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e
Asper
icos
outros
são os
46 CONTRA SENSO
ger “Imagine um mundo que você só
perceba os aspectos físicos e esteja
cego para os aspectos menta
is tais
como pensamentos, desejos, crenças,
conhecimento e inte
nções, que, para a m
aioria
de nós, é intrínseco ao comportamento.”
Simon Baron Cohen
A
utismo é um termo emprestado de
Eugene Bleuler (1911) e foi criado
para descrever um sintoma da es- dificuldade de interação social, sobretudo na comunicação
“fuga
quizofrenia, que ele definiu como uma pela linguagem. Ou não falavam ou se comunicavam mui-
Bleuler
da realidade”, um isolamento social. to pouco. Exibiam também comportamento e interesses
esquizo-
é conhecido por nomear a doença restritos e egocêntricos. Tinham fascínio por partes de ob-
ada de
frenia, que anteriormente era cham jetos – o braço de uma boneca, a espada de um guerreiro, o
década de
demência precoce. Até o início da painel de um carro, a roda de um carrinho. Apresentavam
de di-
40, observaram-se crianças com gran ainda movimentos muito estranhos, anormais, sem alvo,
época, o
ficuldade de interação social e, na direção, ou finalidade, definidos como estereotipias. As
ise com
problema era abordado pela psicanál estereotipias, embora comuns em pacientes com esquizo-
s, mais
ênfase na relação entre pais e filho frenia, eram mais notáveis nos autistas de Kanner. Num
o mãe
precisamente na mãe – usava-se o term artigo que escreveu em 1943 (“Autistic disturbance of affec-
geladeira ou refrigerators mothers. tive contact”, publicado na revista Nervous Child), Kanner
res-
Na década de 40, houve uma inte denominou a patologia de autismo clássico, ou transtorno
um vi-
sante coincidência: dois austríacos, autista.
Unidos, e
vendo em Baltimore, nos Estados Em 1944, sem conhecer Leo Kanner, outro médico,
smo em
outro em Viena, descreveram o auti Hans Asperger, descreveu, em sua tese de doutorado, a psi-
ponto de
trabalhos diferentes e sem nenhum copatia autista da infância. Diretor de um hospital de crian-
era Leo
contato entre ambos. O primeiro ças, Asperger observou, em um número pequeno de casos,
psiqui-
Kanner, que trabalhava numa clínica a maioria adolescentes masculinos, grande dificuldade de
kins Uni-
átrica para crianças no John Hop interação social, de partilhar brincadeiras com pares, apesar
grande
versity. Ele observou crianças com de praticamente não apresentarem problemas de linguagem
falada, ao contrário dos pacientes de Kanner. A média para
uma criança produzir uma sentença é de três anos de idade
o Asperger
não consegue
ver no outro que ele está
chateado, irado,
alegre ou contando
uma piada
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I N S I G H T INTELIGÊNCIA
o, a
guagem. Demonstravam, sobretud
ausência daquilo que chamamos bom
de
senso. Surgiram trabalhos como o
es-
Christopher Gilbert, que, sucinto, Com a obra de Asperger traduzida para o inglês por Uta Frith
ti-
tabeleceu os primeiros critérios obje em 1991, começou a haver um frisson. Em 1992, o CID (Classifi-
uízo
vos: síndrome de Asperger é prej cação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacio-
itos,
na interação social, interesses restr nados com a Saúde) e, dois anos depois, o americano DSM-IV
mi-
rotinas repetitivas, atração pela mes (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fourth
ua-
ce, peculiaridades da fala e da ling Edition APA - 1994) lançam o diagnóstico de Asperger. A partir
não
gem e problemas na comunicação daí, surge uma considerável produção científica sobre a síndrome.
verbal. Hoje, existem vários trabalhos sobre o espectro, trabalhos neuro-
Um dos poucos trabalhos epide- científicos de várias abordagens, sejam psicológicas, neurobiológi-
f
miológicos sobre prevalência (Christo cas, neuroanatômicas, genéticas, biológicas, sociológicas e outras
-
Gilbert – Gotemburgo, Suécia) mos disciplinas. Por sua identificação recente permanecer em estágio
erge r
trou a seguinte prevalência: Asp não conclusivo, não há hipótese fechada da etiologia da doença.
5
36 em 10000, autismo de Kanner A Doença de Parkinson é do século XIX. O Alzheimer, de 1906.
0.
em 10000, e do espectro 94 em 1000 Epilepsia e melancolia são de antes de Cristo. Uma classificação
ca-
Evidentemente que esses números como autismo de Asperger é recente, mas existe uma confluência
vago s
recem de precisão, pois ainda são nas áreas afins da existência dessa fisionomia.
i-
a completude dos critérios diagnóst Esse período ainda curto apresenta avanços fantásticos, prin-
ro
cos do Asperger e o espectro. Out cipalmente no que diz respeito à própria identificação desses in-
nte
trabalho epidemiológico mais rece divíduos. Melhor dar um nome (Síndrome de Asperger) do que
em
nos Estados Unidos refere que uma jogá-los numa vala comum de diagnósticos. Melhor também do
ctro
cada 110 crianças nascidas tem espe que encará-los como esquizofrênicos com distúrbio de persona-
r-
do autismo (Autism Spectrum Diso lidade antissocial e transtorno de deficiência atencional, hipera-
ders – Data & statistics 2009). tividade e impulsividade, diagnósticos muito mais sombrios. Ao
Outros detalhes foram aparecendo mesmo tempo, estamos vivendo numa época com muito mais
g. O
a partir do trabalho de Lorna Win recursos tecnológicos, de instrumentos não-invasivos de imagem,
no
Asperger se mostrava desajeitado que observam o cérebro de pacientes em funcionamento online,
Ku-
uso da aritmética, muitos fazem ao fortalecimento dos instrumentos da biologia molecular, gené-
mon (método de ensino japonês) , além tica, neuroanatomia. Há ainda novos paradigmas de intervenção
da
de serem alvo dos bullyngs, “o pele psicológica e social que vão nos possibilitar intervir mais nesses
a
turma”. Há ainda dificuldades para indivíduos sem tirar a possibilidade de seu pertencimento social.
de
prática de esportes, qualquer habilida Nosso propósito em identificar esse padrão é oferecer um ca-
reza na
que exija controle refinado e dest minho para que eles possam se unir e escapar de bordoadas sociais.
r
coordenação dos membros. Amarra Queremos diferenciá-los para poder ter algum instrumento de in-
m,
sapatos, por exemplo, eles só aprende tervenção em que eles possam ser protagonistas de sua inserção,
s.
com dificuldade, a partir dos 12 ano não esquecendo que todos podem ganhar. Vários talentos estão
s de re-
Também não desenvolvem rede sendo banidos por serem diferentes das curvas da média do com-
ia
lacionamentos parecidas com a méd portamento social. Não podemos esquecer que um ótimo jogador
de suas faixas etárias. de basquete acima de dois metros de altura não está na média,
mas faz a diferença na sua atividade específica. Não sabemos se vai
dar certo, mas temos uma proposta capaz de garantir a esses pa-
cientes alguma forma de pertencimento, sem serem jogados apenas
no âmbito de do
enças médicas. Pr
ecisamos
reforçar a diversi
dade. Ter um di
agnóstico
diferenciado é men
os estigmatizante
e menos
preocupante do qu
e não saber do qu
e se trata
e não ter controle
sobre o problema.
mais autonomia ao Permite paciente já afirmou, eles precisam aprender o que as pessoas sa-
s pacientes. Essa é
proposta. a nossa bem intuitivamente. É esse o bom senso social. Os pacientes com
Síndrome de Asperger que vão ao médico são, na maioria das
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I N S I G H T INTELIGÊNCIA
Em alguns casos,
nos mais inteligentes,
o Asperger
copia padrões das outras pessoas.
Imitá-las é uma maneira
de sobreviver e ser aceito
universidades. Não
muito inteligentes, muitos estão nas
tificá-los melhor. Como em geral são
ca, uma identificação
ou como doentes. Autismo é uma mar
querem ser vistos como deficientes
de pertencimento social. ética com que se
impossibilidade, depende da visão
Há um lugar de possibilidade ou de
ades, por enquan-
a que stão. Infelizm ente , poré m, o terreno tem sido de impossibilid
trabalhe hecê-los. Descrevê-
r, muitas vezes o que há a fazer é con
to. Em todos os pacientes de Asperge
édios. Ficam tristes e
o normal, mas não respondem a rem
los. Eles têm mais ansiedade do que
aí falando a linguagem
rdar uma mulher, mas o remédio,
ansiosos porque não conseguem abo to bom. Traz
creto não é solu ção. Dar o diag nóstico é, na maioria das vezes, mui
deles, con
rminada forma de ser.
io por se reconhecerem numa dete
conforto e diminui a culpa. Traz alív o qual apren-
Asperger é lidar com o inusitado, com
A inabilidade caracteristicamente do
a psicologia cogniti-
a conviver cotidianamente. Por isso
demos, mais ou menos habilmente,
to mais adequada aos
até então, como a forma de tratamen
vo-comportamental tem sido vista,
a criar recursos para
r com as situações difíceis, mas não
Aspergers. Nela, o paciente treina lida aspecto. Grupos de
odrama tem em vista, justamente, esse
reagir ao inusitado. A aposta do psic
proposta é usar um ins-
nte no Japão e na Inglaterra. Nossa
psicodramas já existem, principalme
de recursos para lidar
ento que prop icie a expe riên cia, num contexto protegido, da criação
trum
com o inusitado. no aumento do
desconhecidas possa ajudar não só
Apostamos que o treino das situações
de de imaginar, fan-
bém no desenvolvimento da capacida
repertório de respostas, como tam
iso ajudá-los a lidar
expe riências mui to emp obre cida s na vida de um Asperger. É prec
tasiar,
antes que deficiente,
s em um estilo cognitivo diferente,
com o sofrimento. Porém, ao incluí-lo
autonomia, ainda que
e a trilhar um caminho de busca de
os ajudarmos a aumentar a estima sido difundido com
usão das formas de ser diferentes tem
com restrições. O movimento de incl nou “não somos
term o neur odiv ersidade. Ou com o um deles apropriadamente denomi
uso do
neurotípicos”.
cecilialeite.costa@gmail.com