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JACKY31/01/08

Frente: 01 Aula: 02

PROFº: FRANCO A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO INDIGENA II.


A Certeza de Vencer

Pelo menos três razões contribuem para esclarecer a


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questão: a ausência da noção de propriedade privada da terra, o


"Há quem elabore um raciocínio simplista e pérfido de
conhecimento da diversidade biológica e ecológica, e a
hectares por índios viventes em reservas, comparando o seu concepção de natureza como fonte de vida.
pedaço percentual de terras com a parcela que caberia a
cada brasileiro caso se dividisse o território total do Brasil
1.1. A ausência da noção de propriedade privada da
pela população total do país, sem levar em conta que a
terra
maior parte das terras rurais estão nas mãos de poucos
privilegiadas brasileiros e que mais de 70% da nossa
população encontram-se em cidades de todos os portes [...]. A "posse" de um determinado território é considerada
A ideia vitoriosa das reservas indígenas destina-se à válida pelos indígenas a partir do uso que dele fazem, sem
perder de vista a dimensão coletiva dessa utilização, ou seja, a
proteção de comunidades herdeiras da pré-história, vivendo
terra é considerada um bem coletivo, pertencente a toda a
uma proto-história incômoda, devido aos assédios de grupos
comunidade, sem necessidade de demarcação de fronteiras ou
humanos rústicos, empurrados por capitalistas vorazes para limites rígidos. Em última análise, os diversos grupos indígenas
dentro da territorialidade indígena." fazem uma apropriação simbólica da terra, o que faz com
Aziz Nacib Ab'Saber A Amazónia: da discurso à práxis. p. 171 e
177, que a posse não seja meramente material, orientada por
objetivos ou interesses tão somente pragmáticos ou técnicos,
como considerada pela sociedade nacional pautada em valores
ocidentais.

1.2. O conhecimento da diversidade biológica e


ecológica

O conhecimento da diversidade biológica ou


biodiversidade {variedade de espécies da fauna e da flora) e
da diversidade ecológica (variedade de ecos-sistemas) resulta
de séculos de uma história de convivencia harmoniosa
desenvolvida entre os indígenas e o meio físico circundante.
Subjacente a seus métodos de agricultura, caça e coleta,
além das práticas de cura, encontra-se a noção implícita da
preservação da natureza enquanto provedora das necessidades
de sobrevida da coletividade.
Essas sociedades podem contribuir para a ampliação e
manutenção da diversidade de espécies animais e vegetais,
estendendo a atual discussão acerca da biodiversidade para a
da sócio diversidade.
1. O espaço geográfico indígena: reciprocidade Hoje a medicina volta-se aos conhecimentos dos in-
entre o ser humano e o meio dígenas sobre as propriedades preventivas e curativas de
múltiplas espécies vegetais e derivados animais. Trata-se de um
Com o mercantilismo e os capitalismos comercial e patrimônio de inestimável valor, o que torna a preservação da
industrial, iniciou-se um processo de agressão e destruição da integridade física e cultural dos indígenas uma necessidade,
natureza nunca vistos no decorrer da história. Esse modo de muito ao contrário da atitude que se teve para com eles ao
produção, que implicou o aniquilamento de ecossistemas, longo da história.
provocou grandes desequilíbrios ecológicost gerando mudanças 1.3. A concepção de natureza como fonte de vida
climáticas, extinção de espécies animais e vegetais e uma
profunda desarmonia entre o ser humano e a natureza. Antes de mais nada, cabe esclarecer que as relações
Já a relação dos grupos indígenas com seu espaço em entre as sociedades indígenas e a natureza não se pautam
geral foi sempre tão harmoniosa que permitiu a eles conhecê-lo exclusivamente pelo conhecimento da biodiversidade ou por
profundamente. Isso lhes forneceu, ao longo de milénios, os técnicas de manejo florestal. Tão importante quanto isso é o
conhecimentos necessários para a preservação não só das envolvimento que os indígenas têm com o meio ambiente,
plantas e animais de que se alimentam como também dos elos tornando-o parte integrante de suas vidas e de sua dinâmica
da cadeia de um ecossistema, conseguindo assim manter seu social. Nas relações homem-meio que estabelecem, prevalece a
equilíbrio e sua integridade. reciprocidade, na qual se descarta a possibilidade de o
Alguns estudos realizados sobre os Caiapó, tribo do sul do primeiro dominar o segundo, como se dá nas relações baseadas
Pará pertencente ao tronco linguístico Jê, e os Kuikuru, do alto
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na ótica "civilizada".
Xingu, mostram o conhecimento que possuem, por exemplo, do Na dinâmica social desses grupos, o objetívo do uso da
uso do solo e do clima. ELes cultivam a terra sem prejuízo do terra é obter do meio apenas os recursos necessários para sua
ecossistema, cxa-tamente o contrário do que fazem os brancos. subsistência (produção de valor de uso) sem visar a geração de
No modo de vida das diversas culturas indígenas, não excedentes de produção para serem comercializados {produção
ocorre degradação do meio ambiente de forma irreversível, a de valor de troca}. Em sua relação com o território que
exemplo do que ocorre nas sociedades industrializadas. Como habitam, a natureza constitui fonte de vida, e não fonte de lucro.
poderíamos explicar tal falo?
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Eles criam, assim, espaços geográficos pelo fato de serem
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TEXTO COMPLEMENTAR II
presença humana no meio natural e nele interferirem, muito
A Mandioca
embora num grau muito menor do que as sociedades portadoras
de uma dinâmica social mercantil (colonização portuguesa) ou "A mandioca é uma das mais
industrial (sociedade brasileira atual). Esses espaços geográficos, importantes plantas alimentícias
na medida em que se constituem em guardadores da história da descobertas pelos índios.
evolução dos grupos que os criaram e mantém com ele laços Acredita-se que ela tenha sido
afetivos, são, portanto portadores da identidade destes. domesticada há quatro ou cinco
mil anos passados, na Amazônia.
TEXTO COMPLEMENTAR I Hoje, além da América do Sul, a
Organização espacial comum presente na grande maioria dos mandioca é cultivada na Ásia,
territórios indígenas do Brasil
África, Oceania, América
A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO INDÍGENA Central e do Norte.
• Ela nasce em solos pobres,
apresenta grande resistência às
pragas, pode permanecer
guardada na própria terra por
longos períodos e apresenta
grande valor proteico (...) uma
vez retirada da roça, a mandioca
brava é descascada e ralada.
Depois deve ser prensada num tipiti* para extrair o suco
venenoso que ela contém. Esse suco é armazenado e dele
se faz o tucupi*. A massa que daí resulta é peneirada e
torrada em fornos de cerâmica ou de ferro. Com essa
massa faz-se a farinha ou bolo de beiju. A massa é
também utilizada na preparação de bebidas fermentadas e
não-fermentadas."
(Joana A. F. Silva. Economia de subsistência e projetos de
desenvolvimento econômico em áreas indígenas. In: Aracy Lopes da
Silva & Luís Donisete Benzi (irupioni, or^s, A temática iriíttgeiia nu
fscoín. p. 362.)

Frequentemente, as famílias indígenas brasileiras en- IMAGENS PARA ANÁLISE


contram-se associadas aos espaços das aldeias, for-
mando aldeamentos pequenos, que abrigam entre 30 e
100 pessoas, embora possam ser encontradas aldeias
maiores, com 400 ou 500 indivíduos.
Circundando as aldeias, geralmente são encontradas as
roças familiares, produzidas segundo o sistema de
"coivara"*, ou seja, pequenos lotes onde a vegetação é
derrubada e queimada para o plantio de um produto
principal que fornece o suprimento de carboidratos* ao
grupo (milho, mandioca, batata-doce ou inhame), assim
como alimentos que incrementam a dieta.
Entre os indígenas a terra é um bem comum, mas a roça
pertence sempre à família que a trabalhou, o que
desmístífica o ideia de que vigora entre todos os grupos
indígenas a propriedade coletiva de uma roça, desiludin-
do os que pretendiam encontrar entre eles exemplos de
"sociedades comunistas". O espaço que circunda as
aldeias é entrecortado por roças de maior ou menor
produtividade e por terrenos de mata de densidade
variado, as chamadas capoeiras, formadas pela vegefação
nativa que brota após as roças.
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Por último, para além das roças e capoeiras, há um


território de mata densa utilizado para caça e coleta.
Percorrido continuamente, esse espaço guarda "marcas"
significativas para o grupo, tanto de sua história coletiva
como da história pessoal de cada integrante.

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