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Marlene Guirado 1
Uma das curiosidades deste trabalho de Freud, que o ele diz pretender
fazer a anlise de uma neurose infantil por meio da anlise de um adulto. Assim
vemos seu texto se constituir como uma narrativa da histria adoentada (porque,
da neurose infantil) de um garoto que teria medo da figura de um lobo. Soma-se a
isso outra particularidade destacada por nossa anlise que aqui merece relevo:
diferentemente de outros relatos de caso desse autor, neste, as interpretaes e
explicaes sobre o psiquismo e a doena do paciente so finamente trabalhadas
na trama das histrias de sua vida. (ver, por exemplo, Freud, 2010, p.38-39)
1
Professora Livre-docente do Instituto de Psicologia da USP.
2
Aluno do programa de Ps-graduao do Instituto de Psicologia da USP.
III Simpsio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS)
DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE
como meu pai. Aqui, Freud coloca uma ideia como fato e, por metforas e
analogias, constri um texto no qual para falar de amor, carinho (ou sentimentos
anlogos), fala de libido, de expectativa libidinosa, de escolha sexual de objeto....
e, para dizer de uma frase como aquela quero ser como meu pai usa os termos
identificao e narcisismo. Com isso, apontamos para o lugar da teoria no que
Freud diz ser anlise.
Nesse sentido, nossos objetivos com esta apresentao nos levam a uma
passagem inevitvel pela construo freudiana. De maneira simples, a construo
consiste em uma inveno, assumida pelo analista, de parte da histria de um
paciente, a partir de indcios e traos colhidos durante uma anlise. Nesse caso,
especificamente, Freud constri uma cena de coito entre os pais do garoto, que em
sua forma e contedo resolveria os enigmas da anlise e da doena.
Nesse sentido que podemos dizer que, mais do que um relato de uma
neurose infantil, de uma histeria de angstia ou de uma neurose obsessiva (de
doenas, portanto), o Homem dos Lobos parece ser o relato particular da histria
adoentada deste paciente, o Homem dos Lobos.