processo
catequético.

Com base nas noções de língua fluida e língua imaginária (ORLANDI e SOUZA,
1988), podemos afirmar que o gesto de escrita da língua já faz apreender uma outra língua,
uma sistematização de língua não-fluida, uma língua que é encaixotada à força para ser
ensinada. O guarani jesuítico foi, deste modo, uma tentativa de apreensão da língua a partir de
um modelo anterior, que já era uma tentativa de apreensão das línguas dos velho mundo. Uma
caixa dentro de outra caixa, um sistema formatado a partir de outro sistema, também
inventado das línguas latinas. O guarani jesuítico foi, então, uma língua imaginária
sistematizada a partir de um imaginário de língua.

3.2.2 O século XIX: da Independência à Guerra da Tríplice Aliança

Na seção anterior, discorremos sobre o período inicial de colonização e de instauração


das reduções jesuíticas como fundamental na organização dos novos modos de sociabilidade
no continente americano, além da importância dos catequistas da Igreja Católica - de ordem
franciscana ou jesuíta - na sistematização das línguas indígenas na/da América e,
especificamente, da língua guarani no Paraguai durante as reduções. Na seção que ora
apresentamos, passamos a outro período, considerado de extrema relevância, de acordo com o
discurso da história, ainda na tentativa de perseguir os sentidos para as línguas espanhola e
guarani no cenário atual paraguaio, sul-americano e mundial: o século XIX. Como, em parte,
já antecipamos, não trataremos da história paraguaia, século a século, mas pretendemos jogar
luz em determinados pontos do dizer da história oficial, que, discursivamente, teriam sido
fundamentais na constituição de sentidos sobre as línguas. Com este gesto de recorte na
História, estamos lançando mão do discurso da história (GÓMEZ, 2007; FLECHA, 2012) na
sua relação com a formação da imagem de uma identidade nacional paraguaia no que tange os
discursos sobre as línguas e sobre o sujeito em determinados períodos.

112
Pelos motivos aqui expostos, deixamos o período da colonização e das primeiras
incursões em terras paraguaias para chegar ao século XIX, entendendo que os discursos sobre
a Independência e sobre a Guerra da Tríplice Aliança direcionam sentidos na construção de
um certo imaginário de nação.

No dizer sobre a história do Paraguai do lugar do historiador, um primeiro fato


histórico que, teoricamente, faz romper os laços entre este período e o anterior seria a
expulsão dos jesuítas. Neste ponto, lembramos o estudo de Mariani (2004), que traz o
Diretório do Marquês de Pombal e a proibição do uso da língua geral no Brasil, o que fez
mudar significativamente os rumos para a colônia portuguesa na América Latina na sua
relação com as línguas.

No Paraguai, segundo o discurso da história, depois do crescente uso da língua guarani


nas missões jesuíticas e em todo o território paraguaio, a língua indígena passa a ser
significada como uma ameaça e, em 1767, durante o governo de Carlos III na Espanha, os
jesuítas são expulsos e inaugura-se uma nova configuração da sociedade paraguaia. Como
apresentado na seção anterior, os jesuítas foram importantes no processo de escrita e
reconhecimento da língua guarani do Paraguai colonial e sua expulsão se marca dentro de
uma discussão sobre o amplo uso desta língua, proporção pela qual eram questionados.

Com relação às questões econômicas, ainda no final do século XIX, o Paraguai, fazia
parte do Vice-reinado do Rio da Prata, que instituía um livre comércio entre os portos da
Espanha e das colônias (FLECHA, 2012). Do campo da história, Avelino (2005) afirma que o
Regulamento de Livre Comércio de 1778, instituído no governo de Carlos III, da dinastia dos
Bourbon, favorecia a entrada de produtos espanhóis no continente americano, bem como a
entrada de produtos provenientes da América na metrópole, pelo incentivo ao trânsito de
mercadorias com a abertura dos portos e pela redução dos impostos entre as colônias e a
Espanha e fazia parte de uma política ilustrativa do despotismo esclarecido. Os produtos
espanhóis que entravam com frequência pelo Vice-Reinado do Peru e, após a criação do Vice-
Reinado do Rio da Prata em 1776, passaram a ter Buenos Aires também como destino,
reduzindo o poderio da província andina. Neste panorama, saíam favorecidos, pela questão
geográfica, Montevidéu e Buenos Aires, por terem saídas para o rio e para o mar.
Posteriormente, o porto de Buenos Aires passou a concentrar maior parte do escoamento dos
produtos, por ser, de acordo com o discurso histórico, maior, o que o teria tornado mais
propício para a atividade. (ibidem, p. 14) O Paraguai, nesta época, tinha diversos produtos
113
agrícolas de exportação97, destacando-se o cultivo de erva mate, que teria sido responsável
pelo crescimento do comércio paraguaio. Neste cenário, "a fins do século XVIII, a província
do Paraguai ingressava com participação plena no crescente comércio interno do Vice-reinado
do Rio da Prata"98 (ibidem, p. 17-18. Tradução nossa.), ou seja, no início do século XIX, o
Paraguai se apresentava como uma província em desenvolvimento nas áreas de agricultura e
pecuária, com boas relações com os demais territórios do continente, apesar das dificuldades
geográficas no que diz respeito à saída para o mar, que lhe dificultava o comércio com a
metrópole.

Como afirmamos anteriormente, no discurso histórico sobre este período, aparece a


expulsão dos jesuítas, em 1767, como marco fundamental para as transformações no modo de
relação na província, também em uma relação intrínseca com o uso da língua guarani. A
expulsão dos jesuítas ocorreu em todo o território americano e um dos pontos assinalados
como fundamentais neste episódio foi a expansão das línguas gerais em diversas partes das
colônias. Falava-se e ensinava-se a catequese em língua guarani, o que passou a aparecer
como uma ameaça à metrópole, a ponto de haver a exigência de que os documentos
passassem a ser escritos em língua espanhola. Um funcionamento semelhante aconteceu com
a presença da Companhia de Jesus no Brasil, principalmente, nas capitanias de São Paulo,
Maranhão e Grão-Pará. Como aponta Mariani (2004, p. 101), "é assim irreversível o processo
de gramatização, utilização e expansão da língua geral" nestas capitanias. Ainda de acordo
com Mariani,

essa situação começa a se alterar no século XVIII. Ao longo deste século, além de a
força da língua geral começar a declinar na região sudeste do Brasil,
hostilidades contra os missionários sobretudo contra as práticas catequéticas
jesuíticas, se iniciam nas capitanias do Grão-Pará e Maranhão. Acirra-se, assim,
no século XVIII a tendência antijesuítica que havia se manifestado no século
anterior, quando foram expulsos de São Paulo (1661-1662) e do Maranhão (1684).
Em ambos os casos, o motivo central da expulsão é o domínio acentuado que os
jesuítas têm da população indígena e da legislação portuguesa a esse respeito. (2004,
p. 101. Grifos nossos.)

Como observa a autor, as causas da "tendência antijesuítica" a expansão da língua


geral nessas regiões, principalmente na capitania do Grão-Pará. Além da língua, a soberania

97
"Los principales productos de exportación que iban al sur eran la yerba mate, el tabaco, la madera y los dulces,
que desde 1780, crecieron en volumen.". (FLECHA, 2012, p. 15) De acordo com Flecha, quando se faz
referência a "dulces", neste período, trata-se, especificamente, da produção de mel.
98
"A fines del siglo XVIII, la provincia del Paraguay ingresaba con participación plena en el creciente comercio
interno del Virreinato del Río de la plata." (ibidem, p. 17-18)
114
dos jesuítas na relação com os indígenas foi um fator que teria sido fundamental para a ação
da coroa portuguesa pela proibição da língua geral no Brasil.

De acordo com o discurso da história, para conhecer a situação demográfica do


Paraguai, em 1799, o espanhol, governador intendente do Paraguai, Lázaro Ribera y Espinoza
de los Monteros, solicitou que se realizasse um censo que daria a conhecer a realidade
demográfica paraguaia, em que se percebia um aumento da população em quase todas as áreas
da província, com um número de 108.070 mil indivíduos, análise que não levava em
consideração para a contagem os índios monteses e a maioria da população da região do
Chaco99 (ibidem). Vale ressaltar que neste censo, não aparece a questão da língua diretamente,
ou seja, não se diz quantos habitantes falam tal ou qual língua, o que há é uma separação da
população que distingue os grupos entre indígenas e não indígenas. Ainda assim, mesmo que
no censo não se apontasse para a questão linguística, os discursos sobre a língua circulam e
produzem efeitos de sentido, ou seja, a ideologia da língua do conquistador se manifesta nos
diferentes textos que circulam naquela sociedade. De acordo com Lemogodeuc (2002), o
próprio governador espanhol Lázaro de Ribera se mostrava preocupado com a situação da
língua espanhola no Paraguai, por esta não ocupar o lugar de língua majoritária e, no fim do
século XVIII, "se queixava de que a língua do povo conquistado era a que havia sido
imposta"100 (LEMOGODEUC, 2002, p. 334. Tradução nossa.). Pela ideologia de um povo
conquistado e outro conquistador, a língua é simbolizada na contradição a partir do
imaginário do que seria a conquista. Conquista-se um povo e, como consequência, imagina-se
haver a imposição de uma língua, a língua dos que detêm o poder. Se pensamos no censo de
1799, a partir da construção de evidências que apagam determinados sentidos e na dispersão
dos discursos sobre o Paraguai, naquele momento histórico, pode-se afirmar que o guarani é a
língua mais falada na colônia. Entretanto, não perguntar ao povo que língua se fala na colônia
neste período histórico promove uma apagamento sobre a extensão do domínio da língua
guarani também pelo efeito de obviedade que circundavam os discursos sobre as línguas. Na
colônia paraguaia no fim do século XVIII, falava-se guarani.

Nos estudos sobre o censo e no que ficou marcado nos discursos sobre este período
final do século XVIII, com relação à distribuição demográfica, se diz sobre um crescimento

99
A região do Chaco, ao sul do Paraguai e norte da Argentina, conserva, ainda atualmente, diversos grupos
indígenas.
100
"el gobernador español Lázaro de Ribera se quejaba de que la lengua del pueblo conquistado era la que se
había impuesto." (LEMOGODEUC, 2002, p. 334)
115
populacional e econômico já bastante concentrado na região em torno a Assunção, fazendo
com que, cada vez mais, esta região se confirmasse como o centro de poder político,
econômico, comercial e cultural da província do Paraguai (FLECHA, 2012, p. 27). Os dizeres
sobre este período apontam também para a formação de uma elite cultural paraguaia,
proveniente de universidades do exterior. Alguns dos estudantes que haviam ido cursar
universidades no exterior estavam de volta no fim do século XVIII e dentre eles estaria,
inclusive, José Gaspar Rodríguez de Francia, que ficaria conhecido como Dr. Francia e
assumiria o governo da província do Paraguai após a independência, primeiro como Cônsul,
juntamente com Fulgencio Yegros, e, posteriormente, centralizando o poder como único
representante. (Ibidem, p. 33)

Retomando alguns pontos que ressaltamos nesta seção, a partir do discurso da história,
podemos depreender a produção histórica de certos sentidos sobre a conjuntura política e
econômica do Paraguai antes do período das independências das nações americanas: um
aumento da população da província, a conformação de uma elite cultural formada no exterior,
o crescimento econômico baseado na agricultura e na pecuária, associado ao comércio com os
espaços fronteiriços e certa dificuldade no acesso aos portos com saída para o mar. Se
consideramos os dizeres sobre o continente americano, a independência dos Estados Unidos,
ainda no final do século XVIII, marcou o início das diversas revoluções de independência que
se confirmariam no século seguinte. Também é preciso dizer que a independência do Paraguai
surge, num cenário político mundial, em que os ideais da Revolução Francesa 101 começam
apresentar-se como válidos em diversas conjunturas, em um processo histórico que ultrapassa
a questão nacional. Como afirma Plá,

o pensamento local rompe o círculo fechado dos interesses locais por um lado, da
fixação do dogmático por outro: inaugura a etapa crítica nas ideias, e penetra
ainda que timidamente no âmbito dos interesses universais, ao mesmo tempo
que amplia a visão das realizações próprias possíveis dentro do quadro da
realidade histórica.102 (1992, p. 93. Grifos nossos. Tradução nossa.)

101
Como trataremos em uma seção posterior, pode-se considerar a Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão, de 1789, um documento fundador para os discursos de independência das colônias
americanas.
102
"el pensamiento local rompe el círculo cerrado de los intereses locales por un lado, de la fijación de lo
dogmático por otro: inaugura la etapa crítica en las ideas, y penetra aunque tímidamente en el ámbito de los
intereses universales, a la vez que amplía la visión de las realizaciones propias posibles dentro del cuadro de la
realidad histórica." (PLA, 1992, p. 93)
116
A autora destaca o "quadro da realidade histórica" no cenário universal, que podemos
tratar, discursivamente, como condições de produção (PÊCHEUX & FUCHS, 1990 [1969])
em que se insere a independência do Paraguai. Não é, então, uma questão de um único país,
que tem uma iniciativa heroica de tornar-se independente, é a história fazendo ecos nos países
americanos, história como construção coletiva do político e da situação política universal, de
forma mais abrangente. A história que inscreve sentidos na França do século XVIII e que se
propaga, tanto pelas leituras por parte da nova elite paraguaia de autores como Rousseau
(PLÁ, 1992), como pela circulação dos ideais da revolução propriamente ditos.

Especialmente no Paraguai, a ideologia de um país independente da metrópole


inscreve sentidos que atravessam a relação entre a província do Paraguai e o Vice-Reinado de
Buenos Aires, que tentava se colocar na centralidade do poder na relação com as demais
províncias americanas (FLECHA, 2012). Buenos Aires centralizava o poder no continente e
buscava uma independência frente à Espanha, pelo apoio e submissão das demais províncias.
Contudo, pelos dizeres do discurso da história, a província do Paraguai teria se negado a
seguir as ordens advindas de Buenos Aires, impulsionando seu processo de independência da
coroa espanhola e do Vice-Reinado do Rio da Prata. Assim, como afirma o próprio Flecha,

Todas as tentativas diplomáticas, até este momento, como as ameaças da Junta de


Buenos Aires, fracassaram frente à insistência paraguaia de não se deixar avassalar
pelos portenhos. Os paraguaios não deixavam de declarar frente a todas as
pressões portenhas que não queriam mudar de correntes, de Espanha a Buenos
Aires.103 (ibidem, p. 44-45. Grifos nossos. Tradução nossa.)

O Vice-Reinado do Rio da Prata havia tentado impor a sua representação colocando


no lugar de rainha Carlota Joaquina, mas o Paraguai não teria aceitado a situação de
submissão ao Vice-Reinado. Com o fracasso das "tentativas diplomáticas", o Vice-Reinado do
Rio da Prata teria enviado a Manuel Belgrado todas as províncias, inclusive à do Paraguai,
para informar suas decisões de desvincular-se do reino espanhol e centralizar o poder. Tem
início, então, no Paraguai, um movimento de resistência ao que propunha o Vice-Reinado do
Rio da Prata e que gera um confronto entre seus habitantes e os do porto de Buenos Aires.

103
"Todas las tentativas diplomáticas, hasta este momento, como las amenazas de la Junta de Buenos Aires,
fracasaron ante la terquedad paraguaya de no dejarse avasallar por los porteños. Los paraguayos no dejaban de
declarar ante todas las presiones porteñas que no querían cambiar de cadenas, de España a Buenos Aires."
(FLECHA, 2012, p. 44-45)
117
Pelo Paraguai, destacam-se, no discurso da história, duas figuras: o tenente de Cavalaria
Fulgencio Yegros e o Governador de Assunção Bernardo Velasco (FLECHA, 2012).

Nos dizeres que se repetem sobre este período, se ressalta um Paraguai vitorioso
apesar de possuir menor força bélica e menos homens. Ainda assim, mesmo com a vitória, no
Paraguai, houve uma grande baixa com um alto número de mortes, além do prejuízo causado
por uma situação de guerra (FLECHA, 2012). De acordo com o discurso da história, a
resistência às incursões do Vice-Reinado na figura de Manuel Belgrado e aos demais embates
teriam sido um passo fundamental para a posterior independência da província paraguaia.

Analisando esses acontecimentos se pode definir, grosso modo, três correntes


políticas, de acordo com seu comportamento em relação ao debate da independência
da Espanha: os espanholistas, defensores do status quo e que se manifestam
como delatores dos diversos setores que faziam o complô. O setor unitário, que
desejava a emancipação da Espanha, mas propugnava a unidade com Buenos
Aires, e a patriota, que desejava a independência plena da província do
Paraguai e de todo poder alheio. 104 (FLECHA, 2012, p. 53. Grifos nossos.
Tradução nossa.)

Havia, então, segundo Flecha, três correntes políticas no Paraguai do fim do século
XVIII: os espanholistas, o setor unitário e a patriota. Pela defesa das posições destas três
correntes políticas, houve um período ainda bastante intenso de embates entre os agentes de
um e outro grupo, com diversos confrontos até que, por fim, em 1811, a corrente denominada
como "patriota" saiu vitoriosa, declarando a província do Paraguai independente dos governos
da Espanha e de Buenos Aires.

Em 20 de julho de 1811, a um mês do Congresso, a Junta Superior Governativa do


Paraguai enviou uma nota-correspondência em que expressava como resolvido no
Congresso referente à Confederação de Buenos Aires, em que a Província do
Paraguai se declarava independente do governo de Buenos Aires. A nota se
sustentava na teoria de Rousseau, do pacto social, em que o povo entregava seu
poder ao soberano e quando este poder se abolia regressava em propriedade do

104
"Analizando esos acontecimientos se puede definir, a groso modo, tres corrientes políticas, de acuerdo a su
comportamiento respecto al debate de la independencia de España: los españolistas, defensores del status quo y
que se manifiestan como delatores de los diversos sectores que estaban complotando. El sector unitario, que
deseaba la emancipación de España pero propugnaba la unidad con Buenos Aires, y la patriota, que deseaba la
independencia plena de la provincia del Paraguay y de todo poder extraño." (FLECHA, 2012, p. 53.)
118
povo, mas transformado no nível das nações. 105 (FLECHA, 2012, p. 63. Grifos
nossos. Tradução nossa.)

O processo de independência havia começado e os dizeres que aparecem nesta nota


como o poder do povo, numa tentativa de formação do nacional para o povo paraguaio, irá
aparecer na escrita do primeiro Regulamento de Governo, de 1813, em que se lê sobre o povo
"libre y soberano" (Art. 14. Regulamento de Governo, 1813).106 Estes dizeres que repetem os
sentidos para um povo que forma uma nação livre e soberana, comparece nas cartas que
regulamentam a existência da província até a atualidade.

Após a autodeclaração de independência paraguaia, o país ainda buscava se firmar no


cenário político e econômico do continente, precisando apostar em um aumento das relações
com os países de fronteiras. De acordo com os historiadores já citados, no final do século
XVIII, se fortalecia, neste momento, o nome do Dr. Francia107, que passava a assumir, no
primeiro regulamento, papel centralizador do poder nacional. Em princípio, seu governo, do
qual fazia parte Yegros108, teria durado cinco anos, com a previsão de uma convocação de um
novo governante pelo Congresso, que não aconteceu, pois se instaurou um período de
governo ditatorial. As medidas tomadas pelo Dr. Francia previam o investimento nas forças
armadas e um maior controle das fronteiras, resultando na diminuição das relações com os
países que circundavam o Paraguai, que passaram a significar ainda mais fortemente como
ameaças à soberania deste país.

Com relação à língua guarani, a ditadura do Dr. Francia assume posturas que podemos
interpretar como contraditórias. O Dr. Francia se colocava como um incentivador da língua
guarani, entretanto, durante o seu governo, centrou seus esforços no ensino fundamental,
promovendo uma espanholização do país a partir de suas políticas. De acordo com Gómez,

105
"El 20 de julio de 1811, a un mes del Congreso, la Junta Superior Gubernativa del Paraguay envió una nota-
correspondencia en la que expresaba resuelto en el Congreso referido a la Confederación de Buenos Aires, en
que la Provincia del Paraguay se declaraba independiente del gobierno de Buenos Aires. La nota se sustentaba en
la teoría de Rousseau, del pacto social, en que el pueblo entregaba su poder al soberano y cuando este poder se
abolía regresaba en propiedad del pueblo, pero transformado a nivel de las naciones." (FLECHA, 2012, p. 63.)
106
Dedicamos uma seção de análise, no capítulo 4, a todos as Cartas Magnas, desde o primeiro regulamento de
1813 até a atual constituição, promulgada em 1992.
107
José Gaspar Rodríguez de Francia.
108
Fulgencio Yegros, tenente de Cavalaria do Paraguai.
119
Rodríguez de Francia desenvolveu também o ensino primário (suficiente aos seus
olhos para satisfazer as necessidades imediatas do país), na medida em que a
população rural não podia evoluir sem instrução nem seguir nem apoiar o
movimento de modernização. Assim, se ensinava o guarani nas escolas o que
reforçou seu vigor, mas desgraçadamente não se fomentou o ensino
secundário.109 (2009 [2006], p. 66. Tradução nossa. Grifos nossos.)

O ensino da língua guarani, como aponta Gómez (2009 [2006]), ficou restrito aos anos
iniciais da educação, o que para o autor aparece como um problema. Para nós, a observação
realizada por Gómez aponta para uma política de estado na relação com os falantes e suas
línguas, ao que podemos afirmar que se constrói uma política de inclusão do falante de
guarani na sociedade paraguaia para que este conheça a língua espanhola e não um processo
de inclusão efetiva da língua indígena na escola. Este seria então um passo para a
espanholização do país e não para uma sociedade letrada em guarani. Sobre este processo,
Jiménez (2011, p. 166) nos lembra também da publicação das Instruções para professores de
escolas, publicadas durante o governo do Dr. Francia e que proibia o uso da língua guarani,
prevendo inclusive castigos físicos em público110.

Este cenário sofreu poucas mudanças em 1840, com a morte do ditador Dr. Francia, e
com o governo seguinte, representado por Carlos Antonio López. Neste período, de pequena
abertura política, se construiu um novo regulamento, firmado em 1844. Também é neste
momento que os discursos sobre a história paraguaia apontam para um crescimento
econômico, com a formação de uma elite, relacionada às mudanças ocorridas, principalmente
como resultado da reativação do porto de Assunção (ARECES, 2011 [2010] , p. 176). No que
tange as relações estabelecidas entre o Estado e as línguas, através de suas políticas, foi
durante o governo de López que se oficializou o ensino de língua espanhola no Paraguai, pela
construção de uma política ligada a uma "concepção positivista de progresso".

No âmbito cultural, principalmente, o país aderiu ao novo pensamento moderno: se


impregnou da ideologia ocidental, simples lógica se se considera que a concepção

109
"Rodríguez de Francia desarrolló asimismo la enseñanza primaria (suficiente a sus ojos para satisfacer las
necesidades inmediatas del país), en la medida en que la población rural no podía evolucionar sin instrucción ni
seguir ni apoyar el movimiento de modernización. Así, se enseñaba el guaraní en las escuelas, lo que reforzó su
vigor, pero desgraciadamente no se fomentó la enseñanza secundaria." (GÓMEZ, 2009 [2006], p. 66)
110
Jiménez (2011, p. 44) retoma os estudos de Velázquez (1981, p. 135) e Melià (1992, p. 166) para afirmar que
a publicação de Instrucciones para maestros de escuelas é um importante indício para compreender o processo
de castelhanização promovido pelo Estado paraguaio. Nestas instruções, se proibia o uso da língua guarani no
contexto escolar, que era punido com castigos físicos e psicológicos.
120
positivista do 'progresso', vetor da revolução industrial, constitui a verdadeira
expressão do pensamento único da época. Não podia ser traduzida na política sem
uma revolução intelectual que formou uma nova classe dirigente. Essa nova
revolução cultural conduziu em 1848 à oficialização do castelhano no ensino,
decretou a dissolução das comunidades indígenas, impôs o uso exclusivo dos
nomes cristãos e suprimiu o ensino do guarani nas escolas. 111 (GÓMEZ, 2009
[2006], p. 67-68. Grifos nossos. Tradução nossa.)

Como nos diz Gómez (2009 [2006]), as políticas do Estado paraguaio com relação aos
povos e à língua guarani se inscrevem numa conjuntura política mundial que assume uma
postura positivista que visa o progresso, ou seja, pelo discurso da necessidade de adequar-se
para progredir, não há espaço para o local, para as línguas locais e para o que é próprio das
comunidades indígenas paraguaias. A lógica da civilização e barbárie já colocada
historicamente ressoa no governo de López que assume, pelas decisões políticas, que é
preciso civilizar os indígenas e, para isso, é preciso tirar-lhes o que lhes atrasa, a sua língua.
Um passo fundamental nessa política de civilização, lembrando também uma discussão de
cidadania, consiste na mudança de nome. "O uso exclusivo de nomes cristãos" (ibidem, p. 67-
68), de nossa perspectiva, marca no corpo do sujeito, no que se diz sobre ele e sobre seu
nome/sua ascendência, a imposição da língua espanhola, como tratamos no capítulo 1.

Os dizeres que colocam a língua portuguesa e a língua espanhola no lugar da


civilização ecoam na atualidade quando se produzem políticas de línguas de promoção de
uma língua única em determinados espaços instituídos através de decisões político-
econômicas, com uma soberania da língua inglesa, significada como aquela que ocupa o lugar
dA língua mundial. Com relação à língua portuguesa, tomamos, como exemplo, a criação da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa112, em que a língua aparece como aquela capaz
de unificar e garantir as relações sociais, políticas e econômicas entre os povos. Na América,
pelos sentidos produzidos nestas disputas, a ideologia da comunicação entre os países
hispano-americanos produz um efeito de necessidade da manutenção da língua espanhola no
Paraguai, inclusive na atualidade.

111
"En el ámbito cultural, principalmente, el país se adhirió al nuevo pensamiento moderno: se impregnó de la
ideología occidental, sencilla lógica si se considera que la concepción positivista del 'progreso', vector de la
revolución industrial, constituye la verdadera expresión del pensamiento único de la época. No podía ser
traducida en la política sin una revolución intelectual que formó una nueva clase dirigente. Esa nueva revolución
cultural condujo en 1848 a la oficialización del castellano en la enseñanza, decretó la disolución de las
comunidades indígenas, impuso el uso exclusivo de los nombres cristianos y suprimió la enseñanza del guaraní
en las escuelas." (ARECES, 2011 [2010], p. 186.)
112
Cf. Branco, 2013.
121
Na escrita da história, referente ao governo seguinte, Francisco Solano López, filho de
Carlos Antonio López, é significado como herdeiro de um Paraguai mais produtivo, que
apresentava algumas mudanças no modo de governar, pela reabertura das fronteiras e pelo
escoamento dos produtos paraguaios pelos rios Paraguai e Paraná, resultando em um visível
crescimento econômico do país. De acordo com Areces, "Solano López herdou um país com
uma crescente produtividade, segundo a estatística de 1863" 113 (2011 [2010], p. 187.
Tradução nossa). Todos estes discursos sobre o crescimento do país veiculam sentidos que
valorizam o trabalho do povo, a retomada dos modos de cultivo baseados nos conhecimentos
indígenas sobre a terra e na figura de herói da pátria construída em torno a Solano López.

A 'regeneração política' estava encabeçada por Solano López, quem se propôs a


manter e a alimentar uma relação "mágica" de identificação com a maioria do
povo transmitindo a imagem de "Herói defensor da Pátria", depositário de
todas as suas esperanças.Entretanto, para seus detratores os passos para aceder ao
poder que lhe seguiram o transformaram em um tirano, um sultão ou um imperador,
enquanto outro importante setor da população e do espectro político mostrou adesão
a seus princípios de governo e aceitou sua forma de fazer política." 114 (ibidem, p.
186. Aspas do autor. Grifos nossos. Tradução nossa.)

Construiu-se, de acordo com Areces, uma imagem de "defensor da pátria" para Solano
López, mas o governante teria tomado medidas de extremo autoritarismo, tendo apoiado seu
governo nos poderes das Forças Armadas do país. Assim, giravam em torno da imagem do
governante os dizeres sobre um herói e sobre um ditador, em contradição com suas ações que
entre a abertura nas relações políticas e econômicas com os demais países da América Latina
e o uso do poderio militar dentro do país (ibidem). De todos os modos, durante os governos
dos López, quando comparados à ditadura do Dr. Francia, os discursos sobre o Paraguai se
projetam pelo imaginário de um país mais produtivo, crescente economicamente e de relações
mais abertas com os países fronteiriços.

113
"Solano López heredó un país con una creciente productividad, según la estadística agrícola de 1863."
(ARECES, 2011 [2010], p. 187.)
114
"La 'regeneración política' estaba encabezada por Solano López, quien se propuso mantener y alimentar una
relación 'mágica' de identificación con la mayoría del pueblo transmitiendo la imagen de 'Héroe defensor de la
Patria', depositario de todas sus esperanzas. Sin embargo, para sus detractores los pasos para acceder al poder y
las acciones que le siguieron lo erigieron en un tirano, un sultán o un emperador, mientras que otro importante
sector de la población y del espectro político mostró adhesión a sus principios de gobierno y aceptó su forma de
hacer política." (ibidem, p. 186.)
122
Seguida a esta suposta melhoria no cenário econômico paraguaio, em 1864, instaura-
se a Guerra Grande115, também conhecida como a Guerra da Tríplice Aliança, que carrega,
historicamente, desde o século XIX até a atualidade, os sentidos para o suposto fracasso
paraguaio:

A guerra do Paraguai contra a Tríplice Aliança foi única no cenário latino-


americano por sua duração, pelo número de vítimas e por suas consequências.
Se levamos em consideração a desproporção entre os problemas regionais que
constituíram seus antecedentes e seu desfecho, bem poderia concluir-se que foi, no
sentido figurado, "um sangrento monumento à ignorância e ao mal-entendido. 116
(BREZZO, 2011 [2010], p. 200. Grifos nossos. Tradução nossa.)

Segundo Flecha (2012, p. 120), foi feito, por parte dos países opositores ao Paraguai,
um tratado secreto, a Tríplice Aliança, que definia que "A Argentina e o Brasil imporiam os
limites que acreditavam ser necessários ao Paraguai, além dos custos da guerra que correria
[sic] por parte do Paraguai".117 Era, então, inicialmente, uma questão de demarcação territorial
em prol dos países envolvidos, que também estabelecia um bloqueio fluvial ao Paraguai.

A guerra se iniciou em dezembro de 1864 e terminou em 1º de março de 1870 com a


morte em batalha de Solano López, presidente da República do Paraguai e
comandante do seu Exército. Nos 38 meses que durou a contenda, muito mais da
metade desse tempo não foi mais que uma luta de sobrevivência heroica. Mais de
um século depois, a memória coletiva se refere à guerra como se houvesse sido
ontem. O Paraguai ficou petrificado nessa experiência coletiva atroz. 118 (ibidem,
p. 118. Tradução nossa. Grifos nossos.)

O que ressalta Flecha (ibidem, p. 118) a respeito desta "petrificação da experiência


coletiva" aponta para o que, discursivamente, funciona como a construção de uma memória
sobre o nacional, que direciona os sentidos sobre o povo e sobre os modos de compreensão do

115
Segundo Areces, "la Guerra de la Triple Alianza, también llamada por los paraguayos 'Guerra Grande', por los
brasileños 'Guerra do Paraguai' y por los uruguayos y argentinos 'Guerra del Paraguay', fue el conflicto bélico en
el cual una coalición, conformada por Brasil, Uruguay y Argentina, se enfrentó militarmente contra Paraguay. El
origen inmediato de la contienda se encuentra en 1863, cuando fue derrocado el gobierno blanco de Uruguay, de
tendencia federal y único aliado del Paraguay en la región." (2011 [2010]), p. 189).
116
"La guerra del Paraguay contra la Triple Alianza fue única en el escenario latinoamericano por su duración, el
número de víctimas y sus consecuencias. Si tenemos en cuenta la desproporción entre los problemas regionales
que constituyeron sus antecedentes y su desenlace, bien podría concluirse que fue, en sentido figurado, "un
sangriento monumento a la ignorancia y al malentendido." (BREZZO, 2011 [2010], p. 200.)
117
"la Argentina y el Brasil impondrían los límites que creían necesarios al Paraguay, además de los costos de la
guerra que correría por parte del Paraguay." (FLECHA, 2012, p. 120),
118
"La guerra se inició en diciembre de 1864 y terminó el 1º de marzo de 1870 con la muerte en batalla de
Solano López, presidente de la República del Paraguay y comandante de su Ejército. En los 38 meses que duró
la contienda, mucho más de la mitad de ese tiempo no fue más que una lucha de supervivencia heroica. Más de
un siglo después, la memoria colectiva se refiere a la guerra como si hubiera sido ayer. El Paraguay quedó
petrificado en esa experiencia colectiva atroz." (ibidem, p. 118.)
123
coletivo, inscrevendo os dizeres atuais numa rede que enlaça e que faz rememorar a guerra na
atualidade, organizando semanticamente a história do país na sua vinculação com um
passado, pela garantia discursiva de uma narratividade (MARIANI, 1998), que faz dizer do
atraso econômico e cultural pela impossibilidade política de novos rumos para o país. As
condições materiais de existência referentes às escolhas políticas e econômicas do país, depois
de mais de um século de história nacional, são apagadas nos dizeres que circulam sobre a
situação do país no pós-guerra e deixam de dizer das medidas que não foram tomadas desde
então.

O que queremos afirmar é que os sentidos dessa "destruição" parecem tornar da ordem
do impossível dizer do Paraguai de outro modo, senão como um país preso ao passado, sem
outro futuro possível que não o atual. Não se pode negar que, efetivamente, em números, o
Paraguai foi dizimado. Nos registros sobre a guerra, consta que também lutaram, nas frentes
de batalha, crianças, mulheres e anciãos (FLECHA, 2012, p. 118), não eram soldados, era
toda a sociedade civil contra os aliados119.

Os estudos sobre a situação do país no pós-guerra com frequência trazem os números


espantosos que foram registrados durante a Guerra do Paraguai. A população foi reduzida a
aproximadamente 1/3 (um terço) e dos homens120, que iam em maior número para as batalhas,
como podemos ler neste trecho:

Das aproximadamente 300.000 vítimas, grande parte faleceu em combate, como


o prova a altíssima diminuição da população masculina. O resto morreu por
causa de crimes, penúrias e, sobretudo, doenças, fome e esgotamento, tendo em
conta que o país sofreu um colapso produtivo durante os longos anos da guerra,
precisamente por falta de mão de obra masculina para realizar os trabalhos
intensivos das granjas, que obrigou às mulheres a efetuar todo tipo de atividades. 121
(ARECES, 2011 [2010], p. 193. Tradução nossa. Grifos nossos.)

Após a guerra, como apontado por Areces (ibidem), pouco a pouco, o Paraguai foi
aumentando sua população e foi reorganizando a produção do país, com o aumento do
trabalho feminino, inclusive. Entretanto, a Grande Guerra é significada no discurso histórico
119
Referimo-nos aos países da Tríplice Aliança.
120
Em seu texto, Flecha (2012, p. 145-146) afirma que aproximadamente 80% da população masculina foi morta
durante as batalhas.
121
"De las aproximadamente 300.000 víctimas, gran parte falleció en combate, como lo prueba la altísima
disminución de la población masculina. El resto murió a causa de crímenes, penurias y, sobre todo,
enfermedades, hambre y agotamiento, teniendo en cuenta que el país sufrió un colapso productivo durante los
largos años de la guerra, precisamente por falta de mano de obra masculina para realizar los trabajos intensivos
de las chacras, que obligó a las mujeres a efectuar todo tipo de actividades." (ARECES, 2011 [2010], p. 193.)

124
como causa da miséria no país e de sua falta de desenvolvimento. Interessa-nos, nestes
dizeres, apontar, para além dos números, como, discursivamente, a imagem daquele território
vai se construindo como uma nação destruída a partir de sentidos fortemente marcados pelos
números da guerra. Flecha (2012) chega a afirmar que é nesta conformação histórica que o
Estado que se forjou durante a Independência passará a agregar um sentido de "pertencimento
nacional", ou seja, pelo reconhecimento dos pares em oposição aos vizinhos que passam a
significar mais fortemente como ameaça.

O Estado emergido com a Revolução da Independência condensará o sentido de


pertencimento nacional dos paraguaios, cuja visão foi se conformando, como
vimos, desde a sociedade mestiça colonial. Ou seja, a atmosfera do 'nacional'
tomou uma ideologia que havia reforçado justamente esse pertencimento a uma
comunidade civil, frente à permanente ameaça anexionista dos seus vizinhos
maiores.122 (ibidem, p. 129. Tradução nossa. Grifos nossos.)

É interessante pensar no que afirma o autor sobre o "sentido de pertencimento nacional


dos paraguaios", por se inscrever em um dizer sobre o nacional que tem a ver com o
sentimento do sujeito na relação com determinado grupo. Nesta afirmação, aparecem os
sentidos presentes na definição de nação formulada por Renan (1997). Colocar o nacional
como "sentido de pertença" direciona para o lugar do sujeito no estado nacional, por sua
identificação ou pela negação de sua pátria e sua língua123.

Na relação com a língua guarani, a Guerra da Tríplice Aliança também deixou marcas
fundamentais na conformação da nação.

Seja como for, no governo de Francisco Solano López (1862-1870), que sucedeu ao
seu pai, a política linguística não haveria mudado, se não houvesse acontecido o fato
histórico (a "Guerra Grande"), que promoveu a língua guarani a símbolo e causa
da identidade nacional. Em um momento em que o povo necessitava sentir-se
unido contra um inimigo, se transformou em causa comum em torno à língua
guarani. Aqui não são os dados relativos à escola que provam a mudança de atitude,
mas o jornalismo de campanha como reflexo da comunicação real no seio do

122
"El Estado emergido con la Revolución de la Independencia condensará el sentido de pertenencia nacional de
los paraguayos, cuya visión se fue conformando, como hemos visto, desde la mestiza sociedad colonial. Es decir,
la atmósfera de lo 'nacional' tomó una ideología que reforzara justamente esa pertenencia a una comunidad civil,
frente a la permanente amenaza anexionista de sus vecinos mayores." (FLECHA, 2012, p. 129.)
123
A não-identificação com a nação ou com a pátria possibilita que os sujeitos sejam identificados como
traidores. Não identificar-se com sua nação é, discursivamente, tratado como uma traição, não somente ao
Estado, mas a todo o grupo que com ele se identifica. Em nossa análise do discurso cubano sobre a deserção,
tratamos dos sentidos atribuídos aos "desertores": os não identificados, que são significados como "traidores" e
"vende-pátrias", por exemplo. (Cf. COLAÇA, 2010)
125
exército e em relação com a nação.124 (GÓMEZ, 2007, p. 162-163. Tradução nossa.
Grifos nossos.)

De acordo com Gómez, a língua guarani passa a figurar como "símbolo e causa da
identidade nacional", tomando uma proporção durante a guerra, não só pelo uso que fazia
Solano López da língua guarani junto a suas tropas, mas também porque o mesmo governante
- e comandante - teria feito circular a língua guarani entre as tropas e o povo pelo "jornalismo
de campanha".

O guarani era largamente falado pela população paraguaia, incluindo os soldados, ou


seja, manter o guarani era uma necessidade imposta pelas próprias condições de produção em
que estão inseridos os falantes. Como afirma Flecha, o guarani era a língua da maioria da
população:

Durante a guerra da Tríplice Aliança, se pode dizer que houve uma estruturação da
identidade paraguaia ao realizar-se o 'encontro' dos povoadores das vilas,
cidades, povoados no exército. (...) Se falava principalmente o guarani, o jopará
e, em menor medida, o espanhol. 125 (FLECHA, 2012, p. 145. Grifos nossos.
Tradução nossa.).

O discurso da história coloca a língua guarani neste lugar, de língua majoritária,


afirmando que era falada "nas vilas, cidades, povoados no exército". Além disso, no governo
de Solano López, durante a Guerra Grande, circulavam, nos acampamentos, textos em
guarani, canções do repertório popular e informações em guarani (GÓMEZ, 2007). Imprimiu-
se também, pela primeira vez, prosa e poesia em língua guarani, que, para Gómez, foi um
legado do governo de Solano López, pelo incentivo à difusão literatura escrita em língua
guarani. (ibidem, p. 165).

A análise que faz Gómez (ibidem), inscrita nos estudos da sociolinguística, o leva a
afirmar que, por esta nova função, a língua passa a manifestar-se como "útil e adequada para

124
"Sea como fuere, en el gobierno de Francisco Solano López (1862-1870), que sucedió a su padre, la política
lingüística no hubiera cambiado, si no se hubiera dado pues el hecho histórico (la "Guerra Grande"), que levantó
la lengua guaraní a símbolo y causa de la identidad nacional. En un momento en que el pueblo necesitaba
sentirse unido contra un enemigo, hizo causa común en torno a la lengua guaraní. Aquí no son los datos relativos
a la escuela que dan prueba del cambio de actitud, sino el periodismo de campaña como reflejo de la
comunicación real en el seno del ejército y en relación con la nación." (GÓMEZ, 2007, p. 162-163.)
125
"Durante la guerra de la Triple Alianza, se puede decir que hubo una estructuración de la identidad paraguaya
al realizarse el "encuentro" de los pobladores de villas, ciudades, poblados en el ejército. (...) Se hablaba
principalmente el guaraní, el jopará y, en menor medida, el español." (FLECHA, 2012, p. 145)
126
as necessidades de um povo" 126 (ibidem, p. 164. Tradução nossa). Em termos discursivos,
podemos dizer que, neste momento histórico, o guarani passa a ocupar outro lugar,
significando como língua da resistência, da unidade da nação e de uma suposta identidade
nacional. Entretanto, tomando os estudos de Rodríguez Zucolillo (2000), Melià (2003) e
Gomez (2009 [2006]), podemos afirmar que o amplo uso da língua guarani na província,
naquele momento histórico, não responde somente a uma questão do interesse de Solano
López, como governante, em incentivá-la.

Com relação a este uso da língua significada em sua relação com um governante e um
governo, lembramos Barthes (1977) quando afirma que a língua é a expressão obrigatória do
poder. Ao que acrescenta:

a língua, como desempenho de toda linguagem, não é nem reacionária, nem


progressista; ela é simplesmente: fascista; pois o fascismo não é impedir de
dizer, é obrigar a dizer.Assim que ela é proferida, mesmo que na intimidade
mais profunda do sujeito,a língua entra a serviço de um poder. (BARTHES,
1977, p. 7. Grifos nossos)

Considerando a afirmação de Barthes (1977), cabe-nos dizer que a questão


fundamental não está no impedimento do dizer, mas no próprio uso do dizer na língua "a
serviço de um poder". Tomando esta direção, é possível afirmar que, no Paraguai de Solano
López, o fascismo se reveste de quatro faces, pela imagem de uma língua guarani a serviço da
nação e de um herói nacional:

1. A língua guarani como instrumento de guerra;

2. A língua guarani como símbolo da identidade de um povo;

3. A língua guarani em defesa da nação; e, por fim,

4. O governante como incentivador da língua, defensor do povo e mantenedor da nação.

Neste jogo de sentidos sobre a língua consiste o fascismo da língua guarani em favor
do poder de Solano López. O guarani é significado não pelo modo como funciona no real - os
soldados não falavam outra língua e, por isso, falavam majoritariamente o guarani - mas pela
construção imaginária de um reconhecimento do nacional pela figura de um herói, que estaria
preocupado com seus soldados, com o povo e com a defesa da nação.

126
"útil y adecuada para las necesidades de un pueblo." (GÓMEZ, 2007, p. 164)
127
O fim da Guerra da Tríplice Aliança ocorreu com a morte de Francisco Solano López,
nos campos de batalha, em 1870, e com isso o Paraguai perdeu parte de seu território que foi
demarcado e passou a fazer parte do Brasil e da Argentina. Também neste ano de 1870, a
Assembleia Nacional Constituinte, dá início a seções que, posteriormente, promulgarão a
nova Constituição do país.

A Assembleia Nacional Constituinte iniciou suas sessões em 15 de agosto de 1870,


sendo maioria nela o setor composto pelos exilados e opositores ao regime anterior.
Eles deram, diferente da Constituição anterior de corte autoritário, um selo
absolutamente liberal à nova Carta Magna. Esta foi promulgada em 25 de
novembro de 1870. (...) Estabeleceu-se a responsabilidade de autoridades e estas
podiam ser julgadas . O Estado ficou organizado com poderes em perfeito
equilíbrio 127 (FLECHA, 2012, p. 137-138. Grifos nossos. Tradução nossa).

Este é um momento, de acordo com Flecha (ibidem), de uma mudança na Constituição


nacional, que tinha um teor autoritário e passou a inscrever-se como liberal, com destaque à
criação dos três poderes. Segundo o autor, a divisão dos poderes em Executivo, Legislativo e
Judiciário, que passam a dividir as funções antes atribuídas a um único governante, funcionam
como modelo de uma política mais liberal, pela descentralização do governo da figura de um
presidente. Para Flecha (ibidem, p. 137-138), o "Estado ficou organizado com poderes em
perfeito equilíbrio" e este é modelo que vigora atualmente no sistema de governo paraguaio.

O século XIX, como tentamos abordar nesta seção, marcou fundamentalmente as


questões nacionais, tanto na relação com a conformação de um território nacional pela
Independência, como pela assunção dos dizeres sobre a língua guarani como símbolo da
identidade nacional durante a guerra. Como fomos vendo nesta seção, os discursos sobre a
história do Paraguai constroem imaginariamente a figura de um herói para Solano López pelo
suposto incentivo que este teria dado à língua guarani durante a guerra; entretanto, como
insistimos em afirmar, a língua guarani era predominante no Paraguai no início do século
XIX. Ou seja, não era exatamente uma política de López pró-guarani que estava em jogo
neste momento da história paraguaia, mas a realidade linguística do país, que tinha um grande
número de falantes de guarani, principalmente entre os soldados. Solano López era branco,

127
"La Asamblea Nacional Constituyente inició sus sesiones el 15 de agosto de 1870, siendo mayoría en ella el
sector compuesto por los exiliados y opositores al régimen anterior. Ellos dieron, a diferencia de la anterior
Constitución de corte autoritario, un sello absolutamente liberal a la nueva Carta Magna. Esta se promulgó el 25
de noviembre de 1870. (...) Se estableció la responsabilidad de las autoridades y podían éstas ser juzgadas. El
Estado quedó organizado con poderes en perfecto equilibrio." (FLECHA, 2012, p. 137-138.)

128
filho de Carlos Antonio López, descendente de uma família de pai espanhol e mãe de família
tradicional paraguaia. Entre soldados e comandantes a relação de forças entre as línguas
também estava posta, já que os primeiros majoritariamente falavam em guarani. Por isso,
Gómez afirma: "também há que ter em conta que dado o baixo grau de castelhanização, não é
tão surpreendente que o Marechal López haja pronunciado as apaixonadas arengas que dirigia
a seus soldados em guarani."128 (2009 [2006], p. 71. Tradução nossa. Grifos nossos.)

O que importa ressaltar, no que tange a reescritura do discurso da história paraguaia


sobre si acerca deste século, são os sentidos que circulam sobre o Paraguai como uma
província que precisou lutar de muitos modos, pela sua expansão comercial para além de suas
fronteiras, pela independência da metrópole e do Vice-reinado de Buenos Aires e contra a
incursão dos países vizinhos durante a Guerra Grande. Nos discursos sobre a província, língua
e sujeito se vinculam pela resistência contra ameaças constantes à soberania do Paraguai.
Pelo discurso da língua como símbolo da resistência durante a Grande Guerra, o
guarani começa a figurar como tipicamente nacional na relação com as demais línguas, as
estrangeiras, que precisam ser combatidas, bem como os países que as sustentam.

Neste ponto, lembramos o trabalho de Mariani sobre Moçambique129 em que a autora


aborda o discurso político sobre as línguas no país pelas discussões estabelecidas pela Frente
de Libertação de Moçambique no reconhecimento das "línguas tribais" como expressão da
"moçambicanidade".

Aí se encontra, para Firmino e outros intelectuais, uma forte contradição no discurso


político moçambicano oficial: de um lado, as línguas tribais eram consideradas a
expressão da moçambicanidade, objetos simbólicos da identidade nacional, mas
nada se fazia no sentido de colocá-las em um patamar de prestígio semelhante
ao do português; de outro, o português que era a língua oficial da unidade
nacional, não era uma língua que funcionasse de fato como objeto simbólico da
nação. (MARIANI, 2011b, p. 122. Grifos nossos.)

Como afirma a autora 130 , a contradição se inscreve pelos sentidos postos para as
línguas tribais, significadas como "expressão da moçambicanidade" e a língua portuguesa,

128
"También hay que tener en cuenta que dado el bajo grado de castellanización, no es tan sorprendente que el
Mariscal López haya pronunciado las apasionadas arengas que dirigía a sus soldados en guaraní." (GÓMEZ,
2009 [2006], p. 71)
129
Cf. Mariani, 2011b: "Língua, colonização e revolução: discurso político sobre as línguas em Moçambique."
130
Mariani toma, como ponto de partida, os estudos de Firmino (2006) para tratar da contradição nas políticas de
línguas do Estado moçambicano.
129
que ocupa o lugar de língua oficial capaz de garantir uma unidade nacional, sem assumir a
função de objeto simbólico do sentimento nacional.

De modo semelhante, guardadas as especificidades, no Paraguai, para a língua guarani


se constrói, imaginariamente, pela ideologia de uma língua símbolo da identidade nacional,
um lugar de conjunção do sentimento paraguaio. A língua guarani guarda sentidos da
identidade, do sentimento, da terra e das tradições do país, sem que, entretanto, isso signifique
uma elevação no seu estatuto para língua de prestígio no espaço político, cultural, social e
educacional paraguaio.

O político inscrito nas práticas de linguagem, como sinaliza Guimarães (2005) produz
uma divisão do real, na contradição que faz incluir, imaginariamente, os desiguais sem,
portanto incluí-los. "Uma redivisão pela qual os desiguais afirmam seu pertencimento" que
permite incluir as línguas tribais, no caso de Moçambique, e a língua guarani no Paraguai,
pela representação do sentimento nacional que não garante a igualdade (impossível) entre as
línguas, por carregarem as marcas dos processos históricos pelos quais foram atravessadas.
(MARIANI, 2011b)

Discursivamente, estamos diante de imagens de heroísmo e resistência com relação à


língua e ao povo guarani, diante da imagem de uma nação com relação ao Paraguai. É preciso
ressaltar que não estamos afirmando que, neste momento, se conforma a nação paraguaia, mas
que os discursos sobre o Paraguai, durante o século XIX, enfatizam os sentidos de identidade
nacional, abrindo para uma novo modo de significar este espaço como estado nacional
paraguaio.

Por fim, nos interessa compreender como os discursos sobre a importância da língua
guarani no governo de Solano López e, principalmente, durante a Guerra da Tríplice Aliança,
direcionam os sentidos para a língua nacional, que permanecem hoje ecoando nas políticas
linguísticas para o guarani na atualidade, como traremos nas análises dos projetos
implementados pela Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, no capítulo 5.

130
3.2.3 Strossner: nacionalismo e identidade nacional

Como vimos tratando neste capítulo, trazemos o discurso da história sobre alguns
momentos que apresentamos como fundamentais na construção do imaginário da nação
paraguaia. Após tratarmos algumas questões sobre a colonização, a Independência e a Guerra
da Tríplice Aliança, nosso percurso de leitura nos leva a considerar o discurso histórico sobre
o governo de Alfredo Stroessner Matiauda, "também conhecido como 'El rubio', 'Mburuvicha'
e o 'Segundo Reconstructor'131 (NICKSON, 2011 [2010], p. 265), para compor nosso trabalho,
por compreender que o imaginário de nação vinha se conformando e se fortalecendo neste
período inicial do século XX.

O período do governo stronista teve início em 1954 e terminou em 1989, com a queda
do General Stroessner causada por inquietações dentro do partido que compunha, o Partido
Colorado. Pela escrita do discurso da história, houve diversos momentos em que a soberania
do ditador teria sido questionada, sem, entretanto, resultar numa mudança nos seus desígnios
(ibidem). Ainda nesse período, como discursivizado pela historiador, o governo de Stroessner
enfrentou diversas guerras civis e dominou os insurgentes sempre com o apoio das Forças
Armadas.

Incentivados pelo sucesso da revolução cubana de 1959 e a divisão dentro do


Partido Colorado, nasceram esporádicos movimentos guerrilheiros na Argentina,
como os dissidentes liberais pertencentes ao Movimento 14 de Maio e os comunistas
agrupados na Frente Unida de Libertação Nacional (FULNA). Entretanto, as
forças contra-insurgência das Forças Armadas os destruíram a meados da
década de 60."132 (ibidem, p. 268. Grifos nossos. Tradução nossa.)

De acordo com o discurso histórico sobre este período, as Forças Armadas aparecem
como peça fundamental para a manutenção do Estado ditatorial. Isso porque, além das ideias
revolucionárias incentivadas pela revolução cubana, a situação econômica dentro do país
tampouco seria satisfatória. Nos dizeres do discurso da história, se relata um país estagnado
economicamente, principalmente, por não ter sido feita uma reforma agrária necessária e,
tampouco, haver investimentos na indústria nacional. Este, nos enunciados formulados no
discurso histórico, teria sido o cenário até o fim da década de 60. Nos estudos discursivos,
131
Preferimos não traduzir os apelidos com o objetivo de manter a alternativa do nome em língua indígena.
132
"Animados por el éxito de la revolución cubana de 1959 y la división dentro del Partido Colorado, nacieron
esporádicos movimientos guerrilleros en Argentina, como los disidentes liberales pertenecientes al Movimiento
14 de Mayo y los comunistas agrupados en el Frente Unido de Liberación Nacional (FULNA). Sin embargo, las
fuerzas contrainsurgencia de las Fuerzas Armadas los destruyeron para mediados de la década de 60."
(NICKSON, 2011 [2010]), p. 268.)
131
mobilizamos a noção de narratividade, desenvolvida por Mariani (1998), pela qual
compreendemos que o contar da história produz o efeito de um mundo semanticamente
estabilizado (PÊCHEUX, 1988 [1975]). O discurso histórico sobre o Paraguai reproduz a
imagem de um país estagnado economicamente, o que faz laço com os discursos sobre o
século anterior. Neste recontar dos fatos históricos, se apagam as decisões políticas e são
silenciadas as disputas na economia do país. A narratividade engendra um modo de enunciar
um Paraguai preso ao passado, produzindo com coerência uma história de fracasso.

Um fato histórico narrado, contado e recontado, e que compõe o discurso histórico


como motivo do crescimento paraguaio foi a construção do complexo hidrelétrico de Itaipu,
promovido pelo Brasil. A obra da hidrelétrica de Itaipu teve como consequência um
desflorestamento e a mudança na agricultura dos produtos a serem comercializados, com
aumento da produção e exportação de algodão e soja. (NICKSON, 2011 [2010]). A esse
respeito, observa o próprio Nickson

Quando o grosso da empresa de Itaipu terminou, em 1981, o boom econômico


chegou a um final abrupto. Este fato coincidiu com uma redução do preço
internacional da soja e do algodão, o que derivou em anos de estancamento
econômico. Enfrentando a uma deterioração na balança de pagamentos, a taxa de
cambio (126 guaranis por cada dólar) foi abandonada em julho de 1982. Essa taxa
tinha se mantido sem variação desde 1960 e chegou a simbolizar a política de
estabilidade monetária que, de acordo com a retórica do regime, sustentava a
estabilidade econômica para a "Paz e Progresso" que trouxe ao Paraguai.133
(ibidem, p. 271. Grifos nossos. Tradução nossa.)

O discurso da história retoma um dos pontos tomados como propaganda para o


governo militar de Stroessner, a "estabilidade econômica", inicialmente, camuflada em
números do governo e, posteriormente, real com a construção de Itaipu em territórios
brasileiro e paraguaio.

Pelos dizeres da história, a suposta estabilidade alcançada pelo Paraguai com a


hidrelétrica e com a exportação de algodão e soja teria chegado ao fim em 1981, com o
término da construção do empreendimento. Segundo Nickson (ibidem), durante a década de

133
"Cuando el grueso de la empresa de Itaipú se terminó, en 1981, el boom económico llegó a un abrupto final.
Este hecho coincidió con una reducción del precio internacional de la soja y del algodón, lo que derivó en años
de estancamiento económico. Enfrentando a un deterioro en la balanza de pagos, la tasa de cambio (126
guaraníes por cada dólar) fue abandonada en julio de 1982. Esa tasa se había mantenido sin variación desde
1960 y llegó a simbolizar la política de estabilidad monetaria que, de acuerdo con la retórica del régimen, daba
sustento a la estabilidad económica para la "Paz y Progreso" que trajo al Paraguay." (NICKSON, 2011 [2010], p.
271.)
132
sessenta, com o apoio da Igreja Católica, surgiu um grupo campesino independente, as Ligas
Agrárias Cristãs (LAC), que se colocava contra o sistema desigual de distribuição de terra.
Em 1976, a LAC se uniu à Organização Primeiro de Março (OPM), um grupo criado por
estudantes radicados no Chile. A repressão violenta do governo com torturas e assassinatos
foi o método utilizado para eliminar os divergentes. Ainda durante o governo de Stroessner,
empresas agroindustriais desalojaram campesinos e comunidades indígenas, o que resultou
num movimento campesino, que teve representação também na unidade guaranítica do
próprio partido governista, o Partido Colorado. O enunciado "paz e progresso", significado
pelo controle das insurgências populares e pelo crescimento do país desde a década de 60,
cujos sentidos pareciam estabilizados pelos dizeres da ditadura, passa a mostrar suas
contradições, que incluíam o desalojamento de campesinos e a queda do poder econômico da
moeda paraguaia.

A ditadura militar, falseada em democracia, tem suas eleições em 1983,


principalmente pelas desavenças que haveria no interior do próprio partido de Stroessner.
Ainda assim, de acordo com Nickson (ibidem), a corrupção, que fazia parte de todo o sistema
econômico governista, presta serviço ao ditador também nas eleições. Stroessner vence as
eleições fraudando os resultados e continua no poder. Seguem os descontentamentos e,
novamente, em 1988, o ditador frauda as eleições com sucesso, se perpetuando no governo:

Por volta de 1986, os éticos expressaram sua oposição à candidatura de Stroessner,


pedindo um candidato civil para as eleições presidenciais de fevereiro de 1988. Esta
foi a primeira vez, desde 1959 que uma facção dentro do partido se opôs
abertamente a Stroessner. (...) Stroessner estava cada vez mais identificado com os
militantes, que reforçaram sua base política no país durante a campanha para as
eleições presidenciais de fevereiro de 1988. (...) Ainda que Stroessner tenha
ganhado a eleição fraudulenta com um predizível 89% dos votos, a ascendência
dos militantes foi incapaz de deter os crescentes problemas do regime. 134
(NICKSON, 2011 [2010], p. 273. Grifos nossos.)

Como afirma o autor (NICKSON, 2011 [2010]), a fraude nas eleições garantiram a
permanência de Stroessner no poder, entretanto a violência utilizada para reprimir as
insurgências populares e os problemas enfrentados dentro do próprio partido, materializavam
134
"Hacia 1986, los éticos expresaron su oposición a la candidatura de Stroessner, pidiendo un candidato civil
para las elecciones presidenciales de febrero de 1988. Esta fue la primera vez, desde 1959 que una facción dentro
del partido se opuso abiertamente a Stoessner. (...) Stroessner estaba cada vez más identificado con los
militantes, quienes reforzaron su base política en el país durante la campaña para las elecciones presidenciales de
febrero de 1988. (...) Aunque Stroessner ganó la fraudulenta elección con un predecible 89% de los votos, la
ascendencia de los militantes fue incapaz de detener los crecientes problemas del régimen." (NICKSON, 2011
[2010], p. 273)
133
a contradição do sistema de governo. De acordo com Nickson (Ibidem), em 1985, em um
pronunciamento, Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos, teria declarado que o
Paraguai ao lado de Cuba, Chile e Nicarágua eram países ditatoriais na América Latina e se
mostrava preocupado com a situação política na América Latina, que andava na contramão da
sua política econômica centralizadora. Em 12 de janeiro de 1989, sem apoio internacional dos
Estados Unidos e sem o apoio nacional, inclusive do próprio Partido Colorado, chega ao fim o
poderio de Stroessner, por um golpe militar. (ibidem)

Parece-nos interessante destacar no discurso histórico sobre o governo de Stroessner,


um ponto: o dizeres sobre a estabilidade econômica aparecem como fundamentais para fazer
significar os sentidos de "paz e progresso" tomados como mote durante o período.

Da perspectiva discursiva, Rodríguez Zucolillo (2000) procura compreender a relação


entre a manutenção da língua guarani no Paraguai e o nacionalismo, analisando os discursos
sobre o Paraguai, incluindo os estudos linguísticos sobre o tema. Para a autora, duas hipóteses
aparecem como norteadoras: 1. falta de investimento na educação, com alta taxa da população
fora da escola - como consequência, sem acesso ao ensino da língua espanhola; e 2.
manutenção do imaginário da língua guarani pela identificação com “o nacional”. A autora
aposta na primeira hipótese e considera o Paraguai como um país historicamente monolíngue
em guarani, mas procura explicitar como os governos ditatoriais se valeram dos discursos
nacionalistas para sua manutenção e a manutenção do estado do país. Nas palavras da autora,

Este é o ponto crucial, em nosso entender, para interpretar a situação histórica da


língua, a saber, o fato de que a sociedade paraguaia não foi historicamente uma
sociedade bilíngue espanhol-guarani, mas praticamente monolíngue em guarani
(o que em alguma medida se mantém ainda hoje). (ibidem, p. 20. Grifos nossos.)

Rodríguez Zucolillo considera a falta de investimento em educação como um "ponto


crucial" que faria do Paraguai uma sociedade "praticamente monolíngue em guarani",
desconstruindo a imagem que vem sendo projetada, desde os estudos sociolinguísticos dos
anos sessenta, sobre o país como único caso de bilinguismo em âmbito nacional no mundo.
No que diz respeito à relação entre língua e nacionalismo, a autora analisa o sentido de nação
em sua relação com a língua para compreender o funcionamento dos discursos sobre o
guarani como língua símbolo da nação:

134
A definição essencialista da nação e de sua relação com a língua, a ênfase na
necessidade da defesa (da língua, da nação) contra a invasão estrangeira, a
caracterização da língua em termos de características(ontológicas) superiores/
inferiores, são alguns dos elementos analisados nesse sentido. Essas relações
estabelecidas permitem compreender o fato de esses discursos terem se
prestado para sustentar práticas políticas tais como as instituídas pelas
ditaduras de Higinio Morínigo e, principalmente, Alfredo Stroessner, durante
as quais tais discursos se reafirmaram. (...) Essa análise da reivindicação
nacionalista do guarani leva a adotar outro caminho para explicar sua
manutenção. (ibidem, p. 19-20. Itálicos da autora. Grifos em negrito nossos.)

A autora mostra, em suas análises, como os discursos que relacionam a língua guarani
a uma imagem do nacional no Paraguai se prestaram para "sustentar práticas políticas"
durante a ditadura, por retomarem o governo Colorado, significando-o como responsável por
grandes avanços com relação à língua indígena. Dentre as questões apontadas por Rodríguez
Zucolillo, enumeramos cinco ações do governo, significados como incentivo à língua guarani:
1. Criação da cadeira de Língua Guarani na Universidade Nacional, em 1944; 2. Criação da
Associação de Escritores Guaranis (ADEG), em 1950; 3. Aumento de pesquisas sobre a
língua guarani e a situação do bilinguismo paraguaio; 4. Ensino da língua guarani no Colégio
Nacional de Assunção, em 1956; e 5. Promulgação da Constituição Nacional de 1967, em que
a língua guarani é reconhecida como língua nacional, juntamente com o espanhol. Nas
palavras da autora (2000):

Mas foi no período um pouco posterior, durante a ditadura do General Alfredo


Stroessner (1954-1989), que a questão do guarani mereceria uma atenção
especial, sendo objeto de uma política oficial mais decidida. Esse governo
solicitou que fossem feitas palestras para os oficiais do exército sobre a importância
e o valor dessa língua e apoiou o trabalho da ADEG, cedendo espaço nas
dependências dos ministérios para suas atividades; por outro lado, recomendou que
os alunos das escolas não fossem castigados - como era praxe - pelo seu uso nas
aulas (cf. Rubin, 1968: 48). Em 1956 foi feita uma reforma educacional pela qual foi
permitido que, no Colegio Nacional de Asunción, oguarani fosse ensinado como
atividade extra; em 1974, nas escolas que adotaram o chamado curriculum
experimental, ele foi adotado como disciplinada obrigatória nos três primeiros anos
do segundo grau; em 1987, essa disposição estendeu-se a todas as escolas do país.
(...) Em 1967, a Assembleia Constituinte promulgou uma nova Constituição
que, no Artigo V do primeiro capítulo, reconheceu e promoveu o guarani ao
estatuto de língua nacional (RODRÍGUEZ ZUCOLILLO, 2000, p. 26. Itálicos da
autora. Grifos em negrito nossos).

É pelas ações durante o governo de Stroessner, de que nos fala a autora no trecho
recortado, que os discursos sobre a história do Paraguai dizem de um incentivo ao guarani
como língua nacional, que teve como auge o reconhecimento legal em 1967. A abertura para

135
o guarani na escola, a criação de uma Associação de Escritores Guarani e as demais ações
políticas são significadas como sendo um reconhecimento por parte do governo da língua
nacional indígena (RODRÍGUEZ-ZUCOLILLO, 2000). Entretanto, algumas destas ações já
apontam para o direcionamento de sentidos na construção de evidências sobre as línguas no
Paraguai, como, por exemplo, a própria associação que distingue e separa os escritores
guaranis dos demais escritores paraguaios.

Complementarmente, também em Rodríguez Zucolillo (Ibidem) lemos que os


discursos nacionalistas se filiam a sentidos já presentes antes na história do Paraguai,
significando a defesa da língua pela defesa da pátria, retomando discursivamente os períodos
históricos anteriores, como por exemplo, a Guerra da Tríplice Aliança e sua ameaça
estrangeira. Os discursos nacionalistas sobre a língua promovem a imagem de uma língua
símbolo da resistência nacional e da soberania paraguaia, como repetidamente se escreve nas
constituições nacionais, repetido também na Constituição de 1967: a "soberania da República
do Paraguai" (Art. 2. Constituição Nacional da República do Paraguai, 1967. Anexo V)

De nossa perspectiva, podemos afirmar que o governo de Stroessner promoveu a


língua, promovendo juntamente uma imagem de sujeito nacional, fiel à língua indígena, fiel à
nação paraguaia e fiel ao próprio governo. De acordo com Rodríguez Zucolillo (2000), a
promoção da guarani possibilitou uma identificação do povo com o nacional representado
discursivamente pela língua. Assumiu-se uma nação, a partir de uma língua significada com
nacional, construindo, discursivamente na história, os sentidos para um governo nacional,
antes mesmo que pudesse ser significado como ditatorial. Ainda para a autora,

Um aspecto que chama a atenção ao analisar essas pesquisas sobre o guarani é que
nenhuma delas define de uma maneira clara em que consiste o referido nacionalismo
associado à questão linguística e nem determina as circunstâncias nas quais se
constitui. Ele é simplesmente assumido como um elemento cultural, onipresente
no transcurso da história e, portanto, como se não existissem determinações
concretas. (RODRÍGUEZ ZUCOLILLO, 2000, p. 30. Itálicos da autora. Grifos em
negrito nossos.)

O nacionalismo e sua relação com a língua são significados como naturais, em uma
relação já-lá, significado por um efeito de evidência construído na história. Podemos dizer que
é por paráfrase (ORLANDI, 1999) que os sentidos se repetem, desde a conformação dos
ideais de estado nacional, cujos sentidos para a nação aparecem conjugados a uma língua

136
nacional135. Para tanto, podemos dizer que existe uma imagem de nação, uma imagem de
língua e uma imagem de sujeito nacional promovidos durante do governo stronista. Para o
sujeito nacional constrói-se uma imagem numa relação de identificação com a língua guarani
e, em consequência, com o governo que a promove. A negação desta identificação com a
língua aparece como traição à língua e, por extensão, à nação. Entretanto, é preciso lembrar
que os sentidos para língua nacional no Paraguai, inclusive neste período histórico, não estão
estanques dos formulados para a outra língua nacional, o espanhol. Nesse embate, as duas
línguas são significadas como nacionais de modo diferente. O guarani, a língua da resistência,
da defesa frente aos demais países, e a língua da cultura nacional. O espanhol, por sua vez,
segue ocupando o lugar da língua do avanço, das relações com o exterior e do progresso,
como trataremos na sequência.

Por fim, se propomos uma inversão complementar, podemos afirmar que o governo de
Stroessner não somente promoveu o guarani, mas, efetivamente, se apoiou em determinados
sentidos regularizados na memória sobre a língua para manter-se pela identificação do
nacional. Trata-se de determinações históricas que ideologicamente vão construindo efeitos de
evidência.

Ao passo que na educação e na constituição nacional a língua guarani aparecia como


motor nacional, como símbolo do nacionalismo e dos sujeitos que com esta se identificavam -
porque, simplesmente, não conheciam outra, como aponta Rodríguez Zucolillo (2000), a falta
de investimento na educação, os deslocamentos dos campesinos de suas terras para a
construção da hidrelétrica e as repressões às reivindicações do povo apresentam a contradição
na ditadura de Stroessner. Nos discursos sobre a língua na história paraguaia, o governo
stronista aparece significado pela identificação do nacional e se apagam os demais sentidos
sobre a corrupção, a repressão e o atraso do país.

Os três períodos recortados nos guiaram para construir algumas questões sobre as
línguas guarani e espanhola no discurso da história sobre o Paraguai. Na próxima seção,
retomaremos os pontos destacados ao logo deste capítulo para construir nosso percurso de
análise.

135
Como tratado no segundo capítulo.
137
3.3 O ECOS DO DISCURSO DA HISTÓRIA NA CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO
SOCIAL

Para alguns, o já-dito é fechamento de mundo. Porque


estabelece, delimita, imobiliza. No entanto, também se
pode pensar que aquilo que se diz, uma vez dito, vira
coisa no mundo: ganha espessura, faz história. E a
história traz em si a ambiguidade do que muda e do que
permanece. (ORLANDI, 1983)

Em uma leitura discursiva da história, buscamos percorrer as produções de sentidos


que figuram no discurso da história sobre o Paraguai e suas línguas, nas relações que vêm
sendo tecidas desde o período da colonização na América Latina. Retomamos a questão da
demarcação territorial e a invenção do sentido de nação paraguaia, vinculado a um espaço
geográfico reduzido pelas guerras na província paraguaia e a uma resistência linguística
imaginariamente construída, que teria resultado na manutenção da língua guarani até a
atualidade. Como já antecipamos, Rodríguez Zucolillo (2000) defende a tese de que a
manutenção do guarani não está relacionada à uma identificação nacional simplesmente,
caracterizando uma resistência pela língua, mas que as condições materiais - como a falta de
investimento em educação e, em consequência, no ensino de língua espanhola - teriam
possibilitado a manutenção da língua indígena.

Com a chegada dos europeus no continente americano, impõe-se, para além de uma
língua, um modo de organização social e político, que, através das reduções, transformou,
inclusive as relações econômicas e sociais do povo indígena (MELIÀ, 2003). Diríamos
também que transformou o modo do sujeito falante constituído nessa língua significar-se no
mundo. Orlandi (2008 [1990], p. 200), em uma análise de um mito assurini, se questiona
sobre qual seria a forma-sujeito histórica136 pela que se representaria um modo de ser índio,
ao que responde que haveria uma forma sujeito-índio. Tomando suas palavras, "o sujeito-
índio é outro, sendo outra a relação instituída entre linguagem-pensamento-realidade ..."
(ibidem, p. 227), pelo que podemos afirmar que a colonização marca também uma mudança
no modo de subjetivação do índio frente ao novo sistema que se impõe. A forma como o
sujeito se inscreve no mundo, os discursos com os quais se identifica e o sentidos que os
constituem são outros.

136
Sobre a noção de forma sujeito, cf. Pêcheux, 1988 [1975] e, ainda, as discussões de Haroche (1992) sobre as
mudança da "forma sujeito histórica religiosa" para a "forma sujeito histórica capitalista".
138
Aproximando-se destas questões, Mariani (2004) trata da colonização linguística, que
coloca no eixo de sua discussão, para além do confronto entre as línguas, um encontro de
mundos diferentes em sua própria organização. Relacionando as considerações de Orlandi
(2008 [1990]), Melià (2003) e Mariani (2004) sobre o período colonizador, podemos afirmar
que há a imposição de um modo novo de significar no mundo a partir da língua do
colonizador. O embate entre a cosmologia guarani e a cosmologia cristã se materializa nos
textos catequéticos traduzidos, numa disputa em que venceu a cosmologia significada como
civilizatória, libertadora, verdadeira. As reduções atingiram os âmbitos do social, do
econômico, do linguístico e do religioso.

A sobreposição do discurso religioso cristão à prática religiosa guarani, nos permite o


questionamento: como significar em guarani a cosmologia cristã? O processo tradutório dos
catecismos mostrou a impossibilidade na prática da tradução. Para que houvesse a imposição
de novos sentidos, negou-se a religião guarani, negando-se também a sua língua e seu sistema
político137. Foi preciso adaptar alguns termos e criar outros. Dizer que o índio não tinha nem
fé, nem lei, nem rei 138 mostra na escrita da língua a impossibilidade de significar toda a
realidade imposta.

As línguas gramatizadas pelos conquistadores não eram em si as línguas indígenas,


mas o resultado desse encontro – línguas colonizadas e da colonização – e do saber do
colonizador sobre as línguas europeias, que possibilitou a construção de uma língua
imaginária – o tupi jesuítico, por exemplo: uma língua geral cujo processo de gramatização
foi baseado no processo anterior de gramatização das línguas da colonização. Foram estas
línguas imaginárias que passaram a ser amplamente faladas, além de serem as línguas de
comércio e de cultura.

Outras questões que trouxemos nas seções anteriores, foram formuladas a partir de
nossa leitura sobre o século XIX, que tomamos a partir dos discursos sobre a Independência
em 1811. Interessa-nos ressaltar que a partir desta conjuntura histórica, o Paraguai começa a
colocar-se como independente, dando início ao seu processo constitucional, com o primeiro
Regulamento de Governo, em 1813. Nesse processo, adiantando o que apontaremos como
resultado de nossas análises das cartas magnas, o Paraguai começa a declarar-se livre e

137
A comunidade indígena tinha seu próprio modo de organizar-se (MELIÀ, 2003), pelo que podemos dizer que
tinha seu próprio funcionamento político.
138
Apresentamos a discussão de Mariani (2004) sobre esta questão no capítulo 2 desta tese.
139
soberano. Tem início um século de afirmação do nacional, marcado, principalmente pelos
discursos sobre a resistência heroica dos paraguaios. Constrói-se, discursivamente, uma nação
cercada de perigos, cujo território teria sido constantemente ameaçado pelos vizinhos
fronteiriços, com uma população que passaria a ser significada pela identificação com a
independência e soberania nacional e com a sua língua. Pelo discurso da história, a língua
guarani repete os sentidos para os sujeitos paraguaios, resistindo às incursões dos estrangeiros
com suas línguas, materializando-se simbolicamente como resistência durante a Grande
Guerra, por ter sido incentivada por Francisco Solano López.

A língua dos combates e nos acampamentos foi significada como uma atitude positiva
do governo durante o período de guerra, contudo, é preciso lembrar que os soldados só sabiam
falar em guarani. Se retomamos os estudos de Rodríguez Zucolillo (2000) e Melià (2003),
ambos os autores afirmam que o espanhol não estava amplamente difundido e que o Paraguai
era, na verdade, monolíngue em guarani. O que, imaginariamente, na escrita da história,
aparece como uma decisão de López para ter vantagem e para acolher seus soldados, aponta,
mais especificamente, para um fato histórico, a alta taxa de analfabetismo em espanhol139.
Como muitos campesinos foram às frentes de batalha e muitos deles só conheciam/falavam o
guarani, a guerra foi feita em guarani. No discurso da história, este fato é significado como
uma determinação de cima pra baixo, como se os altos cargos tivessem decidido que se
deveria falar em guarani para proteger-se da ameaça estrangeira, apagando os sentidos,
apontados por Rodríguez Zucolillo (2000), para o fracasso da educação paraguaia desde
aquele período. As condições materiais apontam para a necessidade da comunicação em
guarani, enquanto o discurso histórico faz significar o episódio como uma escolha estratégica
do uso da língua.

Com relação ao período stronista, é preciso ressaltar o apagamento da situação


histórica de ditadura e da estagnação econômica do país, silenciando os possíveis
questionamentos com relação à manutenção da língua guarani, como uma questão do político,
pela falta de investimento em educação. De acordo com Rodríguez Zucolillo (2000), a língua
guarani no Paraguai teria sofrido as mesmas ameaças que as demais línguas indígenas do

139
Calvet (2011 [1984]) afirma que a noção de analfabetismo está diretamente relacionada às sociedades com
línguas escritas. Considerar analfabetos os falantes de uma língua de tradição oral é condenar toda uma
sociedade que não se fundamenta na escrita, a partir do paradigma de avaliação do outro. É partindo destas
colocações que fazemos uma ressalva ao falar de analfabetismo na sociedade paraguaia do século XIX,
especificando que se refere à língua de tradição escrita imposta pelo colonizador, o espanhol.
140
continente americano se o cenário econômico fosse outro, havendo mais investimentos na
educação em geral140, incluindo o ensino de espanhol.

A partir da leitura discursiva da história, empreendida neste capítulo, buscamos


aproximar os olhares para alguns pontos que nos ajudaram a compreender a relação entre
determinados momentos históricos e a conformação de uma imagem de nação do Paraguai e
sua relação com as questões linguísticas, que, discursivamente, falam de uma manutenção do
guarani pela identificação nacional. Tomando esta direção, no próximo capítulo, nos
aprofundaremos nas análises das Cartas Magnas paraguaias, das Lei Geral de Educação, Lei
de Educação Indígena e da Lei de Línguas do Paraguai.

140
Aqui lembramos o trabalho de Mariani (2008b), de que tratamos no capítulo anterior, acerca do valor de uma
língua e da necessidade de investimento em sua implementação.
141
4. SENTIDOS SOBRE O GUARANI E O ESPANHOL: POLÍTICAS DE LÍNGUAS DO
ESTADO PARAGUAIO

O arquivo nunca é dado a priori, e em uma primeira leitura, seu


funcionamento é opaco. Todo arquivo, principalmente manuscrito, é
identificado pela presença de uma chancela institucional etc., ou ainda
pelo lugar que ele ocupa em uma série. Essa identificação puramente
institucional, é para nós insuficiente: ela diz pouco do funcionamento
do arquivo. (Pêcheux, 2010 [1994])

Este capítulo está composto por quatro seções. Na primeira seção, 4.1 Uma História
das Ideias Linguísticas do Guarani objetiva-se, a partir do que foi exposto nos capítulos
anteriores, levantar algumas questões sobre a produção de saberes sobre o guarani na relação
de forças travada no espaço de enunciação paraguaio frente ao espanhol, para seguir com a
análise sobre os documentos oficiais e sobre as políticas de línguas sobre estas línguas no
Paraguai. Na segunda seção, 4.2 As Cartas Magnas do Paraguai, de 1813 a 1992,
apontaremos algumas questões a partir da leitura das Cartas Magnas do Paraguai, desde o
primeiro Regulamento de Governo, datado de 1813, até a atual Constituição da República do
Paraguai, de 1992 (Anexos I ao VI). Na segunda seção, tomamos como base os textos da Lei
Geral de Educação nº 1264/1998 (Anexo VII) e da Lei n° 3231/2007, que cria a Direção
Geral de Educação Escolar Indígena (Anexo VIII). E, por fim, na última seção deste
capítulo, procedemos a uma análise da Lei de Línguas do Paraguai nº 4251/2010 (Anexo IX),

142
que apresenta como um de seus objetivos "establecer las modalidades de utilización de las
lenguas oficiales de la República."141 (Art. 1. Lei de Línguas nº 4251, 2010. Anexo IX.)

Por este recorte, poremos o foco na institucionalização dos dizeres sobre as línguas ou,
dito de outro modo, em como as línguas guarani e espanhola são significadas nesses textos: de
fato, estes carregam uma historicidade que produz um efeito de evidência de determinados
sentidos.

Entendemos que estes textos fundamentam nossas discussões sobre as políticas de


línguas do estado paraguaio na atualidade por fazerem circular142 (ZOPPI-FONTANA, 2005)
saberes sobre as línguas pela produção de evidências e pelo efeito de completude produzido
pelo modo de apresentação das leis. Na dispersão de textos que tratam sobre os direitos dos
paraguaios, principalmente, no que tange a sua relação com a língua, organizamos um arquivo
que busca compreender a produção de sentidos sobre as línguas em sua historicidade. Mariani
(2011b), analisando a construção de arquivos em diferentes produções textuais sobre a língua
portuguesa no/do Brasil, afirma:

A construção de arquivos relacionando o histórico e o linguístico de modo a pôr


em relação produções textuais que, em dispersão e de modo descontínuo,
constituem discursos nos quais a língua portuguesa como língua nacional ou é foco
principal ou é evocada lateralmente, constitui uma tarefa necessária para a
compreensão dos sentidos produzidos sobre a língua falada no Brasil. (ibidem,
p. 238. Grifos nossos.)

Como afirma a autora, a construção de arquivos na dispersão dos textos possibilita a


compreensão da produção de sentidos sobre as línguas no Brasil, no caso em análise. Tal
como expõe Mariani, defendemos que um estudo que contemple os diversos textos sobre a
língua, em sua dispersão, nos permite compreender os sentidos que se enlaçam e se
distanciam, no movimento da história, sobre o lugar da língua guarani no embate travado com
a língua espanhola nos dizeres sobre a sociedade paraguaia.

Um ponto que nos interessa ressaltar é o efeito de circularidade (ZOPPI-FONTANA,


2005) produzido na Lei Geral de Educação ao remeter seu texto constantemente à atual
Constituição do Paraguai, pela projeção imaginária de uma referencialidade, que se apoia no
texto constitucional, significando-o pela produção de duas evidências: 1. Todo saber sobre o

141
"estabelecer as modalidades de utilização das línguas oficiais da República.." (Art. 1. Lei de Línguas nº 4251,
2010. Anexo IX. Tradução nossa.)
142
Zoppi- Fontana (2005) tratou dos efeitos de circularidade produzidos nas textualidades do arquivo jurídico.
143
indígena está na Constituição da República de 1992 (Anexo VI); 2. no texto da Constituição,
estão as verdades sobre as línguas e sobre os povos indígenas. Esse efeito de evidência de
tudo dizer produz um apagamento dos dizeres sobre as línguas e sobre os índios na Lei Geral
de Educação (Anexo VII), que ao remeter seus dizeres àqueles presentes na Constituição de
1992, deixa de dizer sobre a educação, seja em língua guarani, seja nas línguas indígenas.

Antes de continuar com nossa explanação sobre o capítulo, vale a pena citar o trabalho
de Rodríguez-Zucolillo 143 (2000) que, ao fazer um estudo que buscava compreender a
construção da imagem da língua guarani em sua relação com os sentidos de nação e de
nacionalismo no Paraguai, lançou mão de alguns dos textos aqui citados, como, por exemplo,
as Cartas Magnas de 1967 e 1992. Entretanto, compreendemos que o gesto do analista no
recorte de seu objeto é sempre diferente. Ao recortar, o analista produz um gesto de
interpretação que vai delimitar seu campo de trabalho, também na relação com as questões de
sua tese. Desse modo, mobilizaremos as considerações de Rodríguez-Zucolillo (2000),
sempre entendendo que nosso estudo é outro e que nossas questões nos levam a outras
discussões, e que as análises da autora funcionam como um suporte teórico e analítico à
produção de conhecimento acerca da História das Ideias Linguísticas do guarani, por
possibilitar que avancemos em nosso trabalho a partir das discussões já propostas
anteriormente. Esse avançar das questões aparece também na seleção dos textos para análise,
principalmente, pela seção destinada ao documento mais recente que trata sobre as questões
das línguas no Paraguai, a Lei de Línguas, de 2010, e dos projetos instituídos pela Secretaria
de Políticas Linguísticas, objeto de análise no próximo capítulo.

Dessa forma, pretendemos compreender os textos selecionados como produção de


conhecimento sobre as línguas, processo histórico da disputa de sentidos no embate político
estabelecido na ordem do simbólico. Para tanto,

Lembremos, de imediato, que o político é da ordem do conflito, da diferença. O


político é um lugar de disputa, caracterizando-se pela disputa "dos princípios que
regem a vida social em suas diferenças, sendo ele próprio a prática dessas
diferenças". O exercício da política, por sua vez, é o exercício jurídico e

143
Em sua tese de doutorado, Língua, nação e nacionalismo: um estudo sobre o Guarani no Paraguai, já citada
em diversos momentos de nossa escrita, Rodríguez-Zucolillo (2000) analisa os dizeres dos escritores
americanistas do início do século em um trabalho que coteja os textos oficiais e os estudos dos linguistas que
trataram da situação do Paraguai como um país bilíngue da perspectiva sociolinguística.
144
144
administrativo da regulação do conflito. (MARIANI, 2011, p. 241. Grifos
nossos.)

Pelas palavras de Mariani, podemos afirmar que a escritura das leis como uma prática
política funciona como um "exercício jurídico e administrativo da regulação do conflito", que
é próprio do político. O político que rege a vida social, nos encontros entre sujeitos,
ideologias e dizeres, em que se instaura uma disputa que passa a ser regulada - ou se tenta
regular - pela prática política institucionalizada. Ao percorrer os dizeres nas leis paraguaias
sobre os sujeitos e sobre as línguas, buscamos, neste estudo, dar a conhecer os processos
históricos na produção de determinados sentidos na ordem da política e do político. Como nos
diz Orlandi,

Enquanto finalidade da Análise do Discurso, a compreensão engaja a história, isto é,


ela "historiciza" o texto. Desse modo, como, sem considerar a historicidade do
discurso, não há compreensão, ainda uma vez reafirmamos a necessidade de
considerar o texto em seu contexto e os sujeitos culturais mergulhados nas suas
histórias para que haja real exercício do conhecimento. (ORLANDI, 2008
[1990], p. 226. Aspas da autora. Grifos nossos.)

Por este percurso, pretendemos engajar a história para que se possa conhecer, como
tomado por Orlandi (2008 [1990]), a historicidade destes documentos e compreender a
produção de saberes sobre as línguas guarani e espanhola no discurso da lei paraguaia.

4.1 UMA HISTÓRIA DAS IDEIAS LINGUÍSTICAS DO GUARANI: O GUARANI


PARAGUAIO, A GRAMATIZAÇÃO E AS POLÍTICAS DE LÍNGUAS

A terceira língua, com tantas palavras mutantes balançando-se entre


duas gramáticas e dois léxicos, se tornará a porta de entrada entre dois
espaços culturais, antes bastante separados e identificados e agora
confundidos e desbaratados. A língua reflete a história de uma nação,
145
a reproduz e a projeta em direção a um futuro quase sempre incerto.
(MELIÀ, 2013.)

144
Os textos de Orlandi, citados por Mariani, são: "Terra à vista. Discurso do confronto: velho e novo mundo"
(2008 [1990]) e " Língua e conhecimento lingüístico: para uma História das Idéias no Brasil" (2002)
145
"La tercera lengua, con tantas palabras mutantes columpiándose entre dos gramáticas y dos léxicos, se tornará
la llave de paso entre dos espacios culturales, antes lo bastante separados e identificados y ahora confundidos y
desbaratados. La lengua refleja la historia de una nación, la reproduce y la proyecta hacia un futuro casi siempre
incierto." (MELIÀ, 2013, p. 109-110. Tradução nossa.)
145
Considerar a história das ideias sobre as línguas no Paraguai é contar a história das
ideias sobre as línguas indígenas naquele país e em outros países da América Latina, sempre
em confronto com as línguas dos respectivos colonizadores. Os processos de colonização
linguística se repetiram extensivamente no continente americano, principalmente, nos
primeiros contatos entre europeus e indígenas ainda nas colônias, quando o encontro entre
pelo menos dois imaginários (MARIANI, 2004) era inevitável, instaurando sentidos sobre as
línguas até a atualidade. Por este inevitável encontro que se deu com a chegada dos europeus
em território americano e sua violenta entrada nas sociedades americanas, sentidos sobre as
línguas foram se delineando, inscritos numa rede de dizeres sobre os falantes de cada língua
que habitavam esse espaço de embate. Assim, os dizeres sobre os índios passam a se estender
e fazem circular sentidos sobre suas línguas. Os indígenas passam a ser significados como não
civilizados, bárbaros e selvagens, sentidos que lhes atribuiriam também as suas línguas,
incompreensíveis146.

Quando se trata de pensar nas políticas sobre as línguas na atualidade pela perspectiva
discursiva, é fundamental questionar-se sobre os sentidos que ali comparecem, por serem
estes construídos historicamente. É preciso dizer que os sentidos não têm origem verificável,
entretanto a historicidade dos processos de produção significantes nos permite dar a conhecer
certos direcionamentos que foram se inscrevendo e circulando através da história da
sociedade paraguaia e de suas línguas. Como tratamos anteriormente, trouxemos o Paraguai
desde sua situação como colônia espanhola em que se começou a produzir conhecimento
escrito sobre as línguas daquele país. É preciso ressaltar que falamos de conhecimento escrito,
considerando que antes, as sociedades orais já produziam e, provavelmente, reproduziam e
faziam circular oralmente seu conhecimento sobre suas línguas. Consideramos, desse modo,
que há um conhecimento das "sociedades de tradição oral" (CALVET, 2011 [1984]) sobre as
línguas indígenas, embora não possamos ter acesso aos dizeres que circulavam sobre as
línguas nativas do Paraguai antes que chegassem os colonizadores com seu modo de escrita
ocidental europeu. Este já nos parece um primeiro gesto que inscreve sentidos para as línguas
de tradição oral, colocando-as, desde sempre, pelo paradigma estabelecido pelas sociedades
de tradição escrita sobre o conhecimento. Calvet (ibidem) discute sobre a conformação das

146
Referimo-nos, aqui, a um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha: "Eram pardos, todos nus, sem coisa
alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o
batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. Ali não pôde deles haver fala,
nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa." (CAMINHA, p. 03) Disponível em:
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf. Acesso em: 10 de dezembro de 2014.
146
sociedades de tradição oral e de tradição escrita, trazendo à baila a noção de analfabetismo,
que, segundo ele, se constrói pelos sentidos de uma sociedade, cujas línguas têm um sistema
escrito. Como nos ensina esse autor,

O par analfabetismo/ escolarização não se deixa, com efeito, definir-se senão


num quadro de uma sociedade de tradição escrita, mas é outra a situação em
sociedades sem escrita, nas quais a noção de analfabeto é uma noção importada,
desprovida de sentido local, e, para esvaziar as conotações negativas desse sem
(escrita), falaremos aqui de sociedades de tradição oral. (ibidem, p. 9)

De acordo com o que afirma o autor, a noção de analfabeto, construída no paradigma


de uma sociedade de tradição escrita, quando imposta a "sociedades de tradição oral", é
"desprovida de sentido local", significando de maneira negativa as sociedades de tradição
oral. Podemos, a partir desta colocação, avançar e afirmar que não é, especificamente, da
ordem do sem sentido, mas, para nós é parte de uma imposição de sentidos sobre as línguas
das sociedades de tradição oral que as colocam no lugar do não, do negativo, da falta de
escrita, numa comparação que toma como ponto de partida algo que não é próprio dessa
sociedade. Analisar uma sociedade de tradição oral a partir dos ideais promovidos por uma de
tradição escrita é cometer este crime que faz submeter as sociedades indígenas à lógica que se
construiu desde a ocupação da América Latina. Ainda nas palavras de Calvet,

[1] Longe de significar apenas o que eles [analfabetos e iletrados] pretendem


significar etimologicamente (o desconhecimento da escrita), eles conotam, segundo
os casos, a estupidez, a grosseria, a vulgaridade, a incultura etc.
[2] O saber constituído pelo conhecimento do alfabeto é dado como pré-
requisito para todos os outros saberes. (...) (ibidem, p. 9)

Como proposto pelo autor, considerar as línguas, partindo das noções de


"analfabetismo/escolarização", faz promover para elas um sentido negativo, que sempre se
constitui na ordem da falta, da estupidez, da vulgaridade e da incultura. Como afirmamos
anteriormente, os sentidos que se produziram para as sociedades indígenas na América Latina
desde a colonização, colocando-as nos lugares de bárbaras e incultas funcionam exatamente
por transporem para as línguas os mesmos dizeres. As sociedades de tradição oral são, desde
então, significadas pelos paradigmas das sociedades de tradição escrita, que se impuseram,
não somente pelas línguas, mas pelos modos de organização social e cultural ocidental escrito
em alfabeto de origem latina. Os sentidos para as línguas e para os sujeitos que as falam são
147
desde antes já determinados por aqueles que dominam os sistemas de escrita, significados
como superiores, por aqueles que tinham o poder bélico de julgar a partir de um paradigma
inscrito num modelo de sociedade. Desse modo, não só as línguas e os sujeitos são
significados na falta, como suas formas de conhecimento, formulação e circulação, também o
são. Retomando o que diz Calvet (ibidem, p. 9), "o saber constituído pelo conhecimento do
alfabeto é dado como pré-requisito para todos os outros saberes" e são os conhecimentos de
uma sociedade de tradição escrita aqueles que irão vigorar nas sociedades 147 . Aqui cabe
relembrar o que diz Mariani (2004) sobre a colonização linguística, pelo encontro de pelo
menos dois imaginários distintos, que são, desde o primeiro momento, desiguais pelas
relações de poder impostas pelo colonizador. Assim, todo o trabalho que fazemos ao pensar as
políticas de línguas sobre as línguas de origem indígena deve considerar que tratamos de
políticas formuladas com base em uma sociedade de tradição escrita que visam
atingir/construir sentidos para línguas cujo conhecimento não está regido pelo sistema escrito.
Como apontou Calvet, todo conhecimento que se transmite nas sociedades de tradição escrita
tem como primeiro ponto a própria escrita e os saberes produzidos sob este modo de
produção/circulação de saberes. Pela História das Ideias Linguísticas, Auroux (2009 [1992])
já aponta para esta questão quando afirma que o próprio surgimento da escrita como
tecnologia se configura pela apreensão da língua do estrangeiro a partir de um modelo de
língua. Um modelo de sociedade, um modelo de língua e um modelo produção de
conhecimento.

Avançando nas questões referentes às línguas indígenas e as políticas de línguas sobre


a língua guarani no Paraguai, especificamente, quando buscamos material em língua
guarani 148 , nossas primeiras perguntas de pesquisa buscavam conhecer sobre o ensino de
língua desta língua:

147
Em uma banca sobre Educação Indígena dos Mbya Guarani, no Programa de Pós-Graduação em Educação da
UERJ, tivemos a oportunidade de escutar o professor José Ribamar Bessa Freire contar uma história sobre o
sistema de ensino em uma escola indígena, da qual trazemos aqui uma síntese: Uma funcionária de um órgão
regulador das escolas indígenas, em uma conversa com um professor da escola indígena, o teria questionado
sobre o funcionamento desta na aldeia. Segundo a funcionária, em uma visita à aldeia, a escola estava fechada no
horário em que deveria estar aberta/funcionando, ao que o índio lhe respondeu: “Provavelmente, era uma quarta-
feira, não era?” E a funcionária, confusa, lhe teria confirmado o dia, envolta em seu caderno de anotações: “Sim,
era isso mesmo, quarta-feira”. E o índio, com sua paciência, respondeu-lhe: “Então é isso, quarta-feira, é dia de
ensinar pesca. Se a senhora conseguir por um lago dentro da sala de aula, nós ensinaremos a pescar na escola.
Enquanto isso, as aulas de pesca continuarão sendo no lago da aldeia.”
148
Referimo-nos, neste trecho, a nossa viagem ao Paraguai, no ano de 2014, com o objetivo de reunir material
para compor o arquivo que se analisa nesta tese.
148
1. Há livros didáticos em língua guarani no Paraguai? Quantos? Qual é seu nível de circulação
na escola?

2. Que tratamento fazem do guarani como língua materna os livros didáticos destinados a seu
ensino?

3. Os livros didáticos são monolíngues ou bilíngues (guarani/espanhol)? Ou há livros


didáticos de diversas matérias nos quais essas duas línguas aparecem e de que forma?

Em princípio, eram nosso foco os livros didáticos de ensino de língua guarani


propriamente ditos e, em nosso primeiro levantamento, foi possível perceber que há uma
quantidade razoável de material produzido para este fim, entre livros didáticos, gramáticas e
dicionários. No caso dos livros didáticos, em uma primeira análise dos materiais recolhidos, o
que se encontrou foi uma abordagem estruturalista, que carrega um ensino calcado nas
tradições dos anos sessenta, que consideram a língua como um “sistema” “cujas formas”
deveriam ser aprendidas. Por vezes, o ensino dessa língua guarani gramatizada 149 , como
discutimos anteriormente, vem ainda perpassada pelos modelos comparativos com o
paradigma da língua espanhola. As reduções para as quais apontava Melià (2003) já feitas nos
primeiros gestos de apreensão da língua guarani pelos franciscanos e jesuítas no Paraguai
ainda no século XVI não cessaram naquele momento histórico. O ensino de língua guarani se
coloca ainda pela comparação/confronto com a língua espanhola no Paraguai da atualidade.

Para além dessas primeiras colocações, é preciso apontar para outra questão relativa à
língua imaginária (ORLANI e SOUZA, 1988), por efeito de uma sistematização, que aparece
nesses livros didáticos. A língua guarani que é ensinada na escola não é somente uma língua
guarani sistematizada, mas é outra língua a que ocupa as cidades, ou como postula Melià
(2013), a terceira língua do Paraguai: trata-se do jopará ou guarani paraguaio, que não é o
guarani indígena e tampouco o guarani jesuítico, sistema reduzido e gramatizado, como
discutimos anteriormente. O jopará é outra língua, um guarani hispanizado para além da
estrutura e que mostra na marca da língua no encontro com a língua espanhola em diversos
aspectos - sintáticos, morfológicos e fonológicos. (MELIÀ, 2003)

"A terceira língua do Paraguai" divide os estudiosos, colocando, de um lado, aqueles


que estão em defesa de uma língua pura, como observam Zarratea (2011) e Melià (2013), na

149
A produção de instrumentos linguísticos em língua guarani aponta para seu processo de gramatização.
Entretanto, é preciso ressaltar que não há uma definição oficial de qual alfabeto ou gramática representariam a
língua guarani da atualidade. Essa é uma discussão que iremos apontar em nossa análise sobre a Lei de Línguas
do Paraguai.
149
tentativa de desconsiderar o contato com a língua espanhola e, de outro, os que aceitam a
hispanização da língua guarani, por considerar o processo histórico de formação da própria
língua desde a colônia. Os dizeres sobre as línguas do Paraguai fazem circular sentidos sobre
estas e sobre todas as políticas de línguas que promovem o guarani e algumas questões que se
delineiam giram em torno do purismo da língua:

1. Que guarani se deve promover?

2. É possível um guarani puro?

3. Se se defende um guarani puro, como criar palavras na língua guarani que atendam às
diferentes demandas oficiais da língua150?

Pela leitura dos estudos em História das Ideias Linguísticas, podemos apontar,
inicialmente, que não existe uma língua pura e, principalmente, pela historicidade do processo
de gramatização das línguas indígenas, já afirmamos que não é possível um guarani que
desconsidere a memória da língua espanhola. A língua da colonização funciona como marca
na estrutura da própria língua guarani. Se não existe possibilidade de língua pura, aceitar o
guarani paraguaio seria, então, o primeiro passo, para a possibilidade de um futuro da língua
indígena no Paraguai. Entretanto, considerar a língua espanhola nesse processo é também
considerar nesse confronto o que exatamente impede a língua guarani de ocupar todos os
espaços de dizer nessa sociedade.

O sistema educacional paraguaio, como dos demais países latino-americanos, tem


moldes também europeus. O conhecimento valorizado socialmente e que ocupa as cadeiras
das escolas está, como nos ensina Calvet (2011 [1984]), conformado por uma sociedade de
tradição escrita. As disciplinas do currículo escolar paraguaio foram também importadas de
um sistema outro. O jopará ocupa as casas, as ruas da cidade, os corredores da escola e, até as
aulas de língua guarani, numa contestação entre a língua do livro didático e a língua fluida,
mas não está nas aulas de Matemática, Biologia e Física, por exemplo. Em nossa busca pelos
materiais didáticos em língua guarani, como relatamos anteriormente, muitos foram os livros
encontrados que se destinavam ao ensino da língua mesma, sem contudo encontrar na mesma
proporção livros didáticos que se ocupassem do ensino de outras disciplinas do currículo
escolar em língua guarani. Nas salas de aula, nos programas de ensino e na profusão de todo o

150
Nossas perguntas são baseadas nas formulações de Jiménez (2011), Zarratea (2011), Melià (2013) sobre as
discussões que tratam do purismo da língua guarani.
150
conhecimento formal da educação regular está a língua espanhola. O sistema educacional, tal
como configurado em nossas sociedades e, neste caso, na escola paraguaia, se serve da língua
de origem europeia.

É deste confronto que estamos tratando quando falamos da inscrição do político nos
diversos gestos no simbólico, gestos pelas línguas e nas línguas. Os guaranis provavelmente
sabiam contar, tinham um sistema numérico e formas de organização cronológica. Não se
trata aqui de uma falta na organização social guarani, trata-se de uma mudança de paradigma,
trata-se do confronto de que tratava Mariani (2004) entre imaginários, trata-se de modos de
organizar o mundo e os sujeitos de forma diferente, que inclui também as necessidades de
cada sociedade. E, também, não se trata, como dizia Meliá (1988, p. 113), de “defeitos
estruturais do guarani”, mas da mudança concreta desta língua.

Promover a língua guarani na sociedade paraguaia atual é promover, por estas


questões, uma língua fora da sua história. Entretanto, como fazer diferente, se num mundo
supostamente globalizado e industrializado, os conhecimentos hão de ser compartilhados de
modo a garantir uma igualdade para além das fronteiras do nacional? A história não tem
retorno, não é possível mudar a sociedade de modo que ela comporte um guarani puro, que
possa dizer do seu mundo na atualidade. Entretanto, é preciso considerar estas questões como
fundamentais quando se trata da formulação de políticas sobre as línguas no Paraguai. Não se
trata de uma marca da colonização na sociedade, trata-se de uma mudança na concepção do
que é sociedade desde o confronto passado já há mais de cinco séculos. Esses sentidos que
ressoam (SERRANI, 1991) na memória discursiva comparecem no momento de formulação
das políticas que incidem sobre as línguas e sobre as leis que regulam a educação no Paraguai.
Por fim, pelo percurso que tentamos trilhar ao longo desta seção, é possível afirmar que toda
política de línguas que envolve uma língua de origem indígena já é um gesto sobre uma
língua de uma sociedade de tradição oral para que ocupe um lugar em uma sociedade de
tradição escrita.

151
4.2 AS CARTAS MAGNAS DO PARAGUAI, DE 1813 A 1992

A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem


estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. (Art. 16.
Declaração dos direitos do homem e do cidadão, 1789)

Fazer História das Ideias Linguísticas significa percorrer os caminhos dos saberes
sobre as línguas e sobre os dizeres que se formulam sobre estas. Um modo de seguir os trilhos
destes dizeres pode ser feito com a leitura dos documentos oficiais compreendida como
dizeres institucionalizados sobre determinada língua, por materializarem sentidos que passam
a significar como legítimos, construindo um efeito de evidência pelo apagamento de sua
constituição na memória.

Seguindo o objetivo de compreender os sentidos que se produzem sobre as línguas


existentes no território paraguaio, dirigimos nosso olhar, nesse primeiro momento, para as
constituições promulgadas no Paraguai desde sua independência.

O país proclamou sua independência da colônia espanhola em 14 de maio de 1811 e


desde então promulgou um Regulamento Governamental e cinco constituições nacionais,
entre os anos 1813 e 1992, sendo esta última a que está em vigor atualmente. Interessa-nos, a
partir de sua leitura, retomar o que se repetiu e se fixou e também o que se modificou, fazendo
deslizar os sentidos ou mesmo mudando totalmente o que se dizia sobre o povo, a nação, a
religião ou a língua, por exemplo.

Sobremaneira, refazer o trajeto em que se instituíram as constituições nacionais faz-


nos conhecer as condições de produção, partindo do contexto imediato, e ir mais além ao
pensar na historicidade do processo de produção dos sentidos, pois, de acordo com Mariani
(2011, p. 238), "a construção de arquivos relacionando o histórico e o linguístico", que põe
em relação as produções textuais, de modo descontínuo e na dispersão, "constituem
discursos". É assim então que, pondo em relação os textos das constituições, tratando-os como
discurso, propomos vê-los como materialidade significativa que constrói sentidos para a
língua ao longo das suas reformulações, bem como fazem circular sentidos sobre a própria
construção de uma imagem do nacional.

O primeiro documento que oficializa as leis do Paraguai pós-proclamação da


República data de 1813, é o Regulamento de Governo (Anexo I), que esteve em vigência

152
durante 31 anos, até que em 1844 foi promulgada a Lei que estabelece a administração
política da República do Paraguai, e demais que nela se contém151 (Anexo II).

Como afirma o constitucionalista Claude (2011) 152 , em 1813, com 17 artigos, foi
apresentado pelo Doutor Francia este primeiro regulamento de governo, em que se inaugurava
um dizer sobre um povo "livre e soberano" (Art. 14. Regulamento de Governo, 1813. Anexo
I). Esse dizer se repetiu até deslocar-se para a "soberania da República do Paraguai" (Art. 2.
Constituição Nacional da República do Paraguai, 1967. Anexo V) e, por fim, aparecer na
atual constituição "ratificando a soberania e a independência nacionais" (Preâmbulo,
Constituição Nacional da República do Paraguai, 1992. Anexo VI). Afirmar-se livre é
inscrever-se na conformação histórica da América Latina, integrando-se ao conjunto de países
que, no início do século XIX, vinham declarando-se independentes. Também é neste
Regulamento de 1813 que se nomeia, pela primeira vez, Paraguai como República, o que faz
inscrever o país em uma nova rede de sentidos, pelo rompimento com a monarquia espanhola
e com o Vice-reinado do Rio da Prata, do qual fazia parte até este momento a Província do
Paraguai. Outra questão crucial que reforça essa separação é que, neste momento, também se
dissolveu o governo paraguaio, que passou a não ter mais a representação de nenhum
espanhol, como costumava ser. O Sr. José Gaspar de Francia, um civil paraguaio, juntamente
com Fulgencio Yegros passaram a constituir, nomeados neste regulamento, o governo
provisório do país. Este é outro gesto de rompimento que significa na instauração de um
poder local paraguaio em que os laços com a colônia e seus poderes são imaginariamente
dissolvidos.

Antes da nomeação do Dr. Francia e de Fulgencio Yegros, o governo da província do


Paraguai estava constituído por três governantes, dentre os quais havia um militar, o capitão
espanhol Juan Valeriano Zeballos. O Regulamento de 1813, de outro modo, faz ressoarem os
sentidos para uma organização político-militar do país. Na conformação de um novo país, a
defesa nacional é uma constante nos documentos oficiais, principalmente neste primeiro
documento, em que se expõe como a primeira preocupação dos cônsules "a conservação,

151
A partir deste ponto, diremos: Constituição da República do Paraguai, de 1844, como também aparece nas
diversas textualidades sobre as cartas magnas paraguaias. Para manter uma coerência entre a referência aos
anexos e o texto da lei que se encontra na última parte desta tese, o título será mantido como Lei que estabelece a
administração política da República do Paraguai, e demais que nela se contém.
152
Luiz Lezcano Claude é um constitucionalista, professor nas cátedras de Ciências Políticas e Direito na
Universidade Nacional de Assunção e foi Ministro da Corte Suprema de Justiça. Participou da constituinte de
1992, tendo colaborado em sua elaboração. O autor reúne seus textos publicados em uma página da internet:
Disponível em: https://luislezcanoclaude.wordpress.com. Acesso em 20 de agosto de 2014.
153
segurança, e defesa da República". (Art. 3. Regulamento de Governo, 1813. Anexo I). Esta
relação entre o governo e as forças militares aparece ainda atualmente na Constituição
Nacional de 1992 e é um ponto fundamental que coloca o chefe de governo como comandante
militar, fazendo ressignificar os sentidos para o governo, para o próprio lugar do chefe de
Estado e suas funções como defensor do território ocupado. Podemos nos perguntar, então, se
haveria um deslocamento com relação à figura do rei, que tinha como um dos seus poderes a
defesa dos castelos, sob os quais se erigia um domínio baseado na formação de um exército
próprio. Os cônsules do primeiro regulamento e os presidentes das novas nações mantêm seu
dever de defesa, mesmo após a mudança do sistema de governo. Se antes era preciso manter
os muros dos castelos protegidos e avançar para conquistar, as fronteiras dos novos espaços
territoriais, mesmo depois de imaginadas e conformadas, na lei, precisam ser protegidas e isso
é dever do chefe de Estado. Estes dizeres que circulam sobre os deveres referentes aos
diferentes chefes de Estado apontam para uma memória sobre o que é ocupar este lugar de
chefe, cujos sentidos não nascem com o sistema republicano de governo, mas fazem significar
na história, repetindo a necessidade de proteção dos muros dos novos castelos nacionais.

Deste modo, vale ressaltar que, nesse primeiro regulamento, há artigos que versam
sobre a defesa do Estado e a língua, de fato, não aparece em questão. Neste primeiro
regulamento, a língua não entra em questão. Não dizer da língua faz convocar, aparentemente,
o que seria considerado como óbvio nessas condições de produção: não é preciso se dizer
sobre a língua, afinal é a língua do poder. Apesar de não se dizer sobre a língua na República
no Regulamento Governamental de 1813, este está escrito em língua espanhola. Estar escrito
nesta língua aponta para um direcionamento de sentidos sobre a língua em que se diz da lei no
Paraguai e isto é produtivo na relação de sentidos, por deixar na ordem da evidência a língua
da lei, a língua do poder, a língua em que se garantem os direitos para os cidadãos. As línguas
indígenas não são mencionadas neste primeiro regulamento, em que este não dizer aponta
para um silenciamento (ORLANDI, 2007 [1997]) das línguas existentes no país. Deixar a
língua espanhola na ordem da evidência e não afirmar o lugar das línguas ameríndias
materializa os sentidos de dominação ideológica da língua espanhola desde a colônia até o
século XIX, em que a estas últimas se destinaria o lugar da informalidade, silenciando as
disputas linguísticas daquele espaço de enunciação (GUIMARÃES, 2005).

A primeira carta magna considerada como constituição data de 1844 e é promulgada


sob o título de Lei que estabelece a administração política da República do Paraguai. Essa

154
carta, como o Regulamento Governamental de 1813, também está escrita em língua
espanhola, marcando discursivamente uma continuidade nos dizeres sobre a lei, em que as
línguas indígenas não têm um lugar determinado nos textos oficiais.

Neste texto, já aparece uma estrutura de governo em que se designa o lugar de


Presidente da República. Instaura-se também, nesta primeira constituição, um Congresso
Nacional, bem como se estabelecem suas funções. A função militar do presidente se mantém,
mesmo que se tenha mudado o modo de escolher um governante.

É uma marca desta constituição a afirmação dos poderes nacionais. Estão


denominados no texto da carta o Congresso, as Forças Armadas e a Igreja Católica. O
Congresso Nacional é forte e tem o poder, dentre outros, de eleger o presidente do país. Há
uma mudança no modo de governo, que antes contava com dois cônsules, e que passa a ser
centralizado na figura de um presidente, eleito e apoiado em suas funções por um Congresso
Nacional conformado por 200 deputados. Denomina-se, ademais, uma Câmara de Estado,
composta pelo prelado diocesano, dois juízes e três cidadãos. Essa estrutura de governo
começa a delinear-se assemelhando-se aos moldes das constituições dos Estados Unidos e da
França, promulgadas anteriormente e que estabelecem uma primeira divisão dos poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário (CLAUDE, 2011).

Em 1844, também aparece por primeira vez uma referência à educação, no seu artigo
19, em que afirma: " Art. 19. Promueve y fomenta los establecimientos de la educación
primaria y los de ciencias mayores" 153 (Artigo 19. Lei que estabelece a administração da
República do Paraguai, 1844. Anexo II). Passado o primeiro momento da República, em que
a prioridade era a defesa das fronteiras, o Paraguai começa a estabelecer-se com uma
constituição em que se distinguem outras questões e nesse contexto inscrevem-se dois artigos
sobre a promoção da educação. É o início de uma formação intelectual nacional,
desvinculando-se, neste pequeno gesto, em mais um aspecto da metrópole e do Vice-reinado
do Rio da Prata, pois era comum no Paraguai, assim como no Brasil, que a elite cultural fosse
receber formação fora do continente (FLECHA, 2012). Embora não possamos interpretar
como um real investimento da educação nacional, o artigo constitucional faz circular outros
sentidos que dão continuidade ao projeto de independência política da nova ação. De todos os
modos, são ainda apenas dois artigos que fazem referência à educação, especificamente como

153
"Promove e fomenta os estabelecimentos da educação primária e os de ciências maiores." (Artigo 19. Lei que
estabelece a administração da República do Paraguai, 1844. Anexo II. Tradução nossa.)
155
primária, em que a referência à língua continua apagada. Uma discussão da língua de ensino
ainda não é uma questão no projeto educacional da nação, nem no projeto de nação
propriamente dito.

Já com a denominação de Constituição de 1870, a carta seguinte reafirma a liberdade e


a independência do país, bem como diz adotar para "su Gobierno la forma democrática y
representativa"154 (Art. 1. Constituição da República do Paraguai, 1870. Anexo III). No texto
desta constituição, se estabelece a religião Católica Apostólica Romana como sendo a do
Estado e se determina que o seu chefe deve ser paraguaio. O Presidente da República, para
assumir o cargo deve jurar por Deus e pela pátria.

Trata-se reiteradamente do incentivo a estrangeiros, do controle de rios e do comércio


em território nacional. Neste ponto, vale lembrar que uma constituição nacional porta uma
historicidade para além de ser considerada um documento histórico, pois faz história ao dizer
dela, fazendo significar o que está além do texto, em sua historicidade materialmente exposta
na lei. A carta magna de 1870 se inscreve no contexto histórico posterior à Guerra da Tríplice
Aliança, momento em que Brasil, Argentina e Uruguai se uniram contra o Paraguai
exatamente pela disputa dos rios que transportavam as mercadorias comercializadas no
território. Entram como atribuições do Congresso, dentre outras:

12) Arreglar definitivamente los límites de la República. 13) Proveer a la seguridad


de las fronteras; conservar el trato pacífico con los indios y promover la conversión
de ellos al cristianismo y a la civilización. (...) 19) Fijar las fuerzas de mar y tierra
que deben permanecer en pie en tiempo de paz o de guerra, establecer reglamentos
y ordenanzas para el gobierno de dicho Ejército. 155 (Art. 72, Capítulo VIII -
Atribuições do Congresso. Constituição da República do Paraguai, 1870. Anexo III.
Grifos nossos.)

O texto da constituição nacional materializa os sentidos da guerra disputada no


continente que, com a perda do Paraguai, iria alterar as fronteiras, o domínio dos rios e a

154
"seu Governo a forma democrática e representativa." (Art. 1. Constituição da República do Paraguai, 1870.
Anexo III. Tradução nossa.)
155
"12) Arrumar definitivamente os limites da República; 13) Prover a segurança das fronteiras; conservar o
trato pacífico com os índios e promover a sua conversão ao cristianismo e à civilização (...) 19) Fixar as forças
de mar e terra que devem permanecer em pé em tempo de paz, ou de guerra, estabelecer regulamentos e
ordenanças para o governo deste Exército." (Art. 72, Capítulo VIII - Atribuições do Congresso. Constituição da
República do Paraguai, 1870. Anexo III. Tradução nossa.)
156
condição do país que perde sua saída para o mar. Os sentidos sobre a Guerra da Tríplice
Aliança se repetem incessantemente na atualidade, explicando os seguintes insucessos
econômicos nacionais (GÓMEZ, 2007; FLECHA, 2012). Os discursos sobre a história do
Paraguai mostram reiteradamente a Guerra da Tríplice Aliança como marco fundamental para
a condição econômica do país na atualidade.

Para nós, importa ressaltar que, quando determinado artigo ou emenda da constituição
entram no texto oficial significa que já houve uma disputa de sentidos na história dos dizeres
que ali passam a veicular-se. Não é sem um antes, um já-lá na história se discursivizando. É
um dos sentidos que circulou e que venceu na disputa política dos sentidos.

Assim, quando afirmamos que a não presença da nomeação da língua num texto
oficial significa por si só, também estamos falando dessa disputa de sentidos. Porque as
línguas indígenas não estão contempladas no texto oficial significa pela ausência, pelos
sentidos que ali estão materializados e pelos que não estão. Como observa Orlandi (2007
[1992]), o silêncio significa não por ser falta, mas pela possibilidade de existência de outros
sentidos.

Do mesmo modo, no texto de 1870, nomeia-se Assunção como capital, onde devem
residir os poderes da República (Art. 17, Constituição da República do Paraguai, 1870.
Anexo III). É um momento de organização, de centralização do poder e de promoção do
nacional, inclusive a partir de uma capital. Outro importante marco para a formação do país e
para a instalação da capital nacional foi a inauguração do Colégio Nacional da Capital, em
1877, que tinha como objetivo promover a educação das classes de poder locais.

Dedica-se, no texto da Constituição da República do Paraguai, de 1870, um capítulo


à cidadania, em que se descrevem as possibilidades de ser reconhecido como cidadão
paraguaio. O cidadão direto, neste contexto, é significado a partir do seu nascimento em uma
relação com o território ou com a ancestralidade, bem como apresentam-se outras
possibilidades de cidadania a partir da naturalização daqueles que demonstrem viver no país
ou haver constituído laços de matrimônio.

Para naturalizarse en el Paraguay bastará que cualquier extranjero haya residido dos
años consecutivos en el país, poseyendo alguna propiedad raíz o capital en giro, o
profesando alguna ciencia, arte o industria. Este término se puede acortar siendo
casado con paraguaya, o alegando y probando servicios en provecho de la
157
República. 156 (Art. 36, Capítulo III. Constituição da República do Paraguai, 1870.
Anexo III. Grifos nossos.)

Ser cidadão implica, de acordo com o texto desta Constituição, participar do nacional,
produzindo riquezas e provando sua contribuição para o desenvolvimento da nação. Ser
cidadão não implica direitos. De acordo com este texto, no Paraguai do século XIX, cidadania
é servir à pátria em todos os sentidos, é contribuir para o projeto nacional econômica ou
cientificamente.

Pela relação com o Estado, essa construção que é a cidadania não acontece sem uma
língua. Como já trouxemos anteriormente, para ser cidadão é necessário sê-lo na língua do
Estado, liberando-se dos seus particularismos, da sua língua materna (GADET e PÊCHEUX,
1981). Contudo, em 1870, a cidadania tem outros sentidos, que se distanciam dos formulados
na Declaração dos direitos do homem e do cidadão (1789), marco fundador da Revolução
Francesa e que pregava a igualdade universal da humanidade. Em outros artigos, a carta
constitucional paraguaia afirma a vinculação com os pressupostos revolucionários franceses,
ao dedicar um capítulo ao "direito e garantias" (Capítulo II - Direitos e garantias. Constituição
da República do Paraguai, 1870. Anexo III), mas exclui do capítulo de cidadania tais direitos.
O ser 'cidadão' mostra-se diferente dos sentidos garantidos para a cidadania no texto inaugural
da Revolução Francesa.

Setenta anos se passaram até que se promulgasse uma nova constituição paraguaia.
Apenas em 1940 se promulga uma nova constituição à que se agrega o adjetivo nacional. A
Constituição Nacional do Paraguai, de 1940, oficializa um novo sentido: o Paraguai é uma
nação. O projeto nacionalista do início do século XX inscreve os dizeres da constituição nos
discursos que circulavam sobre o nacional na América Latina e institui um dizer que aparece
tanto no título, como no texto da própria carta, afirmando um trabalho de construção do
nacional.

Es asimismo indispensable dotar al Estado de facultades que le habiliten más


ampliamente a cumplir las funciones de realizar el progreso y de intervenir para

156
"Para se naturalizar no Paraguai, bastará que qualquer estrangeiro haja residido dois anos consecutivos no
país, possuindo alguma propriedade raiz ou capital de giro, ou professando alguma ciência, arte ou indústria.
Este termo pode se encurtar sendo casado com uma paraguaia, ou alegando e provando serviços em proveito da
República." (Art. 36, Capítulo III. Constituição da República do Paraguai, 1870. Anexo III. Tradução nossa.)
158
alcanzar una mayor justicia social, para orientar la economía, para racionalizar la
producción y sistematizar coherentemente el trabajo nacional. 157 (Constituição
Nacional do Paraguai, 1940. Anexo IV. Grifos nossos.)

A afirmação do projeto nacional que aparece no título e na apresentação da Carta se


reafirma em vários artigos da nova constituição, por formulações parafrásticas (ORLANDI,
2009) que vão se reorganizando ao longo do texto, fazendo surgirem combinações que têm
como base o adjetivo 'nacional', transformando-o no verbo da ação - "nacionalizar" - que
materializa o "trabalho nacional", expandindo as fronteiras dos sentidos:

El Estado podrá nacionalizar, con indemnización, los servicios públicos y


monopolizar la producción, circulación y venta de artículos de primera necesidad.158
(Art. 15. Constituição Nacional do Paraguai, 1940. Anexo IV. Grifos nossos.).

Um trabalho do nacional requer ações do governo nas diversas instâncias e, nessa


constituição, a soberania nacional aparece como um lugar de estabilização dos sentidos, como
eco que repete para firmar, como aquilo que deve ser reproduzido, ressignificado, instaurado
como verdade.

En ningún caso los intereses privados primarán sobre el interés general de la Nación
Paraguaya. Todos los ciudadanos están obligados a prestar su colaboración en bien
del Estado y de la Nación Paraguaya. La ley determinará en qué caso estarán
obligados a aceptar funciones públicas, de acuerdo con sus condiciones de idoneidad.
159
(Art. 13. Constituição Nacional do Paraguai, 1940. Anexo IV. Grifos nossos.)

157
"É também indispensável dotar o Estado de faculdades que lhe habitem mais amplamente a cumprir funções
de realizar o progresso e de intervir para alcançar uma maior justiça social, para orientar a economia, para
racionalizar a produção e sistematizar coerentemente o trabalho nacional." (Constituição Nacional do Paraguai,
1940. Anexo IV. Tradução nossa.)
158
"O Estado poderá nacionalizar, com indenização, os serviços públicos e monopolizar a produção, circulação e
venda de artigos de necessidades básicas." (Art. 15. Constituição Nacional do Paraguai, 1940. Anexo IV.
Tradução nossa.).
159
"Em nenhum caso, os interesses privados primarão sobre o interesse geral da Nação Paraguaia. A lei
determinará em que caso serão obrigados a aceitar funções públicas, de acordo com suas condições de
idoneidade." (Art. 13. Constituição Nacional do Paraguai, 1940. Tradução nossa.)
159
A personificação da nação paraguaia como aquela a quem o sujeito deve, para a qual o
sujeito precisa colaborar, promove um imaginário da nação como soberana e única. A nação
existe no discurso da lei que se materializa no texto constitucional.

O capítulo da "Cidadania" da Constituição anterior se transforma e se inscreve na nova


ordem, em que se relaciona cidadania e nação textualmente. Não se quer dizer que antes, por
não estar escrito na constituição anterior, o sentido de cidadania não se relacionava ao
nacional. Não se nomeava o nacional e, como havíamos apontado, havia uma referência ao
território, à ascendência e a um pertencimento não denominado. Neste momento de afirmação
do nacional, esses dizeres transbordam e as fronteiras passam a ser nomeadas, havendo uma
referência ao "estrangeiro". O outro é posto, neste momento histórico, como aquele que não é
paraguaio, por seu lugar de nascimento.

Los hijos de padre o madre paraguayos, nacidos en el extranjero, por el hecho de


avecindarse en el Paraguay y residir en él durante diez años seguidos. 160 (Art. 38.
Constituição Nacional do Paraguai, 1940. Anexo IV. Grifos nossos.)

Menciona-se o estrangeiro contrapondo-o ao nacional, os limites da fronteira


ultrapassavam as demarcações de terras, apontando para um outro funcionamento imaginado
do nacional (ANDERSON, 2008 [1983]), para o qual existe um funcionamento de
identificação entre o que é nosso e o que é do estrangeiro, pela oposição estabelecida
discursivamente.

Como aponta Hobsbawm (2013 [1974]), é muito produtiva a criação de símbolos


nacionais para a conformação do nacional. A Constituição de 1967 estabelece os símbolos da
pátria e avança na conformação do Paraguai como uma nação, significada nos moldes da
nação francesa:

1. El Pabellón de la Republica consistente en una bandera compuesta de tres


franjas horizontales iguales: colorada, blanca y azul, llevando de un lado, en el medio,
el Escudo Nacional, de forma circular, que se describe como una palma y una oliva
entrelazadas en el vértice y abiertas en la parte superior, resaltando en medio de ellas
una estrella y en la orla una inscripción distribuida que dice "República del Paraguay";

160
"Os filhos de paraguaios nascidos em território estrangeiro, estando o pai ou a mãe a serviço da República".
(Art. 38. Constituição Nacional do Paraguai, 1940. Tradução nossa.)

160
y en el reverso, en la misma posición, un circulo con la inscripción distribuida: "Paz y
Justicia", figurando en el centro un león en la base del símbolo de la libertad;
2. El Sello Nacional, que reproduce el escudo primeramente descripto;
3. El Sello de Hacienda, que reproduce el escudo del reverso del Pabellón, más
la inscripción que dice: "República del Paraguay", en la orla;
4. El Himno Nacional, cuyo coro comienza con la frase: "Paraguayos, Republica
o muerte";
5. La composición musical "Campamento Cerro León". 161 (Art. 4. Constituição
da República do Paraguai, 1967. Anexo V. Grifos nossos.)

Dentre os símbolos da República, a língua não aparece, neste momento como símbolo
nacional. Podemos afirmar que, em mais de 150 anos, há um silenciamento das línguas do
Paraguai, o que aponta um não lugar para estas, pela impossibilidade de dizer sobre o
indígena no texto oficial, não se diz das suas línguas, menos ainda do lugar da língua
espanhola nesta sociedade.

É então somente na Constituição de 1967 que se inclui um artigo que em que se cita o
guarani como língua a ser protegida, tal como os demais elementos culturais do país.

El Estado fomentará la cultura en todas sus manifestaciones. Protegerá la lengua


guaraní y promoverá su enseñanza, evolución y perfeccionamiento. Velara por la
conservación de los documentos, las obras, los objetos y monumentos de valor
histórico, arqueológico o artístico que se encuentren en el país, y arbitrara los medios
para que sirvan a los fines de la educación. 162 (Art. 92. Constituição da República do
Paraguai, 1967. Anexo V. Grifos nossos.)

A língua guarani entra em discussão, neste momento, no desenvolvimento do artigo


que trata do fomento das manifestações culturais. Além disso, tal como descrito no artigo em
questão, será promovida para que seja ensinada e para que possa evoluir e aperfeiçoar-se.
Essa visão biologicista da língua remete a um discurso de que há línguas mais evoluídas que

161
"1. O Pavilhão da República consiste em uma bandeira composta por três faixas horizontais iguais: vermelha,
branca e azul, levando de um lado, no meio, o Escudo Nacional, de forma circular, que se descreve como uma
palma e uma oliva entrelaçadas no vértice e abertas na parte superior, ressaltando no meio delas uma estrela e na
borda uma inscrição distribuída que diz 'República do Paraguai'; e no reverso, na mesma posição, um círculo
com a inscrição distribuída: 'Paz e Justiça', figurando no centro um leão na base do símbolo da liberdade; 2. O
Selo Nacional, que reproduz o escudo primeiramente descrito; 3. O Selo de Fazenda, que reproduz o escudo do
reverso do Pavilhão, mas a inscrição que diz: "República do Paraguai", na borda; 4. O Hino Nacional, cujo coro
começa com a frase: "Paraguaios, República ou morte"; 5. A composição musical 'Acampamento Cerro León'."
(Art. 4. Constituição da República do Paraguai, 1967. Anexo V. Tradução nossa.)
162
"O Estado fomentará a cultura em todas as suas manifestações. Protegerá a língua guarani e promoverá seu
ensino, evolução e aperfeiçoamento. Velará pela conservação dos documentos, as obras, os objetos e
monumentos de valor histórico, arqueológico ou artístico que se encontrem no país, e arbitrará os meios para que
sirvam aos fins da educação." (Art. 92. Constituição da República do Paraguai, 1967. Tradução nossa.)
161
outras, relacionando a língua indígena aos sentidos historicamente produzidos sobre línguas
primitivas e atrasadas, pela oposição às línguas europeias, em especial a língua espanhola no
caso paraguaio, posta como oficial, discursivamente significada como civilizada e superior.
As línguas indígenas, por sua vez, são significadas como patrimônio cultural, pela inscrição
em uma rede de sentidos em que cultura aparece como folclore e que, ainda no século XX, faz
significar as línguas pelo desprestígio na relação com o colonizador e sua língua. O artigo 92,
conjugado ao artigo 5º, mostra o lugar da língua indígena frente ao espanhol, pois é esta a
língua descrita e promovida como língua oficial na mesma constituição.

Los idiomas nacionales de la República son el español y el guaraní. Será de uso


oficial el español. 163 (Art. 5. Constituição da República do Paraguai, 1967. Grifos
nossos.)

À língua guarani cabe ocupar o lugar de patrimônio, em uma relação que,


discursivamente, pela própria lei, se explica o lugar que ocupa, por precisar evoluir e
aperfeiçoar-se. Inscreve-se, assim, a língua no discurso da colonização, em que às línguas
indígenas faltavam sons, faltava quem a compreendesse, por não expressarem como
deveriam. É um confronto entre atualidade e memória, entre atualidade e uma memória de
silenciamento, de apagamento que afetou essa língua guarani, afetou seu funcionamento, sua
matéria linguística.

Embora reconhecida como língua nacional, de amplo uso no espaço paraguaio, o


guarani, de acordo com a lei, não alcançou o avanço necessário para ser língua da educação,
precisa ser promovida e aperfeiçoada para tal. Não se discute, deste modo, que o modelo de
educação proposto é também importado da colônia, tal como a língua que se adequa a tal
modelo, e que, nesta relação, a língua guarani - e toda língua de origem indígena - será
sempre considerada atrasada frente ao modelo europeu, por ter historicamente uma formação,
principalmente no léxico, que não condiz com aquilo que deve ser ensinado164.

Assim, podemos afirmar que há aí uma distinção importante em que se aponta para a
diferença entre os idiomas nacionais, guarani e espanhol, e o idioma de uso oficial, somente o
espanhol. Estar reconhecido como língua nacional não possibilita ao guarani o status de

163
"Os idiomas nacionais da República são o espanhol e o guarani. Será de uso oficial o espanhol." (Art. 5.
Constituição da República do Paraguai, 1967. Anexo V. Tradução nossa.)
164
Apontamos para esta questão na primeira seção deste capítulo.
162
língua oficial. A língua do governo é a língua do colonizador. Ao confrontarmos este artigo ao
citado anteriormente (Art. 92. Constituição da República do Paraguai, 1967. Anexo V),
podemos afirmar que, nos dizeres presentes nesta constituição, a língua guarani precisa
aperfeiçoar-se e evoluir frente ao espanhol que já é A língua. Por este motivo, ao guarani lhe é
destinado este lugar cultural reconhecido nacionalmente, mas não uma língua que possa
ocupar um lugar do Estado. Lembramos, neste ponto, que, para ser cidadão, o sujeito deve
falar a língua do Estado. De acordo como Guimarães (1996), no período do Brasil Império, os
sentidos para "cidadão" circundavam as formulações sobre "cidadania" como civilização. É
nesta língua, na língua "civilizada" do Estado, que o sujeito pode/deve exercer sua cidadania
nos diversos âmbitos institucionais.

Na última constituição do Estado paraguaio, promulgada em 1992, dois artigos


chamam a atenção para a questão da língua, o Artigo 77 e o 140. Houve uma mudança com
relação ao texto da constituição anterior, já que neste, segundo o artigo 140, o guarani passa a
ser reconhecido oficialmente, tal como já acontecia com o espanhol na constituição anterior.

El Paraguay es un país pluricultural y bilingüe. Son idiomas oficiales el castellano y el


guaraní. La ley establecerá las modalidades de utilización de uno y otro.
Las lenguas indígenas, así como las de otras minorías, forman parte del patrimonio
cultural de la Nación. 165 (Art. 140. Constituição da República do Paraguai, 1992.
Anexo VI. Grifos nossos.)

Mesmo tendo seu reconhecimento como língua oficial, a utilização do guarani será
regulada pelo Estado que "establecerá las modalidades de utilización de uno y otro". Cabe
dizer aqui que há uma questão da qual não se diz, mas que faz parte do funcionamento de toda
língua oficial ser regulada pelo Estado.

Vale ressaltar ainda que aí irrompe um novo sentido para o guarani, que passa, então, a
disputar os sentidos para língua oficial. Após uma primeira inserção no texto anterior como
língua nacional, neste novo documento, o guarani ocupa já o lugar de língua oficial.

165
"O Paraguai é um país pluricultural e bilíngue. São idiomas oficiais o castelhano e o guarani. A lei
estabelecerá as modalidades de utilização de um e outro. As línguas indígenas, assim como as de outras minorias
fazem parte do patrimônio, cultural da nação." (Art. 140. Constituição da República do Paraguai, 1992. Anexo
VI. Tradução nossa.)
163
Uma indicação desta disputa se representa no ensino. A partir desta constituição de
1992, se entende que a língua guarani passará a fazer parte do sistema educativo paraguaio, o
que já aponta não só uma manutenção da língua, ou uma necessidade que se a estude para que
"evolua", mas para um efeito de reconhecimento que se materializa nos dizeres que
significam esta língua no lugar do ensino em língua materna.

La enseñanza en los comienzos del proceso escolar se realizará en la lengua oficial


materna del educando. Se instruirá asimismo en el conocimiento y en el empleo de
ambos idiomas oficiales de la República
En el caso de las minorías étnicas cuya lengua materna no sea el guaraní, se podrá
elegir uno de los dos idiomas oficiales. 166 (Art. 77. Constituição da República do
Paraguai, 1992. Anexo VI. Grifos nossos.)

Outro artigo importante, o Art. 18, não trata diretamente da questão linguística,
contudo nele já se mostra pela ação como política de língua do Estado. A constituição
paraguaia, segundo este artigo, será distribuída nas duas línguas oficiais. De todo modo, o que
parece ser ressaltado é o fato de que, em caso de dúvida, prevalece a versão em língua
espanhola. Nesta disputa dos sentidos para a qual apontamos anteriormente, o espanhol ainda
parece ocupar um lugar mais privilegiado que o lugar do guarani.

Art. 18. El Poder Ejecutivo dispondrá de inmediato la edición oficial de 10.000


ejemplares de esta Constitución en los idiomas castellano y guaraní.
En caso de duda de interpretación, se estará al texto redactado en idioma
castellano.
A través del sistema educativo, se fomentará el estudio de la Constitución Nacional.167
(Art. 18. Constituição da República do Paraguai, 1992. Anexo VI. Grifos nossos.)

Podemos retomar, ainda com relação a este artigo, uma discussão que trouxemos no
capítulo 2, sobre as políticas de plurilinguismo. Como trouxemos naquele capítulo, baseados
166
"O ensino nos começos do processo escolar será realizado na língua oficial materna do educando. Ensinar-se-
á do mesmo modo o conhecimento e o emprego de ambos os idiomas oficiais da República. No caso das
minorias étnicas cuja língua materna não seja o guarani, poderá ser eleito um dos idiomas oficiais." (Art. 77.
Constituição da República do Paraguai, 1992. Anexo VI. Tradução nossa.)
167
"O Poder Executivo disporá de imediato a edição de 10.000 exemplares desta Constituição nos idiomas
castelhano e guarani. Em caso de dúvida de interpretação, será considerado o texto redigido em castelhano.
Através do sistema educativo, se fomentará o estudo da Constituição Nacional." (Art. 18. Constituição da
República do Paraguai, 1992. Anexo VI. Tradução nossa.)

164
nas considerações de Orlandi (2008), Mariani (2008b), Branco (2013), observamos que o
guarani estar representado no texto constitucional como língua oficial não é necessariamente
garantia do seu reconhecimento. No texto do artigo 18, se promove uma hierarquização no
próprio status das línguas, já que ambas, o guarani e o espanhol, são oficiais, contudo " En
caso de duda de interpretación, se estará al texto redactado en idioma castellano", colocando
textualmente o espanhol no lugar de primeira versão, daquela em que a lei deve figurar. A
língua guarani continua aparecendo como coadjuvante na relação de forças, no próprio
reconhecimento da sua oficialidade que faz significar a língua espanhola como primeira opção
ou opção mais correta, aquela a que se deve recorrer como palavra final. No recorte por nós
apresentado, podemos falar desse funcionamento de hierarquização em que se "edita" a
constituição nacional em ambas as línguas, mas que, no mesmo gesto de reconhecimento e
determinação pela lei, se organiza as línguas assimetricamente, evidenciando as relações de
poder aí existentes.

O percurso de leitura que fizemos nesta seção buscou compreender como,


discursivamente, as constituições nacionais do estado paraguaio tratam da questão das línguas
guarani e espanhola em suas determinações. Pela discussão estabelecida sobre o
silenciamento do lugar das línguas indígenas no Paraguai, desde o primeiro Regulamento
Governamental, de 1813 até o reconhecimento da língua guarani como língua oficial, em uma
situação de disputa com a língua espanhola, na atual carta promulgada em 1992, fomos
tentando compreender as relações estabelecidas entre a conformação do Estado paraguaio em
sua relação com as línguas e os cidadãos. Para tanto, passamos pela própria conformação e
reconhecimento da república e do nacional no texto constitucional, pelo nome das cartas,
analisando a historicidade dos processos de produção de sentidos sobre as línguas nos dizeres
oficiais. Lemos os textos constitucionais como discurso, entendendo que os efeitos de
sentidos aí se produzem historicamente, materializando dizeres sobre as línguas e sobre a
nação que circulavam em determinado momento histórico. Além disso, considerar o texto
constitucional como discurso nos permite compreender na memória os sentidos que nele se
textualizam, significando a língua guarani como primitiva e atrasada em oposição à língua
espanhola. Dizer que a língua guarani precisa aperfeiçoar-se, por exemplo, e não dizer da
língua espanhola, faz atualizar-se, pelos dizeres inscritos na memória sobre as línguas, os
sentidos que já circulavam sobre as línguas indígenas desde a colonização.

165
Buscamos, nesse primeiro gesto de leitura (ORLANDI, 2010 [1994]) sobre as
constituições, retomar algumas questões já formuladas anteriormente, entendendo que o texto
oficial funciona como um gesto político ao fazer circular sentidos sobre as línguas do
Paraguai. Pela historicidade que porta o texto constitucional, significada como força de lei,
trazemos a constituição atual, promulgada em 1992, para entender como se atualizam os
dizeres sobre as línguas, entendendo-a como primeiro gesto de oficialização da língua
indígena e como um marco para as políticas de línguas pró-bilinguismo que se seguem
cronologicamente.

Passaremos, nas próximas seções, à análise de outros três textos que dizem sobre as
línguas e que textualizam sentidos para o lugar das línguas indígenas na educação e nos
diversos âmbitos da sociedade paraguaia: A Lei Geral de Educação nº 1264/1998, a Lei n°
3231/2007, que cria a Direção Geral De Educação Escolar Indígena e a Lei de Línguas, nº
4251/2010.

4.3 OS DIZERES SOBRE A EDUCAÇÃO NA FORMA DA LEI

Para muitos paraguaios aprender o castelhano na escola foi um


suplício. Milhares de crianças sofreram castigos corporais por causa
de sua suposta lerdeza; e na verdade a maioria de nós se comportava
como lerdos porque o sistema educativo nos traiu; nos submeteu a um
processo de castelhanização forçoso em nome da alfabetização. O
sistema não respeitou nossa língua materna na etapa inicial do
processo; mudou nosso código linguístico familiar ao ingressar na
escola; nos tratou com violência psicológica e brutalidade. 168
(ZARRATEA, 2011)

A Lei nº 1264, nomeada de Lei Geral de Educação, foi aprovada em 1998 e regula
desde então a educação no Paraguai. Esta lei, que é posterior à atual constituição nacional do
Paraguai, datada de 1992, e, a partir da leitura do seu texto, procuramos entender como os
dizeres sobre a oficialização da língua guarani se inscrevem em uma lei que funciona como

168
"Para muchos paraguayos aprender el castellano en la escuela ha sido un suplicio. Miles de niños sufrieron
castigos corporales por causa de su supuesta torpeza; y en verdad nos comportábamos como torpes la mayoría
porque el sistema educativo nos ha traicionado; nos ha sometido a un proceso de castellanización forzoso en
nombre de la alfabetización. El sistema no ha respetado nuestra lengua materna en la etapa inicial del proceso;
nos ha cambiado el código lingüístico familiar al ingresar a la escuela; nos ha tratado con violencia psicológica y
brutalidad." (ZARRATEA, 2011)
166
marco para políticas educacionais no país. Posterior à Lei Geral de Educação, foi promulgada
a Lei n° 3231/2007, que cria a Direção Geral De Educação Escolar Indígena, à qual também
recorreremos nesta seção de análise, sempre em cotejo com os dizeres das Código Civil
paraguaio.

Para nós, a escola é um lugar sócio-histórico privilegiado no que diz respeito à


transformação ou manutenção no status de determinada língua, por ser onde as disputas entre
os sentidos sobre as línguas tomam sua forma institucional, na relação com o Estado, em um
processo que pode mudar os dizeres sobre as línguas, promovendo-as à língua de cultura, por
exemplo. É então por entender que uma lei de educação promove políticas de línguas num dos
mais importantes aparelhos de Estado (ALTHUSSER, 2003 [1971]), a escola, que tomamos
estes textos para compor nossa tese.

Como afirma Campos,

Acredito que a nenhum de nós escapa a relação que há entre língua e escola. A
escola é centro de transmissão, reprodução e criação de conhecimentos e,
portanto, também de línguas. Na escola (além do seio familiar) se aprendem e
aperfeiçoam as línguas; por exemplo, se aprende leitura e escrita, se enriquece o
vocabulário, se consolida a sintaxe e as matérias devem ser transmitidas em uma
169
ou outra língua . (CAMPOS, 2010, p. 149-150. Tradução nossa. Grifos nossos.)

A escola, no lugar de instituição, no seu papel ideológico formador, o faz em uma


língua, circunscrevendo os sentidos sobre as línguas na relação com o conhecimento. Desse
modo, podemos afirmar que os dizeres sobre as línguas e o seu lugar na escola apontam para
o lugar institucional que ocupam - ou devem ocupar - a língua espanhola e a língua guarani no
ensino, pela divulgação do conhecimento científico, pela associação com o nível de
escolaridade em que se determina o uso de uma ou outra língua, ou ainda pelo investimento
nos setores da educação que, a nosso ver, podem fazer deslizar os sentidos sobre determinada
língua na história.

169
"Creo que a ninguno de nosotros se nos escapa la relación que hay entre lengua y escuela. La escuela es
centro de transmisión, reproducción y creación de conocimientos y, por tanto, también de lenguas. En la escuela
(más allá del seno familiar) se aprenden y perfeccionan las lenguas; por ejemplo, se aprende lectura y escritura,
se enriquece el vocabulario, se afianza la sintaxis y las asignaturas deben transmitirse en una u otra lengua."
(CAMPOS, 2010, p. 149-150)
167
4.3.1 A Lei Geral de Educação nº 1264/1998

A Lei Geral de Educação está composta por 161 artigos, dentre os quais recortamos,
em um primeiro gesto de análise, o artigo 9º que versa sobre os fim do sistema educativo
nacional.

Son fines del sistema educativo nacional:


a) el pleno desarrollo de la personalidad del educando en todas sus dimensiones, con el
crecimiento armónico del desarrollo físico, la maduración afectiva, la integración
social libre y activa;
b)el mejoramiento de la calidad de la educación;
c) la formación en el dominio de las dos lenguas oficiales;
d) el conocimiento, la preservación y el fomento de la herencia cultural,
lingüística y espiritual de la comunidad nacional.170 (Art. 9. Lei Geral de Educação,
1998. Anexo VII. Grifos nossos.)

"A formação no domínio das duas línguas oficiais", no item 'C', se refere diretamente
ao texto da constituição de 1992 ao colocar como evidentes quais os nomes das línguas
oficiais do país. O nome da língua guarani e o nome da língua espanhola não aparecem
designadas e não se diz sobre suas funções no ensino. Parte como da ordem do já-dado o lugar
das línguas ou, dito de outro modo, se apagam as disputas que se travaram para que se
pudesse afirmar "das duas línguas oficiais". O lugar da instituição escolar que passa a ser
ocupado, pela representação, nesta lei, pela língua guarani na escola, fica apagado em uma
relação que se supõe como de igualdade, em que há duas línguas oficiais no país e que ambas
serão ensinadas na escola. A generalização deste item reformula na ordem do dito os
silenciamentos impostos à língua indígena na construção da história nacional (ORLANDI
2008 [1990]) e na conformação de duas línguas oficiais. Não dizer é também fazer circularem
sentidos e não dizer sobre a língua indígena, em um momento de sua afirmação como língua
oficial, é inscrever-se na memória de uma naturalização dos lugares das línguas, como se o
lugar de língua oficial fosse resultado já superado de uma disputa no político.

170
"São fins do sistema educativo nacional: a) o pleno desenvolvimento da personalidade do educando em todas
as suas dimensões, com o crescimento harmônico físico, o amadurecimento afetivo, a integração social livre e
ativa; b) a melhora da qualidade da educação; c) a formação no domínio das duas línguas oficiais; d) o
conhecimento, a preservação e o fomento da herança cultural, linguística e espiritual da comunidade nacional.
(Art. 9. Lei Geral de Educação, 1998. Anexo VII. Tradução nossa.)
168
Tanto na constituição nacional vigente como no artigo 9º da Lei Geral de Educação,
se projeta a imagem do investimento no sistema educativo de um país bilíngue, em um estado
que, pelo imaginário do bilinguismo, parece promover a igualdade, equiparando as línguas
oficiais no texto legal, como apresentado no item 'C'.

Ao elencar os fins do sistema educativo, os itens 'C' e 'D' parecem dialogar por uma
relação de complementaridade, em que se remonta a um passado de "herança cultural,
linguística e espiritual da comunidade nacional", sem, mais uma vez, discriminar a que se
refere esta "herança linguística", cujos sentidos se ancoram numa rede que faz remeter às
línguas indígenas, línguas dos ancestrais. É pelo gesto do analista na construção, organização
e leitura do arquivo que, na dispersão, os dizeres significam. Ao recorrer ao texto da atual
Constituição da República do Paraguai, lê-se, em seu artigo 140 "de los idiomas":

El Paraguay es un país pluricultural y bilingüe."


Son idiomas oficiales el castellano y el guaraní. La ley establecerá las modalidades de
utilización de uno y otro. Las lenguas indígenas, así como las de otras minorías,
forman parte del patrimonio cultural de la Nación.171. (Art. 140. Constituição da
República do Paraguai, 1992. Anexo VI. Grifos nossos.)

No texto constitucional, fazem parte do patrimônio cultural as línguas indígenas, em


uma hierarquização em que, textualmente, a língua guarani não é citada ao lado das demais
como herança e patrimônio cultural. Na oposição aí colocada, se repetem os sentidos já
apontados por Rodríguez-Zucolillo (2000) que insere a discussão sobre a língua guarani nas
reivindicações dos escritores americanistas do início do século XX. De acordo com
Rodríguez-Zucolillo

a reivindicação do guarani no Paraguai apresenta-se, à primeira vista, como um


exemplo paradigmático dessa reivindicação americanista, em sua versão indigenista
mais radical. A língua indígena, antes excluída, não só é neles incorporada e
elevada a um estatuto de igualdade junto à língua europeia, num amplo
reconhecimento da realidade 'bilíngue', 'bicultural' do país, como inclusive
adquire um estatuto mais elevado, ao ser instituída como o símbolo mais
genuíno da identidade nacional, ficando o espanhol, nesse sentido, relegado a um
segundo plano. (2000, p. 50. Grifos em negrito nossos. Itálicos da autora.)

171
"O Paraguai é um país pluricultural e bilíngue. São idiomas oficiais o castelhano e o guarani. A lei
estabelecerá as modalidades de utilização de um e outro. As línguas indígenas, assim como as de outras
minorias, fazem parte do patrimônio cultural da Nação." (Art. 140. Constituição da República do Paraguai,
1992. Anexo VI. Tradução nossa.)

169
De acordo com Rodríguez-Zucolillo (ibidem), a língua guarani é incorporada e
elevada, discursivamente, a uma condição de igualdade com relação à língua espanhola,
inclusive superando-a imaginariamente, neste contexto, por ser uma língua de origem
indígena, pelas reivindicações americanistas, o "símbolo da identidade nacional". O mesmo
primitivismo que a língua indígena tivera superado para equiparar-se, no discurso
evolucionista, à língua espanhola, daria ao guarani uma vantagem em relação à língua
europeia, por carregar o espírito da nação. Nesse jogo que faz significar o mesmo pela ordem
do diferente, a língua guarani aparece como se tivesse superado seu primitivismo para igualar-
se ao espanhol, seu primitivismo aparece como uma característica positiva que a significa, na
ordem da história, como a capaz de incorporar o espírito do novo continente. Uma língua de
origem indígena que não se iguala mais às demais línguas indígenas, igualando-se em uma
situação de bilinguismo como a língua do colonizador, mas que, contraditoriamente, carrega o
espírito das demais línguas indígenas por ser capaz de representar um sentimento de apreço
nacional e, inclusive, continental. Segundo Rodríguez-Zucolillo (ibidem), os discursos dos
escritores americanistas do início do século XX sustentarão, desse modo, os diversos
trabalhos da sociolinguística que surgiram sobre a situação do Paraguai na América Latina
posteriormente, que passaram a tratar o Paraguai pelo ineditismo da língua indígena no
continente americano.

Imaginariamente, nos discursos que circulam sobre a língua guarani, esta ainda
aparece como a língua da identidade nacional, língua que deve ser preservada e promovida,
nesse duplo jogo dos sentidos, que a faz significar ora como superior às demais línguas
indígenas, numa relação de suposta equivalência com a língua espanhola, ora como língua do
espírito nacional, fazendo ressoar os sentidos de um nacionalismo pela língua, que a promove
como a língua da identidade nacional do Paraguai. Como nos dois recortes apresentados, da
Lei Geral de Educação e da Constituição de 1992, os dizeres sobre a língua guarani se
inscrevem na memória de uma reivindicação de uma identidade nacional, que a iguala
imaginariamente à língua espanhola, significando as demais línguas como inferiores. No item
'D', do artigo 9º, da Lei Geral de Educação, " el conocimiento, la preservación y el fomento
de la herencia cultural, lingüística y espiritual de la comunidad nacional", textualmente, se
refere às línguas indígenas, excluindo aí o guarani. Entretanto, pela historicidade dos
discursos sobre a língua guarani estes dizeres fazem ressoar os sentidos para a língua guarani
do início do século XX.

170
Ainda no artigo 9º desta mesma lei, lê-se: "la formación en el dominio de las dos
lenguas oficiales ". Com relação ao que se diz, é preciso equivocar os sentidos do que seria o
"domínio" das línguas oficiais, por colocar-se na ordem da evidência, nesta relação de
igualdade, que ambas as línguas serão tratadas de igual maneira na escola e que a formação do
alunado será pelo domínio das duas. Lembremos que no Paraguai, como estabelecido pela
própria Lei Geral de Educação, há três níveis distintos referentes à formação escolar:
educação inicial/educação básica, educação média e educação superior 172. Pela determinação
desta Lei, calcada nos dizeres da Constituição da República do Paraguai de 1992, a educação
inicial é realizada em língua materna.

La enseñanza se realizará en la lengua oficial materna del educando desde los


comienzos del proceso escolar o desde el primer grado. La otra lengua oficial se
enseñará también desde el inicio de la educación escolar con el tratamiento didáctico
propio de una segunda lengua.173 (Art. 31. Lei Geral de Educação, 1998. Anexo VII.
Grifos nossos.)

O artigo 31 se insere no capítulo referente à educação inicial, garantindo à língua


materna, qual seja, o lugar do ensino neste período de alfabetização, entendido como uma
iniciação do aluno no sistema escrito. Há uma equiparação, no nível do ensino, do uso das
línguas maternas, sem especificar qual seriam as possíveis para o ensino, que fica justificado
pela constituição de 1992.

La enseñanza en los comienzos del proceso escolar se realizará en la lengua oficial


materna del educando. Se instruirá asimismo en el conocimiento y en el empleo de
ambos idiomas oficiales de la República. En el caso de las minorías étnicas cuya
lengua materna no sea el guaraní, se podrá elegir uno de los dos idiomas
oficiales.174 (Art. 77. Constituição da República do Paraguai, 1992. Anexo VI. Grifos
nossos.)

172
"La educación formal se estructura en tres niveles. El primer nivel comprenderá la educación inicial y la
educación escolar básica; el segundo nivel, la educación media; el tercer nivel, la educación superior." (Art. 27.
Lei Geral de Educação, 1998. Anexo VII)
173
"O ensino se realizará na língua oficial materna do educando desde o início do processo escolar ou desde o
primeiro grau. A outra língua oficial também será ensinada desde o início da educação escolar com o tratamento
didático próprio de uma segunda língua" (Art. 31. Lei Geral de Educação, 1998. Anexo VII. Tradução nossa.)
174
"O ensino no início do processo escolar se realizará na língua oficial materna do educando. Será instruído do
mesmo modo no conhecimento e no emprego de ambos os idiomas oficiais da República. No caso das minorias
étnicas cuja língua materna não seja o guarani, se poderá escolher um dos idiomas oficiais." (Art. 77.
Constituição da República do Paraguai, 1992. Anexo VI. Tradução nossa.)
171
É garantido o ensino em língua materna, desde que nas duas línguas oficiais do país,
como afirma o texto constitucional: "En el caso de las minorías étnicas cuya lengua materna
no sea el guaraní, se podrá elegir uno de los dos idiomas oficiales" (Art. 77. Constituição da
República do Paraguai, 1992. Tradução nossa.). A comparação é feita numa relação que
iguala e diferencia ao mesmo tempo as línguas indígenas. Supõe- se a língua espanhola como
uma das línguas maternas e no caso dos demais alunos que não têm a língua guarani
sobrepõe-se a língua guarani àquelas não privilegiadas.

Pela perspectiva sociolinguística, Calvet (2007), ao tratar da realidade de países


plurilíngues, aponta para as dificuldades em se promover as funções de ensino onde há
falantes de muitas línguas nacionais, como é o caso do Senegal. Para o autor, haveria duas
escolhas possíveis, baseadas no princípio de "territorialidade" e "personalidade". Pelo
princípio de territorialidade, se dividiria o país em regiões e nas escolas se ensinaria a língua
predominante do local. Haveria, então, provavelmente, falantes de outras línguas nacionais,
moradores de determinadas regiões, não contemplados pelo sistema de ensino. Pelo princípio
de personalidade, falantes das diversas línguas nacionais teriam direito a um sistema escolar
em sua língua, em qualquer região do país, que implicaria em um aumento do investimento
nas diferentes escolas, já que em todos os territórios deveria haver escolas em todas as
línguas. Há aí uma questão, como já formulado por Mariani (2008b), em que o valor de uma
língua atravessa questões da economia pela necessidade de investimento em um país
plurilíngue. A autora aponta para os custos econômicos de se promover um país plurilíngue,
perguntando, inclusive, sobre o custo de ser falante de uma língua minoritária, como
abordamos no segundo capítulo.

No caso paraguaio, há escolas indígenas nas regiões onde se falam outras línguas que
não as oficiais, mas o ensino aí toma como ponto a língua guarani, que funciona como a
língua da interdição das demais línguas nestes espaços. Tomando a impossibilidade
econômica do Paraguai de investir em diferentes escolas para os diferentes grupos,
independente dos princípios de territorialidade e de personalidade estabelecidos pela
sociolinguística (CALVET, 2007), queremos apontar para a própria educação em língua
guarani e em língua espanhola, ou seja, para o investimento nas duas línguas oficiais do
Paraguai, ressaltando que esta situação já silencia todas as outras línguas não contempladas
neste processo.

172
Os dizeres que se textualizam no artigo 77 da Constituição, de 1992, e que se repetem
no artigo 31 da Lei Geral de Educação marcam limites para o ensino da língua materna. O
que não se diz e que ressoa é que, nos outros níveis de ensino, não há a opção do ensino em
língua materna quando é esta a língua guarani. Na escola paraguaia, ao falante de língua
guarani lhe é permitido, nos termos da lei, o ensino em língua materna nos primeiros anos do
processo escolar, não sendo promovido, efetivamente, o ensino em língua guarani até o final
do ciclo básico, médio e menos ainda no superior175. O ensino de guarani fica restrito a um
período escolar que não garante, por exemplo, uma mudança na condição social e econômica
do falante.

[Os falantes de guarani] são objeto da falta de equidade no sistema educativo


paraguaio, que no currículo e na metodologia aplicada, brinda maiores
possibilidades de conquistas educativas aos hispano-falantes, sobretudo nos anos de
educação formal, por outro lado, os guarani-falantes têm menos acesso ao
emprego, ao manejo com maior ductilidade dos novos meios de informação,
176
acessam em menor grau os espaços consagrados à deliberação política etc.
(CAMPOS, 2010, p 148-149. Tradução nossa. Grifos nossos.)

De acordo com Campos (ibidem), falar em guarani restringe os espaços possíveis de


ser ocupados, não somente na relação com o trabalho e com a ascensão econômica, mas com
relação ao acesso a diferentes âmbitos do social, como os meios de comunicação e as decisões
políticas. Falar somente o guarani na sociedade paraguaia atual significa não participar
diversos momentos na exposição diária aos temas cotidianos que são feitos pelos meios de
comunicação em massa, em sua maioria, em espanhol. Como exemplo, podemos lembrar que
há somente um noticiário diário na televisão totalmente em língua guarani no Paraguai,
veiculado às cinco horas da manhã. Há ainda um noticiário diário que apresenta a compilação
de dez minutos das notícias ditas mais importantes em língua guarani177. Deste modo, embora
a maioria da população declare seus lares como majoritariamente de falantes de guarani, a
realidade que os cerca, mesmo em seu ambiente familiar, está em língua espanhola. As placas
de informações na cidade de Assunção também estão em língua espanhola, com algumas

175
Há cadeiras de ensino de língua guarani na Universidade Nacional de Assunção.
176
"Son objeto de la falta de equidad en el sistema educativo paraguayo, que en el currículo y la metodología
aplicada, brinda mayores posibilidades de logros educativos a los hispano hablantes sobre todo en los años de
educación formal, por otro lado, los guaraní hablantes tienen menos acceso al empleo, al manejo con mayor
ductilidad de los nuevos medios de información, acceden en mejor grado a los espacios consagrados a la
deliberación política etc."
177
http://www.marandudigital.com.py/
173
exceções, para placas em de propagandas que utilizam o guarani ou placas do governo em
determinados lugares públicos como o aeroporto, desejando uma boa chegada aos visitantes
em língua guarani. Além disso, a sinalização local, as placas dos locais e também as
informativas estão língua espanhola, para citar alguns exemplos178 (CORVALÁN, 2005).

Assim, o ensino de língua guarani fica restrito à educação básica, não aparecendo
como obrigatório nos demais níveis de ensino. As cadeiras de língua guarani tanto no ensino
médio, como nas carreiras universitárias aparecem como uma cadeira de língua, tal como as
destinadas às línguas estrangeiras. Ou seja, se ensina a língua guarani e não se ensina na
língua. No ensino médio e superior, quanto maior o nível de ensino é a língua espanhola
aquela que serve como língua da cultura, do conhecimento e da ciência. Na escola, como
apontamos anteriormente, os materiais didáticos das disciplinas de Biologia, História e
Matemática, por exemplo, são em língua espanhola. O ensino em língua guarani aparece
como um trampolim para a língua espanhola, como se o uso do guarani servisse de base para
o ensino da outra língua oficial, que posteriormente, passa ser a língua dominante em todo o
ambiente escolar.

Hamel (2000), ao tratar da educação indígena no México, afirma que

se reconhece a existência das culturas e línguas como problema e obstáculo para


alcançar os objetivos curriculares. Ademais, como modelo linguístico e educativo,
não se destina nenhum espaço específico nem à língua materna nem à aquisição do
espanhol como L2 no currículo. Reconhecemos neste modelo o caso típico da
educação que prevaleceu durante muitos anos no Sistema de Educação
Indígena em México, primeiro relacionado com o conceito de castelhanização e
posteriormente de educação bilíngue. Estes programas prometem uma aquisição
plena da língua nacional como L2 e dos conteúdos curriculares transmitidos através
dela, para colocar aos alunos indígenas, supostamente, no mesmo nível que os
alunos monolíngues da sociedade dominante, e oferecer-lhes assim as mesmas
oportunidades educativas e laborais. Subjaz uma visão do monolinguismo como
única via de desenvolvimento: a língua materna tem que ceder para forjar a
língua dominante. Sabemos, entretanto, que os resultados destes programas foram
sumamente pobres e insatisfatórios, tanto em regiões indígenas como em países
industrializados com população imigrante (Cummins, 1989; Chiodi, 1990; López,
1995; Hamel, 1988). Em geral, os objetivos propostos não são alcançados e se
179
produz um bilinguismo reduzido e empobrecedor. (ibidem, p. 142. Tradução
nossa. Grifos nossos.)

178
Melià também tratou do uso da língua guarani entre os políticos. Cf. Melià, 1999.
179
"Se reconoce la existencia de las culturas y lenguas como problema y obstáculo para alcanzar los objetivos
curriculares. Además, como modelo lingüístico y educativo, no le asigna ningún espacio específico ni a la lengua
materna ni a la adquisición del español como L2 en el currículo. Reconocemos en este modelo el caso típico de
la educación que ha prevalecido durante muchos años en el Sistema de Educación Indígena en México, primero
relacionado con el concepto de castellanización y posteriormente de educación bilingüe. Estos programas
prometen una adquisición plena de la lengua nacional como L2 y de los contenidos curriculares transmitidos a
través de ella, para colocar a los alumnos indígenas, supuestamente, en el mismo nivel que los alumnos
monolingües de la sociedad dominante, y ofrecerles así las mismas oportunidades educativas y laborales. Les
174
De acordo com o autor, a educação indígena adotada no México tem como modelo a
própria educação para o monolinguismo em que os professores utilizam a língua materna
indígena como acesso para a língua espanhola, produzindo o que denomina como
"castelhanização", ou seja, o processo que coloca a língua espanhola no centro, promovendo-
a. Nas palavras de Hamel (2000), os objetivos do bilinguismo não são alcançados, por não se
tratar de uma educação que promova realmente a língua indígena. No Paraguai, para além da
educação nas escolas indígenas, podemos pensar na conformação de todas as escolas
nacionais, visto que o país é significado como bilíngue na constituição atual de 1992 e que a
Lei Geral de Educação garante promover "la formación en el dominio de las dos lenguas
oficiales". A educação para a língua guarani, passado o tempo da educação básica, se
restringe ao ensino da língua guarani e seu sistema e não há ensino em língua guarani,
produzindo, cada vez mais, um monolinguismo em língua espanhola.
No artigo 1º da Lei Geral de Educação, lê-se:

Todo habitante de la República tiene derecho a una educación integral y


permanente que, como sistema y proceso, se realizará en el contexto de la cultura
de la comunidad. 180 (Art. 1. Lei Geral de Educação, 1998. Anexo VII. Grifos
nossos.)

Em "todo habitante de la República", há um funcionamento que produz um efeito de


generalização pelo funcionamento do "todo", colocando os habitantes na ordem da igualdade,
silenciando as diferenças existentes no projeto de unidade nacional, que incorpora diferentes
grupos sob um mesmo imaginário de nação. Como nos ensina Pêcheux

É a ideologia que fornece as evidências pelas quais „todo mundo sabe‟ o que é um
soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve, etc., evidências que
fazem com que uma palavra ou enunciado „queiram dizer o que realmente
dizem‟ e que mascarem, assim, sob a „transparência da linguagem‟, aquilo que
chamaremos o caráter material do sentido das palavras e dos enunciados. (1988
[1975], p. 160. Grifos nossos.)

subyace una visión del monolingüismo como única vía de desarrollo: la lengua materna tiene que ceder para
hacerle espada a la lengua dominante. Sabemos, sin embargo, que los resultados de estos programas han sido
sumamente pobres e insatisfactorios, tanto en regiones indígenas como en países industrializados con población
inmigrante (Cummins, 1989; Chiodi, 1990; López, 1995; Hamel, 1988). Por lo regular, no se alcanzan los
objetivos planteados y se produce un bilingüismo sustractivo y empobrecedor." (HAMEL, 2000, p. 142)
180
"Todo habitante da República têm direito a uma educação integral e permanente que, como sistema e
processo, se realizará no contexto da cultura da comunidade." (Art. 1. Lei Geral de Educação, 1998. Anexo VII.
Tradução nossa.)

175
Retomando o que postula Pêcheux (ibidem), podemos afirmar que, no funcionamento
do "todo habitante de la República", se mascara o "caráter material do sentido", por colocar na
ordem da evidência a igualdade de direitos imaginariamente produzida no texto desta lei e da
Constituição de 1992. Pela igualdade afirmada se apaga o processo histórico de exclusão dos
povos indígenas e de suas línguas do sistema de educação formal, pela produção de sentidos
que silencia os dizeres sobre a inclusão das línguas indígenas. O segundo artigo da Lei Geral
de Educação determina o que não comparece nos dizeres do primeiro.

El sistema educativo nacional está formulado para beneficiar a todos los habitantes de
la República. Los pueblos indígenas gozan al respecto de los derechos que les son
reconocidos por la Constitución Nacional y esta Ley. 181 (Art. 2. Lei Geral de
Educação, 1998. Anexo VII. Grifos nossos.)

Neste artigo, os direitos dos povos indígenas são citados a partir de uma referência dos
seus direitos garantidos no texto da Constituição da República de 1992, que lhes dedica um
capítulo. Do capítulo V da atual constituição, recortamos o Artigo 66, que trata estritamente
da questão educacional.

El Estado respetará las peculiaridades culturales de los pueblos indígenas


especialmente en lo relativo a la educación formal. Se atenderá, además, a su
defensa contra la regresión demográfica, la depredación de su hábitat, la
contaminación ambiental, la explotación económica y la alienación cultural. 182 (Art.
66, Constituição da República do Paraguai, 1992. Anexo VI. Grifos nossos.)

Afirma-se neste ponto da Constituição que "las peculiaridades culturales de los


pueblos indígenas" serão respeitadas, o que se contrapõe à restrição feita quando a educação
formal se restringe ao nível básico. Além disso, no que se refere ao ensino nas escolas
indígenas, o uso da língua materna não ultrapassa os limites de funcionar como apoio para a
aprendizagem da língua espanhola, como trouxemos anteriormente. Desse modo, o Art. 2 da
Lei Geral de Educação e o Art. 66 da atual Constituição da República formulam na ordem da

181
" O sistema educativo nacional está formulado para beneficiar a todos os habitantes da República. Os povos
indígenas gozam do respeito dos direitos que lhes são reconhecidos pela Constituição Nacional e esta Lei." (Art.
2. Lei Geral de Educação, 1998. Anexo VII. Tradução nossa.)
182
"O Estado respeitará as peculiaridades culturais dos povos indígenas especialmente em relação à educação
formal. Atender-se-á, ademais, a sua defesa contra a regressão demográfica, a depredação do seu habitat, a
contaminação ambiental, a exploração econômica e a alienação cultural." (Art. 66, Constituição da República do
Paraguai, 1992. Anexo VI. Tradução nossa.)
176
evidência os direitos à educação indígena, mascarando "o caráter material dos sentidos"
(PÊCHEUX, 1988 [1975], p. 160).

De todos os modos, é importante ressaltar que é nesta Constituição de 1992 que


aparece pela primeira vez um capítulo que faz referência aos direitos indígenas, pois na
constituição anterior, de 1967, os povos indígenas não eram sequer mencionados. Como
afirma Hamel183 (2000, p. 131), ainda que haja uma discrepância entre o discurso oficial e a
realidade da educação indígena, houve pequenos avanços para a conquista dos povos
indígenas. Contudo, essas conquistas partem de uma generalização que apaga as diferenças e
restringem os direitos a que se referem tanto à Constituição da República do Paraguai, de
1992, como à Lei Geral de Educação.

A través del sistema educativo nacional se establecerá un diseño curricular básico,


que posibilite la elaboración de proyectos curriculares diversos y ajustados a las
modalidades, características y necesidades de cada caso. 184 (Art. 5. Lei Geral de
Educação, 1998. Anexo VII. Grifos nossos.)

"Un diseño curricular básico" estabelece limites a partir do discurso da necessidade de


uma adequação ao que deve haver em um currículo. Ainda que sejam "diversos y ajustados",
os currículos escolares uniformizam certos modos de produção de conhecimento que não
privilegiam a possibilidade de uma educação no contexto de uma sociedade que tem uma
língua de origem indígena.

De acordo com o Art. 11 da Lei Geral de Educação,

e) Se entiende por educación para grupos étnicos la que se ofrece a grupos o


comunidades que poseen su propia cultura, su lengua y sus tradiciones y que
integran la nacionalidad paraguaya.185 (Art. 11. Lei Geral de Educação, 1998.
Anexo VII. Grifos nossos.)

183
Nas palavras de Hamel (2000, p. 131), "si bien la discrepancia entre el discurso oficial (la ley) y la realidad
cotidiana acaso ha aumentado, no podemos negar los avances significativos que abren un amplio, aunque reñido
espacio para la conquista de nuevos derechos indígenas, la imp1ementación de una educación verdaderamente
intercultural bilingüe y la transformación misma de los Estados nacionales."
184
"Através do sistema educativo nacional se estabelecerá um desenho curricular básico, que possibilite a
elaboração de projetos curriculares diversos e ajustados às modalidades, características e necessidades de cada
caso." (Art. 5. Lei Geral de Educação, 1998. Anexo VII. Tradução nossa.)
185
"e) Entende-se por educação para grupos étnicos a que se oferece a grupos ou comunidades que possuem sua
própria cultura, sua língua e suas tradições e que integram a nacionalidade paraguaia." (Art. 11. Lei Geral de
Educação, 1998. Anexo VII. Tradução nossa.)
177
No recorte apresentado, num diálogo exposto entre os artigos da mesma lei, entra na
discussão uma educação que privilegia a cultura, a língua e as tradições do grupo indígena,
numa reformulação em que se destaca sempre o cultural, uma referência às tradições do
passado, na relação com uma imagem do nacional. Os grupos indígenas são significados pela
relação com a tradição que forma a nacionalidade paraguaia e nesse deslizar de sentidos, entre
a garantia de uma educação formal para os grupos indígenas e a manutenção da sua imagem
de grupo tradicional, não se discute a questão do currículo e da possibilidade de uma
educação efetivamente bilíngue neste documento.

O que se repete na Lei Geral de Educação faz presentificar, pelo interdiscurso e pela
retomada constante do texto da Constituição da República do Paraguai, de 1992, o lugar da
língua indígena frente à língua espanhola, um lugar de herança, ligado às tradições, cuja
cultura precisa ser preservada, em um silenciamento da historicidade desse processo de
produção de sentidos sobre as línguas. Os povos indígenas aparecem como privilegiados na
lei, mas sempre numa relação de adaptação, a partir de um currículo básico, cujos direitos
serão respeitados, sem uma discussão efetiva de sua inclusão na escola, num apagamento da
relação de dominação em que se produziram estes documentos. A educação para o indígena
aparece numa posição hierarquicamente desprestigiada frente à língua do colonizador, cujos
sentidos ecoam na memória de uma educação para a promoção de um monolinguismo em
língua espanhola.

4.3.2 A Lei n° 3231/2007, que cria a Direção Geral de Educação Escolar Indígena

Passados quase dez anos da publicação da Lei Geral de Educação, publica-se, em


2007, a Lei n° 3231/2007, que cria a Direção Geral De Educação Escolar Indígena,
responsável pela promoção de uma educação indígena, e que estabelece que a educação
indígena deve contemplar os níveis básico e médio. Pretendemos trazer alguns pontos que
tocam nossa reflexão sobre as línguas indígenas no Paraguai em cotejo com o já apontado
anteriormente na análise sobre a Lei Geral de Educação, por entender que os dizeres se
repetem e ressignificam, num movimento entre a paráfrase e polissemia (ORLANDI, 2009),
em que dizer diferente, muitas vezes, pode significar dizer o mesmo pela repetição na história
de determinados sentidos.
178
É preciso lembrar que, no contexto paraguaio, nesta Lei, dizer 'língua indígena' é
referir-se às demais línguas indígenas que existem no país, excluindo a língua guarani, tomada
neste documento como língua oficial e que é língua também da população não indígena.
Como colocamos anteriormente, há uma escala construída discursivamente entre as línguas
indígenas, em que a língua guarani - de origem indígena - aparece como hegemônica frente às
demais, na equiparação com a língua espanhola, por sua oficialidade.

A Lei nº 3231/2007 trata exclusivamente das escolas em região indígena, em uma


demarcação linguística e territorial, e tem como objetivo "fortalecer su cultura" e possibilitar a
participação social.

La presente Ley reconoce y garantiza el respeto y el valor de la existencia de la


educación indígena. Todos los miembros de los pueblos y las comunidades indígenas
tienen garantizada una educación inicial, escolar básica y media acorde a sus derechos,
costumbres y tradiciones, con la finalidad de fortalecer su cultura y posibilitar su
participación activa en la sociedad. 186 (Art. 1. Lei nº 3231, 2007. Anexo VIII..
Grifos nossos.)

Nos dizeres da lei, a referência aos povos indígenas retoma a questão cultural. Como
já afirmava Orlandi (2008 [1990]), sobre o discurso colonial, é nesse gesto de reconhecer a
cultura se apaga o histórico em suas relações.

O princípio talvez mais forte de constituição do discurso colonial, que é o produto


mais eficaz do discurso das descobertas, é reconhecer apenas o cultural e des-
conhecer (apagar) o histórico, o político. Os efeitos de sentido que até hoje nos
submetem ao "espírito" de colônia são os que nos negam a historicidade e nos
apontam como seres-culturais (singulares), a-históricos. (ibidem, p, 19)

O discurso colonial reconhece a cultura, ressignificada como folclore, como exótica, e,


no mesmo processo, apaga o que há de histórico nas relações entre metrópole e colônia,
garantindo o lugar, ainda hoje, de "seres culturais", remetendo ao que Orlandi denomina como
o "espírito" da colônia, atualizando os sentidos para o indígenas pela memória da colonização.

186
"A presente Lei reconhece e garante o respeito e o valor da existência da educação indígena. Todos os membros
dos povos e das comunidades indígenas têm garantida uma educação inicial, escolar básica e média de acordo com
seus direitos, costumes e tradições, com a finalidade de fortalecer sua cultura e possibilitar sua participação ativa na
sociedade." (Art. 1. Lei nº 3231, 2007. Anexo VIII. Tradução nossa.)
179
Para além disso, tal como se afirma nesta lei, se objetiva fortalecer as tradições e
costumes dos povos indígenas, mas também "posibilitar su participación activa en la
sociedad". Entre o que se repete e o que se desloca no discurso sobre o índio e suas tradições,
aparece um dizer da inclusão, em que se precisa garantir sua participação na sociedade. O
índio aparece como fora ao precisar ser incluído, pela educação formal e pela garantia dos
seus direitos. Fala-se do índio do lugar do diferente, inscrevendo-o no lugar da falta e da
adequação à uma norma social que rege a atualidade.

A circularidade (ZOPPI-FONTANA, 2005), já colocada aqui anteriormente pelos


dizeres da Lei Geral de Educação, que se refere às garantias estabelecidas pela Constituição
de 1992, aparece também de forma reiterada nesta lei que retoma os dizeres da Constituição
Nacional, da Lei Geral de Educação e do Estatuto das Comunidades Indígenas, entre outras,
como se lê nos seguintes artigos:

Todos los miembros de las comunidades indígenas gozan de sus derechos


consagrados en la Constitución Nacional, la Ley nº 234/93 “Que aprueba el
convenio nº 169 sobre pueblos indígenas y tribales en países independientes,
adoptado durante la '76ª Conferencia Internacional del Trabajo, celebrada en
Ginebra el 07 de junio de 1989', a Ley nº 904/81 'Estatuto de las Comunidades
187
Indígenas', y la Ley nº 1264/98 'General de Educación'. (Art. 2. Lei nº 3231,
2007. Anexo VIII. Grifos nossos.)

El Estado garantiza el derecho de los pueblos indígenas a que puedan aplicar sus
pautas culturales y formas de enseñanza en relación armónica a lo dispuesto en la
188
Ley Nº 1264/98 “General de Educación. (Art. 3. Lei nº 3231, 2007. Anexo VIII.
Grifos nossos.)

Embora essa lei se valha da intertextualidade que referencia aos demais textos que
tratam dos indígenas, generalizando sua situação, como trouxemos nas duas seções anteriores,
neste texto, podemos afirmar que há um avanço com relação ao que se diz sobre o indígena.
Fala-se de seu sistema de ensino próprio, da formação de professores indígenas, da confecção

187
"Todos os membros das comunidades indígenas gozam dos seus direitos consagrados na Constituição
Nacional, a Lei nº 234/93 “Que aprova o convênio nº 169 sobre povos indígenas e tribais em países
independentes, adotado durante a 76ª Conferência Internacional do Trabalho celebrada em Genebra em 07 de
junho de 1989”, A Lei nº 904/81 “Estatuto das comunidades indígenas", e a Lei nº 1264/98 “Geral de Educação."
(Art. 2. Lei nº 3231, 2007. Anexo VIII. Tradução nossa.)
188
"O Estado garante o direito dos povos indígenas para que possam aplicar suas pautas culturais e formas de
ensino em relação harmônica ao disposto na Lei nº 1264/98 “Geral de Educação." (Art. 3. Lei nº 3231, 2007.
Anexo VIII. Tradução nossa.)
180
de material didático próprio na aldeia e da feitura de currículos que levem em consideração as
especificidades da sociedade indígena.

Créase la Dirección General de Educación Escolar Indígena, con el objeto de asegurar


a los pueblos indígenas: a) el respeto a los procesos educativos y de transmisión de
conocimientos en las comunidades indígenas; b) una educación escolar específica y
diferenciada, potenciando su identidad, respetando su cultura y normas comunitarias;
c) el reconocimiento explícito que la escolarización de los pueblos indígenas debe ser
una articulación de los dos sistemas de enseñanzas: el sistema indígena y el sistema
de la sociedad nacional, fortaleciendo los valores de cada cultura; d) los
conocimientos necesarios de la sociedad nacional y su funcionamiento para
asegurar la defensa de sus intereses y la participación en la vida nacional, en
igualdad de condiciones en cuanto grupos de culturas anteriores a la formación y
constitución del Estado paraguayo, tal como lo establece el Artículo 62 de la
Constitución Nacional; y, e) el funcionamiento de los niveles de educación inicial,
escolar básica y media del sistema educativo nacional y la utilización de sus lenguas
y procesos propios en el aprendizaje de la enseñanza escolar.189 (Art. 1. Lei nº
3231, 2007. Anexo VIII. Grifos nossos.)

Entretanto, entre haver um avanço no que se diz e o que se promove, efetivamente,


como políticas de educação para os indígenas há muita diferença. O que há é um vácuo entre
o dizer e a prática política para as comunidades indígenas, em que o índio aprende
inicialmente em sua língua, mas, para ter acesso à tal sociedade, tal como posto no artigo 1
desta lei, ele precisa saber as línguas oficiais. Mais do que isso, para ter acesso inclusive aos
seus direitos indígenas, ele precisa saber a língua espanhola e não somente a língua guarani. O
reconhecimento como indígena não garante, na sociedade paraguaia, o reconhecimento como
cidadão. Não é possível ser um cidadão índio no Paraguai sem viver à margem do sistema e
da cidade. Em Um saber nas ruas, Fedatto afirma:

189
"Cria-se a Direção Geral de Educação Escolar Indígena, com o objetivo de assegurar aos povos indígenas:a) o
respeito aos processos educativos e de transmissão de conhecimentos nas comunidades indígenas; b) uma
educação escolar específica e diferenciada, potenciando sua identidade, respeitando sua cultura y normas
comunitárias; c) o reconhecimento explícito que a escolarização dos povos indígenas deve ser uma articulação
dos dois sistema de ensinos: o sistema indígena e o sistema da sociedade nacional, fortalecendo os valores de
cada cultura; d) os conhecimentos necessários da sociedade nacional e seu funcionamento para assegurar a
defesa de seus interesses e a participação na vida nacional, em igualdade de condições em relação a grupos de
culturas anteriores à formação e constituição do Estado paraguaio, tal como estabelece o Artigo 62 da
Constituição Nacional; e, e) o funcionamento dos níveis de educação inicial, escolar básica e média do sistema
educativo nacional e a utilização de suas línguas y processos próprios na aprendizagem do ensino escolar. " (Art.
1. Lei nº 3231, 2007. Anexo VIII. Tradução nossa.)

181
a cidade será, por excelência, o novo órgão institucionalizador desse novo
espaço de convivência. ela surge no novo mundo para fixar um contraste vivo e
concreto com a natureza por atos oficiais que a criam nominal e espacialmente. 190
(FEDATTO, 2013, p. 87)

Na criação das cidades, o novo modo de organização se apresenta, alheio ao


funcionamento das sociedades indígenas anteriores. Esse "novo espaço de convivência", de
que trata a autora, tem sua organização nominal, espacial e, também, simbólica. A cidade é,
então, para o cidadão, num jogo com as palavras que significa no simbólico, um espaço do
índio fica restrito, como o espaço de sua língua. Nas palavras de Rodríguez-Alcalá (2003,
p.82), "a cidade é um espaço simbólico e político, constituído num processo discursivo
(ideológico), cuja base material é a língua." É em língua espanhola que o espaço da cidade se
constitui, assim como suas relações jurídicas. O direito à língua e à cultura indígena restringe
o índio ao espaço da aldeia, um lugar sem direitos civis. Para ter acesso inclusive aos seus
direitos territoriais, que frequentemente são tomados 191 , o índio precisa dominar os
conhecimentos do espaço da cidade. Para ser cidadão paraguaio, para ter os direitos
garantidos pelas leis, pelo jurídico, é preciso fazê-lo na língua da cidade, pois é neste espaço
que se pode ser cidadão. Como afirma Rodríguez-Alcalá, "se tomamos o habitante, por
exemplo, temos que cidadão é uma metáfora feita a partir do espaço, de um espaço específico
(a cidade) que remete diretamente ao plano político (jurídico)." (ibidem, p. 69. Itálico da
autora.) O cidadão como "metáfora da cidade", cuja base material é a língua, delimita o
espaço do índio ao fora da cidade, se ele não domina a língua em que se materializam os
processos de legitimação do Estado.

Complementarmente a estas reflexões, nos interessa trazer para nosso texto o


questionamento que se fazem Souza e Ribeiro, em um estudo sobre a língua Kaingáng no
Brasil:

Não seria o discurso - posto como inclusivo no domínio de uma política


linguística - cúmplice de uma ideologia que quer recodificar a condição
identitária do povo indígena na ordem do Estado? Talvez seja mesmo pela
culatra que o tiro deve sair. Quanto mais se ensina Kaingáng, mais seus falantes
indígenas falam português. (Souza e Ribeiro, 2007, p.127)

190
Optamos por manter todas as letras minúsculas, reproduzindo fielmente o texto da autora, que utiliza este
recurso em toda a obra.
191
Cf. LEAL (2012), "Raposa Serra do Sol no discurso político roraimense".
182
Como afirmam os autores, o discurso que se coloca como inclusivo "no domínio de
uma política linguística", nos dizeres sobre a educação indígena, parece colocar o povo
indígena na ordem do Estado. Assim, é justamente pelas garantias do acesso à participação na
sociedade paraguaia, pela defesa dos seus direitos, que parece não ter espaço pras línguas
indígenas, nem no Brasil, nem no Paraguai, por determinar que o indígena precisa fazer parte
da lógica do Estado, em que, num apagar da história, se tira seu direito indígena. Como
concluem os autores, "quanto mais se ensina Kaingáng, mais seus falantes indígenas falam
português", porque nesse processo de inclusão se exclui a possibilidade de ser cidadão e
indígena falante de Kaingáng, de Avá ou de Mbyá Guarani, por exemplo.

4.4 A LEI DE LÍNGUAS DO PARAGUAI Nº 4251/2010

Isso porque há um impossível próprio da língua que


sempre retorna ao seu lugar e pelo qual há quem chegue
- aqueles chamados "puristas" - a morrer de amores: os
"diga isso, não aquilo", a regra, o uso predominante.
(Milner, 2012)

A Lei nº 4251, ou Lei de Línguas do Paraguai, foi publicada em 2010, dezoito anos
após a promulgação da Constituição, que declara o Paraguai como um país "bilingüe y
pluricultural". Em seu texto, a Lei de Línguas retoma os dizeres presentes na Carta Magna de
1992 e na Lei Geral de Educação, além de estabelecer os usos das línguas oficiais nos
diversos âmbitos da sociedade, tratando também de algumas questões referentes ao uso e à
promoção das línguas indígenas, e o respeito à comunicação pela língua de sinais 192, bem
como algumas garantias para os falantes das línguas das demais minorias do país193, como
determinam seus artigos 1 e 13.

192
"Art. 1º - Objeto. La presente ley tiene por objeto establecer las modalidades de utilización de las lenguas
oficiales de la República; disponer las medidas adecuadas para promover y garantizar el uso de las lenguas
indígenas del Paraguay y asegurar el respeto de la comunicación visogestual o lenguas de señas. A tal efecto,
crea la estructura organizativa necesaria para el desarrollo de la política lingüística nacional." (Título I, Cap. I,
Art. 1, Lei de Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX)
193
"De las minorías culturales no indígenas. Las comunidades culturales no indígenas tienen derecho a contar
con facilidades para acceder al conocimiento y uso de las lenguas oficiales de la República, sin perder el derecho
de usar sus respectivas lenguas." (Título I, Cap. II, Art. 13. Lei de Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX.)
183
Interessa-nos, especificamente, neste capítulo, ler a Lei de Línguas como discurso,
entendendo que nos dizeres da lei se inscreve uma memória sobre o lugar das línguas e dos
sujeitos que nela se dizem. Além disso propomos pensar nas práticas políticas sobre as
línguas, relacionando os dizeres com a realidade linguística do país, na tentativa de
compreender o funcionamento do discurso legal e suas implicações como política de línguas.

A Lei de Línguas apresenta 52 artigos dos quais recortamos alguns com o objetivo de
apontar questões com relação às políticas de línguas do Estado paraguaio e ao funcionamento
do discurso nesta lei.

Pelos dizeres presentes na Lei de Línguas, se estabelece um conjunto de políticas de


línguas que visam a implementação das línguas nas diversas instituições do país. Dentre as
instituições, destacamos a escola - já tratada anteriormente pelas Leis nº 1264 /1998 e n°
3231/2007 -, as repartições públicas, as comunicações - públicas e privadas - e o sistema
jurídico.

De las lenguas oficiales. Las lenguas oficiales de la República tendrán vigencia y


uso en los tres Poderes del Estado y en todas las instituciones públicas. El idioma
guaraní deberá ser objeto de especial atención por parte del Estado, como signo de la
identidad cultural de la nación, instrumento de cohesión nacional y medio de
comunicación de la mayoría de la población paraguaya. 194 (Art. 3. Lei de Línguas do
Paraguai. 2010. Anexo IX. Grifos nossos.)

El guaraní en las organizaciones supranacionales. El Estado promoverá el


reconocimiento del guaraní como lengua oficial de las organizaciones
supranacionales que integre. 195 (Art. 4. Lei de Línguas do Paraguai. 2010. Anexo
IX. Grifos nossos.)

De los derechos lingüísticos individuales: Todos los habitantes de la República tienen


derecho a:
1- Conocer y usar las dos lenguas oficiales, tanto en forma oral como escrita, y a
comunicarse con los funcionarios públicos en general en una de ellas. Los
ciudadanos indígenas tienen además el derecho a conocer y usar su lengua propia.
2- Recibir información en su lengua, de parte de los empleadores privados, en los
temas laborales y administrativos de interés general.
194
"Das línguas oficiais. As línguas oficiais da República terão vigência e uso nos três Poderes do Estado e em
todas as instituições públicas. O idioma guarani deverá ser objeto de especial atenção por parte do Estado, como
signo da identidade cultural da nação, instrumento de coesão nacional e meio de comunicação da maioria da
população paraguaia." (Art. 3. Lei de Línguas do Paraguai. 2010. Anexo IX. Tradução nossa.)
195
"O guarani nas organizações supranacionais. O Estado promoverá o reconhecimento do guarani como língua
oficial das organizações supranacionais que integre." 195 (Art. 4. Lei de Línguas do Paraguai. 2010. Anexo IX.
Tradução nossa.)"
184
3- Recibir información oficial en guaraní y en castellano a través de los medios de
comunicación del Estado o de los medios de comunicación privados que emitieren
información oficial del Estado.
4- No ser discriminado por razón de la lengua utilizada.
5- Utilizar cualquiera de las dos lenguas oficiales ante la administración de justicia
y que sus declaraciones sean transcriptas en la lengua elegida sin mediar
traducción alguna. La persona usuaria de otra lengua tiene derecho a ser asistida en
juicio por personas que conozcan su idioma.
6- Recibir desde los inicios del proceso escolar la educación formal en su lengua
materna, siempre que la misma sea una de las lenguas oficiales del país o una lengua
indígena.
7- Aprender otras lenguas nacionales y extranjeras. 196 (Art. 9. Lei de Línguas do
Paraguai, 2010. Anexo IX. Grifos nossos.)

De las comunicaciones. Los avisos, formularios e impresos oficiales estarán


redactados en los dos idiomas oficiales. Asimismo, en la publicidad oficial se
utilizarán equitativamente las dos lenguas oficiales, una vez establecidos el alfabeto y
la gramática oficial del idioma guaraní." 197 (Art. 16. Lei de Línguas do Paraguai,
2010. Anexo IX. Tradução nossa. Grifos nossos.)

De los documentos de identidad. La cédula de identidad, el pasaporte y los demás


documentos de identificación personal, contendrán los datos en ambas lenguas
oficiales, una vez establecidos el alfabeto y la gramática oficial del idioma guaraní.198
(Art. 18. Lei de Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX. Grifos nossos.)

As sequências recortadas tratam, em geral, dos locais e instituições em que as línguas


oficiais devem figurar. Apaga-se neste gesto que coloca as duas línguas, guarani e espanhol,
no mesmo patamar, o fato de que a língua espanhola já ocupa todos os espaços citados e que é

196
"Dos direitos linguísticos individuais: Todos os habitantes da República têm direito a: 1- Conhecer e usar as
duas línguas oficiais, tanto na forma oral como escrita, e a comunicar-se com os funcionários públicos em geral
em uma delas. Os cidadãos indígenas têm ademais o direito a conhecer e a usar sua própria língua. 2- Receber
informação em sua língua, da parte dos empregados privados, nos temas laborais e administrativos de interesse
geral. 3- Receber informação oficial em guarani e em castelhano através dos meios de comunicação do Estado
ou dos meios de comunicação privados que emitirem informação oficial do Estado. 4- Não ser discriminado por
razão da língua utilizada. 5- Utilizar qualquer das duas línguas oficiais perante a administração de justiça e que
suas declarações sejam transcritas na língua eleita sem mediar tradução alguma. A pessoa usuária de outra língua
tem direito a ser assistida em juízo por pessoas que conheçam seu idioma.6- Receber desde os princípios do
processo escolar a educação formal em sua língua materna, sempre que a mesma seja uma das línguas oficiais do
país ou uma língua indígena. 7- Aprender outras línguas nacionais e estrangeiras." (Art. 9. Lei de Línguas do
Paraguai, 2010. Anexo IX Tradução nossa.)
197
"Das comunicações. Os avisos, formulários e impressões oficiais estarão redigidos nos dois idiomas oficiais.
Do mesmo modo, na publicidade oficial serão utilizadas equitativamente as duas línguas oficiais, uma vez
estabelecidos o alfabeto e a gramática oficial do idioma guarani." (Art. 16. Lei de Línguas do Paraguai, 2010.
Anexo IX. Tradução nossa.)
198
"Dos documentos de identidade. A carteira de identidade, o passaporte e os demais documentos de
identificação pessoal, conterão os dados em ambas as línguas oficiais, uma vez estabelecidos o alfabeto e a
gramática oficial do idioma guarani." (Art. 18. Lei de Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX. Tradução nossa.)

185
a língua guarani aquela que precisa ser promovida para garantir seu lugar de oficialidade. No
artigo 3, o guarani além de ser dito como a língua espanhola, ocupando o lugar de língua
oficial, faz eco na memória da língua guarani como "signo da identidade cultural da nação,
instrumento de coesão nacional e meio de comunicação", retomando os dizeres sobre a língua
que circulavam nos discursos nacionalistas de reivindicação do guarani (RODRÍGUEZ-
ALCALÁ, 2000), num dizer que a significa como língua da cultura do povo paraguaio, a
língua da nação.

No artigo 9, nos dizeres sobre os direitos linguísticos garantidos por esta lei, aparece
como direito do cidadão o acesso à informação oficial em ambas as línguas oficiais, no
âmbito do Estado. Note-se que os meios de comunicação privados são eximidos de produzir
material em língua guarani. Os programas apresentados nas redes de televisão do Paraguai
são, em sua maioria, em espanhol, já que, de acordo com os dizeres desta lei, as empresas
privadas não são obrigadas a veicular programas nas duas línguas oficiais. À revelia da lei, as
comunicações oficiais, sinalização e todo o aparato escrito que objetiva informar o cidadão
paraguaio também está em língua espanhola (CORVALÁN, 2005)199.

Continuando nossa reflexão, outro ponto que nos interessa tocar está descrito no artigo
18 da lei em análise, que prevê que os documentos de identificação oficiais estarão, mais uma
vez, em guarani e em espanhol. Atualmente, com a não implementação da língua guarani, o
modelo de identificação paraguaia continua em língua espanhola.

Em Análise do Discurso, entendemos que os processos estão materialmente inscritos


numa formação ideológica dada (PÊCHEUX, 1988 [1975] e carregam consigo efeitos de
sentido que determinam seus dizeres. Podemos então afirmar que o status de cidadão de
determinado país se materializa também em uma língua. O Estado atua como regulador do
político na linguagem e o faz de maneira a garantir uma unidade (imaginária) da língua. Esse
princípio de unidade, regulado pelo Estado, leva a concepção de uma língua, a língua
nacional, a língua do cidadão (o brasileiro, o português, o paraguaio...). Todo e qualquer
cidadão, assim significado, fala uma língua, determinada pelo Estado. É a língua das
instituições de poder, a língua em que se identifica (identidade, cpf, título de eleitor) um

199
Corvalán (2005) observou este funcionamento na sociedade paraguaia antes da Lei de Línguas, entretanto
trazemos sua referência para lembrar que este funcionamento não mudou com a implementação da Lei de
Línguas em 2010.
186
sujeito, sua individualização pelo Estado (ORLANDI, 2002) que o torna parte do sistema em
que se supõe que toda prática civilizatória é feita através de sua língua.

Destarte, por esta prática, não é preciso que numa instituição do governo, por
exemplo, se nomeie a língua que ali deve figurar. Já está claro para “todo cidadão” que a “sua
língua” é tal ou qual, já que, como nos ensina Baldini (2010, p. 26), “não é preciso nomear a
língua, pois os silenciamentos que nossa gramatização impõe, a língua nacional já é uma
evidência, um pré-construído.” No texto em análise, no estado paraguaio, a língua espanhola
já é significada pela evidência de ser a língua oficial. Apaga-se, deste modo, o funcionamento
do ideológico e a historicidade dos processos de produção de uma língua oficial, a língua
espanhola, sem que se discuta o lugar de todas as outras línguas que disputam o espaço de
enunciação paraguaio. Vale ressaltar que esse funcionamento se auto recobre e que se faz
eficaz nas diversas instâncias que legitimam uma língua, incluindo a escola, as repartições
públicas, os meios de comunicação, as editoras e todos os seus modos de propagação.
Contudo, esse efeito de evidência, por vezes, se torna menos evidente quando a contradição
inerente a todo processo de unidade aparece.

Com isso, perguntamos: Em que língua se deve ser cidadão no Paraguai? Ou de outro
modo: Em que língua é possível ser cidadão no Paraguai? Em que língua o sujeito se submete
ao jugo do Estado? A única resposta possível ainda é “em espanhol”.

Para alcançarem o status de cidadãos, neste processo “civilizatório”, esses sujeitos


devem falar a língua legitimada pelos processos visíveis e invisíveis do Estado. Destarte,

Para se tornarem cidadãos, os sujeitos devem portanto se liberar dos


particularismos históricos que os entravam: seus costumes locais, suas concepções
ancestrais, seus “preconceitos”... e sua língua materna. (GADET e PÊCHEUX,
1981, p.37)

De acordo com Gadet e Pêcheux (ibidem), nesse processo histórico-ideológico de


produção de uma imagem de cidadão, os sujeitos devem se liberar dos seus particularismos,
incluindo aí a sua língua materna, que, como vimos apontando, é silenciada no processo de
unificação do Estado, de produção de uma imagem de cidadão e de uma língua oficial.
Silencia-se esta (e outras questões) e se esquece de que há outras línguas “pela tentativa da
construção de novos sentidos para o sujeito e para a nação pela via do silenciamento das
contradições históricas”. (BALDINI, 2010, p. 20) Falar guarani no Paraguai aponta para uma
contradição histórica, como colocado por Baldini. O processo de castelhanização se deu no
187
continente americano de forma a apagar as línguas indígenas e o Paraguai, nesse contexto, é
significado como a exceção que imaginariamente aparece como a contradição histórica da
formação dos Estados nacionais americanos.

Tal processo de unificação linguística e silenciamento acontece na mesma proporção


em que acontece a formação dos Estados nacionais, modelo que ainda reverbera na
constituição das nacionalidades. Projeta-se um Estado e, para este, uma língua, e a ideia de
uma nação. Para reformular esse projeto de nação, promovido desde o século XVI no
continente americano, incluindo aí o Paraguai, e ressignificar os lugares para as línguas em
prol de um país bilíngue demanda mais que a criação de uma lei.

O processo de implementação da Lei de Línguas denuncia o funcionamento do lugar


das línguas no imaginário paraguaio que, passados já mais de 20 anos da oficialização da
língua guarani, reserva-lhe o lugar da oralidade, o lugar da língua materna, da língua símbolo
da identidade nacional, língua patrimônio.

A Lei de Línguas entrou em vigor em 07 de outubro de 2010 e previa um período


mínimo de 3 anos para sua implementação, com o objetivo de que, em um primeiro passo, se
instrumentalizasse (AUROUX, 2009 [1992]) a língua guarani para que depois se pusesse em
vigor seus desígnios, como se afirma em seu artigo 51.

Implementación. La implementación de las obligaciones derivadas de la presente ley


que requieran una expresión escrita, sólo serán exigibles una vez transcurridos tres
años del establecimiento del alfabeto y la gramática oficial del idioma Guaraní
por parte de la Academia de la Lengua Guaraní.200 (Tít. II, Cap. III, Art. 51. Lei de
Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX. Grifos nossos.)

Passados mais de 4 anos da publicação da Lei de Línguas podemos ainda questionar


seu funcionamento, visto que a maior parte de sua proposta não foi implementada de maneira
eficaz ou sequer foi implementada, o que podemos relacionar com a questão descrita no texto
da lei de que é preciso primeiro a definição de um alfabeto oficial e uma gramática da língua
guarani, produzidos pela Academia da Língua Guarani. Esse dizer que se repete ao longo da

200
"Implementação. A implementação das obrigações da derivadas da presente lei que requeiram uma expressão
escrita, só serão exigíveis transcorridos três anos do estabelecimento do alfabeto e da gramática oficial do Idioma
Guarani por parte da Academia da Língua Guarani." (Tít. II, Cap. III, Art. 51. Lei de Línguas do Paraguai, 2010.
Anexo IX. Tradução nossa.)
188
lei determina que o cumprimento da ações propostas só será exigido após "tres años del
establecimiento de la gramática oficial del Idioma Guaraní por parte de la Academia de la
Lengua Guaraní." Pelos dizeres que se repetem, a lei encontra uma respaldo para o seu não
cumprimento. Os dizeres sobre a implementação da lei, calcados em uma condição atrelada à
Academia da Língua Guarani, funcionam, no político, pelo que não se diz da implementação
desta lei. Estabelecer um alfabeto e produzir uma gramática oficial, ou seja, produzir
instrumentos linguísticos na língua guarani significa também dizer qual variedade da língua
será privilegiada nesse processo de unificação que passa a significar uma variedade de língua
como A língua. E nesse processo de unificação para a criação da língua guarani imaginária,
entram as disputas de sentidos presentes nos discursos sobre a língua guarani no Paraguai.

De acordo com Zarratea (2011), há duas linhas de pesquisadores na Academia da


Língua Guarani 201 que disputam pelos dizeres os sentidos para a língua guarani: a
tradicionalista (os puristas) e a acadêmica (ou moderna). Os primeiros seriam defensores de
uma língua pura, em uma tentativa de retomar uma língua guarani do impossível, sem as
interferências da língua espanhola na estrutura, no léxico e na fonética guarani. Os que
conformam o segundo grupo, da linha moderna, se apresentam como defensores do guarani
paraguaio e defendem a língua como resultado do processo histórico do encontro entre a
língua espanhola e a língua guarani. São duas direções de produção de sentidos que se
enlaçam nos dizeres sobre a língua guarani - e nem é possível falar em 'a língua guarani' - e
sobre a língua espanhola.

Os que defendem a língua pura reafirmam os dizeres da possibilidade de uma pureza


linguística, afirmando que a língua espanhola do Paraguai é uma língua corrompida, indevida,
torta. Como aponta Rodríguez-Zucolillo (2000), estes dizeres fazem laço em uma disputa que
se inscreve na memória dos dizeres sobre as línguas da América Latina, anterior ao século
XX, retomada em uma conhecida polêmica por Andrés Bello e Domingo Faustino Sarmiento.
Rodríguez-Zucolillo afirma que a noção de pureza linguística já predominava "de modo
absoluto nos discursos e nas políticas linguísticas, constituindo um lugar-comum sobre a
língua na afirmação de que os paraguaios 'falam mal' guarani (e espanhol, aliás) porque não
dominam o 'guarani puro' e 'misturam' as línguas" (ibidem, p. 225). Conforme a autora, é esta

201
Em uma entrevista à ABC Color, em agosto de 2008, Zarratea já apontava essa divisão entre os estudiosos do
guarani dentro da Academia da Língua Guarani e, em sua análise sobre a Lei de Línguas do Paraguai (Zarratea,
2011), o autor retoma esta questão, colocando-se em defesa do guarani paraguaio. O autor é um dos membros
desta Academia. Disponível em: http://www.portalguarani.com/582_tadeo_zarratea/15952_el_guarani_esta_en_
crisis__ entrevista_a_tadeo_zarratea.html. Acessado em: 20 de janeiro de 2015.
189
a postura que também está presente na "Acta de Fundación de la Academia de Lengua y
Cultura Guaraní".

Em sua tese de doutorado, Alfón (2011) afirma que foram várias as disputas sobre as
línguas americanas e que ficou conhecida a querela entre Bello e Sarmiento no século XIX.
De acordo com o autor, Sarmiento defendia que o povo devia deixar de consultar os
gramáticos da língua espanhola, posição contrária à de Bello que afirmava ser a gramática a
responsável por regular a língua.

Sobre as disputas no Brasil em torno da língua e da literatura brasileiras, Jobim e


Mariani (2007), em suas análises, afirmam haver, em termos gerais, dois grupos: os puristas,
que se posicionam em favor da unidade da língua entre Brasil e Portugal e um segundo grupo,
que se colocaria pela afirmação de uma língua e literatura nacionais brasileiras, cujo apogeu
teria se dado durante o projeto romântico (JOBIM e MARIANI, 2007, p. 6). Ainda sobre a
questão da língua e literatura brasileiras, na tese "Mário de Andrade, um arquivo de saberes
sobre a língua no Brasil", Buscácio (2014) analisa os dizeres sobre a língua no/do Brasil nas
cartas de Mário de Andrade e seus correspondentes. Segundo a autora, na defesa de uma
língua brasileira, os dizeres nas cartas de Mário de Andrade apontam para um imaginário em
que se relacionam os saberes sobre a língua do Brasil aos saberes sobre a língua de Portugal,
apontando para uma tensão no funcionamento nos dizeres do literato pela memória dos
dizeres sobre uma língua pura.

De acordo com Auroux,

O purismo e a exaltação da identidade nacional com seu acompanhamento de


constituição/ preservação de um corpus literário (seja religioso ou profano),
são, por exemplo, fenômenos quase universais na constituição, espontânea ou por
transferência, dos saberes linguísticos. (2009 [1992], p. 28-29. Grifos nossos.)

Como afirma o autor, na transferência de saberes sobre as línguas, "o purismo e a


exaltação da identidade nacional" são "fenômenos quase universais". De acordo com as
reflexões dos autores apresentados, tanto no que tange os dizeres sobre a língua no Brasil
(JOBIM e MARIANI, 2007; BUSCÁCIO, 2014) como no Paraguai (RODRÍGUEZ
ZUCOLILLO, 2000; ALFÓN, 2011; ZARRATEA, 2011), podemos afirmar que os dizeres

190
sobre a língua guarani na Lei de Línguas do Paraguai se inscrevem em uma memória de
disputas de sentidos entre puristas e modernos, no processo de unificação de uma língua.

Na Lei de Línguas do Paraguai, nessa divisão dos sentidos sobre a língua paira o
desejo de uma possibilidade de instrumentalização da língua guarani, garantida por lei e por
ela mesmo engessada nos discursos sobre a oficialização de uma língua guarani. Disputas no
político que cerceiam os avanços nas políticas de línguas sobre a língua guarani, em que
parece da ordem do impossível determinar um alfabeto e uma gramática, pela dificuldade de
aceitar a própria historicidade no processo de formação das línguas espanhola e guarani no
Estado paraguaio.

Nas escolas paraguaias, a língua guarani ensinada se distancia da língua guarani da


comunidade, pela definição de um guarani puro para o ensino em que os alunos não se
reconhecem e do qual apenas decoram as regras sintáticas e de formação de palavras nas aulas
de língua guarani. A língua guarani cotidiana, o guarani paraguaio, essa língua que se forjou
pelo encontro dos dois imaginários, é falada nos corredores e no apoio às demais disciplinas,
mas não admitida no sistema escolar.

Essas disputas nos dizeres sobre as línguas, e aqui podemos dizer, sobre as línguas
guaranis, mantêm o sistema intacto, em que as disputas sobre o guarani garantem a promoção
de um monolinguismo em espanhol. Entre instituir uma política linguística para um guarani
puro e uma política linguística para o guarani paraguaio, considerado um erro, a língua
espanhola reina ainda no sistema educativo como se alheia a estas questões.

Do campo do Direito, Zarratea (2011), em sua análise sobre a Lei de Línguas do


Paraguai, aponta para o lugar do poder público na implementação das políticas linguísticas,
afirmando que o Ministério de Educação precisa definir a variedade de guarani a ser ensinado.

O Ministério de Educação tem hoje o dever legal de definir o modelo de


língua a ser ensinado e a desautorizar o engendro incubado nas aulas,
consistente no guarani supostamente puro em seu léxico, socioleto que não é
reconhecido por nenhuma comunidade de falantes. Por império da lei, o
Ministério terá que definir a curto prazo o modelo de língua que deverá ser
ensinada. Isso significa decidir entre continuar ensinando o guarani artificioso ou
202
assumir o guarani paraguaio . (ZARRATEA, 2011, p. 153. Tradução nossa.
Grifos do autor.)

202
"El Ministerio de Educación tiene hoy el deber legal de definir el modelo de lengua a ser enseñado y a
desautorizar el engendro incubado en las aulas, consistente en el guaraní supuestamente puro en su léxico,
191
Segundo o autor, para que se possa efetivamente implementar o ensino em língua
guarani, o órgão do governo deve intervir no processo que sinaliza para a instrumentalização
de uma variedade da língua guarani. Sobre isso, é preciso lembrar o que trouxemos no
capítulo 2 que no processo de instrumentalizar determinada língua para que esta ocupe o lugar
nas relações entre as línguas, outras línguas são apagadas. Como apontamos a partir dos
estudos de Orlandi (2008 [1990]), no gesto de promoção de determinada variedade de língua,
num processo de apagamento do histórico, uma língua passa a ser significada como oficial - a
língua do ensino e a língua da cultura - e as demais são silenciadas. Apontamos, desse modo,
para o funcionamento de um triplo silenciamento das línguas no Estado Paraguaio. No jogo
de relações de forças entre as línguas, vão sendo travadas algumas disputas:

1. as disputas entre as línguas indígenas e a língua guarani, em que o guarani se sobrepõe,


sendo significado como língua oficial juntamente ao espanhol;

2. as disputas entre os puristas e modernos entre o guarani puro e o guarani paraguaio, em que
não se estabelece uma modalidade de língua para ser promovida. Essa disputa, embora tenha
como resultado desse gesto o apagamento de algumas variedades, mostra-se como processo
necessário para a conformação da ideia de uma língua oficial; e

3. uma disputa entre a(s) língua(s) guarani(s) e a língua espanhola, em que a língua guarani,
em decorrência das disputas colocadas no ponto 2, é significada nesse lugar do "vir a ser". É
língua oficial na Constituição Nacional, mas só poderá ser implementada quando tiver um
alfabeto e uma gramática oficiais.

Nesse triplo processo estabelecido na contradição dos dizeres sobre as línguas na


Constituição da República e na Lei de Línguas, em que a língua guarani já tem sua
legitimidade reconhecida frente às demais línguas do país e que, ao mesmo tempo, não tem
instrumentos para sua promoção, a língua espanhola é significada como completa, senhora de
si, de seu alfabeto e de sua gramática, já consagrados e aceitos na comunidade paraguaia. Não
entram sequer em questão as diferenças entre o que os paraguaios nomeiam como o espanhol
castiço e o espanhol paraguaio, não aparecendo como necessária uma discussão de "que

sociolecto que no es reconocido por ninguna comunidad de hablantes. Por imperio de la ley, el Ministerio tendrá
que definir a corto plazo el modelo de lengua que habrá que enseñarse. Eso significa decidir entre seguir
enseñando el guaraní artificioso o asumir el guaraní paraguayo." (ZARRATEA, 2011, p. 153)

192
espanhol ensinar203", ou de que espanhol promover, como acontece com a língua guarani. A
língua espanhola significada como A língua se mantém num processo histórico de hegemonia
à revelia de qualquer discussão sobre seu status.

4.4.1 A Academia da Língua Guarani e a Secretaria de Políticas Linguísticas

Pelo texto desta Lei, são criados dois organismos, um para a regulação e
implementação das políticas linguísticas nacionais e outro para a investigação e produção de
instrumentos linguísticos que darão suporte à implementação da língua guarani, são eles,
respectivamente: a Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai e a Academia da Língua
Guarani. É preciso ressaltar que a Academia Paraguaia da Língua Espanhola existe no
Paraguai desde 1927204. Podemos afirmar que as políticas pela língua espanhola no Paraguai e
por sua afirmação como língua já se colocavam naquela época, em que o reconhecimento da
língua espanhola aparece pela formação de uma instituição que congrega os seus defensores e
estudiosos, com o objetivo de promover a sua língua. A Academia da Língua Guarani,
fundada em 2012, reúne pesquisadores interessados na língua guarani e o gesto de sua
fundação produz efeitos de sentido sobre a imagem da língua guarani, por significá-la como
uma língua sobre a qual se faz ciência, pelo efeito de reconhecimento produzido pela
existência de uma Academia, cujos dizeres são atrelados aos dizeres sobre as demais
academias, incluindo as de língua espanhola, existentes nos diversos países hispano-
americanos. A fundação de uma Academia da Língua Guarani produz o efeito de legitimação
pela institucionalização dos dizeres sobre a língua. Como afirma Lagazzi-Rodrigues (2007, p.
11), "na perspectiva discursiva materialista, os processos são históricos e, portanto, a
instituição não pode ser um a priori a ser sustentado pelo sujeito", ou seja, a fundação da
Academia da Língua Guarani carrega uma historicidade produzindo efeitos de sentidos sobre

203
Referimo-nos aqui ao trabalho de Moreno Fernández (2000), que, no Brasil, já teve diversos desdobramentos
nos estudos sobre a língua espanhola, com deslocamento na própria questão base. De acordo com alguns
pesquisadores brasileiros, a questão deveria ser "como ensinar o espanhol essa língua tão plural", tal como
apontado nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006).
204
Cf. Página Web da Academia Paraguaia da Língua Espanhola. Disponível em: www.aparle.org. Acesso em:
10 outubro de 2014. Também já havia sido fundada uma Academia de Lengua y Cultura Guarani, como observa
Rodríguez-Zucolillo (2000), mas trataremos, exclusivamente, na Academia da Língua Guarani, fundada com a
promulgação da Lei de Línguas e nesta lei referida, quando se trata da criação de um alfabeto e uma gramática da
língua guarani.
193
o lugar da língua ao colocá-la num espaço institucionalizado de produção de saberes
metalinguísticos sobre o guarani.

Dentre os objetivos da Academia da Língua Guarani está o de desenvolver pesquisas


sobre a língua, nos seus diversos aspectos, "estabelecer a normativa da língua guarani", e
"publicar os dicionários e gramáticas oficiais da língua guarani"

De las competencias de la Academia. La Academia de la Lengua Guaraní tiene


competencias para establecer la normativa de la lengua guaraní en sus aspectos
ortográfico, lexicológico, terminológico, gramatical y discursivo. Le compete
igualmente publicar los diccionarios y gramáticas oficiales de la lengua guaraní.
Las tareas normativas se basarán en investigaciones Lingüísticas y atenderán las
modalidades de uso de la lengua hablada.205 (Art. 45. Lei de Línguas do Paraguai,
2010. Anexo IX. Grifos nossos)

Posterior ao gesto de fundação legal da Academia pelo texto da Lei de Línguas, em


2012, foram selecionados quinze pesquisadores e literatos da língua guarani para compor a
Academia. Desde então, entre as disputas sobre os sentidos do guarani e qual guarani se deve
promover, a Academia da Língua Guarani não instrumentalizou a língua guarani para seu uso
como língua oficial nos diversos espaços institucionais paraguaios. No texto da Lei de
Línguas, um dizer se repete como um eco quando se determina a implementação da língua
guarani: "una vez establecidos el alfabeto y la gramática oficial del idioma guaraní"206. Este
dizer que se repete aponta para a necessidade de instrumentalização da língua guarani,
significada pela falta, em que aparece ainda como necessário um alfabeto oficial e uma
gramática oficial para que a língua guarani seja finalmente implementada. Essa determinação
se relaciona a outra que, ao fim da Lei, estabelece que todas as obrigações da lei serão
exigidas "transcurridos tres años del establecimiento del alfabeto y de la gramática oficial del
Idioma Guaraní por parte de la Academia de la Lengua Guaraní".207 (Art. 51. Lei de Línguas
do Paraguai, 2010. Anexo IX.) Não há, desse modo, no texto da lei, um período determinado

205
"Das competências da Academia. A Academia da Língua Guarani tem competências para estabelecer a
normativa da língua guarani em seus aspectos ortográfico, lexicológico, terminológico, gramatical e discursivo.
Compete-lhe igualmente publicar os dicionários e gramáticas oficiais da língua guarani. As tarefas normativas se
basearão em pesquisas Linguísticas e atenderão as modalidades de uso da língua falada." (Art. 45. Lei de
Línguas do Paraguai, 2010. Tradução nossa.)
206
Cf. Art. 14, 15, 16, 18 e 23 (Lei de Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX.)
207
"Implementación. La implementación de las obligaciones derivadas de la presente ley que requieran una
expresión escrita, sólo serán exigibles una vez transcurridos tres años del establecimiento del alfabeto y la
gramática oficial del idioma Guaraní por parte de la Academia de la Lengua Guaraní." (Art. 51. Lei de Lenguas
do Paraguai, 2010. Anexo IX.)
194
para a implementação de tudo que foi apresentado na lei, fazendo funcionar o político na
inscrição da própria lei, produzindo uma falha no processo, que determina que primeiro serão
estabelecidos o alfabeto e os instrumentos linguísticos da língua - gramática e dicionários -
para que, posteriormente, num prazo de três anos, se cumpra esta Lei. Passados já quatro anos
da promulgação da Lei de Línguas e vinte e dois anos da oficialização da língua guarani no
Paraguai, a língua guarani não tem um alfabeto oficial determinado, nem instrumentos
linguísticos reconhecidos como oficiais.

Na Lei de Línguas, promulgada em 2010, a fim de garantir o uso e a promoção das


duas línguas oficiais do Paraguai, apresentada como política do Estado paraguaio, se inscreve
a tensão entre o que se diz da política linguística e o que se promove, assinalando o real da
divisão no político (GUIMARÃES, 2005), pelas decisões na política que são feitas para a
manutenção do status das línguas, cujo funcionamento ideológico seguem para o
monolinguismo em espanhol.

A Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, instituída também por


determinação da Lei de Línguas é um órgão ligado ao Governo e tem, dentre seus objetivos,
"velar", "assegurar", "promover", "supervisionar" e "regular" os usos das línguas oficiais do
Paraguai.

De las funciones específicas de la Dirección General de Planificación Lingüística. La


Dirección General de Planificación Lingüística tiene las siguientes funciones:
1.- Velar por el respeto de los derechos lingüísticos individuales y colectivos
expresados en esta ley.
2.- Asegurar que la utilización de las lenguas oficiales del país no sea discriminatoria
en perjuicio de una de ellas.
3.- Promover y supervisar el uso de los idiomas oficiales en los formularios y
documentos utilizados por los organismos oficiales, así como en los letreros, carteles y
rotulaciones de calles realizadas por las municipalidades.
4.- Regular la presencia de las lenguas oficiales y de las lenguas indígenas del
Paraguay en los medios de radiodifusión y televisión privados.
5.- Promover la presencia de las lenguas oficiales y de las lenguas indígenas de
Paraguay en las nuevas tecnologías y en las industrias culturales."208 (Art. 40. Lei de
Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX. Grifos nossos.)

208
Das funções específicas da Direção Geral de Planificação Linguística. A Direção Geral de Planificação
Linguística tem as seguintes funções: 1 - Velar pelo respeito dos direitos linguísticos individuais e coletivos
expressados nesta lei. 2 - Assegurar que a utilização das línguas oficiais do país não seja discriminatória em
prejuízo de uma delas. 3.- Promover e supervisionar o uso dos idiomas oficiais nos formulários e documentos
utilizados pelos organismos oficiais, assim como os letreiros, cartazes e das indicações ruas realizadas pelos
municípios. 4 - Regular a presença das línguas oficiais e das línguas indígenas do Paraguai nos meios de
radiodifusão e televisão privados. 5.- Promover a presença das línguas oficiais e das línguas indígenas do
195
A Secretaria de Políticas Linguísticas tem atuado desde 2010 em projetos que buscam
dar conta dos sentidos para o "velar" e "promover" as línguas oficiais, em que se constrói
imaginariamente a necessidade de cuidar da situação das línguas e de promovê-las. Como
dissemos anteriormente, não se coloca aqui nesta regulação e promoção a questão
fundamental desse processo, que é somente a língua guarani aquela que não ocupa este
espaço. Entendemos, como tratado no capítulo dois, as políticas de língua como inscrição
histórica, como produção de sentidos e como regulação das disputas do político no simbólico.
Inscritos na teoria discursiva de uma semântica materialista, analisaremos alguns projetos
promovidos pela Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, em uma leitura que objetiva
entender como as línguas são significadas nesse processo de produção de políticas linguísticas
e promoção de políticas de línguas calcados no imaginário de uma nação paraguaia bilíngue.

No próximo capítulo, trataremos exclusivamente das questões referentes ao


bilinguismo no Paraguai, procurando fazer uma leitura discursiva dos textos referentes à
Comissão Nacional de Bilinguismo, das ações da Secretaria de Políticas Linguísticas e, por
fim, de um projeto levado a cabo pela Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, no
último ano.

Paraguai nas novas tecnologias e nas indústrias culturais. (Art. 40. Lei de Línguas do Paraguai, 2010. Anexo IX.
Tradução nossa.)
196
5 A CONSTRUÇÃO DE UMA NAÇÃO BILÍNGUE?

Algo só é enunciado se relacionado a um conjunto de entidades da


mesma natureza, outros enunciados. Ou seja, não seria possível
imaginar a existência de um enunciado único. Faz parte das condições
de existência de um enunciado que existam outros. (...) Isto dá o
caráter inescapavelmente histórico da linguagem. (GUIMARÃES,
2008)

Este capítulo conjuga algumas questões de que tratamos ao longo desta tese e nele
pretendemos dar a conhecer o funcionamento do imaginário sobre o bilinguismo do/ no
Paraguai. O dispositivo teórico-analítico que mobilizamos e as análises que empreendemos
nos capítulos anteriores nos servem de base, não só para escrever e concluir este capítulo, mas
também para formulá-lo. Isto se justifica pelo fato de que, em Análise de Discurso, as
questões não estão postas, por se construírem ao longo da própria análise. E foi assim que se
deu na construção desta tese.

Como apontamos no capítulo introdutório deste texto, nosso interesse de pesquisa era
compreender a historicidade dos processos ideológicos de produção de sentidos que
produziram a imagem do Paraguai como um país bilíngue.

No percurso que construímos, a noção de bilinguismo foi tomando corpo e a


designação "bilinguismo" passou a projetar-se como fundamental para a compreensão da
situação linguística do Paraguai na atualidade. A análise do arquivo nos levou a focalizar,
neste capítulo, alguns documentos nos quais detectamos o que chamaremos de promoção de
bilinguismo imaginário. Para tanto, na sequência, analisaremos o documento de fundação da
197
Comissão Nacional de Bilinguismo (Decreto nº 6588/1994. Anexo X), a Ata de apresentação
do relatório da Comissão Nacional de Bilinguismo e a Rede de Cooperação Intercultural
Multilíngue (Anexo XII), dois textos que explicitam os objetivos da Comissão Nacional de
Bilinguismo (Anexos XII e XIII), um texto sobre a inclusão do guarani como língua oficial de
trabalho no Parlamento do Mercosul (Anexo XVII), os textos de apresentação de três projetos
promovidos pela Secretaria de Políticas de Linguísticas do Paraguai pró-bilinguismo (Anexo
XV) e, por fim, o cartaz do primeiro projeto levado a cabo por esta Secretaria, "Rohayhu Che
Ñe’ ẽ: Una semana en lengua guaraní" (Anexo XVI). Como norte para esta discussão,
retomamos as perguntas apresentadas no segundo capítulo de nossa tese e que nos levaram a
esta discussão:

1. O que significa para o guarani ser língua oficial da república paraguaia?

2. Quais são, então, as ações no âmbito político, econômico e social que possibilitam que a
língua indígena funcione no real como língua oficial?

3. Como o Estado atua pela promoção da língua guarani em sua disputa pelo espaço de
enunciação paraguaio com a língua espanhola?

4. Como as leis paraguaias promulgadas após a Constituição de 1992 significam as línguas


guarani, inclusive em sua relação com o espanhol, no Paraguai?

5. Como são significados o guarani e o espanhol nos projetos da Secretaria de Políticas


Linguísticas do Paraguai?

6. O que significa para a língua guarani estar em situação de bilinguismo com a língua
espanhola?

Tendo como ponto de partida estas questões e sem pretender dar conta delas de modo
exaustivo, passamos aos documentos.

198
5.1 A COMISSÃO NACIONAL DE BILINGUISMO

Nesta seção, temos como objetivo apresentar alguns documentos referentes à


Comissão Nacional de Bilinguismo, incluindo dois textos que tratam dos seus objetivos,
Comissão Nacional de Bilinguismo I e II (Anexos XII e XIII), o Decreto nº 6588/1994
(Anexo X), o texto da Ata de apresentação do relatório da Comissão Nacional de
Bilinguismo e a Rede de Cooperação Intercultural Multilíngue, publicado em 2013 (Anexo
XIV) - por compreendermos que eles, produzidos pela Comissão, sustentam sentidos
constituídos ideologicamente na história, sobre as línguas guarani e espanhola em contexto de
bilinguismo. Para dar continuidade a nossa reflexão sobre o lugar do guarani no espaço do
Mercosul, mobilizaremos um texto produzido neste contexto sobre inclusão do guarani como
língua oficial de trabalho no Parlamento do Mercosul (Anexo XVII).

5.1.1 Decreto nº 6588/1994

Pela promulgação do Decreto nº 6588, publicado em 1994, cria-se a Comissão


Nacional de Bilinguismo. Neste decreto, textualiza-se uma referência direta à Constituição da
República do Paraguai, de 1992, que afirma que "el Paraguay es un país pluricultural y
bilingüe. 209 " (Art. 140. Constituição da República do Paraguai, 1992. Anexo VI),
materializando o efeito de circularidade (ZOPPI-FONTANA, 2005) produzido pelo texto
jurídico. Baseados nas análises de Rodrigues (2010) sobre o arquivo jurídico acerca do ensino
de espanhol no Brasil, podemos afirmar que, neste decreto, o efeito de circularidade funciona
de maneira justificativa: a validade da criação da Comissão Nacional de Bilinguismo está
atrelada aos dizeres da Constituição da República, pela qual se explica e se justifica.

No mesmo decreto, se lê:

209
"O Paraguai é um país pluricultural e bilíngue." (Art. 140. Constituição da República do Paraguai, 1992.
Anexo VI. Tradução nossa.)
199
Que la amplitud y significación del citado artículo constitucional desborda el ámbito
de un programa escolar de bilingüismo, abarcando aspectos de carácter social,
económico, político y cultural.210 (Decreto 6588, 1994. Anexo X. Grifos nossos.)

Para além da questão da educação, afirma-se que o investimento no bilinguismo


paraguaio conjuga "aspectos de carácter social, económico, político y cultural". Destes, nos
interessa por o foco no caráter econômico e político do bilinguismo. Discute-se, amplamente,
o caráter cultural do guarani na sociedade paraguaia, pela repetição na memória sobre a língua
como símbolo da identidade nacional e cultural do país, como apontamos no terceiro capítulo,
entretanto são silenciadas as questões econômicas referentes à promoção e ao uso do
bilinguismo.

No processo de produção de sentidos sobre as línguas, a caracterização destas como


variável econômica (MARIANI, 2008b) não deixa espaço para o plurilinguismo, além de
excluir a possibilidade de considerar uma língua minoritária como símbolo da unidade
linguística nacional. Como observa Lagares,

Precisamente, nas situações minoritárias é apenas a língua hegemônica a que se


beneficia de todas essas intervenções políticas, aparecendo ante os falantes, em
virtude de sua própria hegemonia, como uma língua acabada, completa, funcional,
útil. (LAGARES, 2011, p. 171. Grifos nossos.)

Estamos de acordo com o autor (ibidem) ao afirmar que é "apenas a língua


hegemônica a que se beneficia de todas essas intervenções políticas", por compreender que
pela historicidade dos processos de produção de sentidos, nas políticas de línguas se inscreve
uma memória do lugar das línguas no imaginário de determinada sociedade. As políticas de
línguas não estão fora da história e, em sua produção, funciona uma rede emaranhada de
sentidos que envelopa os sentidos para as línguas em situação de bilinguismo, num sistema de
hierarquia, em que a memória da colonização se faz presente. Pensar as línguas guarani e
espanhola nesse embate é colocar em análise a tensão que implica a hegemonia da língua

210
"Que a amplitude e significação do referido artigo constitucional desborda o âmbito de um programa escolar
de bilinguismo, abarcando aspectos de caráter social, econômico, político e cultural." (Decreto 6588, 1994.
Anexo X. Tradução nossa.)

200
espanhola no espaço de enunciação (GUIMARÃES, 2005) do continente americano e o lugar
da língua guarani neste mesmo espaço. Não se trata, então, de uma análise que possa
compreender a relação entre as duas línguas oficiais do Paraguai somente no espaço
paraguaio. De nossa perspectiva, queremos travar uma discussão no âmbito econômico do
lugar das línguas na América Latina.

Em 1991, com a assinatura do Tratado de Assunção entre Argentina, Brasil, Paraguai e


Uruguai, deu-se início à criação do Mercado Comum do Sul211 (Mercosul), e, em dezembro
de 2006, foi constituído o Parlamento do Mercosul (Parlasul) 212, que tem como propósito
aproximar a sociedade civil das discussões do bloco econômico. 213 Desde sua criação, na
documentação do Mercosul, o português e o espanhol são tomadas como língua oficiais para
todos os fins. O guarani foi incluído como língua oficial de trabalho no bloco econômico em
2014 214 e, por esta ocasião, o presidente da delegação paraguaia, Parlamentar Alfonso
González Núñez, manifestou-se em defesa da presença do guarani no âmbito desse
Parlamento. Desse discurso, consideramos pertinente e produtivo recortar o seguinte trecho:

El presidente de la Delegación Paraguaya ante el Parlasur, Parlamentario Alfonso


González Núñez, manifestó que "Es un hecho histórico para nuestro país que el
Parlamento del Mercosur incorpore nuestra lengua Guaraní como idioma oficial tanto
para el uso de las Sesiones como el documentos [sic] emanados del órgano. El
guaraní forma parte de nuestra identidad con pueblo [sic], es un idioma que es
hablado en varios países, como Argentina, Brasil, Bolivia y Uruguay,
convirtiendo-se de esa forma la lengua americana [sic] más hablada en

211
Página internacional do Mercosul. Disponível em: www.mercosur.int. Acesso em: 10 de dezembro de 2014.
212
Em Mercosur: una mirada crítica sobre el impacto político-lingüístico del guaraní como lengua oficial de
trabajo en el Parlasur, Sandoval (2014) desenvolveu uma pesquisa sobre o lugar da língua guarani neste
parlamento.
213
Disponível em: www.parlamentodelmercosur.org/innovaportal/v/7006/1/parlasur/parlamento.html. Acesso em
10 de dezembro de 2014.
214
Antes de ser língua oficial de trabalho, em agosto de 1995, os países do bloco declararam o guarani língua
histórica do Mercosul. Disponível em: www.parlamentodelmercosur.org/innovaportal/v/727/2/
parlasur/guarani_podera_ser_idioma_oficial_e_de_trabalho_do_mercosul.html. Acesso em: 20 de fevereiro de
2015.
201
Latinoamérica.215 (Alfonso González Núñez, Parlamento do Mercosul, 2014. Anexo
XVII. Grifos nossos.) 216

A inclusão do guarani como língua oficial de trabalho no Parlamento do Mercosul não


traz consigo sentidos sobre a questão econômica (que seria tão pertinente neste tratado) e se
vincula à repetição de determinados sentidos. No dizer do parlamentar, presidente da
representação paraguaia frente ao Mercosul, como afirmamos, reiteram-se os sentidos da
língua guarani como "parte de nuestra identidad con pueblo", fragmento no qual
interpretamos esse “nuestra” como fazendo referência à nação paraguaia, aí representada pelo
presidente de sua delegação. Por ser o Mercosul um bloco econômico, diversos modos de
dizer sobre o guarani seriam possíveis, justamente pelo viés da economia; no entanto, o que
surge nessa textualidade, para justificar imaginariamente o lugar ocupado pela língua guarani,
se vincula à relação “língua guarani - identidade nacional paraguaia”, uma série de sentidos
cristalizada e altamente regular no funcionamento da memória discursiva – o que nos permite
afirmar que certos sentidos colam na história.

No mesmo recorte, observamos a validação da legitimidade do lugar do guarani no


Parlasul com base num aspecto quantitativo – o número de falantes dessa língua:

[el guaraní] es un idioma que es hablado en varios países, como Argentina, Brasil,
Bolivia y Uruguay, convirtiendo-se de esa forma la lengua americana más hablada
en Latinoamérica 217 .(Alfonso González Núñez, Parlamento do Mercosul, 2014.
Anexo XVII. Grifos nossos.)

215
"O presidente da Delegação Paraguaia frente ao Parlasul, Parlamentar Alfonso González Núñez, manifestou
que "É um feito histórico para nosso país que o Parlamento do Mercosul incorpore nossa língua Guarani como
idioma oficial tanto para o uso das Sessões como o documentos [sic] emanados do órgão. O guarani faz parte de
nossa identidade com povo [sic], é um idioma que é falado em vários países, como Argentina, Brasil, Bolívia e
Uruguai, convertendo-se dessa forma a língua americana [sic] mais falada na América Latina." (Alfonso
González Núñez, Parlamento do Mercosul, 2014. Tradução nossa.)
216
Página oficial do Parlamento do MERCOSUL. Disponível em:
http://www.parlamentodelmercosur.org/innovaportal/v/8221/1/parlasur/lengua_guarani_se_convierte_en_idioma
_oficial_de_trabajo_del_parlamento_del_mercosur.html. Acessado em: 06 de outubro de 2014.
217
"é um idioma que é falado em vários países, como Argentina, Brasil, Bolívia e Uruguai, convertendo-se dessa
forma a língua americana [sic] mais falada na América Latina." (Alfonso González Núñez, Parlamento do
Mercosul, 2014. Tradução nossa.)
202
A inserção da língua guarani se justificaria, então, de duas maneiras: 1. porque é
símbolo da identidade de um povo, significada não somente no âmbito do nacional, mas pelo
imaginário de um "povo guarani" paraguaio (país do parlamentar), argentino, brasileiro,
boliviano e uruguaio; e 2. Por ser uma língua majoritária (em termos numéricos218): "la lengua
americana más hablada en Latinoamérica". Nos dizeres do parlamentar, se materializam as
possibilidades de entrada do guarani no Parlasul, e por sua vez, nas discussões sobre o
Mercosul, se dão em duas linhas que fazem significar a língua pela vinculação a um povo,
seja no espaço nacional, ou num espaço de enunciação que ultrapassa os limites do
Paraguai.219

Voltando ao texto do Decreto 6588, de 1994, que instituiu a Comissão Nacional de


Bilinguismo, é preciso dizer que nele outras palavras são ditas pela afirmação do caráter
diverso do trabalho da Comissão - "carácter social, económico, político y cultural" -
entretanto alguns sentidos ressoam na construção das políticas de línguas do Estado paraguaio
e outros não. Sobre isso, lembramos as afirmações de Mariani e Medeiros (2011, p. 119):
"sentidos se fazem a partir de sentidos - postos, esquecidos, apagados -; este é um pressuposto
basilar da análise de discurso." Como conclui Rodríguez Zucolillo,

Não é possível comparar o discurso ou as posturas políticas sustentadas por


autores como Natalício González, ou mesmo por outros defensores acirrados da
língua no período da ditadura militar, como Reinado Decoud Larrosa, com os
discursos e as posturas daqueles envolvidos atualmente na Reforma Educativa,
empenhados na difícil tarefa de abrir caminhos para tratar da questão lingüística e de
superar o desastroso legado cultural da ditadura stronista.

Para que essas políticas sejam efetivas, entretanto, é fundamental compreender


os discursos que as sustentam, dado o papel que o trabalho simbólico desempenha
em toda prática social e política. (2000, p. 239. Itálico da autora. Grifos em negrito
nossos.)

218
Como justificativa para a inclusão da língua guarani como língua oficial e de trabalho do Mercosul, o
parlamentar paraguaio que apresentou o projeto, Héctor Lacognata, afirmou que "mais de 15 milhões de pessoas
falam o guarani e vivem no Paraguai e em regiões da Argentina, da Bolívia e do Brasil". Disponível em:
www.parlamentodelmercosur.org/innovaportal/v/727/2/parlasur/guarani_podera_ser_idioma_oficial_e_de_
trabalho _do_mercosul. html. Acesso em 20 de fevereiro de 2015.
219
Baseados nos estudos de Zoppi-Fontana (2009), nos perguntamos se seria possível, a partir de uma análise da
imagem das línguas guarani e espanhola, no contexto atual, tratá-las como línguas transnacionais. Não nos
estenderemos sobre o tema, visto que este seria um outro trabalho.
203
Nas palavras da autora, "é fundamental compreender os discursos" que sustentam as
políticas, pelo trabalho que o simbólico "desempenha em toda prática social e política", ou
seja, é na memória que se sustentam os dizeres da política, por não haver possibilidade de
sentido fora da história. É deste sentido que se faz a partir de sentidos (MARIANI e
MEDEIROS, 2011, p. 119) sobre a língua guarani que estamos tratando aqui. A presença do
guarani, quando retomado na materialidade dos dizeres, inserido nas condições de produção
de um bloco econômico, se justifica pela memória de uma língua símbolo da identidade de
um povo, antes restrito à identidade nacional paraguaia, agora, pelos sentidos expandidos aos
demais países que conformam o Mercosul. Como trouxemos no segundo capítulo, funciona,
deste modo, uma narratividade (MARIANI, 1998), pela produção de um efeito de coerência,
garantindo que certos sentidos se repitam no contar da história

5.1.2 Sobre os objetivos da Comissão Nacional de Bilinguismo

Na instituição da Comissão Nacional de Bilinguismo, alguns de seus objetivos e


deveres foram apresentados como diretivas que se deveria conformar (Anexos XII e XIII).
Muitos deles retomam as questões da língua guarani como símbolo da identidade nacional,
como tratamos no terceiro capítulo. Dentre os objetivos publicados, recortamos os dois à
sequência:

Proteger, promover y elaborar para el enriquecimiento de la lengua guaraní


como el principal exponente del patrimonio cultural de nuestro país, así como de la
identidad cultural de los/as paraguayos/as.220 (Comissão Nacional de Bilinguismo II,
1994. Anexo XIII. Grifos nossos.)

220
"Proteger, promover e elaborar para o enriquecimento da língua guarani como o principal expoente do
patrimônio cultural do nosso país, assim como da identidade cultural dos/das paraguaios /as." (Comissão
Nacional de Bilinguismo, 1994. Anexo XIII. Tradução nossa)
204
Colaborar con el enriquecimiento de la lengua española, en vista a los cambios
socio-lingüísticos provenientes del proceso de modernización y globalización.221
(Comissão Nacional de Bilinguismo II, 1994. Anexo XIII. Grifos nossos.)

Nos dois fragmentos acima, retirados da página do Ministério da Educação e Culto do


Paraguai sobre os objetivos da Comissão Nacional de Bilinguismo, se verifica um paralelismo
paradigmático em que o espanhol e o guarani são significados de modo diferente. No primeiro
recorte, em que se tematiza a língua guarani, no fragmento "proteger, promover y elaborar"
se marca a falta do complemente dos verbos que, na análise, repomos como sendo a "língua
guarani" ou "o guarani". Ao perguntar: proteger, promover e elaborar o quê?, a resposta seria:
"proteger, promover e elaborar *a língua guarani" 222 , "para o enriquecimento da língua
guarani". O equívoco se marca na estrutura linguística que dá sustento à língua justamente no
trecho no qual se fala sobre o guarani e sobre seu enriquecimento. Esta língua precisaria,
então, ser protegida, promovida e elaborada, em oposição ao que se diz do espanhol. No
fragmento que refere a esta língua, a sintaxe, sem equívocos na estrutura do dizer, refere a
“colaborar con el enriquecimento de la lengua española”: ela se significa aí (reiteramos, na
oposição com o fragmento sobre o guarani) como já "elaborada", já pronta e, também, como
já rica. Assim, a estrutura "colaborar con el enriquecimiento de la lengua española" nos
permite interpretar esse “enriquecimento” como algo já dado, possibilitando um laço com a
memória de uma língua de cultura e de civilização223.

Nos recortes apresentados, é possível verificar um paralelismo produzido pelo


sintagma "enriquecimiento de la lengua guaraní" / "enriquecimiento de la lengua española";
entretanto, marca-se uma oposição na relação de forças estabelecida aí pelo lugar das línguas
no imaginário do bilinguismo. O “enriquecimento” do guarani se produz pela proteção uma
língua que representa o "patrimônio cultural"; em compensação, a língua espanhola é
significada no contexto econômico e mundial da globalização, que dá continuidade e
inflexiona o de modernização.

221
"Colaborar com o enriquecimento da língua espanhola, tendo em vista as mudanças sociolinguísticas
provenientes do processo de modernização e globalização." (Comissão Nacional de Bilinguismo, 1994. Anexo
XIII. Tradução nossa)
222
Optamos por inserir o asterisco no trecho para marcar que é um fragmento de sentença produzida por nós, na
tentativa de compreendê-la e avançar na análise.
223
Gostaríamos de observar inclusive que o fragmento “en vista a los cambios socio-lingüísticos provenientes
del proceso de modernización y globalización” retoma dizeres muito regulares em discursividades da Academia
da Língua Espanhola, que vela pela pureza dessa língua a despeito de todas as inflexões a que o espanhol é
submetido pelos meios de comunicação e o processo de globalização, tão acelerado.
205
Como trazido na epígrafe deste capítulo, o caráter inescapável da linguagem
(GUIMARÃES, 2008, p. 74) está no sentido relacional dos enunciados, ou seja, não há
enunciado único, o sentido se constrói na história pela relação com outros enunciados e outros
sentidos, que se repetem, se repelem ou entram em diversas relações. No discurso da
promoção de um bilinguismo no Paraguai, o dizer sobre o bilinguismo hierarquiza as línguas,
repetindo os sentidos pelos silenciamentos produzidos historicamente sobre a língua indígena.
Lembramos que o guarani no Paraguai não é uma língua restrita às comunidades indígenas (é
uma língua também falada por população não indígena), mas os discursos sobre sua
preservação, no dizer sobre a língua como patrimônio, se inscrevem em uma rede de sentidos
produzida nos discursos sobre as demais línguas indígenas: a elas é impossível (pelo peso e a
inércia de uma história) atribuir sentidos de caráter econômico, social e veicular no Paraguai -
e, também, fora dele - em contraposição com o que se diz sobre o espanhol, significado em
uma posição privilegiada no âmbito mundial da globalização.

5.2 A SECRETARIA DE POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E AS POLÍTICAS DE LÍNGUAS


SOBRE O BILINGUISMO

No cenário político, econômico e linguístico, como apresentamos no decorrer desta


tese, a língua guarani e a língua espanhola ocupam diferentes lugares no imaginário do espaço
de enunciação paraguaio. Com a promulgação da Lei de Línguas, em 2010, abriram-se novas
discussões sobre a expansão dos usos da língua guarani nesse país. Dentre as diretrizes desta
lei, a criação da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai é um marco na promoção da
língua de origem indígena.

De las competencias de la Secretaría de Políticas Linguísticas. La Secretaría de


Políticas Linguísticas es la autoridad de aplicación de la presente ley con la
participación de organismos públicos y privados vinculados al tema. Es la
responsable de planificar el uso de las lenguas, en especial las oficiales, en los
ámbitos comunicacional, educativo, judicial, comercial, administrativo, político,
profesional y en toda instancia de interacción social. Le compete igualmente
promover investigaciones sobre el uso de las lenguas en el país. (Art. 34, Lei de
Línguas do Paraguai, 2010. Anexo XV. Grifos nossos.)
206
Nesta Secretaria, há um setor destinado à planificação linguística, a Direção Geral de
Planificação Linguística, que tem como principal objetivo elaborar e promover as proposições
da Lei de Línguas que, como previsto no Art. 34, em termos gerais, se destinam a expandir o
uso da língua guarani aos setores da sociedade em que o espanhol é predominante, como as
instituições públicas e os meios de comunicação, por exemplo. Isto significa que se ocupam
de garantir que a língua guarani deixará de fazer parte somente do âmbito privado, familiar e
informal.

Dentre as ações da Secretaria de Políticas Linguísticas nos últimos quatro anos, ou


seja, desde sua fundação, podemos observar a assinatura de convênios entre instituições, a
realização de traduções do espanhol ao guarani de diversos tipos de materiais públicos, a
implementação de logos bilíngues, e a produção de três projetos (Ver Anexo XV).
Justamente, para compor nossa análise e retomar algumas questões que fomos apontando ao
longo de nosso trabalho, selecionamos este último, na tentativa de compreender o
funcionamento do discurso sobre o bilinguismo na textualidade produzida no interior de um
órgão que tem como principal função, segundo os objetivos apresentados na própria Lei de
Línguas, promover as duas línguas oficiais do país em situação de bilinguismo.

Como afirmamos no terceiro capítulo, a constituição dos estados nacionais se inscreve


em uma memória que projeta a unidade linguística imaginária sobre o modelo da
conformação do estado nacional francês. No caso de um país em situação de bilinguismo,
uma questão se coloca no âmago da constituição do próprio Estado. A unidade linguística
imaginária que garantiria a unidade do Estado tem que ser furada. É preciso ultrapassar a
barreira do uno para que possa haver a produção de um Estado nacional efetivamente
bilíngue. A questão que nos colocamos neste ponto é simples: o Paraguai é uma nação
bilíngue? Ou ainda, como é possível uma nação bilíngue?

Neste momento, não queremos responder este questionamento - que soa como
provocação na análise de um país bilíngue -, mas direcionar nosso olhar para os três projetos
levados a cabo no último ano de 2014 pela Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai, a
saber:

1. Proyecto: Rohayhu Che Ñe’ ẽ : una semana en lengua guaraní;

207
2. Proyecto: Normalización del uso de la lengua guaraní en las instituciones
públicas;

3. Proyecto: Normalización del uso de la lengua guaraní en los departamentos.


(Ver Anexo XV. Grifos nossos.)

Os projetos acima mencionados foram publicados pela Secretaria de Políticas


Linguísticas e, até o momento da escrita desta tese, apenas o primeiro, "Rohayhu Che Ñe’ ẽ:
una semana en lengua guaraní", foi concretizado e finalizado, no mês de agosto de 2014,
como indica o cartaz em anexo (Anexo XVI). Os projetos seguintes foram iniciados, através
de convênios feitos para sua realização, que se encontra em andamento 224 . Deste modo,
procederemos a uma análise mais genérica dos textos produzidos pela Secretaria de Políticas
Linguísticas sobre os projetos e, posteriormente, analisaremos, especificamente o primeiro
projeto, o único já implementado.

Na textualidade dos três projetos, observamos uma regularidade: repetem-se verbos


como "aplicar", "promover", "iniciar", "concretar", "cumplir" e "fortalecer". Vejamos alguns
dos fragmentos que recortamos a seguir :

"Proyecto Rohayhu Che Ñe’ ẽ : Una semana en lengua guaraní, impulsado a fin de
promover la revalorización y el normal uso oral y escrito del idioma guaraní (...)"225

"Proyecto Normalización del uso de la lengua guaraní en las instituciones públicas


tiene como propósito iniciar la aplicación gradual del Paraguái Ñe’ẽnguéra Jeporurã
Rape – Plan Nacional de Uso de Lenguas en los ministerios, las secretarías y todas las
instituciones públicas dependientes del Poder Ejecutivo. De esta manera se
concretarán las nuevas políticas lingüísticas nacionales establecidas en la Ley
4251/10 de Lenguas, y las recomendaciones de los organismos internacionales."226

"Proyecto Normalización del uso de la lengua guaraní en los departamentos, tiene


como propósito iniciar la aplicación gradual del Paraguái Ñe’ẽnguéra Jeporurã Rape

224
Fonte: Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai. Disponível em: www.spl.gov.py. Acesso em: 10 de
outubro de 2014.
225
"Projeto Rohayhu Che Ñe’ẽ: Uma semana em língua guarani, impulsado a fim de promover a revalorização e
o uso normal e escrito do idioma guarani (...)"." (Ações da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai.
Anexo XV. Tradução nossa.)
226
"Projeto Normalização do uso da língua guarani nas instituições públicas tem como propósito iniciar a
aplicação gradual do Paraguái Ñe’ẽnguéra Jeporurã Rape – Plano Nacional de Uso de Línguas nos ministérios,
as secretarias e todas as instituições públicas dependentes do Poder Executivo. Desta maneiras se concretizarão
as novas políticas linguísticas nacionais estabelecidas na Lei 4251/10 de Línguas, e as recomendações dos
organismos internacionais." (Ações da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai. Anexo XV. Tradução
nossa.)
208
– Plan Nacional de Uso de Lenguas en los municipios de los departamentos del país.
De esta manera se concretarán las nuevas políticas lingüísticas nacionales
establecidas en la Ley 4251/10 de Lenguas, y las recomendaciones de los organismos
internacionales.227

- Aplicar las nuevas políticas lingüísticas del Paraguay contempladas en la Ley


4251/10 de Lenguas;

- Cumplir las recomendaciones de la Convención Internacional contra toda forma de


Discriminación Racial (CERD);
- Iniciar la normalización del uso oral y escrito de las dos lenguas oficiales en los
departamentos y municipios del país, de manera a visibilizarlas y elevar el prestigio de
las mismas, en forma coordinada con los consejos departamentales de educación de
los departamentos;
- Iniciar la bilingüización guaraní-castellano de los documentos, las cartelerías, los
formularios, y las comunicaciones en general de los gobiernos departamentales y
distritales, como así también las instituciones públicas con oficinas en los
departamentos (...)" 228 (Ações da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai.
Anexo XV. Grifos nossos.)

Como já colocado em vários momentos do decurso desta tese, o guarani é, desde 1992,
língua oficial do Estado Paraguaio. Desde sua oficialização, o governo criou órgãos e leis para
garantir a manutenção e a promoção da língua indígena, tais como a Secretaria de Políticas
Linguísticas, a Comissão Nacional de Bilinguismo e a Academia da Língua Guarani.
Consideramos, então, a Lei de Línguas nº 4251, de 2010, a materialização do trabalho pós
oficialização da língua indígena.

De acordo com nossa interpretação, "aplicar", "promover", "iniciar", "concretar",


"cumplir" e "fortalecer" apontam, no discurso sobre o bilinguismo no Paraguai, para uma

227
"Projeto Normalização do uso da língua guarani nos estados, tem como propósito iniciar a aplicação gradual
do Paraguái Ñe’ẽnguéra Jeporurã Rape – Plan Nacional de Uso de Lenguas en los municipios dos
departamentos do país. . Desta maneiras se concretizarão as novas políticas linguísticas nacionais estabelecidas
na Lei 4251/10 de Línguas, e as recomendações dos organismos internacionais." (Ações da Secretaria de
Políticas Linguísticas do Paraguai. Anexo XV. Tradução nossa.)
228
- Aplicar as novas políticas linguísticas do Paraguai contempladas na Lei 4251/10 de Línguas;
- Cumprir as recomendações da Convenção Internacional contra toda forma de Discriminação Racial (CERD);
- Iniciar a normalização do uso oral e escrito das duas línguas oficiais nos estados e municípios do país, de
maneira a visibilizá-las e elevar o prestígio das mesmas, de forma coordenada com os conselhos estaduais de
educação dos estados;
- Iniciar a bilinguização guarani-castelhano dos documentos, os anúncios, os formulários, e as comunicações em
geral dos governos estaduais e distritais, bem como as instituições públicas com escritórios nos estados.
(...)"(Ações da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai. Anexo XV. Tradução nossa.)

209
retomada dos dizeres presentes na Lei de Línguas e, antes, na Constituição da República do
Paraguai, pelo funcionamento de um produtivo "vir a ser" da língua, em que a marcação do
"início", mesmo quatro anos depois da promulgação da Lei de Línguas, aparece como eficaz
na atualização da memória do guarani significado como língua dominada.

Neste ponto, como acabamos de antecipar, passamos a nos concentrar no terceito


projeto, que previa uma semana de uso da língua guarani, o Rohayhu Che Ñe’, e que foi
implementado em agosto do último ano. Consideramos tal projeto como um gesto de política
de línguas explícita no espaço de enunciação paraguaio na atualidade.

5.2.1 "Rohayhu Che Ñe’ ẽ: Una semana en lengua guaraní"

Proyecto Rohayhu Che Ñe’ ẽ : Una semana en lengua guaraní, impulsado a fin de
promover la revalorización y el normal uso oral y escrito del idioma guaraní, a través
de una experiencia de inmersión lingüística, por una semana, invitando al Estado, los
medios de comunicación y la sociedad a vivir en y con esta lengua durante unos días;
éstas actividades colaborarían a elevar el estatus de esta lengua y el orgullo de la
población hacia ella, y así seguir el proceso de normalización de su uso. Durante
seis días, del lunes 25 al sábado 30 de agosto, se invitó a toda la población y a los
compatriotas radicados en el exterior a vivir en la lengua guaraní, es decir, que usen
solo o preferentemente esta lengua, en forma oral y escrita, en todas las interacciones
comunicativas, especialmente en los espacios no habituales de su uso.229 (Anexo
XVI. Grifos nossos.)

O trecho acima reproduzido é a descrição de um dos projetos da Secretaria de Políticas


Linguísticas: Rohayhu Che Ñe’ ẽ: Una semana en lengua guaraní. A partir da leitura deste
projeto, podemos afirmar que, no caso paraguaio, a contradição está posta e dissimulada, ou,
em termos discursivos, a ideologia faz parecer evidente o lugar das línguas que ali disputam o

229
"Projeto Rohayhu Che Ñe’ ẽ : Una semana en lengua guaraní, impulsionado a fim de promover a
revalorização e o normal uso oral e escrito do idioma guarani, através de uma experiência de imersão linguística,
por uma semana, convidando o Estado, os meios de comunicação e a sociedade a viver em e com esta língua
durante uns dias estas atividades colaborariam para elevar o status desta língua e o orgulho da população por ela,
e assim seguir o processo de normalização do seu uso. Durante seis dias, da segunda 25 ao sábado 30 de agosto,
foi convidada toda a população e também os compatriotas radicados no exterior a viver em língua guarani, ou
seja, que usem só ou preferentemente esta língua, em forma oral e escrita, em todas as interações comunicativas,
especialmente nos espaços não habituais de seu uso.
210
espaço. O projeto formulado e promovido pela Secretaria de Políticas Linguísticas do
Paraguai estabelece como objetivo o uso da língua guarani em todos os âmbitos da
comunidade paraguaia, principalmente, aqueles em que não se utiliza o guarani, ou seja, os
ambientes vinculados às instituições públicas, aos meios de comunicação, etc. A proposta em
si já revela que o guarani ainda ocupa o lugar da oralidade naquele país e que, nas situações
formais de uso linguístico, o espanhol ainda é a língua oficial. Pressupõe-se, ao chegar em
qualquer instituição pública, principalmente na capital do país, o uso da língua de origem
europeia.

Em 2005, Corvalán sinalizava para este uso da língua guarani fora dos espaços
institucionais do Estado. Segundo a autora,

Os símbolos de vitalidade da língua dão a possibilidade de medir o alcance e


impacto das mudanças no uso, no setor público, privado e em áreas de grande
visibilidade como: Governo, administração pública, sinalização de espaços públicos,
comércio, propaganda, mercado de trabalho, etc. Entretanto, foi inexistente o
avanço em áreas de prestígio como a jurídica, legislativa e principalmente nas
instituições do Estado; nos símbolos (moedas e notas, selos e carimbos,
passaportes, carteiras de identidade, etc.), nos folhetos oficiais do Governo,
ainda que haja ocorrido um avanço nas notas novas com o valor do Guarani
impresso em ambas as línguas.230 (CORVALÁN, 2005. Grifos nossos.)

Tal como afirmava a autora (ibidem) com relação à época anterior à implementação da
Lei de Línguas, em que era "inexistente o avanço" da língua guarani "em áreas de prestígio",
podemos afirmar que, atualmente, a situação das línguas no Paraguai não teve grande
mudança. É possível dizer que cinco séculos não mudam em vinte anos. Apesar da resistência
produzida pelos projetos políticos, esse resistir significa dentro do sistema já conformado de
um imaginário de bilinguismo que não promove uma situação de paridade entre as duas
línguas.

230
"Los símbolos de la vitalidad de la lengua dan la posibilidad de medir el alcance e impacto de los cambios en
el uso, en el sector público, privado y en áreas de gran visibilidad como: Gobierno, administración pública,
señalización de espacios públicos, comercio, propaganda, mercado de trabajo, etc. Sin embargo, ha sido
inexistente el avance en áreas de prestigio como la jurídica, legislativa y principalmente en las instituciones del
Estado; en los símbolos (monedas y billetes, sellos y estampillas, pasaportes, cédulas de identidad, etc.), en la
folletería oficial del Gobierno, aunque se ha dado un avance en los billetes nuevos con el valor del Guaraní
impreso en ambas lenguas." (CORVALÁN, 2005) Disponível em: http://www.datamex.com.py/
guarani/opambae_rei/tembihai/corvalan_vitalidad_del_guarani. html
211
A falha no processo de implementação da Lei de Línguas denuncia o funcionamento
do lugar das línguas no imaginário paraguaio que, passados já mais de vinte anos da
oficialização do guarani, reserva-lhe o lugar da oralidade, o lugar da língua materna, língua
“patrimônio” – neste último caso, pelos dizeres de uma nação, constituída a partir de um
processo de colonização.
Rohayhu Che Ñe' ẽ aparece como o furo na evidência quando se diz das línguas
oficiais do Paraguai. O projeto promovido no mês de agosto de 2014 faz lembrar o que se
esquece (PÊCHEUX, 1988 [1975]) na construção das evidências ao dizer sobre o guarani e o
espanhol em situação de bilinguismo. Se se considera que o Paraguai é bilíngue e não se
reconhece a contradição, apaga-se a possibilidade de mudança e cada vez mais o projeto de
bilinguismo faz silenciar os possíveis sentidos para a língua guarani naquele país. Se “todo
mundo sabe” (Ibidem) que no Paraguai se fala guarani e espanhol, que todo paraguaio é
bilíngue, onde se encaixam os que não falam espanhol? Como se muda algo que já está pronto
como é o caso do bilinguismo?
Este movimento que faz reconhecer o bilinguismo e produz sentidos que alimentam o
imaginário que projeta as línguas no Paraguai como oficiais e, portanto, “equivalentes” vai
deixando escapar e apagando no mesmo gesto a língua guarani, as línguas indígenas – o
guarani indígena, o mbya guarani e outras línguas –, a língua da fronteira e a língua das
colônias. Nesse funcionamento, sob a ilusão do bilinguismo se encobre o real e se silenciam
sentidos aí presentes.
Mostra-se, na contradição de um programa lançado pela Secretaria de Políticas
linguísticas do Paraguai, a falha no processo de oficialização de uma língua indígena e do
projeto bilíngue, conservando-se assim o funcionamento ideológico construído historicamente
que permitiu ao espanhol ocupar o lugar da unidade real oficial, revelando a contradição que
marca a relação entre as línguas nesse espaço.

Diz-se que o Paraguai é um país bilíngue, mas ainda, de acordo com o censo de 2002,
mais de 80% da população declarou seus lares "falantes de guarani", principalmente nas zonas
rurais: famílias inteiras, cujos direitos são restritos ao uso do espanhol, uma língua que muitos
desconhecem, pela qual seguem sendo colonizados ano após ano. Os monolíngues em guarani
são silenciados no seu próprio país. E eles não são poucos.

212
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS: UM BILINGUISMO IMAGINÁRIO

Ao longo desta tese, fomos construindo um arquivo de análise e fomos perseguindo


pistas (GINZBURG, 1989) que nos permitiram compreender o imaginário sobre o
bilinguismo paraguaio na ordem do simbólico. Para iniciar nossa discussão, formulamos
algumas questões sobre os nomes da línguas guarani no espaço de enunciação paraguaio,
além de discutir sobre o ato de nomear o sujeito em determinada língua. Tomados pelo
enunciado-título de Mariani (2007), "Quando as línguas eram corpos", a proibição de
determinados nomes em língua indígena no Paraguai nos fez refletir sobre a marca da história
no corpo do sujeito, em que nomear é um gesto no simbólico que produz efeitos de sentido
sobre o próprio sujeito, escrevendo sua história pessoal e social, a partir do seu nome.

No segundo capítulo, apresentamos algumas questões acerca das línguas oficiais do


Paraguai, formuladas a partir do escopo teórico da História das Ideias Linguísticas e da
Análise de Discurso, considerando os estudos sobre língua nacional/ oficial/ materna, para
compreender o funcionamento dessas denominações, considerando o caso específico do
bilinguismo.

Dar visibilidade ao processo de construção do estado nacional paraguaio, pela análise


do discurso da história sobre o Paraguai, nos permitiu compreender como se conformou esse
espaço de enunciação, o processo de gramatização da língua guarani das reduções e a
construção de um imaginário de resistência nacionalista que incide diretamente nos discursos
sobre essa língua, significada, desde o século XIX e avançando pelo século XX, como

213
símbolo da identidade nacional, ou, em outras palavras, como objeto simbólico da nação
paraguaia.

O segundo e o terceiro capítulos descritos acima nos possibilitaram empreender uma


leitura das Cartas Magnas do Paraguai como discurso, por sua inscrição histórica e ideológica,
e pelos sentidos que promoviam sobre as línguas. Consideramos que os documentos oficiais
fazem circular efeitos de sentido sobre as línguas silenciando-as ou promovendo-as, desde o
primeiro Regulamento de Governo de 1813. Analisamos também a Lei Geral de Educação nº
1264/1998 e a Lei n° 3231/2007 para compreender como o guarani e o espanhol são
significados pelos documentos que tratam da educação e como isso direciona as políticas
educacionais para a promoção de um monolinguismo, pela manutenção de um sistema de
ensino em que o guarani serve como ponte de apoio para que o alunado desenvolva seus
conhecimentos em espanhol. Por fim, ainda no quarto capítulo, observamos que, na Lei de
Línguas, o guarani é significado pela projeção de um futuro, materializando a hierarquia entre
as línguas, produzida ideologicamente no espaço de enunciação paraguaio. Pelo embate entre
puristas e modernos (RODRÍGUEZ ZUCOLILLO, 2000; ALFÓN, 2011; ZARRATEA,
2011), travado nos discursos sobre o guarani no Paraguai, a situação da língua guarani, dentro
e fora da lei, permanece sem muitos avanços, pela querela que divide os defensores de um
guarani puro ou de um guarani paraguaio, castelhanizado. Nesta tensão, entre promover um
guarani do impossível, sem sentido para o falante do dia-a-dia, e o guarani paraguaio,
resultado do confronto histórico da colonização linguística (MARIANI, 2004), no espaço de
enunciação paraguaio, as políticas de línguas pró-bilinguismo se significam por um "vir a ser"
em que há um futuro possível para o guarani, mas (ainda?) não realizável.

No capítulo anterior a este, o capítulo cinco, procuramos compreender o


funcionamento discursivo das instituições responsáveis pela promoção do Bilinguismo. No
campo da sociolinguística, a discussão sobre o termo bilinguismo teve uma grande produção
nos anos sessenta e tem em Fishman (1967) um nome fundamental. Em sua produção,
Fishman (ibidem) diferencia bilinguismo e diglossia para afirmar que o bilinguismo supõe
uma igualdade nas relações e que, na diglossia, haveria uma divisão funcional que afetaria os
usos das línguas nesta situação231.

231
Vale ressaltar que até este momento trabalhamos com a noção de "bilinguismo" tal como aparece descrito na
Constituição de 1992. Trouxemos o termo "diglossia" da sociolinguística para discutir como, para nós,
214
Do ponto de vista discursivo, nos perguntamos: é possível bilinguismo sem
diglossia?232 Seria o Paraguai um exemplo de bilinguismo ou de diglossia? O que estamos
querendo formular é que, de nosso campo teórico, seria da ordem do impossível considerar a
convivência de duas línguas de forma harmônica, produzidas a partir da dominação histórica,
ideológica e linguística pelas quais passaram os países colonizados. A partir destas
considerações, ainda nos perguntamos: as políticas de línguas do Estado paraguaio ao
promoverem projetos para o bilinguismo de fato promovem uma situação de equivalência
entre os usos das duas línguas oficias?

A memória da colonização se inscreve nos discursos sobre as línguas e, como


resultado deste processo de discursivização do bilinguismo, a suposta equivalência entre as
línguas guarani e espanhola no espaço paraguaio produz um silenciamento da língua
significada como patrimônio da nação e símbolo da identidade cultural em oposição àquela
significada como língua da civilização e da cidadania.

Como trouxemos no segundo capítulo, a ideologia do valor de uma língua, pela


globalização ou pelo mito da comunicação mundial, silencia a tensão histórica de dominação
que produz efeitos de sentido sobre as línguas envolvidas neste projeto. Trata-se de uma
discursividade que produz um apagamento do repetível na história dos países colonizados, ou
seja, um apagamento que atua em favor da promoção de um monolinguismo em língua
espanhola no Paraguai.

Pela formulação de um enunciado que se repete na ordem do simbólico - "El Paraguay


es un país pluricultural y bilingüe", como se lê na Constituição da República do Paraguai,
1992- ficam silenciadas as disputas que produzem, de modo contínuo, um país cada vez mais
monolíngue em língua espanhola233.

A esse respeito, em nosso movimento de análise, fomos verificando como


discursivamente se produziu - e se produz - um bilinguismo imaginário pelo próprio Estado
paraguaio, a partir das suas políticas de línguas. De nossa perspectiva, a noção de bilinguismo

discursivamente, ambos os termos não dariam conta de nosso objeto, as políticas de promoção da língua guarani
pelo estado paraguaio.
232
Vale a pena lembrar o texto, proferido por Melià (1988), em que o autor dirá que não há bilinguismo no
Paraguai e sim diglossia. Mais recentemente, em La tercera lengua del Paraguay, Melià (2013) afirma que, no
Paraguai atual, não se trata nem de bilinguismo nem de diglossia, o que há é uma terceira língua, como tratamos
no quarto capítulo desta tese. (MELIÀ, 2013)
233
Dados do Censo do Paraguai do ano de 2002.

215
imaginário se justifica pela relação com a língua nacional, que é também da ordem do
imaginário, que, pela representação da situação linguística do Paraguai, atualiza a memória da
colonização nos documentos produzidos pelo governo. Ou seja, consideramos o bilinguismo
imaginário como parte de um processo histórico de colonização linguística (MARIANI, 2004)
em que se apagam as relações de forças, nas discursividades que silenciam o guarani, fazendo
significar as línguas espanhola e guarani em sua suposta e impossível equivalência. Neste
processo, a língua significada como mais adequada e completa, o espanhol, garante seu lugar
privilegiado historicamente nas práticas políticas do Estado pelo bilinguismo. Ressaltamos,
neste ponto, que o bilinguismo imaginário é um projeto do Estado e que não estamos tratando
da sociedade paraguaia e de suas manifestações linguísticas, por este se tratar de um país
multilíngue, o que não se privilegia na Constituição de 1992 e nas políticas de línguas do
Estado. Este seria outro estudo e aí não se vincularia a uma noção de bilinguismo imaginário,
talvez seria possível pensar em um multilinguismo fluido, o que não é o objeto de nossa
pesquisa.

Pelo que se promove como bilinguismo, podemos afirmar que o bilinguismo


imaginário institui um lugar para as línguas nacionais, produzindo efeitos de sentido para os
paraguaios, subjetivados neste processo, significando-os pela imagem de um sujeito nacional
bilíngue.

Partindo do deslocamento proposto do conceito de bilinguismo para a noção de


bilinguismo imaginário, nos perguntamos: qual a imagem do sujeito nacional paraguaio
(bilíngue) promovido pelas/nas políticas de línguas do Paraguai? Na relação com o Estado,
pela implementação de uma língua oficial, conseguimos observar duas direções de sentido
produzidas pelas políticas de línguas do estado paraguaio.

1. O falante de guarani, para ter seus direitos reconhecidos, defendidos e, inclusive,


para compreendê-los e ser compreendido, deve aprender a língua espanhola;

2. O falante de espanhol, no mesmo contexto, já tem o conhecimento linguístico


necessário para reivindicar seus direitos, ele não precisa aprender o guarani.

Retomando nossas perguntas: realizadas no segundo capítulo: "em que língua é


possível ser cidadão no Paraguai?" e "em que língua o sujeito se submete ao jugo do
Estado?", mais uma vez respondemos que o ser cidadão no Paraguai está determinado pelo

216
funcionamento de um Estado com características monolíngues, cuja realidade plurilíngue é
admitida, mas não praticada.

Como vimos no quinto capítulo, nas ruas do país, o Paraguai se manteve praticamente
monolíngue em guarani, principalmente nas zonas mais afastadas dos centros urbanos. Nos
meios de comunicação, nas placas de trânsito e em todo o aparato produzido, incluindo seus
aparelhos ideológicos (ALTHUSSER, 2003 [1971]), o Estado se conforma como monolíngue
em espanhol.

O lugar atual das línguas nas políticas de línguas no Paraguai faz significar a memória
da colonização, atualizando-a, fazendo ressoar os sentidos para a língua guarani como
símbolo de um patrimônio nacional. Na relação estabelecida entre o real e as leis que tratam
da questão das línguas no Paraguai, podemos afirmar que há uma distância significativa a ser
percorrida.

Para finalizar esta reflexão, já tematizada no âmbito da literatura paraguaia, tomamos


emprestado um trecho da obra Yo el Supremo, de Roa Bastos, que constrói uma narrativa na
voz do personagem do Dr. Francia, o conhecido ditador que governou o Paraguai, durante o
século XIX: Retomamos as palavras do personagem:

Redigi leis iguais para o pobre, para o rico. Fi-las contemplar sem contemplações.
Para estabelecer leis justas suspendi leis injustas. Para criar o Direito suspendi os
direitos que em três séculos funcionaram invariavelmente torcidos nestas colônias.
Liquidei a impropriedade individual tornando-a propriedade coletiva, que é o
próprio. Acabei com a injusta dominação e exploração dos crioulos sobre os
naturais, coisa mais natural do mundo posto que eles como tais tinham direito de
primogenitura sobre os orgulhosos e mestiços mancebos da terra. Celebrei tratados
com os povos indígenas. Provi-lhes de armas para que defendessem suas terras
contra as depredações das tribos hostis. Mas também os contive em seus limites
naturais impedindo-lhes cometer excessos que os próprios brancos lhes haviam
ensinado.
Atualmente os índios são os melhores servidores do Estado; dentre eles tirei os
juízes mais probos, aos funcionários mais capazes e leais, a meus soldados mais
valentes.
Tudo que se necessita é a igualdade dentro da lei. Unicamente os pícaros crêem
que o benefício de um favor é o favor mesmo. Entendam-no todos de uma vez:
O benefício de uma lei é a lei mesma. Não é benefício nem é lei senão quando o
234
é para todos." (ROA BASTOS, 2013 [2007], p. 48-49. Grifos nossos. Tradução
nossa.)

234
"Redacté leyes iguales para el pobre, para el rico. Las hice contemplar sin contemplaciones. Para establecer
leyes justas suspendí leyes injustas. Para crear el Derecho suspendí los derechos que en tres siglos han
funcionado invariablemente torcidos en estas colonias. Liquidé la impropiedad de la propiedad individual
tornándola en propiedad colectiva, que es lo propio. Acabé con la injusta dominación y explotación de los
criollos sobre los naturales, cosa la más natural del mundo puesto que ellos como tales tenían derecho de primo-
genitura sobre los orgullosos y mezclatizos mancebos de la tierra. Celebré tratados con los pueblos indígenas.
217
O trecho de Roa Bastos (ibidem) nos permite falar sobre os "limites" impostos ao povo
paraguaio e a sua língua guarani. O discurso da lei, pela generalização e pelo efeito de
circularidade, produz um funcionamento que promove o apagamento das diferenças, mas que,
pelas análises, deixa entrever sua característica mais produtiva: a do silenciamento das
diferenças. Em linhas gerais, no que concerne o discurso sobre o bilinguismo no Paraguai, a
tensão que se marca, pela memória da colonização linguística na produção de políticas de
línguas atuais, projeta uma imagem de equivalência entre as línguas guarani e espanhola, em
"benefício da lei mesma". Assim, nos apropriamos de outro dizer significativo do fragmento
citado, para concluir: "Não é benefício nem é lei senão quando o é para todos".

Les proveí de armas para que defendieran sus tierras contra las depredaciones de las tribus hostiles. Mas también
los contuve en sus límites naturales impidiéndoles cometer los excesos que los propios blancos les habían
enseñado.
Hoy por hoy los indios son los mejores servidores del Estado; de entre ellos he cortado a los jueces más probos,
a los funcionarios más capaces y leales, a mis soldados más valientes.
Todo lo que se necesita es la igualdad dentro de la ley. Únicamente los pícaros creen que el beneficio de un favor
es el favor mismo. Entiéndanlo todos de una vez: El beneficio de la ley es la ley misma. No es beneficio ni es ley
sino cuando lo es para todos." (ROA BASTOS, 2013 [2007], p. 48-49)

218
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232
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Acesso em: julho de 2014.

233
ANEXOS

234
ANEXO I

REGLAMENTO DE GOBIERNO. SEGUNDO CONGRESO (1813)


Regulamento de Governo. Segundo Congresso (1813)

Plan de gobierno presentado al Segundo Congreso del Paraguay por el doctor Francia y
aprobado por aclamación en la sesión de 12 de Octubre 1813 (Reunido en la Merced).
De consolidar la unión y precaver cualquiera desavenencia en lo ulterior, hemos formado de
común acuerdo el siguiente reglamento de gobierno. Señor: Cumpliendo con lo ordenado por
V.M. y teniendo en consideración las precisas circunstancias con el justo fin
Art. 1. Continuarán en el gobierno superior de la provincia solamente los dos ciudadanos, don
Fulgencio Yegros, y don José Gaspar de Francia, con la denominación de Cónsules de la
República del Paraguay y se les confiere la graduación y honores de brigadieres del ejército,
de que se les librará despacho firmado del presidente actual del congreso, secretario y
sufragantes de actuación con el sello del gobierno.
Art. 2. Usarán por divisa de la dignidad consular el sombrero orlado con una franja azul con la
escarapela tricolor de la República, y tendrán jurisdicción y autoridad en todo igual, la que
ejercerán unidamente y en conformidad – Por consecuencia, todas las providencias de
gobierno se expedirán firmadas por los dos.
Art. 3. Su primer cuidado será la conservación, seguridad, y defensa de la República con toda
la vigilancia, esmero y actividad que exigen las presentes circunstancias.
Art. 4. La presencia quedará en adelante reducida solamente á lo interior del Tribunal que han
de componer unida solamente los dos cónsules. Por consiguiente, será limitadaá la economía
y régimen interior del Tribunal, cuyo tratamiento será el de excelencia; pero los cónsules
tendrán el correspondiente al grado militar que le queda conferido.
Art. 5. La comandancia general de las armas de la provincia, se ejercerá por la jurisdicción
unida de los dos cónsules.
Art. 6. No obstante esta disposición, la fuerza viva y efectiva, esto es, la tropa veterana de
cualquiera clase que sea así como el armamento mayor y menor pólvora y municiones de toda
especie se distribuirá por mitad al mando y cargo particular de cada uno de los dos cónsules, y
ésta tendrá su respectivo parque o almacén en el lugar o alojamiento de sus cuerpos
respectivos para su debida autoridad.
Art. 7. Habrá dos batallones de infantería de tres o cuatro compañías cada uno, por ahora, o de
más o menos según las circunstancias, de suerte que cada cónsul tendrá su batallón. Y será su
Jefe y comandante particular y exclusivo. Será también jefe y comandante particular de una
de las actuales compañías de artillería, aplicándose a este respecto la primera de ellas al
cónsul Yegros, y la segunda al cónsul Francia.
Este creará el batallón de que le corresponde ser jefe y comandante, y para una de sus
compañías podrá tomar, si quiere, la quinta del actual batallón del que quedará de jefe y
comandante y exclusivo. Será también jefe y comandante particular de una de las actuales
compañías de artillería, aplicándose a este respecto la primera de ellas al cónsul Yegros, y la
segunda al cónsul Francia. Este creará el batallón de que le corresponde ser jefe y
comandante, y para una de sus compañías podrá tomar, si quiere, la quinta del actual batallón
del que quedará de jefe y comandante el cónsul Yegros.
Art. 8. Los oficiales y demás individuos de estos cuerpos serán a satisfacción de sus
respectivos comandantes, los sobredichos cónsules; pero los despachos de oficiales de
cualquiera de ellos se librarán en unión por los cónsules a propuesta y elección de aquél a
quien corresponda; y del mismo modo las causas particulares de cualesquiera individuos de
los expresados cuerpos de una y otra comandancia, deberán ventilarse y juzgarse por la
jurisdicción unida de los cónsules.
235
Art. 9. La providencia interior del tribunal en los términos expresados rolará de aquí adelante
alternando los dos cónsules por cuatro meses cada uno. El que la ejerza solo se titulará cónsul
de turno, y de ningún modo cónsul presidente, para evitar las equivocaciones de que ha sido
origen esta última denominación. Esta conformidad entrará de turno el cónsul Francia. La
traslación de esta presidencia, cumplido el tiempo respectivamente al turno de cada cónsul, se
extenderá por diligencia firmada por los dos en el Libro de Acuerdo, y de ello se pasará
noticia al cabildo de esta ciudad para su inteligencia.
Art. 10. Se destinará en las casas de gobierno una pieza para tribunal común y público de
ambos cónsules. Estará abierta a las horas de audiencias y despacho, y de su régimen y
formalidad se encargara á su vez el cónsul que esté de turno.
Art. 11. En los casos de discordia, en cuanto no se oponga á lo determinado en el presente
reglamento, la dirimirá el secretario y si hubiesen dos los ejecutará aquel á quien corresponda
actuar en los negocios de la clase en que ocurra la discordia.
Art. 12. Se deja al arbitrio y prudencia de los dos cónsules el arreglar de común acuerdo y
conformidad todo lo concerniente al mejor despacho y expediente de todos los negocios de
gobierno en todos sus ramos: así como la conservación de uno ó dos secretarios, y del mismo
modo la creación de un tribunal superior de recurso, que deberá conocer y juzgar en la última
instancia conforme á las leyes, según la naturaleza de los casos y juicios que se dejase á su
conocimiento.
Art. 13. Los cónsules con audiencia y consulta del mismo cabildo de esta ciudad arreglarán
también el sueldo que deban tener, así ellos como los secretarios y miembros del nuevo
tribunal, ó cámaras de recursos, si se creasen.
Art. 14. Si alguno de los dos cónsules faltase absolutamente del gobierno por muerte o por
retiro, procederá el que quedase a convocar dentro de un mes a congreso general de la
provincia en la forma, método y número de mil sufragantes elegidos popularmente en toda la
comprensión de la provincia como al presente: y sin perjuicio de esta deliberación se
establece también como ley fundamental, y disposición general perpetua é invariable, que en
lo venidero se celebrará anualmente un congreso general de la provincia al propio modo, con
la misma formalidad, número y circunstancia, señalándose á este efecto el día 15 de cada mes
de octubre, en cuya conformidad se expedirán puntualmente las correspondientes
convocatorias á mediados de septiembre, con el justo fin de que la provincia oportunamente, ó
al menos una vez al año pueda congregarse á tratar, como pueblo libre y soberano, lo más
conducente á la felicidad general, á mejorar su gobierno si fuese necesario, y á ocurrir á
cualesquiera abuso que pueda introducirse, tomando las disposiciones y haciendo los
establecimientos más bien meditados con el conocimiento que da la experiencia.
Art. 15. Se observará el presente Reglamento hasta la determinación del futuro congreso, y se
copiará en el libro de acuerdos del gobierno.
Art. 16. Los cónsules comparecerán inmediatamente a jurar ante el presente Congreso
Soberano el observar y hacer observar fiel y cumplidamente el presente reglamento. Los
mismos ejecutarán por su orden todos los oficiales de las tropas acuarteladas, los cuales
tomarán igual juramento en el cuartel á los individuos de sus respectivas compañías dando
cuenta con la diligencia para su agregación a las actuaciones del Congreso; con prevención
que el que rehusase este reconocimiento y juramento será despedido del cuerpo, así como
castigado con la misma pena y otras más severas en el que después de reconocido y jurado el
presente reglamento y de cualquiera manera lo quebrantare.
Art. 17. Queda adoptado por la providencia el método y número de sufragantes del presente
Congreso, y por lo mismo se prohíbe al gobierno el que sin deliberación de otro semejante
Congreso variar o mudar esta forma y número de sufragantes.
Asunción, octubre 12 de 1813.
Firmado etc.
236
ANEXO II

LEY QUE ESTABLECE LA ADMINISTRACIÓN POLÍTICA DE LA REPÚBLICA


DEL PARAGUAY, Y DEMÁS QUE EN ELLA SE CONTIENE/ CONSTITUCIÓN DE
LA REPÚBLICA DEL PARAGUAY (1844)
Lei que estabelece a administração política da República do Paraguai, e demais que nela
se contém / Constituição da República do Paraguai (1844)

TITULO I DE LA ADMINISTRACIÓN GENERAL


Art. 1. La Administración General de la República se expedirá en adelante por un Congreso ó
Legislatura Nacional de Diputados Representantes de la República; por un Presidente en
quien resida el Supremo Poder Ejecutivo y por los Tribunales y Jueces establecidos por ley
del Soberano Congreso Extraordinario de 25 de Noviembre de 1842.
Art. 2. La facultad de hacer las leyes, interpretarlas ó derogarlas, reside en el Congreso
Nacional.
Art. 3. La facultad de hacer ejecutar las leyes y reglamentarias para su ejecución, reside en el
Supremo Poder Ejecutivo de la República.
Art. 4. La facultad de aplicar las leyes reside en los Jueces y Tribunales establecidos por la
ley.
TITULO II DEL CONGRESO O LEGISLATURA NACIONAL
Art. 1. El congreso Nacional se compondrá por ahora de doscientos diputados elegidos en la
forma hasta aquí acostumbrada, debiendo ser ciudadanos propietarios de las mejores
capacidades y patriotismo.
Art. 2. El Congreso Nacional será convocado de cinco en cinco años en los casos ordinarios,
contándose aquellos desde el 15 de Marzo de 1844. La convocación será treinta días antes
cuando menos, y durará en sus sesiones el tiempo que el mismo Congreso acuerde.
Art. 3. El Congreso se reunirá y abrirá sus sesiones en la Capital de la República, y tendrá el
tratamiento de Muy Honorables Señores Representantes de la Nación; nombrará un
Presidente, un Secretario, y los demás oficiales que requiera el despacho de los negocios.
Art. 4. Para el mejor expediente de sus deliberaciones nombrará las comisiones que crea
necesarias, y cada comisión nombrará un Presidente y un Secretario durante la comisión.
Art. 5. Las comisiones darán por escrito sus dictámenes firmados, sin perjuicio de lo que
puede informar invoce algunos de sus miembros.
Art. 6. El Congreso Nacional se dará oportunamente un reglamento para el régimen interno de
sus actos.
Art. 7. Tendrá un archivo en que se reserven los registros de sus actas y demás documentos
oficiales, y todo ello correrá a cargo del Secretario del Congreso.
Art. 8. Es atribución del Presidente del Congreso el nombramiento de las comisiones, fijar el
número de ellas hasta que se reglamente en esta parte lo conveniente. Es obligación de las
comisiones dar aviso verbal al Presidente del Congreso cuando hayan concluido sus tareas,
remitiéndose bajo de carpeta cerrada al Presidente del Congreso.
Art. 9. El Presidente del Congreso pondrá a la deliberación del Congreso los asuntos
despachados por las comisiones según el orden que fuere más conveniente.
Art. 10. Es también atribución del Presidente del Congreso velar sobre la policía de la casa de
los Señores Representantes, y cuidar que se observe toda circunspección y dignidad en todas
sus deliberaciones.
TITULO III DE LAS ATRIBUCIONES DEL CONGRESO NACIONAL.
Art. 1. Al Congreso Nacional corresponde formar las leyes y ordenanzas de cualquier
naturaleza para regir la administración interior de la República, bien como el modificarlas,
suspenderlas, o abolirlas.
237
Art. 2. Elegir al Presidente de la República, recibirle el juramento de ley, y mandarle poner en
posesión del mando.
Art. 3. Corresponde al Congreso Nacional declarar la guerra, oídos los motivos que exponga
el Presidente de la República.
Art. 4. Recomendar al Presidente de la Nación cuando lo halle por conveniente la negación de
la paz.
Art. 5. Fijar los gastos generales con presencia de los presupuestos que presentare el
Presidente de la República.
Art. 6. Recibir las cuentas de inversión de los Fondos Públicos, examinarlas y aprobarlas.
Art. 7. Fijar la ley, valor, pero y tipo de la moneda.
Art. 8. Establecer Tribunales de Justicia y reglar la forma de los juicios.
Art. 9. Crear y suprimir empleos de toda clase.
Art. 10. Reglar el comercio interior y exterior.
Art. 11. Demarcar el territorio de la República y fijar sus límites.
Art. 12. Ratificar los tratados que hiciere el Presidente de la República, en los casos que lo
permite la ley del Soberano Congreso de 26 de Noviembre de 1842 en el Art. 20.
TITULO IV DEL PODER EJECUTIVO PERMANENTE
Art. 1. El Gobierno Nacional permanente, ha de ser desempeñado por un solo ciudadano con
la denominación de Excelentísimo Señor Presidente de la República del Paraguay.
Art. 2. Ninguno podrá ser electo Presidente de la República que no sea ciudadano del fuero
común natural de la República del Paraguay, y que además tenga cuarenta y cinco años de
edad, capacidad, honradez y patriotismo conocidos; buena conducta moral y un capital propio
de ocho mil pesos.
Art. 3. Para entrar al ejercicio de Presidente, hará en presencia del Congreso Nacional el
juramento: Yo, Fulano de tal, solemnemente juro por Dios Nuestro Señor y estos Santos
Evangelios, que ejerceré fielmente el cargo de Presidente de la República; que protegeré la
Religión Católica, Apostólica Romana, única del Estado; que conservare y defenderé la
integridad e independencia de la nación, y cuando mejor pueda propenderé a la felicidad de la
República”.
Art. 4. El Presidente de la República durará en el cargo de la Presidencia Nacional por el
tiempo de diez años desde el día de su elección.
Art. 5. En el caso de enfermedad, ausencia del Presidente o mientras se proceda a nueva
elección por su muerte, renuncia o por otra causa, el Juez Superior de Apelaciones entrará a
ocupar el mando con calidad de Vice-Presidente de la República prestando el juramento de
ley, o en manos del mismo Presidente de la República o por falta de este en manos del Prelado
Diocesano, con asistencia de todas las corporaciones civiles, militares y eclesiásticas de la
capital, sin cuyo requisito no tomará el mando de la República. Para este acto se constituirán
las autoridades en el Palacio de Gobierno.
Articulo 6. El Presidente de la República recibirá por sus servicios la dotación que la ley
establezca por separado, y en ella también se acordará la dotación que deba recibir el
Vicepresidente en los casos que expresa el Art. 5º de este título.
Articulo 7. El Juez. Superior de Apelaciones encargado de la Presidencia interina nombrará
un ciudadano capaz y de conocida probidad que le sustituya entretanto el cargo del Tribunal
Superior, recibiéndole el juramento de ley, y percibirá por su servicio el mismo sueldo del
sustituyente.
Articulo 8. En los casos de enfermedad o ausencia del Presidente propietario, este nombrará el
Secretario que haya de actuar con el Vice-Presidente interino.
Articulo 9. Por fallecimiento del Presidente de la República, el Vice-Presidente interino
convocará inmediatamente el Congreso Nacional para la elección de Presidente propietario.

238
TITULO V DE LA ELECCIÓN DEL PRESIDENTE DE LA REPÚBLICA
Art. 1. El Presidente de la República del Paraguay será elegido en sesión permanente por el
Congreso Nacional, por votación nominal dada in voce por cada Diputado a pluralidad de
sufragios, formándose a continuación la acta conveniente.
Art. 2. El acto de las firmas no embarazará la recepción del Presidente legalmente electo, ni la
toma de posesión del mando.
Art. 3. Cuatro votos sobre la mitad harán la mayoría.
Art. 4. En el caso de ser empatada la elección de presidente, se repetirá por segunda vez, y si
en ésta ninguno obtuviese la mayoría, los ciudadanos entre quienes estén divididos los votos
serán sorteados á presencia del Congreso Nacional, insaculando sus nombres en dos cédulas,
y será Presidente el que decida la suerte.
Art. 5. Luego de efectuada la elección de Presidente, será proclamado en alta voz por el
Secretario del Congreso.
TITULO VI DISTINTIVOS DEL PRESIDENTE DE LA REPÚBLICA
Art. 1. El presidente de la República usará uniforme de Capitán General, y una banda tricolor
debajo del uniforme, de derecha a izquierda, y en aquella traerá pendiente al pecho un signo
nacional o presea de honor, ambas costeadas por el tesorero de la República.
Art. 2. La presea de honor será una estrella de oro orlada de brillantes, en cuyo centro se lea
por un lado, “Poder Ejecutivo” y del otro “República del Paraguay”.
Art. 3. El residente de la República tendrá las atribuciones y prerrogativas de Capitán General
y podrá formarse una escolta de honor para custodia de su persona. La escolta no excederá de
setenta y cinco plazas.
Art. 4. Tendrá además dos o tres edecanes de órdenes es el Palacio, que alternen en el
servicio. Un conserje y los sirvientes interiores que precisare, con sueldos abonables del
Tesoro nacional.
TITULO VII DE LAS ATRIBUCIONES DEL PRESIDENTE DE LA REPÚBLICA
Art. 1. La autoridad del Presidente de la República es extraordinaria en casos de invasión, de
conmoción interior, y cuantas veces sea precisa para conservar el orden y la tranquilidad
pública de la República.
Art. 2. El Presidente de la Nación es el Jefe de la Administración General de la República.
Art. 3. Publica y hace ejecutar las leyes decretos del Congreso, reglando su ejecución por
reglamentos especiales.
Art. 4. Convoca al Congreso Nacional en la época fijada por esta ley, o extraordinariamente
cuando las circunstancias lo demanden.
Art. 5. Hace la apertura del Congreso, y pasará informe por parte oficial del estado político de
la República, y de las mejoras y reformas que considere dignas de su atención; finalmente
cierra sus Sesiones.
Art. 6. Expide las órdenes convenientes y en tiempo oportuno para la elección de
Diputados.
Art. 7. Es el Jefe Supremo de las Fuerzas navales y de tierra, exclusivamente encargado de su
dirección en paz y en guerra: puede mandar en persona el ejército o en su lugar nombrar un
jefe general que lo mande.
Art. 8. Provee a la seguridad interior y exterior de la República.
Art. 9. Publica la guerra y la paz, y toma por sí mismo cuantas medidas puedan contribuir a
prepararlas.
Art. 10. Hace los tratados de paz y alianza con concepto a lo que ordena el Art. 20 de la del
Soberano Congreso extraordinario de 26 de Noviembre de 1842.
Art. 11. Fija la Fuerza de línea y las milicias en todos sus ramos.
Art. 12. Manda construir barcos de guerra, equiparlos y fijar su número.
Art. 13. Nombra y destituye a los empleados civiles, militares y políticos.
239
Art. 14. Igualmente nombra los enviados, agentes de negocios, y demás enviados
diplomáticos.
Art. 15. Puede recibir, según las fórmulas de etiqueta, los ministros y agentes de las naciones
extranjeras, oyendo sus propuestas sin estipular cosa alguna en oposición a lo dispuesto en el
precitado Art. vigésimo de la ley indicada.
Art. 16. Ejerce el patronato general respecto de las iglesias, beneficios y personas eclesiásticas
con arreglo á las leyes: nombra los obispos y los miembros del Senado eclesiástico.
Art. 17. Puede celebrar concordatos con la Santa Sede Apostólica; conceder ó negar su
beneplácito á los decretos de los concilios y cualesquiera otras constituciones eclesiásticas;
dar ó negar el exequátur á las bulas ó breves Pontificáis, sin cuyo requisito nadie las pondrá
en cumplimiento.
Art. 18. Es el Juez privativo de las causas reservadas en el estatuto de la administración de
justicia.
Art. 19. Promueve y fomenta los establecimientos de la educación primaria y los de ciencias
mayores.
Art. 20. Puede indultar ó conmutar la pena capital en conformidad de lo dispuesto en el Art.
quincuagésimo octavo del estatuto de justicia.
Art. 21. Puede aumentar ó disminuir los sueldos de los empleados públicos.
Art. 22. Aplica exclusivamente los ramos del diezmo en beneficio de las iglesias, de los
ministros del culto, y demás de este ramo en conformidad de la ley especial que se ha dado á
este respecto.
Art. 23. Puede conceder retiros y jubilaciones, premios renumeratorios, ó cualesquiera otra
gracia á los que hiciesen distinguidos servicios á la República.
Art. 24. Puede visitar personalmente, en todo ó en parte, el territorio de la República, una ó
más veces durante el período de la presidencia.
Art. 25. Puede dispensar de todo impedimento, y habilitar á los hijos de la República para
obtener donaciones, legados ó herencias, quedando revocadas todas las leyes en contrario.
Art. 26. Abrir puertos de comercios, y elevar las poblaciones al rango de villa y ciudades,
dando cuenta dando cuenta oportunamente al Congreso Nacional.
Art. 27. Formar planes generales o particulares de educación pública, sometiéndolos después
a la aprobación de la Representación Nacional.
Art. 28. Acordar a los autores o inventores de establecimientos útiles, privilegios por tiempo
determinados dando cuenta al Congreso Nacional.
Art. 29. Puede conceder amnistía dando cuenta al Congreso Nacional.
Art. 30. Todos los ramos de obras públicas, caminos, postas, correos, establecimientos de
educación primaria y científicos, costeados por los fondos de la Nación: todos los objetos y
ramos de hacienda y policía, son de la suprema inspección y resorte del Presidente de la
República.
TITULO VIII DE LOS MINISTROS SECRETARIOS
Art. 1. Cuando el Presidente de la República lo creyere conveniente, podrá nombrar uno o
más Ministros Secretarios de Estado, o reunir accidentalmente en un solo Ministerios los
Departamentos de Gobiernos y de Relaciones Exteriores.
Art. 2. El Ministro Secretario será removido de su empleo a la voluntad del Presidente de la
República.
Art. 3. El Ministro o Ministros de Estado no tendrán otro tratamiento con el de Usted, y no
podrán dar orden alguna sin acuerdo y aprobación del Presidente de la República.
Art. 4. Gozarán de una compensación que les asigne el Presidente de la República.
TITULO IX DEL CONCEJO DE ESTADO
Art. 1. El Consejo de Estado en la República del Paraguay se compondrá eventual o
temporalmente del prelado diocesano, de dos Jueces de la Magistratura elegidos por el Poder
240
Ejecutivo, y de tres ciudadanos de capacidad, también nombrados por el Supremo Gobierno
de la República.
Art. 2. El Consejo de Estado nombrará un Presidente Interino de su seno y un Secretario
podrá ser de afuera del Consejo, teniendo la suficiencia necesaria para tal cargo.
Art. 3. El Presidente de la República destinará el local donde ha de reunirse el Concejo de
Estado.
Art. 4. El Concejo de Estado y convocado por el Supremo Gobierno en los negocios graves y
medidas generales de pública administración, principalmente cuando ocurra una guerra
exterior o tratados con enviados de los Estados vecinos o Potencias extranjeras cuando fuere
necesario conceder amnistía, poner vetos a las leyes y decretos del Congreso Nacional, y
convocar extraordinariamente al Congreso.
Art. 5. El Consejo de Estado dará sus dictámenes por escrito y firmados.
Art. 6. Es obligado a guardar reserva en los asuntos que el Supremo Gobierno le sometiere
con esta calidad.
Art. 7. El Concejo de Estado prestará el juramento de ley en manos del Presidente de la
república para poder entrar en sus funciones.
Art. 8. A invitación del Presente de la República se reunirá el Consejo de Estado.
Art. 9. Las vacantes de los Miembros del Consejo serán reemplazadas con los nombramientos
que hiciere el Presidente de la República.
Art. 10. El Presidente de la Nación después de impuesto de los dictámenes del Consejo de
Estado, puede separarse de ellos, no hallándolos convenientes, y adoptar las resoluciones que
tuviese a bien.
Art. 11. Los Presidentes de la República, a la conclusión de su mando, son Miembros natos
del Consejo de Estado y deben concurrir a él, además de los asignados en el Art. primero.
Art. 12. El Consejo de Estado no tendrá más tratamiento que el de Señor del Consejo.
TITULO X ORDENANZAS GENERALES
Art. 1. Los ciudadanos de la República presentarán su reconocimiento y obediencia al
Presidente Nacional luego de estar en posesión del mando, y en la forma que lo determine el
Presidente de la República.
Art. 2. Los hombres son de tal manera iguales ante la ley, que esta, bien sea penal, preceptiva
o tuitiva, debe ser una misma para todos, y favorecer igualmente al poderoso que al miserable.
Art. 3. Todos los habitantes de la República tienen derecho a ser oídos en sus quejas por el
Supremo Gobierno de la Nación.
Art. 4. Se permite libremente la salida del territorio la República llevando en frutos el valor o
precio de sus propiedades adquiridas, observando además las leyes policiales y salvo perjuicio
de tercero.
Art. 5. Para entrar en el territorio de la República se observarán las ordenes anteriormente
establecidas, quedando al libre arbitrio del Supremo Gobierno ampliarlas o restringirlas según
lo exigiesen las circunstancias.
Art. 6. Todos los empleados militares dados hasta aquí, y que en adelante se dieren, son
empleados de pura comisión.
Art. 7. Los establecimientos particulares de educación primaria, y los de otras ciencias que en
adelante se establezcan en la República, sacarán primero licencia del Supremo Gobierno,
siendo obligados los preceptores o maestros a presentar el plan de enseñanza, la materia que
tratan de enseñar y los autores que se propongan seguir, sujetándose en todo a los reglamentos
que les diere el Supremo Gobierno Nacional.
Art. 8. Para establecer imprenta de particulares en la República, se tomará primeramente el
permiso del Supremo Gobierno, dando el dueño o el administrador una fianza de dos mil
pesos, bajo la cual se comprometa cumplir con los reglamentos que le diere el Gobierno de la
República.
241
Art. 9. Los Habitantes de la República, sea cual fuese su oriundez, no reconocerán otros
tribunales para todo género de causas que los establecimiento de tribunales extranjeros bajo
de cualquiera forma.
Art. 10. Queda prohibido el tráfico de esclavos o de negros, aun con el titulo o pretexto de
colonos.
Art. 11. Se ratifican las leyes y decretos sancionados por el Soberano Congreso de 25 de
Noviembre de 1842.
Art. 12. La presente ley puede ser reformada o adicionada según lo exigiese la experiencia, y
para esto se necesita:
1. El consentimiento y aprobación de la mayor parte del Congreso Nacional.
2. Que los art. dignos de reformar estén plenamente demostrados en la necesidad de ser
reformados.
3. Que el Poder Ejecutivo exponga, además, su opinión fundada para resolverse sobre la
conveniencia y necesidad de la reforma o de alguna adición substancial.
4. Sancionada la necesidad de la reforma, se convocara un Congreso General con poderes
especiales para verificar la reforma con las formalidades debidas.
5. Verificada la reforma, pasará al Poder Ejecutivo para su publicación o para que exponga los
reparos que encontrare. En caso de devolverla con reparos, la votación de la mayor parte del
Congreso hará su última sanción.
Art. 13. Todo el que atentare o prestare medios de atentar contra la Independencia de la
República o contra la presente ley fundamental, será castigado hasta con la pena de muerte,
según la gravedad de su atentado. Dada en la Sala de Sesiones del Congreso Nacional de la
República del Paraguay a 13 de Marzo de 1844.
Está Conforme.

Firmado por: Juan Manuel Álvarez (Vicepresidente del Congreso Nacional), Fernando Patiño
(Secretario del Congreso Nacional.)

Asunción, Marzo 16 de 1844.


Publíquese en la forma de estilo.

BENITO MARTÍNEZ VARELA.


Secretario interino de Gobierno.

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ANEXO III

CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA DEL PARAGUAY (1870)


Constituição da República do Paraguai (1870)

CONSTITUYENTE DE 1870
El 15 de agosto de 1870, se dio apertura a la Convención Nacional Constituyente en el
edificio del Congreso Nacional, con asistencia de los diputados designados por las parroquias
de la capital y departamentos del interior. Dicha asamblea sancionó, con sólo algunas
modificaciones, el proyecto de Constitución elaborado, casi en su totalidad, por Juan José
Decoud, Facundo Machain, Juan Silvano Godoy y Miguel Palacios.

Constitución de la República del Paraguay sancionada por la honorable convención


constituyente en sesión del 18 de noviembre de 1870.
Nos, los representantes de la Nación Paraguaya, reunidos en Convención Nacional
Constituyente por la libre y espontánea voluntad del pueblo paraguayo, con el objeto de
establecer la justicia, asegurar la tranquilidad interior, proveer a la defensa común, promover
el bienestar general y hacer duraderos los beneficios de la libertad para nosotros, para nuestra
posteridad y para todos los hombres del mundo que lleguen a habitar el suelo paraguayo,
invocando a Dios Todopoderoso Supremo Legislador del Universo. Ordenamos, decretamos y
establecemos esta Constitución para la República del Paraguay.
PRIMERA PARTE
CAPÍTULO I DECLARACIONES GENERALES.
Art. 1. El Paraguay es y será siempre libre e independiente, se constituye en la República una
e indivisible y adopta para su Gobierno la forma democrática y representativa.
Art. 2. La soberanía reside esencialmente en la Nación que delega su ejercicio en las
autoridades que establece la presente Constitución.
Art. 3. La Religión del Estado es la Católica, Apostólica, Romana; debiendo ser paraguayo el
Jefe de la Iglesia; sin embargo, el Congreso no podrá prohibir el libre ejercicio de cualquiera
otra religión en todo el territorio de la República.
Art. 4. El Gobierno provee los gastos de la Nación con los fondos del Tesoro Nacional,
formado del producto de derechos de exportación e importación, de la venta o locación de
tierras públicas, de la renta de Correos, Ferrocarriles, de los empréstitos y operaciones de
crédito y de los demás impuestos o contribuciones que dicte el Congreso por las leyes
especiales.
Art. 5. En el territorio de la República es libre de derecho la circulación de los efectos de
producción o fabricación nacional; así como también la introducción de los Art.s
concernientes a la educación e instrucción pública, a la agricultura, las máquinas a vapor y la
imprenta.
Art. 6. El Gobierno fomentará la inmigración Americana y Europea y no podrá restringir,
limitar, ni gravar con impuesto alguno la entrada en el territorio Paraguayo de los extranjeros
que traigan por objeto mejorar las industrias, labrar la tierra e introducir y enseñar las ciencias
y las artes.
Art. 7. La navegación de los ríos interiores de la Nación, es libre para todas las banderas con
sujeción únicamente a los reglamentos que dicte al respecto el Congreso.
Art. 8. La educación primaria será obligatoria y de atención preferente del Gobierno y el
Congreso oirá anualmente los informes que a ese respecto presente el Ministro del ramo para
promover por todos los medios posibles la instrucción de los Ciudadanos.

243
Art. 9. En caso de conmoción interior o ataque exterior que ponga en peligro el ejercicio de
esta Constitución y de las autoridades creadas por ella, se declarará en estado de sitio una
parte o todo el territorio Paraguayo por un término ilimitado. Durante este tiempo el poder del
Presidente de la República se limitará a arrestar a las personas sospechosas o trasladarlas de
un punto a otro de la nación, si ellas no prefieren salir fuera del país.
Art. 10. El Congreso promoverá la reforma de la legislación que existía anteriormente en
todos sus ramos.
Art. 11. El derecho de ser juzgado por jugados en las causas criminales, está asegurado a
todos y permanecerá para siempre inviolable.
Art. 12. Es deber del Gobierno afianzar sus relaciones de paz y comercio con las naciones
extranjeras por medio de tratados que estén de conformidad con los principios de derecho
público establecidos en esta Constitución.
Art. 13. El Congreso no podrá jamás conceder al Poder Ejecutivo facultades extraordinarias,
ni la suma del poder público, ni otorgarle sumisiones o supremacías por las que, la vida, el
honor y la propiedad de los habitantes de la República queden a merced del Gobierno o
persona alguna. La dictadura es nula e inadmisible en la República del Paraguay y los que la
formulen, consientan o firmen, se sujetarán a la responsabilidad y pena de los infames
traidores de la patria.
Art. 14. Todas las autoridades superiores, empleados y funcionarios públicos de la República
son responsables individualmente de la falta y delitos cometidos en el ejercicio de sus
funciones. Todos sus actos deben ajustarse estrictamente a la Ley y en ningún caso pueden
ejercer atribuciones ajenas a su jurisdicción.
Art. 15. Los principios, garantías y derechos reconocidos en esta Constitución, no podrán ser
alterados por las leyes que reglamenten su ejercicio.
Art. 16. Esta Constitución, las leyes que en su consecuencia se dicten por el Congreso y los
tratados con las Potencias extranjeras son la Ley suprema de la Nación.
Art. 17. Las autoridades que ejercen los Poderes Legislativos, Ejecutivo y Judicial residirán
en la Asunción Capital de la República del Paraguay.
CAPÍTULO II DERECHOS Y GARANTÍAS.
Art. 18. Todos los habitantes de la República gozan de los siguientes derechos, conforme a las
leyes, que reglamentan su ejercicio. De navegar y comerciar, de trabajar y ejercer toda
industria lícita, de reunirse pacíficamente, de peticionar a las autoridades, de entrar,
permanecer, transitar y salir del territorio Paraguayo libre de pasaporte, de publicar sus ideas
por la prensa sin censura previa, de usar, de disponer de su propiedad y asociarse con fines
útiles, de profesar libremente su culto y aprender.
Art. 19. La propiedad es inviolable y ningún habitante de la República puede ser privado de
ella, sino en virtud de sentencia fundada en la ley. La expropiación por causa de utilidad
pública, debe ser calificada por la ley y previamente indemnizada. Solo el Congreso impone
las contribuciones que se expresan en el Art. 4 y sin su especial autorización es prohibido a
cualquier otra autoridad o persona alguna.
Art. 20. Ningún habitante de la República puede ser penado sin juicio previo fundado en ley
anterior al hecho del proceso, ni juzgado por comisiones especiales sino con arreglo del Art.
11. Nadie puede ser obligado a declarar contra si mismo, ni arrestado sino en virtud de orden
escrita de autoridad competente, ni detenido más de veinte y cuatro horas sin comunicársele
su delito, y no puede ser detenido sino en su casa o en los lugares públicos destinados a este
objeto. La ley reputa inocentes a los que aun no han sido declarados culpables o legalmente
sospechosos de serlo, por auto motivado de Juez competente.
Art. 21. Es inviolable la defensa en juicio de la persona y de los derechos. El domicilio es
inviolable como también la correspondencia epistolar y los papeles privados, y una ley
determinará en que casos y con que justificativos podrá procederse a su allanamiento y
244
ocupación. Quedan abolidos toda especie de tormentos y los azotes. Las cárceles deben ser
sanas y limpias, para seguridad y no para mortificación de los reos detenidos allí, y toda
medida que a pretexto de precaución conduzca a mortificarlo más allá de los que aquella
exija, hará responsable a las autoridades que la autoricen.
Art. 22. No se exigirán fianzas excesivas ni se impondrán desmedidas multas.
Art. 23. Las acciones privadas de los hombres, que de ningún modo ofendan al orden y a la
moral pública, ni perjudiquen a un tercero, están solo reservadas a Dios y exentas de la
Autoridad de los magistrados. Ningún habitante de la República será obligado a hacer lo que
no manda la ley, ni privado de lo que ella no prohíbe.
Art. 24. La libertad de prensa es inviolable, y no se dictará ninguna ley que coarte de ningún
modo este derecho. En los delitos de la prensa solo podrá entender los jurados, y, en las
causas o demandas promovidas sobre publicaciones en que se censure la conducta oficial de
los empleados públicos, es admitida la prueba de los hechos.
Art. 25. En la República del Paraguay no hay esclavos, si alguno existe queda libre desde la
jura de esta Constitución, y una Ley especial reglará las indemnizaciones a que diere lugar
esta declaración. Los esclavos que de cualquier modo se introduzcan, quedan libres por el
solo hecho de pisar el territorio Paraguayo.
Art. 26. La Nación Paraguaya no admite prerrogativas de sangre ni de nacimiento, no hay en
ella fueros personales ni títulos de nobleza. Todos los habitantes son iguales ante la ley y son
admisibles a cualquier empleo sin otra condición que la idoneidad. La igualdad es la base del
impuesto y de las cargas públicas.
Art. 27. Es inviolable la ley electoral del Ciudadano, y se prohíbe al Presidente y a sus
Ministros toda ingerencia directa o indirecta en las elecciones populares. Cualquier autoridad
de la Ciudad o Campaña que por sí, u obedeciendo órdenes superiores ejerza coacción directa
o indirectamente en uno o más Ciudadanos, comete atentado contra la libertad electoral y es
responsable individualmente ante la ley.
Art. 28. Toda persona está facultada en la República para arrestar al delincuente sorprendido
en la ejecución del delito, y conducirlo ante la autoridad para ser inmediatamente entregado a
los Jueces competentes. El Ciudadano está exento y perfectamente limpio de toda deshonra o
infamia, incurrida a motivo de algún crimen o suplicio por cualquiera de sus parientes.
Art. 29. Toda ley o decreto que esté en oposición a lo que dispone esta Constitución, queda
sin efecto y de ningún valor.
Art. 30. Todo Ciudadano paraguayo está obligado a armarse en defensa de la Patria y de esta
Constitución; conforme a las leyes que al efecto dicte el Congreso y a los decretos del P. E.
Los ciudadanos naturalizados están obligados igualmente a prestar este servicio después de
tres años de su naturalización.
Art. 31. El pueblo no delibera ni gobierna sino por medio de sus representantes y autoridades
creadas por esta Constitución. Toda fuerza armada o reunión de personas que se atribuya los
derechos del pueblo y peticiones a nombre de éste, comete delito por sedición.
Art. 32. Ninguna ley tendrá efecto retroactivo.
Art. 33. Los extranjeros gozan en todo el territorio de la Nación de los derechos civiles del
Ciudadano; pueden ejercer sus industrias, comercio y profesión; poseer bienes raíces,
comprarlos y enajenarlos; navegar los ríos, ejercer libremente su culto, testar y casarse
conforme a las leyes. No están obligados a admitir la Ciudadanía, ni a pagar contribuciones
forzosas extraordinarias.
Art. 34. Las declaraciones, derechos y garantías que enumera esta ley fundamental, no serán
entendidos como negación de otros derechos y garantías no enumerados, pero que nacen del
principio de la soberanía del pueblo y de la forma Republicana democrática representativa.
CAPÍTULO III DE LA CIUDADANÍA.

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Art. 35. Son Ciudadanos paraguayos: 1º) Los nacidos en territorio paraguayo. 2º) Los hijos de
padre o madre paraguayos por el sólo hecho de avecindarse en el Paraguay. 3º) Los hijos de
paraguayos nacidos en territorio extranjero, hallándose el padre en actual servicio de la
República: estos son ciudadanos paraguayos aun para los efectos en que las leyes
fundamentales o cualesquiera otras requieran nacimiento en territorio paraguayo. 4º) Los
extranjeros naturalizados gozarán de todos los derechos políticos y civiles, de los nacidos en
territorio paraguayo, pudiendo ocupar cualquier puesto menos el de Presidente,
Vicepresidente de la República, Ministros, Diputados y Senadores. 5º) Los que tengan
especial gracia de naturalización del Congreso.
Art. 36. Para naturalizarse en el Paraguay bastará que cualquier extranjero haya residido dos
años consecutivos en el país, poseyendo alguna propiedad raíz o capital en giro, o profesando
alguna ciencia, arte o industria. Este término se puede acortar siendo casado con paraguaya, o
alegando y probando servicios en provecho de la República.
Art. 37. Al Congreso corresponde declarar respecto de los que no hayan nacido en el territorio
paraguayo, si están o no en el caso de obtener naturalización con arreglo al Art. 35 y el
Presidente de la República expedirá en consecuencia la correspondiente carta de
naturalización.
Art. 38. Todos los Ciudadanos paraguayos sin los impedimentos del Art. siguiente, tienen
derecho al sufragio desde la edad de diez y ocho años cumplidos.
Art. 39. Se suspende el derecho de sufragio: 1º) Por ineptitud física o moral que impida obrar
libre y reflexivamente. 2º) por ser soldado, cabo o sargento de tropa de línea o guardia
Nacional movilizada de mar y tierra bajo cualquier denominación que sirvieren. 3º) Por
hallarse procesado como reo que merezca pena infamante.
Art. 40. Se pierde la Ciudadanía 1º) Por quiebra fraudulenta. 2º) Por admitir empleos,
funciones, distinciones o pensiones de un Gobierno extranjero sin especial permiso del
Congreso.
Art. 41. Los que por una de las causas mencionadas en el Art. anterior, hubiesen perdido la
calidad de Ciudadano podrán impetrar la rehabilitación del Congreso.
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO IV. DEL PODER LEGISLATIVO.
Art. 42. Un Congreso compuesto de dos Cámaras, una de Diputados y otra de Senadores serán
investido del Poder Legislativo de la Nación.
CAPÍTULO V. DE LA CÁMARA DE DIPUTADOS.
Art. 43. La Cámara de Diputados se compondrá de representantes elegidos directamente por
el pueblo de cada distrito electoral a simple pluralidad de sufragios.
Art. 44. La Cámara de Diputados para la primera Legislatura, se compondrá de veinte y seis
miembros que serán elegidos proporcionalmente, dos meses después de la instalación formal
del primer Gobierno Constitucional; de conformidad con la Ley que se dicte al efecto.
Art. 45. Para la segunda Legislatura deberá realizarse el censo general y arreglarse a él, el
número de Diputados a razón de uno por cada seis mil habitantes o de una fracción que no
baje de tres mil; pero el censo solo podrá renovarse cada cinco años.
Art. 46. Para ser Diputado se requiere haber cumplido veinte y cinco años y ser Ciudadano
natural. En el caso que un Ciudadano sea electo por más de un Departamento, debe pertenecer
al más distante de la Capital para evitar toda demora o retardo.
Art. 47. Los Diputados durarán en sus representaciones por el término de cuatro años y
pueden ser reelectos, pero la Sala se renovará por mitad cada bienio, a cuyo efecto los
nombrados para la primera Legislatura, así que se reúnan, sortearán los que deben salir en el
primer periodo.
Art. 48. En caso de vacante, el Gobierno hará proceder a la elección de sus nuevos miembros.

246
Art. 49. A la Cámara de Diputados corresponde exclusivamente la iniciativa de las leyes sobre
contribuciones y reclutamiento de tropas.
Art. 50. Solo ella ejerce el derecho de acusar ante el Senado al Presidente, Vicepresidente, sus
Ministros, a los miembros del Superior Tribunal de Justicia y a los Generales de su Ejército o
armada en las causas de responsabilidad que se intente contra ellos por mal desempeño o por
delito en el ejercicio de sus funciones, o por crímenes comunes después de haber conocido en
ellos y declarado haber lugar a formación de causa por mayoría de las dos terceras partes de
sus miembros presentes.
CAPÍTULO VI DEL SENADO.
Art. 51. El Senado de la primera Legislatura se compondrá de trece Senadores, que serán
elegidos en la misma forma y tiempo de los Diputados, debiendo elegirse para el segundo
periodo en proporción de uno por cada doce mil habitantes o de una fracción que no baje de
ocho mil.
Art. 52. Los Senadores durarán seis años en el ejercicio de sus funciones y son reelegibles;
pero el Senado se renovará por terceras partes cada dos años, decidiéndose por la suerte,
quienes deban salir en el primero y segundo bienio.
Art. 53. Para ser Senador se requiere tener la edad de veinte y ocho años y ser Ciudadano
natural.
Art. 54. El Vicepresidente de la República será el Presidente del Senado, pero no tendrá voto,
sino en caso de que haya empate en la votación.
Art. 55. El Senado nombrará un Presidente provisorio que lo presida en caso de ausencia del
Presidente, o cuando este ejerza las funciones de Presidente de la Nación.
Art. 56. Al Senado corresponde juzgar en juicio público a los acusados por la Cámara de
Diputados, debiendo sus miembros prestar juramente para este acto. Cuando el acusado sea el
Presidente de la República o el Vicepresidente en ejercicio del P. E., el Senado será presidido
por el Presidente del Superior Tribunal de Justicia. Ninguno será declarado culpable sino a
mayoría de dos tercios de los miembros presentes.
Art. 57. Su fallo no tendrá más efecto que destituir al acusado, y aun declararlo incapaz de
ocupar ningún puesto de honor, de confianza o a sueldo de la Nación; pero la parte
condenada, quedará no obstante, sujeta a acusación, juicio y castigo conforme a las leyes ante
los Tribunales ordinarios.
Art. 58. Cuando vacase el puesto de un Senador, el Gobierno hará proceder inmediatamente a
la elección de un nuevo miembro.
CAPÍTULO VII DISPOSICIONES COMUNES A AMBAS CÁMARAS.
Art. 59. Ambas Cámaras se reunirán en Sesiones ordinarias todos los años desde el 1 de abril
(por primera vez, tres meses después del nombramiento del Gobierno Constitucional) hasta el
31 de agosto. Pueden ser convocadas también extraordinariamente por el Presidente de la
República o a pedido de cuatro Diputados y dos Senadores y prorrogadas del mismo modo
sus sesiones.
Art. 60. Cada Cámara es Juez exclusivo de las elecciones, derechos y títulos de sus miembros
en cuanto a su validez. Ninguna de ellas entrará en sesiones sin la mayoría absoluta de sus
miembros; pero un número menos podrá compeler a los miembros ausentes; a que concurran
a las sesiones en los términos y bajo la pena que cada Cámara establezca.
Art. 61. Ambas Cámaras empiezan y concluyen sucesiones simultáneamente. Ninguna de
ellas mientras se hallen reunidas, podrá suspender sus sesiones más de tres días, sin el
consentimiento de la otra.
Art. 62. Cada Cámara hará su reglamento y podrá con dos tercios de votos corregir a
cualquiera de sus miembros por desorden de conducta en el ejercicio de sus funciones o
removerlo por inhabilidad física o moral y hasta excluirlo de su seno, cuando la Cámara lo

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juzgue incapaz o inhábil para asistir a su seno; pero bastará la mayoría de uno sobre la mitad,
para decidir en las renuncias que voluntariamente hicieren de sus cargos.
Art. 63. Ninguno de los miembros del Congreso puede ser acusado, interrogado
judicialmente, no molestado por las opiniones o discursos que emita, desempeñando su
mandato de Legislador.
Art. 64. Ningún Senador o Diputado desde el día de su elección hasta el de su cese, puede ser
arrestado, excepto en caso de ser sorprendido en crimen in fraganti, que merezca pena
infamante, dando enseguida cuanta a la Cámara respectiva con la información sumaria del
hecho.
Art. 65. Cuando se forme querella por escrito ante las justicias ordinarias contra cualquier
Senador o Diputado, examinando el mérito del sumario en juicio público, podrá cada Cámara
con dos tercios de voto suspender en sus funciones al acusado, y ponerlo a disposición del
Juez competente para su juzgamiento.
Art. 66. Los Senadores y Diputados prestarán en el acto de su incorporación, juramento de
desempeñar debidamente el cargo, y de obrar en todo de conformidad a lo que prescribe esta
Constitución.
Art. 67. Cada una de las Cámaras puede hacer venir a su sala a los Ministros del P. E. para
recibir las explicaciones e informes que estime convenientes.
Art. 68. Ningún Ministro podrá ser Diputado ni Senador sin previa renuncia de su cargo.
Art. 69. Ningún eclesiástico podrá ser miembro del Congreso; tampoco podrán serlo los
empleados a sueldo de la nación sin renunciar antes a su puesto.
Art. 70. Los servicios de los Diputados y Senadores son remunerados por el Tesoro Nacional
con una dotación que ley señalará.
Art. 71. La apertura de las dos Cámaras será hecha por el Presidente de la República.
CAPÍTULO VIII ATRIBUCIONES DEL CONGRESO.
Art. 72. Corresponde al Congreso: 1)Dictar a la brevedad posible la Ley que reglamente el
establecimiento de Municipalidad en la República. 2)Así mismo la Ley para el
establecimiento de juicio por jurados. 3)Legislar sobre Aduanas y establecer los derechos de
importación y exportación. 4)Imponer contribuciones directas por tiempo determinado,
siempre que la defensa, seguridad y bienestar del Estado lo exijan. 5)Contraer empréstitos de
dinero sobre créditos de la Nación y establecer y reglamentar un banco nacional con la
facultad de emitir billetes. 6)Arreglar el pago de la deuda interior y exterior de la Nación.
7)Fijar anualmente el presupuesto de gasto de la Administración de la Nación y aprobar o
desechar las cuentas de su inversión. 8)Reglamentar la libre navegación de los ríos, habilitar
los puertos, que considere conveniente; crear o suprimir aduanas. 9)Hacer sellar moneda, fijar
su valor y el de las extranjeras, y adoptar un sistema uniforme de pesas y medidas para toda la
Nación. 10)Dictar los códigos civil, comercial, penal y minería, y especialmente leyes
generales sobre bancarrotas, sobre falsificaciones de la moneda corriente y documentos
públicos del Estado. 11)Arreglar y establecer las postas y correos generales de la República y
reglar el comercio marítimo y terrestre con las naciones extranjeras. 12)Arreglar
definitivamente los límites de la República. 13)Proveer a la seguridad de las fronteras;
conservar el trato pacífico con los indios y promover la conversión de ellos al cristianismo y a
la civilización. 14)Proveer lo conducente a la prosperidad del País, y sobre todo, emplear
todos los medios posibles para el progreso y a la ilustración general universitaria.
15)Promover la industria, la inmigración, la construcción de ferrocarriles, canales navegables
y telégrafos, la colonización de las tierras de propiedad del Estado, la introducción y
establecimiento de nuevas industrias, la importación de capitales extranjeros, la explotación
de los ríos interiores por leyes protectoras para estos fines y por concesiones temporales de
privilegios y recompensas de estímulo. 16)Establecer tribunales interiores al Superior
Tribunal de Justicia, crear y suprimir empleos, fijar sus atribuciones, dar pensiones, decretar
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honores y conceder amnistías generales. 17)Admitir o desechar los motivos de demisión del
Presidente o Vicepresidente de la República y declarar el caso en que deba procederse a nueva
elección; hacer el escrutinio y rectificación de ella. 18)Aprobar o desechar los tratados con las
demás Naciones, y autorizar al P. E. para hacer la guerra o la paz. 19)Fijar las fuerzas de mar
y tierra que deben permanecer en pie en tiempo de paz o de guerra, establecer reglamentos y
ordenanzas para el gobierno de dicho Ejército. 20)Autorizar la reunión de todas las milicias en
toda la República, o en cualquier parte de ella, cuando lo exija la ejecución de las leyes de la
Nación; sea necesario contener las insurrecciones o repeler las invasiones. Disponer la
organización, armamento y disciplina de dichas milicias. 21)Permitir la introducción de tropas
extranjeras en el territorio de la República y la salida de las fuerzas nacionales fuera de él.
22)Declarar en estado de sitio uno o varios puntos de la República en caso de conmoción
interior, y aprobar y suspender el estado de sitio declarado durante su receso por el P. E.
23)Ejercer una legislación exclusiva en todo el territorio de la República y sobre los demás
lugares adquiridos por compra o cesión, para establecer fortalezas, arsenales, almacenes u
otros establecimientos de utilidad nacional. 24)Hacer todas las leyes y reglamentos, que sean
convenientes para poner en ejercicio los poderes antecedentes, y todos los otros concedidos
por esta Constitución al Gobierno de la República del Paraguay. 25)A propuesta del P. E.,
autoriza a este a expedir despachos desde el Sargento Mayor hasta los grados Superiores.
26)Nombrar de su seno una comisión que investigue sobre los grados militares dados por los
Gobiernos anteriores, para reconocer o anular el goce de sus fueros.
CAPÍTULO IX DE LA FORMACIÓN Y SANCIÓN DE LAS LEYES.
Art. 73. Las leyes pueden tener principio en cualquiera de las Cámaras del Congreso por
proyectos presentados por los miembros o por el P. E. excepto las relativas a las que trata el
Art. 49. Aprobado un proyecto de ley por la Cámara de su origen, pasa para su discusión a la
otra Cámara. Aprobado por ambas, pasa al P. E. de la República para su examen y si también
obtiene su aprobación, lo promulga como ley.
Art. 74. Se reputa aprobado por el P. E. todo proyecto no devuelto en el término de diez días
útiles.
Art. 75. Ningún proyecto de ley desechado totalmente por una de las Cámaras, podrá repetirse
en las sesiones de aquel año. Pero si solo fuese adicionado o corregido por la Cámara revisora
volverá a la de su origen, y si en esta se aprobasen las adiciones o correcciones por mayoría
absoluta, pasará al P. E. de la Nación. Si las correcciones y adiciones fuesen discutidas
volverá por segunda vez a la Cámara revisora y si aquí fuesen nuevamente sancionadas por un
mayoría de dos terceras partes de sus miembros, pasará el proyecto a la otra Cámara y no
entenderá que ésta repruebe dichas adiciones o correcciones si no concurre para ello el voto
de las dos terceras partes de los miembros presentes.
Art. 76. Desechado en todo o en parte un proyecto por el P. E. vuelve con sus objeciones a la
Cámara de su origen, esta lo discute de nuevo, y si lo confirma por mayoría de dos tercios de
votos pasa otra vez a la Cámara de revisión. Si ambas Cámaras lo sancionan por igual
mayoría, el proyecto es Ley y pasa al P. E. para su promulgación. Las votaciones de ambas
Cámaras serán en este caso nominales por si o por no; y tanto los nombres y fundamentos de
los sufragantes, como las objeciones del P. E, se publicarán inmediatamente por la prensa. Si
las Cámaras difieren sobre las objeciones, el proyecto no podrá repetirse en las sesiones de
aquel año.
Art. 77. En la sanción de las leyes se usará de estas fórmulas. “El Senado y Cámara de
Diputados de la Nación Paraguaya reunidos en Congreso, etc.… decretan o sancionan con
fuerza de Ley”.
CAPÍTULO X. DE LA COMISIÓN PERMANENTE.

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Art. 78. Antes de ponerse en receso, las Cámaras, se nombrará por cada una de ellas por
mayoría absoluta, una comisión permanente compuesta de dos Senados y cuatro Diputados,
nombrándose además dos suplentes por la Cámara de Diputados, y uno por el Senado.
Art. 79. Reunidos los titulares nombrarán un Presidente y Vicepresidente, avisando al P. E.
Art. 80. En caso que sea necesario llamar algún suplente, esto se verificará a la suerte.
Art. 81. La Comisión permanente durará hasta que se abran las sesiones ordinarias del
próximo periodo Legislativo.
Art. 82. Las atribuciones serán: velar por la observancia de la Constitución y de las leyes, bajo
responsabilidad ante las Cámaras.
Art. 83. Recibir las actas de elecciones de Diputados y Senadores, y pasarlas a la respectiva
comisión.
Art. 84. Podrá usar de la facultad que se confiere a cada Cámara en el Art. 67, Capítulo 7º.
Art. 85. Convocará a sesiones preparatorias para examinar las actas de elecciones, a fin de que
la apertura de las sesiones ordinarias se efectúe el día que señale esta Constitución.
Art. 86. La Comisión permanente no podrá funcionar, sin que estén cuatro miembros
presentes; en caso de empate decidirá el Presidente.
CAPÍTULO XI. DEL PODER EJECUTIVO. DE SU NATURALEZA, DURACIÓN Y
ELECCIÓN.
Art. 87. El P. E. de la República será desempeñado por un Ciudadano con el título de
“Presidente de la República del Paraguay”.
Art. 88. En caso de enfermedad, ausencia de la Capital, muerte, renuncia o destitución del
Presidente, el P. E. será ejercido por el Vicepresidente de la República. En caso de
destitución, muerte, dimisión o inhabilidad del Presidente y Vicepresidente, el Congreso
determinará que funcionario público ha de desempeñar su Presidencia hasta que haya cesado
la causa de la inhabilidad o un nuevo Presidente sea electo.
Art. 89. Para ser Presidente y Vicepresidente de la República se requiere ser natural de la
República, tener treinta años de edad y profesar la Religión Cristiana.
Art. 90. El Presidente y Vicepresidente de la República durarán en sus empleos el término de
cuatro años, y no pueden ser reelegidos en ningún caso, sino con dos periodos de intervalo.
Art. 91. El Presidente de la República cesa en el poder el día mismo en que se expire su
periodo de cuatro años, sin que evento alguno que haya interrumpido, puede ser motivo de
que se le complete más tarde.
Art. 92. El Presidente y Vicepresidente de la República disfrutarán de un sueldo pagado por el
Tesoro de la Nación, que no podrá ser alterado en el periodo de sus nombramientos. Durante
el mismo periodo no podrán ejercer otro empleo ni recibir emolumento alguno de la
República.
Art. 93. Al tomar posesión de su cargo el Presidente y Vicepresidente, prestarán juramento en
manos del Presidente del Senado (la primera vez ante el Presidente de la Convención
Constituyente) estando reunido el Congreso en los términos siguientes: “Yo N. N. juro
solemnemente ante Dios y la Patria desempeñar con fidelidad y patriotismo el cargo de
Presidente o (Vice) de la República del Paraguay y observar y hacer observar fielmente la
Constitución de la Nación Paraguaya. Si así no lo hiciere Dios y la Patria me lo demanden”.
Art. 94. La elección del Presidente y Vice se hará por primera vez por esta Convención, como
establece el Art. 127 y de conformidad con el Art. 100 y sucesivamente del modo siguiente:
Cada uno de los distritos electorales nombrará por votación directa una junta de electores
igual al cuádruplo de Diputados y Senadores que envíe al Congreso, con las mismas calidades
y bajo las mismas formas prescriptas para la elección de Diputados.
Art. 95. No pueden ser electores los Diputados, los Senadores, ni los empleados a sueldo.
Art. 96. Reunidos los electores en la Capital de los respectivos departamentos dos meses antes
de que concluya al término del Presidente cesante, procederán a elegir Presidente y
250
Vicepresidente de la República por cédulas firmadas, expresando en una la persona por quien
votan para Presidente, y en otra distinta al que eligen para Vicepresidente.
Art. 97. Se harán dos listas de todos los individuos electos para Presidente, y otras dos de los
nombrados para Vicepresidente, con el número de votos que cada uno de ellos hubiese
obtenido.
Art. 98. El Presidente del Senado reunidas todas las listas, las abrirá a presencia de ambas
Cámaras. Asociados a los Secretarios cuatro miembros del Congreso sacados a la suerte,
procederán inmediatamente a hacer el escrutinio y anunciar el número de sufragios que resulte
a favor de cada candidato para la Presidencia y Vice de la Nación. Los que reúnan en ambos
casos la mayoría absoluta de todos los votos serán proclamados inmediatamente Presidente y
Vicepresidente.
Art. 99. Para que este nombramiento sea válido, se requiere que haya habido elección, por lo
menos, en los dos tercios de los Departamentos de la República, debiendo considerarse la
mayoría absoluta de que habla el Art. anterior en estos dos tercios votantes y no los de toda la
Nación.
Art. 100. En el caso de que por dividirse la votación no hubiese mayoría absoluta, elegirá el
Congreso entre las dos personas que hubiesen obtenido mayor número de sufragios. Si la
primera mayoría hubiese cabido a más de dos personas, elegirá el Congreso entre todas estas.
Si la primera mayoría hubiese cabido a una sola persona y la segunda a dos o más, elegirá el
Congreso entre todas las personas que hayan obtenido la primera y la segunda mayoría. Esta
elección se hará a pluralidad absoluta de sufragios y por votación nominal. Si verificada la
primera votación no resultase mayoría absoluta, lo hará por segunda vez, contrayendo la
votación a las personas que en la primera hubiesen obtenido mayor número de sufragios. En
caso de empate se repetirá la votación, y si resultase nuevo empate decidirá el Presidente del
Senado (y por primera vez el de la Convención). No podrá hacerse el escrutinio, ni la
rectificación de estas elecciones, sin que estén presentes las tres cuartas partes del total de los
miembros del Congreso.
Art. 101. La elección del Presidente de la Nación, debe quedar concluida en una sola sesión
del Congreso, publicándose enseguida el resultado de esta y las actas electorales, por la
prensa.
CAPÍTULO XII ATRIBUCIONES DEL PODER EJECUTIVO.
Art. 102. El Presidente de la República tiene las siguientes atribuciones: 1. Es Jefe Supremo
de la Nación y tiene a su cargo la administración general del país. 2. Expide las instrucciones
y reglamentos que sean necesarios para la ejecución de las leyes, cuidando de no alterar su
espíritu con excepciones reglamentarias. 3. Participa de la formación de las leyes con arreglo
a la Constitución, las sanciona y promulga. 4. Nombra los Ministros del Superior Tribunal de
Justicia con acuerdo del Senado y los demás empleados inferiores de la administración de
Justicia con acuerdo del mismo Tribunal Superior. 5. Puede indultar o conmutar las pena,
previo informe del Tribunal competente, excepto en los casos de acusación por la Cámara de
Diputados. 6. Nombra y remueve los Agentes Diplomáticos con acuerdo del Senado, y por si
solo nombra y remueve a los Ministros del Despacho, Oficiales Ministerio, los Agentes
Consulares y demás empleados de la Administración, cuyo nombramiento no está reglado de
otra manera por esta Constitución. 7. Ejerce los derechos del Patronato Nacional de la
República en la presentación de Obispos para la Diócesis de la Nación a propuesta en terna
del Senado, de acuerdo con el Senado Eclesiástico, o en su defecto, del Clero Nacional,
reunido. 8. Concede el pase o retiene los decretos de los Concilios, las Bulas, Breves y
Rescriptos del Sumo Pontífice con acuerdo del Congreso. 9. Hace anualmente la apertura de
las sesiones del Congreso, reunidas al efecto ambas Cámaras en la Sala del Senado, dando
cuenta en esta ocasión al Congreso del Estado de la República, de las reformas prometidas por
la Constitución y recomendando a su consideración las medidas que juzgue necesarias y
251
convenientes. 10. Prorroga las sesiones ordinarias del Congreso o la convoca a sesiones
extraordinarias, cuando un grave interés de orden o de progreso lo requiera. 11. Hace recaudar
las rentas de la Nación y decreta su inversión con arreglo a la Ley, o presupuestos de gastos
Nacionales. 12. Concluye y firma tratados de paz, de comercio, de navegación, de alianza, de
límites y de neutralidad, concordados y otras negociaciones requeridas para el mantenimiento
de buenas relaciones con las potencias extranjeras, recibe sus Ministros y admite sus
Cónsules. 13. Es Comandante en Jefe de todas las fuerzas de la Nación. 14. Provee los
empleos militares de la República conforme al inciso veinte y cinco Art. 72 en la concesión de
los empleos, o grados de oficiales Superiores del Ejército y armada y por si solo, en el campo
de batalla. 15. Dispone de las fuerzas militares, marítimas y terrestres y corre con su
organización y distribución, según las necesidades de la Nación. 16. Declara la guerra y
establece la paz con autorización y aprobación del Congreso. 17. Declara en estado de sitio
uno o varios puntos de la República en caso de ataque exterior, debiendo cesar este estado con
el cese de la causa. En el caso anterior, como el de conmoción interior, solo tiene facultad
cuando el Congreso está en receso porque es atribución que corresponde a este cuerpo. El
Presidente la ejerce con las limitaciones prescriptitas en el Art. 9º. 18. Puede pedir a los Jefes
de todos los ramos y departamentos de la administración y por su conducto a los demás
empleados, los informes que crea convenientes y ellos están obligados a darlos. 19. No puede
ausentarse de la Capital sino con el permiso del Congreso. En el receso de este, solo podrá
hacer sin licencia por graves objetos de servicio público. 20. El Presidente tendrá facultad
para llenar las vacantes de los empleados que requieran el acuerdo del Congreso, y que
ocurran durante su receso por medio de nombramientos en comisión que aquel cuerpo
revisará en sus próximas sesiones.
Art. 103. Toda facultad o atribución no delegada por esta Constitución al P. E. carece en
consecuencia de ella, correspondiendo al Congreso como representación Soberana del pueblo,
dilucidar cualquier duda que llegara a haber en el equilibrio de los tres altos poderes del
Estado.
CAPÍTULO XIII. DE LOS MINISTROS DEL PODER EJECUTIVO.
Art. 104. Cinco Ministros secretarios a saber: del Interior, de Relaciones Exteriores, de
Hacienda, de Justicia, Culto e Instrucción Pública y de Guerra y Marina, tendrán a su cargo el
despacho de los negocios de la nación y refrendarán y legalizarán los actos del Presidente, por
medio de su firma; sin cuyo requisito carecen de eficacia. Una ley deslindará los ramos del
respectivo despacho de los Ministerios.
Art. 105. Cada Ministro es responsable de los actos que legaliza, y solidariamente de lo que
acuerda con sus colegas.
Art. 106. Los Ministros no pueden por si solos en ningún caso, tomar resolución a excepción
de lo concerniente al régimen económico y administrativo de sus respectivos Departamentos.
Art. 107. Luego que el Congreso abra sus sesiones, deberán los Ministros del despacho
presentarle una memoria detallada del Estado de la Nación, relativa a los negocios de sus
respectivos Departamentos.
Art. 108. Pueden los Ministros concurrir a las Sesiones del Congreso y tomar parte en sus
debates; pero no votar.
Art. 109. Gozarán por sus servicios un sueldo establecido por la Ley que no podrá ser
aumentado ni disminuido en favor ni perjuicio de los que se hallen en ejercicio.
CAPÍTULO XIV. DEL PODER JUDICIAL Y SUS ATRIBUCIONES.
Art. 110. El Poder Judicial de la República será ejercido por un Superior Tribunal de Justicia
compuesto de tres miembros, y de los demás Juzgados inferiores que establezca la ley.
Art. 111. Para ser miembro del Superior Tribunal y de los demás juzgados se requiere ser
Ciudadano paraguayo; tener veinte y cinco años de edad y ser de una ilustración regular,

252
gozarán de un sueldo correspondiente por sus servicios que la ley determinará, el cual no
podrá ser disminuido para los que estén desempeñando dichas funciones.
Art. 112. Los Jueces del Poder Judicial desempeñarán sus funciones durante cuatro años
pudiendo ser reelegidos.
Art. 113. Los miembros del Superior Tribunal y los jueces de los Tribunales inferiores son
nombrados por el P. E. con arreglo al inciso 4º Art. 102. en caso en que los candidatos
presentados por el P. E. no sean aceptados por el Senado o por la Cámara de Justicia, aquel
presentará inmediatamente otros candidatos. Sin embargo, en caso de vacantes y estando en
receso el Congreso, el P. E. podrá proveerlas por nombramientos en comisión que expiran con
la instalación del próximo periodo Legislativo.
Art. 114. Solo el Poder Judicial puede conocer y decidir en actos de carácter contencioso, su
potestad es exclusiva de ellos. En ningún caso el Presidente de la República podrá arrogarse
atribuciones judiciales, ni revivir procesos fenecidos, ni paralizar los existentes, ni intervenir
de cualquier otro modo. Actos de esta naturaleza llevan consigo una nulidad insanable. La
Cámara de Diputados solo puede ejercerlo conforme al Art. 50 de esta Constitución.
Art. 115. El Superior Tribunal es la Alta Cámara de Justicia en la República, en tal carácter
una inspección de disciplina en todos los juzgados inferiores, sus miembros pueden ser
personalmente recusados y son responsables conforme a la ley de las faltas que cometieren en
el ejercicio de sus funciones.
Art. 116. El Superior Tribunal conoce de las competencias de jurisdicción ocurridas entre los
jueces inferiores y entre estos y los funcionarios del P. E.
Art. 117. La defensa es libre para todos ante los tribunales de la República.
Art. 118. Toda sentencia de los jueces inferiores, y del Superior Tribunal deberá estar fundada
expresamente en la Ley; y no podrán aplicar en los juicios leyes posteriores al hecho que los
motiva. Todos los juicios criminales ordinarios que no se deriven del derecho de acusación
concedido a la Cámara de Diputados se terminarán por jurados luego que se establezca en la
República esta institución. Las demás atribuciones del poder judicial serán determinadas por
las leyes.
Art. 119. La traición contra la Nación consistirá únicamente en tomar las armas contra ella, o
en unirse a sus enemigos prestándoles ayuda y socorro. El Congreso fijará por una Ley
especial la pena del delito; pero ella no pasará de la persona del delincuente, ni la infamia del
reo se transmitirá a sus parientes de cualquier grado.
Art. 120. Los miembros del Superior Tribunal de Justicia prestarán juramento en manos del
Presidente de la República de desempeñar fielmente sus obligaciones, administrando justicia
bien y legalmente y de conformidad a lo que prescribe la Constitución. En lo sucesivo lo
prestarán ante el mismo Tribunal.
Art. 121. El Superior Tribunal dictará su reglamento interior y económico nombrará y
removerá todos los empleados subalternos.
CAPÍTULO XV. DE LA REFORMA DE LA CONSTITUCIÓN.
Art. 122. Ninguna reforma podrá hacerse a esta Constitución total ni parcialmente, hasta
pasado cinco años de su promulgación.
Art. 123. Declarada por el Congreso y con los dos tercios de votos del total de sus miembros
la necesidad de la reforma, se convocará una Convención de Ciudadanos, a quienes compete
exclusivamente la facultad de hacer reformas en la Constitución y elegidos directamente por
el pueblo, igual al número de Diputados y Senadores.
Art. 124. Para ser convencional se requiere tener veinte y cinco años de edad y ser Ciudadano
natural, exceptuando los Ministros, los Diputados y Senadores.
Art. 125. La Convención no podrá reformar más que los puntos señalados por el Congreso si
la reforma no ha sido declarada en su totalidad.

253
ADICIÓN. Art. 126. La casa de Gobierno no podrá ser habitación particular del Presidente ni
de ningún empleado público.
Art. 127. Aprobada y promulgada esta Constitución, la Convención presente se constituirá en
cuerpo electoral para el fin de nombrar el primer Presidente Constitucional.
Art. 128. La Convención Constituyente se declara en Congreso Legislativo, cuyo carácter
asumirá inmediatamente después del nombramiento del gobierno Constitucional por el
término de quince días, debiendo dejar al concluir este periodo una Comisión permanente con
atribuciones que el mismo cuerpo Legislativo le demarcará.
Art. 129. La Convención Constituyente señalará al Gobierno Provisorio el día en que debe
hacerse la jura de esta Constitución. Dada en la Sala de Sesiones de la Convención
Constituyente en la Ciudad de Asunción a los veinte y cuatro días del mes de Noviembre del
año del Señor de mil ochocientos setenta.

254
ANEXO IV

CONSTITUCIÓN NACIONAL DEL PARAGUAY (1940)


Constituição Nacional do Paraguai (1940)

DECRETO LEY N° 2.242 POR EL CUAL PROMULGA LA NUEVA


CONSTITUCIÓN NACIONAL

Asunción, 10 de Julio de 1940

El movimiento político que se operó el 18 de Febrero ppdo., obedeció al propósito de salvar al


país del recrudecimiento de la larga anarquía que duramente había castigado a la familia
paraguaya. Sólo una amplia política nacional podía crear el ambiente de concordia y de
tolerancia que necesitaba para que el Gobierno estuviese en situación de superar los factores
adversos trababan su acción restauradora e iniciar un de trabajo pacífico y fecundo. Pero los
instrumentos políticos con que contaba el Estado para gobernar a la nación y alcanzar estos
fines, eran deficientes e ineficaces, circunstancia que obligó a declarar la caducidad de la
Constitución de 1870 como un paso preliminar para dar cima a la reforma total de la misma,
en cumplimiento de la decisión del Honorable Congreso Legislativo del 16 de Febrero último.
Desde entonces la anarquía social y política encontrado en su desborde un fuerte dique; el
Gobierno ha consolidado su autoridad, y el pueblo trabaja con garantías. Sin embargo, la
amenaza al orden y al progreso no ha desaparecido totalmente; el país no se halla aún en
condiciones electorales normales; los partidos políticos, en vez de ser órganos de una
democracia legalista, se resienten siempre de pesadas herencias, como se comprueba con la
negativa de alguno de ellos, juntamente con otros núcleos actuantes de opinión, a colaborar en
redacción del proyecto de Constitución. Pero entretanto urge que la nación tenga una Carta
lítica que establezca derechos, garantías y obligaciones, y que dé al gobierno un estatuto legal
que defina su orientación, que fije sus atribuciones y que sirva de marco a sus funciones. Esa
Carta ya puede ser la de 1870, porque debe responder a nuevas necesidades, a nuevas
doctrinas, a nuevos hechos y también a una concepción más nueva del lado. El Gobierno se
halla en el deber de señalar el derrotero de su labor pacificadora y constructiva un documento
fundamental inspirado en nuestra tradición de libertad y en el ideal de una democracia
reformadora y nacionalista. El país debe emprender una reordenación de sus instituciones, una
reforma la estructura del Estado; pero sin abandonar el acervo de su civilización jurídica y sin
desaprovechar experiencia de cerca de siglo y medio de vida independiente. Es asimismo
indispensable dotar al Estado de facultades que le habiliten más ampliamente a cumplir las
funciones de realizar el progreso y de intervenir para alcanzar una mayor justicia social, para
orientar la economía, para racionalizar la producción y sistematizar coherentemente el trabajo
nacional.

VISTO: El anteproyecto de Constitución presentado por la Comisión Redactora que se creó


por Decreto N° 1.077, en cumplimiento de la Ley del 16 de febrero ppdo.; animado del más
puro sentimiento cívico, deseoso de garantizar el trabajo pacífico y de realizar la concordia de
la familia paraguaya, y con el pensamiento puesto en el porvenir de la nación,

YO, JOSE FELIX ESTIGARRIBIA, PRESIDENTE DE LA REPUBLICA DEL PARAGUAY


DECRETO Y SANCIONO:
Art. 1. Desde esta fecha entra en vigencia presente Constitución, en substitución de la
Carta Política de 1870.
255
Art. 2. Someto la presente Constitución al veredicto del pueblo, a cuyo efecto convoco
a todos los ciudadanos a plebiscito, que se realizará el 4 de agosto próximo venidero, de
acuerdo con las leyes electorales vigentes ya la reglamentación que se irá oportunamente.
Art. 3.Comuníquese, publíquese y dése al Registro Oficial.

Firmado; José F. Estigarribia, Alejandro


Marín Iglesias, E. Torreani Viera, Tomás
Salomoni, Justo Pastor Benítez, S.
Villagra M., F. Esculies, Pablo M.
Ynsfrán, H. Morínigo M. y Ricardo
Odriosola.

La Nación Paraguaya, al amparo de Dios Todopoderoso, Supremo Legislador del


Universo, el fin de asegurar la justicia, preservar la tranquilidad interior, proveer a la defensa
nacional, promover el bienestar y el progreso de la República hacer duraderos los beneficios
de la libertad para hijos, ordena, decreta y establece esta Constitución.
DECLARACIONES GENERALES
Art. 1. El Paraguay es y será siempre libre e independiente, se constituye en República única e
indivisible y adopta para su gobierno la forma democrática representativa.
Art. 2. La soberanía reside esencialmente en el pueblo, que delega su ejercicio en las
autoridades creadas por esta Constitución.
Art. 3. La religión del Estado es la Católica Apostólica Romana, pero se toleran los demás
cultos que no se opongan a la moral y al orden público. El Jefe de la Iglesia Paraguaya y los
Obispos deben ser ciudadanos naturales.
Art. 4. Esta Constitución, las leyes que en su consecuencia se dicten y los tratados con las
naciones extranjeras, son la ley suprema de la nación.
Art. 5. La Ciudad de la Asunción es la Capital de la República y asiento de los poderes del
Estado.
Art. 6. Los principios, garantías, obligaciones y derechos proclamados por esta Constitución,
no pueden ser alterados por las leyes que reglamenten su ejercicio. Toda ley, decreto o
reglamento que esté en oposición a lo que ella dispone, queda nulo y sin ningún valor.
Art. 7. La igualdad es la base de la carga pública. El Gobierno provee a los gastos del Estado
con el producto de los impuestos, contribuciones y tasas creados por la ley; la venta y
locación de tierras públicas; la explotación de minas; las utilidades provenientes de los
servicios públicos y monopolios a cargo del Estado, y los empréstitos y otras operaciones de
crédito.
Art. 8. Dentro del territorio de la República circularán libres de derechos los efectos de
producción o fabricación nacional. La navegación de los ríos interiores es libre para todas las
banderas, con sujeción a los reglamentos que dicte la Cámara de Representantes.
Art. 9. El Gobierno fomentará la inmigración americana y europea y reglamentará la entrada
de los extranjeros al país.
Art. 10. La educación primaria es obligatoria y gratuita. El Gobierno fomentará la enseñanza
secundaria, profesional y universitaria.
Art. 11. El cuidado de la salud de la población y la asistencia social, así como la educación
moral, espiritual y física de la juventud, son deberes fundamentales del Estado.
Art. 12. El Gobierno propenderá al afianzamiento de sus relaciones de paz y de comercio con
las naciones extranjeras por medio de Tratados que se inspiren en el interés nacional y en los
principios de derecho público proclamados por esta Constitución. Prestará especial atención a
la política de colaboración y solidaridad con los pueblos americanos.
256
Art. 13. En ningún caso los intereses privados primarán sobre el interés general de la Nación
Paraguaya. Todos los ciudadanos están obligados a prestar su colaboración en bien del Estado
y de la Nación Paraguaya. La ley determinará en qué caso estarán obligados a aceptar
funciones públicas, de acuerdo con sus condiciones de idoneidad.
Art. 14. Queda proscripta la explotación del hombre por el hombre. Para asegurar a todo
trabajador un nivel de vida compatible con la dignidad humana, el régimen de los contratos de
trabajo y de los seguros sociales y las condiciones de seguridad e higiene de los
establecimientos, estarán bajo la vigilancia y fiscalización del Estado.
Art. 15. El Estado regulará la vida económica nacional. Sólo él tiene la facultad de hacer
acuñaciones o emisiones de monedas, establecer sistemas de pesas y medidas y controlar las
marcas. No se permitirán las combinaciones que tiendan al acaparamiento de Art.s de
consumo, al alza o la baja artificial de los precios y a impedir la libre concurrencia. Quedan
prohibidos la fabricación y el tráfico de Art.s dañosos para la salud y las buenas costumbres.
La ley establecerá las penas para los actos que contravengan estos principios. El Estado podrá
nacionalizar, con indemnización, los servicios públicos y monopolizar la producción,
circulación y venta de Art.s de primera necesidad.
Art. 16. La Cámara de Representantes no podrá conceder al Poder Ejecutivo facultades
extraordinarias fuera de las prescripciones de esta Constitución, ni otorgarles supremacías por
las cuales la vida, el honor y la propiedad de los paraguayos queden a merced del Gobierno o
persona alguna.
Art. 17. Todas las autoridades superiores, funcionarios y empleados públicos son responsables
individualmente por las faltas y delitos que cometieren en el ejercicio de sus funciones, sin
perjuicio de la responsabilidad indirecta del Estado, que podrá ser establecida en la ley. En
ningún caso podrán ejercer atribuciones ajenas a su jurisdicción y sus actos deben ajustarse
siempre a la ley. Queda prohibida la huelga de los funcionarios públicos, así como el
abandono colectivo de los cargos.
Art. 18. La custodia y defensa del orden y de la soberanía, de la integridad territorial y del
honor de la República, así como la Defensa de esta Constitución, quedan confiadas a las
Fuerzas Armadas de la Nación. El Presidente de la República es el Comandante en Jefe de
ellas, pero podrá delegar en un oficial general el mando efectivo de las tropas. Las Fuerzas
Armadas de la Nación estarán organizadas con carácter permanente.
DERECHOS, OBLIGACIONES Y GARANTÍAS
Art. 19. Todos los habitantes de la República gozan de los siguientes derechos, conformen a
las leyes que reglamenten su ejercicio: elegir profesión; trabajar y ejercer todo comercio e
industrias lícitos, salvo las limitaciones que, por razones sociales y económicas de interés
nacional, imponga la ley; reunirse pacíficamente; peticionar a las autoridades; publicar sus
ideas por la prensa sin censura previa, siempre que se refieran a asuntos de interés general;
disponer de su propiedad; asociarse con fines lícitos; profesar libremente su culto; aprender y
enseñar.
Art. 20. La ley determinará cuáles son las profesiones que necesitan títulos para su ejercicio,
las condiciones que deben llenarse para obtener dichos títulos y la autoridad que los debe
expedir. El régimen y la inspección de la enseñanza quedan a cargo del Estado.
Art. 21. La Constitución garantiza la propiedad privada, cuyo contenido y límites serán
fijados por la ley, atendiendo a su función social. Nadie puede ser privado de su propiedad
sino en virtud de sentencia fundada en la ley. La propiedad de toda clase de bienes podrá ser
transformada jurídicamente mediante la expropiación por causa de utilidad social definida por
la ley, la que determinará asimismo la forma de indemnización. La ley podrá fijar la extensión
máxima de tierras de que puede ser dueño un solo individuo o sociedad legalmente
constituida y el excedente deberá venderse en subasta pública o expropiarse por el Estado
para su distribución.
257
Art. 22. Todos los habitantes de la República están obligados a ganarse la vida con su trabajo
lícito. Todo hogar paraguayo debe asentarse sobre un pedazo de tierra propia.
Art. 23. Los derechos civiles de la mujer serán regulados en la ley, atendiendo la unidad de la
familia, la igualdad de la mujer y el hombre y la diversidad de sus respectivas funciones en la
sociedad.
Art. 24. Ningún servicio personal es exigible sino en virtud de ley. Todo autor o inventor es
propietario de su obra, invento o descubrimiento por el término que le acuerde la ley.
Art. 25. En ningún caso se aplicará la pena de muerte por causas políticas, ni la confiscación
de bienes.
Art. 26. Ninguna ley tendrá efecto retroactivo. Ningún habitante puede ser penado sin juicio
previo fundado en alguna ley anterior al hecho del proceso, ni juzgado por tribunales
especiales. Nadie puede ser obligado a declarar contra sí mismo, ni arrestado sino en virtud de
orden escrita de autoridad competente, ni detenido más de veinticuatro horas sin
comunicársele la causa de su detención, ni ser detenido sino en su casa o en lugares públicos
destinados a ese objeto. Queda garantizado a todos los habitantes el recurso del hábeas
corpus. La ley reputa inocentes a los que no hayan sido declarados culpables o legalmente
sospechosos de serlo por auto de juez competente. El crimen o deshonra en que incurran las
personas no afecta a sus parientes.
Art. 27. La defensa en juicio de la persona o los derechos inviolable. Son también inviolables
el domicilio, la correspondencia epistolar y los papeles privados. La ley determinará en qué
caso se podrá suspender la inviolabilidad del domicilio y de la correspondencia.
Art. 28. Las cárceles deben ser sanas y limpias. Se prohíbe el empleo de todo tormento y
azote.
Art. 29. No se exigirán fianzas excesivas ni se impondrán desmedidas multas.
Art. 30. Los actos privados que de ningún modo ofendan al orden y a la moral pública ni
perjudiquen a terceros, están exentos de la autoridad de los magistrados. Ningún habitante
puede ser obligado a hacer lo que no manda la ley ni privado de los que ella no prohíbe. La
ley podrá autorizar al Poder Ejecutivo o a determinadas autoridades administrativas a dictar
reglamentos generales de policía y a imponer las sanciones correspondientes dentro de las
materias y limites que fije la misma ley.
Art. 31. La edición y publicación de libros, folletos y periódicos serán reglamentadas por la
ley. No se permite la prensa anónima.
Art. 32. El Estado fiscalizará y reglamentará la organización, el funcionamiento y las
actividades de las agrupaciones o entidades de carácter público.
Art. 33. La nación paraguaya no admite prerrogativas de sangre ni de nacimiento; no hay en
ella fueros personales ni títulos de nobleza. Todos los habitantes de la República son iguales
ante la ley. Los nacionales son admisibles a cualquier empleo sin otra condición que la
idoneidad, y los extranjeros estarán sujetos a las limitaciones que establezcan las leyes. En la
República del Paraguay no hay esclavos.
Art. 34. Ninguna persona podrá hacerse justicia por sí misma, ni ejercer violencia para
reclamar su derecho. El pueblo no delibera ni gobierna sino por medio de sus representantes y
autoridades creadas por esta Constitución. Toda fuerza armada o reunión de personas que se
atribuya los derechos del pueblo y peticione por medio de éste, comete delito de sedición.
Art. 35. Las libertades que esta Constitución garantiza son todas de carácter social. Las
exigencias del orden público las limitan en su ejercicio por el modo y en la forma que
establezcan las leyes. No está permitido predicar el odio entre los paraguayos ni la lucha de
clases.
Art. 36. Los extranjeros gozan dentro del territorio de la República de los derechos civiles del
ciudadano, de acuerdo con las leyes reglamentarias de su ejercicio; pueden ejercer su
industria, comercio o profesión, poseer bienes raíces, testar y casarse. Si atentaren contra la
258
seguridad de la República o alteraren el orden público, el Gobierno podrá disponer su
expulsión del país, de conformidad con las leyes reglamentarias. Los extranjeros no están
obligados a admitir la ciudadanía.
Art. 37. Comete traición a la Patria el que se une a los enemigos de ella, tomando las armas o
ayudándolos, o atente de alguna manera contra la independencia y seguridad de la República
del Paraguay.
NACIONALIDAD Y CIUDADANÍA
Art. 38. Son Paraguayos:
1) Los nacidos en territorio paraguayo;
2) Los hijos de paraguayos nacidos en territorio extranjero, hallándose el padre o la
madre en servicio de la República; y
3) Los hijos de padre o madre paraguayos, nacidos en el extranjero, por el hecho de
avecindarse en el Paraguay y residir en él durante diez años seguidos.
El servicio militar es obligatorio para los ciudadanos, los cuales están igualmente obligados a
armarse en defensa de la Patria y de esta Constitución.
Art. 39. Todos los ciudadanos, sin los impedimentos del Art. siguiente, tienen el deber del
sufragio desde la edad de diez y ocho años cumplidos.
Art. 40. Se suspende el sufragio del ciudadano:
1) Por ineptitud física o moral que impida obrar libre y reflexivamente;
2) Por ser soldado, cabo o sargento de tropa de línea, guardia nacional o policía, bajo
cualquier denominación con que sirvieren;
3) Por hallarse procesado como reo que merezca pena corporal.
Art. 41. Se pierde la ciudadanía:
1) Por quiebra fraudulenta;
2) Por admitir subsidios y pensiones o usar distinciones de un gobierno extranjero sin
permiso del Poder Ejecutivo;
3) Por atentar directamente o participar en cualquier tentativa contra la independencia y
seguridad de la República.
4) Por haberse naturalizado en un país extranjero.
Los que, por alguna de las causas mencionadas, con excepción de la expresada en el
inciso 4, hubieren perdido la ciudadanía, podrán obtener su rehabilitación de la Cámara de
Representantes.
Art. 42. Los extranjeros podrán obtener carta de naturalización ante los tribunales de la
República si probaren haber residido cinco años consecutivos en el Paraguay, poseer alguna
propiedad raíz y capital en giro o profesar alguna ciencia, arte o industria. La carta de
naturalización se pierde por ausentarse del país durante dos años consecutivos. Los
naturalizados pueden ejercer todos los cargos públicos después de dos años de haber obtenido
carta de naturalización menos los de Presidente de la República, Ministro, Consejero de
Estado, Representante, Miembro de la Corte suprema de Justicia y Jefe del Ejército y de la
Armada.
Art. 43. La Cámara de Representantes, a propuesta del Poder Ejecutivo, podrá conceder la
ciudadanía honoraria a los extranjeros que hubiesen prestado servicios eminentes a la
República.
Art. 44. El Estado garantiza la libertad del sufragio. El voto es secreto y obligatorio. La ley
determinará el sistema de elecciones. Las personas que prediquen o proclamen la abstención
electoral, pierden sus derechos de ciudadanos. Sin perjuicio de sus obligaciones.
EL PODER EJECUTIVO
Art. 45. El Poder Ejecutivo será desempeñado por un ciudadano con el título de Presidente de
la República del Paraguay.

259
Art. 46. El Presidente de la República debe ser ciudadano natural, haber cumplido cuarenta
años de edad, profesar la Religión Católica Apostólica Romana, y reunir condiciones morales
e intelectuales que le hagan digno de ejercer el cargo.
Art. 47. El Presidente de la República durará cinco años en sus funciones y podrá ser reelecto
por un período más. Cesa en el poder el mismo día en que expira su período, sin que evento
alguno que le haya interrumpido pueda ser motivo de que se le complete más tarde. Disfruta
de un sueldo pagado por el Tesoro de la Nación, inalterable en el período de sus funciones, y
no puede ejercer, mientras ellas duren, ningún otro empleo ni recibir ningún otro emolumento.
Art. 48. El Presidente de la República residirá en la Casa de Gobierno.
Art. 49. El Presidente de la República será elegido por elección general directa, seis meses
antes de la toma del posesión del mando.
Art. 50. Al tomar posesión de su cargo, el Presidente de la República prestará juramento en
manos del Presidente de la Cámara de Representantes, estando reunidos los Representantes,
los Consejeros de Estado y los Miembros de la Corte Suprema de Justicia, en los términos
siguientes: “Yo, N.N., juro ante Dios y la Patria desempeñar con fidelidad y patriotismo el
cargo de Presidente de la República del Paraguay y observar y hacer observar fielmente la
Constitución. Si así no lo hiciere, Dios y la Patria me lo demanden”.
Art. 51. El Presidente de la República tiene las siguientes atribuciones:
1) Es Jefe supremo del Estado y tiene a su cargo la administración general del país;
2) Expide las instrucciones y reglamentos que sean necesarios para la ejecución de las
leyes;
3) Participa de la formación de las leyes con arreglo a la Constitución, la sanciona y
promulga;
4) Tiene a su cargo el manejo de las relaciones exteriores de la República;
5) Nombra a los Miembros de la Corte Suprema con acuerdo del Consejo de Estado, del
Tribunal de Cuentas y a los demás funcionarios de al Administración de Justicia, con acuerdo
de la Corte Suprema;
6) Puede conmutar las penas, de acuerdo con una ley reglamentaria;
7) Nombra a los Agentes Diplomáticos, con acuerdo del Consejo de Estado, y por sí solo
nombra y remueve a los Ministros Secretarios de Estado y a los demás funcionarios de la
Administración, cuyos nombramientos no estén reglados de otra manera por la ley;
8) Ejerce los derechos del Patronato Nacional de la República en la presentación de
Arzobispos y Obispos, a propuesta en terna del Consejo de Estado, de acuerdo con el Senado
Eclesiástico o el Clero Nacional reunido; concede el pase o retiene los decretos de los
Concilios, y las bulas, breves y rescriptos del Sumo Pontífice, con acuerdo del Consejo de
Estado y de la Cámara de Representantes;
9) Inaugura anualmente las sesiones de la Cámara de Representantes, en cuyo acta dará
cuenta de las gestiones realizadas por su gobierno; prorroga las sesiones de la Cámara de
Representantes o convoca a ésta a sesiones extraordinarias, en cuyo caso la Cámara sólo
tratará aquellos asuntos sometidos a su consideración por el Poder Ejecutivo;
10) Hace recaudar las rentas de la República y decreta su inversión con arreglo a la ley o al
Presupuesto General;
11) Negocia y firma tratados de paz, de comercio, de navegación, de alianza, de límites y
neutralización, concordatos y otros acuerdos internacionales, debiéndolos someter al Consejo
de Estado y a la Cámara de Representantes para su aprobación;
12) Provee los grados militares de la República por sí solo hasta el grado de Teniente
Coronel, y con acuerdo del Consejo de Estado y la Cámara de Representantes, en los grados
superiores; según las necesidades de la República, dispone con las fuerzas armadas de la
Nación, determina su organización y distribución;

260
13) Declara la guerra y restablece la paz, con el dictamen del Consejo de Estado y la
autorización de la Cámara de Representantes; y
14) Dicta los reglamentos militares.
Art. 52. Si sobreviene alguna amenaza grave de perturbación interior o conflicto exterior que
pueda poner en peligro el ejercicio de esta Constitución y a las autoridades creadas por ella, el
Presidente de la República declarará en estado de sitio una parte o todo el territorio de la
República, con cargo de dar cuenta a la Cámara de Representantes. Durante el estado de sitio,
el Presidente de la República podrá ordenar el arresto de la personas sospechosas. Podrá
también trasladarlas de un punto a otro de la República, salvo que ellas prefieran salir fuera
del país. Una ley reglamentará la aplicación del estado de sitio para la defensa del orden y de
la seguridad de la República.
Art. 53. El Presidente de la República podrá disolver la Cámara de Representantes y remover
a los Consejeros de Estado, con la obligación en el primer caso, de convocar a elecciones
dentro del plazo de dos meses.
Art. 54. Los proyectos remitidos por el Poder Ejecutivo a la Cámara de Representantes
deberán ser tratados y despachados en el curso de las sesiones de ese año. En caso de no ser
despachados dentro del plazo antedicho, quedarán convertidos en leyes. Durante el receso
parlamentario, el Poder Ejecutivo tiene la facultad de dictar decretos con fuerza de ley, con el
parecer del Consejo de Estado y con la obligación de someterlos a la aprobación de la Cámara
de Representantes en el siguiente período ordinario de sesiones.
Art. 55. Sólo al Poder Ejecutivo corresponde la iniciativa en materia de gastos y de
reclutamiento o movilización de tropas.
Art. 56. El Poder Ejecutivo adoptará planes de redistribución de las poblaciones actuales, por
razones económicas, sociales, de salud pública o de defensa nacional.
Art. 57. En caso de guerra internacional se concentra en el Presidente de la República toda la
autoridad necesaria para asegurar la defensa nacional.
Art. 58. En caso de renuncia, inhabilidad o muerte del Presidente de la República, el Ministro
del Interior convocará inmediatamente al Consejo de Estado y a la Cámara de Representantes
a Asamblea Nacional plena para designar al Ministro o funcionario que deba ejercer la
Presidencia hasta la terminación del período, salvo que la renuncia, inhabilidad o muerte se
produzca dentro de los dos primeros años de un período presidencial, en cuya circunstancia el
Presidente Provisional convocará al pueblo a elecciones dentro del plazo de dos meses. Si la
inhabilidad fuese temporal, la Asamblea Nacional designará a uno de los Ministros para
ejercer provisionalmente la Presidencia de la República.
LOS MINISTROS DEL PODER EJECUTIVO
Art. 59. El despacho de los negocios de la República estará a cargo de Ministros Secretarios
de Estado, que refrendarán y legalizarán los actos del Presidente por medio de su firma, sin
cuyo requisito éstos carecerán de eficacia. La ley determinará el número y las funciones de los
Ministerios, los cuales en ningún caso podrán ser menos de cinco.
Art. 60. Para ocupar el cargo de Ministro se requiere ser ciudadano natural, haber cumplido
treinta años de edad y gozar de notoria reputación de honorabilidad y versación en los
negocios públicos.
Art. 61. Cada Ministro es responsable de los actos que legaliza, y solidariamente de los que
acuerda con sus colegas. Los Ministros deberán presentar al Presidente de la República una
memoria anual de sus gestiones, que tendrá amplia publicidad. Gozarán por sus servicios de
un sueldo establecido por la ley, que no podrá ser alterado en favor ni en perjuicio de los que
se hallen en ejercicio.
EL CONSEJO DE ESTADO
Art. 62. Habrá un Consejo de Estado, del que formarán parte los Ministros del Poder
Ejecutivo, el Rector de la Universidad Nacional, el Arzobispo del Paraguay, un representante
261
del comercio, dos representantes de las industrias agropecuarias, un representante de las
industrias transformadoras, el Presidente del Banco de la República y dos miembros de las
Instituciones Armadas, uno del Ejército y otro de la Marina, con graduación de Coronel por lo
menos, en situación de retiro. La forma de designación de los Consejeros que no sean natos
será determinada por la ley. Los miembros del primer Consejo de Estado serán designados por
el Presidente de la República.
Art. 63. Serán atribuciones del Consejo de Estado:
1) Dictaminar sobre los proyectos de decretos con fuerza de ley;
2) Dictaminar sobre los asuntos de política internacional sometidos a su consideración
por el Poder Ejecutivo;
3) Prestar acuerdo para la designación de los miembros de la Corte Suprema, y de los
Agentes Diplomáticos en el extranjero;
4) Prestar acuerdo para los ascensos militares desde el grado de Coronel;
5) Dictaminar sobre asuntos de orden financiero y económico, para cuyo efecto podrá
hacerse asesorar por comisiones técnicas.
Art. 64. Los Consejeros de Estado que no sean funcionarios, deberán ser ciudadanos
naturales, haber cumplido treinta años de edad y reunir condiciones de preparación y
honorabilidad públicamente reconocidas. Con excepción de los Ministros, los Consejeros de
Estado gozarán de una dieta por sesión.
Art. 65. El Consejo de Estado se constituirá en tribunal a los efectos del juzgamiento de los
Miembros de la Corte Suprema de Justicia.
Art. 66. El Consejo de Estado designará su Presidente y contará con el personal que se fije en
el Presupuesto General de Gastos. Sus miembros gozan de las inmunidades parlamentarias.
LA CÁMARA DE REPRESENTANTES
Art. 67. La Cámara de Representantes se compondrá de miembros elegidos directamente por
el pueblo, de acuerdo con la ley electoral que se dictará oportunamente, en razón de uno por
cada veinte y cinco mil habitantes.
En el mismo acto electoral se elegirá un tercio del número total de Representantes para actuar
como suplentes de los titulares, en caso de muerte, renuncia o inhabilitación de los mismos,
hasta completar el período. El suplente también remplazará al titular en caso de que éste pase
a ocupar un cargo en la Administración Pública y mientras el titular permanezca en dicho
cargo.
Art. 68. Para ser Representante o suplente se requiere haber cumplido veinte y cinco años de
edad y ser ciudadano natural.
Art. 69. Ningún Representante puede formar parte de empresas que exploten servicios
públicos o tengan concesiones del Estado, o ejercer la representación de aquéllas.
Art. 70. Los Representantes durarán cinco años en el ejercicio de su mandato. La Cámara se
reunirá en sesión ordinaria todos los años, desde el primero de abril hasta el 31 de agosto. La
Cámara será renovada cada cinco años en su totalidad.
Art. 71. La Cámara es juez exclusivo de la elección, derechos y títulos de sus miembros. Ella
podrá, con dos tercios de votos, corregir a cualquiera de sus miembros por desorden de
conducta en el ejercicio de sus funciones o removerlos por inhabilidad física o moral y
excluirlos de su seno; pero bastará la mayoría para decidir en las renuncias que
voluntariamente hicieren de sus cargos. La Cámara entrará en sesión con la presencia de la
mayoría absoluta de sus miembros, pero un número menor podrá compeler a los miembros
ausentes a que concurran a las sesiones bajo la pena que la ley establecerá.
Art. 72. La Cámara constituirá sus autoridades, hará su propio reglamento y designará sus
empleados.
Art. 73. La Cámara de Representantes puede pedir informes por escrito al Poder Ejecutivo
sobre asuntos de interés público.
262
Art. 74. Ningún Representante puede ser acusado, interrogado judicialmente ni molestado por
las opiniones que emita en el desempeño de sus mandato de legislador. Desde el día de su
elección hasta el de su cese, no puede ser arrestado, excepto en caso de ser sorprendido en
delito infraganti. Cuando se forme proceso ante la justicia ordinaria contra cualquier
Representante y hubiese lugar a dictar auto de prisión preventiva contra el mismo, la Cámara,
con dos tercios de votos, podrá suspender en sus funciones al acusado y ponerlo a disposición
de la justicia para su juzgamiento.
Art. 75. Los Representantes prestarán, en el acto de su incorporación, juramento de
desempeñar debidamente el cargo, de conformidad con lo que prescribe esta Constitución, y
gozarán de unas asignación que señalará la ley. Ningún Ministro podrá ejercer la
representación mientras forme parte del Poder Ejecutivo. Tampoco podrá ejercerla ningún
eclesiástico, militar en servicio activo ni empleado a sueldo de la República, bajo cualquier
denominación con que figuren, salvo los profesores o catedráticos.
Art. 76. Corresponde a la Cámara de Representantes:
1) Legislar sobre organización municipal;
2) Legislar sobre impuestos, tasas y contribuciones en general;
3) Autorizar la contratación de empréstitos y legislar sobre el sistema bancario;
4) Dictar anualmente la ley de Presupuesto de Gastos de la Nación a iniciativa del Poder
Ejecutivo, y aprobar o desechar las cuentas de inversión;
5) Reglamentar la navegación fluvial y aérea;
6) A iniciativa del Poder Ejecutivo, legislar sobre cuestiones monetarias;
7) Revisar la legislación general, consultando las necesidades presentes del país;
8) Considerar los tratados internacionales, y autorizar al Poder Ejecutivo para hacer la
guerra o concertar la paz;
9) Considerar los proyectos de concesiones temporales preparados por el Poder Ejecutivo
para el establecimiento de industrias;
10) A iniciativa del Poder Ejecutivo, conceder amnistías generales;
11) A propuesta del Poder Ejecutivo, dictar las ordenanzas militares y la ley de organización
de los tribunales de disciplina militar;
12) Legislar sobre contencioso administrativo;
13) Permitir la entrada de tropas extranjeras en el territorio de la República y la salida de las
fuerzas nacionales fuera de él.
FORMACIÓN Y SANCIÓN DE LAS LEYES
Art. 77. Todas las leyes cuya iniciativa no corresponda expresamente al Poder Ejecutivo por
mandato de esta Constitución, pueden tener origen en la Cámara de Representantes por
proyectos presentados por cualquiera de sus miembros.
Art. 78. Aprobado un proyecto de ley por la Cámara de Representantes, será sometido a
consideración del Poder Ejecutivo, con cuya aprobación quedará convertido en ley. Se
reputará aprobado todo proyecto de ley no objetado por el Poder Ejecutivo en términos de
diez días.
Art. 79. Un proyecto de ley desechado en todo por el Poder Ejecutivo, no podrá volver a ser
considerado por la Cámara de Representantes en el curso de las sesiones de ese año. Si el veto
del Poder Ejecutivo solo recayere en una parte del proyecto, éste volverá a la Cámara de
Representantes. Si la Cámara se ratifica en su sanción primitiva por dos tercios de votos, en
dos lecturas separadas por un intervalo de tres días cada una, el proyecto se convertirá en ley.
EL PODER JUDICIAL
Art. 80. El Poder Judicial de la República será ejercido por una Corte Suprema compuesta de
tres miembros y el Tribunal de Cuentas y los demás Tribunales y Juzgados inferiores que
establezca la ley.

263
Art. 81. Para formar parte de la Corte Suprema se requiere ser ciudadano natural, haber
cumplido treinta y cinco años de edad, poseer título universitario de Doctor en Derecho y ser
de una vida pública y privada intachable.
Art. 82. Los miembros de la Corte Suprema y demás Jueces y Magistrados del Poder Judicial
desempeñarán sus funciones durante cinco años, pero la ley establecerá las condiciones y
requisitos para la inamovilidad de los magistrados judiciales.
Art. 83. Los Miembros de la Corte Suprema pueden ser removidos en juicios políticos de la
Cámara de Representantes ante el Consejo de Estado, por mal desempeño de sus funciones y
por constituir peligro para la recta administración de la justicia. Los Miembros del Tribunal de
Cuentas y los Magistrados de los Tribunales y Juzgados inferiores pueden ser enjuiciados ante
la Corte Suprema por prevaricato, mal desempeño de sus funciones y deshonestidad.
Art. 84. Los Miembros de la Corte Suprema serán designados por el Poder Ejecutivo con
acuerdo del Consejo de Estado. Los demás Magistrados y Jueces del Poder Judicial serán
designados por el Poder Ejecutivo con acuerdo de la Corte Suprema.
Art. 85. El Tribunal de Cuentas entenderá en los juicios de lo contencioso administrativo y en
el examen y aprobación de las cuentas de inversión del dinero público. Los miembros del
Tribunal de Cuentas serán nombrados por el Poder Ejecutivo con el acuerdo de la Corte
Suprema.
Art. 86. Para ser miembro del Tribunal de Cuentas se requiere ser ciudadano paraguayo, haber
cumplido treinta años de edad y poseer título universitario o haber sido Ministro o jefe de
administración financiera. La ley establecerá la forma de la inamovilidad a los miembros del
Tribunal de Cuentas.
Art. 87. Queda garantizada la independencia del Poder Judicial. Sólo él puede conocer y
decidir en actos de carácter contencioso; su potestad es exclusiva en ellos, si bien la ley podrá
construir a las autoridades administrativas en jueces de primera instancia para lo contencioso
administrativo. En ningún caso el Presidente de la República ni los Ministros ni otros
funcionarios podrán arrogarse atribuciones judiciales, ni revivir procesos fenecidos, ni
paralizar los existentes, ni intervenir de cualquier modo en los juicios. Actos de esta
naturaleza llevan consigo una nulidad insanable. Ningún Magistrado judicial puede ser
molestado por decisiones tomadas en el ejercicio de sus funciones, ni arrestado si no en caso
de ser sorprendido en delito infraganti. Cualquier queja o acusación contra ellos debe
ventilarse exclusivamente ante la Corte Suprema. Los que atentaren contra la independencia
de los Magistrados Judiciales o lo arrestaren, además de sufrir las penas que fije el Código
Penal, quedarán inhabilitados para ejercer toda función pública durante cinco años.
Art. 88. La Corte Suprema es la Alta Cámara de Justicia de la República y en tal carácter
ejerce la Superintendencia de todos los Tribunales y Juzgados inferiores.
Art. 89. La Corte Suprema conoce de los conflictos de jurisdicción entre los jueces, entre
éstos y los funcionarios del Poder Ejecutivo.
Art. 90. La defensa es libre ante los Tribunales de la República. Queda prohibida la
recusación sin causa de los tribunales y jueces.
Art. 91. Toda sentencia judicial debe estar fundada en esta Constitución y en la ley.
Art. 92. Los Miembros de la Corte Suprema prestarán juramento en manos del Presidente de
la República de desempeñar fielmente sus obligaciones, y los Magistrados y Jueces ante la
Corte Suprema.
Art. 93. La Corte Suprema dictará su reglamento y nombrará y removerá a todos los
empleados subalternos del Poder Judicial. Presentará anualmente una memoria al Presidente
de la República sobre las gestiones realizadas y el Estado y necesidades de la Justicia
Nacional.
REFORMA DE LA CONSTITUCIÓN

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Art. 94. Ninguna reforma total podrá hacerse de esta Constitución hasta pasados diez años de
su promulgación. La necesidad de la reforma debe ser declarada por la Asamblea Nacional
con los dos tercios de votos de sus miembros.
Con la misma cantidad de votos, la Asamblea podrá, sin embargo, declarar la
necesidad de introducir reformas parciales aconsejada por la experiencia, y si así lo hiciere, se
las someterá a un plebiscito que deberá coincidir con las elecciones para la renovación del
actual período presidencial.
El actual período presidencial terminará el 15 de agosto de 1943.
Dada en la Ciudad de Asunción, Capital de la República del Paraguay, a los diez días
de julio del año del Señor de mil novecientos cuarenta.

Firmado: JOSE FELIX ESTIGARRIBIA


Alejandro Marín Iglesias, E. Torreani Viera, Tomás Salomoni, Justo Pastor Benítez, S.
Villagra M., F. Esculies, Pablo M. Ynsfrán, H. Morínigo M. y Ricardo Odriosola.

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ANEXO V

CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA DE PARAGUAY (1967)


Constituição da República do Paraguai (1967)

Sancionada por la Convención Nacional Constituyente el 25 de Agosto de 1967 y promulgada


por el Poder Ejecutivo en la misma fecha.

CAPÍTULO I DECLARACIONES FUNDAMENTALES


Art. 1. El Paraguay es y será siempre una Nación libre e independiente. Constituido en
República unitaria e indivisible, adopta para su gobierno la democracia representativa.
Art. 2. La soberanía de la República del Paraguay reside esencial y exclusivamente en el
pueblo que la ejerce por medio de los Poderes del Estado, conforme a lo que dispone esta
Constitución.
Art. 3. El Gobierno de la República es ejercido por los Poderes Legislativo, Ejecutivo y
Judicial, dentro de un sistema de división, equilibrio e interdependencia.
Art. 4. Los símbolos de la Patria son:
6. El Pabellón de la República consistente en una bandera compuesta de tres franjas
horizontales iguales: colorada, blanca y azul, llevando de un lado, en el medio, el Escudo
Nacional, de forma circular, que se describe como una palma y una oliva entrelazadas en el
vértice y abiertas en la parte superior, resaltando en medio de ellas una estrella y en la orla
una inscripción distribuida que dice "República del Paraguay"; y en el reverso, en la misma
posición, un circulo con la inscripción distribuida: "Paz y Justicia", figurando en el centro un
león en la base del símbolo de la libertad;
7. El Sello Nacional, que reproduce el escudo primeramente descripto;
8. El Sello de Hacienda, que reproduce el escudo del reverso del Pabellón, mas la
inscripción que dice: "República del Paraguay", en la orla;
9. El Himno Nacional, cuyo coro comienza con la frase: "Paraguayos, República o
muerte";
10. La composición musical "Campamento Cerro León".
La ley reglamentara las características de los símbolos de la Patria, en cuanto no estén
previstas en la resolución del Congreso General Extraordinario del 25 de noviembre de 1842,
y determinara su uso.
Art. 5. Los idiomas nacionales de la República son el español y el guaraní. Será de uso oficial
el español.
Art. 6. La religión oficial es la Católica, Apostólica, Romana, sin perjuicio de la libertad
religiosa que queda garantizada con arreglo a los preceptos de esta Constitución. Las
relaciones oficiales de la República con la Santa Sede se regirán por concordatos u otros
acuerdos bilaterales.
Art. 7. La ciudad de Asunción es la Capital de la República y asiento de los Poderes del
Estado.
Art. 8. Esta Constitución es la ley suprema de la Nación. Los tratados, convenios y demás
acuerdos internacionales, ratificados y canjeados, y las leyes, integran el derecho positivo
nacional en el orden de prelación enunciado.
Art. 9. La República admite los principios del Derecho Internacional; condena la guerra de
agresión y de conquista y toda forma de colonialismo e imperialismo; acepta la solución
pacifica de las controversias internacionales por medios jurídicos; y proclama el respeto a los
Derechos Humanos y a la soberanía de los pueblos. Aspira a vivir en paz con todas las
Naciones y a mantener con ellas relaciones de amistad, culturales y de comercio, sobre la base
de la igualdad jurídica, la no intervención en los asuntos internos y la autodeterminación de
266
los pueblos. La República podrá incorporarse a sistemas multilaterales internacionales de
desarrollo, cooperación y seguridad.
Art. 10. La navegación de los ríos internacionales es libre para buques de toda bandera. Lo
será igualmente en los ríos interiores, con sujeción a los reglamentos que dicte la autoridad
competente.
Art. 11. Los principios, garantías, derechos y obligaciones consagrados por esta Constitución,
no pueden ser alterados por las leyes que reglamentan su ejercicio. Toda ley, decreto,
reglamento u otro acto de autoridad que se oponga a lo que ella dispone, es nulo y de ningún
valor.
CAPÍTULO II DEL TERRITORIO, SU DIVISIÓN POLÍTICA Y DE LOS
MUNICIPIOS
1. TERRITORIO
Art. 12. El territorio nacional no podrá ser jamás cedido, transferido, arrendado ni en forma
alguna enajenado, ni aun temporalmente, a ninguna potencia extranjera. Los Estados que
mantengan relaciones diplomáticas con la República y los organismos internacionales de los
cuales ella forme parte, solo podrán adquirir los inmuebles necesarios para sedes de sus
representaciones, de acuerdo con las prescripciones de la ley. En todos los casos quedara
siempre a salvo la soberanía sobre el suelo.
Art. 13. La soberanía, autoridad y vigilancia sobre el territorio nacional, comprendidos los
ríos, los lagos interiores, el subsuelo y el espacio aéreo, serán ejercidas en la extensión y
condiciones determinadas por la ley.
2. DIVISION POLITICA
Art. 14. Para la estructuración política y administrativa de la República, el territorio nacional
se divide en departamentos. La ley establecerá las autoridades delegadas del Poder Ejecutivo
para el gobierno departamental, sus funciones y atribuciones. Establecerá también la forma en
que habrá de realizarse la descentralización judicial y administrativa.
Art. 15. La ley podrá fusionar Departamentos existentes, modificar sus límites, crear otros y
autorizar la compensación o cesión de territorios entre Departamentos colindantes, atendiendo
a las características físicas y demográficas, a los medios de comunicación y a las
conveniencias económicas, sociales, culturales y de la defensa nacional.
Art. 16. La Capital de la República es independiente de todo territorio departamental. La ley
fijará sus límites.
3. MUNICIPIOS
Art. 17. Queda reconocida la autonomía municipal. La ley determinara las modalidades con
que dicha autonomía será garantizada a los Municipios, tanto en el orden político como el
jurídico, el económico y el administrativo. Comprenderá esencialmente la elección y
designación de sus autoridades; la libre gestión en las materias de su competencia; la
determinación de sus bienes y los requisitos y limitaciones para disponer de ellos, así como la
de sus ingresos y la forma de recaudarlos e invertirlos; la responsabilidad del gobierno
municipal, y los recursos contra sus resoluciones.
Art. 18. Será privativa de los Municipios la competencia para el gobierno y la administración
de los intereses comunales, en particular aquello que tenga relación con sus bienes e ingresos:
y, de acuerdo con la ley, en las materias de urbanismo, abasto, educación y cultura, asistencia
sanitaria y social, montepío, transito, turismo, inspección y policía municipal. La ley podrá
también autorizar la creación y el funcionamiento de servicios de carácter nacional o
departamental en la jurisdicción de los municipios.
Art. 19. La ley podrá establecer diferentes regímenes para la organización, gobierno y
administración de los Municipios, atendiendo a las condiciones de población, desarrollo
económico, situación geográfica y a otros factores determinantes de su desenvolvimiento.

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Art. 20. Toda ciudad o pueblo será cabecera de un Municipio y sede obligatoria de sus
autoridades.
Art. 21. Los Municipios de un mismo Departamento podrán asociarse para determinados fines
de su competencia en el área departamental. Podrán asimismo constituir mancomunidades
interdepartamentales con igual objeto, cuando medien intereses concordantes entre
Municipios de más de un Departamento.
Art. 22. Los Municipios y las Asociaciones Municipales podrán hacer uso del crédito publico,
con las limitaciones y requisitos que establezca la ley.
Art. 23. Los Municipios podrán ser intervenidos por el Poder Ejecutivo en los siguientes
casos:
1. A solicitud de la Junta Municipal;
2. Por desintegración de la Junta Municipal que imposibilite su funcionamiento;
3. Cuando se produzca déficit presupuestario durante dos ejercicios anuales consecutivos; o
4. En caso de grave irregularidad determinada taxativamente por la ley.
La intervención no se prolongara por más de noventa días. En caso de desintegración, los
comicios para constituir las nuevas autoridades electivas se realizaran dentro de dicho plazo.
Si de la intervención resultare el cese de dichas autoridades, las elecciones para sustituirlas se
llevaran a cabo dentro de sesenta días contados desde la referida cesantía.

CAPÍTULO III DE LA NACIONALIDAD Y LA CIUDADANÍA


1. NACIONALIDAD
Art. 24. Son de nacionalidad paraguaya natural:
1. Los nacidos en territorio de la República;
2. Los hijos de paraguayo o paraguaya natural, nacidos en territorio extranjero,
hallándose el padre o la madre al servicio de la República; y
3. Los hijos de paraguayo o paraguaya natural, nacidos en territorio extranjero, cuando se
radiquen en !a República con carácter permanente, siempre que no hayan ejercido derechos o
cumplido obligaciones inherentes a la ciudadanía del país de su nacimiento.
Art. 25. Tendrá nacionalidad paraguaya por naturalización con el solo requisito de expresar su
voluntad de ser paraguayos:
4. Los hijos de paraguayo o paraguaya nacidos en el extranjero, cuando se radicaren con carácter
permanente en el territorio de la República, aunque hubiesen ejercido derechos o cumplido
obligaciones iñerentes a la ciudadanía del país de su nacimiento; y
5. Los hijos de extranjeros, nacidos fuera del país hallándose el padre o la madre al servicio de la
República, siempre que se radiquen con carácter permanente en territorio nacional.
Art. 26. La formalización del derecho consagrado en el inciso 3 del Art. 24 y la declaración de
voluntad de aceptar la nacionalidad en los casos de los incisos 1 y 2 del Art. 25, se harán por
el interesado cuando fuere mayor de 18 años, o por su representante legal si no hubiere
cumplido esa edad.
Art. 27. Los extranjeros podrán adquirir la nacionalidad paraguaya por naturalización, toda
vez que reúnan los siguientes requisitos:
6. Radicación de tres años, por lo menos, en el territorio de la República;
7. Ejercicio continuado de alguna profesión, oficio, ciencia, arte o industria en el país; y
8. Buena conducta.
Art. 28. La doble nacionalidad podrá ser admitida mediante tratado, convenio o acuerdo
internacional. Ella no confiere los derechos privativos de los paraguayos naturales a los de la
otra nacionalidad, ni hace perder los propios a los paraguayos naturales.
Art. 29. La nacionalidad paraguaya se pierde:

268
9. Por comisión de delito de traición a la Patria declarada en sentencia judicial, entendiéndose
por tal traición solamente el atentado contra la independencia o la integridad territorial de la
República, o la ayuda al enemigo de ella en guerra internacional;
10. Por adquisición voluntaria de otra nacionalidad; o
11. Por ausencia injustificada del país durante más de dos años, en el caso de los naturalizados.
Art. 30. Ni el matrimonio ni su disolución alteran la nacionalidad de los cónyuges ni la de sus
hijos.
2. CIUDADANÍA
Art. 31. Son ciudadanos:
1. Los que tienen nacionalidad paraguaya natural, desde la edad de dieciocho años; y
2. Los que tienen nacionalidad paraguaya por naturalización después de dos años de haberla
obtenido, siempre que hayan cumplido diez y ocho años de edad.
Art. 32. Se suspende la ciudadanía:
3. Por incapacidad física o mental, declarada en juicio, que impida obrar libre y reflexivamente;
o
4. Por hallarse cumpliendo condena judicial con pena privativa de la libertad.
Art. 33. La suspensión de la ciudadanía concluirá al cesar legalmente la causa que la hubiere
determinado.
Art. 34. Se pierde la ciudadanía:
5. Por perdida de la nacionalidad; o
6. Por aceptar de un Gobierno extranjero función política de inteligencia, de seguridad o de
defensa, sin autorización del Poder Ejecutivo; o por admitir subsidio o pensión, que implique
sumisión a aquel Gobierno.
Art. 35. Solo el Congreso podrá conceder la ciudadanía honoraria a los extranjeros que
hubiesen prestado servicios eminentes a la República.
3. DISPOSICIONES COMUNES
Art. 36. La perdida de la nacionalidad y de la ciudadanía por traición a la Patria es
irrevocable.
Art. 37. La ley establecerá las normas a que habrán de ajustarse, ante el Poder Judicial, la
adquisición, opción, perdida y recuperación de la nacionalidad y de la ciudadanía paraguayas,
la doble nacionalidad y la solución de los conflictos de nacionalidad.

CAPÍTULO IV DISPOSICIONES GENERALES


Art. 38. Los veteranos de la Guerra del Chaco y de otras guerras internacionales libradas en
defensa de la Patria, gozaran de honores y privilegios; de pensiones que les permitan vivir
decorosamente; de asistencia preferencial, gratuita y completa a su salud; y de otros
beneficios, conforme a lo que determine la ley. Las viudas y los hijos menores de los
veteranos y de los muertos en guerra, les sucederán en los beneficios económicos.
Art. 39. El pueblo solo delibera y gobierna por medio de sus representantes y de las
autoridades creadas por esta Constitución. Toda fuerza o reunión de personas armadas que se
atribuya los derechos del pueblo y demande en nombre de este, comete delito de sedición.
Art. 40. Ningún Poder del Estado podrá jamás atribuirse, no otorgar a otro, ni a persona
alguna, facultades extraordinarias fuera de las previstas en esta Constitución, ni la suma del
poder público, ni supremacía por la cual la vida, la libertad, el honor y la propiedad de las
personas queden a su arbitrio. La dictadura esta fuera de la ley.
Art. 41. Las autoridades superiores, los funcionarios y los empleados públicos ajustaran
siempre sus actos a las disposiciones de esta Constitución y de las leyes. Ejercerán conforme a
ellas las atribuciones de su competencia, y serán personalmente responsables de las
transgresiones, delitos o faltas que cometieren en el desempeño de sus funciones, sin perjuicio

269
de la responsabilidad del Estado, que será reglamentada. Una ley especial regulara la
responsabilidad de los funcionarios a fin de asegurar su efectividad.
Art. 42. La custodia y defensa de la soberanía y la integridad territorial de la República,
quedan confiadas a las Fuerzas Armadas de la Nación. Para el mejor cumplimiento de su
cometido, serán organizadas con carácter permanente.
Art. 43. Los Tribunales militares serán organizados para juzgar los delitos y las faltas de
carácter militar, calificados como tales por la ley. Cuando se tratare de un hecho previsto y
penado tanto por la ley penal común como por la ley penal militar, no será considerado delito
militar, salvo que haya sido cometido por militar en servicio activo y en su carácter de tal. En
caso de duda sobre si el delito es militar o común, se lo considerara como delito común.
Solamente en caso de guerra internacional, y en la forma dispuesta en la ley, estos tribunales
podrán tener jurisdicción sobre personas civiles.
Art. 44. Solo el Estado puede poseer y usar armas de guerra. Todas las que existan, se
fabriquen en el país o se introduzcan a él pasaran a ser de propiedad del Estado, sin
indemnización. La fabricación, comercialización, posesión y el uso de armas de otro tipo
serán reglamentados por la ley.
Art. 45. La preservación del orden público, la seguridad de las personas y sus bienes, y la
prevención de los delitos, estarán a cargo de una Policía cuya organización y atribuciones
serán reglamentadas por ley.
Art. 46. Corresponde exclusivamente al Estado la facultad de hacer acuñaciones y emisiones
de moneda, establecer sistemas de pesas y medidas, y fiscalizar las marcas.
Art. 47. La igualdad es la base del tributo. Con el producto de los impuestos, tasas,
contribuciones y demás recursos, se proveer' los gastos del Estado para la realización de sus
fines. y, cualquiera sea su naturaleza o denominación, responderán a principios económicos y
sociales justos y a políticas favorables al desarrollo nacional. Todo tributo será establecido
exclusivamente por la ley que determinara la materia imponible, los sujetos obligados y el
sistema directo o indirecto, proporcional o progresivo según el caso.
CAPÍTULO V DERECHOS, GARANTÍAS Y OBLIGACIONES
1. DERECHOS INDIVIDUALES
Art. 48. Todos los habitantes de la República tienen derecho al libre desenvolvimiento de su
personalidad, sin otras limitaciones que las derivadas del derecho de terceros y el orden
público y social.
Art. 49. Los actos privados que no ofendan el orden público ni a la moral, ni perjudiquen a
terceros, están exentos de la autoridad de los magistrados. Ningún habitante de la República
puede ser obligado a hacer lo que la ley no manda, ni privado de lo que ella no prohíbe.
Art. 50. Toda persona tiene derecho a ser protegida por el Estado en su vida, su integridad
física, su libertad, su seguridad, su propiedad, su honor y su reputación.
Art. 51. Esta Constitución consagra la igualdad de derechos civiles y políticos del hombre y
de la mujer, cuyos deberes correlativos serán establecidos en la ley, atendiendo a los fines del
matrimonio y a la unidad de la familia.
Art. 52. Los extranjeros podrán avecindarse en el Paraguay con las formalidades y requisitos
establecidos por ley, la cual preverá también las causas de su expulsión del territorio nacional.
Gozaran de los mismos derechos y tendrán las mismas obligaciones que los paraguayos, con
las limitaciones y excepciones establecidas por esta Constitución y las leyes.
Art. 53. Los paraguayos y los extranjeros tendrán derecho a ser indemnizados por el Estado o
los Municipios por los daños y perjuicios de que hayan sido objeto por parte de la autoridad
legítima en el ejercicio de sus funciones.
Art. 54. Los habitantes de la República son iguales ante la ley, sin discriminación alguna; no
se admite prerrogativas de sangre ni de nacimiento; no hay en ella fueros personales ni títulos
de nobleza.
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Art. 55. Todos los paraguayos tienen derecho a ocupar funciones y empleos públicos sin otra
condición que la idoneidad. La ley reglamentara el procedimiento para la admisión,
promoción y remoción de los funcionarios de la administración pública, empleados y demás
servidores del Estado, sobre bases que aseguren la igualdad de oportunidades y la estabilidad
en los cargos o empleos; definirá sus derechos y obligaciones, y fijara los requisitos para que
puedan acogerse a los beneficios sociales, incluso los referentes a jubilaciones y pensiones.
Están prohibidos los paros y las huelgas de los funcionarios y empleados públicos así como el
abandono colectivo de sus cargos.
Art. 56. Todos los habitantes pueden transitar libremente por el territorio nacional, cambiar de
domicilio o residencia, ausentarse de la República y volver a ella, traer sus bienes al país o
sacarlos de él, sin más limitaciones, en este último caso, que las establecidas por la ley.
Art. 57. Nadie está obligado al pago de tributos, ni a la prestación de servicios personales que
no hayan sido expresamente establecidos por la ley. No se exigirá fianzas excesivas ni se
impondrá multa desmedidas.
Art. 58. Todo autor, inventor o investigador, es propietario exclusivo de su obra, invento o
descubrimiento científico por el plazo que le acuerda la ley.
Art. 59. La detención de las personas, salvo caso de ser sorprendidas en la comisión de delito,
solo podrá tener lugar en virtud de orden escrita de autoridad competente. No se podrá detener
a persona alguna por más de veinticuatro horas sin comunicársele la causa de su detención, ni
mantenerla detenida sino en su domicilio o en lugares públicos destinados a ese objeto. La
detención será puesta en conocimiento del Juez competente dentro de las cuarenta y ocho
horas. Si hubiere incomunicación del detenido, ella en ningún caso podrá prolongarse por más
de este plazo excepto si mediare orden judicial.
Art. 60. En la investigación de los hechos punibles, el indiciado tendrá acceso a los recaudos
sumariales y a todos los medios de defensa a que provea la ley. El sumario no es secreto, ni
podrá prolongarse por más tiempo que el legalmente fijado.
Art. 61. Ninguna persona puede ser condenada sin juicio previo que se funde en ley anterior al
hecho del proceso, ni juzgada por tribunales especiales.
Art. 62. La defensa en juicio de la persona y de los derechos es inviolable. Nadie puede ser
obligado a declarar contra sí mismo, contra su cónyuge, contra sus parientes dentro del cuarto
grado de consanguinidad o segundo de afinidad. Actos de esta naturaleza anulan la
declaración y hacen responsables ante la ley a quienes los hubieren ordenado o ejecutado.
Art. 63. La ley reputa inocente a quien no haya sido declarado culpable en virtud de condena
de juez competente. El delito o deshonra en que incurran las personas no afecta a sus
parientes.
Art. 64. Nadie puede ser sometido a juicio por los mismos hechos en virtud de los cuales
hubiera sido juzgado anteriormente, ni privado de su libertad por obligaciones cuyo
incumplimiento no haya sido definido por la ley como delito o falla. No se admite la prisión
por deuda.
Art. 65. En ningún caso se aplicara la pena de muerte por causas políticas. No se admite la
confiscación de bienes. Nadie será sometido a tortura ni a tratos crueles o iñumanos. El
régimen penitenciario será desarrollado en establecimientos adecuados, sanos y limpios, y
tendera a promover la readaptación social del recluso, por medio de un tratamiento integral
que será determinado por la ley.
Art. 66. Nadie podrá hacerse justicia por sí mismo, ni reclamar su derecho por la violencia;
pero se garantiza la legítima defensa de la vida, la propiedad y el honor de las personas.
Art. 67. Ninguna ley tendrá efecto retroactivo, salvo las leyes penales que sean más favorables
al encausado o condenado.
Art. 68. El domicilio es inviolable. No podrá ser allanado sino para cumplir decisiones de
autoridad judicial competente, o impedir la perpetración inminente de un delito.
271
Art. 69. Los papeles particulares, la correspondencia epistolar y las comunicaciones
telegráficas, telefónicas, cablegráficas o de cualquier otra especie, son inviolables. No podrá
hacerse su registro, examen o interceptación sino por orden judicial para casos concretos. Los
libros, comprobantes y documentos de contabilidad solo estarán sujetos a la inspección o
fiscalización de las autoridades competentes, de acuerdo con la ley. Siempre se guardara el
secreto respecto de lo domestico y privado que no tenga relación con los hechos que se
investigan.
Art. 70. La libertad de conciencia y el derecho de profesar, enseñar y difundir cualquier
religión libremente, y practicar su culto, quedan garantizados en el territorio de la República,
toda vez que no se opongan a las buenas costumbres y al orden público. Nadie podrá invocar
sus creencias para eludir el cumplimiento de las leyes ni para impedir a otro el ejercicio de su
derecho.
Art. 71. La libertad de pensamiento y la de opinión quedan garantizadas por igual para todos
los habitantes de la República. No se permitirá predicar el odio entre los paraguayos, ni la
lucha de clases, ni hacer la apología del crimen o de la violencia. La crítica de las leyes es
libre, pero nadie podrá proclamar la desobediencia a lo que ellas disponen.
Art. 72. La libertad de expresión y la de información, sin censura previa, son inviolables, y no
se dictara ninguna ley que las limite o imposibilite, salvo en lo referente a las prohibiciones
del artículo anterior. En tiempo de guerra, las informaciones sobre asuntos relacionados con la
seguridad de la República y la defensa nacional podrán ser censuradas.
Art. 73. Será libre el ejercicio del periodismo en cualquiera de sus formas. No se admitirá la
prensa sin dirección responsable, ni la publicación de temas inmorales.
Art. 74. Ninguna persona o empresa editora de periódicos, así como ninguna difusora de radio
o televisión, podrá recibir subvención de fondos públicos o privados del extranjero sin
autorización del Gobierno.
Art. 75. En los procesos que se promovieren con motivo de publicaciones de cualquier
carácter, que afectaren el honor, la reputación o la dignidad de las personas y que se refiriesen
a delitos de acción penal privada, o a conductas privadas que esta Constitución y la ley
declaren exentas de la autoridad de los magistrados, no será admisible la prueba de la verdad
ni de la notoriedad de tales hechos. Dichas pruebas serán admitidas cuando el proceso se
promueva por la publicación de censuras a la conducta oficial de los funcionarios públicos, y
en los demás casos que establezca expresamente la ley.
Art. 76. Se garantiza a todos los habitantes los derechos de hacer peticiones a las autoridades,
de asociarse con fines lícitos y de reunirse pacíficamente. Las reuniones en lugares públicos
serán reglamentadas por ley, en salvaguardia del derecho de terceros y del orden público.
Art. 77. Toda persona que por un acto u omisión ilegitimo, de autoridad o de un particular, se
crea lesionada o en peligro inminente de serlo, de modo grave, en un derecho o garantía que
consagre esta Constitución, o la ley, y que por la urgencia del caso no pudiera remediarse por
la vía ordinaria, podrá recurrir ante cualquier Juez de Primera Instancia a reclamar amparo. El
procedimiento será breve, sumario, gratuito, y de acción pública, y el Juez tendrá facultad
para salvaguardar el derecho o garantía, o para restablecer inmediatamente la situación
jurídica infringida. La ley reglamentara el procedimiento.
Art. 78. Esta reconocido, y se garantiza, el Habeas Corpus. Toda persona ilegalmente detenida
o coartada de cualquier modo en el ejercicio de su libertad individual, o un tercero en su
nombre, sin necesidad de poder, tienen derecho a pedir ante la autoridad judicial competente,
en forma verbal, por escrito, o por telegrama colacionado, que se la haga comparecer para
restituirle su libertad. Cuando la autoridad judicial lo estimare conveniente, practicara las
comprobaciones del caso en el lugar en que se hallare el detenido. El procedimiento será
breve, sumario y gratuito. La ley reglamentaria rodeara esta institución de las máximas
seguridades y establecerá sanciones para quienes se la opongan arbitrariamente.
272
Art. 79. Para la defensa de esta Constitución y de las autoridades creadas conforme a ella, se
instituye el estado de sitio, que podrá ser aplicado solamente en caso de conflicto o guerra
internacional, de invasión exterior, de conmoción interior, o de amenaza grave de uno de estos
hechos. El estado de sitio será total o parcial según afecte a todo el territorio de la República,
o solo a parte de él, y durante su vigencia podrá detener a las personas indiciadas de participar
en algunos de esos hechos, o trasladarlas de un punto a otro de la República, y prohibir
reuniones y manifestaciones públicas. Los detenidos en virtud del estado de sitio
permanecerán en locales sanos y limpios no destinados a reos comunes, y los traslados se
harán siempre a localidades pobladas y salubres. La declaración del estado de sitio será por
tiempo limitado y responderá en todos los casos a los fines de su institución. Su vigencia no
interrumpirá el funcionamiento de los Poderes del Estado, ni afectara el ejercicio de sus
prerrogativas. La ley reglamentara la aplicación del estado de sitio.
Art. 80. La enunciación de los derechos y garantías contenida en esta Constitución no debe
entenderse como negación de otros que, siendo iñerentes a la personalidad humana, no figuren
expresamente en ella. La falta de ley reglamentaria no podrá ser invocada para negar ni
menoscabar ningún derecho o garantía.
2. DERECHOS SOCIALES
a) Familia
Art. 81. El Estado reconoce en la familia la célula fundamental de la sociedad y promoverá el
constante mejoramiento de su situación moral, cultural, económica y social.
Se protegerá el matrimonio como institución básica de la familia.
Art. 82. El Estado organizara como institución social el bien de la familia, cuyo régimen será
determinado por ley sobre la base de la inembargabilidad de la vivienda familiar, sus muebles
y demás elementos imprescindibles para el trabajo.
Art. 83. Toda la familia tiene derecho a un hogar asentado sobre tierra propia, para lo cual se
perfeccionaran las instituciones y se dictaran las leyes más convenientes a fin de generalizar
la propiedad inmobiliaria urbana y rural, y promover la construcción de viviendas
económicas, cómodas e higiénicas, especialmente para trabajadores asalariados y campesinos.
Art. 84. Los padres tienen el derecho y la obligación de mantener, asistir y educar a sus hijos
menores. El Estado velara por el cumplimiento de estos deberes y se obliga subsidiariamente
a su ejecución en particular respecto de las familias de prole numerosa y de escasos recursos.
Art. 85. La maternidad será amparada por la ley. Se dictaran las medidas necesarias para
asegurar a todo niño, sin discriminación alguna, protección integral desde su concepción.
Art. 86. Se prohíbe toda calificación sobre la naturaleza de la filiación en los documentos
personales.
Art. 87. El amparo y la protección de los menores serán objeto de legislación especial, que
comprenderá la creación de organismos y tribunales especializados. Se admite la adopción de
hijos.
Art. 88. El Estado instituirá, en la medida de las posibilidades, un régimen de seguridad social
integral para toda la población del país. Sus beneficios alcanzaran aun a aquellas personas
cuyo aporte económico a la sociedad sea nulo por razones no imputables a su voluntad.
b) Educación y Cultura
Art. 89. Todos los habitantes tienen derecho a la educación para desarrollar sus aptitudes
espirituales y físicas, formar su conciencia cívica y moral, y a capacitarse para la lucha por la
vida. La enseñanza primaria es obligatoria y se consagra la libertad de impartirla. El Estado
sostendrá las necesarias escuelas públicas para asegurar a todos los habitantes, en forma
gratuita, la oportunidad de aprender, y propenderá a generalizar en ellas, por los medios a su
alcance, la igualdad de posibilidades de los educandos. También sostendrá y fomentara, con
los mismos criterios de igualdad y libertad, la enseñanza media, vocacional, agropecuaria,

273
industrial y profesional, y la superior o universitaria, así como la investigación científica y
tecnológica.
Art. 90. La ley preverá la constitución de fondos para becas, bolsas de estudio y otras ayudas,
con el fin de posibilitar la formación superior, científica, tecnológica, artística o intelectual de
los paraguayos que hubieren demostrado aptitudes sobresalientes, preferentemente de
aquellos que carezcan de recursos económicos.
Art. 91. La ley determinara el régimen de la enseñanza en todos sus grados así como el
alcance de la autonomía universitaria y establecerá cuales son las profesiones que necesitan
titulo para su ejercicio, las condiciones que deben llenarse para obtenerlo, la autoridad que
estará facultada para expedirlo y los controles a que estarán sujetas esas profesiones.
Art. 92. El Estado fomentará la cultura en todas sus manifestaciones. Protegerá la lengua
guaraní y promoverá su enseñanza, evolución y perfeccionamiento. Velara por la
conservación de los documentos, las obras, los objetos y monumentos de valor histórico,
arqueológico o artístico que se encuentren en el país, y arbitrara los medios para que sirvan a
los fines de la educación.
c) Salud
Art. 93. Todos los habitantes tienen derecho a la protección y promoción de la salud, y están
obligados a someterse a las medidas sanitarias que establezca la ley, dentro de los límites
permitidos por el respeto a la personalidad humana. La ley dispondrá el régimen para la
asistencia de los enfermos carentes de recursos y de los inválidos y ancianos indigentes. La
prevención y el control de las enfermedades transmisibles serán funciones principales de los
organismos de salud pública.
3. DERECHOS ECONÓMICOS
Art. 94. El Estado promoverá el desarrollo económico mediante la utilización racional de los
recursos disponibles con el objeto de impulsar el crecimiento dinámico de la economía
nacional, crear nuevas fuentes de trabajo y de riqueza, y asegurar el bienestar general. El
desarrollo se fomentara sobre la base de programas globales fundados en principios de justicia
social que aseguren a todos una existencia compatible con la dignidad humana.
Art. 95. La iniciativa privada será estimulada en función del articulo precedente. Todos los
habitantes de la República pueden dedicarse libremente a la actividad lucrativa de su
preferencia; pero no serán permitidas, en ningún tiempo ni bajo forma alguna, las
combinaciones que tiendan al monopolio, al alza y a la baja artificiales de los precios, o a
trabar de cualquier modo la libre concurrencia. La usura y el comercio no autorizado de
artículos nocivos para la salud, serán sancionados por la ley penal.
Art. 96. Se garantiza la propiedad privada, cuyo contenido y limites serán fijados por la ley,
atendiendo a su función económica y social. Nadie puede ser privado de su propiedad sino en
virtud de sentencia judicial, pero se admite la expropiación por causa de utilidad pública o de
interés social definida en la ley que también garantizara la justa indemnización.
Art. 97. Dentro del territorio de la República circularan libremente los efectos de producción
o fabricación nacional y los de procedencia extranjera introducidos legalmente.
Art. 98. La ley podrá otorgar franquicias fiscales a la introducción de materiales para la
enseñanza, la cultura y la investigación científica y tecnológica; y de maquinarias, equipos,
herramientas y otros elementos indispensables para el fomento de la agricultura, la ganadería,
la industria y la minería.
Art. 99. Los ferrocarriles, carreteras, acueductos, oleoductos y otras vías privadas de
comunicación o de transporte, construidos por empresas explotadoras de recursos naturales,
estarán afectados al servicio público en las condiciones y con las limitaciones que establezca
la ley, de modo que no sean perjudicados los derechos de aquellas los legítimos intereses de la
colectividad.

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Art. 100. Corresponde al Estado el dominio de todos los minerales sólidos, líquidos y
gaseosos, que se encuentren en estado natural en el territorio de la República, con excepción
de las substancias pétreas, terrosas o calcáreas. En los casos en que organismos oficiales no
tomen a su cargo la tarea, y solo por tiempo limitado, podrán otorgarse concesiones para
prospección, investigación, cateo o explotación de yacimientos minerales. La ley
reglamentaria atenderá a las necesidades de la defensa nacional.
Art. 101. La explotación de los recursos naturales de dominio del Estado podrá ser objeto de
concesiones a favor de empresas nacionales privadas o mixtas, o de empresas privadas
extranjeras, mediante leyes especiales que se dictaran en cada caso. No se otorgara ninguna
concesión por tiempo indeterminado, ui se concederán privilegios que priven al Estado de una
participación justa en los beneficios de la explotación de aquellos recursos.
Art. 102. El capital como factor de desarrollo, debe cumplir una finalidad económica y social
en armonía y reciproca cooperación con el trabajo. El Estado promoverá la formación y
consolidación del capital nacional, y favorecerá la inversión del capital extranjero en
actividades productivas, como complemento necesario para el desarrollo nacional.
Art. 103. El Estado favorecerá el proceso de integración de los países latinoamericanos, para
acelerar su desarrollo equilibrado y aumentar el bienestar común, en función de los intereses
de la República y sin detrimento de su soberanía.
4. DERECHOS DE LOS TRABAJADORES
Art. 104. Queda proscripta la explotación del hombre por el hombre. La ley penal sancionara
como delito cualquier forma de servidumbre o dependencia personal incompatible con la
dignidad humana
Art. 105. El trabajo será objeto de protección especial y no estará sujeto a otras condiciones
que las establecidas para mejorar la situación material, moral e intelectual del trabajador. La
duración de la jornada de trabajo, los descansos semanales obligatorios, las vacaciones
anuales pagas, las bases para la determinación de un salario mínimo vital, las bonificaciones
familiares, la estabilidad del trabajador en merito a su antigüedad en el servicio y el amparo
en casos de cesantía o paro forzoso, serán previsiones fundamentales de la ley, que también
favorecerá las soluciones conciliatorias de los conflictos del trabajo. Son irrenunciables por el
trabajador las normas legales establecidas para beneficiarlo o protegerlo.
Art. 106. Las condiciones de trabajo de la mujer serán particularmente reguladas para
preservar los derechos de la maternidad; y las del menor, para garantizar su normal desarrollo
físico, intelectual y moral.
Art. 107. Los contratos de trabajos, los salarios mínimos y la aplicación de los beneficios de
la previsión y asistencia sociales, así como la seguridad e higiene de los establecimientos,
fabricas y talleres, quedan sujetos a la fiscalización de las autoridades creadas por la ley para
ese fin.
Art. 108. La ley establecerá para los trabajadores dependientes, de cualquier ramo que fueren,
y su familia, el régimen general de la seguridad social, y regulara su campo de aplicación, su
extensión y los beneficios comprendidos. Determinara igualmente el régimen de la asistencia
social y el de jubilaciones y pensiones para los mismos.
Art. 109. Se garantiza la libre agremiación de los trabajadores manuales, intelectuales y
profesionales, y de cuantos ejerzan una actividad afín como medio de vida, para la defensa de
sus fines gremiales. Tales agremiaciones no estarán sometidas a otros requisitos que los
establecidos por la ley con el propósito de asegurar su organización y funcionamiento
democráticos, y garantizar los derechos de sus miembros.
Art. 110. Queda garantizado el derecho de huelga de los trabajadores, que la ley reglamentara
para asegurar su ejercicio por procedimientos democráticos y exclusivamente para la defensa
de intereses gremiales.
5. DERECHOS POLITICOS
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a) Sufragio
Art. 111. El sufragio es derecho, deber y función pública del elector. Constituye la base del
régimen democrático representativo, y se funda en el voto universal, libre, directo, igual y
secreto; en el escrutinio fiscalizado; y en el sistema de representación proporcional. Su
ejercicio será obligatorio dentro de los límites que establezca la ley, y nadie podrá proclamar
o recomendar la abstención electoral.
Art. 112. Son electores los paraguayos, sin distinción de sexo, que hayan cumplido dieciocho
años de edad. En las elecciones municipales serán también electores los extranjeros, de
acuerdo con esta Constitución y las leyes.
Art. 113. Se pierde o se suspende la calidad de elector por perdida o suspensión de la
ciudadanía. Tratándose de extranjeros, la calidad de elector se pierde o se suspende, según los
casos, por las mismas causas de pérdida o suspensión de la ciudadanía, en cuanto les fueran
aplicables. El servicio militar obligatorio suspende la calidad de elector del ciudadano que se
halla prestándolo como soldado o clase bajo cualquier denominación.
Art. 114. Los electores son elegibles, sin más restricciones que las establecidas en esta
Constitución. La ley fijara las condiciones para los cargos electivos cuyos requisitos no estén
determinados en aquella.
Art. 115. Los organismos electorales serán integrados sobre la base del sistema de
representación proporcional, y sus miembros tendrán las inmunidades e incompatibilidades
que la ley establezca para asegurarles total independencia e imparcialidad en el ejercicio de
sus funciones. La ley determinara la autoridad competente ante la cual serán recurribles sus
resoluciones, y el respectivo procedimiento
Art. 116. Los electores tienen el derecho de manifestarse pacíficamente con sujeción a los
requisitos establecidos por la ley
b) Partidos Políticos
Art. 117. Todos los paraguayos aptos para votar tienen el derecho a organizarse en partidos
políticos para participar, por métodos democráticos, en la formación de las autoridades
electivas y en la orientación de la política nacional. La ley reglamentara la Constitución y el
funcionamiento de los partidos políticos con el fin de asegurar su carácter democrático y
garantizar su igualdad ante ella.
Art. 118. No se admitirá la formación ni el funcionamiento de partido político alguno que
tuviere por propósito destruir el régimen Republicano y democrático representativo de
gobierno o el pluripartidismo. Queda prohibida la subordinación o la alianza de los partidos
políticos paraguayos con organizaciones similares de otros países. Tampoco podrán recibir
subvenciones ni directivas del exterior.
Art. 119. Ningún partido político podrá proclamar la abstención que signifique no
participación de los ciudadanos en elecciones.
Art. 120. Los partidos políticos, independientemente de la representación que les corresponda
en los organismos electorales, tendrán derecho de fiscalización sobre su funcionamiento y
sobre el proceso de las elecciones a las cuales concurran.
Art. 121. No se podrá suspender o cancelar la personería jurídica de los partidos políticos sino
por transgresiones a las normas prescriptas en este capítulo y en virtud de sentencia judicial.
c) Asilo Político
Art. 122. El derecho de asilo queda reconocido, en las condiciones y con los requisitos
establecidos por las leyes y las normas del derecho internacional, a favor de cualquier persona
que por motivo o delito político sea objeto de persecución o se encuentre en peligro de serlo.
6. OBLIGACIONES
Art. 123. Todos los habitantes están obligados a cumplir y obedecer esta Constitución y las
leyes, así como los decretos, resoluciones y demás actos de autoridad que, en ejercicio de sus
atribuciones, dicten los órganos legítimos de los poderes públicos.
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Art. 124. En ningún caso el interés de los particulares primara sobre el interés general de la
Nación. Todos los habitantes deben colaborar en bien de ella, y están obligados a prestarle los
servicios y a desempeñar las funciones que la ley determine como cargas públicas.
Art. 125. Todo ciudadano paraguayo está obligado a armarse en defensa de la Patria y de esta
Constitución. El servicio militar es obligatorio para los ciudadanos varones, y quienes lo
hubieran prestado revistaran en la reserva. Las mujeres no prestaran servicio militar sino en
caso de necesidad durante guerra internacional, y no como combatientes. La ley reglamentara
la contribución de los extranjeros a la defensa nacional.
Art. 126. Todos los habitantes de la República están obligados a ganarse la vida con una
actividad licita.
Art. 127. Las obligaciones que corresponden al Estado en cuanto a la asistencia, educación y
bienestar del pueblo, no excluyen los deberes que, en virtud de la solidaridad social, incumben
a los particulares según su capacidad. La ley podrá establecer, de acuerdo con las necesidades,
el sistema a que habrá de ajustarse el cumplimiento de estos deberes.
CAPÍTULO VI DE LA REFORMA AGRARIA
Art. 128. Esta Constitución consagra la Reforma Agraria como uno de los factores
fundamentales para lograr el bienestar rural, que consiste en la incorporación efectiva de la
población campesina al desarrollo económico y social de la Nación. A este efecto se
adoptaran sistemas justos de distribución, propiedad y tenencia de la tierra, se organizaran el
crédito y la asistencia técnica y social; se fomentara la creación de cooperativas y de otras
asociaciones similares; y se promoverá el incremento de la producción, su industrialización y
la racionalización del mercado, de modo que permita a la población campesina lograr su
mejoramiento económico, como garantía de su libertad y dignidad, y como fundamento del
bienestar nacional.
Art. 129. La ley fijara la extensión máxima de tierra de que puede ser propietaria una persona
natural o jurídica. La relación de la superficie territorial del país con el numero de sus
habitantes, la aptitud natural de las tierras y de las necesidades y previsiones aconsejables para
el desarrollo equilibrado de las actividades agrícolas, pecuarias, forestales e industriales, serán
elementos de juicio para establecer aquella limitación. Las aéreas en exceso serán
consideradas latifundios y deberán venderse a plazos y en condiciones especiales que se
establecerán por ley, cuando se trate de tierras incultas necesarias para la explotación
agropecuaria o para la fundación o ampliación de poblaciones estables. El latifundio será
objeto de un sistema impositivo progresivo que contribuya a su extinción.
Art. 130. Se fomentara la repatriación de paraguayos y la migración interna atendiendo a
razones demográficas, económicas o sociales, preferentemente bajo el sistema de colonias con
cooperación oficial, así como la inmigración de extranjeros útiles al desarrollo general del
país, con sujeción a las leyes reglamentarias.
Art. 131. El Estado fomentara el interés de la juventud en las tareas agropecuarias,
especialmente entre los ciudadanos que, al termino del servicio militar, se incorporen a la
población rural.
Art. 132. El Estado preservara la riqueza forestal del país, así como los demás recursos
naturales, renovables. Para el efecto, dictara normas de conservación, renovación y
explotación racional.
CAPÍTULO VI DEL PODER LEGISLATIVO
1. COMPOSICION
Art. 133. El Poder Legislativo de la Nación será ejercido por un Congreso compuesto de dos
Cámaras, una de Senadores y otra de Diputados.
2. DISPOSICIONES COMUNES A AMBAS CAMARAS
Art. 134. Las elecciones ordinarias para la integración del Congreso se harán simultáneamente
con las de Presidente de la República
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Art. 135. La ley fijara el número de Senadores y Diputados titulares y suplentes, con las
limitaciones establecidas en esta Constitución. Los suplentes actuaran en substitución de los
titulares en caso de muerte, renuncia o inhabilitación, por lo que reste del periodo
Constitucional o mientras dure la inhabilitación, si esta fuere temporal. En los demás casos,
resolverá el reglamento de cada Cámara.
Art. 136. Los Senadores y Diputados, titulares y suplentes, serán elegidos por cinco años, y
podrán ser reelectos.
Art. 137. Los Senadores y Diputados, en el acto de su incorporación a las Cámaras, prestaran
juramento de desempeñar con fidelidad y patriotismo sus funciones, y de obrar en todo de
conformidad a lo que prescribe esta Constitución.
Art. 138. Las Cámaras del Congreso se reunirán en sesiones ordinarias todos los años, desde
el 1o. de abril hasta el 20 de diciembre, inclusive. Fuera de este periodo podrán ser
convocadas a sesiones extraordinarias por el Poder Ejecutivo que también podrá prorrogar las
ordinarias. En el primer caso se expresara el motivo de la convocatoria, con enunciación
concreta de los asuntos a tratarse, fuera de los cuales no podrá ser considerado ningún otro.
Art. 139. Las reuniones del Congreso serán presididas por el Presidente del Senado y, en caso
de impedimento de este, por el Presidente de la Cámara de Diputados. Faltando ambos, las
presidirá el Vice-Presidente del Senado o el de la Cámara de Diputados, en el mismo orden.
Art. 140. Cada Cámara es juez exclusivo de la elección, derechos y títulos de sus miembros.
Ninguna de ambas entrara en sesiones sin la concurrencia de la mayoría absoluta de ellos;
pero un número menor podrá compeler a los miembros ausentes a que concurran, bajo
apercibimiento de la sanción que será establecida en el reglamento, para los renuentes.
Art. 141. Por mayoría de dos tercios de votos cada Cámara podrá amonestar a cualquiera de
sus miembros o excluirlo de su seno, por desorden de conducta en el ejercicio de sus
funciones, por incapacidad o por inhabilidad física o mental, debidamente comprobada. En los
casos de renuncia, decidirá por simple mayoría de votos.
Art. 142. Ningún miembro del Congreso puede ser acusado ni interrogado judicialmente por
las opiniones que emita en el desempeño de sus funciones de legislador. Desde el día de su
elección hasta el de su cesamiento, ningún Senador o Diputado podrá ser detenido, salvo que
fuere hallado en flagrante delito. En este caso, la autoridad interviniente lo pondrá bajo
custodia en su residencia, dará cuenta inmediata del hecho a la Cámara respectiva, y remitirá
los antecedentes a la justicia ordinaria. Si esta le formare proceso por ese u otro hecho
delictuoso, y hubiere lugar al auto de prisión, el juez de la causa, antes de dictarlo, informara a
la misma Cámara que, con dos tercios de votos, suspenderá al acusado y lo pondrá a
disposición de aquel.
Art. 143. Para el mejor cumplimiento de su cometido, las Cámaras del Congreso podrán pedir
a los otros Poderes del Estado los informes sobre asuntos de interés publico que estimen
necesarios. Los informes serán remitidos por escrito dentro del plazo de un mes, y, si
consideraren que son insuficientes, podrán solicitar la concurrencia del Ministro del ramo,
mediante nota pasada con cinco días de anticipación, por lo menos, en la cual se expresara
detalladamente el motivo de la resolución y la fecha en que deberá comparecer. Los Ministros
podrán hacerse a asistir por asesores.
Art. 144. Los Ministros del Poder Ejecutivo, así como los asesores de reparticiones públicas,
funcionarios y demás empleados a sueldo del Estado o los Municipios, cualquiera sea la
denominación con que figuren y el concepto de sus retribuciones, podrán ser electos, pero,
salvo el caso de los docentes, no podrán ejercer las funciones de Senador o Diputado,
mientras subsista la designación para aquellos cargos.
Art. 145. No podrán ser electos Senadores ni Diputados los eclesiásticos ni los militares en
servicio activo. Tampoco podrán serlo quienes formen parle de empresas que explotan

278
servicios públicos o concesiones del Estado, ni los apoderados, representantes o asesores de
las mismas.
Art. 146. Los Senadores y los Diputados gozaran de una asignación que será establecida en el
Presupuesto General de la Nación.
Art. 147. Para las votaciones en las Cámaras del Congreso, se entenderá por simple mayoría
la mitad mas uno del quórum legal; por mayoría de dos tercios, las dos terceras partes del
quórum legal; y por mayoría absoluta de dos tercios, las dos terceras partes del número total
de miembros de cada Cámara.
El quórum legal se formara con la mitad mas uno de ese total, en cada caso. Cuando la
mayoría no esté calificada, se entenderá que se trata de simple mayoría.
Art. 148. Cada Cámara constituirá sus autoridades, dictara su propio reglamento y designar a
sus empleados.
3. ATRIBUCIONES DEL CONGRESO
Art. 149. Son atribuciones del Congreso:
1. Dictar los códigos y demás leyes, modificarlos o derogarlos, interpretando esta Constitución;
2. Velar por la observancia de la Constitución y las leyes;
3. Establecer la división política del territorio de la República y la organización Municipal;
4. Legislar sobre materia tributaria;
5. Autorizar la contratación de empréstitos, y la adopción de regímenes orgánicos en materia
bancaria, monetaria y cambiaria, así como un sistema uniforme de pesas y medidas;
6. Sancionar anualmente la ley de Presupuesto General de la Nación;
7. Dictar la ley electoral;
8. Aprobar o rechazar los tratados, convenios, concordatos y demás acuerdos internacionales
suscriptos en nombre de la República, y autorizar al Poder Ejecutivo a declarar la guerra y a
concertar la paz;
9. Reglamentar la navegación fluvial y la aérea;
10. Autorizar por tiempo determinado, a iniciativa del Poder Ejecutivo, concesiones para el
establecimiento de industrias nuevas o de servicios públicos nacionales, así como para la
extracción y transformación de materias primas;
11. Declarar electo al Presidente de la República, de acuerdo con la ley electoral, y recibirle el
juramento Constitucional;
12. Conceder amnistías;
13. Legislar sobre la organización judicial y sobre lo contencioso administrativo;
14. Dictar, a iniciativa del Poder Ejecutivo las ordenanzas militares y la ley orgánica de los
Tribunales militares;
15. Autorizar la movilización de los ciudadanos de la reserva para su incorporación a las Fuerzas
Armadas, en caso de peligro de guerra internacional;
16. Permitir la entrada de fuerzas armadas regulares del extranjero al territorio de la República y
la salida al exterior de las nacionales, excepto cuando se trate de actos de cortesía
internacional, en cuyo caso esa facultad competerá al Poder Ejecutivo ;
17. Establecer el régimen legal de enajenación y arrendamiento de los bienes fiscales y
municipales;
18. Aprobar, modificar o derogar los Decretos-Leyes;
19. Acordar, a iniciativa del Poder Ejecutivo, el traslado de la Capital de la República a otro
punto del territorio en caso de absoluta necesidad;
20. Dictar resoluciones y acuerdos internos, y formular declaraciones conforme a sus facultades;
y
21. Las demás que le competen de acuerdo con esta Constitución.
4. DE LA CAMARA DE SENADORES

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Art. 150. La Cámara de Senadores se compondrá de treinta miembros titulares por lo menos,
elegidos directamente por el pueblo. En el mismo acto comicial se elegirán diez y ocho
Senadores suplentes, como mínimo. Para ser electo Senador titular o suplente se requiere
nacionalidad paraguaya natural y haber cumplido cuarenta años de edad.
Art. 151. Son atribuciones exclusivas de la Cámara de Senadores:
1. Iniciar la consideración de los proyectos de ley relativos a la defensa nacional, a la
ratificación de tratados, convenios o acuerdos internacionales, a las expropiaciones, y a la
limitación de la propiedad inmobiliaria;
2. Prestar acuerdo para la designación de los miembros de la Corte Suprema de Justicia, del
Fiscal General del Estado, de Embajadores y Ministros Plenipotenciarios del servicio exterior
de la República, así como para los ascensos militares desde el grado de Coronel en el Ejercito,
inclusive, o su equivalente en las otras armas y en los servicios;
3. Juzgar, a iniciativa de la Cámara de Diputados, a los miembros de la Corte Suprema de
Justicia. Solo podrá declararlos culpables por mayoría absoluta de dos tercios de votos y su
fallo no tendrá más efecto que el de destituir a los acusados, sin perjuicio de las acciones
judiciales que puedan intentarse contra ellos ante la justicia ordinaria;
4. Autorizar el envió de misiones militares paraguayas permanentes al exterior o a la admisión
de extranjeras en el país; y
5. Las demás que le señalen esta Constitución y las leyes.
5. DE LA CAMARA DE DIPUTADOS
Art. 152. La Cámara de Diputados se compondrá de un número no menor de sesenta
miembros titulares, elegidos directamente por el pueblo. En el mismo acto comicial se
elegirán treinta y seis Diputados suplentes como mínimo. Para ser electo Diputado titular o
suplente se requiere nacionalidad paraguaya natural y haber cumplido veinticinco años de
edad.
Art. 153. Son atribuciones exclusivas de la Cámara de Diputados:
1. Iniciar la consideración de los proyectos de ley referentes a los sistemas tributario, monetario
y bancario, a la contratación de empréstitos y al Presupuesto General de la Nación;
2. Iniciar la consideración de todo proyecto relativo a la legislación electoral y municipal;
3. Sin perjuicio de sus facultades propias, cuando, del informe anual del Tribunal de Cuentas
sobre la ejecución del Presupuesto General de la Nación, surgen malos manejos en las
inversiones públicas, adoptar las medidas pertinentes, conforme se establece e en esta
Constitución y las leyes;
4. Por mayoría absoluta de dos tercios de votos, iniciar juicio ante el Senado a los miembros de
la Corte Suprema de Justicia, en los casos previstos en el artículo 196.
6. DE LA FORMA Y SANCION DE LAS LEYES
Art. 154. Las leyes pueden tener origen en una u otra Cámara del Congreso, mediante
proyectos presentados por cualquiera de sus miembros, salvo aquellas cuya iniciativa
corresponde al Poder Ejecutivo o a una Cámara determinada, por mandato expreso de esta
Constitución. Todo proyecto de ley será presentado con exposición de motivos.
Art. 155. Aprobado el proyecto por la Cámara de origen o que lo hubiese tratado en primer
término, pasara para su consideración a la otra Cámara. Si esta a su vez lo aprobare, el
proyecto quedara sancionado, y el Poder Ejecutivo lo promulgara como Ley, si también le
presta su aprobación. Se reputara aprobado por el Poder Ejecutivo todo proyecto de ley que
no fuere objetado y devuelto a la Cámara de origen en el plazo de diez días hábiles, en cuyo
caso quedara automáticamente promulgado, y se dispondrá su publicación.
Art. 156. Los proyectos de ley remitidos al Congreso por el Poder Ejecutivo serán tratados y
despachados en el periodo de sesiones del mismo año, salvo que hayan sido devueltos por
falta de tiempo para considerarlos. En caso contrario, se reputara que fueron sancionados, y el
Poder Ejecutivo los promulgara como leyes.
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Art. 157. Parcialmente objetado por el Poder Ejecutivo un proyecto de ley, volverá a la
Cámara de origen para que estudie y se pronuncie sobre las objeciones. Cumplido este
trámite, el proyecto pasara a la otra Cámara con el mismo objeto. Si ambas Cámaras
confirman la sanción primitiva por mayoría absoluta de votos, el Poder Ejecutivo lo
promulgara; pero si las Cámaras disintieran sobre las objeciones, el proyecto no podrá
repetirse en las sesiones de aquel año.
Art. 158. Rechazado totalmente por el Poder Ejecutivo un proyecto de ley, solo podrá ser
considerado nuevamente en las sesiones del año mediante el voto afirmativo de la mayoría
absoluta de dos tercios de ambas Cámaras. En este caso, el proyecto volverá a ser
considerado, y si obtuviere mayoría absoluta en las dos Cámaras, el Poder Ejecutivo lo
promulgara.
Art. 159. Ningún proyecto de ley rechazado íntegramente por la Cámara de origen podrá ser
presentado por segunda vez para su consideración en el mismo periodo de sesiones, salvo el
de Presupuesto General de la Nación.
Art. 160. Cuando un proyecto de ley aprobado por una de las Cámaras fuere rechazado
totalmente por la otra, volverá a aquella para su nueva consideración. Si la Cámara de origen
se ratificare por mayoría absoluta, pasara de nuevo a la revisora, la cual solamente podrá
volver a rechazarlo por mayoría absoluta de dos tercios. De no obtenerla, se reputara
sancionado el proyecto.
Art. 161. En el caso de que un proyecto de ley fuere solo parcialmente objetado o modificado
por la Cámara que lo hubiera considerado en segundo término, pasara a la otra Cámara para
que se pronuncie sobre los puntos cuestionados. Si esta lo aprobare, el proyecto quedara
sancionado; pero si lo rechazare por la mayoría absoluta, volverá a la otra Cámara, cuyo voto
favorable por mayoría absoluta de dos tercios será definitivo para la sanción del proyecto.
Art. 162. Si la Cámara revisora no despachare en el término de tres meses un proyecto de ley
aprobado por la Cámara de origen, se reputara que les ha prestado su voto favorable y pasara
al Poder Ejecutivo para su promulgación.
Art. 163. El proyecto de ley de Presupuesto General de la Nación será presentado anualmente
por el Poder Ejecutivo a más tardar el 30 de septiembre, y su consideración por el Congreso
tendrá prioridad absoluta. Recibido el proyecto, la Cámara de Diputados se abocara a su
estudio, y deberá despacharlo dentro de un mes. La Cámara de Senadores estudiara, en plazo
no mayor, el proyecto con las modificaciones introducidas por la primera, y si lo aprobare,
quedara sancionado. En caso contrario, volverá con las objeciones a la otra Cámara, la cual se
expedirá en el plazo de diez días corridos y exclusivamente sobre los puntos discrepantes del
Senado. De ser considerados favorablemente estos, el proyecto quedara sancionado; y si no lo
fueren, el proyecto volverá por otros diez días corridos a la Cámara de Senadores, cuya
decisión será definitiva.
Todos los plazos establecidos en este artículo son perentorios, y a falta de despacho dentro de
cualquiera de ellos se entenderá como aprobación. Las decisiones en las distintas etapas de la
discusión, serán tomadas por simple mayoría de votos, pero las Cámaras solo podrán rechazar
totalmente el proyecto presentado a su estudio por mayoría absoluta de dos tercios.
Art. 164. Cualquiera sea el estado de su tramitación, el Poder Ejecutivo podrá retirar del
Congreso los proyectos de leyes que hubiera enviado, desistir de ellos o postergar su
presentación para otro periodo legislativo
Art. 165. La ley no obliga sino en virtud de su promulgación y publicación. La publicidad de
las leyes será reglamentada.
Art. 166. La fórmula que se usara en la sanción de las leyes será la siguiente: "El Congreso de
la Nación Paraguaya sanciona con fuerza de Ley". Para la promulgación de las mismas, el
tenor de la formula será: "Téngase por Ley de la República, publíquese e insértese en el
Registro Oficial".
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Art. 167. Las Comisiones de las Cámaras podrán solicitar informes u opiniones de personas y
entidades públicas o privadas a los efectos de producir sus dictámenes o de facilitar el
ejercicio de las demás facultades que corresponden al Congreso.
7. DE LA COMISION PERMANENTE DEL CONGRESO
Art. 168. Antes de entrar en receso, cada Cámara designara anualmente, por mayoría absoluta,
los Senadores y Diputados que en número de seis y doce, respectivamente, constituirán juntos
la Comisión Permanente del Congreso que actuara hasta el siguiente periodo de sesiones. La
Comisión elegirá sus autoridades, y de ello dará aviso escrito a otros Poderes del Estado.
Sesionara válidamente con la presencia de la simple mayoría de sus miembros. En los asuntos
llevados a votación, en caso de empate decidirá el Presidente.
Art. 169. Son atribuciones de la Comisión Permanente del Congreso:
1. Velar por la observancia de la Constitución y las leyes, y acordar para estos fines las medidas
pertinentes;
2. Dictar su propio reglamento;
3. Recibir las actas de elección de Presidente de la República, pasarlas al Congreso y convocarlo
a sesiones para el estudio y la aprobación de dichas actas;
4. Recibir las actas de elección de Senadores y de Diputados y pasarlas a las Cámaras
respectivas;
5. Convocar a las Cámaras a sesiones preparatorias para examinar las actas electorales de
Senadores y de Diputados, respectivamente, a fin de que el Congreso pueda reunirse en
tiempo oportuno;
6. Convocar a sesiones preparatorias, para que la apertura anual del periodo legislativo se
efectué en el día señalado;
7. Organizar la realización de las sesiones extraordinarias convocadas por el Poder Ejecutivo, de
conformidad con esta Constitución; y
8. Las demás que le atribuyen esta Constitución y las leyes.
Art. 170. La Comisión Permanente informara de sus actuaciones a cada Cámara, y será
responsable ante ellas de las medidas que hubiese adoptado o autorizado.
CAPÍTULO VIII DEL PODER EJECUTIVO
1. COMPOSICION, ELECCION Y DURACION
Art. 171. El Poder Ejecutivo será desempeñado por un ciudadano con el título de Presidente
de la República del Paraguay.
Art. 172. Para ser Presidente de la República se requiere nacionalidad paraguaya natural,
haber cumplido cuarenta años de edad, profesar la religión Católica, Apostólica, Romana, y
reunir condiciones morales e intelectuales que le acrediten para el ejercicio del cargo.
Art. 173. El Presidente de la República será elegido en comicios generales directos que se
realizaran por lo menos seis meses antes de expirar el periodo Constitucional que estuviere en
curso, y solo podrá ser reelecto para un periodo más, consecutivo o alternativo.(x)
Art. 174. Cada periodo presidencial durara cinco años, a computarse desde el 15 de agosto de
1968.
Art. 175. El Presidente de la República cesara el mismo día en que expira el periodo para el
cual fue elegido, sin que evento alguno prorrogue su mandato.
Art. 176. Al tomar posesión de su cargo, el Presidente de la República prestara juramento ante
el Congreso en los términos siguientes: "Yo, N.N., juro ante Dios y a la Patria desempeñar
con fidelidad y patriotismo el cargo de Presidente de la República del Paraguay, y observar y
hacer observar la Constitución y las leyes. Si así no lo hiciere, Dios y la Patria me lo
demanden". Si el día señalado, el Congreso no lograse formar quórum para reunirse, la
ceremonia se cumplirá de inmediato ante la Corte Suprema de Justicia.
Art. 177. El despacho oficial del Presidente de la República estará en el Palacio de López, y el
Tesoro Nacional le costeara una residencia en consonancia con el decoro de su investidura.
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Tendrá derecho a un sueldo, inalterable durante el periodo de sus funciones, y mientras dure
en ellas no podrá ejercer empleo distinto, ni dedicarse a su profesión, comercio o industria, ni
recibir ningún otro emolumento de la República.
Art. 178. El Presidente de la República solo podrá ausentarse del país por motivos oficiales
fundados en el mejor desempeño de sus funciones, en cuyo caso encargara el despacho de la
Presidencia de la República a uno de los Ministros de su Gabinete. De estas determinaciones
dará conocimiento a los demás Poderes. Una ley especial establecerá las funciones del
Ministro encargado del despacho de la Presidencia de la República.
Art. 179. En caso de renuncia, inhabilidad o muerte del Presidente de la República, el
Ministro del Interior o, a falta de este, cualquiera de los otros Ministros del Poder Ejecutivo,
comunicara inmediatamente el hecho al Presidente de la Cámara de Senadores, al de la
Cámara de Diputados y al del Consejo de Estado, y convocara a reunión de la Asamblea
Nacional bajo la presidencia del primero para dentro de las veinte y cuatro horas, con objeto
de designar la persona que ejercerá provisoriamente la Presidencia de la República.

Si la inhabilidad solo fuere temporal la designación recaerá en uno de los Ministros; pero si
fuere definitiva, así como en caso de renuncia o muerte, podrá ser designado cualquier
ciudadano que reúna las condiciones establecidas para el cargo en esta Constitución.
El Presidente provisional excepto en caso de la inhabilidad temporal y siempre que hayan
transcurrido más de dos años desde la iniciación del periodo Constitucional en curso, seguirá
en el cargo hasta la terminación del mismo. De no haber transcurrido dos años desde su
iniciación, el Presidente provisional de la República convocara a elecciones para dentro de los
tres meses, y el ciudadano electo asumirá inmediatamente la Presidencia de la República,
hasta completar el periodo Constitucional.
2. ATRIBUCIONES
Art. 180. El Presidente de la República tiene las siguientes atribuciones:
1. Es Jefe Supremo del Estado, y tiene a su cargo la administración general del país;
2. Participa en la formación de las leyes, con arreglo a esta Constitución;
3. Promulga las leyes sancionadas por el Congreso, y dicta las instrucciones y reglamentos para
su ejecución; (*) ver enmienda No. 1.
4. Prepara y presenta a la consideración de las Cámaras del Congreso el proyecto anual de
Presupuesto General de la Nación;
5. Con arreglo al Presupuesto General de la Nación y a las leyes, hace recaudar las rentas de la
República, decreta las inversiones y rinde cuenta de ellas;
6. Tiene a su cargo el manejo de las relaciones exteriores de la República. Con autorización del
Congreso, declara la guerra y restablece la paz. Negocia y firma tratados de amistad, de
comercio, de navegación, de alianza, de límites y de neutralidad, con cordatos y otros
acuerdos internacionales, que deberá someterlos a la aprobación del Poder Legislativo. Recibe
a los Jefes de las Misiones Diplomáticas de los países extranjeros, y admite a sus Cónsules.
Con acuerdo del Senado, designa a los Embajadores y Ministros Plenipotenciarios del
Servicio Exterior de la República;
7. Por si solo, nombra y remueve a los Ministros del Poder Ejecutivo, a los Consejeros de Estado
y a los funcionarios de la Administración Pública, cuya designación y permanencia en los
cargos no estén reglados de otra manera por esta Constitución o la l e;
8. Con acuerdo de la Cámara de Senadores, nombra a los miembros de la Corte Suprema de
Justicia; con dictamen del Consejo de Estado y acuerdo de la Cámara de Senadores, al Fiscal
General del Estado; y con acuerdo de la Corte, a los miembros de los Tribuna ales, a los
Jueces y a los demás magistrados del Poder Judicial;
9. Con informe de la Corte Suprema de Justicia y de acuerdo con la ley, conmuta penas y
concede indultos;
283
10. Inaugura anualmente el periodo legislativo, en cuyo acto da cuenta al Congreso de las
gestiones realizadas por el Gobierno, y recomienda las medidas que juzgue necesarias y
convenientes. Prorroga las sesiones ordinarias de las Cámaras o las convoca a extraordinarias.
11. Es Comandante en Jefe de las Fuerzas Armadas de la Nación, pero podrá delegar en un
Oficial General el mando efectivo de las mismas. Dicta los reglamentos militares de acuerdo
con la ley y provee por si los grados en todas las armas hasta el de Tienen te Coronel o su
equivalente, y con acuerdo del Senado, los grados superiores. Según las necesidades de la
República, dispone de las Fuerzas Armadas, las organiza y las distribuye; y
12. Las demás atribuciones que le señalen esta Constitución y las leyes, para la mejor
administración general del país.
Art. 181. En los casos previstos en el artículo 79 de esta Constitución, el Poder Ejecutivo
podrá decretar el estado de sitio, debiendo expresar los motivos en que se funda, las garantías
que se suspenden o restringen y si rige para todo o parte del territorio nacional, y adoptar las
medidas autorizadas en el mencionado artículo. Del Decreto respectivo dará cuenta al
Congreso dentro de los cinco días siguientes al de su publicación.
Art. 182. El Poder Ejecutivo podrá decretar la disolución del Congreso por hechos graves que
le sean inimputables y que pongan en peligro el equilibrio de los Poderes del Estado, o de otro
modo afecten la vigencia normal de esta Constitución o el libre desenvolvimiento de las
instituciones creadas por ella. En el mismo Decreto en que disponga la disolución del
Congreso, el Poder Ejecutivo llamara a elecciones de Senadores y Diputados, que
completaran el periodo Constitucional, salvo que falte un año o menos para la terminación de
dicho periodo. Estas elecciones se realizaran dentro de los tres meses.
Art. 183. Durante el receso del Congreso o hallándose este por cualquier causa desintegrado,
el Poder Ejecutivo podrá dictar Decretos con fuerza de ley, con dictamen del Consejo de
Estado y con la obligación de someterlos a la consideración de las Cámaras, dentro de los
primeros sesenta días del siguiente periodo ordinario de sesiones.
3. DE LOS MINISTROS DEL PODER EJECUTIVO
Art. 184. El despacho de los negocios de la República estará a cargo de Ministros del Poder
Ejecutivo, quienes refrendaran los actos del Presidente. La ley determinara el numero y las
funciones de los Ministros quienes en ningún caso podrán ser menos de cinco.
Art. 185. Para ocupar el cargo de Ministro se requiere ser de nacionalidad paraguaya natural,
haber cumplido treinta años de edad y gozar de notoria reputación de honorabilidad y
versación en los negocios públicos.
Art. 186. Cada Ministro es responsable de los actos que legaliza, y, solidariamente, de los que
acuerda con sus colegas. Los Ministros presentaran al Presidente de la República una
memoria anual de sus gestiones. Gozaran por sus servicios de un sueldo establecido por la ley,
y, mientras duren en sus funciones, tendrán las mismas incompatibilidades que el Presidente
de la República.
Art. 187. Los Ministros, a invitación de cualquiera de las Cámaras, podrán concurrir a sus
sesiones y tomar parte en los debates sin derecho a voto, cuando sean tratados asuntos que se
relacionan con sus respectivas funciones.
4. DEL CONSEJO DE ESTADO
Art. 188. Se instituye un Consejo de Estado para dictaminar sobre los asuntos sometidos a su
consideración por el Poder Ejecutivo, conforme a las disposiciones de esta Constitución.
Art. 189. Integraran el Consejo de Estado:
1. Los Ministros del Poder Ejecutivo;
2. El Arzobispo de Asunción;
3. El Rector de la Universidad Nacional de Asunción;
4. El Presidente del Banco Central del Paraguay;

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5. Tres Miembros de las Fuerzas Armadas con el grado de Coronel, o su equivalente, por lo
menos, en situación de retiro, de los cuales uno pertenecerá al Ejercito, otro a la Armada y el
tercero a la Aeronáutica;
6. Dos Miembros por las actividades agropecuarias, uno por la agricultura y otro por la
ganadería;
7. Un Miembro por las industrias transformadoras;
8. Un Miembro por el Comercio; y
9. Un miembro por los trabajadores.
Los Miembros citados en los numerales 6, 7, 8 y 9 serán elegidos de ternas que las
organizaciones gremiales respectivas elevaran a consideración del Presidente de la República.
Los miembros del Consejo de Estado serán designados por Decreto del Poder Ejecutivo.
Art. 190. Serán atribuciones del Consejo de Estado:
10. Dictaminar sobre los proyectos de Decreto con fuerza de ley;
11. Dictaminar sobre asuntos de política internacional y de orden financiero o económico;
12. Dictaminar sobre los méritos del candidato a ser propuesto por el Poder Ejecutivo a la Cámara
de Senadores, para ocupar el cargo de Fiscal General del Estado; y
13. Las demás que le atribuye esta Constitución.
Art. 191. Para ser Consejero de Estado se exigirán los mismos requisitos que para ser
Ministro del Poder Ejecutivo.
Art. 192. El Consejo de Estado dictara su propio reglamento, y designara sus autoridades. Sus
miembros gozaran de las mismas inmunidades que esta Constitución confiere a los miembros
del Congreso. El Presupuesto General de la Nación fijara una dieta para los Consejeros de
Estado que no perciban otra retribución oficial.
CAPÍTULO IX DEL PODER JUDICIAL
COMPOSICIONES Y ATRIBUCIONES
Art. 193. El Poder Judicial de la República será ejercido por una Corte Suprema de Justicia
compuesta de no menos de cinco miembros, y por los Tribunales y Juzgados que establezca la
ley.
Art. 194. Para ser miembro de la Corte Suprema de Justicia se requiere nacionalidad
paraguaya natural, haber cumplido treinta y cinco años de edad, poseer título universitario de
Doctor en Derecho, tener reconocida experiencia en materia jurídica, y gozar de notoria
reputación de honorabilidad. Los requisitos para desempeñar las demás magistraturas serán
establecidos por la ley.
Art. 195. El Poder Ejecutivo designara a los miembros de la Corte Suprema de Justicia y de
los Tribunales, a los Jueces y demás magistrados del Poder Judicial, por el procedimiento
establecido en esta Constitución.
Art. 196. Los miembros de la Corte Suprema de Justicia y de los Tribunales, los Jueces y
demás magistrados serán designados por periodos de cinco años, coincidentes con el
presidencial, y podrán ser reelectos. Solo serán removidos por la comisión de delitos o mal
desempeño de sus funciones. La remoción de los miembros de la Corte Suprema de Justicia se
hará conforme a lo que dispone esta Constitución. El enjuiciamiento de los demás
magistrados se hará ante la Corte Suprema de Justicia, de acuerdo con la ley.
Art. 197. Los miembros de la Corte Suprema de Justicia prestaran, ante el Presidente de la
República, juramento de administrar recta justicia y cumplir con fidelidad sus obligaciones.
Los jueces y los demás Magistrados lo prestaran ante la Corte Suprema de Justicia.
Art. 198. La Corte Suprema de Justicia ejerce la superintendencia de todos los organismos del
Poder Judicial, con potestad disciplinaria. Entiende en instancia única en las contiendas de
jurisdicción y de competencia, conforme a la ley.
Art. 199. Queda garantizada la independencia del Poder Judicial. Solo él puede conocer y
decidir en los actos de carácter contencioso. En ningún caso el Congreso, ni el Presidente de
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la República, ni los Ministros, ni otros funcionarios, podrán arrogarse atribuciones judiciales
que no estén expresamente establecidas en esta Constitución, ni revivir procesos fenecidos, ni
paralizar los existentes, ni intervenir en modo alguno en los juicios. Actos de esta naturaleza
llevan consigo una nulidad insanable.
Art. 200. La Corte Suprema de Justicia tendrá facultad para declarar la inconstitucionalidad de
las leyes y la inaplicabilidad de las disposiciones contrarias a esta Constitución, en cada caso
concreto y en fallo que solo tendrá efecto con relación a ese caso. El procedimiento podrá
iniciarse por acción ante la Corte Suprema de Justicia, y por excepción en cualquier instancia,
y se elevaran sus antecedentes a dicha Corte. El incidente no suspenderá el juicio, que
proseguirá hasta el estado de sentencia.
Art. 201. Ningún Magistrado judicial podrá ser detenido sino en caso de ser sorprendido en
flagrante delito. Cuando así ocurriere, la autoridad interviniente lo pondrá bajo custodia en su
residencia, comunicara de inmediato el hecho a la Corte Suprema de Justicia, pondrá al
detenido a disposición del Juez y le remitirá los antecedentes del caso.
Art. 202. Los que atentaren contra la independencia del Poder Judicial, además de hacerse
posibles de las sanciones que fije la ley penal, quedaran inhabilitados para ejercer función
pública por cinco años.
Art. 203. El Tribunal de Cuentas será dividido en dos salas. La primera tendrá competencia
exclusiva en los juicios contencioso administrativos; la segunda, en el control de las cuentas
de inversiones del Presupuesto General de la Nación, sobre cuya ejecución informara
anualmente al Poder Ejecutivo y a la Cámara de Diputados. La ley podrá ampliar sus
atribuciones.
Art. 204. Toda sentencia judicial estará fundada en esta Constitución y en la ley. La defensa
en juicio es libre. La ley establecerá el procedimiento para las recusaciones.
Art. 205. La ley determinara la organización y funcionamiento del Poder Judicial y
establecerá las magistraturas auxiliares convenientes para la mejor administración de la
justicia, y la defensa de los derechos e intereses de los incapaces, de los ausentes y de quienes
no tuvieren medios económicos suficientes.
Art. 206. La Corte Suprema de Justicia dictara los reglamentos internos del Poder Judicial y,
de acuerdo con la ley, nombrara y removerá a todos los empleados del mismo. Presentara
anualmente al Poder Ejecutivo el proyecto de presupuesto de sueldos y gastos del Poder
Judicial y una memoria sobre el estado y las necesidades de la justicia nacional.
Art. 207. Los miembros del Poder Judicial no podrán ejercer otra función pública, profesión,
comercio, o industria, directa ni indirectamente, salvo la docencia, cuyo ejercicio será reglado
por la Corte Suprema de Justicia. Tampoco podrán participar en actividades políticas.
Art. 208. Los magistrados, funcionarios, y empleados del Poder Judicial gozaran de la
asignación establecida en el Presupuesto General de la Nación.
CAPÍTULO X MINISTERIO PUBLICO
Art. 209. El Ministerio Publico será ejercido por el Fiscal General del Estado, por Agentes
Fiscales y por Procuradores Fiscales, cuyas atribuciones respectivas serán reglamentadas por
la ley.
Art. 210. Para ser Fiscal General del Estado se requiere nacionalidad paraguaya natural, haber
cumplido treinta años de edad, poseer título de abogado, tener reconocida experiencia en
materia jurídica y gozar de notoria reputación de honorabilidad. Los requisitos para los
Agentes y Procuradores Fiscales serán establecidos en la ley.
Art. 211. El Poder Ejecutivo designara al Fiscal General del Estado por el procedimiento
establecido en esta Constitución. Los Agentes y Procuradores Fiscales serán nombrados
directamente por el Poder Ejecutivo.

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Art. 212. El Fiscal General del Estado y los Agentes y Procuradores Fiscales duraran cinco
años en sus funciones, y podrán ser reelectos. Sus periodos coincidirán con el presidencial, y
no serán removidos sino por la comisión de delito o mal desempeño de sus funciones.
La remoción del Fiscal General del Estado y de los Agentes y Procuradores Fiscales se harán
por enjuiciamiento ante la Corte Suprema de Justicia y por el procedimiento que determine la
ley.
Art. 213. El Fiscal General del Estado prestara juramento ante el Presidente de la República, y
los Agentes y Procuradores Fiscales ante la Corte Suprema de Justicia.
Art. 214. Son atribuciones del Ministerio Publico:
1. Velar por el respeto de los derechos y garantías Constituciones;
2. De acuerdo con instrucciones del Poder Ejecutivo, ejercer, desde la primera instancia hasta su
terminación, la representación del Estado, en las causas en que fuese demandante o
demandado;
3. Intervenir en todo asunto en que haya interés fiscal comprometido, a menos que la
representación de ese interés estuviese confiada a otro funcionario;
4. Ejercer la acción penal en los casos en que, para intentar la o proseguirla, no fuese necesaria
instancia de parte sin perjuicio de que el Juez o Tribunal proceda de oficio cuando lo
determine la ley,
5. Intentar las acciones a que hubiere lugar para hacer efectiva la responsabilidad civil, penal,
administrativa o disciplinaria en que hubieren incurrido los funcionarios públicos en el
ejercicio de sus funciones; y
6. Las demás que le atribuyan las leyes.
Art. 215. Las atribuciones del Ministerio Publico no obstan al ejercicio de los derechos y
acciones que correspondan a los particulares o a otros funcionarios, de acuerdo con esta
Constitución y las leyes.
Art. 216. Las autoridades de la República prestaran al Ministerio Publico la colaboración que
este requiera para el mejor cumplimiento de sus funciones.
Art. 217. El Fiscal General del Estado presentara anualmente al Poder Ejecutivo un informe
de su actuación.
Art. 218. El Fiscal General del Estado y los Agentes y Procuradores Fiscales tendrán las
mismas inmunidades e incompatibilidades establecidas en esta Constitución para los
miembros del Poder Judicial, y gozaran de una asignación fijada en el Presupuesto General de
la Nación.
CAPÍTULO XI DE LA REFORMA DE LA CONSTITUCIÓN
Art. 219. La reforma total de esta Constitución no podrá hacerse hasta pasados diez años
desde que fuera promulgada. Sin embargo, después de cinco años de su promulgación, se le
podrá introducir las enmiendas aconsejadas por la experiencia. Las reformas y las enmiendas
Constitucionales son de competencia exclusiva de la Convención Nacional Constituyente.
Art. 220. La necesidad de la reforma total o de la enmienda de la Constitución corresponde
ser declarada por la Asamblea Nacional, formada por los miembros de las dos Cámaras del
Congreso y los del Consejo de Estado, bajo la presidencia del Presidente del Senado. La
declaración, para surtir sus efectos, no requerirá ser promulgada por el Poder Ejecutivo, al
que, sin embargo, se dará conocimiento de ella. Para declararla será indispensable el voto
favorable de los dos tercios del número total de miembros de la Asamblea.
Art. 221. La Asamblea Nacional será convocada por su presidente para pronunciarse sobre la
necesidad de la reforma o enmienda Constitucional, a iniciativa del Poder Ejecutivo o de
cualquiera de las Cámaras del Congreso, resuelta por mayoría absoluta de votos.
Art. 222. Recibida la declaración de la Asamblea, el Poder Ejecutivo convocara a elección de
Convencionales para dentro de los seis meses siguientes. La Convención Nacional
Constituyente se reunirá dentro de los treinta días de su elección.
287
Art. 223. El número de miembros de la Convención Nacional Constituyente será determinado
por una ley especial, pero no será menor que el total de miembros titulares de ambas Cámaras
del Congreso.
Art. 224. Los Convencionales serán elegidos directamente por el pueblo, conforme a las
disposiciones pertinentes de la ley electoral.
Art. 225. Para ser Convencional se requiere nacionalidad paraguaya natural y haber cumplido
veinticinco años de edad. Las incompatibilidades serán establecidas por la ley.
Art. 226. La Convención Nacional Constituyente solo podrá considerar los puntos señalados
por la Asamblea Nacional, si no hubiera sido declarada la necesidad de la reforma total.
Art. 227. La Convención Nacional Constituyente no se arrogara las atribuciones de los
Poderes del Estado, ni podrá substituir a quienes se hallaren en ejercicio de ellos.
Art. 228. Los Convencionales tendrán las mismas inmunidades establecidas para los
miembros del Congreso.
Art. 229. La Convención Nacional Constituyente elegirá sus autoridades, dictara su propio
reglamento y nombrar a sus empleados. Los Convencionales gozaran de una dieta que será
fijada en el Presupuesto General de la Nación o en ley especial.
Art. 230. El acta final que recoja el texto de las reformas o las enmiendas aprobadas, será
firmada en todas sus hojas por el Presidente y los secretarios de la Convención Nacional
Constituyente. La firmaran también los Convencionales que deseen hacerlo de modo que se
forme un solo documento cuya custodia será confiada al Poder Legislativo.
Art. 231. Las reformas o las enmiendas Constitucionales sancionadas por la Convención
Nacional Constituyente serán publicadas en el Registro Oficial.
CAPÍTULO ADICIONAL DISPOSICIONES FINALES Y TRANSITORIAS
Art. 232. Esta Constitución entrara en vigencia desde la fecha de su promulgación. El Poder
Ejecutivo promulgara en el plazo establecido en ella para las leyes, y dispondrá su publicación
inmediata en edición especial de cinco mil ejemplares, como mínimo.
Art. 233. El Presidente de la República, los miembros de la Cámara de Representantes y los
del Poder Judicial, elegidos o nombrados de acuerdo con la Constitución del 10 de julio de
1940, y todos los demás funcionarios que desempeñan cargos jurados, prestaran el juramento
que les exige esta Constitución, tan pronto como ella sea promulgada. En primer término, lo
hará el Presidente de la República ante la Convención Nacional Constituyente.
Art. 234. La Cámara de Representantes continuara en funciones hasta el 31 de marzo de 1968,
de acuerdo con lo preceptuado en la Constitución del 10 de julio de 1940,
Art. 235. El Poder Judicial seguirá integrado como lo preceptúa la Constitución del 10 de
julio de 1940, hasta la expiración del periodo en curso.
Art. 236. De acuerdo con el artículo 174 de esta Constitución, el actual periodo presidencial
terminara el 15 de agosto de 1968. Para los periodos presidenciales que se sucedan a partir de
esa fecha, y a los efectos de la elegibilidad y reelegibilidad del Presidente de la República,
solo se tomaran en cuenta los que se hayan cumplido desde entonces.
Art. 237. Para el periodo legislativo a iniciarse el 1o. de abril de 1968, las Cámaras del
Congreso se compondrán del número mínimo de Senadores y Diputados titulares y suplentes
dispuesto por esta Constitución.
Art. 238. La firma y custodia del acta final de la Convención Nacional Constituyente, que
contenga el texto completo de esta Constitución, se hará conforme a lo dispuesto en el Art.
230 de la misma.
Art. 239. La Constitución del 10 de julio de 1940 quedara derogada desde la promulgación de
la presente Constitución, salvo para los casos excepcionales establecidos en los artículos 234,
235 y 230, que seguirán vigentes al solo efecto del cumplimiento del periodo Constitucional
de los Poderes del Estado y hasta las fechas que en ellos se señalan.

288
Dada en el recinto de deliberaciones de la Convención Nacional Constituyente, en la ciudad
de Asunción, Capital de la República, a los veinticinco días del mes de agosto del año de un
mil novecientos sesenta y siete, a los ciento cincuenta y seis años de la independencia, y en el
Centenario de la Epopeya Nacional.

TOMAS ROMERO PEREIRA


Presidente
LUIS MARIA ARGANHA
Secretario
CARLOS A. SALDIVAR
Secretario
Asunción, agosto 25 de 1967
Promulgase esta Constitución para la República del Paraguay, publíquese y dese al Registro
Oficial.

Firmado por: Alfredo Stroessner (Presidente de la República del Paraguay), Juan R. Chaves
(Ministro del Interior)

ENMIENDA No. 1
Los Representantes de la Nación Paraguaya, reunidos en Convención Nacional Constituyente,
de conformidad con la Resolución No. 4 de la Asamblea Nacional fechada el 16 de julio de
1976,
SANCIONAN:
La Enmienda del Art. 173 de la Constitución Nacional, en los siguientes términos:
Art. 173. "El Presidente de la República será elegido en comicios generales directos que se
realizaran por lo menos seis meses antes de expirar el periodo Constitucional que estuviere en
curso, y podrá ser reelecto". Dada en el recinto de deliberaciones de la Convención Nacional
Constituyente, en la ciudad de Asunción, Capital de la República del Paraguay, a los diez días
del mes de marzo del año un mil novecientos setenta y siete.
Tomas Romero Pereira (Presidente), Ruben Stanley (Secretario)
Asuncion, 25 de Marzo de 1977.

De conformidad al Art. 231 de la Constitución Nacional, publíquese e insértese en el Registro


Oficial.
Alfredo Stroessner (General de Ejército-Presidente de la República del Paraguay), Sabino
Montanaro (Ministro del Interior)

289
ANEXO VI

CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA DE PARAGUAY (1992)


Constituição da República do Paraguai (1992)

PREÁMBULO
El pueblo paraguayo, por medio de sus legítimos representantes reunidos en Convención
Nacional Constituyente, invocando a Dios, reconociendo la dignidad humana con el fin de
asegurar la libertad, la igualdad y la justicia, reafirmando los principios de la democracia
republicana, representativa, participativa y pluralista, ratificando la soberanía e independencia
nacionales, e integrado a la comunidad internacional, SANCIONA Y PROMULGA esta
Constitución.
Asunción, 20 de junio de 1992
PARTE I. DE LAS DECLARACIONES FUNDAMENTALES, DE LOS DERECHOS,
DE LOS DEBERES Y DE LAS GARANTÍAS
TÍTULO I. DE LAS DECLARACIONES FUNDAMENTALES
Art. 1. DE LA FORMA DEL ESTADO Y DE GOBIERNO
La República del Paraguay es para siempre libre e independiente. Se constituye en Estado
social de derecho, unitario, indivisible, y descentralizado en la forma que se establecen esta
Constitución y las leyes.
La República del Paraguay adopta para su gobierno la democracia representativa,
participativa y pluralista, fundada en el reconocimiento de la dignidad humana.
Art. 2. DE LA SOBERANÍA
En la República del Paraguay la soberanía reside en el pueblo, que la ejerce, conforme con lo
dispuesto en esta Constitución.
Art. 3. DEL PODER PÚBLICO
El pueblo ejerce el Poder Público por medio del sufragio. El gobierno es ejercido por los
poderes legislativo, Ejecutivo y Judicial en un sistema de separación, equilibrio, coordinación
y recíproco control. Ninguno de estos poderes puede atribuirse, ni otorgar a otro ni a persona
alguna, individual o colectiva, facultades extraordinarias o la suma del Poder Público.
La dictadura está fuera de ley.
TÍTULO II DE LOS DERECHOS, DE LOS DEBERES Y DE LAS GARANTÍAS
CAPÍTULO I. DE LA VIDA Y DEL AMBIENTE
SECCIÓN I. DE LA VIDA
Art. 4. DEL DERECHO A LA VIDA
El derecho a la vida es inherente a la persona humana. Se garantiza su protección, en general,
desde la concepción. Queda abolida la pena de muerte. Toda persona será protegida por el
Estado en su integridad física y psíquica, así como en su honor y en su reputación. La ley
reglamentará la liberta de las personas para disponer de su propio cuerpo, sólo con fines
científicos o médicos.
Art. 5. DE LA TORTURA Y DE OTROS DELITOS
Nadie será sometido a torturas ni a penas o tratos crueles, inhumanos o degradantes.
El genocidio y la tortura, así como la desaparición forzosa de personas, el secuestro y el
homicidio por razones políticas son imprescriptibles.
Art. 6. DE LA CALIDAD DE VIDA
La calidad de vida será promovida por el Estado mediante planes y políticas que reconozcan
factores condicionantes, tales como la extrema pobreza y los impedimentos de la discapacidad
o de la edad.

290
El Estado también fomentará la investigación sobre los factores de población y sus vínculos
con el desarrollo económico social, con la preservación del ambiente y con la calidad de vida
de los habitantes.
SECCIÓN II DEL AMBIENTE
Art. 7. DEL DERECHO A UN AMBIENTE SALUDABLE
Toda persona tiene derecho a habitar en un ambiente saludable y ecológicamente equilibrado.
Constituyen objetivos prioritarios de interés social la preservación, la conservación, la
recomposición y el mejoramiento del ambiente, así como su conciliación con el desarrollo
humano integral. Estos propósitos orientarán la legislación y la política gubernamental
pertinente.
Art. 8. DE LA PROTECCIÓN AMBIENTAL
Las actividades susceptibles de producir alteración ambiental serán reguladas por la ley.
Asimismo, ésta podrá restringir o prohibir aquellas que califique peligrosas.
Se prohíbe la fabricación, el montaje, la importación, la comercialización, la posesión o el uso
de armas nucleares, químicas y biológicas, así como la introducción al país de residuos
tóxicos. La ley podrá extender ésta prohibición a otros elementos peligrosos; asimismo,
regulará el tráfico de recursos genéticos y de su tecnología, precautelando los intereses
nacionales.
El delito ecológico será definido y sancionado por la ley. Todo daño al ambiente importará la
obligación de recomponer e indemnizar.
CAPÍTULO II DE LA LIBERTAD
Art. 9. DE LA LIBERTAD Y DE LA SEGURIDAD DE LAS PERSONAS
Toda persona tiene el derecho a ser protegida en su libertad y en su seguridad.
Nadie está obligado a hacer lo que la ley no ordena ni privado de lo que ella no prohibe.
Art. 10. DE LA PROSCRIPCIÓN DE LA ESCLAVITUD Y OTRAS SERVIDUMBRES
Están proscritas la esclavitud, las servidumbres personales y la trata de personas. La ley podrá
establecer cargas sociales en favor del Estado.
Art. 11. DE LA PRIVACIÓN DE LA LIBERTAD
Nadie será privado de su libertad física o procesado, sino mediando las causas y en las
condiciones fijadas por esta Constitución y las leyes.
Art. 12. DE LA DETENCIÓN Y DEL ARRESTO
Nadie será detenido ni arrestado sin orden escrita de autoridad competente, salvo caso de ser
sorprendido en flagrante comisión de delito que mereciese pena corporal. Toda persona
detenida tiene derecho a:
1. que se le informe, en el momento del hecho, de la causa que lo motiva, de su derecho a
guardar silencio y a ser asistida por un defensor de su confianza. En el acto de la detención, la
autoridad está obligada a exhibir la orden escrita que la dispuso;
2. que la detención sea inmediatamente comunicada a sus familiares o personas que el
detenido indique;
3. que se le mantenga en libre comunicación, salvo que, excepcionalmente, se halle
establecida en su incomunicación por mandato judicial competente, la incomunicación no
regirá respecto a su defensor, y en ningún caso podrá exceder del término que prescribe la ley;
4. que disponga de un intérprete, si fuere necesario, y a
5. que sea puesta, en un plazo no mayor de veinticuatro horas, a disposición del
magistrado judicial competente, para que éste disponga cuanto corresponda en derecho.
Art. 13. DE LA NO PRIVACIÓN DE LIBERTAD POR DEUDAS
No se admite la privación de la libertad por deuda, salvo mandato de autoridad judicial
competente dictado por incumplimiento de deberes alimentarios o como sustitución de multas
o fianzas judiciales.
Art. 14. DE LA IRRETROACTIVIDAD DE LA LEY
291
Ninguna ley tendrá efecto retroactivo, salvo que sea más favorable al encausado o al
condenado.
Art. 15. DE LA PROHIBICIÓN DE HACERSE JUSTICIA POR SI MISMO
Nadie podrá hacerse justicia por sí mismo ni reclamar sus derecho con violencia. Pero, se
garantiza la legítima defensa.
Art. 16. DE LA DEFENSA EN JUICIO
La defensa en juicio de las personas y de sus derechos es inviolable. Toda persona tiene
derecho a ser juzgada por tribunales y jueces competentes, independientes e imparciales.
Art. 17. DE LOS DERECHOS PROCESALES
En el proceso penal, o en cualquier otro del cual pudiera derivarse pena o sanción, toda
persona tiene derecho a:
1. que sea presumida su inocencia;
2. que se le juzgue en juicio público, salvo los casos contemplados por el magistrado
para salvaguardar otros derechos;
3. que no se le condene sin juicio previo fundado en una ley anterior al hecho del
proceso, ni que se le juzgue por tribunales especiales;
4. que no se le juzgue más de una vez por el mismo hecho. No se pueden reabrir procesos
fenecidos, salvo la revisión favorable de sentencias penales establecidas en los casos previstos
por la ley procesal;
5. que se defienda por sí misma o sea asistida por defensores de su elección;
6. que el Estado le provea de un defensor gratuito, en caso de no disponer de medios
económicos para solventarlo;
7. la comunicación previa y detallada de la imputación, así como a disponer de copias,
medios y plazos indispensables para la preparación de su defensa en libre comunicación;
8. que ofrezca, practique, controle e impugne pruebas;
9. que no se le opongan pruebas obtenidas o actuaciones producidas en violación de las
normas jurídicas;
10. el acceso, por sí o por intermedio de su defensor, a las actuaciones procesales, las
cuales en ningún caso podrán ser secretas para ellos. El sumario no se prolongará más allá del
plazo establecido por la ley, y a
11. la indemnización por el Estado en caso de condena por error judicial.
Art. 18. DE LAS RESTRICCIONES DE LA DECLARACIÓN
Nadie puede ser obligado a declarar contra sí mismo, contra su cónyuge o contra la persona
con quien está unida ni contra sus parientes dentro del cuarto grado de consanguinidad o
segundo de afinidad inclusive.
Los actos ilícitos o la deshonra de los imputados no afectan a sus parientes o allegados.
Art. 19. DE LA PRISIÓN PREVENTIVA
La prisión preventiva solo será dictada cuando fuese indispensable en las diligencias del
juicio. En ningún caso la misma se prolongará por un tiempo mayor al de la pena mínima
establecida para igual delito, de acuerdo con la calificación del hecho efectuada en el auto
respectivo.
Art. 20. DEL OBJETO DE LAS PENAS
Las penas privativas de libertad tendrán por objeto la readaptación de los condenados y la
protección de la sociedad.
Quedan proscritas la pena de confiscación de bienes y la de destierro.
Art. 21. DE LA RECLUSIÓN DE LAS PERSONAS
Las personas privadas de su libertad serán recluidas en establecimientos adecuados, evitando
la promiscuidad de sexos. Los menores no serán recluidos con personas mayores de edad.
La reclusión de personas detenidas se hará en lugares diferentes a los destinados para los que
purguen condena.
292
Art. 22. DE LA PUBLICACIÓN SOBRE PROCESOS
La publicación sobre procesos judiciales en curso debe realizarse sin prejuzgamiento.
El procesado no deberá ser presentado como culpable antes de la sentencia ejecutoriada.
Art. 23. DE LA PRUEBA DE LA VERDAD
La prueba de la verdad y de la notoriedad no serán admisibles en los procesos que se
promoviesen con motivo de publicaciones de cualquier carácter que afecten al honor, a la
reputación o a la dignidad de las personas, y que se refieran a delitos de acción penal privada
o a conductas privadas que esta Constitución o la ley declaran exentas de la autoridad pública.
Dichas pruebas serán admitidas cuando el proceso fuera promovido por la publicación de
censuras a la conducta pública de los funcionarios del Estado, y en los demás casos
establecidos expresamente por la ley.
Art. 24. DE LA LIBERTAD RELIGIOSA Y LA IDEOLÓGICA
Quedan reconocidas la libertad religiosa, la de culto y la ideológica, sin más limitaciones que
las establecidas en esta Constitución y en la ley. Ninguna confesión tendrá carácter oficial.
Las relaciones del Estado con la iglesia católica se basan en la independencia, cooperación y
autonomía.
Se garantizan la independencia y la autonomía de las iglesias y confesiones religiosas, sin más
limitaciones que las impuestas en esta Constitución y las leyes.
Nadie puede ser molestado, indagado u obligado a declarar por causa de sus creencias o de su
ideología.
Art. 25. DE LA EXPRESIÓN DE LA PERSONALIDAD
Toda persona tiene el derecho a la libre expresión de su personalidad, a la creatividad y a la
formación de su propia identidad e imagen.
Se garantiza el pluralismo ideológico.
Art. 26. DE LA LIBERTAD DE EXPRESIÓN Y DE PRENSA
Se garantizan la libre expresión y la libertad de prensa, así como la difusión del pensamiento y
de la opinión, sin censura alguna, sin más limitaciones que las dispuestas en esta
Constitución; en consecuencia, no se dictará ninguna ley que las imposibilite o las restrinja.
No habrá delitos de prensa, sino delitos comunes cometidos por medio de la prensa.
Toda persona tiene derecho a generar, procesar o difundir información, como igualmente a la
utilización de cualquier instrumento lícito y apto para tales fines.
Art. 27. DEL EMPLEO DE LOS MEDIOS MASIVOS DE COMUNICACIÓN SOCIAL
El empleo de los medios de comunicación es de interés público; en consecuencia, no se los
podrá clausurar ni suspender su funcionamiento.
No se admitirá la prensa carente de dirección responsable.
Se prohíbe toda práctica discriminatoria en la provisión de insumos para la prensa, así como
interferir las frecuencias radioeléctricas y obstruir, de la manera que fuese, la libre
circulación, la distribución y la venta de periódicos, libros, revistas o demás publicaciones con
dirección o autoría responsable.
Se garantiza el pluralismo informativo.
La ley regulará la publicidad a los efectos de la mejor protección de los derechos del niño, del
joven, del analfabeto, del consumidor y de la mujer.
Art. 28. DEL DERECHO A INFORMARSE
Se reconoce el derecho de las personas a recibir información veraz, responsable y ecuánime.
Las fuentes públicas de información son libres para todos. La ley regulará las modalidades,
plazos y sanciones correspondientes a las mismas, a fin de que este derecho sea efectivo.
Toda persona afectada por la difusión de una información falsa, distorsionada o ambigua tiene
derecho a exigir su rectificación o su aclaración por el mismo medio y en las mismas
condiciones que haya sido divulgada, sin perjuicio de los demás derechos compensatorios.
Art. 29. DE LA LIBERTAD DE EJERCICIO DEL PERIODISMO
293
El ejercicio del periodismo, en cualquiera de sus formas, es libre y no está sujeto a
autorización previa. Los periodistas de los medios masivos de comunicación social en
cumplimiento de sus funciones, no serán obligados a actuar contra los dictados de su
conciencia ni a revelar sus fuentes de información.
El periodista columnista tiene derecho a publicar sus opiniones firmadas, sin censura, en el
medio en el cual trabaje. La dirección podrá dejar a salvo su responsabilidad haciendo constar
su disenso.
Se reconoce al periodista el derecho de autoría sobre el producto de su trabajo intelectual,
artístico o fotográfico, cualquiera sea su técnica, conforme con la ley.
Art. 30. DE LAS SEÑALES DE COMUNICACIÓN ELECTROMAGNÉTICA
La emisión y la propagación de las señales de comunicación electromagnética son del
dominio público del Estado, el cual, en ejercicio de la soberanía nacional, promoverá el pleno
empleo de las mismas según los derechos propios de la República y conforme con los
convenios internacionales ratificados sobre la materia.
La ley asegurará, en igualdad de oportunidades, el libre acceso al aprovechamiento del
espectro electromagnético, así como al de los instrumentos electrónicos de acumulación y
procesamiento de información pública, sin más límites que los impuestos por las regulaciones
internacionales y las normas técnicas. Las autoridades asegurarán que estos elementos no sean
utilizados para vulnerar la intimidad personal o familiar y los demás derechos establecidos en
esta Constitución.
Art. 31. DE LOS MEDIOS MASIVOS DE COMUNICACIÓN SOCIAL DEL ESTADO
Los medios de comunicación dependientes del Estado serán regulados por ley en su
organización y en su funcionamiento, debiendo garantizarse el acceso democrático y
pluralista a los mismos de todos los sectores sociales y políticos, en igualdad de
oportunidades.
Art. 32. DE LA LIBERTAD DE REUNIÓN Y DE MANIFESTACIÓN
Las personas tienen derecho a reunirse y a manifestarse pacíficamente, sin armas y con fines
lícitos, sin necesidad de permiso, así como el derecho a no ser obligadas a participar de tales
actos. La ley sólo podrá reglamentar su ejercicio en lugares de tránsito público, en horarios
determinados, preservando derechos de terceros y el orden público establecido en la ley.
Art. 33. DEL DERECHO A LA INTIMIDAD
La intimidad personal y familiar, así como el respeto a la vida privada, son inviolables. La
conducta de las personas, en tanto no afecte al orden público establecido en la ley o a los
derechos de terceros, está exenta de la autoridad pública.
Se garantizan el derecho a la protección de la intimidad, de la dignidad y de la imagen
privada de las personas.
Art. 34. DEL DERECHO A LA INVIOLABILIDAD DE LOS RECINTOS PRIVADOS
Todo recinto privado es inviolable. Sólo podrá ser allanado o clausurado por orden judicial y
con sujeción a la ley. Excepcionalmente podrá serlo, además, en caso de flagrante delito o
para impedir su inminente perpetración, o para evitar daños a la persona o a la propiedad.
Art. 35. DE LOS DOCUMENTOS IDENTIFICATORIOS
Los documentos identificatorios, licencias o constancias de las personas no podrán ser
incautados ni retenidos por las autoridades. Estas no podrán privarlas de ellos, salvo los casos
previstos en la ley.
Art. 36. DEL DERECHO A LA INVIOLABILIDAD DEL PATRIMONIO DOCUMENTAL
Y LA COMUNICACIÓN PRIVADA
El patrimonio documental de las personas es inviolable. Los registros, cualquiera sea su
técnica, los impresos, la correspondencia, los escritos, las comunicaciones telefónicas,
telegráficas o de cualquier otra especie, las colecciones o reproducciones, los testimonios y
los objetos de valor testimonial, así como sus respectivas copias, no podrán ser examinados,
294
reproducidos, interceptados o secuestrados sino por orden judicial para casos específicamente
previstos en la ley, y siempre que fuesen indispensables para el esclarecimiento de los asuntos
de competencia de las correspondientes autoridades. La ley determinará modalidades
especiales para el examen de la contabilidad comercial y de los registros legales obligatorios.
Las pruebas documentales obtenidas en violación o lo prescripto anteriormente carecen de
valor en juicio.
En todos los casos se guardará estricta reserva sobre aquello que no haga relación con lo
investigado.
Art. 37. DEL DERECHO A LA OBJECIÓN DE LA CONCIENCIA
Se reconoce la objeción de conciencia por razones éticas o religiosas para los casos en que
esta Constitución y la ley la admitan.
Art. 38. DEL DERECHO A LA DEFENSA DE LOS INTERESES DIFUSOS
Toda persona tiene derecho, individual o colectivamente, a reclamar a las autoridades
públicas medidas para la defensa del ambiente, de la integridad del hábitat, de la salubridad
pública, del acervo cultural nacional, de los intereses del consumidor y de otros que, por su
naturaleza jurídica, pertenezcan a la comunidad y hagan relación con la calidad de vida y con
el patrimonio colectivo.
Art. 39. DEL DERECHO A LA INDEMNIZACIÓN JUSTA Y ADECUADA
Toda persona tiene derecho a ser indemnizada justa y adecuadamente por los daños o
perjuicios de que fuere objeto por parte del Estado. La ley reglamentará este derecho.
Art. 40. DEL DERECHO A PETICIONAR A LAS AUTORIDADES
Toda persona, individual o colectivamente y sin requisitos especiales, tienen derecho a
peticionar a las autoridades, por escrito, quienes deberán responder dentro del plazo y según
las modalidades que la ley determine. Se reputará denegada toda petición que no obtuviese
respuesta en dicho plazo.
Art. 41. DEL DERECHO AL TRANSITO Y A LA RESIDENCIA
Todo paraguayo tiene derecho a residir en su Patria. Los habitantes pueden transitar
libremente por el territorio nacional, cambiar de domicilio o de residencia, ausentarse de la
República o volver a ella y, de acuerdo con la ley, incorporar sus bienes al país o sacarlos de
él. Las migraciones serán reglamentadas por la ley, con observancia de estos derechos.
El ingreso de los extranjeros sin radicación definitiva en el país será regulado por la ley,
considerando los convenios internacionales sobre la materia.
Los extranjeros con radicación definitiva en el país no serán obligados a abandonarlo sino en
virtud de sentencia judicial.
Art. 42. DE LA LIBERTAD DE ASOCIACIÓN
Toda persona es libre de asociarse o agremiarse con fines lícitos, así como nadie está obligado
a pertenecer a determinada asociación. La forma de colegiación profesional será reglamentada
por ley. Están prohibidas las asociaciones secretas y las de carácter paramilitar.
Art. 43. DEL DERECHO DE ASILO
El Paraguay reconoce el derecho de asilo territorial y diplomático a toda persona perseguida
por motivos o delitos políticos o por delitos comunes conexos, así como por sus opiniones o
por sus creencias. Las autoridades deberán otorgar de inmediato la documentación personal y
el correspondiente salvo conducto.
Ningún asilado político será trasladado compulsivamente al país cuyas autoridades lo
persigan.
Art. 44. DE LOS TRIBUTOS
Nadie estará obligado al pago de tributos ni a la prestación de servicios personales que no
hayan sido establecidos por la ley. No se exigirán fianzas excesivas ni se impondrán multas
desmedidas.
Art. 45. DE LOS DERECHOS Y GARANTÍAS NO ENUNCIADOS
295
La enunciación de los derechos y garantías contenidos en esta Constitución no debe
entenderse como negación de otros que, siendo inherentes a la personalidad humana, no
figuren expresamente en ella. La falta de ley reglamentaria no podrá ser invocada para negar
ni para menoscabar algún derecho o garantía.
CAPÍTULO III DE LA IGUALDAD
Art. 46. DE LA IGUALDAD DE LAS PERSONAS
Todos los habitantes de la República son iguales en dignidad y derechos. No se admiten
discriminaciones. El Estado removerá los obstáculos e impedirá los factores que las
mantengan o las propicien.
Las protecciones que se establezcan sobre desigualdades injustas no serán consideradas como
factores discriminatorios sino igualitarios.
Art. 47. DE LAS GARANTÍAS DE LA IGUALDAD
El Estado garantizará a todos los habitantes de la República:
1. la igualdad para el acceso a la justicia, a cuyo efecto allanará los obstáculos que la
impidiesen;
2. la igualdad ante las leyes;
3. la igualdad para el acceso a las funciones públicas no electivas, sin más requisitos que
la idoneidad, y
4. la igualdad de oportunidades en la participación de los beneficios de la naturaleza, de
los bienes materiales y de la cultura.
Art. 48. DE LA IGUALDAD DE DERECHOS DEL HOMBRE Y DE LA MUJER
El hombre y la mujer tienen iguales derechos civiles, políticos, sociales, económicos y
culturales. El Estado promoverá las condiciones y creará los mecanismos adecuados para que
la igualdad sea real y efectiva, allanando los obstáculos que impidan o dificulten su ejercicio y
facilitando la participación de la mujer en todos los ámbitos de la vida nacional.
CAPÍTULO IV DE LOS DERECHOS DE LA FAMILIA
Art. 49. DE LA PROTECCIÓN A LA FAMILIA
La familia es el fundamento de la sociedad. Se promoverá y se garantizará su protección
integral. Esta incluye a la unión estable del hombre y de la mujer, a los hijos y a la comunidad
que se constituya con cualquiera de sus progenitores y sus descendientes.
Art. 50. DEL DERECHO A CONSTITUIR FAMILIA
Toda persona tiene derecho a constituir familia, en cuya formación y desenvolvimiento la
mujer y el hombre tendrán los mismos derechos y obligaciones.
Art. 51. DEL MATRIMONIO Y DE LOS EFECTOS DE LAS UNIONES DE HECHO
La ley establecerá las formalidades para la celebración del matrimonio entre el hombre y la
mujer, los requisitos para contraerlo, las causas de separación, de disolución y sus efectos, así
como el régimen de administración de bienes y otros derechos y obligaciones entre cónyuges.
Las uniones de hecho entre el hombre y la mujer, sin impedimentos legales para contraer
matrimonio, que reúnan las condiciones de estabilidad y singularidad, producen efectos
similares al matrimonio, dentro de las condiciones que establezca la ley.
Art. 52. DE LA UNIÓN EN MATRIMONIO
La unión en matrimonio del hombre y la mujer es uno de los componentes fundamentales en
la formación de la familia.
Art. 53. DE LOS HIJOS
Los padres tienen el derecho y la obligación de asistir, de alimentar, de educar y de amparar a
sus hijos menores de edad. Serán penados por la ley en caso de incumplimiento de sus deberes
de asistencia alimentaria.
Los hijos mayores de edad están obligados a prestar asistencia a sus padres en caso de
necesidad.

296
La ley reglamentará la ayuda que se debe prestar a la familia de prole numerosa y a las
mujeres cabeza de familia.
Todos los hijos son iguales ante la ley. Esta posibilitará la investigación de la paternidad. Se
prohibe cualquier calificación sobre la filiación en los documentos personales.
Art. 54. DE LA PROTECCIÓN AL NIÑO
La familia, la sociedad y el Estado tienen la obligación de garantizar al niño su desarrollo
armónico e integral, así como el ejercicio pleno de sus derechos protegiéndolo contra el
abandono, la desnutrición, la violencia, el abuso, el tráfico y la explotación. Cualquier persona
puede exigir a la autoridad competente el cumplimiento de tales garantías y la sanción de los
infractores.
Los derechos del niño, en caso de conflicto, tienen carácter prevaleciente.
Art. 55. DE LA MATERNIDAD Y DE LA PATERNIDAD
La maternidad y la paternidad responsables serán protegidas por el Estado, el cual fomentará
la creación de instituciones necesarias para dichos fines.
Art. 56. DE LA JUVENTUD
Se promoverán las condiciones para la activa participación de la juventud en el desarrollo
político, social, económico y cultural del país.
Art. 57. DE LA TERCERA EDAD
Toda persona en la tercera edad tiene derecho a una protección integral. La familia, la
sociedad y los poderes públicos promoverán su bienestar mediante servicios sociales que se
ocupen de sus necesidades de alimentación, salud, vivienda, cultura y ocio.
Art. 58. DE LOS DERECHOS DE LAS PERSONAS EXCEPCIONALES
Se garantizará a las personas excepcionales la atención de su salud, de su educación, de su
recreación y de su formación profesional para una plena integración social.
El Estado organizará una política de prevención, tratamiento, rehabilitación e integración de
los discapacitados físicos, psíquicos y sensoriales, a quienes prestará el cuidado especializado
que requieran.
Se les reconocerá el disfrute de los derechos que esta Constitución otorga a todos los
habitantes de la República, en igualdad de oportunidades, a fin de compensar sus desventajas.
Art. 59. DEL BIEN DE LA FAMILIA
Se reconoce como institución de interés social el bien de familia, cuyo régimen será
determinado por ley. El mismo estará constituido por la vivienda o el fundo familiar, y por sus
muebles y elementos de trabajo, los cuales serán inembargables.
Art. 60. DE LA PROTECCIÓN CONTRA LA VIOLENCIA
El Estado promoverá políticas que tengan por objeto evitar la violencia en el ámbito familiar y
otras causas destructoras de su solidaridad.
Art. 61. DE LA PLANIFICACIÓN FAMILIAR Y DE LA SALUD MATERNO INFANTIL
El Estado reconoce el derecho de las personas a decidir libre y responsablemente el número y
la frecuencia del nacimiento de sus hijos, así como a recibir, en coordinación con los
organismos pertinentes educación, orientación científica y servicios adecuados, en la materia.
Se establecerán planes especiales de salud reproductiva y salud materno infantil para la
población de escasos recursos.

CAPÍTULO V DE LOS PUEBLOS INDÍGENAS


Art. 62. DE LOS PUEBLOS INDÍGENAS Y GRUPOS ÉTNICOS
Esta Constitución reconoce la existencia de los pueblos indígenas, definidos como grupos de
cultura anteriores a la formación y organización del Estado paraguayo.
Art. 63. DE LA IDENTIDAD ÉTNICA
Queda reconocido y garantizado el derecho de los pueblos indígenas a preservar y a
desarrollar su identidad étnica en el respectivo hábitat. Tienen derecho, asimismo, a aplicar
297
libremente sus sistemas de organización política, social, económica, cultural y religiosa, al
igual que la voluntaria sujeción a sus normas consuetudinarias para la regulación de la
convivencia interior siempre que ellas no atenten contra los derechos fundamentales
establecidos en esta Constitución. En los conflictos jurisdiccionales se tendrá en cuenta el
derecho consuetudinario indígena.
Art. 64. DE LA PROPIEDAD COMUNITARIA
Los pueblos indígenas tienen derecho a la propiedad comunitaria de la tierra, en extensión y
calidad suficientes para la conservación y el desarrollo de sus formas peculiares de vida. El
Estado les proveerá gratuitamente de estas tierras, las cuales serán inembargables,
indivisibles, intransferibles, imprescriptibles, no susceptibles de garantizar obligaciones
contractuales ni de ser arrendadas; asimismo, estarán exentas de tributo.
Se prohibe la remoción o traslado de su hábitat sin el expreso consentimiento de los mismos.
Art. 65. DEL DERECHO A LA PARTICIPACIÓN
Se garantiza a los pueblos indígenas el derecho a participar en la vida económica, social,
política y cultural del país, de acuerdo con sus usos consuetudinarios, ésta Constitución y las
leyes nacionales.
Art. 66. DE LA EDUCACIÓN Y LA ASISTENCIA
El Estado respetará las peculiaridades culturales de los pueblos indígenas especialmente en lo
relativo a la educación formal. Se atenderá, además, a su defensa contra la regresión
demográfica, la depredación de su hábitat, la contaminación ambiental, la explotación
económica y la alienación cultural.
Art. 67. DE LA EXONERACIÓN
Los miembros de los pueblos indígenas están exonerados de prestar servicios sociales, civiles
o militares, así como de las cargas públicas que establezca la ley.

CAPÍTULO VI DE LA SALUD
Art. 68. DEL DERECHO A LA SALUD
El Estado protegerá y promoverá la salud como derecho fundamental de la persona y en
interés de la comunidad.
Nadie será privado de asistencia pública para prevenir o tratar enfermedades, pestes o plagas,
y de socorro en los casos de catástrofes y de accidentes.
Toda persona está obligada a someterse a las medidas sanitarias que establezca la ley, dentro
del respeto a la dignidad humana.
Art. 69. DEL SISTEMA NACIONAL DE SALUD
Se promoverá un sistema nacional de salud que ejecute acciones sanitarias integradas, con
políticas que posibiliten la concertación, la coordinación y la complementación de programas
y recursos del sector público y privado.
Art. 70. DEL RÉGIMEN DE BIENESTAR SOCIAL
La ley establecerá programas de bienestar social mediante estrategias basadas en la educación
sanitaria y en la participación comunitaria.
Art. 71. DEL NARCOTRÁFICO, DE LA DROGADICCIÓN Y DE LA REHABILITACIÓN
El Estado reprimirá la producción, y el tráfico ilícitos de las sustancias estupefacientes y
demás drogas peligrosas, así como los actos destinados a la legitimación del dinero
proveniente de tales actividades. Igualmente combatirá el consumo ilícito de dichas drogas.
La ley reglamentará la producción y el uso medicinal de las mismas.
Se establecerán programas de educación preventiva y de rehabilitación de los adictos, con la
participación de organizaciones privadas.
Art. 72. DEL CONTROL DE CALIDAD
El Estado velará por el control de la calidad de los productos alimenticios, químicos,
farmacéuticos y biológicos, en las etapas de producción, importación y comercialización.
298
Asimismo facilitará el acceso de factores de escasos recursos a los medicamentos
considerados esenciales.
CAPÍTULO VII DE LA EDUCACIÓN Y DE LA CULTURA
Art. 73. DEL DERECHO A LA EDUCACIÓN Y DE SUS FINES
Toda persona tiene derecho a la educación integral y permanente, que como sistema y proceso
se realiza en el contexto de la cultura de la comunidad. Sus fines son el desarrollo pleno de la
personalidad humana y la promoción de la libertad y la paz, la justicia social, la solidaridad, la
cooperación y la integración de los pueblos; el respeto a los derechos humanos y los
principios democráticos; la afirmación del compromiso con la Patria, de la identidad cultural
y la formación intelectual, moral y cívica, así como la eliminación de los contenidos
educativos de carácter discriminatorio.
La erradicación del analfabetismo y la capacitación para el trabajo son objetivos permanentes
del sistema educativo.
Art. 74. DEL DERECHO DE APRENDER Y DE LA LIBERTAD DE ENSEÑAR
Se garantizan el derecho de aprender y la igualdad de oportunidades al acceso a los beneficios
de la cultura humanística, de la ciencia y de la tecnología, sin discriminación alguna.
Se garantiza igualmente la libertad de enseñar, sin más requisitos que la idoneidad y la
integridad ética, así como el derecho a la educación religiosa y al pluralismo ideológico.
Art. 75. DE LA RESPONSABILIDAD EDUCATIVA
La educación es responsabilidad de la sociedad y recae en particular en la familia, en el
Municipio y en el Estado.
El Estado promoverá programas de complemento nutricional y suministro de útiles escolares
para los alumnos de escasos recursos.
Art. 76. DE LAS OBLIGACIONES DEL ESTADO
La educación escolar básica es obligatoria. En las escuelas públicas tendrá carácter gratuito.
El Estado fomentará la enseñanza media, técnica, agropecuaria, industrial y la superior o
universitaria, así como la investigación científica y tecnológica.
La organización del sistema educativo es responsabilidad esencial del Estado, con la
participación de las distintas comunidades educativas. Este sistema abarcará a los sectores
públicos y privados, así como al ámbito escolar y extraescolar.
Art. 77. DE LA ENSEÑANZA EN LENGUA MATERNA
La enseñanza en los comienzos del proceso escolar se realizará en la lengua oficial materna
del educando. Se instruirá asimismo en el conocimiento y en el empleo de ambos idiomas
oficiales de la República
En el caso de las minorías étnicas cuya lengua materna no sea el guaraní, se podrá elegir uno
de los dos idiomas oficiales.
Art. 78. DE LA EDUCACIÓN TECNICA
El Estado fomentará la capacitación para el trabajo por medio de la enseñanza técnica, a fin de
formar los recursos humanos requeridos para el desarrollo nacional.
Art. 79. DE LAS UNIVERSIDADES E INSTITUTOS SUPERIORES
La finalidad principal de las universidades y de los institutos superiores será la formación
profesional superior, la investigación científica y la tecnológica, así como la extensión
universitaria.
Las universidades son autónomas. Establecerán sus estatutos y formas de gobierno y
elaborarán sus planes de estudio de acuerdo con la política educativa y los planes de
desarrollo nacional. Se garantiza la libertad de enseñanza y la de la cátedra. Las
universidades, tanto públicas como privadas, serán creadas por ley, la cual determinará las
profesiones que necesiten títulos universitarios para su ejercicio.
Art. 80. DE LOS FONDOS PARA BECAS Y AYUDAS

299
La ley preverá la constitución de fondos para becas y otras ayudas, con el objeto de facilitar la
formación intelectual, científica, técnica o artística de las personas con preferencia de las que
carezcan de recursos.
Art. 81. DEL PATRIMONIO CULTURAL
Se arbitrarán los medios necesarios para la conservación, el rescate y la restauración de los
objetos, documentos y espacios de valor histórico, arqueológico, paleontológico, artístico o
científico, así como de sus respectivos entornos físicos, que hacen parte del patrimonio
cultural de la Nación.
El Estado definirá y registrará aquellos que se encuentren en el país y, en su caso, gestionará
la recuperación de los que se hallen en el extranjero. Los organismos competentes se
encargarán de la salvaguarda y del rescate de las diversas expresiones de la cultura oral y de la
memoria colectiva de la Nación, cooperando con los particulares que persigan el mismo
objetivo. Quedan prohibidos el uso inapropiado y el empleo desnaturalizante de dichos
bienes, su destrucción, su alteración dolosa, la remoción de sus lugares originarios y su
enajenación con fines de exportación.
Art. 82. DEL RECONOCIMIENTO A LA IGLESIA CATOLICA
Se reconoce el protagonismo de la Iglesia Católica en la formación histórica y cultural de la
Nación.
Art. 83. DE LA DIFUSIÓN CULTURAL Y DE LA EXONERACION DE LOS
IMPUESTOS
Los objetos, las publicaciones y las actividades que posean valor significativo para la difusión
cultural y para la educación, no se gravarán con impuestos fiscales ni municipales. La ley
reglamentará estas exoneraciones y establecerá un régimen de estímulo para introducción e
incorporación al país de los elementos necesarios para el ejercicio de las artes y de la
investigación científica y tecnológica, así como para su difusión en el país y en el extranjero.
Art. 84. DE LA PROMOCIÓN DE LOS DEPORTES
El Estado promoverá los deportes, en especial los de carácter no profesional, que estimulen la
educación física, brindando apoyo económico y exenciones impositivas a establecerse en la
ley. Igualmente, estimulará la participación nacional en competencias internacionales.
Art. 85. DEL MINIMO PRESUPUESTARIO
Los recursos destinados a la educación en el Presupuesto General de la Nación no serán
inferiores al veinte por ciento del total asignado a la Administración Central, excluidos los
préstamos y las donaciones.
CAPÍTULO VIII DEL TRABAJO
SECCIÓN I DE LOS DERECHOS LABORALES
Art. 86. DEL DERECHO AL TRABAJO
Todos los habitantes de la República tienen derecho a un trabajo lícito, libremente escogido y
a realizarse en condiciones dignas y justas.
La ley protegerá el trabajo en todas sus formas y los derechos que ella otorga al trabajador son
irrenunciables.
Art. 87. DEL PLENO EMPLEO
El Estado promoverá políticas que tiendas al pleno empleo y a la formación profesional de
recursos humanos, dando preferencia al trabajador nacional.
Art. 88. DE LA NO DISCRIMINACION
No se admitirá discriminación alguna entre los trabajadores por motivos étnicos, de sexo,
edad, religión, condición social y preferencias políticas o sindicales.
El trabajo de las personas con limitaciones o incapacidades físicas o mentales será
especialmente amparado.
Art. 89. DEL TRABAJO DE LAS MUJERES

300
Los trabajadores de uno y otro sexo tienen los mismos derechos y obligaciones laborales, pero
la maternidad será objeto de especial protección, que comprenderá los servicios asistenciales
y los descansos correspondientes, los cuales no serán inferiores a doce semanas. La mujer no
será despedida durante el embarazo, y tampoco mientras duren los descansos por maternidad.
La ley establecerá el régimen de licencias por paternidad.
Art. 90. DEL TRABAJO DE LOS MENORES
Se dará prioridad a los derechos del menor trabajador para garantizar su normal desarrollo
físico, intelectual y moral.
Art. 91. DE LAS JORNADAS DE TRABAJO Y DE DESCANSO
La duración máxima de la jornada ordinaria de trabajo no excederá de ocho horas diarias y
cuarenta y ocho horas semanales, diurnas, salvo las legalmente establecidas por motivos
especiales. La ley fijará jornadas más favorables para las tareas insalubres, peligrosas,
penosas, nocturnas o las que se desarrollen en turnos continuos rotativos.
Los descansos y las vacaciones anuales serán remunerados conforme con la ley.
Art. 92. DE LA RETRIBUCIÓN DEL TRABAJO
El trabajador tienen derechos a disfrutar de una remuneración que le asegure, a él y a su
familia, una existencia libre y digna.
La ley consagrará el salario vital mínimo, el aguinaldo anual, la bonificación familiar, el
reconocimiento de un salario superior al básico por horas de trabajo insalubre o riesgoso, y las
horas extraordinarias, nocturnas y en días feriados. Corresponde, básicamente, igual salario
por igual trabajo.
Art. 93. DE LOS BENEFICIOS ADICIONALES AL TRABAJADOR
El Estado establecerá un régimen de estímulo a las empresas que incentiven con beneficios
adicionales a sus trabajadores. Tales emolumentos serán independientes de los respectivos
salarios y de otros beneficios legales.
Art. 94. DE LA ESTABILIDAD Y DE LA INDEMNIZACION
El derecho a la estabilidad del trabajador queda garantizado dentro de los límites que la ley
establezca, así como su derecho a la indemnización en caso de despido injustificado.
Art. 95. DE LA SEGURIDAD SOCIAL
El sistema obligatorio e integral de seguridad social para el trabajador dependiente y su
familia será establecido por la ley. Se promoverá su extensión a todos los sectores de la
población.
Los servicios del sistema de seguridad social podrán ser públicos, privados o mixtos, y en
todos los casos estarán supervisados por el Estado.
Los recursos financieros de los seguros sociales no serán desviados de sus fines específicos y;
estarán disponibles para este objetivo, sin perjuicio de las inversiones lucrativas que puedan
acrecentar su patrimonio.
Art. 96. DE LA LIBERTAD SINDICAL
Todos los trabajadores públicos y privados tienen derecho a organizarse en sindicatos sin
necesidad de autorización previa. Quedan exceptuados de este derecho los miembros de las
Fuerzas Armadas y de las Policiales. Los empleadores gozan de igual libertad de
organización. Nadie puede ser obligado a pertenecer a un sindicato.
Para el reconocimiento de un sindicato, bastará con la inscripción del mismo en el órgano
administrativo competente.
En la elección de las autoridades y en el funcionamiento de los sindicatos se observarán las
prácticas democráticas establecidas en la ley, la cual garantizará también la estabilidad del
dirigente sindical.
Art. 97. DE LOS CONVENIOS COLECTIVOS
Los sindicatos tienen el derecho a promover acciones colectivas y a concertar convenios sobre
las condiciones de trabajo.
301
El Estado favorecerá las soluciones conciliatorias de los conflictos de trabajo y la
concertación social. El arbitraje será optativo.
Art. 98. DEL DERECHO DE HUELGA Y DE PARO
Todos los trabajadores de los sectores públicos y privados tienen el derecho a recurrir a la
huelga en caso de conflicto de intereses. Los empleadores gozan del derecho de paro en las
mismas condiciones.
Los derechos de huelga y de paro no alcanzan a los miembros de las Fuerzas Armadas de la
Nación, ni a los de las policiales.
La ley regulará el ejercicio de estos derechos, de tal manera que no afecten servicios públicos
imprescindibles para la comunidad.
Art. 99. DEL CUMPLIMIENTO DE LAS NORMAS LABORALES
El cumplimiento de las normas laborales y el de las de seguridad e higiene en el trabajo
quedarán sujetos a la fiscalización de las autoridades creadas por la ley, la cual establecerá las
sanciones en caso de su violación.
Art. 100. DEL DERECHO A LA VIVIENDA
Todos los habitantes de la República tienen derecho a una vivienda digna.
El Estado establecerá las condiciones para hacer efectivo este derecho, y promoverá planes de
vivienda de interés social, especialmente las destinadas a familias de escasos recursos,
mediante sistemas de financiamiento adecuados.
SECCIÓN II DE LA FUNCIÓN PÚBLICA
Art. 101. DE LOS FUNCIONARIOS Y DE LOS EMPLEADOS PUBLICOS
Los funcionarios y los empleados públicos están al servicio del país. Todos los paraguayos
tienen el derecho a ocupar funciones y empleos públicos.
La ley reglamentará las distintas carreras en las cuales dichos funcionarios y empleados
presten servicios, las que, sin perjuicio de otras, son la judicial, la docente, la diplomática y
consular, la de investigación científica y tecnológica, la de servicio civil, la militar y la
policial.
Art. 102. DE LOS DERECHOS LABORALES DE LOS FUNCIONARIOS Y DE LOS
EMPLEADOS PUBLICOS
Los funcionarios y los empleados públicos gozan de los derechos establecidos en esta
Constitución en la sección de derechos laborales, en un régimen uniforme para las distintas
carreras dentro de los límites establecidos por la ley y con resguardo de los derechos
adquiridos.
Art. 103. DEL REGIMEN DE JUBILACIONES
Dentro del sistema nacional de seguridad social, la ley regulará el régimen de jubilaciones de
los funcionarios y los empleados públicos, atendiendo a que los organismos autárquicos
creados con ese propósito acuerden a los aportantes y jubilados la administración de dichos
entes bajo control estatal. Participarán del mismo régimen todos los que, bajo cualquier título,
presten servicios al Estado.
La ley garantizará la actualización de los haberes jubilatorios en igualdad de tratamiento
dispensado al funcionario público en actividad.
Art. 104. DE LA DECLARACIÓN OBLIGATORIA DE BIENES Y RENTAS
Los funcionarios y los empleados públicos, incluyendo a los de elección popular, los de
entidades estatales, binacionales, autárquicas, descentralizadas y, en general, quienes perciban
remuneraciones permanentes del Estado, estarán obligados a prestar declaración jurada de
bienes y rentas dentro de los quince días de haber tomado posesión de su cargo, y en igual
término al cesar en el mismo.
Art. 105. DE LA PROHIBICIÓN DE DOBLE REMUNERACION

302
Ninguna persona podrá percibir como funcionario o empleado público, más de un sueldo o
remuneración simultáneamente, con excepción de los que provengan del ejercicio de la
docencia.
Art. 106. DE LA RESPONSABILIDAD DEL FUNCIONARIO Y DEL EMPLEADO
PUBLICO
Ningún funcionario o empleado público está exento de responsabilidad. En los casos de
transgresiones, delitos o faltas que cometiesen en el desempeño de sus funciones, son
personalmente responsables, sin perjuicio de la responsabilidad subsidiaria del Estado, con
derecho de éste a repetir el pago de lo que llegase a abandonar en tal concepto.
CAPÍTULO IX DE LOS DERECHOS ECONOMICOS Y DE LA REFORMA
AGRARIA SECCIÓN DE LOS DERECHOS ECONOMICOS
Art. 107. DE LA LIBERTAD DE CONCURRENCIA
Toda persona tiene derecho a dedicarse a la actividad económica lícita de su preferencia,
dentro de un régimen de igualdad de oportunidades.
Se garantiza la competencia en el mercado. No serán permitidas la creación de monopolios y
el alza o la baja artificiales de precios que traben la libre concurrencia. La usura y el comercio
no autorizado de Art.s nocivos serán sancionados por la Ley Penal.
Art. 108. DE LA LIBRE CIRCULACIÓN DE PRODUCTOS
Los bienes de producción o fabricación nacional, y los de procedencia extranjera introducidos
legalmente, circularán libremente dentro del territorio de la República.
Art. 109. DE LA PROPIEDAD PRIVADA
Se garantiza la propiedad privada, cuyo contenido y límites serán establecidos por la ley,
atendiendo a su función económica y social, a fin de hacerla accesible para todos.
La propiedad privada es inviolable.
Nadie puede ser privado de su propiedad sino en virtud de sentencia judicial, pero se admite la
expropiación por causa de utilidad pública o de interés social, que será determinada en cada
caso por ley. Esta garantizará el previo pago de una justa indemnización, establecida
convencionalmente o por sentencia judicial, salvo los latifundios improductivos destinados a
la reforma agraria, conforme con el procedimiento para las expropiaciones a establecerse por
ley.
Art. 110. DE LOS DERECHOS DE AUTOR Y PROPIEDAD INTELECTUAL
Todo autor, inventor, productor o comerciante gozará de la propiedad exclusiva de su obra,
invención, marca o nombre comercial, con arreglo a la ley.
Art. 111. DE LAS TRANSFERENCIAS DE LAS EMPRESAS PUBLICAS
Siempre que el Estado resuelva transferir empresas públicas o su participación en las mismas
al sector privado, dará opción preferencial de compra a los trabajadores y sectores
involucrados directamente con la empresa. La ley regulará la forma en que se establecerá
dicha opción.
Art. 112. DEL DOMINIO DEL ESTADO
Corresponde al Estado el dominio de los hidrocarburos, minerales sólidos, líquidos y gaseosos
que se encuentre en estado natural en el territorio de la República, con excepción de las
sustancias pétreas, terrosas y calcáreas.
El Estado podrá otorgar concesiones a personas o empresas públicas o privadas, mixtas,
nacionales o extranjeras, para la prospección, la exploración, la investigación, el cateo o la
explotación de yacimientos, por tiempo limitado.
La ley regulará el régimen económico que contemple los intereses del Estado, los de los
concesionarios y los de los propietarios que pudieran resultar afectados.
Art. 113. DEL FOMENTO DE LAS COOPERATIVAS

303
El Estado fomentará la empresa cooperativa y otras formas asociativas de producción de
bienes y de servicios, basadas en la solidaridad y la rentabilidad social, a las cuales
garantizará su libre organización y su autonomía.
Los principios del cooperativismo como instrumento del desarrollo económico nacional, serán
difundidos a través del sistema educativo.
SECCIÓN II DE LA REFORMA AGRARIA
Art. 114. DE LOS OBJETIVOS DE LA REFORMA AGRARIA
La reforma agraria es uno de los factores fundamentales para lograr el bienestar rural. ella
consiste en la incorporación efectiva de la población campesina al desarrollo económico y
social de la Nación. Se adoptarán sistemas equitativos de distribución, propiedad y tenencia
de la tierra; se organizarán el crédito y la asistencia técnica, educacional y sanitaria; se
fomentará la creación de cooperativas agrícolas y de otras asociaciones similares, y se
promoverá la producción, la industrialización y la racionalización del mercado para el
desarrollo integral del agro.
Art. 115. DE LAS BASES DE LA REFORMA AGRARIA Y DEL DESARROLLO RURAL
La reforma agraria y el desarrollo rural se efectuarán de acuerdo con las siguientes bases:
1. La adopción de un sistema tributario y de otras medidas que estimulen la producción,
desalienten el latifundio y garanticen el desarrollo de la pequeña y la mediana
propiedad rural, según las peculiaridades de cada zona;
2. la racionalización y la regularización del uso de la tierra y de las prácticas de cultivo
para impedir su degradación, así como el fomento de la producción agropecuaria
intensiva y diversificada;
3. la promoción de la pequeña y de la mediana empresa agrícola;
4. la programación de asentamientos campesinos; la adjudicación de parcelas de tierras
en propiedad a los beneficiarios de la reforma agraria, previendo la infraestructura
necesaria para su asentamiento y arraigo, con énfasis en la vialidad, la educación y la
salud;
5. el establecimiento de sistemas y organizaciones que aseguren precios justos al
productor primario;
6. el otorgamiento de créditos agropecuarios, a bajo costo y sin intermediarios;
7. la defensa y la preservación del ambiente;
8. la creación del seguro agrícola;
9. el apoyo a la mujer campesina, en especial a quien sea cabeza de familia;
10. la participación de la mujer campesina, en igualdad con el hombre, en los planes de la
reforma agraria;
11. la participación de los sujetos de la reforma agraria en el respectivo proceso, y la
promoción de las organizaciones campesinas en defensa de sus intereses económicos,
sociales y culturales.
12. el apoyo preferente a los connacionales en los planes de la reforma agraria;
13. la educación del agricultor y la de su familia, a fin de capacitarlos como agentes
activos del desarrollo nacional;
14. la creación de centros regionales para el estudio y tipificación agrológica de suelos,
para establecer los rubros agrícolas en las regiones aptas;
15. la adopción de políticas que estimulen el interés de la población en las tareas
agropecuarias, creando centros de capacitación profesional en áreas rurales, y
16. el fomento de la migración interna, atendiendo a razones demográficas, económicas y
sociales.
Art. 116. DE LOS LATIFUNDIOS IMPRODUCTIVOS
Con el objeto de eliminar progresivamente los latifundios improductivos, la ley atenderá a la
aptitud natural de las tierras, a las necesidades del sector de población vinculado con la
304
agricultura y a las previsiones aconsejables para el desarrollo equilibrado de las actividades
agrícolas, agropecuarias, forestales e industriales, así como al aprovechamiento sostenible de
los recursos naturales y de la preservación del equilibrio ecológico.
La expropiación de los latifundios improductivos destinados a la reforma agraria serán
establecidas en cada caso por la ley, y se abonará en la forma y en el plazo que la misma
determine.
CAPÍTULO X DE LOS DERECHOS Y DE LOS DEBERES POLITICOS
Art. 117. DE LOS DERECHOS POLITICOS
Los ciudadanos, sin distinción de sexo, tienen el derecho a participar en los asuntos públicos,
directamente o por medio de sus representantes, en la forma que determine esta Constitución
y las leyes.
Se promoverá el acceso de la mujer a las funciones públicas.
Art. 118. DEL SUFRAGIO
El sufragio es derecho, deber y función pública del elector.
Constituye la base del régimen democrático y representativo. Se funda en el voto universal,
libre, directo, igual y secreto; en el escrutinio público y fiscalizado, y en el sistema de
representación proporcional.
Art. 119. DEL SUFRAGIO EN LAS ORGANIZACIONES INTERMEDIAS
Para las elecciones en las organizaciones intermedias, políticas, sindicales y sociales, se
aplicarán los mismos principios y normas del sufragio.
Art. 120. DE LOS ELECTORES
Son electores los ciudadanos paraguayos radicados en el territorio nacional, sin distinción,
que hayan cumplido diez y ocho años.
Los ciudadanos son electores y elegibles, sin más restricciones que las establecidas en esta
Constitución y en la ley.
Los extranjeros con radicación definitiva tendrán los mismos derechos en las elecciones
municipales.
Art. 121. DEL REFERENDUM
El referéndum legislativo, decidido por ley, podrá o no ser vinculante. Esta institución será
reglamentada por ley.
Art. 122. DE LAS MATERIAS QUE NO PODRAN SER OBJETO DE REFERENDUM
No podrán ser objeto de referéndum:
1. Las relaciones internacionales, tratados, convenios o acuerdos internacionales;
2. las expropiaciones;
3. la defensa nacional;
4. la limitación de la propiedad inmobiliaria;
5. las cuestiones relativas a los sistemas tributarios, monetarios y bancarios, la
contratación de empréstitos, el Presupuestos General de la Nación, y
6. las elecciones nacionales, las departamentales y las municipales.
Art. 123. DE LA INICIATIVA POPULAR
Se reconoce a los electores el derecho a la iniciativa popular para proponer al Congreso
proyectos de ley. La forma de las propuestas, así como el número de electores que deban
suscribirlas, serán establecidas en la ley.
Art. 124. DE LA NATURALEZA Y DE LAS FUNCIONES DE LOS PARTIDOS
POLITICOS
Los partidos políticos son personas jurídicas de derecho público. Deben expresar el
pluralismo y concurrir a la formación de las autoridades electivas, a la orientación de la
política nacional, departamental o municipal y a la formación cívica de los ciudadanos.
Art. 125. DE LA LIBERTAD DE ORGANIZACIÓN EN PARTIDOS O EN
MOVIMIENTOS POLITICOS
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Todos los ciudadanos tienen el derecho a asociarse libremente en partidos y o en movimientos
políticos para concurrir, por métodos democráticos, a la elección de las autoridades previstas
en esta Constitución y en las leyes, así como en la orientación de la política nacional. La ley
reglamentará la constitución y el funcionamiento de los partidos y movimientos políticos, a
fin de asegurar el carácter democrático de los mismos.
Sólo se podrá cancelar la personalidad jurídica de los partidos y movimientos políticos en
virtud de sentencia judicial.
Art. 126. DE LAS PROHIBICIONES A LOS PARTIDOS Y A LOS MOVIMIENTOS
POLITICOS
Los partidos y los movimientos políticos, en su funcionamiento, no podrán:
1. recibir auxilio económico, directivas o instrucciones de organizaciones o Estados
extranjeros;
2. establecer estructuras que, directa o indirectamente, impliquen la utilización o la
apelación a la violencia como metodología del quehacer político, y
3. constituirse con fines de sustituir por la fuerza el régimen de libertad y de democracia,
o de poner en peligro la existencia de la República.

CAPÍTULO XI DE LOS DEBERES


Art. 127. DEL CUMPLIMIENTO DE LA LEY
Toda persona está obligada al cumplimiento de la ley, la crítica a las leyes es libre, pero no
está permitido predicar su desobediencia.
Art. 128. DE LA PRIMACIA DEL INTERES GENERAL Y DEL DEBER DE
COLABORAR
En ningún caso el interés de los particulares primará sobre el interés general. todos los
habitantes deben colaborar en bien del país, prestando los servicios y desempeñando las
funciones definidas como carga pública, que determinen esta Constitución y la ley.
Art. 129. DEL SERVICIO MILITAR
Todo paraguayo tiene la obligación de prepararse y de prestar su concurso para la defensa
armada de la Patria.
A tal objeto, se establece el servicio militar obligatorio. La ley regulará las condiciones en que
se hará efectivo este deber.
El servicio militar deberá cumplirse con plena dignidad y respeto hacia la persona. En tiempo
de paz, no podrá exceder de doce meses.
Las mujeres no prestarán servicio militar sino como auxiliares, en caso de necesidad, durante
conflicto armado internacional.
Quienes declaren su objeción de conciencia prestarán servicio en beneficio de la población
civil, a través de centros asistenciales designados por ley y bajo jurisdicción civil. La
reglamentación y el ejercicio de este derecho no deberán tener carácter punitivo ni impondrán
gravámenes superiores a los establecidos para el servicio militar.
Se prohíbe el servicio militar personal no determinado en la ley, o para beneficio o lucro
particular de personas o entidades privadas.
La ley reglamentará la contribución de los extranjeros a la defensa nacional.
Art. 130. DE LOS BENEMERITOS DE LA PATRIA
Los veteranos de la guerra del Chaco, y los de otros conflictos armados internacionales que se
libren en defensa de la Patria, gozarán de honores y privilegios; de pensiones que les permitan
vivir decorosamente; de asistencia preferencial, gratuita y completa a su salud, así como de
otros beneficios, conforme con lo que determine la ley.
En los beneficios económicos les sucederán sus viudas e hijos menores o discapacitados,
incluidos los de los veteranos fallecidos con anterioridad a la promulgación de esta
Constitución.
306
Los beneficios acordados a los beneméritos de la Patria no sufrirán restricciones y serán de
vigencia inmediata, sin más requisito que su certificación fehaciente.
Los ex prisioneros de guerra bolivianos, quienes desde la firma del Tratado de Paz hubiesen
optado por integrarse definitivamente al país, quedan equiparados a los veteranos de la guerra
del chaco, en los beneficios económicos y prestaciones asistenciales.

CAPÍTULO XII DE LAS GARANTÍAS CONSTITUCIONALES


Art. 131. DE LAS GARANTÍAS
Para hacer efectivos los derechos consagrados en esta Constitución, se establecen las garantías
contenidas en este capítulo, las cuales serán reglamentadas por la ley.
Art. 132. DE LA INCONSTITUCIONALIDAD
La corte suprema de Justicia tiene facultad para declarar la inconstitucionalidad de las normas
jurídicas y de las resoluciones judiciales, en la forma y con los alcances establecidos en esta
Constitución y en la ley.
Art. 133. DEL HABEAS CORPUS
Esta garantía podrá ser interpuesto por el afectado, por sí o por interpósita persona, sin
necesidad de poder por cualquier medio fehaciente, y ante cualquier Juez de Primera Instancia
de la circunscripción judicial respectiva.
El Hábeas Corpus podrá ser:
1. Preventivo: en virtud del cual toda persona, en trance inminente de ser privada
ilegalmente de su libertad física, podrá recabar el examen de la legitimidad de las
circunstancias que, a criterio del afectado, amenacen su libertad, así como una orden
de cesación de dichas restricciones.
2. Reparador: en virtud del cual toda persona que se hallase ilegalmente privada de su
libertad puede recabar la rectificación de las circunstancias del caso. El magistrado
ordenará la comparecencia del detenido, con un informe del agente público o privado
que lo detuvo, dentro de las veinticuatro horas de radicada la petición. Si el requerido
no lo hiciese así, el Juez se constituirá en el sitio en el que se halle recluida la persona,
y en dicho lugar hará juicio de méritos y dispondrá su inmediata libertad, igual que si
se hubiere cumplido con la presentación del detenido y se haya radicado el informe. Si
no existiesen motivos legales que autoricen la privación de su libertad, la dispondrá de
inmediato; si hubiese orden escrita de autoridad judicial, remitirá los antecedentes a
quien dispuso la detención.
3. Genérico: en virtud del cual se podrán demandar rectificación de circunstancias que,
no estando contempladas en los dos casos anteriores, restrinjan la libertad o amenacen
la seguridad personal. Asimismo, esta garantía podrá interponerse en casos de
violencia física, psíquica o moral que agraven las condiciones de personas legalmente
privadas de su libertad.
La ley reglamentará las diversas modalidades del hábeas corpus, las cuales procederán
incluso, durante el Estado de excepción. El procedimiento será breve, sumario y gratuito,
pudiendo ser iniciado de oficio.
Art. 134. DEL AMPARO
Toda persona que por un acto u omisión, manifiestamente ilegítimo, de una autoridad o de un
particular, se considere lesionada gravemente, o en peligro inminente de serlo en derechos o
garantías consagradas en esta Constitución o en la ley, y que debido a la urgencia del caso no
pudiera remediarse por la vía ordinaria, puede promover amparo ante el magistrado
competente. El procedimiento será breve, sumario, gratuito, y de acción popular para los
casos previstos en la ley.
El magistrado tendrá facultad para salvaguardar el derecho o garantía, o para restablecer
inmediatamente la situación jurídica infringida.
307
Si se tratara de una cuestión electoral, o relativa a organizaciones políticas, será competente la
justicia electoral.
El Amparo no podrá promoverse en la tramitación de causas judiciales, ni contra actos de
órganos judiciales, ni en el proceso de formación, sanción y promulgación de las leyes.
La ley reglamentará el respectivo procedimiento. Las sentencias recaídas en el Amparo no
causarán estado.
Art. 135. DEL HABEAS DATA
Toda persona puede acceder a la información y a los datos que sobre si misma, o sobre sus
bienes, obren en registros oficiales o privados de carácter público, así como conocer el uso
que se haga de los mismos y de su finalidad. Podrá solicitar ante el magistrado competente la
actualización, la rectificación o la destrucción de aquellos, si fuesen erróneos o afectaran
ilegítimamente sus derechos.
Art. 136. DE LA COMPETENCIA Y DE LA RESPONSABILIDAD DE LOS
MAGISTRADOS
Ningún magistrado judicial que tenga competencia podrá negarse a entender en las acciones o
recursos previstos en los Art.s anteriores; si lo hiciese injustificadamente, será enjuiciado y,
en su caso, removido.
En las decisiones que dicte, el magistrado judicial deberá pronunciarse también sobre las
responsabilidades en que hubieran incurrido las autoridades por obra del proceder ilegítimo y,
de mediar circunstancias que prima facie evidencien la perpetración de delito, ordenará la
detención o suspensión de los responsables, así como toda medida cautelar que sea procedente
para la mayor efectividad de dichas responsabilidades. Asimismo, si tuviese competencia,
instruirá el sumario, pertinente y dará intervención al Ministerio Público; si no la tuviese,
pasará los antecedentes al magistrado competente para su prosecución.

PARTE III DEL ORDENAMIENTO POLITICO DE LA REPUBLICA


TÍTULO I DE LA NACIÓN Y DEL ESTADO
CAPÍTULO I DE LAS DECLARACIONES GENERALES
Art. 137. DE LA SUPREMACIA DE LA CONSTITUCION
La ley suprema de la República es la Constitución. Esta, los tratados, convenios y acuerdos
internacionales aprobados y ratificados, las leyes dictadas por el Congreso y otras
disposiciones jurídicas de inferior jerarquía, sancionadas en consecuencia, integran el derecho
positivo nacional en el orden de prelación enunciado.
Quienquiera que intente cambiar dicho orden, al margen de los procedimientos previstos en
esta Constitución, incurrirá en los delitos que se tipificarán y penarán en la ley.
Esta Constitución no perderá su vigencia ni dejará de observarse por actos de fuerza o fuera
derogada por cualquier otro medio distinto del que ella dispone.
Carecen de validez todas las disposiciones o actos de autoridad opuestos a lo establecido en
esta Constitución.
Art. 138. DE LA VALIDEZ DEL ORDEN JURIDICO
Se autoriza a los ciudadanos a resistir a dichos usurpadores, por todos los medios a su alcance.
En la hipótesis de que esa persona o grupo de personas, invocando cualquier principio o
representación contraria a esta constitución, detenten el poder público, sus actos se declaren
nulos y sin ningún valor, no vinculantes y, por lo mismo, el pueblo en ejercicio de su derecho
de resistencia a la opresión, queda dispensado de su cumplimiento.
Los estados extranjeros que, por cualquier circunstancia, se relacionen con tales usurpadores
no podrán invocar ningún pacto, tratado ni acuerdo suscrito o autorizado por el gobierno
usurpador, para exigirlo posteriormente como obligación o compromiso de la República del
Paraguay.
Art. 139. DE LOS SIMBOLOS
308
Son símbolos de la República del Paraguay:
1. el pabellón de la República;
2. el sello nacional, y
3. el himno nacional.
La ley reglamentará las características de los símbolos de la República no previstos en la
resolución del Congreso General Extraordinario del 25 de noviembre de 1942, y
determinando su uso.
Art. 140. DE LOS IDIOMAS
El Paraguay es un país pluricultural y bilingüe.
Son idiomas oficiales el castellano y el guaraní. La ley establecerá las modalidades de
utilización de uno y otro.
Las lenguas indígenas, así como las de otras minorías, forman parte del patrimonio cultural de
la Nación.
CAPÍTULO II DE LAS RELACIONES INTERNACIONALES
Art. 141. DE LOS TRATADOS INTERNACIONALES
Los tratados internacionales validamente celebrados, aprobados por ley del Congreso, y cuyos
instrumentos de ratificación fueran canjeados o depositados, forman parte del ordenamiento
legal interno con la jerarquía que determina el Art. 137.
Art. 142. DE LA DENUNCIA DE LOS TRATADOS
Los tratados internacionales relativos a los derechos humanos no podrán ser denunciados sino
por los procedimientos que rigen para la enmienda de esta Constitución.
Art. 143. DE LAS RELACIONES INTERNACIONALES
La República del Paraguay, en sus relaciones internacionales, acepta el derecho internacional
y se ajusta a los siguientes principios:
1. la independencia nacional;
2. la autodeterminación de los pueblos;
3. la igualdad jurídica entre los Estados;
4. la solidaridad y la cooperación internacional;
5. la protección internacional de los derechos humanos;
6. la libre navegación de los ríos internacionales;
7. la no intervención, y
8. la condena a toda forma de dictadura, colonialismo e imperialismo.
Art. 144. DE LA RENUNCIA A LA GUERRA
La República del Paraguay renuncia a la guerra, pero sustenta el principio de la legítima
defensa. Esta declaración es compatible con los derechos y obligaciones del Paraguay en su
carácter de miembro de la Organización de las Naciones Unidas y de la Organización de
Estados Americanos, o como parte en tratados de integración.
Art. 145. DEL ORDEN JURIDICO SUPRANACIONAL
La República del Paraguay, en condiciones de igualdad con otros Estados, admite un orden
jurídico supranacional que garantice la vigencia de los derechos humanos, de la paz, de la
justicia, de la cooperación y del desarrollo, en lo político, económico, social y cultural.
Dichas decisiones sólo podrán adoptarse por mayoría absoluta de cada Cámara del Congreso.

CAPÍTULO III DE LA NACIONALIDAD Y DE LA CIUDADANIA


Art. 146. DE LA NACIONALIDAD NATURAL
Son de nacionalidad paraguaya natural:
1. las personas nacidas en el territorio de la República;
2. los hijos de madre o padre paraguayo quienes, hallándose uno o ambos al servicio de
la República, nazcan en el extranjero;

309
3. los hijos de madre o padre paraguayo nacidos en el extranjero, cuando aquéllos se
radiquen en la República en forma permanente, y
4. los infantes de padres ignorados, recogidos en el territorio de la República.
La formalización del derecho consagrado en el inciso 3) se efectuará por simple declaración
del interesado, cuando éste sea mayor de dieciocho años. Si no los hubiese cumplido aún, la
declaración de su representante legal tendrá validez hasta dicha edad, quedando sujeta a
ratificación por el interesado.
Art. 147. DE LA NO PRIVACIÓN DE LA NACIONALIDAD NATURAL
Ningún paraguayo natural será privado de su nacionalidad, pero podrá renunciar
voluntariamente a ella.
Art. 148. DE LA NACIONALIDAD POR NATURALIZACION
Los extranjeros podrán obtener la nacionalidad paraguaya por naturalización si reúnen los
siguientes requisitos:
1. mayoría de edad:
2. radicación mínima de tres años en territorio nacional;
3. ejercicio en el país de alguna profesión, oficio, ciencia, arte o industria, y
4. buena conducta, definida en la ley.
Art. 149. DE LA NACIONALIDAD MULTIPLE
La nacionalidad múltiple podrá ser admitida mediante tratado internacional por reciprocidad
de rango constitucional entre los Estados del natural de origen y del de adopción.
Art. 150. DE LA PERDIDA DE LA NACIONALIDAD
Los paraguayos naturalizados pierden la nacionalidad en virtud de ausencia injustificada de la
República por más de tres años, declarada judicialmente, o por la adquisición voluntaria de
otra nacionalidad.
Art. 151. DE LA NACIONALIDAD HONORARIA
Podrán ser distinguidos con la nacionalidad honoraria, por ley del congreso, los extranjeros
que hubiesen prestado servicios eminentes a la República.
Art. 152. DE LA CIUDADANIA
Son ciudadanos:
1. toda persona de nacionalidad paraguaya natural, desde los dieciocho años de edad, y
2. toda persona de nacionalidad paraguaya por naturalización, después de dos años de
haberla obtenido.
Art. 153. DE LA SUSPENSIÓN DEL EJERCICIO DE LA CIUDADANIA
Se suspende el ejercicio de la ciudadanía:
1. por la adopción de otra nacionalidad, salvo reciprocidad internacional;
2. por incapacidad declarada en juicio, que impida obrar libremente y con
discernimiento, y
3. cuando la persona se hallara cumpliendo condena judicial, con pena privativa de
libertad.
La suspensión de la ciudadanía concluye al cesar legalmente la causa que la determina.
Art. 154. DE LA COMPETENCIA EXCLUSIVA DEL PODER JUDICIAL
La ley establecerá las normas sobre adquisición, recuperación y opción de la nacionalidad, así
como sobre la suspensión de la ciudadanía.
El Poder Judicial tendrá competencia exclusiva para entender en estos casos.

CAPÍTULO IV DEL ORDENAMIENTO TERRITORIAL DE LA REPUBLICA


SECCIÓN I DE LAS DISPOSICIONES GENERALES
Art. 155. DEL TERRITORIO, DE LA SOBERANÍA Y DE LA INENAJENABILIDAD
El territorio nacional jamás podrá ser cedido, transferido, arrendad, ni en forma alguna
enajenado, aún temporalmente, a ninguna potencia extranjera. Los Estados que mantengan
310
relaciones diplomáticas con la República, así como los organismos internacionales de los
cuales ella forma parte, sólo podrán adquirir los inmuebles necesarios para la sede de sus
representaciones, de acuerdo con las prescripciones de la ley. En estos casos, quedará siempre
a salvo la soberanía nacional sobre el suelo.
Art. 156. DE LA ESTRUCTURA POLITICA Y LA ADMINISTRATIVA
A los efectos de la estructuración política y administrativa del Estado, el territorio nacional se
divide en departamentos, municipios y distritos, los cuales, dentro de los límites de esta
Constitución y de las leyes, gozan de autonomía política, administrativa y normativa para la
gestión de sus intereses, y de autarquía en la recaudación e inversión de sus recursos.
Art. 157. DE LA CAPITAL
La Ciudad de la Asunción es la Capital de la República y asiento de los poderes del Estado.
Se constituye en Municipio, y es independiente de todo Departamento. La ley fijará sus
límites.
Art. 158. DE LOS SERVICIOS NACIONALES
La creación y el funcionamiento de servicios de carácter nacional en la jurisdicción de los
departamentos y de los municipios serán autorizadas por ley.
Podrán establecerse igualmente servicios departamentales, mediante acuerdos entre los
respectivos departamentos y municipios.
Art. 159. DE LOS DEPARTAMENTOS Y MUNICIPIOS
La creación, la fusión o la modificación de los departamentos y sus capitales, los municipios y
los distritos, en sus casos, serán determinadas por la ley, atendiendo a las condiciones
socioeconómicas, demográficas, ecológicas, culturales e históricas de los mismos.
Art. 160. DE LAS REGIONES
Los departamentos podrán agruparse en regiones, para el mejor desarrollo de sus respectivas
comunidades. Su constitución y su funcionamiento serán regulados por la ley.
SECCIÓN II DE LOS DEPARTAMENTOS
Art. 161. DEL GOBIERNO DEPARTAMENTAL
El gobierno de cada departamento será ejercido por un gobernador y por una junta
departamental. Serán electos por voto directo de los ciudadanos radicados en los respectivos
departamentos, en comicios coincidentes con las elecciones generales, y durarán cinco años
en sus funciones.
El gobernador representa al Poder Ejecutivo en la ejecución de la política nacional. No podrá
ser electo.
La ley determinará la composición y las funciones de las juntas departamentales.
Art. 162. DE LOS REQUISITOS
Para ser gobernador se requiere:
1. ser paraguayo natural;
2. tener treinta años cumpliendo, y
3. ser nativo del departamento y con radicación en el mismo por un año cuanto menos.
En el caso de que el candidato no sea oriundo del departamento, deberá estar radicado
en él durante cinco años como mínimo. Ambos plazos se contarán inmediatamente
antes de las elecciones.
Las inhabilidades para candidatos a gobernadores serán las mismas que para Presidente y
Vicepresidente de la República.
Para ser miembro de la junta departamental rigen los mismos requisitos establecidos para
cargo de gobernador, con excepción de la edad, que deberá ser la de veinticinco años
cumplidos.
Art. 163. DE LA COMPETENCIA
Es de competencia del gobierno departamental:

311
1. coordinar sus actividades con las de las distintas municipalidades del departamento;
organizar los servicios departamentales comunes, tales como obras públicas, provisión
de energía, de agua potable y los demás que afecten conjuntamente a más de un
Municipio, así como promover las asociaciones de cooperación entre ellos;
2. preparar el plan de desarrollo departamental, que deberá coordinarse con el Plan
Nacional de Desarrollo, y elaborar la formulación presupuestaria anual, a considerarse
en el Presupuesto General de la Nación;
3. coordinar la acción departamental con las actividades del gobierno central, en especial
lo relacionado con las oficinas de carácter nacional del departamento, primordialmente
en el ámbito de la salud y en el de la educación;
4. disponer la integración de los Consejos de Desarrollo Departamental, y
5. las demás competencias que fijen esta Constitución y la ley.
Art. 164. DE LOS RECURSOS
Los recursos de la administración departamental son:
1. la porción correspondiente de impuestos, tasas y contribuciones que se definan y
regulen por esta constitución y por la ley;
2. las asignaciones o subvenciones que les destinen el Gobierno nacional;
3. las rentas propias determinadas por ley, así como las donaciones y los legados, y
4. los demás recursos que fije la ley.
Art. 165. DE LA INTERVENCION
Los departamentos y las municipalidades podrán ser intervenidos por el Poder Ejecutivo,
previo acuerdo de la Cámara de Diputados, en los siguientes casos:
1. a solicitud de la junta departamental o de la municipal, por decisión de la mayoría
absoluta;
2. por desintegración de la junta departamental o de la municipal, que imposibilite su
funcionamiento, y
3. por grave irregularidad en la ejecución del presupuesto o en la administración de sus
bienes, previo dictamen de la Contraloría General de la República.
La intervención no se prolongará por más de noventa días, y si de ella resultase la existencia
del caso previsto en el inciso 3., la Cámara de Diputados por mayoría absoluta, podrá destituir
al gobernador o al intendente, o la junta departamental o la municipal, debiendo el Tribunal
Superior de Justicia Electoral convocar a nuevos comicios para constituir las autoridades que
reemplacen a las que hayan cesado en sus funciones, dentro de los noventa días siguientes a la
resolución dictada por la Cámara de Diputados.
SECCIÓN III DE LOS MUNICIPIOS
Art. 166. DE LA AUTONOMIA
Las municipalidades son los órganos de gobierno local con personería jurídica que, dentro de
su competencia, tienen autonomía política, administrativa y normativa, así como autarquía en
la recaudación e inversión de sus recursos.
Art. 167. DEL GOBIERNO MUNICIPAL
El gobierno de los municipios estará a cargo de un intendente y de una junta municipal, los
cuales serán electos en sufragio directo por las personas habilitadas legalmente.
Art. 168. DE LAS ATRIBUCIONES
Serán atribuciones de las municipalidades, en su jurisdicción territorial y con arreglo a la ley:
1. la libre gestión en materias de su competencia, particularmente en las de urbanismo,
ambiente, abasto, educación, cultura, deporte, turismo, asistencia sanitaria y social,
instituciones de crédito, cuerpos de inspección y de policía;
2. la administración y la disposición de sus bienes;
3. la elaboración de su presupuesto de ingresos y egresos;
4. la participación en las rentas nacionales;
312
5. la regulación del monto de las tasas retributivas de servicios efectivamente prestados,
no pudiendo sobrepasar el costo de los mismos;
6. el dictado de ordenanzas, reglamentos y resoluciones;
7. el acceso al crédito privado y al crédito público, nacional e internacional;
8. la reglamentación y la fiscalización del tránsito, del transporte público y la de otras
materias relativas a la circulación de vehículos, y
9. las demás atribuciones que fijen esta Constitución y la ley.
Art. 169. DEL IMPUESTO INMOBILIARIO
Corresponderá a las municipalidades y a los departamentos la totalidad de los tributos que
graven la propiedad inmueble en forma directa. Su recaudación será competencia de las
municipalidades. El setenta por ciento de lo recaudado por cada municipalidad quedará en
propiedad de la misma, el quince por ciento en la del departamento respectivo y el quince por
ciento restante será distribuido entre las municipalidades de menores recursos, de acuerdo con
la ley.
Art. 170. DE LA PROTECCIÓN DE RECURSOS
Ninguna institución del Estado, ente autónomo, autárquico o descentralizado podrá apropiarse
de ingresos o rentas de las municipalidades.
Art. 171. DE LAS CATEGORIAS Y DE LOS REGIMENES
Las diferentes categorías y regímenes de municipalidades serán establecidos por ley,
atendiendo a las condiciones de población, de desarrollo económico, de situación geográfica,
ecológica, cultural, histórica y a otros factores determinantes de su desarrollo.
Las municipalidades podrán asociarse entre sí para encarar en común la realización de sus
fines y, mediante ley, con municipalidades de otros países.
CAPÍTULO V DE LA FUERZA PUBLICA
Art. 172. DE LA COMPOSICION
La Fuerza Pública está integrada, en forma exclusiva, por las fuerzas militares y policiales.
Art. 173. DE LAS FUERZAS ARMADAS
Las Fuerzas Armadas de la Nación constituyen una institución nacional que será organizada
con carácter permanente, profesional, no deliberante, obediente, subordinada a los poderes del
Estado y sujeta a las disposiciones de esta constitución y de las leyes. Su misión es la de
custodiar la integridad territorial y la de defender a las autoridades legítimamente constituidas,
conformes con esta Constitución y las leyes. Su organización y sus efectivos serán
determinados por la ley.
Los militares en servicio activo ajustarán su desempeño a las leyes y reglamentos, y no
podrán afiliarse a partido o a movimiento político alguno, ni realizar ningún tipo de actividad
política.
Art. 174. DE LOS TRIBUNALES MILITARES
Los tribunales militares solo juzgarán delitos o faltas de carácter militar, calificados como
tales por la ley, y cometidos por militares en servicio activo. Sus fallos podrán ser recurridos
ante la justicia ordinaria.
Cuando se trate de un acto previsto y penado, tanto por la ley penal común como por la ley
penal militar no será considerado como delito militar, salvo que hubiese sido cometido por un
militar en servicio activo y en ejercicio de funciones castrenses. En caso de duda de si el
delito es común o militar, se lo considerará como delito común. Sólo en caso de conflicto
armado internacional, y en la forma dispuesta por la ley, estos tribunales podrán tener
jurisdicción sobre personas civiles y militares retirados.
Art. 175. DE LA POLICIA NACIONAL
La Policía Nacional es una institución profesional, no deliberante, obediente, organizada con
carácter permanente y en dependencia jerárquica del órgano del Poder Ejecutivo encargado de
la seguridad interna de la Nación.
313
Dentro del marco de esta Constitución y de las leyes, tiene la misión de preservar el orden
público legalmente establecido, así como los derechos y la seguridad de las personas y
entidades y de sus bienes; ocuparse de la prevención de los delitos; ejecutar los mandatos de
la autoridad competente y, bajo dirección judicial, investigar los delitos. La ley reglamentará
su organización y sus atribuciones.
El mando de la Policía Nacional será ejercido por un oficial superior de su cuadro
permanente. Los policías en servicio activo no podrán afiliarse a partido o a movimiento
político alguno, ni realizar ningún tipo de actividad política.
La creación de cuerpos de policía independientes podrá ser establecida por ley, la cual fijará
sus atribuciones y respectivas competencias, en el ámbito municipal y en el de los otros
poderes del Estado.
CAPÍTULO VI DE LA POLITICA ECONOMICA DEL ESTADO
SECCIÓN I DEL DESARROLLO ECONOMICO NACIONAL
Art. 176. DE LA POLITICA ECONOMICA Y DE LA PROMOCION DEL DESARROLLO
La política económica tendrá como fines, fundamentalmente, la promoción del desarrollo
económico, social y cultural.
El Estado promoverá el desarrollo económico mediante la utilización racional de los recursos
disponibles, con el objeto de impulsar un crecimiento ordenado y sostenido de la economía,
de crear nuevas fuentes de trabajo y de riqueza, de acrecentar el patrimonio nacional y de
asegurar el bienestar de la población. El desarrollo se fomentará con programas globales que
coordinen y orienten la actividad económica nacional.
Art. 177. DEL CARACTER DE LOS PLANES DE DESARROLLO
Los planes nacionales de desarrollo serán indicativos para el sector privado, y de
cumplimiento obligatorio para el sector público.
SECCIÓN II DE LA ORGANIZACIÓN FINANCIERA
Art. 178. DE LOS RECURSOS DEL ESTADO
Para el cumplimiento de sus fines, el Estado establece impuestos, tasas, contribuciones y
demás recursos; explota por sí, o por medio de concesionarios los bienes de su dominio
privado, sobre los cuales determina regalías, "royalties", compensaciones u otros derechos, en
condiciones justas y convenientes para los intereses nacionales; organiza la explotación de los
servicios públicos y percibe el canon de los derechos que se estatuyan; contrae empréstitos
internos o internacionales destinados a los programas nacionales de desarrollo; regula el
sistema financiero del país, y organiza, fija y compone el sistema monetario.
Art. 179. DE LA CREACIÓN DE TRIBUTOS
Todo tributo, cualquiera sea su naturaleza o denominación, será establecido exclusivamente
por la ley, respondiendo a principios económicos y sociales justos, así como a políticas
favorables al desarrollo nacional.
Es también privativo de la ley determinar la materia imponible, los sujetos obligados y el
carácter del sistema tributario.
Art. 180. DE LA DOBLE IMPOSICION
No podrá ser objeto de doble imposición el mismo hecho generador de la obligación
tributaria. En las relaciones internacionales, el Estado podrá celebrar convenios que eviten la
doble imposición, sobre la base de la reciprocidad.
Art. 181. DE LA IGUALDAD DEL TRIBUTO
La igualdad es la base del tributo. Ningún impuesto tendrá carácter confiscatorio. Su creación
y su vigencia atenderán a la capacidad contributiva de los habitantes y a las condiciones
generales de la economía del país.

TÍTULO II DE LA ESTRUCTURA Y DE LA ORGANIZACIÓN DEL ESTADO


CAPÍTULO I DEL PODER LEGISLATIVO
314
SECCIÓN I DE LAS DISPOSICIONES GENERALES
Art. 182. DE LA COMPOSICION
El Poder Legislativo será ejercido por el Congreso, compuesto de una Cámara de senadores y
otra de diputados.
Los miembros titulares y suplentes de ambas Cámaras serán elegidos directamente por el
pueblo; de conformidad con la ley.
Los miembros suplentes sustituirán a los titulares en caso de muerte, renuncia o inhabilidad
de éstos, por el resto del período constitucional o mientras dure la inhabilidad, si ella fuere
temporal. En los demás casos, resolverá el reglamente de cada Cámara.
Art. 183. DE LA REUNIÓN EN CONGRESO
Sólo ambas Cámaras, reunidas en Congreso, tendrán los siguientes deberes y atribuciones:
1. recibir el juramento o promesa, el asumir el cargo, del Presidente de la República, del
Vicepresidente y de los miembros de la Corte Suprema de Justicia;
2. conceder o denegar al Presidente de la República el permiso correspondiente, en los
casos previstos por esta Constitución;
3. autorizar la entrada de fuerzas armadas extranjeras al territorio de la República y la
salida al exterior de las nacionales, salvo casos de mera cortesía;
4. recibir a Jefes de Estado o de Gobierno de otros países, y
5. los demás deberes y atribuciones que fije esta Constitución.
El Presidente de la Cámara de Senadores y de la Cámara de Diputados presidirán las
reuniones del Congreso en carácter de Presidente y Vicepresidente, respectivamente.
Art. 184. DE LAS SESIONES
Ambas Cámaras del congreso se reunirán anualmente en sesiones ordinarias, desde el primero
de julio de cada año hasta el 30 de junio siguiente con un período de receso desde el veinte y
uno de diciembre al primero de marzo, fecha ésta en la que rendirá su informe el Presidente
de la República. Las dos Cámaras se convocarán a sesiones extraordinarias o prorrogarán sus
sesiones por decisión de la cuarta parte de los miembros de cualquiera de ellas; por resolución
de los dos tercios de integrantes de la Comisión Permanente del Congreso, o por decreto del
Poder Ejecutivo. El Presidente del Congreso o el de la Comisión Permanente deberán
convocarlas en el término perentorio de cuarenta y ocho horas.
Las prórrogas de sesiones serán efectudas del mismo modo. Las extraordinarias se
convocarán para tratar un orden del día determinado, y se clausurarán una vez que éste haya
sido agotado.
Art. 185. DE LAS SESIONES CONJUNTAS
Las Cámaras sesionarán conjuntamente en los casos previstos en esta Constitución en el
Reglamento del Congreso, donde se establecerán las formalidades necesarias.
El quórum legal se formará con la mitad más uno del total de cada Cámara. Salvo los casos en
que esta Constitución establece mayorías calificadas, las decisiones se tomarán por simple
mayoría de votos de los miembros presentes.
Para las votaciones de las Cámaras del Congreso se entenderá por simple mayoría la mitad
más uno de los miembros presentes; por mayoría de dos tercios, las dos terceras partes de los
miembros presentes; por mayoría absoluta, el quórum legal, y por mayoría absoluta de dos
tercios, las dos terceras partes del número total de miembros de cada cámara.
Las disposiciones previstas en este Art. se aplicarán también a las sesiones de ambas cámaras
reunidas en Congreso.
El mismo régimen de quórum y mayorías se aplicará a cualquier órgano colegiado electivo
previsto por esta Constitución.
Art. 186. DE LAS COMISIONES
Las cámaras funcionarán en pleno y en comisiones unicamerales o bicamerales.

315
Todas las comisiones se integrarán, en lo posible, proporcionalmente, de acuerdo con las
bancadas representadas en las Cámaras.
Al inicio de las sesiones anuales de la legislatura, cada Cámara designará las comisiones
asesoras permanentes. Estas podrán solicitar informes u opiniones de personas y entidades
públicas o privadas, a fin de producir sus dictámenes o de facilitar el ejercicio de las demás
facultades que corresponden al Congreso.
Art. 187. DE LA ELECCIÓN Y DE LA DURACION
Los senadores y diputados titulares y suplentes serán elegidos en comicios simultáneos con
los presidenciales.
Los legisladores durarán cinco años en su mandato, a partir del primero de julio y podrán ser
reelectos.
Las vacancias definitivas o temporarias de la Cámara de Diputados serán cubiertas por los
suplentes electos en el mismo departamento, y las de la Cámara de Senadores por los
suplentes de la lista proclamada por la Justicia Electoral.
Art. 188. DEL JURAMENTO O PROMESA
En el acto de su incorporación a las cámaras, los senadores y diputados prestarán juramento o
promesa de desempeñarse debidamente en el cargo y de obrar de conformidad con lo que
prescribe esta Constitución.
Ninguna de las cámaras podrá sesionar, deliberar o adoptar decisiones sin la presencia de la
mayoría absoluta. Un número menor podrá, sin embargo, compeler a los miembros ausentes a
concurrir a las sesiones en los términos que establezca cada Cámara.
Art. 189. DE LAS SENADURIAS VITALICIAS
Los ex presidentes de la República, electos democráticamente, serán senadores vitalicios de la
Nación, salvo que hubiesen sido sometidos a juicio político y hallados culpables. No
integrarán el quórum. Tendrán voz pero no voto.
Art. 190. DEL REGLAMENTO
Cada Cámara redactará su reglamento. Por mayoría de dos tercios podrá amonestar o a
percibir cualquiera de sus miembros, por inconducta en el ejercicio de sus funciones, y
suspenderlo hasta sesenta días sin goce de dieta. Por mayoría absoluta podrá removerlo por
incapacidad física o mental, declarada por la Corte Suprema de Justicia. En los casos de
renuncia, se decidirá por simple mayoría de votos.
Art. 191. DE LAS INMUNIDADES
Ningún miembro del Congreso puede ser acusado judicialmente por las opiniones que emita
en el desempeño de sus funciones. Ningún Senador o Diputado podrá ser detenido, desde el
día de su elección hasta el del cese de sus funciones, salvo que fuera hallado en flagrante
delito que merezca pena corporal. En este caso, la autoridad interviniente lo pondrá bajo
custodia en su residencia, dará cuenta de inmediato del hecho a la Cámara respectiva y al juez
competente, a quien remitirá los antecedentes a la brevedad.
Cuando se formase causa contra un Senador o un Diputado ante los tribunales ordinarios, el
juez lo comunicará, con copia de los antecedentes, a la Cámara respectiva, la cual examinará
el mérito del sumario, y por mayoría de dos tercios resolverá si ha lugar o no desafuero, para
ser sometido a proceso. En caso afirmativo, le suspenderá en sus fueros.
Art. 192. DEL PEDIDO DE INFORMES
Las Cámaras pueden solicitar a los demás poderes del Estado, a los entes autónomos,
autárquicos y descentralizados, y a los funcionarios públicos, los informes sobre asuntos de
interés público que estimen necesarios, exceptuando la actividad jurisdiccional.
Los afectados están obligados a responder los pedidos de informe dentro del plazo que se les
señale, el cual no podrá ser menor de quince días.
Art. 193. DE LA CITACIÓN Y DE LA INTERPELACION

316
Cada Cámara, por mayoría absoluta, podrá citar e interpelar individualmente a los ministros y
a otros altos funcionarios de la Administración Pública, así como a los directores y
administradores de los entes autónomos, autárquicos y descentralizados, a los de entidades
que administren fondos del Estado y a los de las empresas de participación estatal mayoritaria,
cuando se discuta una ley o se estudie un asunto concerniente a sus respectivas actividades.
Las preguntas deben comunicarse al citado con una antelación mínima de cinco días. Salvo
justa causa, será obligatorio para los citados concurrir a los requerimientos, responder a las
preguntas y brindar toda la información que les fuese solicitada.
La ley determinará la participación de la mayoría y de la minoría en la formulación de las
preguntas.
No se podrá citar, interpelar al Presidente de la República, al Vicepresidente ni a los
miembros del Poder Judicial, en materia jurisdiccional.
Art. 194. DEL VOTO DE CENSURA
Si el citado no concurriese a la Cámara respectiva, o ella considerara insatisfactorias sus
declaraciones, ambas Cámaras, por mayoría absoluta de dos tercios, podrá emitir un voto de
censura en su contra y recomendar su remoción del cargo al Presidente de la República o al
superior jerárquico.
Si la moción de censura no fuese aprobada, no se presentará otra sobre el mismo tema
respecto al mismo Ministro o funcionario citados, en ese período de sesiones.
Art. 195. DE LAS COMISIONES DE INVESTIGACION
Ambas Cámaras del congreso podrán construir comisiones conjuntas de investigación sobre
cualquier asunto de interés público, así como sobre la conducta de sus miembros.
Los directores y administradores de los entes autónomos, autárquicos y descentralizados, los
de las entidades que administren fondos del Estado, los de las empresas de participación
estatal mayoritaria, los funcionarios públicos y los particulares están obligados a comparecer
ante las dos Cámaras y suministrarles la información y las documentaciones que se les
requiera. La ley establecerá las sanciones por el incumplimiento de esta obligación.
El Presidente de la República, el Vicepresidente, los ministros del Poder Ejecutivo y los
magistrados judiciales, en materia jurisdiccional, no podrán ser investigados.
La actividad de las comisiones investigadoras no afectará las atribuciones privativas del Poder
Judicial, ni lesionará los derechos y garantías consagrados por esta constitución, sus
conclusiones no serán vinculantes para los tribunales ni menoscabarán las resoluciones
judiciales, sin perjuicio del resultado de la investigación, que podrá ser comunicado a la
justicia ordinaria.
Los jueces ordenarán, conforme a derecho, las diligencias y pruebas que se les requiera, a los
efectos de la investigación.
Art. 196. DE LAS INCOMPATIBILIDADES
Podrán ser electos, pero no podrán desempeñar funciones legislativas, los asesores de
reparticiones públicas, los funcionarios y los demás empleados a sueldo del Estado o de los
municipios, cualquiera sea la denominación con que figuren y el concepto de sus
retribuciones, mientras subsista la designación para dichos cargos.
Se exceptúan de las incompatibilidades establecidas en este Art., el ejercicio parcial de la
docencia y el de la investigación científica.
Ningún Senador o Diputado puede formar parte de empresas que exploten servicios públicos
o tengan concesiones del Estado, ni ejercer la asesoría jurídica o la representación de aquellas,
por sí o por interpósita persona.
Art. 197. DE LAS INHABILIDADES
No pueden ser candidatos a senadores ni a diputados:
1. los condenados por sentencia firme a penas privativas de libertas, mientras dure la
condena;
317
2. los condenados a penas de inhabilitación para el ejercicio de la función pública,
mientras dure aquella;
3. los condenados por la comisión de delitos electorales, por el tiempo que dure la
condena;
4. los magistrados judiciales, los representantes del Ministerio Público, el Procurador
General de la República, el Subcontador, y los miembros de la Justicia Electoral;
5. los ministros o religiosos de cualquier credo;
6. los representantes o mandatarios de empresas, corporaciones o entidades nacionales o
extranjeras, que sean concesionarias de servicios estatales, o de ejecución de obras o
provisión de bienes al Estado;
7. los militares y policías en servicio activo;
8. los candidatos a Presidente de la República o a Vicepresidente, y
9. los propietarios o copropietarios de los medios de comunicación.
Los ciudadanos afectados por las inhabilitaciones previstas en los incisos 4, 5, 6, y 7, y
deberán cesar en su inhabilidad para ser candidatos noventa días, por lo menos, antes de la
fecha de inscripción de sus listas en el Tribunal Superior de Justicia Electoral.
Art. 198. DE LA INHABILIDAD RELATIVA
No podrán ser electos senadores ni diputados los ministros del Poder ejecutivo; los
subsecretarios de Estado; los presidentes de Consejos o administradores generales de los entes
descentralizados, autónomos, autárquicos, binacionales o multinacionales, los de empresas
con participación estatal mayoritaria, y los gobernadores e intendentes, si no renuncian a sus
respectivos cargos y se les acepta las mismas por lo menos noventa días antes de la fecha de
las elecciones.
Art. 199. DE LOS PERMISOS
Los Senadores y diputados solo podrán aceptar cargos de Ministro o de diplomático. Para
desempeñarlos, deberán solicitar permiso a la Cámara respectiva, a la cual podrán
reincorporarse al término de aquellas funciones.
Art. 200. DE LA ELECCIÓN DE AUTORIDADES
Cada Cámara constituirá sus autoridades y designará a sus empleados.
Art. 201. DE LA PÉRDIDA DE LA INVESTIDURA
Los senadores y diputados perderán su investidura, además de los casos ya previstos, por las
siguientes causas:
1. la violación del régimen de las inhabilidades e incompatibilidades previstas en esta
Constitución, y
2. el uso indebido de influencias, fehacientemente comprobado.
Los senadores y diputados no estarán sujetos a mandatos imperativos.
Art. 202. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES
Son deberes y atribuciones del Congreso:
1. velar por la observancia de esta Constitución, de las leyes;
2. dictar los códigos y demás leyes, modificarlos o derogarlos, interpretando esta
Constitución;
3. establecer la división política del territorio de la República, así como la organización
regional, departamental y municipal;
4. legislar sobre materia tributaria;
5. sancionar anualmente la ley del Presupuesto General de la Nación;
6. dictar la Ley Electoral;
7. determinar el régimen legal de la enajenación y el de adquisición de los bienes
fiscales, departamentales y municipales;
8. expedir resoluciones y acuerdos internos, como asimismo formular declaraciones,
conforme con sus facultades;
318
9. aprobar o rechazar los tratados y demás acuerdos internacionales suscritos por el
Poder ejecutivo;
10. aprobar o rechazar la contratación de empréstitos;
11. autorizar, por tiempo determinado, concesiones para la explotación de servicios
públicos nacionales, multinacionales o de bienes del Estado, así como para la
extracción y transformación de minerales sólidos, líquidos y gaseosos;
12. dictar leyes para la organización de la administración de la República, para la creación
de entes descentralizados y para el ordenamiento del crédito público;
13. expedir leyes de emergencia en los casos de desastre o de calamidad pública;
14. recibir el juramento promesa constitucional del Presidente de la República, el del
Vicepresidente y el de los demás funcionarios, de acuerdo con lo establecido en esta
Constitución;
15. recibir del Presidente de la República, un informe sobre la situación general del país,
sobre su administración y sobre los planes de gobiernos; en la forma dispuesta en esta
Constitución;
16. aceptar o rechazar la renuncia del Presidente de la República y la del Vicepresidente;
17. prestar los acuerdos y efectuar los nombramientos que esta Constitución prescribe, así
como las designaciones de representantes del Congreso en otros órganos del Estado;
18. conceder amnistías;
19. decidir el traslado de la Capital de la República a otro punto del territorio nacional, por
mayoría absoluta de dos tercios de los miembros de cada Cámara;
20. aprobar o rechazar, en todo o en parte y previo informe de la Contraloría General de la
República, el detalle y la justificación de los ingresos y egresos de las finanzas
públicas sobre la ejecución presupuestaria;
21. reglamentaria la navegación fluvial, la marítima, la aérea y la espacial, y
22. los demás deberes y atribuciones que fije esta Constitución.
SECCIÓN II DE LA FORMACIÓN Y LA SANCIÓN DE LAS LEYES
Art. 203. DEL ORIGEN Y DE LA INICIATIVA
Las leyes pueden tener origen en cualquiera de las Cámaras del Congreso, a propuestas de sus
miembros; a proposición del Poder ejecutivo; a iniciativa popular o a la de la Corte Suprema
de Justicia, en los casos y en las condiciones previstas en esta Constitución y en la ley.
Las excepciones en cuanto al origen de las leyes a favor de una u otra Cámara o del Poder
Ejecutivo son, en exclusividad, las establecidas expresamente en esta Constitución.
Todo proyecto de ley será presentado con una exposición de motivos.
Art. 204. DE LA APROBACIÓN Y DE LA PROMULGACIÓN DE LOS PROYECTOS
Aprobado un proyecto de ley por la Cámara de origen, pasará inmediatamente para su
consideración a la otra Cámara. Si ésta, a su vez, lo aprobase, el proyecto quedará sancionado
y, si el Poder Ejecutivo le prestara su aprobación, lo promulgará como ley y dispondrá su
publicación dentro de los cinco días.
Art. 205. DE LA PROMULGACIÓN AUTOMATICA
Se considerará aprobado por el Poder Ejecutivo todo proyecto de ley que no fuese objetado ni
devuelto a la Cámara de origen en el plazo de seis día hábiles, si el proyecto contiene hasta
diez Art.s; de doce días hábiles si los Art.s son más de veinte. en todos estos casos, el
proyecto quedará automáticamente promulgado y se dispondrá su publicación.
Art. 206. DEL PROCEDIMIENTO PARA EL RECHAZO TOTAL
Cuando un proyecto de ley, aprobado por una de las Cámaras, fuese rechazado totalmente por
la otra, volverá a aquella para una nueva consideración. Cuando la Cámara de origen se
ratificase por mayoría absoluta, pasará de nuevo a la revisora, la cual solo podrá volver a
rechazarlo por mayoría absoluta de dos tercios y, de no obtenerla, se reputará sancionado el
proyecto.
319
Art. 207. DEL PROCEDIMIENTO PARA LA MODIFICACIÓN PARCIAL
Un proyecto de ley aprobado por la Cámara de origen, que haya sido parcialmente modificado
por la otra, pasará a la primera, donde solo se discutirá cada una de las modificaciones hechas
por la revisora.
Para estos casos, se establece lo siguiente:
1. si todas las modificaciones se aceptasen, el proyecto quedará sancionado;
2. si todas las modificaciones se rechazasen por mayoría absoluta, pasarán de nuevo a la
Cámara revisora y, si ésta se ratificase en su sanción anterior por mayoría absoluta, el
proyecto quedará sancionado; si no se ratificase, quedará sancionado el proyecto
aprobado por la Cámara de origen, y
3. si por parte de las modificaciones fuesen aceptadas y otras rechazadas, el proyecto
pasará nuevamente a la Cámara revisora, donde solo se discutirán en forma global las
modificaciones rechazadas, y si se aceptasen por mayoría absoluta, o se las rechacen,
el proyecto quedará sancionado en la forma resuelta por ella.
El proyecto de ley sancionado, con cualquiera de las alternativas previstas en este Art., pasará
al Poder Ejecutivo para su promulgación.
Art. 208. DE LA OBJECIÓN PARCIAL
Un proyecto de ley, parcialmente objetado por el Poder Ejecutivo, será devuelto a la Cámara
de origen para su estudio y pronunciamiento sobre las objeciones. Si ésta Cámara las
rechazara por mayoría absoluta, el proyecto pasará a la Cámara revisora, donde seguirá igual
trámite. Si ésta también rechazara dichas objeciones por la misma mayoría, la sanción
primitiva quedará confirmada, y el Poder Ejecutivo lo promulgará y lo publicará. Si las
Cámaras desistieran sobre las objeciones, el proyecto no podrá repetirse en las sesiones de ese
año.
Las objeciones podrán ser total o parcialmente aceptadas o rechazadas por ambas Cámaras del
Congreso. Si las objeciones fueran total o parcialmente aceptadas, ambas Cámaras podrán
decidir, por mayoría absoluta, la sanción de la parte no objetada del proyecto de ley, en cuyo
caso éste deberá ser promulgado y publicado por el Poder Ejecutivo.
Las objeciones serán tratadas por la Cámara de origen dentro de los sesenta días de su ingreso
a la misma, y en idéntico caso por la Cámara revisora.
Art. 209. DE LA OBJECIÓN TOTAL
Si un proyecto de ley fuese rechazado totalmente por el Poder Ejecutivo, volverá a la Cámara
de origen, la cual lo discutirá nuevamente. Si ésta confirmara la sanción inicial por mayoría
absoluta, pasará a la Cámara revisora; si ésta también lo aprobase por igual mayoría, el Poder
Ejecutivo lo promulgará y publicará. Si las Cámaras disintieran sobre el rechazo total, el
proyecto no podrá repetirse en las sesiones de ese año.
Art. 210. DEL TRATAMIENTO DE URGENCIA
El Poder Ejecutivo podrá solicitar el tratamiento urgente de proyectos de ley que envíe al
Congreso. En estos casos, el proyecto será tratado por la Cámara de origen dentro de los
treinta días de su recepción, y por la revisora en los treinta días siguientes. El proyecto se
tendrá por aprobado si no se lo rechazara dentro de los plazos señalados.
El tratamiento de urgencia podrá ser solicitado por el Poder Ejecutivo aún después de la
remisión del proyecto, o en cualquier etapa de su trámite. En tales casos, el plazo empezará a
correr desde la recepción de la solicitud.
Cada Cámara, por mayoría de dos tercios, podrá dejar sin efecto, en cualquier momento, el
trámite de urgencia, en cuyo caso el ordinario se aplicará a partir de ese momento.
El Poder Ejecutivo, dentro del período legislativo ordinario, podrá solicitar al Congreso
únicamente tres proyectos de ley de tratamiento urgente, salvo que la Cámara de origen, por
mayoría de dos tercios, acepte dar dicho tratamiento a otros proyectos.
Art. 211. DE LA SANCIÓN AUTOMATICA
320
Un proyecto de ley presentado en una Cámara u otra, y aprobado por la Cámara de origen en
las sesiones ordinarias, pasará a la Cámara revisora, la cual deberá despacharlo dentro del
término improrrogable de tres mese, cumplido el cual, y mediando comunicación escrita del
Presidente de la Cámara de origen a la Cámara revisora, se reputará que ésta le ha prestado su
voto favorable, pasando al Poder Ejecutivo para su promulgación y publicación. El término
indicado quedará interrumpido desde el veintiuno de diciembre hasta el primero de marzo. La
Cámara revisora podrá despachar el proyecto de ley en el siguiente período de sesiones
ordinarias, siempre que lo haga dentro del tiempo que resta para el vencimiento del plazo
improrrogable de tres meses.
Art. 212. DEL RETIRO O DEL DESISTIMIENTO
El Poder Ejecutivo podrá retirar del Congreso los proyectos de ley que hubiera enviado, o
desistir de ellos, salvo que estuviesen aprobados por la Cámara de origen.
Art. 213. DE PUBLICACIÓN
La ley no obliga sino en virtud de su promulgación y su publicación. Si el Poder Ejecutivo no
cumpliese el deber de hacer publicar las leyes en los términos y en las condiciones que esta
Constitución establece, el Presidente del congreso o, en su defecto, el Presidente de la Cámara
de Diputados, dispondrá su publicación.
Art. 214. DE LAS FORMULAS
La fórmula que se usará en la sanción de las leyes es: "El Congreso de la Nación paraguaya
sanciona con fuerza de ley". Para la promulgación de las mismas, la fórmula es: "Téngase por
ley de la República, publíquese e insértese en el Registro Oficial".
Art. 215. DE LA COMISIÓN DELEGADA
Cada Cámara, con el voto de la mayoría absoluta, podrá delegar en comisiones el tratamiento
de proyectos de ley, de resoluciones y de declaraciones. Por simple mayoría, podrá retirarlos
en cualquier estado antes de la aprobación, rechazo o sanción por la comisión.
No podrán ser objetos de delegación el Presupuesto General de la Nación, los códigos, los
tratados internacionales, los proyectos de ley de carácter tributario y castrense, los que
tuviesen relación con la organización de los poderes del Estado y los que se originasen en la
iniciativa popular.
Art. 216. DEL PRESUPUESTO GENERAL DE LA NACIÓN
El proyecto de Ley del Presupuesto General de la Nación será presentado anualmente por el
Poder Ejecutivo, a más tardar el primero de septiembre, y su consideración por el Congreso
tendrá prioridad absoluta. Se integrará una comisión bicameral la cual, recibido el proyecto, lo
estudiará y presentará dictamen a sus respectivas Cámaras en un plazo no mayor de sesenta
días corridos. Recibidos los dictámenes, la Cámara de Diputados se abocará al estudio del
proyecto en sesiones plenarias, y deberá despacharlo en un plazo no mayor de quince días
corridos. La Cámara de Senadores dispondrá de igual plazo para el estudio del proyecto, con
las modificaciones introducidas por la Cámara de Diputados, y si las aprobase, el mismo
quedará sancionado. En caso contrario, el proyecto volverá con las objeciones a la otra
Cámara, la cual se expedirá dentro del plazo de diez días corridos, exclusivamente sobre los
puntos discrepantes del Senado, procediéndose en la forma prevista en el Art. 208, inciso 1.,
2. y 3., siempre dentro del plazo de diez días corridos.
Todos los plazos establecidos en este Art. son perentorios, y la falta de despacho de
cualquiera de los proyectos se entenderá como aprobación. Las Cámaras podrán rechazar
totalmente el proyecto presentado a su estudio por el Poder Ejecutivo, solo por mayoría
absoluta de dos tercios en cada una de ellas.
Art. 217. DE LA VIGENCIA DEL PRESUPUESTO
Si el Poder Ejecutivo, por cualquier razón, no hubiese presentado al Poder Legislativo el
proyecto de Presupuesto General de la Nación dentro de los plazos establecidos, o el mismo

321
fuera rechazado conforme con el Art. anterior, seguirá vigente el Presupuesto del ejercicio
fiscal en curso.
SECCIÓN III DE LA COMISIÓN PERMANENTE DEL CONGRESO
Art. 218. DE LA CONFORMACIÓN
Quince días antes de entrar en receso, cada Cámara designará por mayoría absoluta a los
senadores y a los diputados quienes, en número de seis y doce como titulares y tres y seis
como suplentes, respectivamente, conformarán la comisión Permanente del congreso, la cual
ejercerá sus funciones desde el comienzo del período de receso del congreso hasta el reinicio
de las sesiones ordinarias.
Reunidos los miembros titulares de la Comisión Permanente, designarán Presidente y demás
autoridades, y de ello se dará aviso escrito a los otros poderes del Estado.
Art. 219. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES
Son deberes y atribuciones de la Comisión Permanente del Congreso:
1. velar por la observancia de esta Constitución y de las leyes;
2. dictar su propio reglamento;
3. convocar a las Cámaras a sesiones preparatorias, con el objeto de que la apertura anual
del congreso se efectúe en tiempo oportuno;
4. convocar y organizar las sesiones extraordinarias de ambas Cámaras, de conformidad
con lo establecido en esta constitución;
5. autorizar al Presidente de la República, durante el receso del Congreso, a ausentarse
temporalmente del territorio nacional, en los casos previstos en esta Constitución, y
6. los demás deberes y atribuciones que fije esta Constitución.
Art. 220. DE LOS INFORMES FINALES
La Comisión Permanente del Congreso, al término de su actuación, prestará a cada Cámara un
informe final de las mismas, y será responsable ante éstas de las medidas que hubiese
adoptado o autorizado.
SECCIÓN IV DE LA CAMARA DE DIPUTADOS
Art. 221. DE LA COMPOSICIÓN
La Cámara de Diputados es la Cámara de la representación departamental. Se compondrá de
ochenta miembros titulares como mínimo, y de igual número de suplentes, elegidos
directamente por el pueblo en colegios electorales departamentales. La ciudad de la Asunción
constituirá un Colegio Electoral con representación en dicha Cámara. Los departamentos
serán representados por un diputado titular y un suplente, cuanto menos; el Tribunal Superior
de Justicia Electoral, antes de cada elección y de acuerdo con el número de electores de cada
departamento, establecerá el número de bancas que corresponda a cada uno de ellos. La ley
podrá acrecentar la cantidad de diputados conforme con el aumento de los electores.
Para se electo diputado titular o suplente se requiere la nacionalidad paraguaya natural y haber
cumplido veinticinco años.
Art. 222. DE LAS ATRIBUCIONES EXCLUSIVAS DE LA CAMARA DE DIPUTADOS
Son atribuciones exclusivas de la Cámara de Diputados:
1. iniciar la consideración de los proyectos de ley relativos a la legislación departamental
y a la municipal;
2. designar o proponer a los magistrados y funcionarios, de acuerdo con lo que establece
esta constitución y la ley;
3. prestar acuerdo para la intervención de los gobiernos departamentales y municipales, y
4. las demás atribuciones exclusivas que fije esta Constitución.
SECCIÓN V DE LA CAMARA DE SENADORES
Art. 223. DE LA COMPOSICIÓN
La Cámara de Senadores se compondrá de cuarenta y cinco miembros titulares como mínimo,
y de treinta suplentes, elegidos directamente por el pueblo en una sola circunscripción
322
nacional. La ley podrá acrecentar la cantidad de senadores, conforme con el aumento de los
electores.
Para ser electo senador titular o suplente se requieren la nacionalidad paraguaya natural y
haber cumplido treinta y cinco años.
Art. 224. DE LAS ATRIBUCIONES EXCLUSIVAS DE LA CAMARA DE SENADORES
Son atribuciones exclusivas de la Cámara de Senadores:
1. iniciar la consideración de los proyectos de ley relativos a la aprobación de tratados y
de acuerdos internacionales;
2. prestar acuerdo para los ascensos militares y los de la Policía Nacional, desde el grado
de Coronel del Ejército o su equivalente en las otras armas y servicios, y desde el de
Comisario Principal para la Policía Nacional;
3. prestar acuerdo para la designación de los embajadores y ministros plenipotenciarios
en el exterior;
4. designar o proponer a los Magistrados y funcionarios de acuerdo con lo que establece
esta constitución;
5. autorizar el envío de fuerzas militares paraguayas permanentes al exterior, así como el
ingreso de tropas militares extranjeras al país;
6. prestar acuerdo para la designación del Presidente y los directores de la Banca Central
del Estado;
7. prestar acuerdo para la designación de los directores paraguayos de los entes
binacionales, y
8. las demás atribuciones exclusivas que fije esta Constitución.
SECCIÓN VI DEL JUICIO POLITICO
Art. 225. DEL PROCEDIMIENTO
El Presidente de la República, el Vicepresidente, los ministros del Poder Ejecutivo, los
ministros de la Corte Suprema de Justicia, el Fiscal General del Estado, el Defensor del
Pueblo, el Contralor General de la República, el Subcontralor y los integrantes del Tribunal
Superior de Justicia Electoral, sólo podrán ser sometidos a juicio político por mal desempeño
de sus funciones, por delitos cometidos en el ejercicio de sus cargos o por delitos comunes.
La acusación será formulada por la Cámara de Diputados, por mayoría de dos tercios.
Corresponderá a la Cámara de Senadores, por mayoría absoluta de dos tercios, juzgar en
juicio público a los acusados por la Cámara de Diputados y, en caso, declararlos culpables, al
sólo efecto de separarlos de sus cargos, En los casos de supuesta comisión de delitos, se
pasarán los antecedentes a la justicia ordinaria.
CAPÍTULO II DEL PODER EJECUTIVO
SECCIÓN I DEL PRESIDENTE DE LA REPUBLICA Y DEL VICEPRESIDENTE
Art. 226. DEL EJERCICIO DEL PODER EJECUTIVO
El Poder Ejecutivo es ejercido por el Presidente de la República.
Art. 227. DEL VICEPRESIDENTE
Habrá un Vicepresidente de la República quién, en caso de impedimento o ausencia temporal
del Presidente o vacancia definitiva de dicho cargo, lo sustituirá de inmediato, con todas sus
atribuciones.
Art. 228. DE LOS REQUISITOS
Para ser Presidente de la República o Vicepresidente se requiere:
1. tener nacionalidad paraguaya natural;
2. haber cumplido treinta y cinco años, y
3. estar en pleno ejercicio de sus derechos civiles y políticos.
Art. 229. DE LA DURACIÓN DEL MANDATO
El Presidente de la República y el Vicepresidente durarán cinco años improrrogables en el
ejercicio de sus funciones, a contar desde el quince de agosto siguiente a las elecciones. No
323
podrán ser reelectos en ningún caso. El Vicepresidente sólo podrá ser electo Presidente para el
período posterior, si hubiese cesado en su cargo seis meses antes de los comicios generales.
Quien haya ejercido la presidencia por más de doce meses no podrá ser electo Vicepresidente
de la República.
Art. 230. DE LAS ELECCIONES PRESIDENCIALES
El Presidente de la República y el Vicepresidente serán elegidos conjunta y directamente por
el pueblo, por mayoría simple de votos, en comicios generales que se realizarán entre noventa
y ciento veinte días antes de expirar el período constitucional vigente.
Art. 231. DE LA ASUNCIÓN DE LOS CARGOS
En caso de que, en la fecha en la cual deban asumir sus funciones el Presidente de la
República y el Vicepresidente, no hayan sido proclamados en la forma dispuesta por esta
Constitución, o fueran anuladas las elecciones, el Presidente cesante entregará el mando al
Presidente de la Corte Suprema de Justicia, quien lo ejercerá hasta que se efectúe la
transmisión, quedando en suspenso en sus funciones judiciales.
Art. 232. DE LA TOMA DE POSESIÓN DE LOS CARGOS
El Presidente de la República y el Vicepresidente tomarán posesión de sus cargos ante el
Congreso, prestando el juramento o la promesa de cumplir con fidelidad y patriotismo sus
funciones constitucionales. Si el día señalado el congreso no alcanzara el quórum para
reunirse, la ceremonia se cumplirá ante la Corte Suprema de Justicia.
Art. 233. DE LAS AUSENCIAS
El Presidente de la República, o quien lo esté sustituyendo en el cargo, no podrá ausentarse
del país sin dar aviso previo al Congreso y a la Corte Suprema de Justicia. Si la ausencia
tuviere que ser por más de cinco días, se requerirá la autorización de la Cámara de Senadores.
Durante el receso de las Cámaras, la autorización será otorgada por la Comisión Permanente
del Congreso.
En ningún caso, el Presidente de la República y el Vicepresidente podrán estar
simultáneamente ausentes del territorio nacional.
Art. 234. DE LA ACEFALIA
En caso de impedimento o ausencia del Presidente de la República, lo reemplazará el
Vicepresidente, y a falta de éste y en forma sucesiva, el Presidente del Senado, el de la
Cámara de Diputados y el de la Corte Suprema de Justicia.
El Vicepresidente electo asumirá la presidencia de la República si ésta quedase vacante antes
o después de la proclamación del Presidente, y la ejercerá hasta la finalización del período
constitucional.
Si se produjera la vacancia definitiva de la Vicepresidencia durante os tres primeros años del
período constitucional, se convocará a elecciones para cubrirla. Si la misma tuviese lugar
durante los dos últimos años, el Congreso, por mayoría absoluta de sus miembros, designará a
quien debe desempeñar el cargo por el resto del período.
Art. 235. DE LAS INHABILIDADES
Son inhábiles para ser candidatos a Presidente de la República o Vicepresidente:
1. Los ministros del Poder Ejecutivo, los viceministros o subsecretarios y los
funcionarios de rango equivalente, los directores generales de reparticiones públicas y
los presidentes de consejos, directores, gerentes o administradores generales de los
entes descentralizados, autárquicos, autónomos, binacionales o multinacionales, y los
de empresas con participación estatal mayoritaria;
2. los magistrados judiciales y los miembros del Ministerio Público;
3. el Defensor del Pueblo, el Contralor General de la República y el Subcontralor, el
Procurador General de la República, los integrantes del Consejo de la Magistratura y
los miembros del Tribunal Superior de Justicia Electoral;

324
4. los representantes o mandatarios de empresas, corporaciones o entidades nacionales o
extranjeras, que sean concesionarias de servicios estatales, o de ejecución de obras o
provisión de bienes al Estado;
5. los ministros de cualquier religión o culto;
6. los intendentes municipales y los gobernadores;
7. los miembros en servicio activo de las Fuerzas Armadas de la Nación y los de la
Policía Nacional, salvo que hubieran pasado a retiro un año antes, por lo menos, del
día de los comicios generales;
8. los propietarios o copropietarios de los medios de comunicación, y
9. el cónyuge o los parientes dentro del cuarto grado de consanguinidad, o segundo de
afinidad, de quien se encuentre en ejercicio de la presidencia al realizarse la elección,
o la haya desempeñado por cualquier tiempo en el año anterior a la celebración de
aquélla.
En los casos previstos en los incisos 1., 2., 3. y 6., los afectados deben haber renunciado y
dejado de ejercer sus respectivos cargos, cuanto menos seis meses antes del día de las
elecciones, salvo los casos de vacancia definitiva de la Vicepresidencia.
Art. 236. DE LA INHABILIDAD POR ATENTAR CONTRA LA CONSTITUCION
Los jefes militares o los caudillos civiles de un golpe de Estado, revolución armada o
movimientos similares que atenten contra el orden establecido por esta Constitución, y que en
consecuencia asuman el Poder Ejecutivo o mando militar propio de oficiales generales,
quedan inhabilitados para el ejercicio de cualquier cargo público por dos períodos
constitucionales consecutivos, sin perjuicio de sus respectivas responsabilidades civiles y
penales.
Art. 237. DE LAS INCOMPATIBILIDADES
El Presidente de la República y el Vicepresidente no pueden ejercer cargos públicos o
privados, remunerados o no, mientras duren en sus funciones. Tampoco pueden ejercer el
comercio, la industria o actividad profesional alguna, debiendo dedicarse en exclusividad a
sus funciones.
Art. 238. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES DEL PRESIDENTE DE LA
REPUBLICA
Son deberes y atribuciones de quien ejerce la presidencia de la República:
1. representar al Estado y dirigir la administración general del país;
2. cumplir y hacer cumplir esta Constitución y las leyes;
3. participar en la formación de las leyes, de conformidad con esta Constitución,
promulgarlas y hacerlas publicar, reglamentarlas y controlar su cumplimiento;
4. vetar, total o parcialmente, las leyes sancionadas por el Congreso, formulando las
observaciones u objeciones que estime convenientes;
5. dictar decretos que, para su validez, requieren el refrendo del Ministro del ramo;
6. nombrar y remover por sí a los ministros del Poder Ejecutivo, al Procurador General
de la República y a los funcionarios de la Administración Pública, cuya designación y
permanencia en los cargos no estén reglados de otro modo por esta Constitución o por
la ley;
7. el manejo de las relaciones exteriores de la República. En caso de agresión externa, y
previa autorización del Congreso, declarar el Estado de Defensa Nacional o concertar
la paz; negociar y firmar tratados internacionales; recibir a los jefes de misiones
diplomáticas de los países extranjeros y admitir a sus cónsules y designar
embajadores, con acuerdo del Senado;
8. dar cuenta al Congreso, al inicio de cada período anual de sesiones, de las gestiones
realizadas por el Poder Ejecutivo, así como informar de la situación general de la
República y de los planes para el futuro;
325
9. es Comandante en jefe de las Fuerzas Armadas de la Nación, cargo que no se delega.
De acuerdo con la ley, dicta los reglamentos militares, dispone de las Fuerzas
Armadas, organiza y distribuye. Por sí, nombrar y remover a los comandantes de la
Fuerza Pública. Adopta las medidas necesarias para la defensa nacional. Provee, por sí
los grados en todas las armas, hasta el de teniente coronel o sus equivalentes y, con
acuerdo del Senado, los grados superiores;
10. indultar o conmutar las penas impuestas por los jueces y tribunales de la República, de
conformidad con la ley, y con informe de la Corte Suprema de Justicia;
11. convocar a sesiones extraordinarias al Congreso, a cualquiera de las Cámaras o a
ambas a la vez, debiendo éstas tratar sólo aquellos asuntos sometidos a su respectiva
consideración;
12. proponer al Congreso proyectos de ley, los cuales podrán ser presentados con solicitud
de urgente consideración, en los términos establecidos en ésta Constitución;
13. disponer la recaudación e inversión de las rutas de la República, de acuerdo con el
Presupuesto General de la Nación y con las leyes, rindiendo cuenta anualmente al
Congreso de su ejecución;
14. preparar y presentar a consideración de las Cámaras el proyecto anual de Presupuesto
General de la Nación;
15. hacer cumplir las disposiciones de las autoridades creadas por esta Constitución, y
16. los demás deberes y atribuciones que fije esta Constitución.
Art. 239. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES DEL VICEPRESIDENTE DE
LA REPUBLICA
Son deberes y atribuciones de quien ejerce la Vicepresidencia de la República:
1. sustituir de inmediato al Presidente de la República, en los casos previstos por esta
Constitución;
2. representar al Presidente de la República nacional e internacionalmente, por
designación del mismo, con todas las prerrogativas que le corresponden a aquél, y
3. participar de las deliberaciones del Consejo de Ministros y coordinar las relaciones
entre el Poder Ejecutivo y el legislativo.
SECCIÓN II DE LOS MINISTROS Y DEL CONSEJO DE MINISTROS
Art. 240. DE LAS FUNCIONES
La dirección y la gestión de los negocios públicos están confiadas a los ministros del Poder
Ejecutivo, cuyo número y funciones serán determinados por la ley. En caso de ausencia
temporal de uno de ellos, lo sustituirá uno de los viceministros del ramo.
Art. 241. DE LOS REQUISITOS, DE LAS INCOMPATIBILIDADES Y DE LAS
INMUNIDADES
Para ser Ministro se exigen los mismos requisitos que para el cargo de Diputado. Tienen,
además, iguales incompatibilidades que las establecidas para el Presidente de la República,
salvo el ejercicio de la docencia. No pueden ser privados de su libertad, excepto en los casos
previstos para los miembros del Congreso.
Art. 242. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES DE LOS MINISTROS
Los ministros son los jefes de la administración de sus respectivas carteras, en las cuales, bajo
la dirección del Presidente de la República promueven y ejecutan la política relativa a las
materias de su competencia.
Son solidariamente responsables de los actos de gobierno que refrendan.
Anualmente, presentarán al Presidente de la República una memoria de sus gestiones, la cual
será puesta a conocimiento del Congreso.
Art. 243. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES DEL CONSEJO DE
MINISTROS

326
Convocados por el Presidente de la República, los Ministros se reúnen en Consejo a fin de
coordinar las tareas ejecutivas, impulsar la política del gobierno y adoptar decisiones
colectivas:
Compete a dicho Consejo:
1. deliberar sobre todos los asuntos de interés público que el Presidente de la República
someta a su consideración, actuando como cuerpo consultivo, así como considerar las
iniciativas en materia legislativa, y
2. disponer la publicación periódica de sus resoluciones.
SECCIÓN III DE LA PROCURADURIA DE GENERAL DE LA REPUBLICA
Art. 244. DE LA COMPOSICIÓN
La Procuraduría General de la República está a cargo de un procurador General y de los
demás funcionarios que determine la ley.
Art. 245. DE LOS REQUISITOS, Y DEL NOMBRAMIENTO
El procurador General de la República debe reunir los mismos requisitos exigidos para ser
Fiscal General del Estado. Es nombrado y removido por el Presidente de la República. Las
incompatibilidades serán establecidas en la ley.
Art. 246. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES
Son deberes y atribuciones del procurador General de la República:
1. representar y defender, judicial o extrajudicialmente los intereses patrimoniales de la
República;
2. dictaminar en los casos y con los efectos señalados en las leyes;
3. asesorar jurídicamente a la Administración Pública en la forma que determine la ley, y
4. los demás deberes y atribuciones que fije la ley.
CAPÍTULO III DEL PODER JUDICIAL
SECCIÓN I DE LAS DISPOSICIONES GENERALES
Art. 247. DE LA FUNCIÓN Y DE LA COMPOSICION
El Poder Judicial es el custodio de esta Constitución. La interpuesta, la cumple y la hace
cumplir.
La administración de justicia está a cargo del Poder Judicial, ejercido por la Corte Suprema de
Justicia, por los tribunales y por los juzgados, en la forma que establezcan esta Constitución y
la ley.
Art. 248. DE LA INDEPENDENCIA DEL PODER JUDICIAL
Queda garantizada la independencia del Poder Judicial. Sólo éste puede conocer y decidir en
actos de carácter contencioso.
En ningún caso los miembros de los otros poderes, ni otros funcionarios, podrán arrogarse
atribuciones judiciales que no estén expresamente establecidas en esta Constitución, ni revivir
procesos fenecidos, ni paralizar los existentes, ni intervenir de cualquier modo n los juicios.
Actos de esta naturaleza conllevan nulidad insanable. Todo ello sin perjuicio de las decisiones
arbitrales en el ámbito del derecho privado, con las modalidades que la ley determine para
asegurar el derecho de defensa y las soluciones equitativas.
Los que atentasen contra la independencia del Poder Judicial y la de sus magistrados,
quedarán inhabilitados para ejercer toda función pública por cinco años consecutivos, además
de las penas que fije la ley.
Art. 249. DE LA AUTARQUIA PRESUPUESTARIA
El Poder Judicial goza de autonomía presupuestaria. En el Presupuesto General de la Nación
se le asignará una cantidad no inferior al tres por ciento del presupuesto de la Administración
Central.
El presupuesto del Poder Judicial será aprobado por el congreso, y la Contraloría General de
la República verificará todos sus gastos e inversiones.
Art. 250. DEL JURAMENTO O PROMESA
327
Los ministros de la Corte Suprema de Justicia prestarán juramento o promesa ante el
Congreso, al asumir sus cargos. Los integrantes de los demás tribunales y de los juzgados lo
harán ante la Corte Suprema de Justicia.
Art. 251. DE LA DESIGNACION
Los miembros de los tribunales y juzgados de toda la República serán designados por la Corte
Suprema de Justicia, a propuesta en terna del Consejo de la Magistratura.
Art. 252. DE LA INAMOVILIDAD DE LOS MAGISTRADOS
Los magistrados son inamovibles en cuanto al cargo, a la sede o al grado, durante el término
para el cual fueron nombrados. No pueden ser trasladados ni ascendidos sin su consentimiento
previo y expreso. Son designados por períodos de cinco años, a contar de su nombramiento.
Los magistrados que hubiesen sido confirmados por dos períodos siguientes al de su elección,
adquieren la inamovilidad en el cargo hasta el límite de edad establecido para los miembros
de la Corte Suprema de Justicia.
Art. 253. DEL ENJUICIAMIENTO Y DE LA REMOCIÓN DE LOS MAGISTRADOS
Los magistrados judiciales sólo podrán ser enjuiciados y removidos por la comisión de
delitos, o mal desempeño de sus funciones definido en la ley, por decisión de un Jurado de
enjuiciamiento de magistrados. Este estará integrado por dos ministros de la Corte Suprema
de Justicia, dos miembros del Consejo de la Magistratura, dos senadores y dos diputados;
éstos cuatro últimos deberán ser abogados. La ley regulará el funcionamiento del Jurado de
enjuiciamiento de magistrados.
Art. 254. DE LAS INCOMPATIBILIDADES
Los magistrados no pueden ejercer, mientras duren en sus funciones, otro cargo público o
privado, remunerado o no, salvo la docencia o la investigación científica, a tiempo parcial.
Tampoco pueden ejercer el comercio, la industria o actividad profesional o política alguna, no
desempeñar cargos en organismos oficiales o privados, partidos, asociaciones o movimientos
políticos.
Art. 255. DE LAS INMUNIDADES
Ningún magistrado judicial podrá ser acusado o interrogado judicialmente por las opiniones
emitidas en el ejercicio de sus funciones. No podrá ser detenido o arrestado sino en caso de
flagrante delito que merezca pena corporal. Si así ocurriese la autoridad interviniente debe
ponerlo bajo custodia en su residencia, comunicar de inmediato el hecho a la Corte Suprema
de Justicia, y remitir los antecedentes al juez competente.
Art. 256. DE LA FORMA DE LOS JUICIOS
Los juicios podrán ser orales y públicos, en la forma y en la medida que la ley determine.
Toda sentencia judicial debe estar fundada en esta Constitución y en la ley. La crítica a los
fallos es libre.
El proceso laboral será total y estará basado en los principios de inmediatez, economía y
concentración.
Art. 257. DE LA OBLIGACIÓN DE COLABORAR CON LA JUSTICIA
Los órganos del Estado se subordinan a los dictados de la ley, y las personas que ejercen
funciones al servicio del mismo están obligadas a prestar a la administración de justicia toda
la cooperación que ella requiera para el cumplimiento de sus mandatos.
SECCIÓN II DE LA CORTE SUPREMA DE JUSTICIA
Art. 258. DE LA INTEGRACIÓN Y DE LOS REQUISITOS
La Corte Suprema de Justicia estará integrada por nueve miembros. Se organizarán en salas,
uno de las cuales será constitucional, elegirá de su seno, cada año, a su Presidente. Sus
miembros llevarán el título de Ministro.
Sus requisitos para integrar la Corte Suprema de Justicia, tener nacionalidad paraguaya
natural, haber cumplido treinta y cinco años, poseer título universitario de Doctor en Derecho
y gozar de notoria honorabilidad. Además, haber ejercido efectivamente durante el término de
328
diez años, cuanto menos, la profesión, la magistratura judicial o la cátedra universitaria en
materia jurídica, conjunta, separada o sucesivamente.
Art. 259. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES
Son deberes y atribuciones de la Corte Suprema de Justicia:
1. ejercer la superintendencia de todos los organismos del Poder Judicial y decidir, en
instancia única, los conflictos de jurisdicción y de competencia, conforme con la ley;
2. dictar su propio reglamento interno. Presentar anualmente, una memoria sobre las
gestiones realizadas, el Estado, y las necesidades de la justicia nacional a los Poderes
Ejecutivo y Legislativo;
3. conocer y resolver en los recursos ordinarios que la ley determine;
4. conocer y resolver, en instancia original, los hábeas corpus, sin perjuicio de la
competencia de otros jueces o tribunales;
5. conocer y resolver sobre inconstitucionalidad;
6. conocer y resolver en el recurso de casación, en la forma y medida que establezca la
ley;
7. suspender preventivamente por sí o a pedido del Jurado de Enjuiciamiento de
Magistrados por mayoría absoluta de votos de sus miembros, en el ejercicio de sus
funciones, a magistrados judiciales enjuiciados, hasta tanto se dicte resolución
definitiva en el caso;
8. supervisar los institutos de detención y reclusión;
9. entender en las contiendas de competencias entre el Poder Ejecutivo y los gobiernos
departamentales y entre éstos y los municipios, y
10. los demás deberes y atribuciones que fije esta Constitución y las leyes.
Art. 260. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES DE LA SALA
CONSTITUCIONAL
Son deberes y atribuciones de la Sala Constitucional:
1. conocer y resolver sobre la inconstitucionalidad de las leyes y de otros instrumentos
normativos, declarando la inaplicabilidad de las disposiciones contrarias a esta
Constitución en cada caso concreto, y en fallo que sólo tendrá efecto con relación a
este caso, y
2. decidir sobre la inconstitucionalidad de las sentencias definitivas o interlocutorias,
declarando la nulidad de las que resulten contrarias a esta Constitución.
El procedimiento podrá iniciarse por acción ante la Sala Constitucional de la Corte Suprema
de Justicia, y por vía de la excepción en cualquier instancia, en cuyo caso se elevarán los
antecedentes a la Corte.
Art. 261. DE LA REMOCIÓN Y CESACIÓN DE LOS MINISTROS DE LA CORTE
SUPREMA DE JUSTICIA
Los ministros de la Corte Suprema de Justicia sólo podrán ser removidos por juicio político.
Cesarán en el cargo cumplida la edad de setenta y cinco años.
SECCIÓN III DEL CONSEJO DE LA MAGISTRATURA
Art. 262. DE LA COMPOSICION
El Consejo de la Magistratura está compuesto por:
1. un miembro de la Corte Suprema de Justicia, designado por ésta;
2. un representante del Poder Ejecutivo;
3. un Senador y un Diputado, ambos nominados por su Cámara respectiva;
4. dos abogados de la matrícula, nombrados por sus pares en elección directa;
5. un profesor de las facultades de Derecho de la Universidad Nacional, elegido por sus
pares, y
6. un profesor de las facultades de Derecho con no menos de veinte años de
funcionamiento, de las Universidades privadas, elegido por sus pares.
329
La ley reglamentará los sistemas de elección pertinentes.
Art. 263. DE LOS REQUISITOS Y DE LA DURACION
Los miembros del Consejo de la magistratura deben reunir los siguientes requisitos:
Ser de nacionalidad paraguaya, haber cumplido treinta y cinco años, poseer título
universitario de abogado, y, durante el término de diez años cuanto menos, haber ejercido
efectivamente la profesión, o desempeñado funciones en la magistratura judicial, o ejercido la
cátedra universitaria en materia jurídica, conjunta, separado o alternativamente.
Durará tres años en sus funciones y gozarán de iguales inmunidades que los Ministros de la
Corte Suprema de Justicia. Tendrán las incompatibilidades que establezca la ley.
Art. 264. DE LOS DEBERES Y DE LA ATRIBUCIONES
Son deberes y atribuciones del Consejo de la Magistratura:
1. proponer las ternas de candidatos para integrar la Corte Suprema de Justicia, previa
selección basada en la idoneidad, con consideración de méritos y aptitudes, y elevarlas
a la Cámara de Senadores para que los designe, con acuerdo del Poder ejecutivo;
2. proponer en ternas a la Corte Suprema de Justicia, con igual criterio de selección y
examen, los nombres de candidatos para los cargos de miembros de los tribunales
inferiores, los de los jueces y los de los agentes fiscales;
3. elaborar su propio reglamente, y
4. los demás deberes y atribuciones que fijen esta Constitución y las leyes.
Art. 265. DEL TRIBUNAL DE CUENTAS Y DE OTRAS MAGISTRATURAS Y
ORGANISMOS AUXILIARES
Se establece el tribunal de cuentas. La ley determinará su composición y su competencia.
La estructura y las funciones de las demás magistraturas judiciales y de organismos auxiliares,
así como las de la escuela judicial, serán determinadas por la ley.
SECCIÓN IV DEL MINISTERIO PUBLICO
Art. 266. DE LA COMPOSICIÓN Y DE LAS FUNCIONES
El Ministerio Público representa a la sociedad ante los órganos jurisdiccionales del Estado,
gozando de autonomía funcional y administrativa en el cumplimiento de sus deberes y
atribuciones. Lo ejercen el Fiscal General del Estado y los agentes fiscales, en la forma
determinada por la ley.
Art. 267. DE LOS REQUISITOS
Para ser Fiscal General del Estado se requiere tener nacionalidad paraguaya; haber cumplido
treinta y cinco años, poseer título universitario de abogado, haber ejercido efectivamente la
profesión o funciones o la magistratura judicial o la cátedra universitaria en materia jurídica
durante cinco años cuanto menos, conjunta, separada o sucesivamente. Tiene las mismas
incompatibilidades e inmunidades que las establecidas para los magistrados del Poder
Judicial.
Art. 268. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES
Son deberes y atribuciones del Ministerio Público:
1. velar por el respeto de los derechos y de las garantías constitucionales;
2. promover acción penal pública para defender el patrimonio público y social, el medio
ambiente y otros intereses difusos, así como los derechos de los pueblos indígenas;
3. ejercer acción penal en los casos en que, para iniciarla o proseguirla, no fuese
necesaria instancia de parte, sin perjuicio de que el juez o tribunal proceda de oficio,
cuando lo determine la ley;
4. recabar información de los funcionarios públicos para el mejor cumplimiento de sus
funciones, y
5. los demás deberes y atribuciones que fije la ley.
Art. 269. DE LA ELECCIÓN Y DE LA DURACION

330
El Fiscal General del Estado tiene inamovilidad. Dura cinco años en sus funciones y puede ser
reelecto. Es nombrado por el Poder Ejecutivo, con acuerdo del Senado, a propuesta en terna
del Consejo de la Magistratura.
Art. 270. DE LOS AGENTES FISCALES
Los agentes fiscales son designados, en la misma forma que establece esta Constitución para
los jueces. Duran en sus funciones y son removidos con iguales procedimientos. Además,
tienen las mismas incompatibilidades e inmunidades que las determinadas para los integrantes
del Poder Judicial.
Art. 271. DE LA POSESIÓN DE LOS CARGOS
El Fiscal General del Estado presta juramento o promesa ante el Senado, mientras los agentes
fiscales lo efectúan ante la Corte Suprema de Justicia.
Art. 272. DE LA POLICIA JUDICIAL
La ley podrá crear una Policía Judicial, dependiente del Poder Judicial, a fin de colaborar
directamente con el Ministerio Público.
SECCIÓN V DE LA JUSTICIA ELECTORAL
Art. 273. DE LA COMPETENCIA
La convocatoria, el juzgamiento, la organización, la dirección, la supervisión y la vigilancia
de los actos y de las cuestiones derivados de las elecciones generales, departamentales y
municipales, así como de los derechos y de los títulos de quienes resulten elegidos,
corresponden exclusivamente a la Justicia Electoral.
Sin igualmente de su competencia las cuestiones provenientes de todo tipo de consulta
popular, como asimismo lo relativo a las elecciones y al funcionamiento de los partidos y de
los movimientos políticos.
Art. 274. DE LA INTEGRACIÓN
La Justicia Electoral está integrada por un Tribunal Superior de Justicia Electoral, por los
tribunales, por los juzgados, por las fiscalías y por los demás organismos a definirse en la ley,
la cual determinará su organización y sus funciones.
Art. 275. DEL TRIBUNAL SUPERIOR DE JUSTICIA ELECTORAL
El Tribunal Superior de Justicia Electoral estará compuesto de tres miembros, quienes serán
elegidos y removidos en la forma establecida para los ministros de la Corte Suprema de
Justicia.
Los miembros del Tribunal Superior de Justicia Electoral deberán reunir los siguientes
requisitos: ser de nacionalidad paraguaya, haber cumplido treinta y cinco años, poseer título
universitario de abogado, y, durante el término de diez años, cuanto menos, haber ejercido
efectivamente la profesión, o desempeñado funciones en la magistratura judicial, o ejercido la
cátedra universitaria en materia jurídica, conjunta, separada o alternativamente.
La ley fijará en qué casos sus resoluciones serán recurribles ante la Corte Suprema de Justicia,
la cual lo resolverá en procedimiento sumarísimo.
CAPÍTULO IV DE OTROS ORGANISMOS DEL ESTADO SECCIÓN I
DE LA DEFENSORIA DEL PUEBLO
Art. 276. DEL DEFENSOR DEL PUEBLO
El Defensor del Pueblo es un comisionado parlamentario cuyas funciones son la defensa de
los derechos humanos, la canalización de reclamos populares y la profesión de los intereses
comunitarios. En ningún caso tendrá función judicial ni competencia ejecutiva.
Art. 277. DE LA AUTONOMIA, DEL NOMBRAMIENTO Y DE LA REMOCION
El Defensor del Pueblo gozará de autonomía e inamovilidad. Es nombrado por mayoría de
dos tercios de la Cámara de Diputados, de una terna propuesta por el Senado, y durará cinco
años en sus funciones, coincidentes con el período del Congreso. Podrá ser reelecto. Además,
podrá ser removido por mal desempeño de sus funciones, con el procedimiento del juicio
político establecido en esta Constitución.
331
Art. 278. DE LOS REQUISITOS, DE LAS INCOMPATIBILIDADES Y DE LAS
INMUNIDADES
El Defensor del Pueblo deberá reunir los mismos requisitos exigidos para los Diputados, y
tiene las mismas incompatibilidades e inmunidades que las de los magistrados judiciales.
Durante su mandato no podrá formar parte de ningún poder del Estado ni ejercer actividad
político partidaria alguna.
Art. 279. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES
Son deberes y atribuciones del Defensor del Pueblo:
1. recibir e investigar denuncias, quejas y reclamos contra violaciones de los derechos
humanos y otros hechos que establecen esta Constitución y la ley.
2. requerir de las autoridades en sus diversos niveles, incluyendo los de los órganos
policiales y los de seguridad en general, información para el mejor ejercicio de sus
funciones, sin que pueda oponérsele reserva alguna. Podrá acceder a los sitios donde
se denuncie la comisión de tales hechos. Es también de su competencia actuar de
oficio;
3. emitir censura pública por actos o comportamientos contrarios a los derechos
humanos;
4. informar anualmente de sus gestiones a las Cámaras del Congreso;
5. elaborar y divulgar informes sobre la situación de los derechos humanos que, a su
juicio, requieran pronta atención pública, y
6. los demás deberes y atribuciones que fije la ley.
Art. 280. DE LA REGULACIÓN DE SUS FUNCIONES
Las funciones del Defensor del Pueblo serán reguladas por la ley a fin de asegurar su eficacia,
pudiendo nombrarse defensores departamentales o municipales.
SECCIÓN II DE LA CONTRALORIA GENERAL DE LA REPUBLICA
Art. 281. DE LA NATURALEZA, DE LA COMPOSICIÓN Y DE LA DURACION
La Contraloría General de la República es el órgano de control de las actividades económicas
y financieras del Estado, de los departamentos y de las municipalidades, en la forma
determinada por esta Constitución y por la ley. Gozará de autonomía funcional y
administrativa.
Se compone de un Contralor y un Subcontralor, quienes deberán ser de nacionalidad
paraguaya, de treinta años cumplidos, graduados en Derecho o en Ciencias Económicas,
Administrativas o Contables. Cada uno de ellos será designado por la Cámara de Diputados,
por mayoría absoluta, de sendas ternas de candidatos propuestos por la Cámara de Senadores,
con idéntica mayoría.
Durarán cinco años en sus funciones, los cuales no serán coincidentes con los del mandato
presidencial. Podrán ser confirmados en el cargo sólo por un período más, con sujeción a los
mismos trámites. Durante tal lapso gozarán de inamovilidad, no pudiendo ser removidos sino
por la comisión de delitos o por mal desempeño de sus funciones.
Art. 282. DEL INFORME Y DEL DICTAMEN
El Presidente de la República, en su carácter de titular de la administración del Estado,
enviará a la Contraloría la liquidación del presupuesto del año anterior, dentro de los cuatro
meses del siguiente. En los cuatro meses posteriores, la Contraloría deberá elevar informe y
dictamen al Congreso, para que los consideren cada una de las Cámaras.
Art. 283. DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES
Son deberes y atribuciones del Contralor General de la República:
1. el control, la vigilancia y la fiscalización de los bienes públicos y del patrimonio del
Estado, los de las entidades regionales o departamentales, los de las municipalidades,
los del Banco Central y los de los demás bancos del Estado o mixtos, los de las

332
entidades autónomas, autárquicas o descentralizadas, así como los de las empresas del
Estado o mixtas;
2. el control de la ejecución y de la liquidación del Presupuesto General de la Nación;
3. el control de la ejecución y de la liquidación de los presupuestos de todas las
reparticiones mencionadas en el inciso 1, como asimismo el examen de sus cuentas,
fondos e inventarios;
4. la fiscalización de las cuentas nacionales de las empresas o entidades multinacionales,
de cuyo capital participe el Estado en forma directa o indirecta, en los términos de los
respectivos tratados;
5. el requerimiento de informes sobre la gestión fiscal y patrimonial a toda persona o
entidad pública, mixta o privada que administre fondos, servicios públicos o bienes del
Estado, a las entidades regionales o departamentales y a los municipios, todas las
cuales deben poner a su disposición la documentación y los comprobantes requeridos
para el mejor cumplimiento de sus funciones;
6. la recepción de las declaraciones juradas de bienes de los funcionarios públicos, así
como la formación de un registro de las mismas y la producción de dictámenes sobre
la correspondencia entre tales declaraciones, prestadas al asumir los respectivos
cargos, y las que los aludidos funcionarios formulen al cesar en ellos.
7. la denuncia a la justicia ordinaria y al Poder Ejecutivo de todo delito siendo
solidariamente responsable, por omisión o desviación, con los órganos sometidos a su
control, cuando éstos actuasen con deficiencia o negligencia, y
8. los demás deberes y atribuciones que fije esta Constitución y las leyes.
Art. 284. DE LAS INMUNIDADES, DE LAS INCOMPATIBILIDADES Y DE LA
REMOCIÓN
El Contralor y el Subcontralor tendrán las mismas inmunidades e incompatibilidades
prescritas para los magistrados judiciales. En cuanto a su remoción, se seguirá el
procedimiento establecido para el juicio político.
SECCIÓN III DE LA BANCA CENTRAL DEL ESTADO
Art. 285. DE LA NATURALEZA, DE LOS DEBERES Y DE LAS ATRIBUCIONES
Se establece una Banca Central del Estado, en carácter de organismos técnico. Ella tiene la
exclusividad de la emisión monetaria, y conforme con los objetivos de la política económica
del Gobierno Nacional, participa con los demás organismos técnicos del Estado, en la
formulación de las políticas monetaria, crediticia y cambiaria, siendo responsable de su
ejecución y desarrollo, y preservando la estabilidad monetaria.
Art. 286. DE LAS PROHIBICIONES
Se prohibe a la Banca Central del Estado:
1. acordar créditos, directa o indirectamente, para financiar el gasto público al margen
del presupuesto, excepto:
i. los adelantos de corto plazo de los recursos tributarios presupuestos para el año
respectivo, y
ii. en caso de emergencia nacional, con resolución fundada del Poder Ejecutivo y
acuerdo de la Cámara de Senadores.
2. adoptar acuerdo alguno que establezca, directa o indirectamente, normas o requisitos
diferentes o discriminatorios y relativos a personas, instituciones o entidades que
efectúan operaciones de la misma naturaleza, y
3. operar con personas o entidades no integradas al sistema monetario o financiero
nacional, salvo organismos internacionales.
Art. 287. DE LA ORGANIZACIÓN Y DEL FUNCIONAMIENTO
La ley regulará la organización y funcionamiento de la Banca Central del Estado, dentro de
las limitaciones previstas en esta Constitución.
333
La Banca Central del Estado rendirá cuentas al Poder Ejecutivo y al Congreso Nacional sobre
la ejecución de las políticas a su cargo.
TÍTULO III DEL ESTADO DE EXCEPCIÓN
Art. 288. DE LA DECLARACIÓN, DE LAS CAUSALES, DE LA VIGENCIA Y DE LOS
PLAZOS
En caso de conflicto armado internacional, formalmente declarado o no, o de grave
conmoción interior que ponga en inminente peligro el imperio de esta Constitución o el
funcionamiento regular de los órganos creados por ella, el Congreso o el Poder Ejecutivo
podrán declarar el Estado de Excepción en todo o en parte del territorio nacional, por un
término de sesenta días como máximo. En el caso de que dicha declaración fuera efectuada
por el Poder ejecutivo, la medida deberá ser aprobada o rechazada por el Congreso dentro del
plazo de cuarenta y ocho horas.
Dicho término de sesenta días podrá prorrogarse por períodos de hasta treinta días sucesivos,
para lo cual se requerirá mayoría absoluta de ambas Cámaras.
Durante el receso parlamentario, el Poder Ejecutivo podrá decretar, por única vez, el Estado
de Excepción por un plazo no mayor de treinta días, pero deberá someterlo dentro de los ocho
días a la aprobación o rechazo del Congreso, el cual quedará convocado de pleno derecho a
sesión extraordinaria, únicamente para tal efecto.
El decreto o la ley que declare el Estado de Excepción contendrá las razones y los hechos que
se invoquen para su adopción, el tiempo de su vigencia y el territorio afectado, así como los
derechos que restrinja.
Durante la vigencia del Estado de Excepción, el Poder ejecutivo sólo podrá ordenar, por
decreto y en cada caso, las siguientes medidas: la detención de las personas indiciadas de
participar en algunos de esos hechos, su traslado de un punto a otro de la República, así como
la prohibición o la restricción de reuniones públicas y de manifestaciones.
En todos los casos, las personas indiciadas tendrán la opción de salir del país.
El Poder Ejecutivo informará de inmediato a la Corte suprema de Justicia sobre los detenidos
en virtud del Estado de Excepción y sobre el lugar de su detención o traslado, a fin de hacer
posible una inspección judicial.
Los detenidos en razón del Estado de Excepción permanecerán en locales sanos y limpios, no
destinados a reos comunes, o guardarán reclusión en su propia residencia. Los traslados se
harán siempre a sitios poblados y salubres.
El Estado de Excepción no interrumpirá el funcionamiento de los poderes del Estado, la
vigencia de esta Constitución ni, específicamente, el hábeas corpus.
El Congreso, por mayoría absoluta de votos, podrá disponer en cualquier momento el
levantamiento del Estado de Excepción, si considerase que cesaron las causas de su
declaración.
Una vez que finalice el Estado de Excepción, el Poder Ejecutivo informará al Congreso, en un
plazo no mayor de cinco días, sobre lo actuado durante la vigencia de aquél.
TÍTULO IV DE LA REFORMA Y DE LA ENMIENDA DE LA CONSTITUCION
Art. 289. DE LA REFORMA
La reforma de esta Constitución sólo procederá luego de diez años de su promulgación.
Podrán solicitar la reforma el veinticinco por ciento de los legisladores de cualquiera de las
Cámaras del Congreso, el Presidente de la República o treinta mil electores, en petición
firmada.
La declaración de la necesidad de la reforma sólo será aprobada por mayoría absoluta de dos
tercios de los miembros de cada Cámara del Congreso.
Una vez decidida la necesidad de la reforma, el Tribunal Superior, de Justicia Electoral
llamará a elecciones dentro del plazo de ciento ochenta días, en comicios generales que no
coincidan con ningún otro.
334
El número de miembros de la Convención Nacional Constituyente no podrá exceder del total
de los integrantes del Congreso. Sus condiciones de elegibilidad, así como la determinación
de sus incompatibilidades, serán fijadas por ley.
Los convencionales tendrán las mismas inmunidades establecidas para los miembros del
Congreso.
Sancionada la nueva Constitución por la Convención Nacional Constituyente, quedará
promulgada de pleno derecho.
Art. 290. DE LA ENMIENDA
Transcurridos tres años de promulgada esta Constitución, podrán realizarse enmiendas a
iniciativa de la cuarta parte de los legisladores de cualquiera de las Cámaras del Congreso, del
Presidente de la República o de treinta mil electores, en petición firmada.
El texto íntegro de la enmienda deberá ser aprobado por mayoría absoluta en la Cámara de
origen. Aprobado el mismo, se requerirá igual tratamiento en la Cámara revisora. Si en
cualquiera de las Cámaras no se reuniese la mayoría requerida para su aprobación, se tendrá
por rechazada la enmienda, no pudiendo volver a presentarla dentro del término de un año.
Aprobada la enmienda por ambas Cámaras del Congreso, se remitirá el texto al Tribunal
Superior de Justicia Electoral para que, dentro del plazo de ciento ochenta días, se convoque a
un referéndum. Si el resultado de este es afirmativo, la enmienda quedará sancionada y
promulgada, incorporándose al texto institucional.
Si la enmienda es derogatoria, no podrá promoverse otra sobre el mismo tema antes de tres
años.
No se utilizará el procedimiento indicado de la enmienda, sino el de la reforma, para aquellas
disposiciones que afecten el modo de elección, la composición, la duración de mandatos a los
atribuciones de cualquiera de los poderes del Estado, o las disposiciones de los Capítulos I, II,
III y IV del Título II, de la Parte I.
Art. 291. DE LA POTESTAD DE LA CONVENCIÓN NACIONAL CONSTITUYENTE
La Convención Nacional Constituyente es independiente de los poderes constituidos. Se
limitará, durante el tiempo que duren sus deliberaciones, a sus labores de reforma, con
exclusión de cualquier otra tarea. No se arrogará las atribuciones de los poderes del Estado, no
podrá sustituir a quienes se hallen en ejercicio de ellos, ni acortar o ampliar su mandato.
TÍTULO V DE LAS DISPOSICIONES FINALES Y TRANSITORIAS
Art. 1. Esta Constitución entra en vigencia desde la fecha. Su promulgación se opera de pleno
derecho a la hora veinticuatro de la misma.
El proceso de elaboración de esta Constitución, su sanción, su promulgación y las
disposiciones que la integran, no están sujetas a revisión jurisdiccional, ni a modificación
alguna, salvo lo dispuesto para su reforma o enmienda.
Queda derogada la Constitución del 25 de agosto de 1967 y su enmienda del año 1977; sin
perjuicio de lo que se dispone en el presente título.
Art. 2. El Presidente de la República, el Presidente del Congreso y el Presidente de la Corte
Suprema de Justicia, prestaran juramento o promesa de cumplir y hacer cumplir esta
Constitución, ante la Convención Nacional Constituyente el día veinte de junio de 1992.
Art. 3. El Presidente de la República, los Senadores y los Diputados continuarán en sus
funciones respectivas hasta que asuman las nuevas autoridades nacionales que serán elegidas
en las elecciones generales a realizarse en 1993. Sus deberes y atribuciones serán los
establecidos por esta Constitución, tanto para el Presidente de la República como para el
Congreso, el cual no podrá ser disuelto. Hasta tanto asuman los senadores y diputados que
sean electos en las elecciones generales de 1993, el proceso de formación y sanción de las
leyes se regirá por lo que disponen los Art.s 154/167 de la Constitución de 1967.
Art. 4. La próxima elección para designar Presidente de la República, Vicepresidente,
Senadores y Diputados, Gobernadores y miembros de las Juntas Departamentales se realizará
335
simultáneamente en la fecha que determine el Tribunal Electoral de la Capital, la que deberá
ser fijada para el lapso comprendido entre el 15 de abril y el 15 de mayo de 1993. Estas
autoridades asumirán sus funciones el 15 de agosto de 1993, a excepción de los miembros del
Congreso que lo harán el 1 de julio del mismo año.
Art. 5. Los demás magistrados y funcionarios seguirán en sus cargos hasta completar el
periodo que hubiese determinado para cada uno de ellos la Constitución de 1967 y si, llegado
ese momento, todavía no fueran nombrados sus sucesores, continuará en funciones
interinamente hasta que se produzca su sustitución.
Ellos podrán ser reemplazados por otros funcionarios y magistrados que serán designados
interinamente y de acuerdo con los mecanismos establecidos por la Constitución de 1967. Los
funcionarios y magistrados así designados durarán en sus cargos hasta el momento en que
sean designados sus sustitutos de acuerdo con los mecanismos que determina esta
Constitución.
También continuarán en funciones el Contralor General y el Subcontralor, hasta tanto se
designen los funcionarios que determina el Art.281 de esta Constitución.
Art. 6. Hasta tanto se realicen los comicios generales, en 1993, para elegir Presidente de la
República, Vicepresidente, Senadores, Diputados, Gobernadores y miembros de las Juntas
Departamentales, seguirá, en función los mismos organismos electorales; Junta Electoral
Central, Junta Electoral Seccional y Tribunales Electorales, los que se regirán por el código
electoral en todo aquello que no contradiga a esta Constitución.
Art. 7. La designación de funcionarios y magistrados que requieran la intervención del
Congreso o de cualquiera de sus Cámaras o para cargos de instituciones creadas por esta
Constitución o con integración diferente a la que establecía la de 1967, no podrá efectuarse
sino después que asuman las autoridades nacionales que serán elegidas en el año 1993, con
excepción de lo preceptuado en el Art. 9, de este título.
Art. 8. Los Magistrados Judiciales que sean confirmados a partir de los mecanismos
ordinarios establecidos en esta Constitución adquieren la inmovilidad permanente a que se
refiere el 2o. párrafo del Art. 252. "De la inmovilidad de los magistrados", a partir de la
segunda confirmación.
Art. 9. Los miembros del Jurado de Enjuiciamiento de Magistrados serán designados a
propuesta de los respectivos poderes dentro de los sesenta días de promulgada esta
Constitución. Hasta tanto se integre el Consejo de la Magistratura, los representantes que
responden a ese cuerpo será cubiertos por un profesor de cada facultad de Derecho, a
propuesta de sus respectivos Consejos Directivos. A este jurado se le deferirá el conocimiento
y el juzgamiento de todas las denuncias actualmente existentes ante la Corte Suprema de
Justicia. Hasta que se dicte la Ley respectiva, regirá en lo pertinente la Ley 879/81, Código de
Organización Judicial.
La duración en sus respectivos cargos de los miembros del Jurado de Enjuiciamiento de
Magistrados que sean designados en virtud de lo que dispone este Art., será fijada por ley.
Art. 10. Hasta tanto se designe Procurador General, los funcionarios actuales que se
desempeñan en el área respectiva quedan investidos de las atribuciones que determina el Art.
246.
Art. 11. Hasta tanto se dicte una Ley Orgánica Departamental, los Gobernadores y las Juntas
Departamentales estarán integradas por un mínimo de siete miembros y un máximo de
veintiún miembros. El Tribunal Electoral de Asunción establecerá el número de miembros de
las Juntas Departamentales, atendiendo a la densidad electoral de los departamentos.
Art. 12. Las Sedes actuales de las Delegaciones de Gobierno, pasarán de pleno derecho y a
título gratuito a ser propiedad de los gobiernos departamentales.
Art. 13. Si al 1 de octubre de 1992 siguen sin estar organizados electoralmente los
Departamentos de Chaco y Nueva Asunción los dos Diputados que corresponden a estos
336
Departamentos, serán elegidos en los colegios electorales de los Departamentos de Presidente
Hayes, Boquero y Alto Paraguay, de acuerdo con el caudal electoral de estos.
Art. 14. La investidura de Senador Vitalicio alcanza al ciudadano que ejerce la Presidencia de
la República a la fecha de sanción de esta Constitución, sin que beneficie a ninguno anterior.
Art. 15. Hasta tanto se reúna una nueva Convención Nacional Constituyente, los que
participaron en esta gozarán del trato de "Ciudadano Convencional".
Art. 16. Los bienes adquiridos por la Convención o donados a ella que forman parte de su
patrimonio serán transferidos a título gratuito al Poder Legislativo.
Art. 16. Los bienes adquiridos por la Convención o donados a ella que forman parte de su
patrimonio serán transferidos a título gratuito al Poder Legislativo.
Art. 17. El depósito y conservación de toda la documentación producida por la Convención
Nacional Constituyente tales como los diarios y las actas y de sesiones plenarias y las de
comisión redactora serán confiados a la Banca Central del Estado, a nombre y disposición del
Poder Legislativo, hasta que, por Ley, se disponga su remisión y guarda en el Archivo
Nacional.
Art. 18. El Poder Ejecutivo dispondrá de inmediato la edición oficial de 10.000 ejemplares de
esta Constitución en los idiomas castellano y guaraní.
En caso de duda de interpretación, se estará al texto redactado en idioma castellano.
A través del sistema educativo, se fomentará el estudio de la Constitución Nacional.
Art. 19. A los efectos de las limitaciones que establece esta Constitución para la reelección de
los cargos electivos de los diversos poderes del Estado, se computara el actual periodo
inclusive.
Art. 20. El texto original de la Constitución Nacional será firmado, en todas sus hojas por el
Presidente y los Secretarios de la Convención Nacional Constituyente.
El Acta final de la Convención, por la cual se aprueba y asienta el texto completo de esta
Constitución, será firmada por el Presidente y los Secretarios de la Convención Nacional
Constituyente. La firmarán también los Convencionales que deseen hacerlo de modo que se
forme un solo documento cuya custodia será confiada al Poder Legislativo.
Queda sancionada esta Constitución. Dada en el recinto de deliberaciones de la Convención
Nacional Constituyente a los veinte días del mes de junio de mil novecientos noventa y dos,
en la ciudad de la Asunción, Capital de la República del Paraguay.

337
ANEXO VII

LEY GENERAL DE EDUCACIÓN Nº 1264 /1998


Lei Geral de Educação nº 1264/1998

PODER LEGISLATIVO
LEY Nº 1264 GENERAL DE EDUCACIÓN
Fuente: Ministerio de Educación y Cultura

II. Principios Generales


I. Objeto de la Ley
II. Conceptos, Fines y Principios
III. Los Responsables de la Educación
IV. De la Política Educativa
V. De la Calidad de la Educación y su Evaluación
VI. De la Compensación de las Desigualdades en la Educación
III. Educación de Régimen General
I. Descripción General
II. Educación Formal
III. Educación no Formal
IV. Educación Refleja
V. De la Educación a Distancia
VI. Educación Pública y Privada
IV. Educación de Régimen Especial
I. De la Educación Artística
II. De la Educación en Lenguas Extranjeras y de Otras Etnias
V. Modalidades de Atención Educativa
I. Educación General Básica y la Educación Permanente
II. Educación para Grupos Ètnicos
III. Educación Campesina y Rural
IV. Educación para Personas con Limitaciones o con Capacidades
Excepcionales
V. Educación para la Rehabilitación Social y Prevención de Adicciones
VI. La Educación Militar y la Educación Policial
VII. Educación para Ministros de Cultos
VI. Organización y Administración del Sistema Educativo Nacional
I. El Ministerio de Educación y Cultura
II. Las Actividades Educativas de los Gobiernos Departamentales y de los
Municipios
III. Los Consejos Departamentales de Educación
VII. Régimen Escolar
I. El Año Lectivo: Admisión y Matrícula
II. Los Currículos, Planes y Programas
III. De la Evaluación Educacional
IV. La Orientación y el Bienestar Estudiantil
V. Reconocimiento, Certificados y Títulos Oficiales
VIII. Los Miembros de la Comunidad Educativa
I. De los Educandos
II. De los Padres o Tutores de los Educandos
III. De los Educadores
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IV. Del Personal Administrativo y Auxiliar de las Instituciones Educativas
IX. Los Establecimientos Educativos
I. Definición y Características de los Establecimientos Educativos
II. La Comunidad Educativa de los Establecimientos de Educación Inicial,
Educación Escolar Básica y Media
X. Financiación de la Educación
I. Recursos Estatales
II. Financiación de Instituciones Educativas Públicas de Gestión Privada
III. Recursos de la Comunicad Educativa
IV. Estímulos Especiales
XI. Disposiciones Transitorias y Complementarias
EL CONGRESO DE LA NACIÓN PARAGUAYA SANCIONA CON FUERZA DE LEY
Art. 1º. - Todo habitante de la República tiene derecho a una educación integral y permanente
que, como sistema y proceso, se realizará en el contexto de la cultura de la
comunidad.
Art. 2º. - El sistema educativo nacional esta formulado para beneficiar a todos los habitantes
de la República. Los pueblos indígenas gozan al respecto de los derechos que
les son reconocidos por la Constitución Nacional y esta ley.
Art. 3º. El Estado garantizará el derecho de aprender y la igualdad de oportunidades de
acceder a los conocimientos y a los beneficios de la cultura humanística, de la ciencia y de la
tecnología, sin discriminación alguna. Garantizará igualmente la libertad de enseñar, sin más
requisitos que la idoneidad y la integridad ética, el derecho a la educación religiosa y al
pluralismo ideológico.
Art. 4º. El Estado tendrá la responsabilidad de asegurar a todo la población del país el acceso
a la educación y crear las condiciones de una real igualdad de oportunidades. El sistema
educativo nacional será financiado básicamente con recursos del Presupuesto General de la
Nación.
Art. 5º. A través del sistema educativo nacional se establecerá un diseño curricular básico, que
posibilite la elaboración de proyectos curriculares diversos y ajustados a las modalidades,
características y necesidades de cada caso.
Art. 6º. El Estado impulsará la descentralización de los servicios educativos públicos de
gestión oficial. El Presupuesto del Ministerio de Educación y Cultura, se elaborará sobre la
base de programas de acción. Los presupuestos para los departamentos se harán en
coordinación con las Gobernaciones.

TÍTULO II: PRINCIPIOS GENERALES


CAPÍTULO I: OBJETO DE LA LEY
Art. 7º. La presente ley regulará la educación pública y privada. Establecerá los principios y
fines generales que deben inspirarla y orientarla. Regulará la gestión, la organización, la
estructura del sistema educativo nacional, la educación de régimen general y especial, el
sistema escolar y sus modalidades. Determinará las normas básicas de participación y
responsabilidades de los miembros de las comunidades educativas, de los establecimientos
educativos, las formas de financiación del sector público de la educación y demás funciones
del sistema.
Art. 8º. Las universidades serán autónomas. Las mismas y los institutos superiores
establecerán sus propias estatutos y formas de gobierno, y elaborarán sus planes y programas,
de acuerdo con la política educativa y para contribuir con los planes de desarrollo nacional.
Será obligatoria la coordinación de los planes y programas de estudio de las universidades e
institutos superiores, en el marco de un único sistema educativo nacional de carácter público.

339
CAPÍTULO II: CONCEPTOS, FINES Y PRINCIPIOS
Art. 9º. Son fines del sistema educativo nacional:
a. el pleno desarrollo de la personalidad del educando en todas sus dimensiones, con el
crecimiento armónico del desarrollo físico, la maduración afectiva, la integración social libre
y activa;
b. el mejoramiento de la calidad de la educación;
c. la formación en el dominio de las dos lenguas oficiales;
d. el conocimiento, la preservación y el fomento de la herencia cultural, lingüística y espiritual
de la comunidad nacional;
e. la adquisición de conocimientos científicos, técnicos, humanísticos, históricos, estéticos y
de hábitos intelectuales;
f. la capacitación para el trabajo y la creatividad artística;
g. la investigación científica y tecnológica;
h. la preparación para participar en la vida social, política y cultural, como actor reflexivo y
creador en el contexto de una sociedad democrática, libre, y
solidaria;
i. la formación en el respeto de los derechos fundamentales y en el ejercicio de la tolerancia y
de la libertad;
j. la formación y capacitación de técnicos y profesionales en los distintos ramos del quehacer
humano con la ayuda de las ciencias, la artes y las técnicas; y,
k. la capacitación para la protección del medio ambiente, las riquezas y bellezas naturales y el
patrimonio de la nación.
Art. 10. La educación se ajustará, básicamente, a los siguientes principios:
a. el afianzamiento de la identidad cultural de la persona;
b. el respeto a todas las culturas;
c. la igualdad de condiciones para el acceso y permanencia en los centros de enseñanza;
d. el valor de trabajo como realización del ser humanos y de la sociedad;
e. la efectiva igualdad entre los sexos y el rechazo de todo tipo de discriminación;
f. el desarrollo de las capacidades creativas y el espíritu crítico;
g. la promoción de la excelencia;
h. la práctica de hábitos de comportamiento democrático;
i. la proscripción de la arbitrariedad y prepotencia en el trato dentro o fuera del aula y de la
utilización de fórmulas cortesanas y adulatorias;
j. la formación personalizada, que integre los conocimientos, valores morales y destrezas
válidos para todos los ámbitos de la vida;
k. la participación y colaboración de los padres o tutores en todo el proceso educativo;
l. la autonomía pedagógica, la atención psicopedagógica y la orientación laboral;
m. la metodología activa que asegure la participación del alumnado en los procesos de
enseñanza y aprendizaje; y, en la evaluación de los procesos y resultados de la enseñanza y el
aprendizaje, así como los diversos elementos del sistema.
Art. 11. A efectos de lo dispuesto en esta ley:
a. se entiende por educación el proceso permanente de comunicación creativa de la cultura de
la comunidad, integrada en la cultura nacional y universal, para la realización del hombre en
la totalidad de sus dimensiones;
b. se entiende por sistema educativo nacional al conjunto de niveles y modalidades educativos
interrelacionados, desarrolladas por la comunidad educativa y regulado por el Estado;
c. se entiende por currículo el conjunto de los objetivos, contenidos, métodos pedagógicos y
criterios de evaluación de cada uno de los niveles, etapas, ciclos, grados y modalidades del
sistema educativo nacional, que regulan la práctica docente;

340
d. se entiende por educación general básica el proceso de crecimiento de la persona en todas
sus dimensiones, para que se capacite a participar activa y críticamente en la construcción y
consolidación de un estilo de vida social flexible y creativo, que le permita la satisfacción de
sus necesidades fundamentales. La educación general básica, más que un fin en sí mismo, es
una base para el aprendizaje y el desarrollo humano permanentes. Implica capacitar para el
desarrollo de la personalidad, para el trabajo, para la convivencia, la autoinstrucción y la
autogestión;
e. se entiende por educación para grupos étnicos la que se ofrece a grupos o comunidades que
poseen su propia cultura, su lengua y sus tradiciones y que integran la nacionalidad
paraguaya;
f. se entiende por educación formal aquella que se imparte en establecimientos educativos
aprobados por la autoridad oficial competente, en una secuencia regular de ciclos lectivos, con
sujeción a pautas curriculares progresivas y conducentes a grados y títulos;
g. se entiende por educación no formal aquélla que se ofrece con el objeto de complementar,
suplir conocimientos, actualizar y formar en aspectos académicos o laborales, sin las
exigencias de las formalidades de la educación escolarizada ni la sujeción al sistema de
niveles, ciclos y grados, establecidos por el sistema educativo nacional;
h. se entiende por educación refleja aquella que procede de personas, entidades, medios de
comunicación social, medios impresos, tradiciones, costumbres, ambientes sociales,
comportamientos sociales y otros no estructurados, que producen aprendizajes y
conocimientos libres y espontáneamente adquiridos;
i. se entiende por comunidad educativa el conjunto de personas e instituciones conformada
por estudiantes, educadores, padres de familia o tutores, egresados, directivos y
administradores escolares que según sus competencias participan en el diseño, ejecución y
evaluación del proyecto educativo institucional;
j. se entiende por alumno el sujeto inscripto en una institución educativa formal o no formal
con el objeto de participar en un proceso de aprendizaje sistemático bajo la orientación de un
maestro o profesor;
k. se entiende por educador el personal docente, técnico y administrativo que, en el campo de
la educación, ejerce funciones de enseñanza, orientación, planificación, evaluación,
investigación, dirección, supervisión, administración y otras que determinen las leyes
especiales; y,
l. los establecimientos, centros o instituciones educativas son instituciones públicas, privadas
y privadas subvencionadas, constituidas con el fin de prestar el servicio público de educación
en los términos fijados en esta ley.
CAPÍTULO III: LOS RESPONSABLES DE LA EDUCACIÓN
Art. 12 . La organización del sistema educativo nacional es responsabilidad del Estado, con la
participación según niveles de responsabilidad de las distintas comunidades educativas. Este
sistema abarca a los sectores público y privado, así como al ámbito escolar y extraescolar.
Art. 13. A los efectos del proceso educativo se integrarán los esfuerzos de la familia, la
comunidad, el Estado, los docentes y los alumnos.
Art. 14. La familia constituye el ámbito natural de la educación de los hijos y del acceso a la
cultura, indispensable para el desarrollo pleno de la persona. Se atenderán las situaciones
derivadas de la condición de madres solteras, padres divorciados, la familia adoptiva, grupos
domésticos especiales, huérfanos o niños en situaciones de riesgo.
Art. 15. El alumno es el sujeto principal del proceso de aprendizaje. Constituirá deber básico
de los alumnos el estudio y el respeto a las normas de convivencia dentro de la institución.
Art. 16. La comunidad contribuirá mantener el ámbito ético y cultural en el que se desarrolla
el proceso educativo, proveerá los elementos característicos que fundamentan la flexibilidad
de los currículos para cada región y participará activamente en el proceso de elaboración de
341
sus reglamentaciones, y de las que organizan las gobernaciones y los municipios. Los
municipios y los miembros de la comunidad estimularán las acciones de promoción educativa
comunal, apoyarán las organizaciones de padres de familia, fomentando la contribución
privada a la educación y velando por la función docente informal que cumplen los medios de
comunicación social y otras instituciones dentro del ámbito de la Constitución Nacional.
Art. 17. Está garantizada para todos la libertad de enseñar, sin más requisitos que la idoneidad
y la integridad ética. Los docentes participarán activamente en la comunidad educativa. Se
tenderá la autorrealización del docente, su dignificación y su capacitación permanente,
atendiendo a sus funciones en la educación y a su responsabilidad en la sociedad. Las
autoridades educativas promoverán las mejoras de las condiciones de vida, de seguridad
social y salario, así como la independencia profesional del docente.
Art. 18. Las funciones del Estado, en el ámbito de la educación, se ejercen por medio del
Ministerio de Educación y Cultura.
CAPÍTULO IV: DE LA POLÍTICA EDUCATIVA
Art. 19. El Estado definirá y fijará la política educativa, en consulta permanente con la
sociedad a través de sus instituciones y organizaciones involucradas en la educación,
respetando los derechos, obligaciones, fines y principios establecidos en esta ley. La política
educativa buscará la equidad, la calidad, la eficacia y la eficiencia del sistema, evaluando
rendimientos e incentivando la innovación. Las autoridades educativas no estarán autorizadas
a privilegiar uno de estos criterios en desmedro de los otros en planes a largo plazo.
CAPÍTULO V: DE LA CALIDAD DE LA EDUCACIÓN Y SU EVALUACIÓN
Art. 20. El Ministerio de Educación y Cultura, las gobernaciones, los municipios y las
comunidades educativas, garantizarán la calidad de la educación. Para ello se realizará
evaluación sistemática y permanente del sistema y los procesos educativos.
Art. 21. Las instituciones educativas públicas y privadas otorgarán a las autoridades
educativas facilidades y colaboración para la evaluación.
Art. 22. Las autoridades educativas darán a conocer a los maestros, alumnos, padres de
familia y a la sociedad en general, los resultados de las evaluaciones que realicen, así como
las informaciones globales que permitan medir el desarrollo y los avances de la educación.
CAPÍTULO VI: DE LA COMPENSACIÓN DE LAS DESIGUALDADES EN LA
EDUCACIÓN
Art. 23. Las autoridades educativas mediante programas de compensación, atenderán de
manera preferente a los grupos y regiones que enfrentan condiciones económicas,
demográficas y sociales de desventaja. El Estado garantizará la integración de alumnos con
condiciones educativas especiales. Estos programas permitirán la equiparación de
oportunidades, ofreciendo diferentes alternativas y eliminando las barreras físicas y
comunicacionales en los centros educativos públicos y privados, de la educación formal y no
formal.
Art. 24. Se facilitará el ingreso de las personas de escasos recursos en los establecimientos
públicos gratuitos. En los lugares donde no existen los mismos o fueran insuficiente para
atender la demanda de la población escolar, el Estado financiará plazas de estudio en los
centros privados, que serán cubierto por dichas personas a través de becas, parciales o totales.
Art. 25. El Ministerio de Educación y Cultura podrá suscribir convenios con gobiernos
departamentales o municipales a objeto de coordinar actividades. Del mismo modo lo podrá
hacer con otros ministerios.
TÍTULO III: EDUCACIÓN DE RÉGIMEN GENERAL
CAPÍTULO I: DESCRIPCIÓN GENERAL
Art. 26. El sistema educativo nacional incluye la educación de régimen general, la educación
de régimen especial y otras modalidades de atención educativa. La educación de régimen
general, pude ser formal, no formal y refleja.
342
CAPÍTULO II: EDUCACIÓN FORMAL
SECCIÓN I: ESTRUCTURA
Art. 27. La educación formal se estructura en tres niveles: El primer nivel comprenderá la
educación inicial y la educación escolar básica; el segundo nivel, la educación media; el tercer
nivel, la educación superior.
Art. 28. Los niveles y ciclos del régimen general deberán articularse de manera que
profundicen los objetivos, faciliten el pasaje y la continuidad, y aseguren la movilidad
horizontal y vertical de los alumnos. En casos excepcionales, el acceso a cada uno de ellos no
exigirá el cumplimiento de los anteriores, sino su aprobación, mediante la evaluación por un
jurado de reconocida competencia.
Sección II: Educación Inicial
Art. 29. La educación inicial comprenderá dos ciclos. El primer ciclo se extenderá hasta los
tres años inclusive y el segundo hasta los cuatro años. El preescolar, a la edad de cinco años
pertenecerá sistemáticamente a la educación escolar básica y será incluido en la educación
escolar obligatoria por decreto del Poder Ejecutivo iniciado en el Ministerio de Educación y
Cultura, cuando el Congreso de la Nación apruebe los rubros correspondientes en el
Presupuesto General de la Nación. El diseño curricular y los propios de estos dos ciclos serán
determinados en la reglamentación correspondiente.
Art. 30. La educación inicial será impartida por profesionales de la especialidad. En caso de
imposibilidad de contar con suficiente personal, se podrán autorizar a profesionales no
especializados en la materia para ejercer dicha docencia, con expresa autorización del Vice
Ministro de Educación.
Art. 31. La enseñanza se realizará en la lengua oficial materna del educando desde los
comienzos del proceso escolar o desde el primer grado. La otra lengua oficial se enseñará
también desde el inicio de la educación escolar con el tratamiento didáctico propio de una
segunda lengua. Dentro de la educación inicial, se implementará programas de prevención de
dificultades del aprendizaje, así como sistemas de evaluación para la detección precoz de
condiciones intelectuales superiores, inferiores y deficiencias sensoriales para tomar medidas
oportunas y adecuadas a cada caso.
Sección III: Educación Escolar Básica
Art. 32. La educación escolar básica comprende nueve grados y es obligatoria.
Será gratuita en las escuelas públicas de gestión oficial con la inclusión del preescolar. La
gratuidad se extenderá progresivamente a los programas de complemento nutricional y al
suministro de útiles escolares para los alumnos de escasos recursos. La gratuidad podrá ser
ampliada a otros niveles, instituciones o sujetos atendiendo a los recursos presupuestarios.
Art. 33. Los objetivos de la educación escolar básica serán definidos y actualizados
periódicamente por las autoridades oficiales competentes, de acuerdo con la filosofía de la
reforma de la educación, las necesidades y potencialidades de los alumnos de ese nivel, así
como con la educación media y superior y con los condicionamientos ineludibles de la
educación en la región.
Art. 34. La educación escolar básica comprenderá tres ciclos y se organizará por áreas, que
serán obligatorias y tendrán un carácter global e integrador. Las definiciones de las áreas y sus
contenidos serán determinados y revisados periódicamente por el Ministerio de Educación y
Cultura.
Art. 35. La evaluación del tercer ciclo de la educación escolar básica será continua e
integradora. Los alumnos que, al terminar el noveno grado, hayan acreditado el logro de los
objetivos del tercer ciclo recibirán el título de Graduado en educación escolar básica, que
facultará para acceder a la educación media. Todos los alumnos recibirán una acreditación del
centro educativo, en la que conste los años cursados y las calificaciones obtenidas en las
distintas áreas. Dicha acreditación será acompañada de una orientación para el futuro
343
académico y profesional del alumno, que en ningún caso será prescriptiva y que tendrá
carácter confidencial.
Art. 36. Para los alumnos mayores de dieciséis años que deseen cursar la educación escolar
básica podrán establecerse currículos diferenciados que respondan a su nivel de formación.
Sección IV: Educación Media
Art. 37. La educación media comprende el bachillerato o la formación profesional y tendrá
tres cursos académicos. Busca como objetivos la incorporación activa del alumno a la vida
social y al trabajo productivo o su acceso a la educación de nivel superior. El Estado
fomentará el acceso a la educación media previniendo los recursos necesarios para ello.
Art. 38. La educación media orientará a los alumnos en el proceso de su maduración
intelectual y afectiva de manera que puedan integrarse crítica y creativamente en su propia
cultura, así como adquirir los conocimientos y habilidades que les permitan desempeñar sus
compromisos sociales con responsabilidades y competencia.
Art. 39. El Ministerio de Educación y Cultura establecerá el diseño curricular con los
objetivos y el sistema de evaluación propios de esta etapa, que será organizado por áreas y
tendrá materias comunes, materias propias de cada modalidad de formación profesional o de
bachillerato y materias optativas. Las materias comunes contribuirán a la formación general
del alumnado. Las materias propias de cada modalidad de formación profesional o de
bachillerato y las materias optativas le proporcionarán una formación más especializada,
preparándole y orientándole hacia la actividad profesional o hacia los estudios superiores.
Art. 40. Los alumnos de formación profesional y los de bachillerato podrán realizar su
formación y capacitación con el sistema dual colegio-empresa, como pasantía con beca sin
vinculación laboral.
Art. 41. Para enseñar en el último ciclo de la educación escolar básica y en la Educación
Media, se requerirá el título de profesor o profesora otorgado en los centros e institutos de
formación docente, otros institutos superiores o de universidades reconocidas legalmente. En
caso excepcionales expresamente reglamentados podrán ser profesores los egresados
provenientes de la Educación Superior, que no cuenten con el título de especialización
didáctica correspondiente.
Art. 42. Los alumnos que cursen satisfactoriamente los tres años de la Educación Media en
cualquiera de sus modalidades de bachillerato, recibirán el título de bachiller.
Para obtener este título será necesaria la evaluación positiva en todas las materias prescritas
en el diseño curricular del Ministerio de Educación y Cultura para todas las instituciones
educativas. El título de bachiller facultará para acceder a la formación profesional superior y a
los estudios de nivel superior.
SECCIÓN V: FORMACIÓN PROFESIONAL MEDIA
Art. 43. Como parte de la formación media, el Ministerio de Educación y Cultura por sí
mismo o con la colaboración de otros ministerios e instituciones vinculadas con la
capacitación laboral y coordinadas por el mismo Ministerio, ofrecerá oportunidades de
profesionalización de distinto grado de calificación y especialidad. La formación profesional
media estará dirigida a la formación en áreas relacionadas con la producción de bienes y
servicios.
Art. 44. Para cursar la formación profesional media se requerirá haber concluido los nueve
años de la educación escolar básica. No obstante, será posible acceder a la formación
profesional específica sin cumplir los requisitos académicos establecidos, siempre que
mediante una prueba regulada por el Ministerio de Educación y Cultura, el aspirante
demuestre tener la preparación suficiente para cursar con aprovechamiento estas enseñanzas.
Para acceder por esta vía a la enseñanza profesional media se requerirá tener cumplidos los
diecisiete años de edad. Quienes accedan por esta vía a la formación profesional media,
podrán acceder a la educación superior, satisfaciendo pruebas adecuadas de competencia.
344
Art. 45. Se admiten los institutos de enseñanza media diversificada que impartirán formación
profesional, adecuándose a las condiciones establecidas por esta ley y los reglamentos.
Art. 46. Los estudiantes que hayan concluido una carrera profesional media recibirán el
certificado en la especialidad. Para continuar con estudios del nivel superior, deberán
satisfacer las pruebas que garanticen la competencia adecuada, de acuerdo a los reglamentos
vigentes. Los que no hayan concluido los tres cursos podrán recibir un certificado para
demostrar su nivel de capacitación.
SECCIÓN VI: EDUCACIÓN SUPERIOR
Art. 47. La educación superior se ordenará por la ley de educación superior y se desarrollará a
través de universidades e institutos superiores y otras instituciones de formación profesional
del tercer nivel.
Art. 48. Son universidades las instituciones de educación superior que abarcan una
multiplicidad de áreas específicas del saber en el cumplimiento de su misión de investigación,
enseñanza, formación y capacitación profesional y servicio a la comunidad.
Art. 49. Son institutos superiores, las instituciones que se desempeñan en un campo específico
del saber en cumplimiento de su misión de investigación, formación profesional y servicio a
la comunidad.
Art. 50. Son Instituciones de formación profesional del tercer nivel, aquellos institutos
técnicos que brindan formación profesional y reconversión permanente en las diferentes áreas
del saber técnico y práctico, habilitando para el ejercicio de una profesión. Serán autorizadas
por le Ministerio de Educación y Cultura el título de técnico superior permitirá el acceso al
ejercicio de la profesión y a los estudios universitarios o a los proveídos por los institutos
superiores, que se determinen, teniendo en cuenta las áreas de su formación académica.
Art. 51. Entre las instituciones de formación profesional del tercer nivel, el Ministerio de
Educación y Cultura deberá priorizar los institutos de formación docente, que se ocuparán de
la formación para:
a. capacitar a los educadores con la más alta calidad profesional, científica y ética;
b. lograr el eficaz desempeño de su profesión en cada uno de los niveles del sistema
educacional y en las diversas modalidades de la actividad educativa;
c. actualizar y perfeccionar permanentemente a los docentes en ejercicio; y,
d. fortalecer su competencia en el campo de la investigación educativa y en El desarrollo de la
teoría y la práctica de las ciencias de la educación.
Art. 52. El ejercicio de la profesión docente se regirá por las normas de la presente ley y por
las del Estatuto del Personal de la Educación.
Art. 53. Las universidades públicas y privadas, así como las instituciones superiores de
enseñanza, son parte del sistema nacional de educación. Su funcionamiento se adecuará a lo
dispuesto por la legislación pertinente. El Consejo Nacional de Educación y Cultura evaluará
periódicamente el funcionamiento de estas Instituciones y elevará el correspondiente informe
al Congreso Nacional para su oportuna consideración.
Sección VII: Educación de Postgrado
Art. 54. La educación de postgrado estará bajo la responsabilidad de las universidades o
institutos superiores, siendo requisito para quienes se inscriban el haber terminado la etapa de
grado o acreditar conocimiento y experiencia suficiente para cursar el mismo.
Art. 55. Será objetivo de la educación de postgrado profundizar y actualizar la formación
cultural, docente, científica, artística y tecnológica mediante la investigación,
la reflexión crítica sobre la disciplina y el intercambio sobre los avances en lãs especialidades.
CAPÍTULO III: EDUCACIÓN NO FORMAL
Art. 56. Las instituciones de educación no formal podrán ofrecer programas de formación
laboral en artes y oficios, de formación académica y en materias conducentes
a la validación de niveles y grados propios de la educación formal.
345
Art. 57. Las autoridades educativas competentes:
a. organizarán o facilitarán la organización de programas de educación no formal estén o no
vinculados a la educación formal;
b. promoverán acciones de capacitación docente para este servicio; y,
c. facilitarán el uso de la infraestructura edilicia y el equipamiento de las instituciones
públicas, para la educación no formal sin fines de lucro.
CAPÍTULO IV: EDUCACIÓN REFLEJA
Art. 58. El Gobierno Nacional incentivará y fomentará la participación de los medios de
información y comunicación social en los proceso de educación permanente y de difusión de
la cultura, de acuerdo con los principios y fines de la educación definidos en la presente ley,
sin perjuicio de la libertad de prensa y de la libertad de expresión previstas en la Constitución
Nacional. Así mismo, adoptará mecanismos y estímulos que permitan la adecuada y eficaz
utilización de los medios de comunicación social en favor de la educación.
CAPÍTULO V: DE LA EDUCACIÓN A DISTANCIA
Art. 59. Se extenderá el acceso a la educación en todos sus niveles a personas que
por sus condiciones de trabajo, su ubicación geográfica, su impedimento físico o de
edad no pueden asistir a las instituciones de educación formal. El Ministerio de
Educación y Cultura promoverá el uso de los medios previstos por la tecnología de las
comunicaciones a distancia. La autoridad competente de las telecomunicaciones
reservará frecuencias de radio, de televisión por aire, por cable u otro medio similar para
desarrollar iniciativas de educación a distancia.
Art. 60. El Gobierno promoverá y apoyará la educación a distancia de iniciativa privada y
reglamentará el currículo, los programas y el sistema de evaluación, para el reconocimiento
oficial de los cursos y actividades impartidas y de sus respectivos certificados y títulos.
CAPÍTULO VI: EDUCACIÓN PÚBLICA Y PRIVADA
Art. 61. La educación podrá ser administrada por gestión oficial con la mediación del
Ministerio de Educación y Cultura y por gestión privada de personas, empresas, asociaciones
o instituciones privadas no subvencionadas o subvencionadas con recursos
del Estado.
Art. 62. Las instituciones educativas privadas que pretendan el derecho de otorgar
títulos oficiales, deberán ser reconocidas por las autoridades educativas competentes de
la República y estarán sujetas a la exigencias de esta ley y a la supervisión de las
autoridades educativas oficiales. Podrán prestar este servicio las iglesias o confesiones
religiosas, inscritas en el Registro Nacional de Culto, las fundaciones, sociedades,
asociaciones y empresas con personería jurídica, y las personas de existencia visible.
Art. 63. Dentro del sistema nacional de educación, los responsables de las instituciones
educativas privadas podrán crear, organizar y sostener instituciones propias; nombrar y
promover a su personal directivo, docente, administrativo y auxiliar, que responda al proyecto
educativo de la institución; disponer de la infraestructura edilicia y su equipamiento escolar;
participar por propia iniciativa en el planeamiento educativo y en la elaboración de currículos,
planes y programas de formación, otorgar certificados y títulos reconocidos, de acuerdo a las
disposiciones legales vigentes.
Art. 64. Las instituciones educativas, dentro de sus fines y de acuerdo a sus posibilidades
ofrecerán servicios que respondan a necesidades de la comunidad.
Art. 65. Los educadores de las instituciones educativas privadas tendrán derecho a los
beneficios de la seguridad social, incluyendo la jubilación. Regirán sus contratos por
el Código Laboral y el Estatuto del Personal de la Educación en los apartados que les
corresponden.
Art. 66. Las instituciones educativas privadas, que cumplan su servicio de función
social en los sectores más carenciados y en situaciones de riesgo serán consideradas
346
prioritariamente, a los efectos de la subvención por parte del Estado, entre las
instituciones subvencionadas por éste. Dicho aporte de ninguna manera impedirá a los
directivos de las instituciones educativas privadas de su responsabilidad y derecho de
dirigir y administrar, libremente y por sí mismas, sus propias instituciones.
Art. 67. El aporte de la administración del Estado para atender el funcionamiento
de las instituciones educativas privadas subvencionadas o los salarios de SUS educadores,
será contemplado en el Presupuesto General de la Nación. Se tendrán en
cuenta la función social que estas instituciones cumplen en su zona de influencia, el
nivel o clase de establecimiento, los servicios que prestan a la comunidad y la cuota que
perciben de sus usuarios.
TÍTULO IV: EDUCACIÓN DE RÉGIMEN ESPECIAL
CAPÍTULO I: DE LA EDUCACIÓN ARTÍSTICA
Art. 68. La educación artística tendrán como finalidad proporcionar a los alumnos
una formación artística que garantice la capacidad y la cualificación en el cultivo de las
artes. El Ministerio de Educación y Cultura, en cooperación con los gobiernos
departamentales, los municipios y la iniciativa privada, fomentará las diversas expresiones del
arte.
Art. 69. Los alumnos podrán, previa orientación y evaluación del profesorado especializado,
matricularse simultáneamente en más de una modalidad académica.
Art. 70. El Ministerio de Educación y Cultura fijará en relación con los objetivos de cada
especialidad los aspectos básicos del currículo obligatorio.
Art. 71. El Ministerio de Educación y Cultura facilitará a los alumnos la posibilidad de
realizar los cursos de educación artística de régimen especial y los cursos de educación de
régimen general, coordinando ambos tipos de estudios y posibilitando las convalidaciones.
Art. 72. Para ejercer la docencia en la educación artística, será necesario poseer el
título profesional a nivel de licenciatura o su equivalente. En ciertos casos y atendiendo
a notorios conocimientos y experiencia suficientes, se autorizará la docencia a personas
que carezcan de título profesional.
Art. 73. La docencia de las materias artísticas en el nivel inicial, en la educación escolar
básica y en la educación media podrá estar a cargo de los maestros que hayan egresado de los
centros de formación docente.
Sección I: Arte Dramático, Música y Danza
Art. 74. El arte dramático, las artes plásticas y diseño, así como el estudio de la música y la
danza serán objeto de apoyo y supervisión oficial a través del Ministerio de Educación y
Cultura. Las instituciones privadas, difusoras de dichos conocimientos,
sólo podrán otorgar certificados o títulos oficiales con autorización del Ministerio de
Educación y Cultura.
CAPÍTULO II: DE LA EDUCACIÓN EN LENGUAS EXTRANJERAS Y DE OTRAS
ETNIAS
Art. 75. Las instituciones públicas o privadas especializadas en el estudio y difusión de lengua
extranjera o lenguas de otras etnias de nuestro país, recibirán reconocimiento oficial, sujetas al
cumplimiento de la reglamentación establecida al efecto por el Ministerio de Educación y
Cultura.
TÍTULO V: MODALIDADES DE ATENCIÓN EDUCATIVA
CAPÍTULO I: EDUCACIÓN GENERAL BÁSICA Y LA EDUCACIÓN
PERMANENTE
Art. 76. La educación general básica tendrá por objetivos:
a. erradicar el analfabetismo, facilitando la adquisición de las herramientas básica para el
aprendizaje, como la lectura, la escritura, la expresión oral, el cálculo, la solución de
problemas y el desarrollo en el pensamiento crítico;
347
b. promover sistemas y programas de formación y reconversión laboral y de desarrollo
comunitario, preferentemente bajo la forma de autogestión;
c. brindar acceso al sistema educativo nacional a las personas privadas de su libertad en
establecimientos carcelarios;
d. capacitar laboralmente a aquellas personas que no cursaron la educación escolar básica o,
que habiendo cumplido con la misma, desean mejorar su preparación;
e. ayudar a la adquisición de conocimientos básicos para orientarse en la realidad, conocer sus
leyes e integrarse creativamente a ella; y ,
f. desarrollar aptitudes y promover los valores que permitan respetar los derechos humanos, el
medio ambiente y participar activamente en la búsqueda del bien común.
CAPÍTULO II: EDUCACIÓN PARA GRUPOS ÈTNICOS
Art. 77. La educación de los grupos étnicos estará orientadas por los principios y fines
generales de la educación establecidos en la presente ley.
Art. 78. La educación en los grupos étnicos tendrá como finalidad afianzar los procesos de
identidad, e integración en la sociedad paraguaya, respetando sus valores culturales.
CAPÍTULO III: EDUCACIÓN CAMPESINA Y RURAL
Art. 79. Las autoridades educativas nacionales, departamentales y municipales proveerán un
servicio de educación campesina y rural formal, no formal y refleja. Se buscará la educación
del hombre campesino o rural, y la de su familia, ayudándole a su capacitación como agente
activo del desarrollo nacional. Este servicio buscará mejorar su nivel y calidad de vida, sus
condiciones humanas, ecológicas, de vivienda y trabajo.
Se desarrollará la formación técnica en actividades agrícolas, pecuarias, pesqueras, forestales,
industriales, agroindustriales y otras.
CAPÍTULO IV: EDUCACIÓN PARA PERSONAS CON LIMITACIONES O CON
CAPACIDADES EXCEPCIONALES
Art. 80. El Gobierno Nacional por medio del sistema educativo nacional garantizará la
formación básica de:
a. personas con características educativas individuales significativamente diferentes de las de
sus pares; y,
b. personas con necesidades educativas especiales: superdotados, con dificultades de
aprendizaje, con trastornos de conducta, con trastornos de lenguaje y otros.
Art. 81. Esta modalidad educativa se orientará al desarrollo del individuo en base a su
potencial para la adquisición de habilidades que permitan su realización personal y su
incorporación activa a la sociedad. En la medida de lo posible se realizará en forma integrada
dentro de las instituciones educativas comunes.
Art. 82. El contenido especial de los programas de estos servicios, y su orientación técnico-
pedagógica, así como el sistema de evaluación y promoción, serán aprobados por el
Ministerio de Educación y Cultura.
Art. 83. El personal docente de esta modalidad educativa deberá contar con una formación
especializada.
Art. 84. El Gobierno Nacional establecerá la política para la prevención, el diagnóstico precoz
y el tratamiento de las personas con necesidades especiales. Apoyarán igualmente la
preparación de la familia y la concientización de la comunidad para
favorecer la integración de los excepcionales.
CAPÍTULO V: EDUCACIÓN PARA LA REHABILITACIÓN SOCIAL Y
PREVENCIÓN DE ADICCIONES
Art. 85. La educación para la rehabilitación social será parte integrante del sistema educativo
nacional; comprende la educación formal, no formal y refleja, y requiere métodos didácticos,
contenidos y procesos pedagógicos acordes con la situación de los educandos. El Ministerio
de Educación y Cultura coordinará este servicio conjuntamente con otros ministerios
348
afectados en estos problemas y apoyará los servicios de las organizaciones privadas que
trabajan en este campo.
Art. 86. La educación para la prevención del uso indebido de drogas será también para
integrante del servicio educativo. Abarcará programas educativos, destinados a personas no
adictas de la comunidad educativa, pertenezcan éstas a grupos de riesgo o no. Estos
programas harán especial énfasis en el sector infanto-juvenil.
CAPÍTULO VI: LA EDUCACIÓN MILITAR Y LA EDUCACIÓN POLICIAL
Art. 87. La educación militar y la educación policial se rigen por las disposiciones de leyes
para las Fuerzas Armadas y Policiales, en consonancia con preceptos de la presente ley. El
reconocimiento oficial, la homologación y convalidación de grados y títulos académicos y
profesionales de las Fuerzas Armadas y Policiales se regirán por las disposiciones legales.
CAPÍTULO VII EDUCACIÓN PARA MINISTROS DE CULTOS
Art. 88. La educación para la formación de ministros de culto de las iglesias y comunidades
religiosas, reconocidas oficialmente en el registro del Viceministerio de Culto, se regirá por
las normas que dicten sus propias autoridades competentes y las disposiciones de esta ley que
le sean aplicables. El reconocimiento oficial, la homologación y la convalidación de grados y
títulos académicos se regirán por las disposiciones legales.
TÍTULO VI ORGANIZACIÓN Y ADMINISTRACIÓN DEL SISTEMA EDUCATIVO
NACIONAL
CAPÍTULO I: EL MINISTERIO DE EDUCACIÓN Y CULTURA
Art. 89. El gobierno, la organización y la administración del sistema educativo nacional son
responsabilidad del Poder Ejecutivo, en coordinación con los gobiernos departamentales y
municipales.
Art. 90. El Poder Ejecutivo por medio del Ministerio de Educación y Cultura
asegurará el efectivo cumplimiento de esta ley y deberá:
a. formular las políticas, establecer las metas y aprobar los planes de desarrollo del sector a
corto, mediano y largo plazo, en coordinación con el Consejo Nacional de Educación y de
acuerdo con las leyes emanadas del Poder Legislativo;
b. promover la descentralización de los servicios educativos, apoyando y asesorando a los
gobiernos departamentales y municipales;
c. dirigir la administración del sistema educativo nacional y coordinar mediante el
Viceministerio de Educación y el de Cultura, además de las direcciones generales y
departamentos ministeriales u organismos que hagan sus veces, las acciones y programas
educativos y culturales del Estado;
d. estimular y desarrollar programas de investigación educativa, científica y tecnológica, en
coordinación con los programas de las universidades, de los institutos superiores, de
organismos específicos oficiales y centros privados de investigación;
e. gestionar programas de cooperación técnica y financiera nacionales e internacionales para
promover la calidad de la educación;
f. promover el uso de los medios de comunicación social, oficiales y privados, para la
extensión cultural y la difusión de programas de educación formal, no formal y refleja o
informal; y,
g. elaborar cada año una memoria sobre el proceso y situación de la educación, recogiendo la
evaluación del sistema educativo nacional.
Art. 91. La autoridad superior del ramo es el ministro responsable de la organización y
funcionamiento del Ministerio de Educación y Cultura. Sus atribuciones y deberes son:
a. definir y desarrollar las políticas de educación y cultura, integradas con las de la juventud y
deportes, de acuerdo con los principios previstos en la Constitución Nacional y en esta ley;
b. aprobar los proyectos, planes y programas oficiales que deben aplicarse a nivel nacional
Los planes departamentales y municipales que en todos los casos no podrán contradecir los
349
planes nacionales, solo serán aprobados previo dictamen del Ministerio de Educación y
Cultura;
c. crear o clausurar instituciones o establecimientos del Estado, destinados a las actividades de
su ramo, de acuerdo con los reglamentos respectivos y las leyes pertinentes; y, d. coordinar
las actividades de educación públicas desde su propio ministerio o desde cualquier otro
ministerio de la administración del Estado.
Sección I: El Consejo Nacional de Educación y Cultura
Art. 92. El Consejo Nacional de Educación y Cultura es el órgano responsable de proponer las
políticas culturales, la reforma del sistema educativo nacional y acompañar su
implementación en la diversidad de sus elementos y aspectos concernientes.
Art. 93. Compete al Ministerio de Educación y Cultura y al Consejo Nacional de Educación y
Cultura garantizar la continuidad de los planes de educación a mediano y largo plazo, así
como asegurar la coherencia y coordinación entre todas las instancias administrativas e
instituciones del Estado que prestan servicios de educación y cultura.
Art. 94. Se regirá por la presente ley y los reglamentos que se dicten, debiendo actuar en
estrecha relación con el Ministerio de Educación y Cultura, así como otras instituciones
oficiales que actúan en el campo de la educación. Gozará de autonomía funcional.
Art. 95. El Consejo Nacional de Educación y Cultura tendrá como objetivos principales:
a. participar en la formulación de la política cultural y educativa nacional, en diálogo con el
Ministerio de Educación y Cultura y presentándole formalmente sus propuestas;
b. cooperar en su ejecución a corto, mediano y largo plazo;
c. colaborar para la coordinación entre los diferentes sectores y niveles de las diversas
instancias administrativas, que se ocupan de la educación y la cultura; y,
d. evaluar periódicamente e informar al Poder Ejecutivo y al Poder Legislativo sobre la
situación y evolución del sistema educativo nacional, por los conductos correspondientes.
Art. 96. Son funciones principales del Consejo Nacional de Educación y Cultura:
a. asesorar en lo atingente a la implementación de la política educativa y cultural
del país,
b. proponer al Ministro de Educación y Cultura las acciones y medios que ayuden a la
corrección de los defectos del sistema, a la solución de los problemas, y a desarrollar y
mejorar la educación en todo el país;
c. elaborar y actualizar los diagnósticos de la situación general de la educación y la cultura;
d. acompañar la actualización permanente de la educación;
e. dictaminar sobre el desarrollo de las instituciones de educación superior; y,
f. asesorar en la formulación de la política nacional referente a la investigación científica y
tecnológica, en coordinación con los organismos competentes.
Art. 97. Los miembros de Consejo Nacional de Educación y Cultura serán doce, elegidos por
su idoneidad, honestidad y relevancia intelectual, entre especialistas del nivel superior en la
ciencia de la educación y del ámbito de la cultura, así como de otros profesionales de diversos
ramos relacionados con la educación y la cultura, que se destaquen por su aporte a las
mismas.
Art. 98. El Ministro de Educación y Cultura es miembro nato de dicho Consejo y lo preside
durante el tiempo que permanezca en el ejercicio de sus funciones en el Ministerio.
Art. 99. Los miembros del Consejo Nacional de Educación y Cultura serán elegidos y
renovados parcial y sucesivamente cuatro cada tres años, siendo elegidos ellos por el
Presidente de la República, oído el parecer de las Comisiones de Cultura y Educación de
ambas Cámaras del Congreso Nacional.
Art. 100. Los miembros del Consejo Nacional de Educación y Cultura que no sean
funcionarios a sueldo del Estado, serán retribuido con sueldos fijados en el Presupuesto
General de Gastos de la Nación.
350
Art. 101. El Consejo Nacional de Educación y Cultura elaborará anualmente el presupuesto de
gastos para su funcionamiento, que será incluido en el Presupuesto anual del Ministerio de
Educación y Cultura. Dicho Ministerio le proveerá de toda la información, medios y recursos
necesarios para el cumplimiento de sus objetivos y funciones.
Art. 102. El Consejo Nacional de Educación y Cultura dictará su propio reglamento interno.
Sección II: El Viceministerio de Educación
Art. 103. El Viceministro de Educación , bajo las directivas del Ministro de Educación y
Cultura, será responsable de ejecutar y administrar las políticas del Estado para la educación y
el desarrollo educativo del país, coordinando y animando todos los servicios educativos, sean
públicos o privados.
Art. 104. El Viceministro de Educación tiene como funciones:
a. asesorar técnicamente al Ministro de Educación y Cultura en los aspectos de su
competencia y proponer las políticas educativas, que han de implementarse a corto, mediano y
largo plazo;
b. coordinar las estrategias, priorizar los planes y administrar la gestión de la educación
nacional, a través de las direcciones generales y los departamentos o unidades bajo su
responsabilidad;
c. evaluar, supervisar y controlar las tareas encomendadas a las direcciones generales y
departamentos ministeriales o unidades bajo su responsabilidad;
d. presidir las sesiones con los directores generales y directores de departamentos del
Viceministerio y participar de las sesiones de trabajo técnico con el Consejo Nacional de
Educación y Cultura o en otras sesiones de trabajo encomendadas por el Ministro de
Educación y Cultura;
e. en ausencia del Ministro de Educación y Cultura, firmará los acuerdos o convenios en
nombre de la Institución, y lo representará en aquellos eventos que el mismo lo designe;
f. coordinar la comunicación entre las direcciones generales, departamentos ministeriales y
unidades administrativas dependientes del Viceministerio de Educación;
g. velar por el cumplimiento de las disposiciones referentes al ámbito educativo; y, h.
mantener permanente comunicación con el Viceministerio de Cultura, el de la Juventud y el
Consejo Nacional de Deportes, con el objeto de coordinar su trabajo.
Sección III: El Viceministerio de Cultura
Art. 105. El Ministerio de Educación y Cultura, mediante el Viceministerio de Cultura será
responsable de la formulación y administración de las políticas culturales a nivel nacional.
Art. 106. El Viceministerio de Cultura contará con un Consejo Asesor de Cultura,
nombrado por decreto del Poder Ejecutivo, a propuesta del Viceministro. Dicho Consejo
prestará asesoramiento en todo lo concerniente al ámbito cultural, propondrá planes y
acciones de desarrollo y promoverá la animación y coordinación de los diferentes exponentes
de quehacer cultural.
Art. 107. El Viceministerio de Cultura tendrá definidas sus responsabilidades,
funciones, acciones y administración por una ley nacional de cultura, en consonancia con la
presente ley.
Sección IV: Estructura del Ministerio Viceministerios, Direcciones, Departamentos, Unidades
Técnicas y Administrativas y sus Funciones
Art. 108. La Ley Orgánica del Ministerio de Educación y Cultura establecerá la estructura
general del mismo, la creación de otros viceministerios que fueren necesarios, así como las
direcciones u órganos y sus respectivas funciones.
Sección V: La Supervisión Educativa
Art. 109. El Ministerio de Educación y Cultura tiene la responsabilidad de la supervisión
educativa para inspección y apoyo administrativo y técnico pedagógico de las instituciones
públicas y privadas. La supervisión será ejercida por supervisores de control y apoyo
351
administrativo y supervisores de apoyo técnico pedagógico. El Ministerio de Educación y
Cultura reglamentará el ejercicio de dichas funciones.
Art. 110. El supervisor será designado por concurso público y durará en el cargo seis años,
pudiendo ser reelecto.
Sección VI: Organismos e Instituciones Dependiente del Ministerio de Educación y Cultura
Art. 111. El Ministerio de Educación y Cultura reglamentará las instituciones y organismos
que dependen del mismo.
Capítulo II: Las Actividades Educativas de los Gobiernos Departamentales y de los
Municipios
Art. 112. El Ministerio de Educación y Cultura y los gobiernos departamentales y municipales
establecerán el modo de coordinación de los servicios de educación y cultura que corresponda
a cada una de ellas según su jurisdicción, en consonancia con los términos de esta ley.
Capítulo III: Los Consejos Departamentales de Educación
Art. 113. El Ministerio de Educación y Cultura creará Consejos Departamentales de
Educación en todos los departamentos del país, en coordinación con las gobernaciones.
Título VII: Régimen Escolar
Capítulo I: El Año Lectivo: Admisión y Matrícula
Art. 114. El año lectivo, en la educación escolar básica, media y profesional tendrá como
mínimo doscientos días laborales contando cada día con no menos de cuatro horas en los
cuales no se incluyen los días de exámenes.
Art. 115. El Ministerio de Educación y Cultura determinará los aspectos relativos a la
administración escolar en los centros educativos públicos y concertará con los centros
educativos privados sobre los aspectos que, según las leyes vigentes, requieren de aprobación
ministerial. Fijará las fechas de admisión y matrícula de los centros educativos público, el
calendario anual y el horario de trabajo diario para los diversos turnos y definirá los períodos
escolares y los días de descanso. Atenderá siempre con la diversidad de circunstancias,
características y ciclos de producción y cosecha agrícola de los departamentos.
Art. 116. La admisión de los alumnos en los diversos niveles y modalidades del sistema
educativo nacional se regirá por esta ley y los reglamentos correspondientes. Las instituciones
privadas podrán agregar en su reglamento interno las condiciones que estimen convenientes
de acuerdo con las características educativas de la institución.
CAPÍTULO II: LOS CURRÍCULOS, PLANES Y PROGRAMAS
Art. 117. El Ministerio de Educación y Cultura diseñará los lineamientos generales de los
procesos curriculares, definiendo los mínimos exigibles del currículo común para el ámbito
nacional. En su decisión tendrá en cuenta la descentralización, la necesidad de la pertinencia
curricular y el derecho de las comunidades educativas. En la elaboración de los planes y
programas el Ministerio consultará especialmente a los gobiernos departamentales y a las
instituciones educativas públicas y privadas.
CAPÍTULO III: DE LA EVALUACIÓN EDUCACIONAL
Art. 118. El Ministerio de Educación y Cultura establecerá sistemas de evaluación de la
educación, tanto a los que corresponda a la educación de régimen general, como a la
educación de régimen especial. Tendrá por objeto velar por el cumplimiento de los fines y la
calidad de la educación.
CAPÍTULO IV: LA ORIENTACIÓN Y EL BIENESTAR ESTUDIANTIL
Art. 119. La orientación educacional es un derecho del alumno, estará incluida en la actividad
educativa de cada centro. Será ejercida por educadores orientadores, cuyas funciones estarán
definidas por su reglamento correspondiente.
Art. 120. El Ministerio de Educación y Cultura celebrará acuerdos con museos, bibliotecas,
instituciones de carácter cultural, científico, artístico, deportivo y recreativo, con el objeto de
facilitar la participación de los estudiantes.
352
CAPÍTULO V: RECONOCIMIENTO, CERTIFICADOS Y TÍTULOS OFICIALES
Art. 121. El Ministerio de Educación y Cultura reconocerá los correspondientes certificados o
títulos expedidos en las condiciones previstas por la presente ley por las instituciones
educativas públicas y privadas a los alumnos que hubiesen cumplido con la totalidad de las
exigencias prescriptas para todos los grados o niveles del sistema educativo nacional.
Art. 122. El Ministerio de Educación y Cultura reglamentará el reconocimiento,
homologación o convalidación de los títulos obtenidos en el país o en otros países.
Art. 123. Las instituciones de educación no formal podrán expedir certificados que reflejen el
reconocimiento de los estudios y capacidades adquiridas en su correspondiente proceso de
educación.
Art. 124. El Ministerio de Educación y Cultura tendrá a su cargo lo concerniente al registro y
control de títulos y certificados de estudios, con el fin de garantizar su validez y poder otorgar
la certificación y titulación oficial o facilitar otras credenciales de carácter académico.
Título VIII: Los Miembros de la Comunidad Educativa
CAPÍTULO I: DE LOS EDUCANDOS
Sección I: Derechos y Obligaciones
Art. 125. Son derechos del alumno:
a. ser respetado en su dignidad, en su libertad de conciencia y en todos su otros derechos,
según estado y edad;
b. recibir una educación de calidad con el objeto de que pueda alcanzar el desarrollo de sus
conocimientos, habilidades y valores con sentido de responsabilidad y solidaridad social;
c. recibir orientación social, académica, vocacional, laboral y profesional, que posibiliten su
inserción en la sociedad, en el mundo del trabajo o en la prosecución de sus estudios;
d. integrar libremente asociaciones, cooperativas, clubes, centros estudiantiles u otras
organizaciones comunitarias, legalmente constituidas;
e. ser evaluado en sus desempeños y logros, así como solicitar y recibir información de tales
evaluaciones por sí mismo y/o por sus padres o tutores según la edad;
f. ser atendido y desarrollar sus actividades educativas en edificios que respondan a las
normas mínimas de sanidad y seguridad, y que cuenten con las instalaciones y equipamiento
que posibiliten la calidad de las relaciones humanas y del servicio educativo; y
g. ser beneficiado con becas y otras ayudas.
Art. 126. Es deber del alumno el estudio, cumpliendo con las exigencias que determine la ley
y los reglamentos.
Sección II: Las Organizaciones Estudiantiles
Art. 127. Las organizaciones estudiantiles de educación escolar básica y media se regirán por
estatutos aprobados por las autoridades de la institución.
Art. 128. Los representantes y autoridades elegidas entre los alumnos tendrán como función el
promover el cumplimiento de los derechos y deberes de los educandos como miembros de la
comunidad educativa.
CAPÍTULO II: DE LOS PADRES O TUTORES DE LOS EDUCANDOS
Sección I: Responsabilidades, Derechos y Obligaciones
Art. 129. Los padres o tutores de alumnos tienen derecho a:
a. ser reconocidos como agentes naturales y primarios de la educación;
b. que sus hijos o menores bajo su tutela reciban la educación escolar básica y que ésta sea
gratuita. En caso de que se trate de hijos o menores bajo su tutela en situación excepcional,
deberán recibir educación especial;
c. elegir para sus hijos o menores bajo su tutela la institución educativa cuya orientación
responda a su convicciones filosóficas, éticas o religiosas;

353
d. asociarse y organizarse como cuerpo colegiado de padres y tutores con el objeto de
colaborar con el Estado y con el resto de la comunidad educativa en la mejor formación de los
alumnos; y
e. ser informados y orientados en forma periódica acerca de la evolución, evaluación y
resultados del proceso educativo de sus hijos o menores bajo su tutela.
Art. 130. Los padres o tutores están obligados a:
a. que sus hijos o menores bajo su tutela reciban la educación escolar básica obligatoria;
b. colaborar con las autoridades y demás miembros de la comunidad educativa institucional
para el mejor desarrollo de los planes, programas y actividades educativas, respetando la
responsabilidad profesional del docente;
c. acompañar y apoyar la evolución del proceso educativo de sus hijos o menores en tutoría;
y, d. respetar y hacer respetar a sus hijos o menores en tutoría, las normas de convivencia de
la institución educativa.
CAPÍTULO III: DE LOS EDUCADORES
Sección I: La Formación y Perfeccionamiento
Art. 131. Se reconoce el carácter profesional de los educadores. Los mismos deberán ser
egresados de los centros de formación docente, institutos superiores o universidades, con
planes y programas de formación o perfeccionamiento en ciencias de la educación, que
responden a los niveles y requisitos exigidos por las autoridades y las leyes o reglamentos
competentes.
Art. 132. El Ministerio de Educación y Cultura establecerá programas permanentes de
actualización, especialización y perfeccionamiento profesional de los educadores.
Sección II: El Ejercicio de la Profesión de Educador
Art. 133. El ejercicio de la profesión de educador estará a cargo de personas de reconocido
comportamiento ético y de idoneidad comprobada, provistas de título profesional
correspondiente, conforme a lo prescrito en la legislación correspondiente.
Art. 134. En caso de no contarse con personal titulado en educación, se podrán designar
interinamente para los cargos, a personas de reconocida solvencia intelectual, previo el
cumplimiento de lo establecido para la selección del personal.
Art. 135. Los educadores tienen derecho a:
a. un tratamiento social y económico acorde con su función;
b. ingresar al ejercicio de la profesión mediante un sistema de concursos;
c. ascender en la carrera docente, atendiendo a sus méritos y su actualización profesional;
d. ejercer su profesión sobre la base de la libertad de enseñanza, en el marco de las normas
pedagógicas y curriculares establecidas por la autoridad competente;
e. ejercer su profesión en edificios escolares que reúnan las condiciones mínimas de
seguridad, salubridad e idoneidad para su función, de acuerdo a las exigencias de la calidad de
vida y educación;
f. recibir los beneficios de la seguridad social para sí y su familia y los de la jubilación;
g. asociarse y participar en organizaciones gremiales y sindicales; y,
h. los deberes contemplados en las leyes laborales y el Estatuto del Personal de la Educación.
Art. 136. Son deberes de los profesionales de la educación.
a. acatar las normas del sistema educativo nacional, las de convivencia y el reglamento
interno de la institución en que se integran;
b. respetar la dignidad, la integridad y la libertad de los alumnos y de los demás miembros de
la comunidad educativa, en el marco de la convivencia;
c. colaborar solidariamente en los proyectos, programas y actividades de la comunidad
educativa;
d. desarrollar su formación y actualizarse permanentemente en el ámbito de su profesión; y
e. los deberes contemplados en las leyes laborales y el Estatuto del Personal de la Educación.
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Sección III: El Estatuto del Personal de la Educación
Art. 137. El estatuto del personal de la educación será definido en una ley especial acorde con
esta ley.
CAPÍTULO IV: DEL PERSONAL ADMINISTRATIVO Y AUXILIAR DE LAS
INSTITUCIONES
Educativas
Sección I: Responsabilidades y Funciones
Art. 138. El director es la autoridad responsable de la institución educativa, y quien la dirige y
administra. Las instituciones educativas contarán con personal administrativo y auxiliar
competente e idóneo. Sus funciones, derechos y obligaciones quedarán definidas en las leyes,
estatutos y reglamentos correspondientes.
Sección II: Las Asociaciones del Personal Administrativo y Auxiliar
Art. 139. El personal administrativo y auxiliar podrá asociarse, agremiarse o sindicalizarse
atendiendo el ámbito de sus intereses, funciones y responsabilidades, de acuerdo con las leyes
laborales vigentes.
Título IX: Los Establecimientos Educativos
Capítulo I: Definición y Características de los Establecimientos Educativos
Art. 140. Las instituciones educativas privadas para ser oficialmente reconocidas, deberán
tener licencia de funcionamiento otorgado por el Ministerio de Educación y
Cultura y disponer de instalaciones físicas, estructura administrativa y medios educativos
adecuados.
Art. 141. El Ministerio de Educación y Cultura, establecerá los requisitos mínimos de
infraestructura, pedagogía, administración, financiación y dirección necesarios para dicho
reconocimiento de acuerdo a los principios democráticos, en diálogo con las instituciones
educativas privadas.
Art. 142. El Ministerio de Educación y Cultura podrá autorizar a institutos superiores,
universidades u otras instituciones privadas de reconocido nivel científico, la creación de
centros educativos que exploren e investiguen la aplicación de nuevos paradigmas
pedagógicos. En dichos casos el Ministerio podrá otorgar el reconocimiento para la concesión
de títulos oficiales.
Capítulo II: La Comunidad Educativa de los Establecimientos de Educación
Inicial, Educación Escolar Básica y Media
Art. 143. La dirección del establecimiento o institución educativa promoverá la organización
de la asociación de padres y la de alumnos, y apoyará la creación de la asociación de
educadores profesionales de la institución, así como la del personal administrativo y auxiliar,
con criterios y prácticas educativas democráticas.
Art. 144. Las asociaciones citadas en el art. anterior, integradas
participativamente en la institución como comunidad educativa, podrán contribuir al
mantenimiento y desarrollo de la institución y a mejorar la calidad de la educación.
Título X: Financiación de la Educación
CAPÍTULO I: RECURSOS ESTATALES
Art. 145. La asignación presupuestaria para la educación, en ningún caso podrá ser menor al
veinte por ciento del Presupuesto General de Gastos de la Nación. El Estado, por medio de
dicho presupuesto, proveerá los bienes y recursos necesarios para:
a. el funcionamiento del Ministerio de Educación y Cultura y el Consejo Nacional de
Educación y Cultura, la investigación educativa y los demás servicios Del Ministerio;
b. el funcionamiento, equipamiento, mantenimiento y desarrollo de los establecimientos
educativos públicos;
c. la creación de nuevas instituciones educativas públicas;

355
d. el crecimiento vegetativo del sistema educativo nacional en el ámbito de la educación
formal, de la no formal y de la refleja;
e. las ayudas convenidas a las instituciones privadas, en lo previsto en esta Ley; y,
f. cuando sea necesario para el desarrollo educativo sostenible y la actualización
permanente de las educadoras y educadores y del sistema educativo nacional en general.
Art. 146. El sistema educativo nacional contará además con los aportes oficiales de las
gobernaciones y de los municipios, de acuerdo a las políticas de descentralización y la
administración de sus presupuestos.
Art. 147. El Ministerio de Educación y Cultura con acuerdo del Ministerio de Hacienda podrá
vender a terceros, documentos de información o materiales de recursos didácticos de propia
producción.
Art. 148. En la asignación de recursos se dará prioridad a la educación de los sectores
marginales de la población, al sector rural, a las áreas urbanas marginales y las zonas
fronterizas.
CAPÍTULO II: FINANCIACIÓN DE INSTITUCIONES EDUCATIVAS PÚBLICAS
DE GESTIÓN PRIVADA
Art. 149. El Estado, por la mediación del Ministerio de Educación y Cultura, buscará y
concertará con las instituciones educativas privadas que cumplen la función social del servicio
educativo a comunidades y ciudadanos con necesidades básicas insatisfechas, el modo de
financiar y de hacer realidad para ellos la gratitud de la educación escolar básica.
Art. 150. Las instituciones educativas privadas estarán exentas de todo tipo de tributos. Las
mismas podrán presentar anualmente al Ministerio de Educación y Cultura sus solicitudes de
fondo para becas a personas de menores recursos o características intelectuales excepcionales
para su consideración en el Presupuesto de Educación.
CAPÍTULO III: RECURSOS DE LA COMUNICAD EDUCATIVA
Art. 151. El reglamento interno o las normas de convivencia de cada institución y los
estatutos correspondientes de las asociaciones de padres, profesores administrativos,
alumnos de la comunidad educativa institucional, determinarán en modo de administración y
uso de los fondos y recursos que puedan aportar los miembros de tales asociaciones a la
institución y el sistema de contraloría de los mismos.
Art. 152. Las donaciones privadas que se destinen a la educación se considerarán gasto
público social y podrán ser deducidos de impuestos.
Art. 153. Las empresas deberán dar facilidades a sus trabajadores en orden a su capacitación y
perfeccionamiento profesional. El Ministerio de Educación y Cultura creará programas
especiales y formalizará convenios con empresas a objeto de obtener su cooperación para
instituciones educativas, programas de pasantías para educación técnica, capacitación en
sistema dual, actividades culturales e investigación científica.
CAPÍTULO IV: ESTÍMULOS ESPECIALES
Art. 154. El Estado establecerá por medio de sus instituciones estímulos y apoyos creando
líneas de créditos, donaciones, becas para alumnos y educadores profesionales, especialmente
para aquellos que trabajan en zonas de incomodidad relativa.
Art. 155. El Estado establecerá estímulos para las instituciones educativas públicas y privadas,
y para centros de educación no formal, con destino a programas de:
a. investigación en la cultura, la educación, la ciencia y la tecnología;
b. ampliación de cobertura educativa presencial o a distancia;
c. construcción, adecuación de infraestructuras, instalaciones deportivas y artísticas;
d. creación o mejora de bibliotecas, talleres y laboratorios; y,
e. materiales y equipos didácticos; Sobre todo cuando se trata de servicios de carácter
solidario, comunitario y cooperativo con sectores marginales o para comunidades del sector
rural, áreas urbanas marginales y zonas fronterizas.
356
Art. 156. El Ministerio de Educación y Cultura implementará el sistema de becas oficiales de
perfeccionamiento en el exterior dedicadas a la investigación y a la docencia.
Título XI: Disposiciones Transitorias y Complementarias
Art. 157. El actual Consejo Asesor de la Reforma Educativa asumirá transitoriamente las
funciones del Consejo Nacional de Educación y Cultura.
Art. 158. Los miembros del Consejo Nacional de Educación y Cultura serán designados según
se establece en el Art. correspondiente, a partir del principio del periodo legislativo de 1998.
Art. 159. Las instituciones actualmente dependientes del Ministerio de Educación y Culto que
no estuviesen mencionadas en esta ley, seguirán dentro de la estructura de dicho Ministerio de
Educación y Cultura hasta tanto las leyes determinen los nuevos términos de su vinculación
en el ámbito de la función pública del Estado.
Art. 160. Deróganse todas las disposiciones legales contrarias a la presente ley.
Art. 161. Comuníquese al Poder Ejecutivo. Aprobado el Proyecto de Ley por la Honorable
Cámara de Diputados, a veintiún días del mes de abril del año un mil novecientos noventa y
ocho, y por la Honorable Cámara de Senadores, a catorce días del mes de mayo del año un
mil novecientos noventa y ocho, quedando sancionado el
mismo, de conformidad con lo dispuesto en el Artículo 207, numeral 1 de la Constitución
Nacional.

Atilio Martínez Casado (Presidente H. Cámara de Diputados), Diego Abente Brun (Vice-
Presidente 1° En Ejercicio de la Presidencia - H. Cámara de Senadores), Patricio Miguel
Franco (Secretario Parlamentario), Miguel Ángel González Casabianca (Secretario
Parlamentario).
Asunción, 26 de mayo de 1998
Téngase por la Ley de la República, publíquese e insértese en el Registro Oficial
Juan Carlos Wasmosy (El Presidente de la República), Vicente Sarubbi (Ministro de
Educación y Culto)

357
ANEXO VIII

LEY N° 3231/2007
Lei nº 3231/2007

PODER LEGISLATIVO '


LEY N° 3231/2007

QUE CREA LA DIRECCIÓN GENERAL DE EDUCACIÓN ESCOLAR INDÍGENA.


EL CONGRESO DE LA NACION PARAGUAYA SANCIONA CON FUERZA DE LEY:

CAPÍTULO I DE LOS PRINCIPIOS GENERALES


Art. 1. La presente Ley reconoce y garantiza el respeto y el valor de la existencia de la
educación indígena. Todos los miembros de los pueblos y las comunidades indígenas tienen
garantizada una educación inicial, escolar básica y media acorde a sus derechos, costumbres y
tradiciones, con la finalidad de fortalecer su cultura y posibilitar su participación activa en la
sociedad.
Art. 2. Todos los miembros de las comunidades indígenas gozan de sus derechos consagrados
en la Constitución Nacional, la Ley Nº 234/93 “QUE APRUEBA EL CONVENIO Nº 169
SOBRE PUEBLOS INDIGENAS Y TRIBALES EN PAISES INDEPENDIENTES,
ADOPTADO DURANTE LA 76ª. CONFERENCIA INTERNACIONAL DEL TRABAJO,
CELEBRADA EN GINEBRA EL 7 DE JUNIO DE 1989”, la Ley Nº 904/81 “ESTATUTO
DE LAS COMUNIDADES INDÍGENAS”, y la Ley Nº 1264/98 “GENERAL DE
EDUCACIÓN”.
Art. 3. El Estado garantiza el derecho de los pueblos indígenas a que puedan aplicar sus
pautas culturales y formas de enseñanza en relación armónica a lo dispuesto en la Ley Nº
1264/98 “GENERAL DE EDUCACIÓN”.
Art. 4. A través de la presente Ley se crea y establece una estructura dentro del Ministerio de
Educación y Cultura, desde donde se delinean las políticas educativas de los pueblos
indígenas y que posibiliten el cumplimiento de la legislación vigente.
CAPÍTULO II DE LA CREACIÓN DE LA DIRECCIÓN GENERAL DE
EDUCACIÓN ESCOLAR INDÍGENA
Art. 5. Créase la Dirección General de Educación Escolar Indígena, con el objeto de asegurar
a los pueblos indígenas:
a) el respeto a los procesos educativos y de transmisión de conocimientos en las comunidades
indígenas;
b) una educación escolar específica y diferenciada, potenciando su identidad, respetando su
cultura y normas comunitarias;
c) el reconocimiento explícito que la escolarización de los pueblos indígenas debe ser una
articulación de los dos sistemas de enseñanzas: el sistema indígena y el sistema de la sociedad
nacional, fortaleciendo los valores de cada cultura;
d) los conocimientos necesarios de la sociedad nacional y su funcionamiento para asegurar la
defensa de sus intereses y la participación en la vida nacional, en igualdad de condiciones en
cuanto grupos de culturas anteriores a la formación y constitución del Estado paraguayo, tal
como lo establece el Art. 62 de la Constitución Nacional; y,
e) el funcionamiento de los niveles de educación inicial, escolar básica y media del sistema
educativo nacional y la utilización de sus lenguas y procesos propios en el aprendizaje de la
enseñanza escolar.
Art. 6. El sistema de educación escolar indígena en cuanto a la enseñanza nacional,
departamental y local con la colaboración del órgano indigenista oficial, desarrollará:
358
a) una educación inicial, escolar básica y media;
b) currículo y programas;
c) metodología específicas del proceso de enseñanza–aprendizaje de la educación escolar
indígena; y,
d) centros para la formación, especialización y capacitación de docentes indígenas que
funcionen especialmente en zonas geográficas y culturales indígenas, tal como lo establecen
los Artículos 21 y 22 del “CONVENIO Nº 169 SOBRE PUEBLOS INDÍGENAS Y
TRIBALES EN PAÍSES INDEPENDIENTES, ADOPTADO DURANTE LA 76ª.
CONFERENCIA INTERNACIONAL DEL TRABAJO, CELEBRADA EN GINEBRA EL 7
DE JUNIO DE 1989”, aprobado por la Ley N° 234/93.
CAPÍTULO III DE LA EDUCACIÓN ESCOLAR
Art. 7. Las escuelas indígenas tendrán currículum elaborado de acuerdo con las
especificidades étnicas y culturales de cada pueblo que les asegure:
Programas de Estudio
a) que respondan a sus necesidades particulares, abarquen su historia, sus conocimientos y
técnicas y sus sistemas de valores sociales, económicos y culturales;
b) preparados en la propia comunidad con la participación de maestros, padres de familia,
líderes religiosos y políticos con el apoyo de especialistas indígenas y no indígenas para
encauzar la enseñanza en términos de la sabiduría tradicional;
c) que respondan a la conservación y racionalización de los recursos naturales; y,
d) que faciliten un mayor conocimiento sobre la cultura y la situación de todos los pueblos
indígenas que habitan en el país.
Metodologías
a) propias de cada uno de los pueblos indígenas para presentar tanto los contenidos indígenas
como los no indígenas;
b) con relatos de la historia de los pueblos indígenas realizados por líderes religiosos,
ancianos y otros conocedores de la misma;
c) con períodos de enseñanzas fuertes y cortos de manera gradual desde la vivencia del niño
en su comunidad, para luego ampliar el conocimiento con lo que le rodea; y,
d) que tengan en cuenta la participación de los alumnos/as en los rituales religiosos indígenas
y otras costumbres.
Materiales Didácticos
a) preparados en el marco de la comunidad indígena respectiva con la participación de los
maestros, padres de familia, líderes políticos y religiosos, con el apoyo de especialistas
indígenas y no indígenas; y,
b) elaborados en las comunidades indígenas y que reúnan las condiciones básicas requeridas y
reconocidas por el Ministerio de Educación y Cultura.
CAPÍTULO IV DE LA FORMACIÓN DOCENTE
Art. 8. Se crearán centros de formación, especialización y capacitación de docentes indígenas,
tal como lo establecen los Artículos 21 y 22, del “CONVENIO Nº 169 SOBRE PUEBLOS
INDÍGENAS Y TRIBALES EN PAÍSES INDEPENDIENTES, ADOPTADO DURANTE
LA 76ª. CONFERENCIA INTERNACIONAL DEL TRABAJO, CELEBRADA EN
GINEBRA EL 7 DE JUNIO DE 1989”, aprobado por Ley Nº 234/93, especialmente en zonas
geográficas específicas y culturales indígenas.
Se realizarán cursos, reuniones y encuentros de capacitación de maestros indígenas para
evaluar los trabajos escolares y compartir experiencias.
CAPÍTULO V DE LA ESTRUCTURA DE LA DIRECCIÓN GENERAL DE
EDUCACIÓN INDÍGENA
Art. 9. La Dirección General de Educación Escolar Indígena contará con la siguiente
estructura:
359
a) Consejo Nacional de Educación Indígena;
b) Áreas de Educación Escolar Indígena.
A. Consejo Nacional de Educación Indígena
Instancia de coordinación del Sistema de Educación Indígena Nacional. '
Estructura
a) representantes del Ministerio de Educación y Cultura (MEC);
b) representantes del Consejo Nacional de Educación (CONEC);
c) representantes del órgano indigenista oficial;
d) representantes de las gobernaciones;
e) representantes de las Organizaciones No Gubernamentales (ONG); y,
f) representantes de los Consejos de Areas de Educación Escolar Indígena.
Funciones
a) definir principios y políticas de educación nacional sobre la base de propuestas presentadas
por los Consejos de Áreas y artícularlas con las políticas nacionales de educación;
b) definir las áreas de educación indígena teniendo en cuenta las especificidades de los
pueblos indígenas a los cuales se destina; y,
c) coordinar, acompañar y evaluar los procesos pedagógicos de la educación indígena en el
país.
B. Áreas de Educación Escolar Indígena
Instancia de participación de los diferentes pueblos indígenas acerca de los procesos escolares
en sus respectivas zonas geográficas.
Estructura
B.1 Las asambleas indígenas:
Compuestas por miembros de las comunidades indígenas, líderes políticos, religiosos, padres,
maestros y otros miembros de la comunidad.
Funciones:
a) formular principios políticos, locales, regionales y nacionales;
b) asegurar el desarrollo de los procesos escolares; y,
c) estudiar los nombramientos de maestros indígenas propuestos por las comunidades.
B.2 Consejo de área de educación indígena:
Compuesto por representantes de las asambleas y organizaciones indígenas de la zona y por
las entidades gubernamentales y no gubernamentales que trabajan directamente en la
educación escolar indígena.
Funciones:
a) facilitar la convocatoria de las asambleas indígenas;
b) garantizar la representación indígena, como mínimo la paridad, en esta instancia del
Consejo de Área;
c) ejecutar las políticas regionales y locales de acuerdo con las asambleas y el Consejo
Nacional de Educación Indígena;
d) definir programas de formación y capacitación para docentes indígenas;
e) habilitar a los docentes indígenas nombrados por las comunidades; y,
f) posibilitar la producción de materiales didácticos tanto en su propia lengua como en las
otras dos oficiales.
CAPÍTULO VI DE LOS RECURSOS
Art. 10.- Son recursos financieros y económicos:
a) los establecidos en el Presupuesto General de la Nación para el Ministerio de Educación y
Cultura, asignados a la Dirección General de Educación Indígena y a los órganos que la
componen;
b) los recursos asignados por gobiernos departamentales, entidades de bien social y
organismos de cooperación multilateral; y,
360
c) otros ingresos provenientes de legados, donaciones y los fondos de proyectos de
autogestión.
Art. 11.- Comuníquese al Poder Ejecutivo.
Aprobado el Proyecto de Ley por la Honorable Cámara de Diputados, a los catorce días del
mes de diciembre del año dos mil seis, y por la Honorable Cámara de Senadores, a los treinta
y un días del mes de mayo del año dos mil siete, quedando sancionado el mismo, de
conformidad con lo dispuesto en el Artículo 211 de la Constitución Nacional.

[Assinam:]
Víctor Alcides Bogado González (Presidente. Cámara de Diputados)
Enrique González Quintan (Presidente. Cámara de Diputados)
Zacarías Vera Cárdenas (Secretario Parlamentario)
Arsenio Ocampos Velázquez (Secretario Parlamentario)

Asunción, 29 de junio de 2007.

Téngase por Ley de la República, publíquese e insértese en el Registro Oficial.


Nicanor Duarte Frutos (El Presidente de la República), Blanca Ovelar de Duarte
(Ministra de Educación y Cultura)

361
ANEXO IX

LEY DE LENGUAS DEL PARAGUAY Nº 4251/2010


Lei de Línguas do Paraguai nº 4521/2010

El Congreso de la Nación Paraguaya sanciona con fuerza de Ley:

TÍTULO I DE LAS DECLARACIONES FUNDAMENTALES


CAPÍTULO I DE LOS FINES
Art. 1. Objeto. La presente ley tiene por objeto establecer las modalidades de utilización de
las lenguas oficiales de la República; disponer las medidas adecuadas para promover y
garantizar el uso de las lenguas indígenas del Paraguay y asegurar el respeto de la
comunicación visogestual o lenguas de señas. A tal efecto, crea la estructura organizativa
necesaria para el desarrollo de la política lingüística nacional.
Art. 2. De la pluriculturalidad. El Estado paraguayo deberá salvaguardar su carácter
pluricultural y bilingüe, velando por la promoción y el desarrollo de las dos lenguas oficiales
y la preservación y promoción de las lenguas y culturas indígenas. El Estado deberá apoyar a
los esfuerzos para asegurar el uso de dichas lenguas en todas sus funciones sociales y velará
por el respeto a las otras lenguas utilizadas por las diversas comunidades culturales en el país.
Art. 3.De las lenguas oficiales. Las lenguas oficiales de la República tendrán vigencia y
uso en los tres Poderes del Estado y en todas las instituciones públicas. El idioma guaraní
deberá ser objeto de especial atención por parte del Estado, como signo de la identidad
cultural de la nación, instrumento de cohesión nacional y medio de comunicación de la
mayoría de la población paraguaya.
Art. 4. El guaraní en las organizaciones supranacionales. El Estado promoverá el
reconocimiento del guaraní como lengua oficial de las organizaciones supranacionales que
integre.
Art. 5. De la promoción de las lenguas originarias. El Estado promoverá la preservación y el
uso de las lenguas originarias de América, tanto en el país como en las organizaciones
internacionales en las que participe.
Art. 6. De la enseñanza de lenguas extranjeras. El Estado promoverá la enseñanza de lenguas
extranjeras, especialmente de aquellas que son lenguas oficiales de los Estados coasociados en
Organizaciones supranacionales.
Art. 7. De la no discriminación por razones Lingüísticas. Ninguna persona ni comunidad
lingüística será discriminada ni menoscabada por causa del idioma que utiliza. Los tribunales
del fuero jurisdiccional correspondiente serán competentes para conocer de las violaciones
que se produzcan en relación con los derechos lingüísticos reconocidos por esta ley a los
habitantes del Paraguay.
Art. 8. Del valor jurídico de las expresiones. Las declaraciones ante cualquier autoridad y los
documentos públicos y privados producen los mismos efectos jurídicos si se expresan total o
parcialmente en cualquiera de los idiomas oficiales. Cuando el lenguaje utilizado sea
visogestual o lengua de señas, su transcripción para uso oficial se hará en el idioma oficial que
se considere pertinente para el caso.
CAPITULO II DE LOS DERECHOS LINGÜÍSTICOS
Art. 9. De los derechos lingüísticos individuales: Todos los habitantes de la República tienen
derecho a:
1. Conocer y usar las dos lenguas oficiales, tanto en forma oral como escrita, y a comunicarse
con los funcionarios públicos en general en una de ellas. Los ciudadanos indígenas tienen
además el derecho a conocer y usar su lengua propia.

362
2. Recibir información en su lengua, de parte de los empleadores privados, en los temas
laborales y administrativos de interés general.
3. Recibir información oficial en guaraní y en castellano a través de los medios de
comunicación del Estado o de los medios de comunicación privados que emitieren
información oficial del Estado.
4. No ser discriminado por razón de la lengua utilizada.
5. Utilizar cualquiera de las dos lenguas oficiales ante la administración de justicia y que sus
declaraciones sean transcriptas en la lengua elegida sin mediar traducción alguna. La persona
usuaria de otra lengua tiene derecho a ser asistida en juicio por personas que conozcan su
idioma.
6. Recibir desde los inicios del proceso escolar la educación formal en su lengua materna,
siempre que la misma sea una de las lenguas oficiales del país o una lengua indígena.
7. Aprender otras lenguas nacionales y extranjeras.
Art. 10. Derechos lingüísticos colectivos nacionales. Son derechos lingüísticos de la
comunidad nacional:
1. Contar con un plan de educación bilingüe guaraní – castellano en todo el sistema de
educación nacional, desde la educación inicial hasta la superior, y con planes diferenciados
para los pueblos indígenas.
2. Tener disponibles los servicios del Estado en las dos lenguas oficiales.
3. Tener la presencia equitativa de las lenguas guaraní y castellana en los medios de
comunicación del Estado y en los programas oficiales emitidos por medios privados de
comunicación.
4. Contar con servicios informativos estatales y señalizaciones, en ambas lenguas oficiales.
Art. 11. De los derechos lingüísticos colectivos comunitarios. Son derechos lingüísticos de las
comunidades culturales diferenciadas:
1. Ser reconocidas como miembros de una comunidad lingüística diferente.
2. Mantener la lengua y cultura propias de su pueblo.
3. Asociarse con otros miembros de su misma comunidad lingüística para la defensa y
promoción de la lengua y la cultura propias.
4. Recibir colaboración de los miembros de la comunidad nacional ante complicaciones
transfronterizas.
Art. 12. De la responsabilidad del Estado hacia los pueblos indígenas. Los pueblos indígenas
que habitan el territorio nacional tienen derecho a recibir apoyo del Estado para garantizar la
supervivencia y funcionalidad de sus lenguas y culturas, como medio para fortalecer su
identidad étnica.
Art. 13. De las minorías culturales no indígenas. Las comunidades culturales no indígenas
tienen derecho a contar con facilidades para acceder al conocimiento y uso de las lenguas
oficiales de la República, sin perder el derecho de usar sus respectivas lenguas.
CAPÍTULO III DEL USO DE LAS LENGUAS OFICIALES EN EL ÁMBITO
PÚBLICO
Art. 14. De las leyes y demás disposiciones normativas. Las leyes de la República del
Paraguay serán promulgadas en idioma castellano, pero las instituciones del Estado deberán
contar con textos en las dos lenguas oficiales, una vez establecidos el alfabeto y la gramática
oficial aplicable. Igual procedimiento se utilizará con las demás disposiciones normativas de
rango inferior a la ley, incluidas las ordenanzas municipales, una vez establecidos el alfabeto
y la gramática oficial del idioma guaraní.
Art. 15. Del uso en el ámbito judicial. Ambas lenguas oficiales serán aceptadas
indistintamente en la administración de la justicia. Para el efecto, la misma deberá tener
operadores y auxiliares de justicia con competencia comunicativa oral y escrita, en ambas
lenguas oficiales. Las resoluciones definitivas que afecten a partes que sólo hablan el idioma
363
guaraní se dictarán en ambas lenguas oficiales, una vez establecidos el alfabeto y la gramática
oficial del idioma guaraní.
Art. 16. De las comunicaciones. Los avisos, formularios e impresos oficiales estarán
redactados en los dos idiomas oficiales. Asimismo, en la publicidad oficial se utilizarán
equitativamente las dos lenguas oficiales, una vez establecidos el alfabeto y la gramática
oficial del idioma guaraní.
Art. 17. Del conocimiento de las dos lenguas oficiales para ocupar cargos públicos. Para el
acceso a los cargos en los organismos públicos nacionales, departamentales y municipales
como funcionarios, a igual idoneidad profesional, tendrán preferencia las personas con mayor
competencia lingüística y comunicativa en las dos lenguas oficiales. Los funcionarios ya
nombrados, que en razón de su cargo deban tener trato directo con las personas, dispondrán de
cinco años para adquirir la competencia comunicativa oral en las dos lenguas oficiales. Dentro
del territorio propio a una lengua indígena serán preferidas las personas con mayor
competencia lingüística y comunicativa en la lengua indígena propia de dicho territorio.
Art. 18. De los documentos de identidad. La cédula de identidad, el pasaporte y los demás
documentos de identificación personal, contendrán los datos en ambas lenguas oficiales, una
vez establecidos el alfabeto y la gramática oficial del idioma guaraní.
Art.19. De la inscripción de títulos en los Registros Públicos. La inscripción de todo tipo de
documentos y títulos en los Registros Públicos se hará en el idioma oficial en que esté
redactado el documento.
Art. 20. De la expedición de copias de documentos. Los Registros Públicos expedirán copias
de los documentos inscriptos en guaraní o en castellano o en ambas lenguas, a elección del
solicitante, siempre que se disponga de la versión respectiva. En caso de duda sobre el
significado o alcance del documento, se realizará la interpretación sobre el texto original.
Art. 21. Del respeto a la toponimia. Se conservarán en guaraní y en otras lenguas indígenas
los nombres de poblaciones, ríos, cerros y otros accidentes geográficos. A solicitud de las
comunidades afectadas, se recuperarán también los topónimos tradicionales que perduren en
la memoria colectiva. Dichos topónimos serán escritos con el alfabeto propio de la lengua
correspondiente.
Art. 22. De las etiquetas. Una vez establecidos el alfabeto y la gramática guaraní, las etiquetas
de los productos alimenticios y medicinales manufacturados o producidos en el país, estarán
impresas en ambas lenguas oficiales.
Art. 23. De los títulos académicos. Los títulos académicos de todos los niveles y modalidades
del sistema educativo nacional serán impresos en ambas lenguas oficiales y en un solo lado,
una vez establecidos el alfabeto y la gramática oficial del idioma guaraní.
Art. 24°. De la comunicación en los medios de transporte. En los medios de
transporte público, los rótulos y los avisos orales se harán en las dos lenguas oficiales y en la
lengua de uso mayoritario de los usuarios.
Art. 25. De las rotulaciones. Las gobernaciones y las municipalidades promulgarán
reglamentaciones y velarán por su cumplimiento para que las rotulaciones de calles,
señalizaciones, letreros comerciales, nominación de centros educacionales, culturales,
recreativos, sociales, deportivos, religiosos y otros, se expresen en ambas lenguas oficiales,
una vez establecidos el alfabeto y la gramática oficial del idioma guaraní. En los territorios
indígenas, se incluirán sus respectivas lenguas en las rotulaciones.
CAPÍTULO IV DE LOS IDIOMAS EN LA EDUCACIÓN
Art. 26. De la alfabetización en lengua materna. El niño y la niña que habiten el territorio
nacional tienen derecho a recibir educación inicial en su lengua materna, siempre que la
misma sea una de las lenguas oficiales del Estado. Los pueblos indígenas utilizarán en la
etapa inicial de la educación escolarizada sus respectivas lenguas. Las demás comunidades
culturales optarán por una de las lenguas oficiales.
364
Art. 27. De la participación de la comunidad educativa. El Ministerio de Educación y Cultura
dará participación a la comunidad educativa en la toma de decisiones acerca de la elección de
la lengua de alfabetización inicial. La elección del diseño de educación bilingüe resultará de la
aplicación de instrumentos de evaluación de competencia lingüística al educando y de los
compromisos colectivos asumidos por la comunidad educativa.
Art. 28°. De la enseñanza de las lenguas oficiales. Las lenguas oficiales serán enseñadas en
las instituciones públicas y privadas que integran el sistema educativo nacional, aplicando
métodos que garantizan la máxima eficacia comunicacional.
Art. 29. De las lenguas oficiales como instrumentos didácticos. Las lenguas oficiales serán
utilizadas como medio en la enseñanza en todos los niveles del sistema educativo: inicial,
escolar básica, media y superior, de conformidad con la competencia requerida para cada
nivel.
Art. 30. De la formación del profesorado. Los centros de formación docente deberán preparar
educadores bilingües, en guaraní y castellano. Según las circunstancias, en su ejercicio
docente, los profesores emplearán las dos lenguas oficiales como medio didáctico. Dentro del
territorio de una lengua indígena, deberán ser formados también en esa lengua, la cual se
empleará adicionalmente como medio didáctico.
TÍTULO II DE LA ESTRUCTURA ORGANIZATIVA PARA LA APLICACIÓN
DE LAS POLÍTICAS LINGÜISTICAS DE LA NACIÓN
CAPITULO I DE LOS ORGANISMOS
Art. 31. De la naturaleza. La Secretaría de Políticas Lingüísticas es un órgano dependiente de
la Presidencia de la República, que cumplirá sus funciones en coordinación con el Ministerio
de Educación y Cultura y la Secretaría Nacional de Cultura. Estará estructurado en tres
direcciones generales: Dirección General de Planificación Lingüística, Dirección General de
Investigación Lingüística y la Dirección General de Documentación y Promoción de Lenguas
Indígenas.
Art. 32. De la creación de los organismos. El diseño, implementación y supervisión de la
política lingüística nacional estará a cargo de los organismos creados por la presente ley. El
Presupuesto General de la Nación asignará los recursos necesarios para el cumplimiento de
sus respectivas funciones.
Art. 33. De la jefatura de la Secretaría. La Secretaría de Políticas Lingüísticas estará dirigida
por un Secretario Ejecutivo nombrado por la Presidencia de la República, de entre las
personas más idóneas en la materia regida por la presente ley.
Art. 34. De las competencias de la Secretaría de Políticas Lingüísticas. La Secretaría de
Políticas Lingüísticas es la autoridad de aplicación de la presente ley con la participación de
organismos públicos y privados vinculados al tema. Es la responsable de planificar el uso de
las lenguas, en especial las oficiales, en los ámbitos comunicacional, educativo, judicial,
comercial, administrativo, político, profesional y en toda instancia de interacción social. Le
compete igualmente promover investigaciones sobre el uso de las lenguas en el país.
Art. 35. De las condiciones para ocupar los cargos. Para ocupar el cargo de Secretario
Ejecutivo se requerirá título académico habilitante de grado universitario en materia de
lenguas. El postulante debe ser una persona de reconocida trayectoria intelectual, ser
competente en el uso de las lenguas oficiales y acreditar conocimientos sobre la situación
lingüística del Paraguay. Para los Directores Generales se exigirán los mismos requisitos.
Art. 36. De la calificación de los funcionarios. Los funcionarios de la Secretaría serán
nombrados de acuerdo con las exigencias establecidas en las normas generales del empleo
público. Serán técnicos especializados en alguna materia relacionada con el estudio de la
lengua y con capacidad para comunicarse oralmente y por escrito en las lenguas oficiales.
Art. 37. De la Dirección General de Planificación Lingüística. Esta dependencia elaborará las
normas necesarias para la aplicación de la presente ley. Promoverá proyectos y programas
365
para la normalización de todas las lenguas utilizadas en el Paraguay, en especial de las
lenguas oficiales, en todos los ámbitos de la interacción social.
Art. 38. De la Dirección General de Investigación Lingüística. Esta dependencia promoverá
investigaciones sobre las lenguas utilizadas en Paraguay, en todos sus aspectos, con la
finalidad de que los resultados se constituyan en bases referenciales para la toma de
decisiones en la planificación lingüística.
Art. 39. De la Dirección General de Documentación y Promoción de Lenguas Indígenas. Esta
dependencia registrará, tanto en forma oral como escrita, las lenguas indígenas y
prioritariamente las que se encuentran en peligro de extinción. Se encargará también de la
difusión de dichas lenguas, por los medios necesarios para darlas a conocer a toda la
comunidad nacional.
Art. 40. De las funciones específicas de la Dirección General de Planificación Lingüística. La
Dirección General de Planificación Lingüística tiene las siguientes funciones:
1. Velar por el respeto de los derechos lingüísticos individuales y colectivos expresados en
esta ley.
2. Asegurar que la utilización de las lenguas oficiales del país no sea discriminatoria en
perjuicio de una de ellas.
3. Promover y supervisar el uso de los idiomas oficiales en los formularios y documentos
utilizados por los organismos oficiales, así como en los letreros, carteles y rotulaciones de
calles realizadas por las municipalidades.
4. Regular la presencia de las lenguas oficiales y de las lenguas indígenas del Paraguay en los
medios de radiodifusión y televisión privados.
5. Promover la presencia de las lenguas oficiales y de las lenguas indígenas de Paraguay en
las nuevas tecnologías y en las industrias culturales.

Art. 41. De las funciones específicas de la Dirección General de Investigación Lingüística. La


Dirección General de Investigación Lingüística tiene las siguientes funciones:
1. Promover y patrocinar estudios científicos para la identificación y caracterización del
guaraní y castellano paraguayos como variedades idiomáticas propias del país, y la valoración
y enseñanza de dichas variedades a fin de que sean asumidas por los compatriotas como
signos de identidad cultural.
2. Realizar y actualizar el inventario lingüístico del país y el censo de hablantes de todos los
idiomas utilizados por comunidades de hablantes dentro del territorio nacional.
3. Evacuar consultas que formulen las instituciones y las personas sobre cuestiones
Lingüísticas.
4. Otras referidas a las competencias propias de la Secretaría de Políticas Lingüísticas.
Art. 42. De las funciones específicas de la Dirección General de Documentación y Promoción
de Lenguas Indígenas. La Dirección de Documentación y Promoción de Lenguas Indígenas
tiene las siguientes funciones:
1. Registrar en forma oral y escrita todas las lenguas indígenas del Paraguay y
prioritariamente de aquellas que se hallan en vías de extinción,
2. Impulsar la revitalización de las mismas
3. Promover el conocimiento, uso y valoración de las mismas en la comunidad nacional como
parte importante del patrimonio cultural de la nación.
CAPÍTULO II DE LA ACADEMIA DE LA LENGUA GUARANÍ
Art. 43. De la naturaleza de la Academia. La Academia de la Lengua Guaraní es una entidad
privada, sin fines de lucro, con personería jurídica y patrimonio propio. La misma establecerá
sus propios estatutos.
El Estado paraguayo otorgará anualmente, a través del Presupuesto General de la Nación, un
fondo de ayuda para el sostenimiento de las actividades de la Academia.
366
Art. 44. De la composición de la Academia. La Academia de la Lengua Guaraní representa la
soberanía lingüística del pueblo hablante de dicho idioma. Estará integrada por los más
destacados exponentes de los ámbitos lingüístico, literario y pedagógico de la lengua
Guaraní, en número no superior a treinta. Su plantel inicial será de quince miembros y será
instituido por la Secretaría de Política Lingüística, a través de un concurso público de títulos,
méritos y aptitudes; fundados en las obras realizadas o escritas por sus autores y la trayectoria
docente de los mismos. Dicho plantel dictará los estatutos de la Academia y posteriormente
ejercerá el derecho de coopción de sus futuros integrantes.
Art. 45. De las competencias de la Academia. La Academia de la Lengua Guaraní tiene
competencias para establecer la normativa de la lengua guaraní en sus aspectos ortográfico,
lexicológico, terminológico, gramatical y discursivo. Le compete igualmente publicar los
diccionarios y gramáticas oficiales de la lengua guaraní. Las tareas normativas se basarán en
investigaciones Lingüísticas y atenderán las modalidades de uso de la lengua hablada.
Art. 46. De las funciones específicas. La Academia de la Lengua Guaraní tiene las siguientes
funciones:
1. Normativizar la lengua guaraní a partir de investigaciones Lingüísticas incluyendo las
realizadas con hablantes de la lengua.
2. Establecer el alfabeto guaraní sobre la base del utilizado en la Convención Nacional
Constituyente de 1992.
3. Elaborar el diccionario general de la lengua guaraní y mantenerlo actualizado.
4. Elaborar la gramática fundamental de la lengua guaraní.
5. Elaborar diccionarios terminológicos para áreas profesionales y científicas específicas.
6. Identificar los mecanismos más adecuados para el enriquecimiento lexicológico del idioma
guaraní, en especial de aquellos que le permitan crecer y modernizarse sin alterar
esencialmente su estructura fonética, morfosintáctica y discursiva.
7. Recopilar las palabras nuevas creadas naturalmente por los hablantes de la lengua guaraní y
aprobar su incorporación formal al corpus lexical del guaraní.
8. Recuperar el léxico antiguo y propiciar su uso funcional.
9. Propiciar la incorporación de vocablos en uso en los dialectos indígenas de la familia
lingüística guaraní.
CAPÍTULO III DISPOSICIONES FINALES
Art. 47. De la normativa de la lengua castellana. La normativa de la lengua castellana se
regirá por las disposiciones de la Academia Paraguaya de la Lengua Castellana.
Art. 48. De la composición transitoria de la Secretaría de Políticas Lingüísticas. La actual
Comisión Nacional de Bilingüismo integrará transitoriamente la Secretaría de Políticas
Lingüísticas, hasta que ésta se halle plenamente constituida y se le asigne los recursos
pertinentes en el Presupuesto General de la Nación.
Art. 49. Los organismos del Estado. Los órganos señalados como autoridad de aplicación de
la presente ley, darán participación en el proceso de aplicación de la política lingüística
nacional a las instituciones privadas abocadas al mismo tema y, en concierto con ellas,
adoptarán todas las medidas necesarias para su aplicación progresiva.
En el caso de los pueblos indígenas, los mismos son responsables de sus respectivas lenguas.
Art. 50. Reglamentación. La autoridad de aplicación reglamentará los artículos referentes a la
lengua visogestual o lengua de señas y, aquellos que por su complejidad necesiten de mayor
desarrollo normativo.
Art. 51. Implementación. La implementación de las obligaciones derivadas de la presente ley
que requieran una expresión escrita, sólo serán exigibles una vez transcurridos tres años del
establecimiento del alfabeto y la gramática oficial del idioma Guaraní por parte de la
Academia de la Lengua Guaraní.
Art. 52. Comuníquese al Poder Ejecutivo.
367
Aprobado el Proyecto de Ley por la Honorable Cámara de Senadores, a los siete días del mes
de octubre del año dos mil diez, quedando sancionado el mismo, por la Honarable Cámara de
Diputados, a los nueve días del mes de diciembre del año dos mil diez, de conformidad a lo
dispuesto en el Artículo 204 de la Constitución Nacional.

Téngase por Ley de la República, publíquese e insértese en el Registro Oficial


Fernando Lugo (El Presidente de la república)

368
ANEXO X

DECRETO Nº 6588/1994

369
370
371
ANEXO XI

DECRETO Nº 588, POR EL CUAL SE INTEGRA LA COMISIÓN NACIONAL DE


BILINGÜISMO DEL MINISTERIO DE EDUCACIÓN Y CULTURA
Decreto nº 588, pelo qual se integra a Comissão Nacional de Bilinguismo do Ministério
da Educação e Cultura

372
373
374
ANEXO XII

COMISIÓN NACIONAL DE BILINGUISMO I


Comissão Nacional de Bilinguismo I

Acerca de la CNB
Organismo presidido por el/la Ministro/a de Educación y Cultura, en ejercicio e integrada por
referentes de la educación bilingüe en el Paraguay. Tiene como el compromiso y el mandato
de acompañar el desarrollo, la planificación y la evaluación de Programas y Proyectos en el
ámbito de bilingüismo.
Para el cumplimiento de su misión tomará en cuenta las necesidades lingüísticas de la
población escolarizada o no, sean monolingües castellano o guaraní, o de lenguas que
correspondan a minorías indígenas o a inmigrantes de lenguas diferentes a las mencionadas.
Antecedentes:
Creada por Decreto del Poder Ejecutivo N° 6588 de fecha 15 de noviembre de 1994.
Objetivos
1) Proponer, planificar y orientar el diseño e implementación de Políticas Lingüísticas
nacionales y regionales.
2) Planificar, organizar y acompañar el Plan Nacional de Educación Bilingüe en coordinación
con los demás organismos sociales, nacionales e internacionales, en el marco de nuestra
Constitución Nacional que declara en el Art. 140 que el Paraguay es un país pluricultural y
bilingüe, siendo el guaraní y el castellano las lenguas oficiales del país.
3) Tomar en cuenta las necesidades lingüísticas y educativas de la población, escolarizada o
no, sea monolingüe, castellano o guaraní, lenguas extranjeras o que corresponda a las
minorías indígenas existentes en el país.
Deberes y atribuciones
1. Orientar y acompañar al MEC y al CONEC en el proceso de diseño e implementación del
Plan de Educación Bilingüe.
2. Elaborar un plan anual de actividades tendientes al fortalecimiento del Plan Nacional de
Educación Bilingüe.
3. Acompañar al SNEPE en la evaluación y publicación de los logros y dificultades de la
aplicación del Plan Nacional de Educación Bilingüe del MEC.
4. Promover la investigación científica en las áreas afines a la situación lingüística del país.
5. Proponer estrategias para un efectivo seguimiento de los compromisos contraídos con los
miembros de la CNB, MEC, BID y otros.

375
ANEXO XIII

COMISIÓN NACIONAL DE BILINGUISMO II


Comissão Nacional de Bilinguismo II

La Constitución Nacional en sus artículos 77 y 140 reconoce la condición del Paraguay


como país bilingüe y establece el castellano y el guaraní como idiomas oficiales y la
obligatoriedad del uso de la lengua materna en los inicios de la lecto escritura.
El Plan Estratégico Paraguay 2020; plantea que para el año 2020 toda la población entre 15
y 50 años "se comunique fluidamente en castellano y guaraní, sepa leer y escribir con
expresividad en los dos idiomas y tenga sentido de pertenencia a una cultura en un contexto
multicultural".
Fundamento o marco legal: Al iniciarse la implementación de la Educación Bilingüe, el
Consejo Asesor de la Reforma Educativa, hoy Consejo Nacional de Educación y Cultura,
aconsejó al Ministerio de Educación y Cultura la instalación de un grupo o instancia técnica
que acompañe dicho proceso, y así por Decreto del Poder Ejecutivo N° 6588 de fecha 15 de
noviembre de 1994, se crea la Comisión Nacional de Bilingüismo y se le confiere como
propósito "planificar, organizar y acompañar un Programa Nacional en coordinación con
organismos multisectoriales". En el mismo Decreto se designa a los integrantes y ésta
presidida por el/la Ministro/a de Educación y Cultura, en ejercicio.
"Para el cumplimiento de sus fines, tomará en cuenta las necesidades lingüísticas de la
población escolarizada o no, sean monolingües castellano o guaraní, o de lenguas que
correspondan a minorías indígenas o a inmigrantes de lenguas diferentes a las mencionadas."
Los objetivos generales de la Comisión Nacional de Bilingüismo son:
1. Proponer, planificar y orientar el diseño e implementación de Políticas
Lingüísticas nacionales y regionales.
2. Planificar, organizar y acompañar el Plan Nacional de Educación Bilingüe en
coordinación con los demás organismos sociales, nacionales e internacionales, en el marco de
nuestra Constitución Nacional que declara en el Art. 140 que el Paraguay es un país
pluricultural y bilingüe, siendo el guaraní y el castellano las lenguas oficiales del país.
3. Tomar en cuenta las necesidades lingüísticas y educativas de la población,
escolarizada o no, sea monolingüe, castellano o guaraní, lenguas extranjeras o que
corresponda a las minorías indígenas existentes en el país.
4. Acompañar al Plan Nacional de Educación Bilingüe, para llevar adelante las
acciones conducentes a la elaboración de Proyectos para el enriquecimiento de las lenguas
oficiales.
5. Proteger, promover y elaborar para el enriquecimiento de la lengua guaraní como
el principal exponente del patrimonio cultural de nuestro país, así como de la identidad
cultural de los/as paraguayos/as.
6. Colaborar con el enriquecimiento de la lengua española, en vista a los cambios
socio-lingüísticos provenientes del proceso de modernización y globalización.
7. Sugerir y administrar el compromiso oficial de atención respecto a las lenguas del
MERCOSUR y a las necesarias para el uso en los avances científicos y tecnológicos.
Son deberes y atribuciones de la Comisión Nacional de Bilingüismo:

376
1. Orientar y acompañar al MEC y al CONEC en el proceso de diseño e implementación
del Plan de Educación Bilingüe.
2. Elaborar un plan anual de actividades tendientes al fortalecimiento del Plan Nacional de
Educación Bilingüe.
3. Acompañar al SNEPE en la evaluación y publicación de los logros y dificultades de la
aplicación del Plan Nacional de Educación Bilingüe del MEC.
4. Promover la investigación científica en las áreas afines a la situación lingüística del país.
5. Proponer estrategias para un efectivo seguimiento de los compromisos contraídos con
los miembros de la CNB, MEC, BID y otros.
6. Orientar y acompañar, previo conocimiento los planes y actividades de las instituciones
afines a la naturaleza de la Comisión.
7. Recabar sistemáticamente los informes y la documentación pertinente a las demás
instancias del MEC, otras entidades y organismos públicos, privados o mixtos, nacionales o
internacionales.
8. Aprobar y elevar el Anteproyecto de Presupuesto anual para el funcionamiento normal
de la CNB.
9. Requerir la colaboración, designación o contratación del personal administrativo o
técnico que considere necesario para el mejor cumplimiento de sus tareas.
10. Otros que establezca la Ley, el Poder Ejecutivo y/o las disposiciones dictadas por la
propia CNB en el ejercicio de sus facultades regladas.
Fundamento Teórico pedagógico: La Reforma Educativa plantea como uno de los pilares
fundamentales, un Programa de Educación Bilingüe que atienda escuelas con población
escolar diferenciada por su perfil lingüístico. Esta propuesta hace necesaria considerar las
demandas específicas de las necesidades de comunicación en el aula.
Así la implementación de la Reforma requiere de instancias calificadas de seguimiento y
evaluación que aseguren la calidad de la oferta educativa.
Fundamento de Gestión institucional: en el marco de la Reforma Educativa el Ministerio de
Educación y Cultura recibe el apoyo de Organismos nacionales e internacionales que
acompañan con recursos humanos y financieros la implementación de Programas específicos
en el ámbito curricular, en la producción del material educativo, en la capacitación docente y
en la investigación educativa; entre otros. Los Programas que se generan en el ámbito de la
Cooperación señalada precisan de un acompañamiento, monitoreo y evaluación permanentes
para lograr la calidad deseada y es la Comisión Nacional de Bilingüismo la instancia que por
su contenido y naturaleza ofrece las condiciones necesarias para el desarrollo de estrategias en
calidad y equidad.
Por consiguiente, en atención a lo expuesto la Comisión Nacional de Bilingüismo asume el
compromiso y el mandato de acompañar el desarrollo, la planificación y la evaluación de
Programas y Proyectos en el ámbito de bilingüismo. La referida participación no se centra en
la operativización de acciones, sino que se desarrollan en el ámbito de la planificación y la
definición de políticas lingüísticas y el seguimiento a la implementación del Programa de
Educación Bilingüe en la Reforma Educativa.

377
ANEXO XIV

ACTO DE PRESENTACIÓN DE INFORME DE LA COMISIÓN NACIONAL DE


BILINGÜISMO Y LA RED DE COOPERACIÓN INTERCULTURAL
MULTILINGÜE (RECIM)

378
379
380
381
ANEXO XV

AÇÕES DA SECRETARIA DE POLÍTICAS LINGUÍSTICAS DO PARAGUAI

SECRETARÍA DE POLÍTICAS LINGÜÍSTICAS-PARAGUÁI ÑE‟ẼNGUÉRA


SÃMBYHYHA
FUNCIONES ESPECÍFICAS DE LA DIRECCIÓN GENERAL DE PLANIFICACIÓN
LINGÜÍSTICA.
La Ley 4251/10 de Lenguas fue promulgada el 29 de diciembre de 2010, con este esta Ley el
Congreso de la Nación cumple con el mandato constitucional de reglamentar el artículo 140
de la Constitución Nacional que dicta lo siguiente:
Art. 140.- De los Idiomas. El Paraguay es un país pluricultural y bilingüe. Son idiomas
oficiales el castellano y el guaraní. La ley establecerá las modalidades de utilización de uno y
otro. Esta disposición es la que define finalmente la nueva política lingüística del Paraguay y
la creación de la Secretaría de Políticas Lingüísticas.
Dentro de esta cartera de Estado, se encuentra la Dirección General de
Planificación Lingüística, cuya principal misión es la aplicación efectiva y progresiva de la
ley 425/10 , amparado por el Artículo 3º- que dice :
Art. 3º.- De las lenguas oficiales.- las lenguas oficiales de la República tendrán vigencia y uso
en los tres poderes del estado y en todas las instituciones públicas. El idioma guaraní deberá
ser objeto de especial atención por parte del Estado, como signo de identidad cultural de la
nación, instrumento de cohesión nacional y medio de comunicación de la mayoría de la
población.
Asimismo hacemos mención especial a la Convención Internacional contra toda
forma de Discriminación Racial (CERD) – UNESCO.
La Convención Internacional contra toda forma de Discriminación Racial (CERD),
tratado internacional sobre derechos humanos adoptado por la Asamblea General de las
Naciones Unidas, recomendó al Estado Paraguayo, en el presente año, que como Estado
parte: implemente sin dilación la Ley de Lenguas Nº 4251/10, fijando un plan de concreción y
un presupuesto adecuado, en especial a lo relativo al uso de ambas lenguas oficiales en
condiciones equitativas, incluyendo en las áreas de la educación y la formación profesional y
en la administración de la justicia. También recomendó que Paraguay: tome en consideración
la opinión Nº 1 (2009) del mecanismo de expertos sobre el derecho de los pueblos indígenas
a la educación en sus esfuerzos para cultivar y fortalecer las lenguas indígenas y de otras
minorías.

Las funciones de esta Dirección temática se encuentran establecidas en el Artículo 40 de la


Ley 4251/10 de lenguas y reza cuanto sigue:
Art. 40. De las funciones específicas de la Dirección General de Planificación Lingüística. La
Dirección General de Planificación Lingüística tiene las siguientes funciones:
1.- Velar por el respeto de los derechos lingüísticos individuales y colectivos expresados en
esta ley.
2.- Asegurar que la utilización de las lenguas oficiales del país no sea discriminatoria en
perjuicio de una de ellas.
3.- Promover y supervisar el uso de los idiomas oficiales en los formularios y documentos
utilizados por los organismos oficiales, así como en los letreros, carteles y rotulaciones de
calles realizadas por las municipalidades.
4.- Regular la presencia de las lenguas oficiales y de las lenguas indígenas del Paraguay en los
medios de radiodifusión y televisión privados.
382
5.- Promover la presencia de las lenguas oficiales y de las lenguas indígenas de Paraguay en
las nuevas tecnologías y en las industrias culturales.
Desde los inicios de esta Secretaría, la Dirección General de Planificación Lingüística se
aboca enteramente a cumplir a cabalidad lo encomendado por ley , que es la normalización
del uso oral y escrito de la lengua guaraní junto al castellano, promoción y garantía de uso de
las lenguas indígenas del país, y asegurar el respeto de la lengua de señas, en todos los
ámbitos no habituales de uso de las lenguas. Para ello desde el mes de setiembre del 2013
iniciamos la elaboración del Plan Nacional de Uso de Lenguas, en el periodo comprendido del
mes de abril a noviembre del año en curso, se inicia el proceso de socialización del marco
lógico de dicho plan en los 17 Departamentos de la República del Paraguay y se encuentra en
pleno proceso de culminación para hacerlo aplicable desde el 2015 con aprobación por
decreto del Poder Ejecutivo.
A continuación presentamos el resultado de lo que será la hoja de ruta a seguir para la
concresión de los objetivos propuestos dentro de este plan. Dicho resultado fue discutido,
consensuado y avalado plenamente por los organismos y entidades estatales y la sociedad
civil, en el marco de la socialización de dicho plan.
Todas las actividades realizadas hasta la actualidad, ya se encuentran inmersas dentro del
Marco Lógico del Plan, y varias de ellas están en pleno proceso de maduración y realizados
con mucho éxito en varias instituciones y puntos del país.
Acciones adoptadas para implementar la Ley 4251/10 de Lenguas, tendientes a la
normalización de la lengua guaraní junto al castellano y el fortalecimiento del jardín
lingüístico del Paraguay.
1.- Socialización del Marco Lógico del Plan Nacional de Uso de Lenguas realizado en los
17 departamentos del país y cuyo objetivo principal es: Fortalecer el multilingüismo y la
interculturalidad, normalizando el uso oral y escrito de las lenguas oficiales, documentando y
promoviendo las lenguas y culturas indígenas y no indígenas del país, promoviendo el uso de
la lengua de señas, desarrollando investigaciones lingüísticas necesarias, promoviendo el
aprendizaje de las lenguas extranjeras, conforme a los mandatos de la Constitución Nacional,
los compromisos internacionales y las leyes de la República.
2.- Convenios de Cooperación Interinstitucional con organismos, entidades estatales y
empresas privadas.

Nº INSTITUCIÓN
1- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
el Tribunal Superior de Justicia Electoral (TSJE), firmado en fecha 11 de mayo del 2012.
2- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL y
la Secretaría de Acción Social (SAS), firmado en fecha 16 de julio del 2012.
Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Secretaría de Acción Social (SAS), firmado en fecha 28 de agosto del 2014.
Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
3- la Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI),
firmado en fecha 7 de agosto del 2012.
Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
4- el Ministerio de Educación y Cultura (MEC), firmado en fecha 9 de agosto del 2012.
Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
5- el Ministerio de Defensa y el Comando de las Fuerzas Armadas, firmado en fecha 1 de
noviembre 2.012.
Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
6- la Secretaría Nacional de la Niñez y la Adolescencia, firmado en fecha 22 de noviembre del
383
2012.
6.1-Acta Complementaria del Convenio de Cooperación entre la Secretaría de Políticas
Lingüísticas (SPL) y la Secretaria Nacional de la Niñez y la Adolescencia (SNNA), firmado en
fecha 23 de noviembre del 2.012.
7- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Secretaría Técnica de Planificación (STP), firmado en fecha 26 de marzo del 2013.
8- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
el Centro de Estudios Antropológicos de la Universidad Católica Nuestra Señora de la
Asunción, firmado en fecha 17 de abril del 2013.
Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
9- la Secretaría Nacional de Turismo (SENATUR), firmado en fecha 7 de mayo del 2013.
10- Convenio Marco de Cooperación Interinstitucional LINGUAPAX Internacional de Cataluña,
España, con la Secretaria de Políticas Lingüística de la República del Paraguay, firmado en
fecha 5 de agosto del 2013.
11- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
el Ministerio de la Mujer, firmado en fecha 9 de agosto del 2013.
12- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
el Mecanismo Nacional de Prevención de la Tortura (MNPT), firmado el 13 de agosto del año
2013.
13- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Universidad Nacional de Asunción, firmado en fecha 17 de octubre del 2013.
14- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Cámara de Anunciantes del Paraguay, firmado en fecha 23 de octubre del 2013.
15- Programa Nacional de Comunicación y Pueblos Indígenas, firmado en fecha 30 de octubre del
año 2013.
Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
16- la Defensoría del Pueblo, firmado en fecha 22 de noviembre del año 2.013.
17- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Facultad Politécnica de la Universidad Nacional de Asunción, firmado en fecha 6 de
diciembre del 2013.
18- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
Autores Paraguayos Asociados (APA), firmado en fecha 10 de diciembre del 2013.
19- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Secretaría Nacional de Cultura (SNC), firmado en fecha 16 de diciembre del 2013.
20- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Secretaría Nacional de Tecnologías de la Información (SENATICS) , firmado en fecha 7 de
febrero del 2.014.
20.1 Convenio para la Implementación de una Plataforma Elearnig Multimedia e Interactiva
para la Enseñanza de la Lengua Guaraní entre la Secretaria Nacional de Tecnologías de la
Información(SENATICS) y la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL), firmado en fecha 7 de
febrero del 2014.
21- Convenio de Cooperación entre el Parlamento del Mercosur y la Secretaria de Políticas
Lingüísticas de la República del Paraguay, firmado en fecha 7 de marzo del 2014.
22- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Gobernación del Departamento Central, firmado en fecha 11 de marzo del 2014.
23- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Universidad Nacional de Itapúa, firmado en fecha 12 de marzo del 2.014.
24- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Secretaría de Desarrollo para Repatriados y Refugiados Connacionales, firmado en fecha 18

384
de marzo del 2.014.
25- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Gobernación Departamento de Caaguazú, firmado en fecha 28 de marzo del 2014.
26- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Gobernación del Departamento de Misiones, firmado en fecha 9 de abril del 2.014.
27- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Secretaría de Emergencia Nacional, firmado en fecha 29 de abril del 2.014.
28- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Municipalidad de Capiatá, firmado en fecha 9 de mayo del 2.014.
29- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Municipalidad de San Antonio y la Parroquia San Antonio de Padua, firmado en fecha 5 de
junio del 2.014.
30- Convenio Específico de Cooperación entre la Facultad de Ciencias Médicas de la Universidad
Nacional de Asunción y la Secretaría de Políticas Lingüísticas, firmado en fecha 20 de junio del
2.014.
31- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Secretaria Nacional de Deportes (SND), firmado en fecha 10 de julio del 2.014.
32- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Gobernación del Departamento de Itapúa, firmado en fecha 22 de agosto del 2.014.
33- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Sociedad Internacional Misionera, firmado en fecha 4 de setiembre del 2.014.
34- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, firmado en fecha 10 de setiembre del
2.014.
35- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Gobernación del Departamento de Concepción, firmado en fecha 10 de setiembre del 2.014.
36- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Universidad Nacional de Concepción, firmado en fecha 10 de setiembre del 2.014.
37- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Gobernación del Departamento de Boquerón, firmado en fecha 19 de setiembre del 2.014.
38- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
la Empresa de Servicios Sanitarios del Paraguay Sociedad Anónima, firmado en fecha 22 de
setiembre del 2.014.
39- Convenio de Cooperación Interinstitucional entre la Secretaría de Políticas Lingüísticas (SPL) y
el Instituto Paraguayo de Artesanía, firmado en fecha 23 de setiembre del 2.014.

3.- Proyectos que apuntan a la normalización del uso oral y escrito de la lengua guaraní
junto al castellano:
a.- Proyecto ROHAYHU CHE ÑE‟Ê : Una semana en lengua guaraní, impulsado a
fin de promover la revalorización y el normal uso oral y escrito del idioma guaraní, a través
de una experiencia de inmersión lingüística, por una semana, invitando al Estado, los medios
de comunicación y la sociedad a vivir en y con esta lengua durante unos días; éstas
actividades colaborarían a elevar el estatus de esta lengua y el orgullo de la población hacia
ella, y asi seguir el proceso de normalización de su uso. Durante seis días, del lunes 25 al
sábado 30 de agosto, se invitó a toda la población y a los compatriotas radicados en el
exterior a vivir en la lengua guaraní, es decir, que usen solo o preferentemente esta lengua, en
forma oral y escrita, en todas las interacciones comunicativas, especialmente en los espacios
no habituales de su uso.
b.-Proyecto NORMALIZACIÓN DEL USO DE LA LENGUA GUARANÍ EN LAS
INSTITUCIONES PÚBLICAS, tiene como propósito iniciar la aplicación gradual del
385
Paraguái Ñe‟ẽnguéra Jeporurã Rape – Plan Nacional de Uso de Lenguas en los
ministerios, las secretarías y todas las instituciones públicas dependientes del Poder Ejecutivo.
De esta manera se concretarán las nuevas políticas lingüísticas nacionales establecidas en la
Ley 4251/10 de Lenguas, y las recomendaciones de los organismos internacionales
- Objetivos
- Aplicar las nuevas políticas lingüísticas del Paraguay contempladas en la Ley
4251/10 de Lenguas;
- Cumplir las recomendaciones de la Convención Internacional contra toda forma de
Discriminación Racial (CERD);
- Iniciar la normalización del uso oral y escrito de las dos lenguas oficiales en todas las
instituciones públicas, de manera a visibilizarlas y elevar el prestigio de las mismas;
- Crear una “Red de Normalización del Uso de la Lengua Guaraní en las Instituciones
Públicas - Guarani Ñe‟ẽ Jeporu Ñemoañete Joajúpe Tetã Remimoĩmbykuérape”, con
representantes de todas las instituciones públicas, a fin de desarrollar planes y proyectos
que tiendan al uso equilibrado de las dos lenguas oficiales;
- Iniciar la bilingüización guaraní-castellano de los documentos, las cartelerías, los
formularios, y las comunicaciones en general de todas las instituciones públicas;
- Garantizar el conocimiento y respeto de los derechos lingüísticos individuales, colectivos
y comunitarios a todos los habitantes de la República del Paraguay;
- Fortalecer la competencia comunicativa de los funcionarios públicos en ambas lenguas
oficiales;
- Oñemombarete Paraguái reko tee, iñe‟ẽnguéra rupi;
- Oñeñangareko indigekuéra ñe‟ẽ rehe, katuínte hekoresãi ha ojeporu haguã;
C-) Proyecto NORMALIZACIÓN DEL USO DE LA LENGUA GUARANÍ EN LOS
DEPARTAMENTOS, tiene como propósito iniciar la aplicación gradual del Paraguái
Ñe‟ẽnguéra Jeporurã Rape – Plan Nacional de Uso de Lenguas en los municipios de los
departamentos del país. De esta manera se concretarán las nuevas políticas lingüísticas
nacionales establecidas en la Ley 4251/10 de Lenguas, y las recomendaciones de los
organismos internacionales;
- Objetivos
- Aplicar las nuevas políticas lingüísticas del Paraguay contempladas en la Ley
4251/10 de Lenguas;
- Cumplir las recomendaciones de la Convención Internacional contra toda forma de
Discriminación Racial (CERD);
- Iniciar la normalización del uso oral y escrito de las dos lenguas oficiales en los
departamentos y municipios del país, de manera a visibilizarlas y elevar el prestigio de las
mismas, en forma coordinada con los consejos departamentales de educación de los
departamentos;
- Iniciar la bilingüización guaraní-castellano de los documentos, las cartelerías, los
formularios, y las comunicaciones en general de los gobiernos departamentales y
distritales, como así también las instituciones públicas con oficinas en los departamentos;
- Garantizar el conocimiento y respeto de los derechos lingüísticos individuales, colectivos
y comunitarios a todos los habitantes de la República del Paraguay;
- Fortalecer la competencia comunicativa de los funcionarios públicos en ambas lenguas
oficiales;
- Oñemombarete Paraguái reko tee, iñe‟ẽnguéra rupi;
- Oñeñangareko indigekuéra ñe‟ẽ rehe, katuínte hekoresãi ha ojeporu haguã.
3.- Dictámenes sobre:

386
a.) Declaración de Interés Lingüístico del CD presentado por el Padre Alberto Luna, titulado
“MISA GUARANI PYAHU”con 15 canciones religiosas con ritmos modernos y variadados
como pop, rock, latino, reggae y blues;
b.) Pedido de consideración al pedido elevado a la Secretaría de Políticas Lingüísticas por el
Sr. David Ocampos Negreiros de la Embajada de la República del Paraguay en la Argentina,
para pedir traducción de la palabra ANGUIRU, y la aclaración de si es posible nombrar a una
niña con ese vocablo;
c.) Pedido de aprobación del uso correcto de la lengua guaraní en tres documentos bilingües
utilizados por la Secretaría Nacional de Turismo, presentados por la Sra. Delia Benitez,
Encargada de Despacho de dicha Secretaría;
d.) Dictamen de la Dirección General de Planificación Lingüística sobre “Especialización en
Lengua, Bilingüismo Paraguayo y Educación” a pedido de la Facultad Latinoamericana de
Ciencias Sociales (FLACSO- Paraguay);
e.) Dictamen de la Dirección General de Planificación Lingüística sobre la petición del señor
Mauro Javier Lugo de que la SPL declare “De interés lingüístico” el programa denominado
Oguahẽma yvytu pyahu;
f.) Pedido de aval e informe técnico de la Dirección General de Planificación Lingüística
sobre la petición del señor Enrique Chamorro de que la SPL declare “De interés lingüístico”
los textos escolares y traducción de textos literarios presentados a esta Secretaría.
4.- Traducción del castellano al guaraní de :
-Traducción del guaraní al castellano y apoyo para la diagramación de todas las
señalizaciones de la SAS.(2012);
- Traducción del castellano al guaraní de folletos informativos de la SAS. (2012);
- Traducción del castellano al guaraní de leyendas, slogan y frases para el TSJE que fueron
utilizados en las elecciones generales de abril;
- Traducción del castellano al guaraní del afiche “Proceso de votación” y su presentación al
TSJE para su diagramación e impresión;
- Traducción del castellano al guaraní y publicación de la versión guaraní del Código
Electoral Paraguayo;
- Traducción e impresión al guaraní, de leyendas, slogan y frases para el TSJE;
- Traducción de afiches y leyendas para el Ministerio de la Mujer;
- Traducción del castellano al guaraní de afiche con textos explicativos para campaña de
sensibilización contra la discriminación de las mujeres;
- Traducción parcial del castellano al guaraní del cuadernillo “Educación Vial” del Ministerio
de Educación y Cultura;
- Inicio de la Traducción del castellano al guaraní del Código de la Niñez y la Adolescencia;
- Traducción de un afiche y otros textos breves para el Ministerio de la Mujer;
- Traducción de logos de nombre de nuevas secretarías para la SICOM;
- Traducción de textos breves del castellano al guaraní para la Presidencia de la República;
- Traducción del castellano al guaraní de Documentos del Bicentenario de la Proclamación de
la República del Paraguay;
- Traducción del castellano al guaraní de la Marca Nacional y los logos institucionales del
Gobierno Nacional, que fueron aprobados por el Decreto 500/13 del Poder Ejecutivo. De esta
manera el Gobierno Nacional, por primera vez en su historia inicia la normalización escrita de
las dos lenguas oficiales del Estado;
- Rombojere PÑS página web-pe guarä marandu castellano-gui guaraníme;
- Rombojere guaraníme MEC kuatia'atä bachiller kuérape guarä.
- Traducción de Cartelerías para la ANEAES;
- Traducción del castellano al guaraní de textos para cartelerías del Banco Nacional de
Fomento;
387
- Traducción del castellano al guaraní de un libro de texto sobre Educación Física del 8º
gravo, para el MEC;
- Rombojere castellano-gui guaraníme marandu SENATICs-pe guarä;
- Traducción de textos del castellano al guaraní acerca de la navidad y el año para la
Presidencia de la República;
- Rombohasa guaraníme UIP ha CAP cartelería;
- Corrección y traducción del epígrafe para la galería de fotos para la Web institucional;
- Traducción del castellano al guaraní del Acta del MECIP;
- Rombojere guaraníme kuatia myenyhëmbyrä Defensoría de Pueblo-pe guarä;
- Rombojere guaraníme terakuéra ombohasáva oréve CONATEL;
- Rombojere castellano-gui guaraníme marandu SENATICs-pe guarä;
- Traducción del castellano al guaraní de Cartelerías para la ANEAES y posterior envío de
las traducciones;
- Traducción del castellano al guaraní de documentos institucionales de la SENATUR;
- Traducción del castellano al guaraní de documentos remitidos por la Secretaría Nacional de
Cultura;
- Rombojere guaraníme Central Departamento kuatiakuéra;
- Traducción y correción de cartelerías de la SEAM;
- Traducción del castellano al guaraní de materiales de la Supervisión de Villeta;
- Traducción del castellano al guaraní de documentos del MSP y BS;
- Traducción del castellano al guaraní de cartelerías de la SENATICs;
- Traducción del castellano al guaraní de la Ley 2.615/2005, que crea la Secretaría de
Emergencia Nacional;
- Traducción de Mozilla, en la Facultad Politécnica UNA;
- Traducción del castellano al guaraní de documentos de la Secretaría Nacional de Cultura;
- Traducción del castellano al guaraní de documentos (logo, misión y visión) para la
gobernación de Boquerón;
- Traducción del castellano al guaraní de textos para la SENAD;
- Traducción del castellano al guaraní de textos para el Ministerio de la Mujer;
- Rombohasa castellanogui guaraníme Mecanismo Nacional de Prevención de la Tortura
kuatiakuéra;
- Traducción del documento Informe Anual de Gestión y Recomendaciones 2013, del
Mecanismo Nacional de Prevención de la Tortura;
- Traducción de documentos (logo, misión y visión) para la gobernación de Boquerón;
- Rombohasa castellanogui guaraníme Mecanismo Nacional de Prevención de la Tortura
kuatiakuéra;
- Rombojere castellanogui guaraníme marandu SENATURpe guarä;
- Rombojere castellanogui guaraníme Senavitad kuatiakuéra;
- Rombojere guaraníme Central Gobernación kuatiakuéra;
- Traducción de documentos (logo, misión y visión) para la gobernación de Boquerón;
- Rombojere castellano-gui guaraníme Contraloría General de la República kuatiakuéra;
- Traducción del castellano al guaraní de documentos para la STP;
- Traducción del castellano al guaraní de textos para la SICOM;
- Traducción de textos para la La Asociación de Agencias de Publicidad del Paraguay
(APAP);
- Traducción de frases para la SICOM;
- Traducción cartelería para la Facultad de Derecho UNA;
- Traducción del castellano al guaraní de documentos de la SENADIS;
- Traducción de materiales para la Sub Secretaría de Estado de Tributación;
- Corrección y entrega de traducciones para la SEM;
388
- Traducción para documentos para el Ministerio de Justicia y Trabajo;
- Traducciones del castellano al guaraní de logos y slogan para Bici Centro;
- Traducción del castellano al guaraní de frases para el MERCOSUR;
- Traducción del castellano al guaraní de textos para la STP: Tablero de Control Ciudadano
del Programa Nacional de Reducción de la Pobreza “Sembrando Oportunidades”;
- Traducción del castellano al guaraní documentos y cartelerías de la DIBEM.Visión misión y
otros;
- Traducción del castellano al guaraní de Señales internacionales para Orientación del Público
especificadas en el documento Nº 9.636 de la OACI, para la Dirección Nacional de
Aeronáutica Civil;
- Traducción del castellano al guaraní de cargos y dependencias, para la Contraloría General
de la República;
- Traducción del castellano al guaraní del Resumen oficial emitido por la Corte
Interamericana de la Sentencia del 24 de Agosto del 2010. Comunidad Indígena Xákmok
Kásek Vs. Estado Praguayo Para el Ministerio de Justicia;
- Traducción del castellano al guaraní de la Página Web del Centro de Estudiantes de la
Facultad de Derecho y Ciencias Políticas de la UNA;
- Traducción del castellano al guaraní de la Cartelería para las dependencias de la Secretaría
de Emergencia Nacional;
- Traducción del castellano al guaraní de tarjetas Personales Bilingües Guaraní – Castellano
para la Secretaría Técnica de Planificación;
- Traducción del castellano al guaraní Modelo Bilingüe Guaraní- Castellano de nota, memo y
circular para la Contraloría General de la República;
- Traducción del castellano al guaraní del capítulo 55 del Ingenioso Hidalgo, Don Quijote
políglota;
- Traducción del castellano al guaraní del convenio de la Secretaría Nacional de Cultura con
la Asociación Colectiva de Cultura y Participación;
- Traducción del castellano al guaraní de la cartelería para las dependencias de la Secretaría de
Desarrollo para Repatriados y Refugiados Connacionales;
- Traducción del castellano al guaraní de Reglas de Brasilia, Marandurã del Ministerio
Público.
5.- Implementación de logos bilingües de las Secretarías y Ministerios del estado, decreto
mediante.
El decreto Nº.-500 de la Presidencia de la República que dice:
Artículo 3º.- Dispónese como opcional el uso de logotipo del Gobierno Nacional en el idioma
guaraní, aprobado en el Artículo 1° del presente Decreto, junto con los logotipos
institucionales, en materiales impresos, televisivas, páginas web, espacios virtuales y
cualquier otro distintivo institucional, de los Organismos y Entidades dependientes del Poder
Ejecutivo.

6.- Producción de materiales :


a- Elaboración de Cartillas; Guaraní Comunicativo Niveles 1-2-3, destinados a la función
pública;
b- Elaboración del material “ Guaraní jeporu empresario rembiapópe";
c- Elaboración de cartelerías bilíngües para instituciones públicas y privadas.
7.- Concurso público de Opocisión para :
a- Incorporación de técnicos traductores guaraní-portugués, guaraní- castellano, para la
inclusión de la lengua guaraní como herramienta de trabajo del Mercosur.
b- Incorporación de técnicos especialistas en lenguas para las tres Direcciones
temáticas.( guaraní- guaná- portugues- lengua de señas )
389
8.- Mesas temáticas:
a- Aliados estratégicos del Ministerio de Educación y Cultura y la Secretaría nacional de
Cultura.
b- Técnicos del MEC, para validar el marco Lógico del Plan.
9.- Cursos modulares de uso de la lengua guaraní funcional en varias instituciones públicas :
-Secretaría Nacional de turismo;
- Secretaría de Acción Social;
- Tribunal Superior de Justicia Electoral;
- Mecanismo Nacional de Prevención de la Tortura;
- Ministerio de la Mujer;
- Curso guaraní on-line, en convenio con la SENATIC,s, en construcción.
Observación: Los documentos , planes y proyectos que demuestran la veracidad de este
informe, obran en los archivos de la Secretaría de Políticas Lingüísticas, para lo que hubiere
lugar.
PRINCIPALES LÍNEAS DE ACCIÓN Y PROYECTOS DE LA DIRECCIÓN
GENERAL DE INVESTIGACIÓN LINGÜÍSTICA

I. INVESTIGACIONES CIENTÍFICAS ACERCA DE LAS LENGUAS OFICIALES,


LAS DE LOS PUEBLOS ORIGINARIOS Y DE LOS INMIGRANTES:
DIAFÁSICAS O DE USO INDIVIDUAL, DIASTRÁTICAS O DE USO SOCIAL Y
DIATÓPICAS O POR GEOGRAFÍA.
1.1. Medición de actitudes sociolingüísticas hacia el guaraní y el castellano (en Asunción y
Área Metropolitana).
1.2. Instrumento para medir competencias lingüísticas en la función pública (guaraní y
castellano).
1.3. El yeísmo en el castellano paraguayo.
1.4. Medición de la disponibilidad léxica de los estudiantes preuniversitarios paraguayos.
1.5. Censo Lingüístico Nacional.

II. DIVULGACIÓN Y ARCHIVO DE MATERIALES, ESCRITOS O SONOROS,


PUBLICADOS EN EL ÁMBITO DE LA LINGÜÍSTICA, TANTO A NIVEL
NACIONAL COMO INTERNACIONAL.
2.1. Biblioteca especializada en Lingüística (europea, norteamericana y latinoamericana).
2.2. Boletín de publicaciones científicas de la SPL.
2.3. Acervos lingüísticos y visuales de la SPL.

III. DESARROLLO O TRANSFERENCIA DE TECNOLOGÍAS LINGÜÍSTICAS


SUSTENTABLES PARA FORTALECER PROGRESIVAMENTE LAS LENGUAS
OFICIALES Y LAS NO OFICIALES DEL PAÍS, INCLUIDA LA LENGUA DE
SEÑAS.
3.1. Corpus de referencia del guaraní paraguayo.
3.2. Corpus de referencia del castellano paraguayo.
3.3. Consultoría internacional para desarrollar los siguientes productos:
 Instrumento de las mediciones sociolingüísticas (audio y encuesta escrita), listos para
su aplicación nacional;
 Corpus de Referencia del Guaraní Paraguayo;
 Corpus de Referencia del Castellano Paraguayo;
 Instrumento para la medición de las competencias lingüísticas del castellano en la
función pública;

390
 Instrumento para la medición de las competencias lingüísticas del guaraní en la
función pública;
 Asesoramiento para el control de calidad del curso Aula Virtual de Guaraní, elaborado
por empresas locales (a ser entregado durante el año 2014 a la SPL);
 Instrumento para la medición del yeísmo en el castellano paraguayo (100 informantes
jóvenes en total);
 Instrumento para la medición de la disponibilidad léxica de los estudiantes
preuniversitarios paraguayos.
3.4. Cabina audiovisual para investigaciones lingüísticas y aprendizaje de lenguas.
3.5. Transliteración de las actas del Congreso Nacional desde el siglo XIX.

IV. RESCATE DEL VOCABULARIO CONTENIDO EN ACERVOS


TRADICIONALES VARIOS: SABERES, CREENCIAS Y TECNOLOGÍAS.
4.1. Vocabulario del trabajo y las tecnologías tradicionales
El proceso de la fabricación del almidón; El vocabulario carcelario; El vocabulario de la
pescadería; Fabricación de la miel de caña; Implementos agrícolas tradicionales: el arado,
la azada, los machetes, etc.; La cría de animales domésticos: la vaca, los caballos, la
gallina, el cerdo, etc.; La vivienda tradicional (materiales, partes, disposición general);
Los cultivos tradicionales (mandioca, maíz, hortalizas, tabaco, poroto);
Oficios y profesiones: Albañilería-vaquería-pesca.
Vocabulario de la balita; Vocabulario del ao po’i; Vocabulario del encaje ju; Vocabulario
del Ferrocarril; Vocabulario del ñandutí; Vocabulario del poncho de 60 listas.
4.2. Medios de transporte tradicionales
El caballo y su equipaje, la carreta, el carumbé, la canoa, etc.
4.3. Salud: la medicina tradicional
Plantas-animales-prácticas mágicas.
4.4. Recreación: fútbol, juegos infantiles y de adultos - La cinegética (cacería): armas y
trampas tradicionales, acervos orales, piezas.
4.5. Religión: Semana Santa, Navidad, los patronos, etc., la muerte, las creencias o
supersticiones.
V. COOPERACIÓN CON PERSONAS O INSTITUCIONES PÚBLICAS O
PRIVADAS, NACIONALES O INTERNACIONALES, DEDICADAS A LAS
LENGUAS.
5.1. Formación de redes institucionales de investigación y divulgación a nivel nacional e
internacional.

391
ANEXO XVI

"ROHAYHU CHE ÑE‟Ẽ: UNA SEMANA EN LENGUA GUARANÍ"

392
393
ANEXO XVII

LENGUA GUARANÍ SE CONVIERTE EN IDIOMA OFICIAL DE TRABAJO DEL


PARLAMENTO DEL MERCOSUR

Asunción, 7 de marzo de 2014. - El Presidente de la Delegación Paraguaya ante el Parlasur,


Parlamentario Alfonso González Núñez, manifestó que “Es un hecho histórico para nuestro
país que el Parlamento del Mercosur incorpore nuestra lengua Guaraní como idioma oficial
tanto para el uso en las Sesiones como el documentos emanados del órgano. El guaraní forma
parte de nuestra identidad con pueblo, es un idioma que es hablado en varios países, como
Argentina, Brasil, Bolivia y Uruguay, convirtiéndose de esa forma en la lengua americana
más hablada en Latinoamerica”.
El Presidente del Parlamento del Mercosur, el diputado uruguayo Rubén Martínez
Huelmo valoró la importancia del guaraní para la región. “La historia habla claramente que se
intento hacer desaparecer y no lograron hacerlo” es un idioma que no desaparecerá por ser
una lengua del pueblo. Ddestacó la importancia de este hecho, y que para el efecto se
contratarán a traductores que formarán parte del cuerpo de traductores del Parlamento. Así
mismo manifestó que buscará retomar la enseñanza de la lengua guaraní en la Facultad de
Humanidades de la Universidad de la República del Uruguay, como se vino haciendo años
anteriores.
Por su parte, la Dra. Ladislaa Alcaraz de Silvero, Ministra de Políticas Linguistas
resaltó el significativo acto, mediante el cual, un Organismo Internacional como el
Parlamento del Mercosur, se convierte en la pionera en el uso de la lengua guaraní en sus
trabajos. “Con esto el guaraní se hará mas fuerte,
Participaron del encuentro: Parlamentario del Mercosur de Paraguay Miguel González
Erico, Ricardo Canese, Zacarías Vera Cárdenas, Eduardo Bernal, Ricardo Canese, Juan
Alberto Denis, Concepción Cubas de Villaalta, Miguel Sosa y Mirtha Palacios.
Así mismo participaron el Embajador de Uruguay, Federico Perazza, el Embajador de
Venezuela, Alfredo Murga Pires, la Embajadora de Bolivia, Sandra Elizabeth Rodríguez
Campoi, el Embajador de Korea, Myung Jae Hahn, la Ministra Secretaria de Cultura, Mabel
Causarano, el Coordinador de la academia de la lengua guaraní, Amidio Milciades Aquino
Arguello, Representante de la Vicepresidencia de la República, Yolanda Valdez,
Representante de la Embajada de Brasil, Thais Valerio de Mesquita – 2da. Secretaria,
Representante de la Embajada Argentina, Rodrigo Miranda – 2do. Secretario, Representante
del Vice Ministerio de Educación Superior Salvadora Gimenez, así como académicos y otros
representantes.

394
ANEXO XVIII

UNA NACIÓN BILINGÜE QUE RECHAZA LOS NOMBRES GUARANÍ

Pese a que el 90 % de la población paraguaya se comunica en guaraní, el idioma todavía


despierta recelos en ámbitos como el de la administración pública, donde el registro de
nombres de personas en esta lengua precolombina causa desde el asombro hasta el
abierto rechazo.

El nombre de Lautaro Ñamandú, con el que una pareja quiso inscribir a su hijo recién nacido
en Asunción, provocó una reacción airada por parte de una funcionaria del Registro Civil, que
se negó a inscribir al niño alegando que "odiaría a sus padres" por los apelativos elegidos.
"La funcionaria se puso muy violenta, nos maltrató, y se negó a inscribir a nuestro hijo. Nos
dijo que ése no era un nombre para una persona, y nos preguntó qué clase de padres íbamos a
ser", relató a Efe Rubén Cáceres, el padre del niño.
Cáceres explicó que Lautaro es el nombre de un guerrero indígena de la etnia de los mapuches
chilenos, mientras que Ñamandú es un nombre sagrado en la mitología de los guaraníes, que
hace referencia al origen del universo.
Los padres los escogieron por considerar que su primogénito, que nació de forma prematura y
se encuentra desde entonces internado en un hospital, es un "luchador por la vida".
Sin embargo, la encargada de inscribirlo argumentó que no era posible "ponerle a un niño un
nombre de indio", e insistió en que el pequeño renegaría de sus padres y sería víctima de
acoso en la escuela, según contó Cáceres.
Finalmente lo hizo ante la insistencia de los padres, aunque a "regañadientes".
"Nos parece que fue un acto de discriminación hacia la lengua guaraní", señaló Cáceres, quien
explicó que, pese a que comprende este idioma, fue educado en castellano y tiene dificultades
para expresarse en otra lengua.
"Mi familia y la de mi esposa, que vienen del campo, sí hablan guaraní, y de pequeños nos
regañaban en esa lengua. Pero al llegar a Asunción hubo una especie de desarraigo, y
utilizamos más el castellano", relató Cáceres.
Según dijo a Efe el director de Planificación Lingüística de Paraguay, Miguel Verón, el caso
demuestra la necesidad de "subir el estatus del guaraní".
Detalló que pese a ser la lengua más utilizada en forma oral, no goza del mismo prestigio
social que el castellano, más empleado en documentos escritos y ámbitos formales.
Se trata de una situación que los sociolingüistas denominan diglosia, y que en el caso
paraguayo, según Verón, parte del paradigma del colonialismo, que oponía la "civilización",
identificada con la cultura europea, a la "barbarie", representada por las culturas indígenas.
"En 1848 el presidente Carlos Antonio López ordenó cambiar todos los nombres y apellidos
de origen indígena. La lengua fue perseguida. Y no fue hasta 1967 cuando el guaraní se
reconoció por primera vez como lengua oficial", señaló Verón.
Opinó que si bien el "complejo" por utilizar el guaraní en espacios públicos persiste en la
sociedad paraguaya, en los últimos años "ha crecido el orgullo de hablar la propia lengua".
"Rechazar una lengua es negar una parte de nosotros mismos. El idioma guaraní es la
quintaesencia de la identidad paraguaya", afirmó Verón.
Recuperar los nombres en guaraní sería así una forma de reafirmar la identidad paraguaya,
revalorizar la lengua guaraní y reivindicar las propias raíces, indicó Verón.
"Los indígenas tienen una forma particular de identificar los lugares y las personas. Buscan
una palabra que evoque las características de aquello a lo que se refiere. Los nombres tienen
una filosofía detrás que pretendemos rescatar", indicó.

395
Palabras como Aramí, que significa "pedazo de cielo", Amambay, que quiere decir "helecho",
Ysaty, que se refiere al rocío o Kuarahy, que significa "sol", son algunos de los nombres en
guaraní más comunes en Paraguay, según Verón.
La Secretaría de Políticas Lingüísticas trabaja ahora de manera conjunta con el Registro Civil
de Paraguay para elaborar un listado de los nombres más frecuentes para ambos sexos, y
ofrecerlo como material de consulta para los padres.
Con este material se pretende promover el uso del guaraní ya desde la cuna, pero también
despejar las posibles dudas de los encargados de la administración.

396
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá

C683 Colaça, Joyce Palha.

O guarani como língua oficial e a produção de um bilinguismo imaginário no Paraguai

/ Joyce Palha Colaça. – 2015.

396 f. ; il.
Orientadora: Bethania Sampaio Corrêa Mariani.
Tese (Doutorado em Estudos de Linguagem) – Universidade Federal Fluminense,
Instituto de Letras, 2015.
Bibliografia: f. 219-233.
1. Linguística histórica. 2. Análise do discurso. 3. Paraguai. 4. Língua guarani. 5.
Bilinguismo. I. Mariani, Bethania Sampaio Corrêa. II. Universidade Federal Fluminense.
Instituto de Letras. III. Título.

CDD 416.7

397

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