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240 icra Socstde Resumo ‘Oteatoconsidersar elder ere imegnagios iberdade porviade uma comgaraso dos acs prniplsdaseon- ‘epee cartesian, omnia e sarin da ncaa nite consciencineimaginaao Procure mata que © ‘xeeii da maginaaosempreetevevnclad, antes {Sire ao crser pal de relied ed cones ents vise, como em Dearne ‘numa peepctvadeamplasnde pose, como Abstract ‘The tex investiga the raion between imagination and fecedom by comparing the main fetes ofthe CCenesan, Romane and Sarrean conceptions ofthe connection bette onsen snd imaginations {show thatthe exerts of the aghnation a always beenlinked, before Saeco pane natu of ay snd knowdedge, ether etsy ain Dacre ot bY means of the amplifcation of pssibilite, a im Romance, sexcio conenonamin FRANKLIN, LEOPOLDO, SILVA Universidade ‘de Sio Paulo Palavras-chave. Peep: experienc epic, Keywords Perception: experince dena, conecinee (ao-t0) [ibe de nagar +243 | " A etapa de coroamento do processo que Habermas define como a colonizagao do mundo da vida certamente € 2 conquista e o dominio dda imaginacio por via do triunfo completo da racionalidade técnica. © controle do imaginétio ¢ sua instramentallzasao seriam assim a realizagao do que Marcuse descreveu como a uridimensionalidade, earacteritica tendencial do homem na modernidads, Eeea wnidade perversa que apagaria uma tensio originéria da condicao humana poderia entzo ser vista como o resultado do tajeto histérico moder no, se entendermas que esse percurso se caractenza por uma vonta- dde-de afirmacio que, na linguagem de Adorno, s¢ confundivia com a obsessiva reiteracto do existente, isto €, uma coaformacto do ser € do dever-ser aquilo que nos € dado viver numa tealidade totalmente ddependente da razio instrumental. A posicio da imaginacao no contex- to dessa instrumentalidade ¢ com certeza tema esiencial para a com- ppreensao de nossa insergio historica numa contemporaneidade que [parece se mostrar cada vez mais avessa as diferengas. Nossa contri- Dbuicao para uma visio critica desse processo consistira em pontuar alguns poucos aspectos de trés teorias importantes da imaginagio: x cconcepgdo classica (Descartes), a visto romanilca e 4 psicologia fenomenolégica de Sartre. Observacées historicas que falvez nos habilitem a uma compreensto maior do nosso presente. ‘A imaginasio em Descartes testemunha os dois sentidos de liberdade. O primeiro, negativo, refere-se & liberdade como errancia fe indiferenga: a partir desse sentido podemos faz2r desfilar, em nos- sa mente, toda sorte de imagens sem que a preocupacao com 0 ver- dadeiro venha a operat af qualquer separacio, distinguindo aquelas que corresponderiam 2 uma realidade percebida ou perceptivel da- 4quelas que nio teriam nenhuma vinculacao com ¢ mundo da percep- ‘sto. E importante essa ligagto entre imaginacao e percep¢a0 por- que a referéncia cartesiana ao poder de imaginar ocorre num qua dro de critica do aparato perceptive de nossa relacio sensivel com 0 mundo. A imaginagéo entra em cena para nos ajadar a distinguir as possibilidades ilusdrias da percepcéo de suas possibilidades reais, Por isso ela € tratada juntamente com o sonho. Em ambos 05 casos, 4 representacao pode levar ao engano, pols o fcticio apresenta-se com a aparencia do verdadeiro. A associacao entte o sonho e a ima- sginacdo possibilita a compreensio da génese das imagens llusérias sem que 0 sujeito necessite colocar radicalmente em questto as ba- ses reais ¢ racionais da representagio, Com efeito se, estando em fesiado de vigilia, represento-me como tendo um corpo de video, 0% {que estou vestido com um manto de pirpura ou que sou urn cAntaro ‘ou um rel, nesse caso € a desrazao que se insiala: a loucura ea extravaganela, © que me impediria por principio o exercicia de qual= quer erica da percepeao. E preciso pottanco que a imagem ilusor ocorra numa situacdo em que a representacio possa ser reconduzida, a uma correspondéncia que Ihe devolva a tacionalidade. Essa situa- fo € 0 sonko, porque é proprio do homem dormir ¢ representar, no [212 tecccresscnine EDIGAO COMEMORATWA, | sonho “as mesmas coisas, ou algumas vezes menos verossimeis, que esses insensatos em vigilia". Assim, embora nao haja em principio crltérlo seguro para distinguir o sonho da vigila, a remissa0 da ih ‘880 ao sonho delimita o terreno de atuacao das imagens enganosas, {ja que a vigil, configurando-se como uma situagto oposta a0 so- nnho, poderia entio ser considerada aquela em que seria possivel operar a distingio entre ilusdo e realidade. Para isso basta que me atenha ao sentido positivo de Uberdade, aguele que diz respeito a duvida ea vigilancia sobre minhas representa” Bes. Esse sentido positive de liberdade limita o fluxo das imagens suspende minha adesto a verdade trazda pela percepcao. ele que per mite a critica das representagoes sensivels, isla é, a andlise dos ele- mentos que podem possibilitar a distingio entre a verdade e 0 erro, dimensbes que podem estar justaposias nas imagens sensivels. Assim, por exemaplo, quando me represento um centauro ou um satire ot luma sereia, a imagem como (otalidade é false, mas seus componentes podem ser verdadeitos, pois ainda que nto exista algo como uma ca- beca humana num corpo de cavalo, cabesas humanas e corpos de animais sio pereepedes dadas na realidade. A falsidade esté na com- posigdo, no nos elementos, o que mostra a dependéncia da imagina- ‘lo em relacdo as coisas percebidas. Se queremos, pois, nos guardar das extravagancias da imaginacto, devemos procurar a verdade das coisas nos elementos mais simples de que elas se compoem, jt que essa simplicidade estaria aquem de qualquer composicao desregrada que & maginagio pudesse eventualmente apresentar, sses elementos primeiros ou essas naturezas simples sio jus- lamente aqueles que nao podemos representar pela imaginacao, mas apenas pensar por via do entendimento. Dai deriva a superioridade do intelecto e do conhecimento conceitual: da sua independéncia em relagao as imagens, isto é, aos corpos ou 2 materia. Isso confere 20 entendimento a evidéncia ¢ a precisio conceitual que a imaginacéo Jamas poderia alcancer. "Quando quero pensar em um quilisgono, coneebo na verdade que é uma figura composta de mil lados, tio faci” mente quanto concebo que um triangulo é uma figura composta de apenas ts lados; mas no posso imaginar ¢s mil lados do quilidgono como faco com 0s tr8s lados do triangulo, nem, por assim dizer, vé- los como presentes com os olhos do meu espirto™. Ve-se que, nesse caso, a liberdade de composicio da imaginacto em nada me ajuda, pois no tenho como formar na minha mente uma imagem de uma figura de mil lados que ilustre com precisio 9 conceito desse poligono, ue no entanto concebo t2o facilmente como qualquer outro, inclusive agueles que posso Imaginar com alguma dstingdo, como por exema- plo, o tridngulo. Essa diferenca entre a distingdo do intelecto e a confu- * Rene Descartes, Meditate meafiscas Primeis medio In Ora escsie,tadacdo ‘raleiea de} Guinsburgh¢ Beto Prado, S80 Pau, Dif 1862, p.119, * Rene Descas, Mediaebermetafias Senta medic, opt 18D. ‘Aiberdade demain + 243, sao da imaginacio deriva da dependencia que a tmaagem possui em relacao a percepséo: por isso Descartes diz que no posso imaginat 0 quilldgono porque no posso ver todos os seus lados com os olhos do spirit. Nao estaria portanto fazenda bom uso da liberdade do espt- nto Se me dlspusesse a imaginar concomitantemente tudo aquilo que posso conceber, pois a simplicidade do pensamento sem imagens se transformaria assim em algo complexo e confuso, em prejuizo do co- nnhecimento. A imaginag2o s6 exerce a fungie pesitiva de auxiliar do intelecto quando se subordina intelramente a ele. O intelectualismo dde Descartes nos impde pots que observemos cuidadosamente a rela- ‘sto de proporgio entre 0 pensamento sem imagens ¢ © pensamento ‘com imagens, o que significa preservar a superioridade (que Deseat- tes por vezes considera mesmo uma exclusividade) do intelecto nas ‘operacoes de conhecimento, E claro que essa prevaléncia do intelecto deriva do paradigma matemitico que desempenha ti relevante papel na teoria do conhect mento de Descartes. Mas podemos também encontrar na nocéo de reali dade como uma ordem preestabalecida por Deus uma casa igualmen- te importante. Allis, a matematice ¢ modelo de conhecimento porque 2 criagio € uma ordem exata, pelo menos da perspectiva do ctiador. Talvez nfo possamos, a partir de nossa finitude, constatar inteira- mente ¢ em todos 0s seus aspectos essa ordem: alga nos escapa, como por exemplo, a unizo substancial, os designios de Deus, os fundamen- tos sltimos das verdades etemas. Mas tais difculdades, proprias de um entendimento limitado, nto nos deve impedir de identificar a or- dem criada com a perfeicao do criador. Essa ordem esta presente nos tuts géneros de realidade metafisica abordados por Descartes: Deus, ‘© homem, o mundo. Ha uma ordem interna em cada um desses gene- tos e hi uma ordenapio entre eles que ¢ a sequéncia criador-criatura, No caso que nos interessa, a ordem da subjetividade € que faz que 0 Sntelecto preceda a imaginagao, como a esséncia precede os seus modos de manifestagio. E por isso que o métoda, que tem 0 propésito de Instaurar a ordem no conhecimento, deve observar essa precedéncia, conferir total prioridade do conhecimento intelectual, Somente as- sim a ordem do conhecimento teencontraré a ordem do ser. E de notar que o privilégio da ordem, tao bem examinado por Foucault em As palavras ¢ as coisas como o fundamento da episteme clissica, esta presente também na esfera da arte, em que um preceitusllsina rigoro- 50 orienta « mimese, de tal modo que a reproducio da natureza se faga conforme a ordem nela inscrita pela divindade, ainda que para {sso as imagens elaboradas artisticamente tenham de corrigir eventu- sis desordens que a realidade manifesta na sua aparéneia, A imaginacio pode ser vista como a faculdade que reproduz a percepcao, seja aquilo que de fato percebemos seja aquilo que, es lando inscrito na ordem eriada, seria de diceito perceptivel. Bem regrada, ela se adapta & ordem:; desregrada, ela pode redundar numa 24 eLrsureSodetde foto coneronana Fj ranean exor0i50 v4 Aborted magn 245 | 10-40) figuracao indevida ou mesmo monstruosa da realidade, caso em que suaatividade se afasta da ordem criada, gerando desondem e desrazto. Para que a imaginacao seja assim concebida ¢ precis> que o intelec- ‘to possa dominar a verdadeira ordem, desde os seus fundamentos € (0s seus prinespios, que sSo de ordem metafisica, até as suas manifes- layocs mas ituediatas au eaperieucia da percepgao, Ora, quando tals fundamentos ¢ principios ja nao mais s4o pensados como estan do a0 aleance do entendimento, a ordem do real nao pode tampouco ser concebida como uma totalidade integrada susceptivel de conhe- cimento. E 0 que sucede quanto a critica kantiana pretende tet de- ‘monstrado a impossibilidade do conhecimento metafisico, interdi- tando, assim, a integralidade do conhecimento tal como a concebe- am os filésofos clssices. Para Kant, o conhecimento deve renunciar & pretensio de reproduzir a ordem diving da criagzo na sua cotalidade abracar a tarefa de justificar 0 conhecimento por via da organiza- fo da experiéneia, em que as formas, categorias e prinetpios transcendentais sintetizam a diversidade dada produzindo um co- thecimento fenomenico e relativo 2 estrutura logica do entendimento Iumano. A ambigzo metafisica da totalidade é substiuida pela cons- trugio da certeza no ambito de uma finitude insuperivel. Os criteri- fs de um conhecimento verdadeiro passam a ser concebides como Imanentes a uma experiencia do mundo rigorosamente delimitada no seu aleance teérico, ficando os fundamentos e prineipias tltimos ‘que configuravam o conhecimento metafisico irreme¢iavelmente fora ddesses limites. Nesse novo horlzonte de relatividade do conhecimento ao su- Jelto, a imaginagio jé no pode ser concebids como reprodutora de ‘uma ordem objetiva estabelecida por Deus. Ela deve fazer parte do parato coguitivo a partir do qual a subjetividade trarscendental pro- uz o conhecimento; deve ter algum papel a desempenhar na obten- ‘20 desses resultados siniéticos que agora sto considerados como 0 Conjunto do conkecimento possivel. Qual sers essa nova funsio da Jimaginagio? Ela devera produzir o que Kant chama de sintese figurada, isto €, esquemas que ordenem previamente as sfnteses que o entendi- ‘mento realizara através de suas categorias a partir dos dados da intui- ‘to sensivel. Hla se situs, pois, num espaco intermediirio entre a sen- sibilidade € o entendimento, desempenhando a funcao de apresentar ao entendimento esquemas de sintese que operem a mediacao entre a {inuuicao e as sinteses categoriais, E ela pode fazé-lo porque Kant a concebe como uma faculdade ligada 2 sensibildade mat capaz de atuat dde maneita a priori sobre a diversidade sensfvel, isto é, operando wina espécie de conformidade entre duas dimensoes heterogeneas que sto «a sensibilidade 0 entendimento. Produzir essa passigem € a contri- Dbuigio da imaginagio para a construgao do conhecimento, O que nos interessa notar aqui € que essa apresentacao de esquemas que se situ am entre o sensivel e o intelectual ¢ uma atividade produtora e no reprodutora *[..] na medida em que a imaginagao € espontaneidade também Ihe chamo imaginacto produtiva e assim 2 distingo da imagi- nnagdo reprodutiva, cuja sintese esta submetida a leis meramente cempiricas [..] pelo que nao pertence a flosofia transcendental, mas & psicologia™. A imaginacio nio reproduz o senstvel percebido, ela pro- uz uma ordem entre os sevs elementos de tal maneira que possam ‘em seguida ser submetidos a ordem formal do entendimente. Os es: quemas s20 de slguma mancira formas a priori, mas ainda nio sto suficientes para uma sintese completa: trata-se de uma etapa que sera depois complementada pelo ‘rahalho dae eategorias da entendimento fe entdo teremos as sinteses definitivas. A imaginagéo é, pois, a seu modo, produtora de sintese, isto ¢ de conhecimento; pelo menos na ‘etapa que Ihe corresponde. Esse catater ativo da imaginagao sera a ‘base do importantissimo papel que els ira desempenhar no pensa- mento romintico. A profundidade e oalcance da imaginacao ja estao de alguma manelra prefigurados no texto kantiano, em que pese o papel logico-transcendental a ela atibuido. "Este esquematismo do nosso en- tendimento, em relacao aos fenomenos e a sua meta forma, € uma arte oculta nas profundezas da ala humana, cujo segredo de funcionamen= to dificilmente poderemos clguma vez arrancer a natureza e por a escoberto perante nossos olhos™. Essa ‘arte oculta nas profundezas da alma humana" no ¢ outra coisa senao o trabalho da imaginacdo, que Kant ve como parte integran- te do “jogo das faculdades", isto é, da tensto vigente entre entendi- mento, razio ¢ imaginacto. Nele a imaginacao, enquanto instancia transcendental, somente pode operarsintesesfigurativas do sensivel no nivel da forma, o conteddo estindo, como no caso do entendimento categorial, na dependéncia di intuicio sensivel. A espontancidade da Iimaginacao desempenhara un papel multo mals efetivo na arte, esfera fem que ela aparecera como reguladora da representagao, Mas o earster produtor da imaginacio, afirmado por Kant, nao tardard a ser concebido de forma muito mais ampla, sendo-Ihe atribuido funcoes de comtecfatividade criadora do Eu livre Fichte da o nome de imagina- ‘fo produtora’®, O objetivo de Fichte, inciando dessa forma um pro- cesso de reflexio que sera caracteristico de todo o pensamento romiin- tico, €0 de superar a dicotomia estabeleca por Kant entre sensibilidade ceentendimento, Como se sabe base da nogio kantiana de transcendental esti na limitagao senstvel do uso das categorias do entendimento, no mbito tedrico, e na autonomia das formas tacionais em relagio a0 sensi- vel no ambito pritico da razao, Essa separagao rigida entre forma e con teido tem como finalidade asiegurar a determinacio do conhecimento °K, Crit da ragdo pura texdo de® Santos A. Moun, Lisbos, Funda ‘alone Gutbeltan p13) + Biden, p55 * G orahem, Flocta do Ramartsmo, in J. Guinsburg org), Romani, Sie Palo, erp 1978p. 88 [246-Lieese tose sta cornea Fy tcorico pela experiencia ¢ a liberdade do sujeto racional na esfera da moralidade. O pensamento romantico, na sua aspiracto de unidade absolula e origindrla, pretende superar essa separagio, que aparece como figurando uma cisto da subjetividade. Por isso Fichte tomaré uma das origens da representagio em Kant, a subjetividade tuanscendental, como sendo a origem absoluta, ficando a outra (a sen- sibilidade, que para Kant possuia igual importincia) na condigao de subordinada, isto ¢, de uma produgto ou eriagio livre do Eu, Dentte as faculdades subjetivas que poderiam desempenhar essa fungéo pro- dutora e ctiadora, a imaginacdo aparece como ¢ mais naturalmente adequada, visto que jé em Kant ela se situava melo caminho entre a razio e a sensibilidade. Entretanto, ela nao se limitara mais & produ Ho de esquemas, isto é, de figuragdes a priori das articulagdes da Tepresentaco, mas ela produzira eletivamente todas as representa {oes. Seu papel ¢, portanto, verdadeiramente criador. Fla nao antecl- pa aquilo que seri sinteticamente pereebido e conhecido; ela cia tudo aquilo que nos aparece como a esfera da exterioridade, E claro que, por cumprir fungdes de conhecimento, a imaginasio nto opera ales ‘ortamente, mas segundo uma necessidade © um deterministno que, ho entanto, nao provem de wm mundo exterior desde sempre contra posto a subjetividade, mas, justamente, das profundezas ocultas a que se referia Kant, reinterpreted2 por Fichte como uma fonte subjetiva, ‘mas supravindividual, daquilo que entendemos por realidade. Esta é, por conseguinte, um desdobramento da imaginagao e, portanto, 3 fordem que encontramas no mundo, ai inelufdo o determinismo cien- tifico, deriva em ultima instancia da liberdade do Eu, entendido na acepcto supra-individual que The confere Fichte. E a mediacto entte essa fonte profunds de toda realidade e o seu aparecimento pata nés € 0 trabalho cativo da imaginacto, Embora Fichte pouco se ocupe da arte, porque suas preocups- ‘8s fundamentais sao 0 conhecimento e a moral, nie € dificil avalar 4 mportancia de sua teoria para a formulagto de uma concepto 10- Imantica da arce, Disso se aperceberam imediatamente Frederico € Guitherme Schlegel, que viram na liberdade absoluta do Eu, afirmada por Fichte, o fundamento do dominio do sensivel pelo esprit, isto €, do processo de idealizacio do sensivel que resulta na obra de arte, Em Fichte, a liberdade do Eu defronta-se sempre com 0 ndo-subjeti- ‘vo, que se The opse e impede a sua reallzagao absoluta, Tratase da tensdo entte ser e dever-ser, que para Fichte caracteriza 0 exercicio da liberdade, de modo a fazer de sua realizagdo completa uma aspia ‘¢40 moral que move o pensamento © a acio humanos, Os Schlegel centendem que essa limitagdo, coerente com a tensao entre o ideal ¢ 0 real, vigente no plano da reflexaa filoséfica, pode ser superada na ane. A verdadeira superagao do dualismo kantiano entre razio e sen sibilidade, inteligivele senstvel, ideal e real, ocorre portanio na esfera dda arte, que seria eapaz de operar uma sintese superior entre os ele- rman orev «sin Arter de nga +247 J 10-40 Imentos opostos, © que a filosofia nio € capaz de conseguir. O sentide do infinito, obscuramente presente na razd0 e no cotagéo do homer, sponta pars a arte como seu modo de efetivacto. ‘Mas por isso mesmo se pode pressentir que essa superacio da dicotomia entre o subjetivo € 0 objetivo, essa realizagto completa de luma sintese superior nao poderia ter como ponto de partida a subje- lividade pois, nesse caso, como hem mostroi a filosofia de Fichte, 0 ‘objetivo serd sempre uma mera producao do Eu, ¢ a realidade do que rio € 0 Eu terd sempre um caréter subordinado, Por isso Schelling, na tentativa de dar wm passa adionte de Fichte, iré concsber © principio ‘como algo superior € anterior tanto ao subjetiva quanto a0 objetivo. Somente assim 0 ponto de partida sera realmente o absoluto. Para {sso € preciso partir de uma identidade fundamental, que Schelling, ‘eouncia da seguinte maneira: 0 espitito € a natureza invisivel a natu teza 0 espitito visivel. Com isso ele a0 mesmo tempo distinguee iden- tifica as duas manifestagoes do absoluto: @ presenca do objetivo, da realidade da natureza, no plano do subjetivo, na idealidade do espiri- to; € presenca do subjetivo, da ideslidade do espirito, no plano do objetivo, da realidade da natureza. A fonte originsria, produtors do suubjetivo € do objetivo, do espirito e da natureza, é algo que transcen- de a ambos © que os segrega numa identidade absoluta, que depots se esdobrara em duas modalidades. Bornheim descreve essa atividade do absoluto: “Assim, hi duas modalidades de inteligencia: no primei- ro caso [espirito] manifesta-se como consciéncia e no segundo [nat- reza] permanece inconsciente; mas ambas derivam de tma taiz co- mum, o absoluto, e ambas s6 podem ser elucidadas dentro de uma perspectiva celeologica™. Dito de outta forma, na natureza ou reali- dade objetiva o absoluto age de forma inconsciente, como num des- dobramento cego; no nivel do espirito o absoluto age consciente de sua propria ag4o € de seus propésitos; mas trata-se, nos dois casos, de Jum mesmo “principio ativo teal”, essa ¢ precisamente a razto pela ual nao precisamos mais nos ater & oposicao tradicional entre ideal ¢ real, pois ambos interpenetram-se originariamente, ‘A uma tal identidade a filosofia s6 pode aceder abstratamente, A intuigto filoséfica (a intuigdo intelectual que Kant havia desacredi- ‘ado como drgio de conhecimento) pode remontar numa espécie de regressio teflexiva até as fronteiras desse lugar originatio, mas 56 pode vislumbra-lo de longe, sem nunca nele penetra. Cabe & ale, o1 8 imaginagdo postica (artstica) coroar o itinerstio te6rico da filoso- fia e completar a travessia tumo ao absoluto. A filosofia demonstra que 0 apice do conhecimento € a representagao da unidade absolutz; S arte nos mostra unidade da realidade coneretamente posta em obra. 0 filésofo intui abstratamente a unidade absoluca; no artista essa in- {uigao se transfigura em obra, em cuja singularidade vemos o cardter * 6. Bocahem opt. 100 [24e-tieraurse Sooo ‘A berdade dmg 249 | DIGAO COMEMORATIVA | eal universal e originario da identidade entre o real ¢ o eal. A realizacao artistica possui uma relacdo de conaturalidade com a manifestacao do absolute, de transgressdo ~ que no entanto vim como paradoxalmente autori- zada pela propria distingao kantiana entre conhecer (determinagio dos limites da experiencia) e pensar (livre expansio da intuigfo inte Tectual). E a partir dessa transgressio que devemos compreender a supremacia da intuigio, da imaginacio e da arte. O que es romanticos valorizarao na heranca Kantiana ¢ aguela espécte de reserva de liber- dade, que aparece com um significaco determinadamente negativo na (Critica da razao pura e indeterrinadamente positivo na Critica do jizo. E a efetivacio dessa liberdade, ante-iormente posta em reserva, que explica como a arte, isto € a imagimcio. pode ser vista em Schelling como © organon do conhecimento flosofico, Trata-se de uma liberda- de que, embora conscientemente exercida pelo sujeito, néo o isola, porque haure seus fundamentos mura instancia originaeia muito mais ampla do que a subjetividade individual: a liberdade absoluta ou o absoluto como liberdade. Como o conhecimento aspira a totalidade, € 0 Orgio desse conhecimento € a intuigio artistica que eclode no plano da imaginacao, ¢ essa a faculdade pela qual ¢ homem comunga com o Todo e pode sentir-se no absoluto, E exatamente esse poder afirmativo da imagem, essa sua inserl- a0 na positividade do ser, que sera questionado pela elucidacao fenomenologica da tmaginacao tal como € levada a cabo por Sartre, (rg doconkecimento caida, a aie slvera as contd nto ub futvoe o objtv,o conciente eo nconsclente,o ene eal a iberdade c= ‘eceetade, que aria genial supers ereabre cade paso, Representa © fino nine arte, que tema orga de wma eect term, nbd alin stunidadeenesteezsea verdad Se comparamos as vies clissica ¢ romantica da imaginacio, talvez as principsis dferengas possam ser observades em tomo do modo como se concebe a liberade de imaginar. Para Descartes, =a liberdade tem um sentido preponderantemente negaivo: @ imagina- 0 56 poderé operar como Grgio auiliar do conhecimento se estiver {ntciramente submetida ao poder do intelecto, ou da concepeto inte lectual,Pois assim como o intelecto purfiea ¢ disciplina a percepcto, pela corzegio intelectual dos seus possives desvios, @ imaginacio, deixads inteiamente livre, poders multiplcar 0s enganos da percep” 40, pois o carater reprodutor da imaginacao envolve o risco de Potencializat as ilsbes dos sentidos. Dessa forma, qualquer imagem 50 podera aspirar& condigio de verdadeira depois de passar pelo cri vo da anise incelectal, unico método de estabelecer o valor objeti- vo de um contetide imagetico. Como nem todas as imagens sao analisveis, elas nto dever, de modo geral, er admitidas no acevo do conbecimento, A liberdade de imaginar & portanto inseparavel da Vigilancia que o sujeto deve exercer sobre a dlsposicdo de formar imagens, para que estas nao venham a distorcer a objetividade dos © corpo. “A imagem é uma coisa corporal, ¢ o produto da acio dos {uizos,Pois a imaginagao deve, tanto quanto o itelecto, subordinar- corpos exterioes sobre nosso préprio cotpo por intermédio dos sen- se 8 ordem fundamentada ma transcendéncia do ordenador. Atma {dos e dos nervos. Matéria e conecigncia excluindo-se uma a outra, nagao cradora € uma aventura perigosa Imager, na medida em que ¢ deseahads materialmente em slguma No caso dos romanticos, na medida em que partem da ideia parle do eétebro, néo poder ser animada de consciencia. Ela € um ‘eantiana de que o conhecimento se funda no estabelecimento rigoro- objeto, tanto quanto o sio es objets exterioes”. Ao pensar a ima: 0 de limites, e que a ordem da experiencia € dada pelo teor Himitante gem no registo corporal, estreitamente ligada a percepoto, Descar- da relago entre a sensibilidade e razio teérica, 0 gue imediatamente tes nao pode fazer dela um modo especial de conscigneia, Imaginar herdam ¢ @dicotomia entre a potencialidade do pensar na sua exten- rio se distngue realmente de perceber, que a imagem seria como sto indefinda, negativamente figurado por Kant na intaigio intelec- tama pereepsto fraca do objeto desenhado na mente. E nesse sentido tual, € a atulidade de uma experienela restita ae consequéncias do gue © poder afirmativo da imagem, quando existe esta em esirita dualismo entendimentovsensibildade. A experiéneia assim concebida dependencia da percepedo correla, aque fiscalizada pela mente. E ddevera formecer a ordem do conbecimento, Ocorte que, desde Fichte, claro que isso deriva da concepedo da mente como wma svbetincia, ‘9s romanticos optam pela recuperacia do potencial do pensamento ¢ coisa concebida como receptsculo de outeas coias, seus contetidos de sua vocagéo totalizante, que pata Kant tina uma fengao no maxi reais. Ou entio portadora de fats, que podem ser claramente conce- No caso da concepsto classica da imaginagio, o substancialismo: cartestano conduz naturalmente a conceber a imagem como coisa, do mesmo genero das coisas corporais das quais dependeria o trabalho da imaginacao, No dualismo menteicorpo instaurado por Descartes, 1 imagem representa 0 momento em que a mente pensa voltada para mo reguladora, Assim, a recepgfo da heranga kantiana ocorte a0 mesmo tempo como reagio a Kant, ¢ nao ¢ por outta raz30 que a atitude diante dos limites estabelecidas nao sera a de aceltagdo mas "8 Numes, Aso oman, tJ, Gutnsburg opt, 1978, p62 bidos ou confusimente imaginados. Embora Sartre nao faca uma andlise eritiea da concepedo r0- rmantica de imaginagio, eremos que ela se colocaria em continuidade * J sant, aginato, St Pasl, Dif, 1964p. [250-tewmesesocudte coho corenournn van wor130 «isa Albert deimen-254 (10-00) f critica da imaginac2o clissica. Claro que se poderia dizer que os omanticos nao pensam que a imagem possa ser assimilada a uma coisa no mesmo sentido em que o fizera Descartes. O idealismo transcendental certamente confere 20 ato um papel de tal maneira relevante que © coloca antes ¢ acima das coisas, que $6 podem ser representadas como existentes pelos atos de sintese. Mas, por isso mesmo, 0 ato de pensat € muito mais do que a constatacao da colsa existente, jd que 0 pensamento possui uma indole produtora que 0 torna bem mais do que um mecanismo de relteragio das existencias. ‘esse sentido, a imagem nao pode ser assimilada & coisa porque ela de certa forma, mais do que coisa e mais do que percepcio. O carster pprodutor da imaginacao Ihe confere um poder afirmativo que escapa as condigdes de objetividade postas pelo cartesianismo. Vimos que ‘em Fichte a imaginagio produz as representacées ditas exterioes; ema Schlegel ¢ em Schelling ela produz o conhecimento da sintese superior centre real ¢ ideal. O fato de que a imaginacao nao se atena apenas & csfera das simples existéncias nio pode ser interpretado como ura deficit, mas como forca produtora que nao se contém nos limites do que tadicionalmente se nomela como realidade. Uma obra de arte, que nao é nem estritamente real nem esttitamente ideal, € uma repre” senlagio que contém na verdade a sintese do finito e do infinito, «por via da qual podemos representar 0 absoluto, senio na sus totalidade, pelo menos de forma mais adequada do que o fatiamos nas repre- seniagdes intelectuais ou sensiveis. Dessa énfase na superagio da eexistencia objetivamente dada nataralmente percebida deriva 0 estatuto insigne que o tomantismo atribui ao sonho, ao sentimen- {o, as imagens oriundas da inspiracdo poetica ¢ a todas as formas de comunhio interna entre 0 homem ¢ a totalidade. O que resulta disso nto pode ser chamado de fantasia no sentido de representa- ‘glo fantasmagérica: se damos 4 nosto de realidade um sentido su- ficientemente abrangente que nos leva 2 escapar da dicotomia en- tue interioridade ¢ extetiotidade, idealidade e realidade concteta, entio podemos dizer que a imaginacao, tal como a entendem os rominticos, nos propicia mais do que uma visto objetivamente exter tna dos contornos da realidade, introduzindo-nos no seu proprio cerne ‘ou no seu nucleo gerador, A existéncia, poeticamente aprecndida, € ‘mais rica na sua efetividade do que o real percebido ow traduzido conceicualmente Ora, a anilise fenomenolégica de Sartre vai buscar a especific- dade da imaginacio de outra maneira. A grande contribuigéo trazida pela proposta husserliana ¢ a nova concepeao de conscléncla: nfo mais ‘uma substancia ou uma forma transcendental, mas puramente um ato, sem que se precise conceber, por tris desse ato, qualquer instancia definida da qual ele emanaria. O que propriamente define « conscien- cia € a pure transitividade, movimento que a poe sempre fora de si, visando um objeto, e que Husserl denomina intencionalidade, cujo enun- ciado célebre & toda consciéncia ¢ conscigncia de” Segundo Sartre, af std verdadeiramente a superacio originaria da dicotomin idealismo/ realismo e a demarcacéo rigorosa do hugat da representagio, que nao setia portanto nem uma constiéncia absolutamente constituinte, nem simples inércia‘da exterioridade pura, mas uma relagio transitiva na qual a consciencia do sujelto é a consciencia do objeto fora do sijeito Assim, como toda consciéncia é consciéncia de, sendo a imagem uma modalidade da consciencia, toda imagem sera imagem de alguma c sa, ndo no sentido de se referir a algo pereebido, mas no sentido de ocorrer como um ato especifico de intencionalidade, A imagem se explica pela intengao de imagem como ato de conscincia ou, como diz Sartre, como consciéncia imaginante ‘© que se ganha com isso €4 especificidade da operacao de cons- clgneia a partir da qual aparece a imagem. Sua elucidagio depende de ‘uma definigae propria da modalidade, de uma diferenca estabelecida fem relagdo as outras intencSes ou atos de consciéncia, tals como pet ceber ou conceber. “Achamo-nos pois, diante de uma relagio intenci- onal de uma certa consciencia a um certo objeto. Em uma palavra, Jimagem deixa de ser um conteudo psiquico; ela nao se acha na conse éencia 4 titulo de elemento constituinte [..] 0 objeto da imagem, des- tacado do puro ‘conteddo’, situa-se fora da conscigncia como algo radicalmente diferente™. Seja uma imagem andloga & percepgdo (re- rato), seja uma fiesa0 completamente inventada (centauro), a ima- gem permanece como um modo singular e irredutivel de conseiéncia, A assoclagao que sempre se fez entre imagem ¢ existéncia percebida impediu que se formulasse corretamente & quest4o: 0 que é a ima- gem? E a essa pergunta que a elucidagao fenomenolégica da intencionalidade imaginante permite responder. E no exame da espeeificidade do ato de imaginar Sartre vai des- tacar duas caractersticas: a Imrealizacao e a ausenela, Quando olho o fetato de meu amigo, néo materalizo sua presenca, A imagem serve Precisamente como matéria a parti da qual minha conseléncia visa meu amigo coma aucenie HA af uma intengao, um ato, mas de inreaizasdo, pots o que € visado é o que Sartre chama de objeto irral. Isso quer dizer que o objeto irreal,correlato do ato de imaginar, exis- te, Nio se trata de metéfora nem de paradoxo: a existéncia do objeto irreal € justamente 0 que confere especificidade & conscitneia ‘maginante. A imagem néo ¢ uma ilustragio do pensamento, pois quan- o penso ein meu amigo ausente nao 0 concebo como a um conceito, ‘mas vejo-o, entabulo com cle relagdes afetivas, lamentando, por exer plo, que ele nto esteja presente, tenho consciéneia de sua auséncia, pportanto reajo & imagem como se fosse uma presenca, porque na ver * CE-P Sare, Ua dia fundarent da enomenoogs de Huser etencionaidde, in Stages wadgtopornguess, sho, Pbeagi Europa Amerie, 1068 p80 Sarre, maging, op eit, p | 252 -tecraesocnte dade a auséneia € uma espécie de presenga do vazio. O limite dessa experiencia € 0 luto, porque nesse caso sabemos que a ausencia & Aefinitiva, A reacko @ imagem ¢ completamente diferente da reatao a percepcio. Se estou efetivamente junto de meu amigo, minhas rea- ‘goes afetivas sio reguladas pela presenca real e complementadas pela ‘conluta dele. Poo eaeontidelo, couversar evi ee, xjulzar aout do que cle me diz ou néo me diz, dos seus gestos e daquilo que cles demonstram, enfim, ha um jogo de compensagdes entre nossas con- datas, porque estamos um em presenca do outro, nossas consciéncias estio como que preenchidas por essa presenca mua, Mas quanio se trata da imagem, como ela nio reage @ minha reagio, ela nio € causa de minha conduta. Relaciono-me pois com 0 vazio, mas que tem a densidade de uma existencia, que pode até se sobrepor @ outras exis. ‘encias reals As quais no me vinculo por lismes to fortes, Quando reajo & imagem, a causa de minha reacdo € 0 nada, é a auséncia insert ta no fluxo da mina vids afetiva. Essa € a razao pela qual se deve falar ‘em objeto, em existincla, embora irteals Essa posicdo de existencia no plano da irrealidade € segura mente, em lermos metafisicos, o maior testemunho da liberdade da conscléncla, Nao se trata apenas de escolher livemente o que vamos afirmar e o que vamos negar, ou se vamos optar pela contencio do Julzor trata-se de negar, completa ¢ radicalmente, a realidade, e afir~ ‘mar © seu oposto, o imaginario. E a forga desse poder de negacio se rede pela intensidade da oposicio entre real e imaginario. © retrato que vemos no muscu é semelhante @ personagem historica represen tada, mas na verdade é um objeto completamente diferente. Pois © ‘que tal retrato tem de realidade material (e tela, as tintas, 2 moldura, © lugar em que esti exposto) é apenas uma espécie de substrato anal6gico (analogon) que nos remete 20 objeto em imagem, que ¢ 0 que verdadeiramente interessa, o que verdadelramente vemos, € que rho entanto nao esta materialmente presente. Essa irrealidade tormada cexistncia € esse vazio tornado objeto sio possiveis devido ao poder de negagao inerente a consciencia, ¢ @ andlise sartiana pretende nos Indicar que esse poder de negacao revela a nossa liberdade mais do que 0 poder de afitmacio inerente a outras teorias da imagem. Desse ‘exerecio da negatividade decortem, por certo, imensas consequencias, {que nao podemos comentar aqui, Easte-nos mencionar que o foder revelador da obra de arte esta estritamente ligado a essa possibiida de, mesmo quando o artista atravessa laboriosamente a realidade para rodusir sua propria negagso. Eis-nos portanto confrontados com a relaglo entre o imaginé tio € a liberdade. Para que isso nos ajude a pensar o papel da imagem 1a nossa atualidade ~ notademente no caso da imagem eletronica — setia preciso elucidar as condicoes de apropriagao e de expropriacao "CL Sane, maine, Gallimard, Fai 1940 Penpals p. 17519023965, ogo comenoRTVA, Fa san rei # A Atte de magn 25 | do imaginario na vida contemporanea. No rmundo-da-vida coloniza- do, em que os individuos sio expropriados da subjetividede, haveria lugar para a Imaginagio concebida como a liberdade de imaginar? Nio estaria o imaginério inteiramente submetido a uma selecéo de Imagens que induz a uma recepcao alienads e contriria a liberdade de consciéncia? A relevincia da questao ndo s: vincula apenas a eventu- alidade de vermos tolhidas as nossas possibilidades de fantasia: a hheteronomia do imaginario incide diretamente sobre a experiéncia da negacao enquanto requisito do exerciclo de resistencla & barbie © & desumanizagio da existéncla.

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