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FOTOGRARAS Usos sociais ¢ historiograficos Selonge Ferro de Limo vie Cameo 4 Cerne Fotografia ¢ sociedade Para compreender a fotografia como fonte histérica ¢ importante levar ‘em conta os usos socials que agenciaram o invento fotogréfico ao longo dos séculos 10x e xx e consolidaram acervos importantes para a pesquisa, Quandio a fotografia ingressouno mercado, em versbes técnicas variadas, langadas em pequenos lapsos de tempo entre 1839 ¢ 1850, rapidamente nela se identificou a capacidade deatender as mais diferentes demandas sociais. A rapidez da produgio em série e o baixo custo tomnaram-se pré-requisitos em. ‘uma sociedade com crescente industrializacio, Conquistar novos mercados « incutir na pop ulagio o valor do maquinismo foram préticas que se retroali- mentaram com as pesquisas em busca da imagem produzida mecanicamente. (Ocrescimento dos segmentos médios e suas expectativas de ascensio incenti- varam novas formas de representacio de identidade e distingao que estavam «em sintonia com osesforgos de um diversificado grupo dehomens das ciéncias, artistas e comerciantes que transformaram a folografia em um grandenegécio. A fotografia foi pouco a pouco substituindo a pedtra litogréfica ite ots Invengto burgucse por exceléncia, a fologtulia popularizou 0 retrato € Jevou aos recantos mais distantes do mund6 es "caixa de pandora”, contendo palsagens de higares exéticos, de monusientos, de tipos humanos, retratoe com apelos eroticos, paisagens urbanas das metrépoles, imagens chocantes de guerras ede conquistascientficas. No campo da arte «fotografia ampliow © acesso de alunos, profssionais elelgos a modelos e obras de arte antes frufdas somente it loco ou “reinterpretadas” por gravutistas® em publicacbes, Enquanto anobreza cultivava seus valores e costumes para serem consumidos pelo seu préprio grupo, a burguesia se extrovertia em um af& cosmopolita e imperialists. As coberturas fotograficas dos mais variados temas pregavam a viagem e 0 conhecimento por meio da imagem. A sociedade do século xix desenvolveu uma paixto especial pela exati- <0, qualidede requisitada tantono Ambito cientifico comonaquele pertinente 80 senso comuin. O peribico francés Gazeta Liteiria publicou os seguintes ‘comentérios a respeito de sels imagens de Daguvsre, o inventor oficial da fotografia: as imagens possuern cecraornaminen.] mulled deta [.Jomonor tfeto aiden do sol, dos tarcos, do marcando, des bancas¢ doo [.] os mals dlados objets [.] 0 rans gras de swanspartncia [tude éreprovunids com etcfoinacedivl, fe quee mehor chr nfo poder madi, so descobers ‘As grandes celebridades, antes observadas de longe pela populacio, podiam “ser colecionadas” em casa, colocadas nos élbuns pata promover a conversagio em encontros socials. A fotografia possibilitou 0 acesso virtual as pessoas de alta sociedade. Reduzidas a imagens do mesino formato, colocadas lado a lado nos femosos dlbuns de celebridades, pessoas antes inacessiveis podiam ser comparadas. Defeitos e qualidades fisicas exam ressaltados, suas express6es, postura corporal e roupas erem avaliads, Se por um lado a fotografia esvazia a experiéncia, como afirma Susan Sontag* ‘ensaista c critica americana dedicada aos temas da fotografia, ela democratiza a informagio, mudando a percepeao do mundo e empliando as referencias de populagées que antes dela tinkam suas vidas circunscritaS ao seu local de moradia e trabalho, | 30 he sith Hoe Retratos (Os ateliés fotograficas, muitos deles ambulantes, produziram milhées de retratos nos mais diferentes segmentos sociais. © hébito'de retratara si, 20 casal, 20s filhos,& familia, privilégio antes restrito & nobreza e aos com tes ricos, tornou-se possivel com a fotografia, que barateou os custos de sua produgfo, Colados em paptisrigidos de vérios formatos oretrato fotogréfico circulava entre os parentes substituindo auséncias, sugerindo propostas de casamento, informando e garantindo a reprodusto dos rituals de passagem (morte, batismo, crisma, casamento), apresentando novos integrantes, do- cumentando as mudangas do corpo social familiar com o passar do tempo © ativamente registrando a sua unidade. Com os retratos, foram organizadas harrativas familiares e pessoais que atravessaram geracSes fixadas em élbuns confeccionados om finos materiais ede riqueza hoje inimagindvel, comocapas de alabastro, madeira entalhada, incrustacbes de metaise pedzatias, lombada fothada a ouro ete. No século xx, com os retratos amadores, a rigueza dos ‘Atbuns diminuiu, mas sua quantidade e varledade aumentaram, A fotografia propiciou aquilo que o soci6logo José de Souza Martins chamou de “cultura popular da imagem”. Apesar deser simbolo de modernidadee urbanidade, a fotografia foi absorvida por sociedades tradicionais, que a transformasem em instrumento de atualizagio “modema” de antigos valores, normas ecostumes* Fora do cireuito dos atelits fotogréficos que atendiam familias e indivi duos interessados em constituir uma autorrepresentaggo social, os retzatos serviram de instramento de documentagio em distintas éreas de investigagio cientifica. Eles foram utilizados para catalogar a variedade de tipos fisicos hhumanos, 0 cotidiano e os rituais dos povos dites entlo primitives, No meio ‘médico, 0s retratos desdobraram-se em registros de deformagées fisicas,dis- trbics mentais, procedimentos cirtirgicos, acompanhamento de doentes rmanifestagbes fisicas de suas enfermidades” Paraas instituigées do Estado, a fotografia fol instrumento eficaz.no apri= ‘moramento do controle da populagio por insituigSes, especialmente a policia ~ sama das primeiras fotografias de reveltosos foi feita ne Comuna de Parisem 1871. Fm 1851 sugeriu-se o uso da fotografia nas licengas de habilitaglo pare dizegfode veiculosa tragiio animal; em 1853 pensou-se na fotografia de passa- porte; em 185% o inspetor responsdvel pelo sistema penal rancés dealizou um 31 (irre te, projeto de fotografar os criminosos mais petigosos de diversas penitenclirias, procedimento que vai realmente acontecer anos depois Objetos da natureza Nomesmoanode divulgacio do invento, em 1899, fotografia sedifundia centre as ciéncis.Iniciaram.se os estudos do espectro solar e deacompanhamen- to dos eclipses usando-se material ftogréfico. Antes da fotografia, oestudo da zadiacd0 solar era feito por meio da observagio a olho nu. Um daguerrestipo, feito em 1851, fo considerado a melhor representagdo da superficie lunar até o realizada. John Adams Whipple recebea pelo feito medalha de ouro na Exposigdo Universal do mesmo ano, no Palicio de Cristal, em Londres. Organizadaem Chicago, em 1893, a World's Columbian Exposition era prati- camente uma exposigao de fotografas, que, nas palavras de Julle K. Brown, “funcionavam como réplicas dos objtos ausentes,informavam, persuadiam, documentavam eilustravam eas”? fotografia seria til em todasas aividades que envelviam a observagio visual. Para desenharplantas,obislogotinhe deter qualidades de desenkista,0 que tomava o trabalho de campo uma terefe mas dificil edemorada. O im tantenessas descrigées vsuais erm aexatid eo detalhe produzidos por um suporte confiével, comparado ao olho no seu processo de formacéo. Liminas ricrosc6picas foram fotografadas para consitur compéndios com centenas de espécies de botdnice. Os sistematas (exonomistas) usavam a fotografia para éclassificegio deplantaseanimaisem sistemas hierérquicos baseados na forma e medida dos corpos —nessas discussées 0 documento visual era parte fundamental das justifcativas e fotografia era vista como um instrumento neutro, mais que o deserho, no fornecimento de evidéncias. As chamadas “vistas” eram produzidas para estudos de Gzologia relacionados também a objetivos militares como a definigio de fronteiras nacionais em disputa entre palses coleta de informagées estratégicas para defesa,ataque e colonizagio, de teritrios, Mas as vistese paisagens merecem um comentirio parte, Vistas e paisagens Nos primbrdios da fotografia, produzir uma vistada cidade oudo campo cera uma tarefa ardua. Fazia-se necessério levar consigo um laborat6rio para 32 rs « npn ‘0 processamento imediato do negativo de vidro. Incrementos na tecnologia dda miquinae dos suports fotogrdficos fora, paulatinament,facltando a {otopralin em ambiente externo ao eshidio e a prétca amadora Em termos financeiros, a producio de vistas passou a ser um negécio cextromamente lucrativo. Editoras financiavam a viagem de fot6grafos para todas as partes do mundo a fim de produzir estereoscopies acomodadas em cestojos tematicos e vendidas para o grande publico que as utilizava como entretenimento em saraus,jantares ou encontros familiares." A paisagem incentvou ocoleionismno entre os amantes da fotografia e muitos fot6grafos amadores integreram fotoclubes onde encontravam-se regularmente, promo- vam concursos,discuss6es e organizavam exposigbes. A fotografia serv de instrumento para a prética preservacionistacres- cante na Europa da segunda metade do séeulo xix. Reconhecido como um melo eficaz de preservar o passado, grupos ligados 20 movimento de conser- vaso cresceram com as sociedades de fotografia. Assim como ocorreu com 0 retrato os élbuns fotogréficos foram os primeiros difusores da imagem de cidade do século xix Iniialmente, temos a documenta¢do patrocinada por sscociagbes de preservasao do patriménio arquitetnico em Londres, Paris « Glasgow, com registros rua a rua, ca antiga axquitetura que desapareceria coma implantagéo dos novos planos urbanisticos.® Posteriormente, surgiram os egistos dos modelos urbanos implantados. Em 1897, no Museu Britinico foram depositadas fotograflas consideradas de interesse para o conhecimen- to do passado. A inciativa foi da National Photographic Record Association. A relagio entre fotografia e preservacionismo estendeu-se aos Estados Unidos, Bélgica e Alemanha." Intervenc6es urbanas passaram a ser documentadas or fotografos comissionados pela prefeltura.O caso mais conhecido foto de Charles Marville que ao final da década de 1850 fi contatado pela prefitura de Pasis para fotografar os bairros medievais do centro da cidade que desa- pareceriarn com a refortna urbanisica do entio prefeito da cidade de Paris, 0 bardo Georges-Eugtnes Haussmann, A tajetéria da fotografia no Brasil também seguiu: por esse caminho. No «asode Séo Paulo em meadosaioséculo ux a procuggo que melhor exemplifc essa vertente documentariste éa de Militio Augusto de Azevedo. Noquese refere acs objtivos, os epistros de Sio Paulo feltes por Militto aproximam- s@ da produgio de Charles Manville, O enfogue nos aspects topogritics, 33 Otero sot oxtnstaras de ceculos0, na tpologa dan eonsrugoes fe da produgdo de Mito um des pontos de patida pard © eGhhecimento da cece anes das wansfommagbes que eliminaram suas caacteriscas colorias A parr do inicio do aéculo 2, 0 fotégrafo suigo Gullherme Gaenely, que cheger «Sto Paulo depois deter atsadocm Salvador desempenhou papel fundamental dlocumentasio urbana. Com um estilo dstnto do de Milt, seus epatice abordaram, em vasta produgfo, a8 feigbes maieras de Sto Paulo, ou see, Aesprovidesjstamente dos tags coloniais do otocentom, 4 produgiode Gaensly reunida no album Lembranga de Sto Paulo (s. d.) e Album de vistas de $0 Paul (1914) eem séres de cartes potas, em pare estudade por bors Kossoy em seulvro Sto Paulo 1900 * pote er conideradsa grande efusors daarqutetraeclética que comegava ase dsseminar na expt paisa, Eevee conjuntesdepasagensurbarasproduzidos entre meados do séeuloxieiieo do século xx foram e ainda sfo mobilizados intensamente por hstoriadores urbancs eda arqutetura,constitdndo um dos prinipais uses das fonts fo. togréties desde seus primérdios. No entanto,0 uso da fotografie nesse ease é volta para os elementos do eonteddo, ou sj, aqullo qu fl fotopratade «que nfo se encontra em nenhumna documentaggode outa natureze Aolongo d séalo x, omereadoftogciico amplow-see especiaizouse, A pric fotogréfica de caréter documentarisa tornou-se a marca da prod 0 fotogrdfcadestinada aos meios de comuricesao imprest, eopecihmente 4 revstas ilustrades.Fot6grafos como Jean Marzon, Pere Verger, Marcel Gautherot,Euardo Medetres, Walter Fimo, Thoma2 Farkas, Alice Bl, Hans Gunther Fe, Hildegard Rosenthal muito outros passaram a constr ana stra do fotejomalismo e da ftogratia autorletemieando tertes imagens ex ones da culture brasileira epailetana.Arevista O Cruzin, fandada eon 1928, pode ser considerada um marco n0 uso da fotografia ns imprensa, © Peni editorial da revista privlegiavaa imagem como discussoe Breil come tema ex mati fastamenteuctrades” Como podemos constatar,& fotografia difundiu.se de forma capiar na sociedade contemporines, sendo presenga constante nas mals diversos esferas pblicase privadas,Usliarasfontes fotgeias parm a pesquisa Listérea, portato, significa iicatmente entender que lament civen dade de usos gerou arquives" ecolesées" que podem ser encbntradoe nts somente em instituigSesde guarda arquives, museus, biblicteces te), mes 34 rset ein também nos seus locals de origem de produso ow no final do casninho de sud crcl E necesséro ainda deixar claro que tas circultos precisa ser compreen-, didos de modo que a fotografia-nfo seja descolada de seus contextos de produsto, cizculagio, consumo, descarte ¢ institucionalizagio. O contexto da imagem fotogréfica néo € 0 seu canteido, mas 0 modo de apropriacio da Imagem como artefato, Objet que roca de mos, éreproduzido em revistas de grande cisulagSo, integra Albuns] deixa o arquivo de uma agéncia para Stustrar uma matériajoralstic,trnsforma-se em cartto postal rn obra de arenas paredes de gleriase museus, fica para sempre guardado em armfrios rofados até a sua deteriorago, &redescoberto por curadores, é restauredo etc. B nesse vasto manancial de documentos | que os historiadores dese movimentar. Fotografia ¢ Historia (Os usos tradicionais No campo da historiograffa sabemos que os documentos textuais exam 4s fontes privilegiadas, sno exclusivas da discipline. A imagem, mesmo a fotografi, mantinha-se eth segundo plano e, em alguns nichos do offciohis- toriogréfico, como veremos, havia espago para uma mistira de relidade © fcgio. Ovalorde prova ou testemunho da fotografia, quando lasteada pelas fontes textusis, servia como documento complementar para a constnusio de sarrativas de curho positivist basenda no encadeamento factual biogrfico:> Nessescasos,a fotografia de Luiz Gama (1890-82) que encontramos nacolecio de retrtos de Mili Augusto de Azevedo servria apenas como documento complementar dos textos que ofereciam ao histeiador informacées episédicas ou os fatés da vida dopersonagem. —* ‘A vasta produsio histoiogrétic sobre Sto Paulo de autoria de Afonso de Escragnolle Taunay estevearticulada & sua atuagio como direto: do Mur seu Paulista entre 1917 e 1945, Be fo cestamente o primeizo profisional de isla a fazer uso intenso das fortes visuais, nfo apenas como documento complementar de temas ainda pouco estudados @de parce documentaries 5 (stearate textual como “usos e costumes” #* mas como recurso didético na construgio de narrativas visuais que pudessem alcancar o piblico popular e heterogéneo que visitava as galerias do edificio do Ipiranga. O trecho abaixo,extraldo do artigo "A mais velha iconografia brasileira do café”, escrito por Taunay no Diirio do Comércio, em 1944, serve aqui de exem- plodo uso que historiadores fizeram das imagens, entre elas, a fotografias. Como sect do maior inerese se Svésemos alum deserko reproduzindo © aspecio de uma dessas casas da sorvetes, ‘chocolates, chi eal. Qui precios este Magrance de costumes onde vissemor 0 amblente dos postos cafés primizvore pudésomes tor iia d0 que era 3 assténcs de seus Foquentadores® Contando com ima descrgto textual de uma sorveteia do sfeuo xX, ‘hunay lamenta a ausrci de fortes visusis pam a Hstxa de Sto Paulo, ara Taunay,o deseo “reproduziria” um aspecto das casas de sorvees, chocolates, chi ee 0 “agrant”,entendido cme um recor eatunl que eseapou ae textos, oercel 0 acess a ambient eos tipos humans que ffequeniavamo local A nog de “eproduo” 6 indicativa da pita hist sogrdfiea de Teun. Seu objetivo fotemente desetive era recone de “quadroy” passed vida sci, comprendidos em tm encades ments hisérico linea eevoluvo, Em consondncacom a sua grace de esudiogce ade, Tunay acreditava que o documento er pertador da propia stra, Dese pono de vila o importante er atstara sua auentidade plsusbildade Segundo il acocnio,podertemessuper que o documento Visual inka o mesmo extatto do documento textual, Noenants acto 8s fonts textual ra ltacom cordon inte enre os diversos documentos, ‘pucando-s contadges ou inverossmihangas, Nocaso das images, su tulentcdade visha da confrmacto de documents textuis (venice, xtra, relatos) que astravam anagem ou a desqualifcavam. Onto erie complementarulando por Taunay para qualicr suas Imagens a idenifcagto das qulidadesplisticas do documento desenho pro detalhsa, finde epreseragtes deco reals, ou ss prcximo da compesico tredconal fotografia, Para Taunayo ptencal do desenh, lamentavelment inexistente, etre na sua capatidade plastic de deserever 36 a ponto de “reprodusic” um aspecto “dos nossos cas primitives’. No se ria exatamente um decalque da realidade, como a experitncia da fotografia instantnenalmejria de maneiracrescente no avangar do sécwo xx, mas um suporte visual epaz de nos conduzir a uma ideiaplausivel da reaidade dos cafés naquelaépoca em Sto Paul Taunay sponta para aquilo que devemos ter sempre em mente quando inciuimos as fontes visuals na pesquisa Netra suas expecfiidades, o que 2s tonamn insubsthves, Para Taunay,o valor do fagranteesténofato de aque s6 por melo da imagem sera possivel oblernformagées que os textos de paca no foram capazes de fornecer ou no tveram inirese, nen era sa fungto ou objetivo descrever. Jd se vé que apesar da subordinagto da imagem ao texto, Taunay a tizava no somente como llustragto (como mults ainda o fazer), mas como um documento complementar de uma historiogratia dos costumes. Arelago de Taunay com as fontesvistais era ambigus, Ele paecia reconheceropotencial dos documentos visuals, mas somente quandosubme- tidos aos textos. Noentanto,oploneirismo de Taunay extave na percepgio do potencal pedagigico da imagem, Para os hisloriadores do ifcio do século xa famiiaridade com as ima- gens foi constuds, rn grande pat, pelos ses usoe nos maseus. A pra strc, argamentepraticada na Europa no sculoxa,ocupava lugar dedes- taquenos miseuscomprometidos com a coneolidacho de memérias nacionas. [Ness cso, as imagens desempenhavam paptis pedagéicos, de acentuado caréternazzativ e alegrico. Usosestrategicamente plansjads pelos histo- adores no aff de tomar hegemPnicasrepresentagbes de dentdade nacional vinculadas a interesses de grupos polices e econémlcos. Um bom exemplo 0 proceso de consrugio da represenasio do bandeirante Domingos Jorge Velho para figurar no Maseu Paulista, Em troca de correspondéncas com 0 infor Benedito Calisto Teodoro Sampaio dei clare fungi exempac que fs imagens no caso a pintura série, deveriam desemperkar. Ao responder 4 una dvida de Calisto sabre como apreentar Domingos Jorge Velho, que visa aseroprimeirretrato leo de um banderant (1509), Teodoro ampalo escarece que nfo importa com, na reaidade, se vestiam os bandeiantes Estes deveiam ser representados de modo favorecera solenidade que aeles devia ser atribulda,O caso demonstra como oretato tha a fungfo nfo de 7 tier nate ser fel a realidadeesim de, pedagogicamente, ncutino pbc vistante do museu o respeitoe culto ao personagem htésca No caso das fotografias, sua presenga nos museus de hist nunca fo! de destague. Mobilizadas como fontes,cumpriram fungGes opostas aguclas atribuldas &pinturahstren. © que pode parecer um parsdoxo, yee fotogrets, mals que o desesho e pintur, trazia gravade na sue dope tele sensibiizada pelos sis de prata a mara da literldace do real Nace at autéaticn plausivel do quessma fotografia. Noentanto a8 otra non wore storiogréficos, inclusive na Histria da Ate, tiveram uma vide condiveonte Foram macigament adguiridas por museus euopess, no ae rato, ple Escola de Blas Artes (ni) para servirem de modelo as eatudantes ma prion 4a pintura* ou para serviem de seferéncia Aquelas obras de que » Lear Gfo nto dispunha. O préprio Taunay utlizoa amplamenteafotograa pera reprodusir documentos que o Museu Paulista nfo posse. Se Taunay lamentava a auséncn de imagens da aan de sorvetesolto- centst, éde se supor que, para as exposes sobre Sto Paulo que idelizen Para as comemoragSes do primeirocentendro da Independencia no Muses Paulista, ele conseguitia preencher a lacuna visual. Grags 8 produgto de Mito Augusto de Azevedo, nunca a cidade fora io docummentads antes de 1862. Taunay devera estar stfeito em poder contarcom tanta imagen da cidade. Prem, assim como para a figura de Domingos Jorge Velho, mot a iteralidade documental da fotografia que interessava, nfo como predate final. fotografi, como. documento textual, conferiae lastronevesedvio pare a montage do documento plctrico, ela substitu aqulo que o arate ota Podia fazed pris nature (Soervando a naturez) Porém watavaee de woes a fotografie para com ela e demas nformacSesprodusit uma rpresentsto “sinc, um quadro histrico capaz de ulrapassa a lteralidade de oe ‘momento para tornar-s. tipo significative de uma sociedad E folitso que Teunay tinha eat mente quando fomece 2 pintores come José Wasth Rodrigues, Benedito Calitto, Henrique Manzo entre outos, tografas de Militéo. A parts delay foram fits pintur, que altearam 6 contro fotogrético com 0 objetivo de representar uma cidade emnblan da metrépole: figuras como otropeito introduzides na pinvara,fziernaligncto entzeo pequenc miceo wrbano eas terra interioranes. fotografia servi de base para construc de representagbes cua fanho era fomecer os elemen, 38 re Hosen tos deaizdos de uma supotafundagto da idenidede cultural palstana, paullitae nacional A pattda década de 1900, os lives didtcos de Mistria pasar a utlzarreprodugesfotogrifies de obras encontradas ert musevscergives © uso complements, nico ou naratvo, menconados eneriorente, no livro didatico se reduz ao meramente ilustrativo, no sentido de oferecer a0. sluno uma dei visual do acontecimentoaprsenta no texto dice, ‘Ao longo do sécul x0 apimoramento das ete, o aumento dase dade dos mesa agiidade das pequenas chimera a posildade do instantineoinstrumentalizaram ceutes como ofogomaliemo es cinco, insveaocicioginesAnropolgia” gue iam tic da feopa, Nesesnichos a fotograiagozava de um alto grau de confblidade, tide coma documento testemushal,Nocaso dos museusde st, muitoembors, as fotogafaa sempre tenham integradoclegSeseagulvospesoas an ado de corespondéncis iptomas, dios e demas documentos texts) a0 havin preocupacto de dispenara eas qualsquer satamentosespectices, de desergfo eth poucodeconservact, Seria split justin talsiuago come rato de desaso ou incompetincia dos profesional dos muses fla ¢ fratodoestatuto qua fotografia gozava no lilt das cles humanas ue vam a imagem como expressioperiria de femenos sons produstden ru dinenso pln e econtinica A fotografia como obra de arte ‘As primeiras reivindicagbes de integragio da fotografia aos acervos de ‘uset ce arte surgiram associadas As eflexdes que buscavem reconhecer nela ‘estatuto de obra de arte. Movimento iniciado desde os primérdios do inven to no sfeulo xx, genhou impulso gracas a um grupo de fotdgrafos liderado [por Alfred Stieglitz, no inicio do sSeulo xx, Stieglitz orgenizou uma revista, 2 Camera Work (1902), e posteriormente duas galerias ern Nova York (1905, 1908). A 281, como galeria era conhecida, reunia a vanguarda do movimento ‘modlerno nfo s6.na fotografia, mas também nas artes plisticas. Esses espacos ‘garantiram, fotografia a perticipagSo ativa nas movimentos de cunho moder- no, Sua linguagem apresentava, entio, recursos que contrariavam os cénones dda arte académica como a fragmentacio do objeto fotogralado, rotagées de 39 ix @ enquadramentes inusitados. O movimento teve sew reconhecimento com a criagéo do Departamento de Fotografia do Museu de Arte Modema de Nova York. em 1937, por iniciativa de Bestumont Newhall. Newhall fi tum dos pioneiros na sistematizagdo de uma Histéria da Fotografia pautada pelas categorias da Histéria da Arte. O catélogo da exposigio que inaugurou o Departamento de Fotografia no MoMa transformou-se em livroealeangou. indmeras edigdes revisadas ® A insergto legitimada da fotografia no campo das artes plistces movi- mentouo mercado de artes e de antiquariato, Ao longo da segunda metade do secu er, assistiuese a uma crescente valorizagio da fotografia, que impulsi rou agées preservacionistas, mas também promoveu o desmantelamento de conjuntos fotogréfces, contrariando principios exros ao historiador nq rata- mento de fontes, As categorias oriundas da Histéria da Arte nfo absorviam, 2 complexa dindmice de produgdo e ieulago da fotografia. As poitcas de coleta dos museus de arte prvilegiavam objetos tnicos, escolhidos segundo prineipios estéticos, desprezando dados de proveniéacia ou circuto, Igual- mente, no mercado de antiguidades, a fotografia passa a ser valorizada pela raridade do process, pelo inusitado, pela originalidade do conteddo. 'No Brasil, a preocupagio com 0 patriménio fotogrdfico brasileiro, que comesava a despertar interesse de colecionadores estrangeiros, impulsionou atividades de mapeamento que culminaram em descobertas de colegdes,es- pecialmente de paizagens do século xx. Tal interesse mobilizou pesquisad da fotografia para a producto de obras marcadamente documentarias. Fora, publicados conjuntos fotogréticos reunidos segundo a logica colecionista ou temdtica, acompanhados de um investimentona sua identificagdo.e contexti- alizagéo, Essas iniciativas aleancaram um boom extraordinario entre meados dos anos 1970 ¢ 1980. Tratava-se ainda de conhecer a matéria-primacom que os pesquisadores, especialmente aqueles interessados na constituigéo de uma Histria da Fotografia, poderiam contar. Atéhoje, omercado para produgio dos chamados livos de arte continua aquecide® © tema predominante nesses repertGxios & a cidade. A impostincia da tomética urbana para vrias dlsciplinas como Arquitetura, Uzbanismo, So- ciologia, alémm da Histéria, esta a mais tempo reconhectda, inclusive denteo das universidades. 4 utilizaglo do tezmo "memézia” é corrente nesse tipo de publicagso acompanhads de nodes tais como “conservagio, recuperacao, 40 retgate,preservasto" pressupondo-se um tipo de registro nico da reali de passada, Novamente aqui nos deparamos com a concepeto da fotografia coma evidencia ou testo. A abordagem conten & earacerstca dessas obras. O trabalho pineiro de mapeamento sistemstico dos fotdgrafosatantes no Bras eserito por Bors Koss em 1980} inaugurow um perfode marcado pelapreocupesiocem conhecera producto fotogrifis brasileira em suas vias ingeees sti Ainda nos aos 1980, destacarnse, no Rio de ania, autores como Gilberto Ferree Pedro Vazquez também eshdiosos da fotografia do século xx, Mauricio Lissovsky e Paulo César Azevedo, que organizam uzna coletanea sobre a presenga de retratos de escravos na fotografia brasileira EmSto Paulo, ahistriadora Miriam Moria Leite comera a publica artigos sobre retrtos de familia e casamento® eno Recife € langado o eatlogo que divulga pesqusasinicias sobre oreteato a parti da coleio Francisco Rods ‘gues, pertencent &Pundaglo Joaquim Nabuco* Sto desce perfodo também artigos voltdos para oprocessamento terico(ratamento declasifiasio e Catalogagto)ede conserved fscadafotograi cobretudo noo de Janeiro Tal quadro trouxe renovados inumos nas aBes de preservago isica de colegbes de muses, galeriasearquivose almentaram uma promissora ver tent editorial decatélogos. A fotografia delxou de ser desprezada nas polticas i orgaizagio de memérias e centro cultura pivads. Como parte dese process, investge na construgio de uma Histéria nacional einferacional da fotografie, om nfaseraatuasio de inventores que aprimoraramn o meio ena atuagio de fot6grafos que renovaram a sua linguagem plstca, ‘spartr dos anos 1990, interesedehistorindores, antropSlogoees0c1- logos pela fotografia elargou-se. Confiuiram oe usoe sociis ecienticos quea fotografia vinha eeebendo com os novos paracigmas des ciéncas humanas Tus paradigmas colocavam a dimenséo visual e metal da sociedade de consumo ocdental no centro das reflerdesepisemoldgics. Nessa década, a prlugto de dssertagtes eteses académicas abordando agpectoe da pro- ug fotogrdfica€ inten. Pesquisadores da fotografia exjos trabalho sf0 referncias na atualidade como Felowse Costa, Mara Inés Turezi, Naga Peregrine Ricardo Mendes AniGnio Olvera Junior expandirem ocampode investigaso sobre as pica fotogificas para osécuo xc aberdando tems como ofotoclubismo as exposes universais, fotojornalismo.* 41 Oe fe (uiae Histsin de fotografia comesaram ager escrtas, de um ponto de vista que procure entender o como e seus evs naqueles que prodronny A fotogratia como pritica de significagao A inttodusio de Victor Burgin &coletanea de ensaios Thinking Phologra Ply (Pensando a fotografia), edtada em 1982, apresenta-nos um quadie on

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