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Excelentíssimo Senhor Juiz de Federal do _ª Juizado Especial Federal de João

Pessoa

José João da Silva, desempregado, brasileiro, casado, portador do documento de


identidade nº 1010, CPF nº 020, residente e domiciliado na rua João Gurgel, S/N, Torre,
cidade de João Pessoa/Pb, CEP nº 558000, pobre na forma da lei, representado por seu
advogado infra assinado, constituído conforme procuração em anexo, com escritório à
rua Ayrton Senna, 18, Nesta, onde recebe intimações, e-mail: X@zaz.com, vem à
presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER PARA O FORNECIMENTO DE SIROLIMUS (RAPAMUNE), 03
CAIXAS POR MÊS, COM ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
JURISDICIONAL, SEM A OITIVA DA OUTRA PARTE, EM FACE DA UNIÃO
FEDERAL, DO ESTADO DA PARAÍBA E DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA,
pelo que passa a expor.

Desde logo cumpre destacar que o pólo passivo da presente ação é composto
pela UNIÃO FEDERAL, pelo ESTADO DA PARAÍBA e pelo MUNICÍPIO DE JOÃO
PESSOA. A pertinência subjetiva da lide em seu pólo passivo deve-se a
Constituição Federal normatizar que as ações e serviços públicos da saúde integram
uma rede regionalizada e hierarquizada e constituírem um sistema único a ser
financiado com recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
além de outras fontes (art. 198).

Por sua vez, o artigo 4º da Lei nº 8.080/90 disciplina que o Sistema Único de
Saúde - SUS é constituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por
órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais da Administração direta e
indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público.

Assim, os réus respondem solidariamente pela prestação de ações e serviços


necessários à promoção, proteção e recuperação da saúde pública. Quanto à União,
merece menção que, mesmo não sendo responsável diretamente pela distribuição dos
medicamentos, é ela a principal financiadora do sistema.

DOS FATOS

O autor é paciente transplantado cardíaco há cerca de um ano, pelo que faz uso
constante e obrigatório do medicamento SIROLIMUS (nome comercial: RAPAMUNE),
medicamento esse que segundo atestam os laudos médicos fornecidos tem atuação
eficaz e prolongada no controle do processo de rejeição de órgãos transplantados,
conformem laudos médicos em anexo. O autor necessita do medicamento
SIROLIMUS na quantidade de três caixas mensais, sob pena de perda do controle da
reação imunitária capaz de causar rejeição do coração que recebeu por ocasião de seu
transplante como fazem prova os atestados médicos que instruem a presente ação.

Como é de conhecimento notório, hoje no Brasil é muito grande a luta dos que
aguardam nas longas filas de transplante no Brasil. Esse problema é ainda mais
severo no caso daqueles que aguardam por um transplante cardíaco devido as inúmeras
dificuldades que esse tipo de procedimento enfrenta no Brasil, como falta de
profissionais habilitados na sua realização, de centros especializados pelo Brasil, falta
de doadores e etc. No nosso estado da Paraíba, tal problema chega a poder ser
considerado dramático, pelo fato de não termos um centro transplantador cardíaco, o
que dificulta muito a efetivação do tratamento ao paraibano cardiopata que necessita
desta medida que é considerada de última instância na terapêutica das moléstias
cardíacas.

Além disso, ocorre que os poucos, como o paraibano senhor José João da Silva,
que podemos dizer privilegiados por receber um transplante cardíaco, necessitarão
tomar por tempo indeterminado medicação para controle contra o processo de rejeição
enxerto, no caso o SIROLIMUS (RAPAMUNE), medicamento reconhecidamente
eficaz na proteção contra a rejeição do enxerto cardíaco e que é inclusive padronizado
pelo sistema público de saúde como medicamento para distribuição para pacientes
receptores de enxerto cardíaco. Até o ano de 2006 a distribuição acontecia
normalmente, conforme as necessidades do paciente, quando então, o Ministério da
Saúde limitou a quantidade de SIROLIMUS a uma caixa por paciente,
independentemente das necessidades do paciente, o que segundo provam os laudos
médicos em anexo é insuficiente para o caso do autor, expondo-o a rejeição do coração
transplantado, que pode iniciar-se a qualquer momento caso o mesmo não venha a
tomar os medicamentos conforme o prescrito e, conseqüentemente à morte.

DO DIREITO, DA FUMAÇA DO BOM DIREITO E DO PERIGO NA DEMORA

Consoante já exposto quando da fixação do pólo passivo, temos que por


imperativo constitucional a saúde é dever do Estado e direito dos cidadãos:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.

Nesse contexto, ainda que a Administração Pública deva se alicerçar por


referências atuariais, nada pode obstruir o fim último de comando constitucional,
devendo-se ver o direito do cidadão em toda a sua extensão, independentemente dos
contornos das políticas públicas e gestão de recursos.

Vejamos que o artigo 5º, XXV, da Carta Magna deixa claro que as autoridades
constituídas podem e devem promover a aplicação de recursos mesmo particulares
para a consecução da salvaguarda necessária ao afastamento de perigo à população.
Adiante, o dispositivo:

XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de


propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
dano;

De efeito, o direito à saúde é direito fundamental. O FORNECIMENTO DO


MEDICAMENTO NAS DOSES ADEQUADAS BUSCADO PELA AUTOR,
INDIVIDUALMENTE NESTA AÇÃO, É NA VERDADE A EXPRESSÃO DO
DIREITO PÚBLICO À SAÚDE, DIFUSO EM TODOS OS QUE NECESSITAM da
distribuição do medicamento SIROLIMUS na quantidade adequada para seu caso
específico como necessidade para sua própria sobrevivência. A função do remédio
distribuído de forma adequada a quem dele necessita é em si o cumprimento do dever
estatal de dar saúde aos seus cidadãos.

O risco a que se expõe o cidadão que não recebe os medicamentos na forma


adequada e necessária pode, inclusive, levar a um custo social ainda maior para o Ente
Público. De fato, o próprio ministério da saúde na medida em que não consegue
levar o tratamento especializado da cirurgia de transplante cardíaco a todo o Brasil,
reconhece ser esse problema de alta complexidade e custo, ainda que nem por isso deixe
de ser um direito do cidadão.

Que dizer então se por uma decisão de cunho político- econômico, os poucos
transplantes, a muitos custos feitos no Brasil começarem a se perder por rejeição do
enxerto?

Também seria a questão de nos indagarmos se na verdade todo o esforço


governamental em aumentar a malha transplantadora estaria sendo inútil dada a não
continuidade do tratamento.

Se tolerarmos que o ente público apenas por questões político-econômicas,


deixe de atender as necessidades de saúde em casos de risco iminente de vida, com
base no argumento do fornecimento do serviço ou medicamento dentro da reserva do
possível pelas previsões orçamentárias, estaríamos criando um precedente político-
socialmente muito perigoso, pois a decisão política caberia poder de vida e de morte
sobre seus cidadãos e pior que isso, colocando valores econômicos acima do
constitucional direito a vida.

Na verdade argumentos parecidos somente seriam cabíveis em sistemas


antidemocráticos e totalitários, como os do III Reich alemão, do qual quis nos afastar o
legislador constituinte do Brasil ao editar a constituição cidadã de 1988, rica no tocante
as garantias aos cidadãos.

Lembramos também que sabiamente o legislador constituinte tem o rol dos


direitos garantidos ao cidadão pela constituição como direitos meramente
exemplificativos, e que mais direitos poderiam ser acrescidos aos já expressos, mas
conforme desejo do constituinte brasileiro e indiscutivelmente aceito pela doutrina
constitucionalista, nunca suprimidos.

O Município é o ente público à ponta do sistema de saúde, aquele que deve


atender diretamente o cidadão. A depender do tipo de gestão adotada pelo município
(Plena, Plena na atenção básica ampliada, etc.), pode a distribuição de medicamentos
especiais ser feita ou pelo estado, ou pelo município.

Assim, ao lado da responsabilidade de todos os réus, deve no caso em tela ser o


Estado, por no caso da Paraíba ser o estado o responsável pelo fornecimento de
medicamentos especial, diretamente instado ao cumprimento do comando
constitucional. À autora deve bastar a apresentação de receituário médico e o
Estado deverá fornecer os medicamentos conforme receitado, sob pena de agir em
desacordo ao comendo constitucional.

Devido à solidariedade objetiva entre os entes federativos na prestação dos


serviços á saúde, conforme já fartamente demonstrado nesta exordial, não exclui a
responsabilidade do Município e nem da União no caso de não fornecimento do
tratamento pleiteado.

À União caberá, pela sua posição no SUS, ressarcir o valor dispensado, pelo
Estado ou Município, com o fornecimento do medicamento apontado, enquanto não
houver o repasse habitual de verbas específicas para tal fim.

Vale relembrar que a União é a principal responsável pelo financiamento dos


programas de saúde, como já suficientemente demonstrado acima.

Por pertinente, para exemplificar, temos transcrito um julgado proferido em


situação análoga:

TRF 2a Região, AG 129801/RJ, 3a Turma, Rel. Des. Fed. Tânia Heine, DJU
03/12/2004:
"PROCESSUAL CIVIL -AGRAVO DE INSTRUMENTO- TUTELA ANTECIPADA
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS .
I - De acordo com o art. 7º, II, da Lei nº 8.080/90, o SUS garante a integralidade da
assistência, de forma individual ou coletiva para atender cada caso em todos os níveis
de complexidade. Assim, comprovada a necessidade do medicamento para a garantia
da vida do paciente, deverá ele ser fornecido.
II - O direito à vida é assegurado pela CF no seu art. 5º, caput, e diante de um direito
fundamental, não há que prosperar qualquer justificativa de natureza técnica ou
burocrática do Poder Público.
III - O STF, quando do julgamento do RE 280.642, ao interpretar o art. 196 da CF/88,
se posicionou no sentido de que o termo "Estado" apresenta uma conotação genérica
a abranger a União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
IV - Agravo de Instrumento improvido."

DO PEDIDO
Diante de todo o exposto, pede o autor:

1. A antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional, sem a oitiva da outra parte, dado a
plausibilidade do pedido exposta e provada na exordial além da situação de extremo
risco de vida que a demora na prestação jurisdicional poderia causar para o autor, com o
fim de determinar-se a expedição de ofício à Secretaria Estadual de Saúde de João
Pessoa-Pb para que forneça ao autor o medicamento SIROLIMUS na quantidade de
três caixas mensais mediante tão-só a apresentação de receituário médico. Tal pleito
se justifica e se legitima ante os termos do artigo 273 do CPC, vez que o direito
demonstrado, de estatura constitucional, constitui prova inequívoca em benefício da
autora, além da natureza essencialmente urgente da medida, sob pena de danos à saúde e
à vida.

2. A citação dos réus para que respondam aos termos da presente ação, sob pena de
revelia e confissão.

3. A declaração do direito da autora de receber do Sistema Único de Saúde, ou


instituição que o venha a substituir, o medicamento SIROLIMUS na quantidade de três
caixas por mês, mediante tão-somente a contra apresentação de receituário médico.

4. A condenação dos réus, em responsabilidade solidária, na obrigação de fornecer à


autora o medicamento SIROLIMUS tão-somente a contra apresentação de receituário
médico, fixando pena diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais) em favor da autora para o
caso de descumprimento injustificado.

5. A gratuidade processual nos termos da Lei 1060/50.

6. A produção de todas as provas em Direito admitidas.

7. A condenação dos réus no pagamento das custas processuais e em honorários


advocatícios a serem arbitrados por esse Juízo.

8. A intervenção do Ministério Público como “custus legis”

Fixa o valor da causa em R$ 1.000,00 para fins meramente fiscais

João Pessoa, 30 de Março de 2010

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André Macêdo- Advogado- OAB-Pb 0,0

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