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Por que pensar, também, em Gestão Financeira quando se fala em Terceiro Setor?

IIídio C. de Oliveira Jr.1

Existe uma grande preocupação nas médias e grandes empresas com respeito às
suas finanças. Análise de Balanços, avaliação de índices, gestão de caixa, necessidade
de capital circulante líquido e outros são algumas ferramentas muito estudadas e
aplicadas nessas empresas. Sua observância é de extrema valia, pois gera resultados,
tanto no aumento de suas Receitas (entradas), como na diminuição das Despesas
(saídas). Não obstante, sendo isto tão valioso para o Segundo Setor, o Setor Privado,
será que estas ferramentas, também, não teriam o mesmo grau de importância e
relevância para o Terceiro Setor?

Ricardo Falcão, consultor em Elaboração de Projetos e Captação de Recursos,


em uma de suas palestras, disse, com muita propriedade, a respeito do caos em que se
encontra o Terceiro Setor, no que tange à captação de recursos para manutenção das
atividades operacionais da instituição: “Imagine que eu (Falcão) seja gerente de um
banco e você (platéia) um cliente em potencial. Em minha visita, digo que você precisa
colocar seu dinheiro no meu banco, porque senão ele fecha. Você colocaria? Nem eu”.
O exemplo que ele usou é muito pertinente, pois as organizações têm vendido miséria e
ninguém participa, investe, associa sua marca à falência. É interessante notar que as
instituições do Terceiro Setor têm feito isto todos os dias, vendido miséria. O que as
pessoas gostam de ouvir é de sucesso. O sucesso atrai. Ninguém coloca seu currículo
em uma empresa falida, ou em vias de... Por isso, quando for apresentar seu projeto,
você deve mostrar a realidade do atendimento hoje (indicadores qualitativos,
quantitativos, etc), mas também, o quanto agregará com a sua contribuição, o impacto
que a contribuição gerará naquela localidade, e, por conseguinte, nas pessoas.

Quando pensamos em Finanças ou Gestão Financeira para o Terceiro Setor, a


primeira coisa que vem à cabeça são os Balanços Patrimoniais e os Demonstrativos de

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Ilídio C. de Oliveira Jr., administrador de empresas especialista em finanças, consultor e diretor da IGFCONSULT, consultoria

em finanças para Terceiro Setor e Estabelecimentos de Ensinos.

WWW.IGFCONSULT.COM ILIDIO@IGFCONSULT.COM
Resultados. As organizações olham para eles e não entendem o que os números podem
dizer ou estão falando. “Como posso saber se a minha instituição está bem ou não
financeiramente?” É a mesma coisa quando desejamos saber sobre os níveis de
colesterol, de açúcar no sangue, de ácido úrico, ou qualquer outro indicador do sangue,
se não fizermos um hemograma completo. Da mesma forma, precisamos realizar uma
Análise das Demonstrações Financeiras (Balanços Patrimoniais e Demonstrativos de
Resultados) para saber a real situação no curto e longo prazo, ver a capacidade de
honrar compromissos, descobrir se vale a pena usar capital de terceiros (empréstimo em
banco) ou capital próprio (superávit do exercício anterior) para financiar obras de
expansão, manutenção, modernização ou de qualquer outra natureza, como também,
outras tantas informações que advém deles. São tantas decisões que precisam ser
tomadas à luz da Análise de Demonstrações Financeiras, contudo, às vezes, elas não são
as melhores, por falta de conhecimento deste ferramental, e por isso, na maioria das
vezes, compromete toda a instituição. Nesse momento, o melhor remédio é chamar um
“médico” especialista em finanças: o consultor em finanças.

O consultor vai analisar o Balanço Patrimonial e o Demonstrativo de Resultados,


pois eles são instrumentos preciosos para fornecer informações imprescindíveis na
tomada de decisões estratégicas e operacionais que definirão o presente e o futuro da
instituição, a partir do seu passado. No Terceiro Setor, as instituições precisam abrir os
olhos para as suas finanças, porque o andamento dos seus trabalhos no dia-a-dia
depende de uma boa administração dos seus recursos, e não de um bom resultados no
final do ano. Quem paga as contas é o Caixa e não o Superávit (Lucro), no final do
exercício. A grande preocupação que tenho é ver grandes organizações se perderem ao
longo do tempo, por não colocar um administrador de empresas à frente das instituições
e ao lado do conselho diretor, para que haja um fórum de debates de orientação, quanto
à otimização de todos os recursos da instituição, não só os financeiros. Se desejar abrir
um processo contra alguém, devo procurar um advogado devidamente registrado; se
precisar fazer uma operação, devo procurar um médico; se quiser construir, devo
procurar um engenheiro ou arquiteto; se precisar de alguém à frente de uma empresa,
vou contratar um administrador de empresas. No entanto, o que tenho mais visto é
médico administrando hospitais. Então, imagine colocar um administrador no centro
cirúrgico. O que vai acontecer? É o que estão fazendo, não só com hospitais, mas,
também, nas organizações do Terceiro Setor. A presença de um técnico (administrador)

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à frente das instituições é imprescindível, pois olhará, também, para as finanças e, se
porventura esta não for a sua área de conhecimento, com certeza chamará um
profissional.

O Terceiro Setor tem se aprimorado para realizar bem o seu trabalho, pois
existem excelentes profissionais atuando nas organizações, entretanto, ainda há ausência
de técnicos especializados em finanças agindo nesta área, porque são poucos e o
Terceiro Setor ainda não acordou para avaliar a positiva correlação custo-benefício na
contratação de consultores financeiros para ajudar as suas instituições, e com isso,
maximizar os escassos recursos e potenciais, e assim, melhorar a qualidade de vida das
instituições. O melhor remédio para uma boa saúde financeira de uma organização do
Terceiro Setor, só quem pode receitar é um consultor financeiro.

Verão de 2007
Rio de Janeiro
Brasil

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Referências bibliográficas:

ASSEF, R. 2003. Guia Prático de Administração Financeira: pequenas e médias


empresas. Campus, Rio de Janeiro.

BRAGA, H.R. 1999. Demonstrações Contábeis: Estrutura, Análise e Interpretação.


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OLIVEIRA JR, I.C. 2000. Uma reflexão sobre a necessidade da Qualidade Total na
vida e missão da Igreja Metodista no Brasil. Monografia, Bennett, Rio de Janeiro.

__________ 2005. Planejamento Estratégico de Marketing Eclesiástico: Um Ensaio de


Crescimento para a Igreja Metodista no Brasil, neste século 21. Monografia, Bennett,
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