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O meio ambiente pertence a uma daquelas categorias cujo conteúdo é mais facilmente intuído do que
definível, como conseqüência da riqueza da complexidade do que encerra. Daí a dificuldade para sua
adequada classificação jurídica, e, por via de conseqüência, da identificação natureza jurídica do
próprio Direito Ambiental.
José Afonso da Silva, por exemplo, recusa a catalogação do patrimônio ambiental como integrante de
qualquer das categorias tradicionais de bens, públicos ou privados. Prefere enxergá-lo naquela outra
categoria que a doutrina vem chamando de bens de interesse público, na qual se inserem tanto bens
pertencentes a entidades públicas como bens dos sujeitos privados subordinados a uma particular
disciplina para a consecução de um fim público. Vale transcrita, a respeito, elucidativa e expressiva
passagem do insigne Professor: “A Constituição, no art. 225, declara que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Veja-se que o objeto do direito de todos não é o meio ambiente
em si, não é qualquer meio ambiente. O que é objeto do Direito é o meio ambiente qualificado. O
direito que todos temos é à qualidade satisfatória, o equilíbrio ecológico do meio ambiente . Essa
qualidade é que se converteu em um bem jurídico. A isso é que a Constituição define como bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.
O Direito, como ciência social e humana, pauta-se também pelos postulados da Filosofia das Ciências,
entre os quais está a necessidade de princípios constitutivos para que a ciência passa a ser considerada
autônoma, ou seja, suficientemente desenvolvida e adulta para existir por si e situando-se num contexto
científico dado.
Por isso, no natural empenho de legitimar o Direito Ambiental, como ramo autônomo da árvore da
ciência jurídica, têm os estudiosos se debruçado na identificação dos princípios ou mandamentos
básicos que fundamentam o desenvolvimento da doutrina e que dão consistência às suas concepções.
1.1 Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana
A par dos direitos e deveres individuais e coletivos elencados no art. 5º, o legislador constituinte, no
caput do art. 225, um novo direito fundamental da pessoa humana, direcionado ao desfrute de
condições de vida adequada em um ambiente saudável, ou, na dicção da lei, “ecologicamente
equilibrado”.
Por conseguinte, a partir desta constatação, a proteção ao meio ambiente não pode ser mais considerada
um luxo ou uma utopia, pois o reconhecimento deste interesse geral permitirá um novo controle de
legalidade e estabelecerá instrumentos aptos a fazer respeitar o novo objetivo do Estado. Existiria,
assim, uma ordem pública ambiental, tendo por fonte básica a lei, e segundo a qual o Estado
asseguraria o equilíbrio harmonioso entre o homem e seu ambiente.
De certa maneira, mantém o princípio ora em exame estreita vinculação com o princípio geral de
Direito Público da primazia do interesse público e também com o princípio do Direito Administrativo
da indisponibilidade do interesse público. É que o interesse na proteção do ambiente, por ser de
natureza pública, deve prevalecer sobre os direitos individuais privados, de sorte que, sempre que
houver dúvida sobre a ser norma aplicada a um caso concreto, deve prevalecer aquela que privilegie os
interesses da sociedade - a dizer, in dubio pro ambiente. De igual sentir, a natureza pública que
qualifica o interesse na tutela do ambiente, bem de uso comum do povo, torna-o também indisponível.
Não é dado, assim, ao Poder Público – menos ainda aos particulares- transigir em matéria ambiental,
apelando para uma disponibilidade impossível.
Resulta das intervenções necessárias à manutenção, preservação e restauração dos recursos ambientais
com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente.
A ação dos órgãos e entidades públicas se concretiza através do exercício do seu poder de policiamento
administrativo, se utilizando da faculdade inerente à administração pública para limitar o exercício dos
direitos individuais, visando o bem-estar coletivo. Mas não só das determinações de polícia se alimenta
o princípio, afinal, toda política ambiental tem características pedagógicas, no sentido que é um
trabalho mais educativo que repressivo.
No Brasil, o princípio encontra respaldo em vários pontos da lei ordinária (v.g, art 5º, § 6º, da Lei
7.347/85) e na própria Constituição Federal que, expressamente, diz ser incumbência do Poder Público
“controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” (Art. 225, § 1º, V).
Este princípio diz com elementar obrigação de se levar em conta a variável ambiental em qualquer ação
ou decisão –pública ou privada – que possa causar algum impacto negativo sobre o meio . A
consagração deste princípio se deu com o surgimento, no final dos anos 60, nos EUA, do Estudo do
Impacto Ambiental, mecanismo através do qual se procura prevenir a poluição e outras agressões à
natureza, avaliando-se, antecipadamente, os efeitos da ação do homem sobre seu meio.
Entre nós a matéria tem status constitucional, sendo, também, regulamentada pela legislação
infraconstitucional.
1.5 Princípio da participação comunitária
O princípio da participação comunitária, que não é exclusivo do Direito Ambiental, expressa a idéia de
que para a resolução dos problemas do ambiente ser dada especial ênfase à cooperação entre o Estado e
a sociedade, através da participação dos diferentes grupos sociais na formação e na execução da
política ambiental. De fato, é fundamental o envolvimento do cidadão no equacionamento e
implementação da política ambiental, dado que o sucesso desta supõe que todas as categorias da
população e todas as forças sociais, conscientes de suas responsabilidades contribuam à proteção e
melhoria do ambiente, que, afinal, é bem e direito de todos. Exemplo concreto deste princípio são as
audiências públicas em sede de estudo prévio de imposto ambiental.
No Brasil, o princípio vem contemplado no art. 225, caput, Constituição Federal, quando ali se
prescreve ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as
presentes e futuras gerações.
Entre nós, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, acolheu o princípio do poluidor-
pagador , estabelecendo, como um desses fins , a imposição , ao poluidor e ao predador, da obrigação d
recuperar e/ou indenizar os danos causados. Em reforço a isso assentou a Constituição Federal “que as
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar danos
causados.
O princípio da prevenção é basilar em Direito Ambiental, concernindo à prioridade que deve ser dada
às medidas que evitem o nascimento de atentados ao ambiente, de modo a reduzir ou eliminar as causas
de ações suscetíveis de alterar a sua qualidade. Tendo o Direito Ambiental caráter fundamentalmente
preventivo, sua atenção está voltada para o momento anterior à consumação do dano – o do mero risco.
Ou seja, diante da pouca valia da simples reparação, sempre incerta e, quando possível, excessivamente
onerosa, a prevenção é a melhor, quando não a única solução.
O estudo de impacto ambiental, previsto no art. 225 , §1º,IV, CF, bem como a preocupação do
legislador em controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias
que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, manifestada no mesmo
artigo , inciso IV, são exemplos típicos deste direcionamento preventivo.
Esse princípio da precaução acabou inscrito expressamente na legislação pátria através da “Conferência
sobre Mudanças do Clima” , acordada pelo Brasil na âmbito da Organização das Nações Unidas por
ocasião da ECO 92, e ratificada pelo Congresso Nacional , via Decreto Legislativo 1, de 3 de fevereiro
de 1994.
Concebida como direito fundamental, a propriedade não é, contudo, aquele direito que se possa erigir à
suprema condição de ilimitado e inatingível. Daí o acerto do legislador em proclamar, de maneira
veemente, que o uso da propriedade será condicionado ao bem-estar social.
A função social da propriedade urbana vem qualificada no art. 182, § 2º, da Constituição, ou seja, é
cumprida quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano
Diretor. A função social da propriedade rural, de sua parte, encontra qualificação no art. 186 da mesma
Carta , que a tem por cumprida quando atende, entre outros requisitos, à utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e à preservação do meio ambiente.
Destarte, o uso da propriedade pode e deve ser judicialmente controlado, impondo-se-lhes as restrições
que forem necessárias para a salva guarda dos bens maiores da coletividade, de modo a conjurar, por
comandos prontos e eficientes do Poder Judiciário, qualquer ameaça ou lesão à qualidade de vida.
Com efeito, não se pode falar, na espécie em qualquer direito adquirido na exploração dessas áreas,
pois, com a Constituição de 1988, só fica reconhecido o direito de propriedade quando cumprida a
função social ambiental, como seu pressuposto e elemento integrante, pena de impedimento ao livre
exercício ou até de perda desse direito.
No princípio do direito ao desenvolvimento sustentável, direito e dever estão de tal forma imbricados
um no outro que, mais do que termos relativos, são termos recíprocos, mutuamente condicionantes. Daí
a legitimidade, a força e a oportunidade desse princípio como referência basilar do Direito do
Ambiente.
A Constituição brasileira, em seu art.4º, IX, estabelece como princípio nas suas relações internacionais
a “cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”.
Ora, uma das áreas de interdependência entre as nações é a relacionada à proteção do ambiente, uma
vez que as agressões a ele infligidas nem sempre se circunscrevem aos limites territoriais de um único
país, espraiando-se também, não raramente, a outros vizinhos ou ao ambiente global do planeta. O
meio ambiente não conhece fronteiras, embora a gestão de recursos naturais possa – e, às vezes, deva –
ser objeto de tratados e acordos bilaterais e multilaterais.
2. A questão ambiental nas Constituições brasileiras
A Constituição do Império, de 1824, não fez qualquer referência à matéria, apenas cuidando da
proibição de indústrias contrárias à saúde do cidadão (art. 179). Sem embargo a medida já trazia certo
avanço para o contexto da época.
A Constituição Republicana, 1891, atribuía competência legislativa à União para legislar sobre as
minas e terras. (art. 34)
A Carta de 1937 também se preocupou com a proteção dos monumentos históricos, artísticos e
naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza (art. 134); incluiu entre
as matérias de competência da União legislar sobre minas , águas, florestas, caça, pesca e sua
exploração (art. 16); cuidou ainda da competência legislativa sobre o subsolo, águas e florestas no art.
8, onde também tratou da proteção das plantas e rebanhos contra moléstias e agentes nocivos.
A Constituição de 1946, além de manter a defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico (art.
175), conservou como competência da União legislar sobre normas gerais da defesa da saúde, das
riquezas do subsolo, das águas, das florestas, caça e pesca.
A carta de 1969, emenda outorgada pela Junta Militar à Constituição de 1967, cuidou também da
defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico(art. 180, parágrafo único). No tocante às
competências, manteve as disposições da Constituição emendada.
Do confronto entre as várias Constituições brasileiras, é possível extrair alguns traços comuns:
a) desde a Constituição de 1934, todas mantiveram a proteção ao patrimônio histórico, paisagístico e
cultural do país
b) houve constante indicação no texto constitucional da função social da propriedade, solução que não
tinha em mira - ou era insuficiente para – proteger efetivamente o patrimônio ambiental
c) jamais se preocupou o legislador constitucional em proteger o meio ambiente de forma específica e
global, mas sim dele cuidou de maneira diluída e mesmo casual, referindo-se separadamente de alguns
de seus elementos integrantes (florestas, caça, pesca), ou disciplinando matérias com ele indiretamente
relacionadas (mortalidade infantil, saúde, propriedade)
3 A Constituição de 1988
A Constituição de 1988 pode muito bem ser denominada “verde” , tal o destaque que dá a proteção ao
meio ambiente.
Na verdade, a nova Constituição captou com indisputável oportunidade o que está na alma nacional – a
consciência de que é preciso aprender a conviver harmoniosamente com a natureza - , traduzindo em
vários dispositivos o que pode ser considerado um dos sistemas mais abrangentes e atuais do mundo
sobre a tutela do meio ambiente. A dimensão conferida ao tema não se resume, bem de ver, aos
dispositivos concentrados especialmente no Capítulo VI, no Título VIII, dirigido à Ordem Social, mas
alcança também inúmeros outros regramentos insertos ao longo do texto nos mais diversos Títulos e
Capítulos, decorrentes do conteúdo multidisciplinar da matéria.
A esse texto, tido como o mais avançado do Planeta em matéria ambiental, secundado pelas Cartas
estaduais e Leis Orgânicas municipais, vieram somar-se novos e copiosos diplomas legais oriundos de
todos os níveis do Poder Público e da hierarquia normativa, voltados à proteção do desfalcado
patrimônio natural do país.
O dever estatal geral de defesa e preservação do meio ambiente é fragmentado em deveres específicos,
igualmente constitucionalizados. Em síntese são eles:
4.1 Preservação e restauração dos processo ecológicos essenciais (art. 225, §1º, I, 1ª parte)
Cuida-se, aqui, de garantir, através de ações conjugadas de todas as esferas e modalidades do Poder
Público, o que se encontra em boas condições originais e recuperar o que foi degradado.
4.2 Promoção do manejo ecológico das espécies e ecossistemas (art. 225, §1º, I, 2ª parte)
Aplicado ao substantivo manejo, o adjetivo ecológico conota o caráter técnico-científico dos recursos
naturais, sem embargo, ele deve ser tomado em sua acepção mais ampla, ou seja, à luz do que se
conhece por gestão ambiental. Prover o manejo ecológico das espécies significa lidar com elas de modo
a conservá-las e, se possível recuperá-las.
Biodiversidade ou diversidade ecológica vem a ser a variedade de seres que compõem a vida na Terra.
Os espaços territoriais especialmente protegidos a que alude a Constituição figuram hoje no rol dos
Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Vale dizer, que este é um dos instrumentos
jurídicos para implementação do Direito Constitucional ao ambiente hígido e equiibrado.
O Poder Público deve definir os espaços territoriais a serem protegidos, pode fazê-lo por lei ou por
decreto. Porém a alteração ou supressão desses espaços só pode ser feita por lei, mesmo se criados
delimitados por decreto.
4.5 Realização de estudo prévio de impacto ambiental( art.225, §1º, IV)
O objetivo central da Estudo de Impacto Ambiental é simples: evitar que um projeto (obra ou
atividade), justificável sob o prisma econômico ou em relação aos interessas imediatos de seu
proponente, revele-se posteriormente nefasto ou catastrófico para o meio ambiente.
Decompondo o objeto da ação controladora do Poder Público, definido pela nessa lei maior,
verificamos que não apenas as substâncias nocivas são proscritas mas, ainda, técnicas e métodos
danosos à qualidade de vida e meio ambiente. Vale salientar que tecnologias e processos produtivos
obsoletos , inadequados ou impróprios, de qualquer forma atentatórios à saúde humana e à ambiental
não podem ser produzidos, comercializados ou utilizados.
A educação ambiental sob o aspecto formal, refere-se ao ensino programado das escolas, em todos os
graus, seja no ensino privado, seja no oficial.
As melhores concepções e teorias recomendam que faça parte de um currículo interdisciplinar, ao invés
de constituir uma disciplina isolada. É este o sentir da Lei nº 9.795/99, que no seu art. 10, §3º ,
prescreve que “a educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo
de ensino”.
A Constituição da República de 1988, ao determinar em seu art. 225, §1º, VII, ao Poder Público a
incumbência de protegera fauna e a flora, submeteu ao manto da lei todos os animais e vegetais.
CONCLUSÃO
Legislar, não é o bastante. É fundamental que todas as pessoas e autoridades responsáveis se lancem ao
trabalho de tirar essas regras do limbo da teoria para a existência efetiva da vida real, pois, na verdade,
o maior dos problemas ambientais brasileiros é desrespeito generalizado ,impunido ou impunível, à
legislação vigente.
É preciso, numa palavra ultrapassar-se a ineficaz retórica ecológica – tão inócua quanto aborrecia – por
ações concretas em favor do ambienta e da vida. Do contrário, em breve, nova modalidade de poluição
– poluição regulamentar – ocupará o centro de nossas preocupações.
CAPÍTULO VI
DO MEIO AMBIENTE
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas; (Regulamento)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
(Regulamento)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (Regulamento)
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias,
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem
o que não poderão ser instaladas.
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O professor José Afonso da Silva explica que a Constituição “é algo que tem, como
forma, um complexo de normas (escritas ou costumeiras); como conteúdo, a
conduta humana motivada pelas relações sociais (econômicas, políticas,
religiosas etc.); como fim, a realização dos valores que apontam para o existir da
comunidade; e, finalmente, como causa criadora e recriadora, o poder que emana
do povo. Não pode ser compreendida e interpretada, se não se tiver em mente
essa estrutura, considerada como conexão de sentido, como é tudo aquilo que
integra um conjunto de valores.” 1
A Constituição brasileira foi criada de forma muito rica e ampla, sendo atualmente
uma das que contemplam, com maior detalhamento, os direitos humanos dentre
os ordenamentos do mundo, abordando, inclusive, a proteção ambiental, que é o
objeto da análise que passamos a tecer.
O art. 186 trata da questão rural e define a função social da propriedade através
da exigência do aproveitamento adequado dos recursos naturais, observando os
preceitos da preservação ambiental para o favorecimento do bem-estar do
proprietário e dos trabalhadores.
O art. 225 especifica o dever de proteção do meio ambiente pela sociedade e pelo
poder público.
O meio ambiente é fator essencial à dignidade e à qualidade de vida. Restaurar,
manter e proteger o meio ambiente em todas as suas formas é necessário para
manter o equilíbrio da vida no planeta, como está definido no referido art. 225 da
CRFB/88.
Art. 5º “(...)
No art. 129, inciso III da CRFB/88, consta a previsão da Ação Civil Pública para
tutela do meio ambiente:
(...)
BIBLIOGRAFIA
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 2ª ed. Trad. Carlos N. Coutinho. Rio de Janeiro: Campus,
1992.
GUERRA, Isabella Franco. Ação Civil Pública e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 13ª ed. São Paulo: Malheiros, 1997.
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Paraná
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada a má fé, isento de custas judiciais e do ônus
da subcumbência.
Art. 23 - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
Art. 24 - Compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca,fauna, conservação da natureza, defesa o solo e dos recursos naturais, proteção do
meio ambiente e controle da poluição;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;
Art. 129 - São funções institucionais o Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
Art. 174 - Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as
funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo
para o setor privado.
Art. 200 - Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, ecológico e científico.
Art. 225 - Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencialmente à sadia qualidade devida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus competentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma a lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente,estudo prévio de impacto ambiental, a que e dará publicidade;
Parágrafo 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
Parágrafo 4º - A Floresta Amazônica Brasileira, a Mata Atlântica, a Serra o Mar, o Planalto Mato-Grossense e a
Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma a lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Parágrafo 5º - São indispensáveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção os ecossistemas naturais.
Parágrafo 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal,
sem o que não poderão ser instaladas.
o conteúdo do princípio da prevenção [...] tanto se destina, em sentido restrito a evitar perigos
imediatos e concretos, de acordo com uma lógica imediatista e actualista, como procura, em sentido
amplo, afastar eventuais riscos futuros, mesmo que não ainda inteiramente determináveis, de acordo
com uma lógica mediatista e prospectiva, de antecipação de acontecimentos futuros. [...] Em minha
opinião, preferível à separação entre prevenção e precaução como princípios distintos e autônomos é a
construção de uma noção ampla de prevenção, adequada a resolver os problemas com que se defronta o
jurista do ambiente. (grifo nosso). (3)
Tal diretiva da atividade pública é expressamente consagrada nas Constituições brasileira e portuguesa,
a saber:
«art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado [...]» «§1° Para assegurar a
efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: IV – exigir, na forma da lei, para instalação de
obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo
prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e
o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o
meio ambiente;. » (grifo nosso) (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988).
« art. 66, n°2: Para assegurar o direito ao ambiente, [...] incumbe ao Estado, por meio de organismos
próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos: a) prevenir e controlar a poluição e os
seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão; » (grifo nosso) (Constituição da República Portuguesa,
1976).
O princípio do desenvolvimento sustentável, por sua vez, reclama a necessária avaliação e ponderação
dos projetos de cunho econômico, tendo em vista os impactos e custos ambientais resultantes. Nesses
aspectos, "la importancia de este principio es que pretende modular e integrar dos valores necesarios
para la humanidad: el crecimiento económico del que se derive una mejor calidad de vida material y la
protección del médio ambiente" (4), consubstanciados em uma relação custo-benefício. Em tal seara, os
poderes públicos, no âmbito das atividades administrativa e legislativa, devem, segundo a denominada
"fundamentação ecológica", justificar e demonstrar a sustentabilidade ambiental de suas medidas e
decisões de desenvolvimento econômico, sob pena de afastamento, por inconstitucionalidade, de atos
insuportavelmente gravosos para o meio ambiente (5).
« art. 66, n°2: Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento sustentável,
incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos
cidadãos [...]: b) ordenar e promover o ordenamento do território, tendo em vista uma correcta
localização das actividades, um equilibrado desenvolvimento sócio-econômico e a valorização da
paisagem; » (grifo nosso) (Constituição da República Portuguesa)
« art. 66, n° 2: Para assegurar o direito ao ambiente [...], incumbe ao Estado [...]: d) promover o
aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a
estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações. » « art. 93, n° 1:
São objectivos da política agrícola: d) assegurar o uso e a gestão racionais do solo e dos restantes
recursos naturais, bem como a manutenção da sua capacidade de regeneração; » (grifo nosso)
(Constituição da República Portuguesa)
« art. 225, §2°: Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. »
(grifo nosso) (Constituição da República Federativa do Brasil).
« art. 66, n° 2: Para assegurar o direito ao ambiente [...], incumbe ao Estado [...]: assegurar que a
política fiscal compatibilize desenvolvimento com protecção do ambiente e qualidade de vida. »
(Constituição da República Portuguesa)
« Princípio 7: Os Estados cooperarão espírito de parceria global para conservar, proteger e recuperar a
saúde e integridade do ecossistema da Terra. [...]; »
« Princípio 9: Os Estados deverão cooperar para reforçar as capacidades próprias endógenas
necessárias a um desenvolvimento sustentável, melhorando os conhecimentos científicos através do
intercâmbio de informações científicas e técnicas, e aumentando o desenvolvimento, a adaptação, a
difusão e a transferência de tecnologias incluindo tecnologias novas e inovadoras; »
« Princípio 18: Os Estados deverão notificar imediatamente os outros Estados de quaisquer desastres
naturais ou outras emergências que possam produzir efeitos súbitos nocivos no ambiente desses
Estados. Deverão ser envidados todos os esforços pela comunidade internacional para ajudar os
Estados afetados por tais efeitos; »
« art. 225, caput: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações" » (grifo nosso) (Constituição
da República Federativa do Brasil).
« art. 66, n° 2: Para assegurar o direito ao ambiente [...], incumbe ao Estado [...]: d) promover o
aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a
estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações; » (grifo nosso)
(Constituição da República Portuguesa)
Referências bibliográficas
(1) ÁLVAREZ, Luis Ortega. Lecciones de Derecho del Medio Ambiente. 2.ed. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2000. p.52.
(2) O Tratado constitutivo da União Européia, por exemplo, prescreve que "a política da comunidade
[...] basear-se-á nos princípios da precaução e da ação preventiva". Os países de língua inglesa utilizam,
mormente, a distinção entre supracitados princípios, caminhando, no mesmo sentido, boa parte da
jurisprudência internacional.
(3) SILVA, Vasco Pereira da. Verde: Cor de Direito – Lições de Direito do Ambiente. Coimbra:
Almedina, 2002. p.67.
Atentar-se para a distinção existente entre risco, de natureza futura, sobre o qual assenta-se o pretenso
princípio da precaução; e perigo, de cunho imediatista, associado à lógica da prevenção, que
acreditamos ser artificial e improcedente, assim como entendimento do professor Vasco Pereira da
Silva.
(4) ÁLVAREZ, Luis Ortega. Lecciones de Derecho del Medio Ambiente. 2.ed. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2000. p.50.
(5) SILVA, Vasco Pereira da. Verde: Cor de Direito – Lições de Direito do Ambiente. Coimbra:
Almedina, 2002. p.73.
(6) Parte das receitas lusitanas resultantes dos impostos cobrados em matéria ambiental é direcionada
ao Fundo Florestal Permanente, que apóia a prevenção de fogos florestais e a gestão sustentável das
reservas naturais.
(7) A tributação automotiva reflete os custos sociais decorrentes das emissões de poluentes, do desgaste
das infra-estruturas públicas e da utilização de recursos não-renováveis – nomeadamente,
hidrocarbonetos combustíveis –, proporcionados pela utilização de veículos automotores.
(8) CANOTILHO, J.J. Gomes. O direito ao ambiente como direito subjectivo. In: A tutela jurídica do
meio ambiente: presente e futuro. Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra -
Stvdia Ivridica 81, Colloquia 13. Coimbra: Coimbra Editora, 2005. p.47.