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“Eis, com eleito, em que consiste © proceder corretamente nos cat nhas do amor ou por outro se deixar conduzir: em comegar do que aqui & belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que se servindo de de- graus, de um 36 para dois e de dais pa- ta tedos os belas corpos, e dos belos corpos para os belos oficios, ¢ dos aff- 605 para as belas citncias até que das cigneias acabe naquela ciéncia, que de nada mais sendo daquele propria belo, e conkega enfim 9 que em si é belo.” PLATAO: O Banquete. “Todo prazer e todo soirimenta possuem uma espécie de cravo com a. qual pregam a alma ao corpo, fazen- do, assim, com que ela se tome mate- rial e passe a julgar da verdade des coi sas coniorme as indicagées do corpo. E pelo faio de se conformar a alma a0 compa em seus juizos e comprazer-se nos mesmos objetos. necessariamente deve produzir-se em ambos. segundo penso, uma conformidade de tendén- clas assim como também ume confor midade de habites; ¢ sua condigéo & tal que, em conseqiéncia, ela jamais alinge o Hades em estado de purezs, mas sempre contaminads pelo corpo de que sii; 0 resultado € que logo re- ‘cai num outro corpo, onde de ceria for- ma se planta e deita raizes. E por i fica desprovid de todo direito a part- cipar da existincia do que € divino e, portanto, puro ¢ dnico-em:sua forma.” PLATAO: Fédon. “A citncia da medida se aplica a todas as coisas que se transiormam. Pois todas as obras de arte participam de algum modo da medida” PLATAO: Politico. Os Pensadorés ‘CiP-Brasil, Catalogagio-na-Publicagio ‘Camara Brasilciea do Livro. SP 83-0263 Plutae, 428 ou 7-48 ow 7 AC. Didlogus ( Plutao ; seleylio de cas Ue Jost Amerigo Mott, anh; traduciis c hotas de José Cavalcante de Souza, Jonge Pax e Joho Crux Costa. — 2. ed. — Sho Paulo : Abril Cultural, (5 pemsaidores) Inclit vida e obra de Plato. Bibitografia. (Conieude: © banquete. — Fédon, — Sofista, — Politico. 4, Pilosblis antiga 2, Literatura grega 3. Platio, 428 ou 7-348 ow TALC. |. Pessanha, José Amérion Mota, 1932-11 Titulo. M1, Sétin DD 184 -180.92 888 Indices para catilogo sistema: 1. Filosofia pktimien 184 2. Fildselos amtiges : Biografia e obra 181,02 3. Litcrasima groga antiga = Potigrafia 883 A. Pltse + Obrsy flosstieas. 184 5) Poliarafin + Liuratura preva antiga 88 PLATAO DIALOGOS O BANQUETE — FEDON SOFISTA — POLITICO Sclegio de textos de Jose Américo Motta Pessanda Tradugio @ nota de José Cavaleante de Souza, Jorge Palelkat ¢ Joao Crex Cost 1983 EDITOR: VICTOR CIVITA Tits originals: Zupadaroy 10 Banauete) Pealbuoy (Palen) Zowiorys iafan) Thoderends (Foritivu) © Copyright desta edigto, Mbeil $A, Cultural, ‘Sip Paulo, 1972, —2edigaa, 1978, — 5 eg, 1963, ‘Trndeives publicadas sab liceaga da Dite! Difusio Editorial $.A., ‘io Pritlo10 Basuete)€ Editors Globo $.A., Porto Alegre (Fédoa, Sofisi, Politico) [Diveitow excluding sobre Phi — Vida © Obra!”, “Abril S.A. Cultural, Soo Paulo, PLATAO VIDA E OBRA ‘Consultoritt: Jone Américo Motta Pessants ie ae ‘Ove na minha juventude experimentei 0 gue tantos jo- vers experimentaram. Tinha o projeto de, no dia em que pudesse dispor de mim propria, imediatamente intervir na palitica.” ‘Quem assim escreve, em cerca de 354 a,C,, € 0 seluagendriv Plalso, numa de-suas cartas — a carta VII, enderecada aos parentos © amigos de Dien de Siracusa. © interesse de Platéo pelos assuntos politicos decorria, em parte, de circunstincias de sua vida; mas era também uma atituce com. preensivel num grego de seu tempo, Tedaa vida cultural da Grecia antiga desenvolveu-se estreilamente vinculada aos acontecimentos da cidade-Estado, a pdiis. Essa vinculagio resultava fundamentalmonto da organizagao politica, constituida por uma constelagdo de cidades- Estados fortemente ciosas de suas pecuiliaridadies, ce suas tratiicoes, de: seus deuses e herdis. A propria dimensde da cidade-Estado impu- nha, de safda, grande solidariedade entre seus habitantes, facilitando a. aGdo Coercitiva dos padroes de conduta; ao mesma tempo, propicia- va a pélis © dosenvalvimento de uma fisionomia particular, inconfun- divel, que eta o orgulho ¢ © patrimdnio camum de seus vidadaos, O fendmeno geogrifico € 0 politico associavam-se de tal mado que, na lingua grega, pdlis era, ao mesmo tempo, uma expressio googrdlica ¢ uma expresso politica, designando tanto o lugar da cidade quanto a papulagio submetida & meyma soberania, Compreende-se, assim, por que uM greRo antiga pensava a si mesma antes de tudo como um, cidadav ou como um “animal politico’. Essa ligagao estreita entre o homem rego @ a pdlis transparece na vida © no pensamento das filéscfos, 4 Tales de Mileto (século V1 a.C,), segundo 0 historiador Herodoto, teria desempenhado importan- te papel na politica de seu tempo, tentando induzir os aregos da JOnia a $e unirem numa federagao ©, assim, poderem olerecer resisténcis 4 ameaga persa que enléo se configurava, Desse modo, cam Tales — que a tradi¢ao considera o ponto inicial da investigagao cientifica-filo- séilea ocidental — teria comegade também a linhagem dos filésafoy politicos @ dos filésclos-legisladores, cuja vida ¢ cuja obra desenvol- Veram-se em intima conexan com os destinos da palis. No prdpria vo. cabuléio dos primeiys fiisolos manilesta-se essa conexde: muitas das palavras que empregam sugerem experiencias de cunho origina= tiamente social, generalizadas para explicar a organizacso do cosma. Par outro lado, a estrutura politiea fornece a0 pensadur esquemas in- Vill PLATAO terpretatives: a pdiis mondrquica corresponde uma interpretagao do processo cosmogénice entendide como a desdobramenta ou a trans- formacao de um iinice principio farqué), tal como aparece nas peimei- ras cosmagonias filoséifieas. Com © lempo, esses esquemas interpreta- tives vao, porem, se alterando, em parte pela dinamica inerente ao persamenio filosdlico, em parte come reflexo das novas formas de vi- da politica. A instauracao de regime democratico em Atenas @ em ou- tras cidades suscita navos temas para a investigaGaa © sugere novos quadras explicatives: o filésofo Empédecles de Agrigento — lider de- moerdtico em sua cidade — concebe a orpanizacio do universe co- mo resultante do jogo de maltiplas “'raizes” regidas pela isonomia {igualdade perante a lel), Ao monismo corpotalista dos primeiros pen- sadores pode entiv suceder 0 pluralisme: o cosmo é compreendide & imagem da pluralidade de poderes da pdlis democratica. Na Assembiéia, quem pede a palavra? Entre 460 ¢ 430 a.C., Atenas, sob o governo de Péricles, atingiu-o apoget de sua vida politica e cultural, tornando-se a cidade-Esiado mais proeminente da Grécia. Essa situagao fora conquistada sobretu- do depois das guerras médicas, quando Atenas liderou a defesa do mundo grego e derrotou os persas. Libertando as cidades gregas da Asia Menor e apoiando-se sobre podernsa confederacao maritima Atenas teve seu prestigio aumentado; enquanto expandia ¢ fortalecia seu imperialisma, internamente aprimorava @ experiéncia democrati- a, instaurada desde 508 a.C. pela revolta popular chefiada por Cliste- nes. Pela primeira vez na historia, © governo passara a ser exercida pelo pova, que, diretamente, na Assembléia (Ekkiesia}, slecidia os des~ Tinos da pdlis, Mas, na verdade, a damocracia ateniense apresentava sérias limitacées. Em primeiro lugar, nem todos podiam participar das debates da Assembiéia: apenas os que possuiam direitos de cida- dania. Essa discriminarao exclufa das resalugées politicas.a maior par- te dos habitantes da pdlis: as mulheres, os estrangeiros, os escravos Em consegdéncia, constitula uma minora a demos (pove) que assumni- Fa. poder em Atenas. A democracia ateniense era, na verdade, uma forma atenuada de oligarquia (govern des Gligol, de poucos), ja que somente aquela pe- quena parcela da populace — os '‘cidadaos" — usufruia dos privilé- gios da igualdade perante a lei e do direito de falar nos debates da As- sembléia fisegoria?. As decisées politicas estavam, parém, na depen- déncia de interferéncias ainda mais restrilas, pois na propria Assem- bléia nem todos tinham os mesmos recursos de aluacdo, Lido o reiat6- ro dos prajetas levados a ardem do dia, © araulo pronunciava a fér- mula tradicional: “Quem pede a palavrat Segundo © principio da fsegoria, qualquer cidadio tinha © direto de responder 2 esse apelo. Mas, de fato, apenas poucos 0 faziam. Os que possuiam dans de ora~ UGria associados 20 conhecimento dos regseios pablicos, o» hdbeis No raciocinar © no usar a vor © o gesto, estes € que obtinham ascen- déncia sobre o auditério, impunham seus pontos de vista através da persuagio retérica e lideravam as decises. A elogiéncia tornou-se, assim, uma verdadeira puléncia em Atenas: sem ter necessidade de nenhum titulo oficial, 0 orador exercia uma espécie de lungao nv Es- tado. Se além de orador era um homem de ago — como Péricles — tomavase, durante algum tempo, 0 verdadeira chefe politico. VIDA EOBRA he © cuidade dos democratas em impedir que o poder retornasse ay maos da antiga aristocracia e outra vez se centralizasse, reassumindo cardter vitalicio e hereditario, acabeva por erigir obstaculas a propria democracia. A preccupagaa em preservar a pureza das instituigoes demacraticas, Gefendendo-as das facgdes adversdrias — derrotacas fas sempre atuantes @ prontas a tentar recuperar antigos privilégins —, levau os democratas a estabelacer inclusive uma duraco limitada para 0 exercicio das fungGes pablicas, Para que nenhum magistrado Se agvstumasse 30 poder © nele quisesse se perpetuar, as fungdes px blicas duravam apenas um ano. Além disso adotou-se a tiragem de sone para a escolha dos ocupantes daquelas fungdes, com excecaa dos comandos militares, dos ocupantes de cargos financeiros e dos que exerciam comissdes técnicas que exigissem competéncia esne- cial. Como processo.de tizagem de sorte — que pareoe estranho @ ir- racional 3 mentalidade afeita a administragao publica moderna — a democracia grega procurava deiender-se firmando o poder nas maos da Assembléia dos cidadaos. Tais escripulos, porém, vinham tornar ainda mais instivers e flutuanies as dacisées politicas. © compareci- mente & Assembléia era freglentemente escasso, jd que, em condi g6es normais; muitos cidaddos preferiam ocuparse de seus negdcios particulares: os que compareciam aos debates estayam sujelitos 5 in fludneias des oradores mais hébeis, que faziam oscilar as decisces; fi- nalmente, a curta duragao das lungdes publicas aumentava mais ain- da a dificuldade de se desenvolver uma linha politica estivel, conti- nua, duradaura. as deficiéneias do regime democratico ateniense toraranr-se pa- Tentes para alguns pensadores, que se empenharam em corrigi-las. Se a liberdade proporcionada aos cidaddos era um patriménio cara a ser preservado, a estabilidade politica exemplificada por outros pases, tomoo Faito, parecia invejavel. Sem falar que, dentro da propria Gré- cia, o milltarismo de Esparta sugeria uma solugdo politica baseada no sacrificia das liberdades individuais em nome da disciplina e da or- dem social. A erftica A democracia ateniense e a procura de solugées paliti- cas do munda geepo foram preocupagdes centrais da vida e da obra daquele que ¢ por muitos considerado o maior pensador da Antiguida- ue: Platao, Nele, filosoila © agdo politica estiveram permanentemente interligadas, pois alimentou sempre a conviccao de que "'... as males nao cessaréo para os humanos antes que a raga dos puros e auténti- cos filésofas Chegue ao pader, ou antes que os chefes das cidades, por uma divina graca, ponham-se a filosofar verdadeiramente’” (Carta Vil). Entre a filesofia e a politica Platdo nasceu em Atenas em 426-7 a.C. © moreu em 348-7 a.C. Essas datas sda bastantes significativas: seu nascimemto ocorreu no ano scguinte ao da morte de Péricles; seu falecimento deu-se doz anos antes da batalha de Queronéia, que assegurou a Filipe da Mace- dénia a conquista do mundo grego. A vida de Platéo transcorreu, por- Ianto, entre a fase durea da democracia ateniense ¢ o final do periodo helénico: sua obra filesofica representard, em varios aspecios, a ex- pansSo de_um pensamento alimentado pelo clima de liberdade e de apogeu politico. x PLATAO Filha de Ariston e de Perictione, Platio pertencia a tradicionaic familias de Atenas @ estava ligado, sabretude pelo lado mateo, a fi- guras eminentes do mundo politico. Sua mae descendia de Solon, o grande legisladar, e:era irma de Carmities e prima de Critias, dais dos ‘Trinta Tiranos que deminaram a cidade durante algum tempo. Além disso, em segundas nupcias Perictione casara-se com Pirilampo, per- sonagem de destaque na paca de Péricles. Desse mode, se Plato em geral manifesta desapreco pelos politicos de seu tempa, ele o faz como alguém que viveu nos bastidores das encenacées politicas des- de a infancia. Suas criticas 4 democracia aténiense pressupunham um conhecimento direto das manobras poliicas ¢ de seus yerdadeiros motivos. Segundo o depcimento de Aristételes, Manic, na juvertude, wria conhecide Cratilo, que, adatando as idéias de Heraclito de Lesa so- bre a mudanga permanente de todas as coisas — e certamente inter- pretando de forma parcial ¢ ompobrecida a tese heracliliea —, afirma- va a impossibilidade de qualquer conhecimento estavel, Os dados dos sentidos terlam validade instantinea @ fupaz, 6 que tornava intitil € ilegitima qualquer afirmativa sobre a realidade: quando sé tentava exprimir algo, este j6 deixara.de ser o que parccia no momento ante- rior. Na versace apresentada por Cratilo. 9 incessante movimento das coisas tornava-se tm empecilho 4 ciéncia ¢ 3 agéo, que no podiam dispensar bases estaveis. Buscando justamenie estabelecer esses fun- damentos seguros para 0 conhecimento © para a agio, Platia desen- volver, na fase inicial de sua filosofia, teses que tendem a sustentar & realidade no intemporal e na estatico. $6 posteriormente seu pensa- mento ira reabilitar @ reabsorver 0 movimento e a transformagao, ton- tando estabulecer a sintese entre a tradigde eleatica (que negava a ra- Clonalidade de qualquer mudanga) € a heraclitica (que atirmava o fu- xo Continuo de todas as coisas). Mas © grande acontecimento da mocidade de Platéo fol o encons tro. com Sdcrates. Na época de oliparquia dos Trinta [entre os quais es- tavam Carmides e Critias), 08 governantes haviam tentado fazer de Sé- crates ctimplice na execugao de Leon de Salamina, cujos bens deseia- vam confiscar. Sécrates recusou-se.a participar da trama indigna e, evidentemente, deixau de ser visto com simpatia pelos tiranos. Mais tarde, ja ‘einstaurade o regime democritica em Atenas, Sécrates foi acusado de corromper @ juventude, por difundir idéias contrarias a re- ligiio tradicional, e condenaclo a morrer bebendo cicuta. Platio, que seguira os debates: de Sécrates e que © considerava — came escreverd no Fédan — *'o mais sdbio € © mais justo dos ho: mens”, péde acompanhar de porto o tratamento que seu mestre rece bera de ambas as facgies politicas. Parecia ndo- existir em Atenas um tid no qual um homem que nao quisesse abrir maa de principios icos pudesse se integrar. Diante da injustiga sofrida por Sécrates, aprofunda-se o desencanto de Platao com aquefa politica e cam aque- Ja democmacia: "Venda isso e vendo os homens que conduziam a po- litica,, quanto mais considerava as leis © os costumes, quanto mais avangava em idade, tanto mais dificil me pareceu administrar os negd- Clos de Estado” (Carta Vill, Mas 9 impacto causado por Sécratos no Pensamento e na vida de Platéo teve também outra siynificada, este de repercustes ainda mais duradouras: com Sdcrates, 0 jovem Platan pudera sentir a necessidade de fundamentar qualquer atividade em ‘conceitos claros'e seguros. Por intermédio de Sécrates © de sua inves- VIDA EOBRA x sante acae cama perquiridorde consciéncizs © de critica de iéias va. gas ot preconcebidas, © primado da politica 1orna-so, para Plaje, 0 arimado da verdade, da Ciencia, Se o interesse de Platae fol iniclal- mente dirigido paca a politica, através da iniluéncia de Sécraies ele re- sentidos apreendem — remeterd a outras hindteses que a condicianam. O pensamento de Plato ird se construindo, assim, come um jogo de hipeteses interliga- das. Ao relativism dos sofistas, Platao opde niu uma afirmagio de verdade simplaria ¢ dogmatica. A busca de uma candicav incandicio- nada para 0 conhecimento, © encontro com © absolute fundamento: da verdade (que 26 enlio se distingue do erro ¢ da fantasia), & para Platao nao 0 ponta de partida mas a meta a ser alcangada, Porém 96 se cheparé ai depos que se aravesse todo o campo da possivel. O abe soluto, 0 ndo-hipotético, habita além das ultimas hipéteses. Nos primeiros didlogas — as da “fase socrdtica’ fa se busca Ya alge de idéntico © uno que estaria por (ris das méltiplas maneiras x PLATAO, de se entender conceitos como “temperanca" ou “coragem". Mas es5¢ mesmo que existiria em diversas caisas nao era ainda uma enti- dade metafisica, algo que existisse em si e por si. No Eutifron é que a5 pelaveas idéei ¢ cides aparecem empregadas, pela primeira vez, uma acepe4o propriamente platénica. Ambas aquelas palavras sao derivadas de um verbo cujo significado & "ver © tém, assim, como acepeio origindria, a de “forma visivel” {primariamente no. sentido de “formato” ou ‘figura’, Aa que parece, j4 estavamy integradas 20 vocabulario dos pitagéricos, com o sentide de modelo geométrica ou figura. Nos didlogos da primeira fase, gue parecem reproduzir as conver- sacoes da prdprie Sdécratés, 2 procura do mesmo, além de ficar restri- ta 3 busca de um denominador comum no nivel da signiticagiio das palavras, limitava-se a debates sobre questGes morais. Esses debates nao eram conciusivos: deixavam os problemas enriquecidos © revol- tos; com 0 denunciando a fragilidade ou a parcialidade dos pontos de vista confrontados. Ao chegar a esse ponto, a dialética socratica podia dar-se por satisfeita, na medida cm que seu objetivo seria o dra- matico embate das consciénclas, condigao para @ autoconhecimento. J em Platio —.a partir da fase do Fédon — a dialética vai pragressi- vamente perdendo o interesse humano imediato e a dramaticidade, para se converter, cada vez com mais apaio em recurses matemati~ cos, num método impessoal ¢ tedrico, que visa aos prdprios proble- mase nao apenas 4 sondagem da consciéncia dos interlocutores. Tor: na-se uma pesquisa das interligacdes entre as idéias, chegando, na fa- se final do platonismo, a ser Considerada um tipo de “metrética” ou arte das medidas e das proporgdes. “Admitamos pois — o que me servird de ponte de partida ¢ de base — gue existe um Belo em si ¢ por si, um Bom, um Grande, ¢ as- sim por diante.” Essas palavras, que Plalio faz Socrates dizer no Fé don, sepresentam uma mudanga de dirogao da investigagas filosdtiea em relagdo aos pensadores do passado. A explicagéo co mundo fisi- co, desde as fildsoios da escola de Mileto, convertia-se na procura de uma situagéo primordial que justificaria, em seu desdobramento, a si- lwagdo presente de cosmo. Antes, a dgua (Tales), 9 ilimitado: (Anaxi- mangro), o “tude junto” (Anaxdgoras) — depois, devido a diferentes processos de transtormagso ou de redistribuigio espacial, © universo em seu aspecto atual. A explicacdo filoséfica representava, assim, @ encantro de um principio (arqué) origindria, e era, par isso mesmo, movida por interesse arcaizante, de busca das rafzes, de desvelamen- to das origens, Cam Platio essa indole retrospectiva e “horizontal da investigacdo @ substitulda pela perspectiva ‘vertical’ e ascendemte que propée, seguindo a sugestio do métode dos gedmotras, as idéias Como Causas inlemporais para os Gbjetos sensivets. O que é belo; mais ou menos belo, é belo porque existe um bela pleno, 9 Belo que, intemporalmente, explica tedos os casos e graus particulares de bele- za, come a condicao sustenta a inteligibilidade do candicionado. Através dos didlogos, Plato vat caracterizando esas causas inte- ligives dos abjetos fisicos que ele chama de idétas ou formas. Elas se~ riam incorpdreas e invisiveis —o que significa dizer justamente que nado esté na matéria a razdo de sua inteligibilidade. Seriam reais, eter- nas © sempre idénticas a si mesmas, escapande a corrosag do tempo, que tora pereciveis os objétos fisicos. Merecern por issa mesmo, a VIDAEQBRA = XVI qualificative de “divinas"’, qualificativo que os filsofos anteriores j atribuiam & arqué. Perieitas e imutiveis, as idéias constituiriam os mo- delos ou paradiamas dos quais as coisas materiais seriam apenas co- pias imperieitas © transitérias Seriam, pois, tipos ideais, a transcen- der o plano mutivel das abjetas fisicos. A afirmativa de que © mundo material se toma compreensivel através da hipétese das idéias deixa, porém, em suspenso um proble- ma decisiva: 0 da possibilidade de se conhecer essas realidades invisi- veis © incorpdteas. Cam efeito, © que inicialmente foi tomado como hipétese explicativa — a existéncia do mundo das idéias — nao basta a si mesmo. £ preciso que se admita um conhecimento das idéias in— corpéreas que antecede ao conhacimenta fomecido pelos sentides, que 86 elcancam 0 corpéreo. No Menon Platao expoe a doutrina dé que © intelecte pode spreender as idéias porque também ele & como as idéias, incarpérco. A alma humana, antes do nascimento — antes de prender-se ao carvere do corpo —, teria contemplade as idéias en- quanto seguia 0 cortejo dos deuses. Encarnada, perde a possibilidade de contato direta com gs arguétipos incorpéreas, mas diante de suas cOpias — Os Objetus sensiveis — pode ir gradativamente recuperando: © conhacimento das idéias. Conhecer seria entio lembrar, recanhe- cer. A hipétese da reminiscéncia vem, assim, sustentar a hipotese da existéncia do mundo das formas. Mas, por sua vez, implica outra dou- trina, que a condiciona: a da preexisténcia da alma em relagio ao corpo, a da incorrupubilidade dessa alma incorpérea e, portanto, a da sua imortalidade, Essa imortalidade, de que Sécrates nio teve cer teza nos primeiros didlogos, converte-se, na cansirugio do. platonis- mo, numa condigio para a ciéncia, para a explicacde imeligivel do munde fistco. Mas se a doutrina da reminiscéncia liga a alma as idéias @ justifi- ca que» homem as conhega, como explicar o relacionamente entre as formas @ as objetos fisicos, entre 0 incorpdreo e © seu Oposto, o Corpéreo? Essa € uma questao que o propri Platdo levanta no didlo go Parménides, Antes ainda suscita ovtro problema, que esté na base daquele e que nado havia sido esclarecido nas obras anteriores: afinal, de que ha idéias? Os exempios de idéias apresentados no Fédon sio extraidos ou da estera dos valores estéticos ¢ morais (o Belo, 0 Bom}, ou das rela- Oes matemdaticas (o Grande). De fato, desses dois campos é que o platonismo vai colher preferencialmente os pontos de apoio para pro- por um mundo de modelos transcendentes. Issa € compteensivel, uma vez que a variagio de mais e menos (mais belo, menos belo; maior, menor) parece sugerir a referéncia a um padrao abseluto, a uma “justa medida” (o Belo, 0 Grande). Todavia, 4 no: Grdtila, onde aparece a primeira afirmacao da transcendéncia das idélas, ela ¢ feita a propdésito da idéia referente a um abjeta fisico, a um artefato, a na- veta, No Parménides o problema ainda mais se aguca ao fazer-se a pergunta: hi uma forma correspondente ao fogo (realidade fisica © na~ tural), uma forma carrespondente ac lado (objeto fisico inferior”)? Valores negativos ou realidades abjetas teriam um modelo no plano das esséncias divinas? O que esta af em questo 6, na verdade, © sig- nificada que a mundo fisica tem enquanta corpérea: se é copia, o que Ihe confere v estatuto de cépia, distanciando-o Go arquétipa? Se XW PLATAD sua causa inteligivel 6 © mundo das idéias, o que constitui isto que Ihe da concrecas ¢ materialidade? Num primeira momento, de dialética ascendente, impulsionada pelo métode inspirado no procecimento dos matematicos, Platao d xara de lado, provisorlamene, 4 natureza do sensivel enquanto sen vel, Mas na etana final de seu pensamentp, animada também por uma dialética descendente que procura vincular o inteligivel ao sensi- vel, esa questao assume crescente inleresse, motivando a cosmogor nia ea fisica do Timeu_ Também no: ensinamento oral dessa fase — segunda o depoimento de Aristételes — Plate ocupou-se do mesmo. problema, embora tralando-o neutra diregao, ao investigar ds idéias relativas aos abjetas de arte_ A relacao existente entre as formas € 05 objetos Msicos que Ihe sdo comespondentes € a autra grande questdo levantada pelo Parmé) des, Plato protende rosolvé-ta atraués de cums nogdes fundamentais: a de participagde € a de imitagae, No Perménides o praprio Platio formula muntas das objecdes que pensadores pasteriores (inclusive ‘Avistételes) farao a esas nocées. E, se a0 longo da evalugde de seu pensaniento, permanentemente aprofundow, esclareceu ou refez 0 sig- nificado de participacdo e de imfacao, jamais abriu mao da transcen- déncia das idéias. A doutrina platénica da imitagaa tmitesis) difere da que os pita g6ticos propunham desde o século VIa.C. Desenvalvende um pensa- mente fundamentado nas investigagdes matematicas, os: primitives. pi- tagoricas afirmavam que “todas as colsas sto nlimeros", entencendo coma nimeros realidades corpéreas, constituidas por unidades inde- camponiveis que eram ao mesmo tempo o minimo de corpo e © mini- Mo de extensad, Ay colsas imitarian Os nimeros, para os pitagdricos, numa acepcao plenamente reaitsta: os objetos refletiriam exteriormen- te sua constituigae numérica interior, A mimesis, no pitagorisme, apresentara portante um cardter de imanéncia: 0 modelo e a copia es tao ambos no plane concreto; sie as duas faces — interna (apreendi- da racianalmento) © externa (apreendida pelos sentidos) — da mesma fealidade, Com Platao a nogdo ve imitagdo adquire acepgao metaffsi- ca, come |dgica decorréncia do “‘distanciamento’ entre o plano sensi- vel ¢ 6 inteligivel. Os objetas fisicos — maltiplos, concretos © pereci- veis — aparecem como cépias imperteitas dos arquétipos ideals, in= corpéreos @ perenes. CO mundo sensivel seria uma imitacae da mun- do inteligivel, pois todo © universo, segundo a cosmogonia do Ti meu, seria resullante da agao de um divine artesdo (demiurgo) que te tia dado forma, pelo menos até certo ponto, a uma matéria-prima fa *cqusa etrante”), tomando por modelo as idéias eternas, A arte divi- fa teria produzido as obras da natureza e@ também as imagens dessas obras (como o reflexo do foge numa parede), Analagamente, a arte humana produz de dupla maneira: o homem tanto constrdi uma casa real como, na condicao de pintor, pode reproduzir num quadra a imagem dessa casa, © artista aparece por issa, na Repuiblica, coma “erlador de aparéncias”. © problema da imitagao tam mais com- plexe quando referido aos objetos de arte, objetos artisiciais, antefa- tos. Faz-se entao.a distingdo entre graus intermediarios de imitacdo: ubjeto natural i ida que Ihe € corespondente © a arte linia, por sua vez, aquela imitacao. A relacao copia-modelo usada metafisi- camente por Platie para explicar a relacdo sensivel-inteligivel reapare- ce assim em sua concepcao estética ¢ justifica as restricdes Teitas abs VIDAEOBRA XIX artistas. na Repiblica. Particularmente os poetas, como Homero, sae ai apresentados como fazendo “simulactos com simulacros, atastados da verdade”, No. caso das artés plasticas, Flatao recusa a utilizacao dos recursos da perspectiva, que entan <> difuridiam e the pareciam a solistica na ante, pois acentuavam a “iusto de realidade". A are im tativa Ceveria preservar © cardter de copia de seus produtos, nae que- rence confundi-los com 03 objetos reais, Outro caminhe para as artes plisticas seria tentar teproducir a verdadcira realidade — das formas incorpéreas —. 9 que coloca Platio, segundo alguns intérprotes, co- mo antecipador da arte abstrata_ O itineraria da sombra a lez Na Reniiblica, 3 organizagia da cidade ideal apéia-se numa divi- s0 racional do trabalho, Como reformador social, Plataa considera que a jusliga depende ca diversidade de funcdes exercidas por 12s Classes distintas: a dos artesaos, dedicados A producao de bens mate- risis: a dos saldados, encaregados de defender a cidade; a dos guer- dides, incumbides de zelar pela observancia das leis. Producao, defe- sa, administragdo interna — estas as irs fungées essenciais da cida- de, E-g importante ndo é gue uma classe usufrua de uma felicidadk: su- perior, mas que toda a cidade seja feliz. O individus taria parte da ci- dade para peder cumprit sua fungao social © nisso consiste sor juste; en cumprir a propria fungao, A teorgenizacao da cidade, para transforma-la em reina da justi- Ga. exige naturalmente. reformas radicais. A familia, par exemplo, de- veria desaparecer para que as mulheres fossem comuns a todos os guerdides; as oe serlam educadas pela cidade e a procriagao de- veria ser regulada de modo a preservar a eugenia; para evitar os lags familiares egoistas, nenhyma Crianga conheceria seu verdadeira pai nenhum pai seu verdadeiro filho; a execugaa dos trabalhos nan leva- ia em conta disting’ie de sexo mas tho-somente a diversidade das ap- tiddes.natus A efetivagao dessa utapia sacial dependeria fundamentalmente, pot outta lado, de um cuidadoso sistema educative, que permitisse a cada classe desenvolyer as vitudes indispensdveis ao exercicio de suas atrlbuigées, Mas a cidade ideal 36 poderia surgir se a gaverno su- premo fesse confiado a teis-fildsofos. Esses chefes de Estado seriam es- calhidos denire os melhores kuardides © submetidos a diversas provas que permitiriam avaliar seu pattiotismo e sua resistencia. Mas, princt- palmente, deveriam realizar uma séric de estudes para poderem atin- gira ciéncia, ou seja, 0 conhecimento das idéias, elevando-se até seu fandamento supremo: a idéia do Bem. A discussia em torno da cidade ideal cede entio lugar, na Repd- biiea, a duas apresemacées sintéticas de como se desdabraria 0 co- nhecimento humana ao ascender até.a contemplagio do mundo das essénetas: o esquema da linha dividida ¢ a alegoria da caverna, Uma linha dividida em dois sermentos (4B, BC), um representan- do a plano sensive! e outra 9 plano inteligivel, serve a Sécrates (ai cer- tamente apenas parta-voz de Flatao) para tornar yisualizavel a ascese dialética. Esses dois segmentos apresentam subdivisdes correspanden- {es a déerentes tipos dé abjetos sensiveis e inteligivels ©, conseqtente- mente, ‘a modalidades diversas de conhecimento: XX PLATAQ a c . seis | ¢—rammiesces : i é x t 3 i eiacicasiiwn —o|'¢—Geibzrwlicmainiieg | 2 = ‘elif? a a oxen —| cence es - i > é sitter) 1 aap : a Q processo de conhecimento representa’ a progressiva passagem das sembras @ imagens turvas ag luminoso universo das idéias, atra- vessando etapas intermedidrias. Cada fase encontra sua fundamenta- ga0 e resolucao na fase seguinte. O que nao 6 visto clatamenté no plano sensivel (e 56 pode ser abjeto de conjetura) transiorma-se em ‘objeto de crenca quando se tem condigdo de percepgao nitida. As- sim, a animal que na obscuridade “parece um gato’’ revela-se de fato um gato quando 30 acende a luz. Mas essa evidéncia sensivel ainda pertence ao dominio da opiniéo: & uma crenga (aétis), pois a certeza 86 pode advir de uma demonstragdo racional e, portanto, depois que se penetra na osfera do canhecimento inteligivel. No plano sensivel a Conhecimento nao ultrapassa @ nivel da opinido, da plausibilidade. A primeira etapa do canhecimenta inteligivel 6 representada pela di3- nia, conhecimento discursive © mediatizador, que estabelece liga- gdes racionais: é © canhecimento tipico das matematicas, O conheci- mento sersivel deve fundamentar-se nesse patamar que Ihe esta sobre- posto e Ihe da sustentagao. Isso significa que, para Plato (sugestio que o Renascimento desenvolvera), 0 canhecimento do mundo fisico deve ser construido com instrumental matematico. Mas os conheci- mentas matemiticos nio constituem, no platonismo, o apiece da cién- cla. $do ainda uma forrna de inteligibilidade primeira, marcada por compromissas com plano sensivel: as entidades matematicas <0 mltiplas (faz-se um calculo ou uma demonstragio geométrica utili- zanda-se_diversos 3 ou warios tridngulos); além disso a propria repre- sentatividade manifesta um liame do plano matemitico com a sensibi- lidade, a denunciar seu carater de intermediario entre a percepgao sensivel € a inteligibilidade plena, Ete 36 se alcanga quando, alény das enticdades matemiticas, chega-se 4 evidéncia puramente intelec- lual (ndesis) das idéias, Nao se trata mais de vérios 3, mas da essén- cia mesma de “‘trindade’’, que confere sentido aqueles seus reflexes matematicos; nao se trata mais de tridngulos — de varios tipos — mas da “‘triangularidade’’ que neles se efetiva, sem se esgotar em ne- nhum deles, Chega-se assim ao dominio das formas, a dialética que se apresenta como uma metamatemitica. Finalmente, no cume da mundo das idéias, a superesséncia do Bem daria sustentagac a todo 9 editicio das formas puras e incarporeas. Principio de conhecimento (do ponto de vista do sujeital e de cognoscibilidade (do ponto de vis- VIDAEQBRA — XXI ta do objeto), o Bent exercé papel andloge ao que 0 Sol possui no pla- no sensivel ¢ material. Principio de realidade — € ele que confere 3s coisas esséncia e existéncia, transmutando em estrutura real a tessitu- fa inicialmente hipotética das idéiay. Superesstncia € 0 absolute irre- lacianavel @ por isso. mesmo indefinivel: dele — como dos irracianais matomaticos — 54 se padem ter indicagdes aproximadas, como as que se obtém de uma ‘‘justa medida’ Do cardter indefinivel do Bem hecessariamente decorre um senso agudo da limitacdo da palavra, que_perpassa toda a obra platénica © est4 expresso particularmente no Fedro ena Carta Wi. A alagoria da caverna dramatiza a ascese da conheeimento, com- plementando o esquema da linha dividida. Descrove vm pristoneiro que contempla, ne fundo de uma caverna, os reflexos de simulacros que — sem que cle gossa ver — sao transportados a frente de um fo- ge artificial, Como sempre viv essas projegGes. de artefatos, toma-os por realidade e permanece iludida, A situacao desmonta-se & inverte- se desde que o prisianeiro se libarta: recanhoce 0 engano em que per- manecera, descobre a “encenagao” que até enlde @ enganara e, de- pois de galgar a rampa que conduz 3 saida da caverna, pode la fora comecar a cantemplar a verdadeira realidade. Aos poucos, ele, que fora habituado & sombra, vai podendo olhar 0 mundo real: primeiro através de reflexos — como o do céu estrelado refletido na superticie das aguas tranqiiilas —, até finalmento ter condicées para othar direta- mente o Sol, fonte de toda luz ¢ de loda realidade.. Essa alegoria de multipfa dimensio — pade ser vista tanto. come fabulacdo da ascese religiosa, camo da filoséfica e cientifica — guar. da ainda uma conotagao politica, que o contexto da Republica nao permite negligenciar. Aquele que se liberta das ilusées ¢ sc cleva 4 vi- sic da tealidade 6 0 que pode ¢ deve governar para libertar os outros prisioneiros das sombras: & o fildsolo-politico, aquele que faz de sua sabedoria um instrumento de libertagao de consciéncias e de justiga social, aquele que faz da procura da verdade uma arte de desprestidi- gilagdo, um desilusionismo. © aspecto emocional que a alegoria da caverna ressalta no proces- so de conversio das consciéncias & luz também esté apresentade no Banqueie. A ascese ao mundo das idéias ¢ ai descrita — particular- mente no discurso que Socrates atribui a Diotima de Mantinéia — co- mo uma “ascese erdtica’”. Eres desempenha em felagiio aos sentimen- tos € as emogdes O mesmo papel de intermedidrio que as entidades matematicas representam para a vida intelectual. Ele comanda a subi- da por via da atragéo que a beleza dos corpas exerce sobre os sent dos e remete, afinal, & contemplayao do Belo supremo, o Belo em si. A construgéo do conhecimento constitui, assim, no platonismo, uma conjugagdo de intelecto ¢ emogio, de razio © voniade: a episte- me € {rato de inteligencia e de amor. XXII PLATAQ Cronologia 508 a.C.— A revolta popular liderada por Clistenes Instaura a democracia om Atenas. 490-479 aC. — Alunas toma parte ris guerra médieas (contra 68 persds), se Perioda de apogeu de Atenas, no qual ocome © guvemo de Pericles. 460 a.C. (aproximadamente) — Chega a Atengs 0 fildsofo Anaxagoras de Cla- zimena, que, embora protegido par Péricles, afinal tem de deixar a cida- de, devido as perseguicées suscitadlas por suas idéias, contrarias & religiosi dade popular e oficial 332 a.C. — Irrompe a guerra do Pelopaneso- entre Atenas e Esparta, 828-427 aC. — Nasce Plato em Atenas. 399 a.C. — Julgado pela Assembléia popular de Atenas, Sécraez € coridena- doa morrer bebendo cicuta. 388 a.C. (aproximadamente) — Platso viaje: Me Grecia (sul da Nélia, Sici- Jig): em Siracusa, conhece Digi, cunhade da tirana Dionisio |; convive com Euclides em Megara; vai a Cirene fonde tema ciéncia das pesqurisas matemiticas de Teodoro} ¢ visita 0 Esito. 387 a.C. — Platdo tunica, em Atenas, a Acacernia. 367 a.C. — Morte Dionisio |, de Siracusa, sendo sucedido por seu filha, Dic~ inisio IL. Segunda viagem de Platie 2 Siracusst 361 a.C.— Terceinr vieuein a Sirucuss. 348-347 aC, — Platio morte em Ateray. 338 a.C. — Filipe da Macedénia conquista a Grécia, viloriose na balalha de ‘Querongia. Bibliografia Ouexe Courtras Dr Pura Em Frances: Collection Guillaume Buelé. Ed. Les Belles-Letires, Paris, 1920, Em Inglés: The Dialogues of Phito, trad, de Ben- Jamie jowett, Oxtord, 4." ed., 1953. Brus, Jom Platon et PAcadémie, Presses Universitaires de France, Paris, 1960, Sc, Prwa-Maria L’Oeuvre de Platon, Hachette, Paris, 1954. Cuareurt, F.: Platon, Gallimard, 1965; Kort, Au: Introduction & ty Lecture de Platon, Gallimard, Paris, 1962 Sow, R-: La Question Platonicienne, Mémories de (Université de Neucha- tel X. ‘Neuchatel Université, 1948, Rows, Ls Platan, nova edicga postuma — com bibliografia atual — Paris, PLULF., 1968. Dis. Avtour de Placon t vt It, Beauchesne, Peri, 1927. 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Cama comecei a trabalkar com 0 primeiro, serviu-me ele naturalmente de primeiro furdamenio, ao qual apliquei algumas ligdes do segundo. que é mais recenie| 2 que-oferece wm aparalo critic bem mais rice. O vonfronto dessas duas excelenies edigdes passi- Dilitow-me mesmo u apresentagdo de um tercelro texto, que representa wma tenta- jiva de aproveliamento do que elas iém de melhor, ¢ que espero podera ser um dia oproveitado numa edigéo bilingde. Na lmpossibilidade deo fazer agora, julgo todavia que ndo serd de todo fora de interesse, sobretudo para a apreciagdo da tradugae, prestar algum esclarecimento sobre a manelra como se preparam as edicdes modernas dos textos gregos. O estabelecimento de um texto grego antigo é um trabaiho a primeira vista altamente magante, sem divida elguma drduo, mas afinal capaz de suscitar pro. Sunda tnteresse € mesmo empolgar o espirito de quem se disponha a abordd-lo, Um editor moderne encontra-se em face de varias edigdes anteriores, de uma profuséa de manuseritos medievais, de alguns papiros ¢ uma quantidade de cita Ges de autores antigos. Tudo isso perfaz a tradigao do texto que ele sé dispde a reapreseniar. Numa extenséo de dois mil e tantos anos, as vicissitudes da histéria Jfizeram-na seccionar-se em etapas com desenvolvimento proprio, sob @ qual se dissimulam os sinais de sua continuidade. Assim, ele tem que levar em conta uma tradi¢do antiga, uma tradigdo medieval e mesmo, podemas acrescentar; ume tradigéo moderna, Cada uma delas reclama um tratamento especial, a se gfetuar todavia sempre em correlagéo com as demais. Os documentos que lhe vao servir de base sdo os da tradigdo medieval, os manuscritos. A quantidade destes € considerdvel para uma boa parte dos autores gregos, mas seu valor é naturalmente desigual. Impde-se wm trabaiko de selegao 2 classificagae em que se procure o liame perdido da tracliedo antiga, e em que portanta o testemunho dos papiros e das citagdes dos aulores antigos podem muitas vezes ser de grande préstimo, Além desse cotejo precioso com os restos 1De 1929, anquanto que a de Burnet ¢ de 1900. ON doTH 4 PLATAQ da tradicao antiga, maitas vezes é @ ciéncia da tradigéo moderna, iniciada com as primeiras edigaes do Renascimenio, que corrige as inswlieiéncias das duas ira- digdes precedentes. Através dos dados e instrumentos de interpretagdo dessus més tradigGes é que se exerce o esforge para reconstituir 0 texto que posse repre- sentar 0 mais possivel o propria texte de um autor dos séculos ¥ ou IV, por exemplo, esforco capaz, como foi dito acima, de estimular poderosamente a curiostdade intelectual. No que se refere a Platéo*, contam-se atuatmente 150 mamuscritos de suas obras. Sem divida, sua selegac. o-classificacao fa se enconira em estabelecimento mais ou menos definitive, depois de trabalho sucessivo de. varios edttares e critt- coy, @ partir de Renascimento.A medida que se foram sucedenede ax edigées, fol se elevande o ntimera des manuscritos consuliadas ¢ colavionados, 0 que eviden- temente complicava cada vez mais o irebalho critic. Essa dificuldade culminou com a alividade extraordiraria de lmmanuel Bekker, que ma comega do século XIX colacionow 77 manuseriies, sobre os quais baseou sua edigdo, provida de dois volumes de Commentaris Critica, aparecidos em 1923 Os eriticos e editores seguintes sentiram entéo a necessidade de simplifiear 0 aparaio critics resullante de um te grande acervo de documentos, que sd pode- ria estorvar, om lugar de facilitar o seu uso proveitoso. Fol entdo que surgiu a idéia de remontar d origem dos manuscritas medievais e de, em funcdo dessa ori- gem, proceder é sua classificagiio. Tal prajero tomou logo a forma de uma proce ra do argquétipo. isto é, do manuscriio da tradi¢do antiga do qual proviriam todos 08 manuscritos medievais. Em fungdo do arquétipo foram os mantuscritos agru pados em familias, cujas caracteristicas procurow-se explitar pelas varias ligdes que cle apresentava, em notas abaixo ou &@ margem da texto. As variantes do arquétipo denotartam, assim, que s¢ tratava de uma edic¢ao erudita, e portanio representante das melhores correntes da tradicao antiga do texto platénico. Tais correntes estariam, desse modo, representadas pelas varias familias de manus critos medievaix. ¢ assim. por conseguinte, teriamos garantida a continuidade entre a tradiedo antiga €a moderna, anarentemenre quebrada. A tus desse reoria fot posstvel a utilizagdo moidédice des manuscritos. A grupa- dos em famitias, apenas os methores, os mais representativas de cada ura delay foram tomados para colagae ¢ referéncia, Dé uma primeira destaca-se 0 Bodleta- nus 39, da Bibliowea de Oxford. também chamade Clarkianus, da nome do mineralogista inglés, Edw. D. Clarke. que o adquiriu juntamente com outros do mosteiro de Patmos, em comecos dev séeulo XTX. Esse manuserito data do. fim do século 1X ow do comego do seguinte, e contém apenas 0 primeiro dos dots volumes que geralmente perfazem, nox manuseritos, as obras completas de Pla- tao. Os aparatos criticos desde Schanz, um dos grandes estudiosos do texto plaiénico, assinalam-no com a sigla B. Uma segunda familia tem dois prineipais representantes, que se complementam: 0 Parisimes gr. 1807 (sigla A), da mesma época que o Bodleianus, e que go conirdrio deste tem apenas 0 segundo volume: 2 Todas tx informagées sobre o texto de Platio foram tiraday co belo livro de Alline, Hisiaire dw Teste de Platon, Edoustd Champion. 1918. (N doT ) A Besa edigho € iy vilgata dos aparaton critoes Vo ANIA np it. a AER, (N. do.) O BANQUETE : eo Venetus, append. class. 4. t (sigle T), da Biblioteca de S. Marcos de Vene- 2a, qué parece derivar-se do primeira e data do fim da século XI au comego do seguinte. Enfant, uma terceira fantdia € representada pelo Vindobonensis 54, sup plem. philo. gr 7 (sighe W), que data provavelmente do século XII. Qualquer outro manuserito parventura wsilizado no estabelecimenia de um texto serd sempre a iitule suplemencar e como representante de uma tradigao especial dentra de uma das trés familias acima referidas. Por exemplo, no caso do Banquete, enquanto Burne! utiliza apenas os manuscritos B, Te W, Robin serve-se, além desses, do bindobonensis 2! (sigha ¥), cujas lipdes em parte se aproximam da tradigao AT, em parte da de B. Ao lado desses manuscritos*. 05 nossos dois editores canferem também o Papyrus Oxyrhyncius .° 843, que con- tém um texto integral do Banquete. a partir de 201 a /.A esses textos de base acrescentam-se as citagoes dos autores antigas (que com o Papvrus Oxvrhyn- chus representam a tradi¢go antiga, designada também de indireta pela evitica) & as corregdes dos crflicos e editores modernos. £ esse o material que figura num aparato eritico, condensado em algumas linhas abaixo do texto. As edigdes de Biernet ¢ de Robin apresentam em sey texto muattas concordan- cias. Amhas se efeluaram an termo-de uma longa evolucdo da erttiea de texte, & em conseqiééncia raze ambas um tayo comum que as diferencta da maioria das edigées do séeulo XIX, e que é una acentuada prudéneia na adogao das cor recdes modernas, abundantes entre os edilores do século anterior, O aparato cri- Heo. de ambas, particularmente o de Robin, bem mais rico a esse respeito, da bem uma idéia disso. O texto de Robin. quanto @ escotha das liedes. parece mais conservador ainda que o de Burnet, mais respeitador dit tradigéo dos manuscri- tos, 9 mesmo nao acorrendo porém quanto @ pontuacan do texto e a dispasigao dos pardgrafos, que ele procura apresentar & moda dos livros madernos, Tal procedimento, justificével alias diante da irregularidade que 0% manuscritos apre- seniam a este Fespeito — como alids @ tradigdo antiga —, se fem a vantagem ca clareza, muitas veres afeta o estilo ou mesmo o@ sentido de certas passagens do Texto. A dissimulacdo do estilo é particularmente sonsivel aqui no Banquete, nos discursoy de Pausanias ¢ de Alcibiades, em que uma pontuagdo moderna reduz 0s longos periodos da primero e disciplina as frases naturalmente desordenadas do segundo. Esse motive levou-me gfinal a conservar 0 texto de Burnet como base, embora adotando um maior aimero de ligées de Robi Em algumas dificuidades da traduyae vali-me das tradugdes srimeesas de L. Robin ("Les Belles Letires") ¢ de Emile Chambry (Edigées Garnier), assim coma em uns poucos casos da tradugdo latina de B. B, Hirschig, da colegdo Didot. Todavic, curnpre-me dectarar, com o risco embora de parecer incorrer em peca- do de fatuidade, o prazer especial que me dew a versde direta do texto grego ao verndeulo, cujas gemuinas possibilidades de expressdo me parecem ofuscadas ¢ ameagadas no iraduior brasileira de textos gregos ¢ tutings pelo presiigio das grandes iinguas moderna’ da cultura ocidental. E bem provavel que a presente 4.As coregées que esies mamuseritas apresentam sin indicadas por Burp (ho 4, 8) € per Robin cont ay inesnias MA Uscubis, mas cost) @ expoente som letra, miniscule AE. T, WEL. UN. do 1.) 6 PLATAO sraduedo nada tenha de excepcional, e que'o seu autor, em muitos torneios de fra- ses € em muita escoiha de palavra, ferha sido vitime da falta de diseiplina e de tradicdo que esté porventura alegando nesse setor da nossa atividade intelectual. No entanto, em aiguma passagem ele terd talvez acertadg, e esse parca resultado poderd dar uma idéia do que seria uma reagao especial nossa @ urn texto heléni 6a, que conhecemos geralmente através da sensibilidade e da elucubracda do Francés, do inglés, do aleméo, etc. Nossa lingua tem necessariamente uma malea- bilidade especial, ume peculiar distribuiggo do vocabuldrio, uma maneira pré- pria de utilizar as imagens e de proceder as abstrapoes. e tados esses aspectos da sua capacidade expressiva podem ser poderosamente estimulados pelo verda deiro desafio que as quaiidades de unt texto grego mutitas veres representam para uma traduedo. A linguagem filasdfica sobretudo, e em particular a linguagem de Plato, oferece sob esse aspecto um vastissimo campo para experiéncias dessa naturera. Alguns exemplos do Banquets ilustram muito bem esse tipo especial de dificuldades que o tractor pode encontrar e para ax quais ele acaba maitas veres recorrendo ds natas explicativas. No entanto, se estas sdo inevitdveis numa tra- dugdo moderna, ndo ¢ absoluamente mevitdvel que sean! as mesmias em ladas as linguas modernas. Fazer com que se manifestasse neste traduao justamente a diferenca que acusa a reaedo propria e o cardter de nossa lingua, eis 0 objetivo sempre presente do tradutor. Quanto és pequenas notas explicativas, dap elas natiralmente um répido esclarecimento sobre nomes e fatos da civilizagéio helénica eparecidas no con- texto do Banquete, mas a que elas almejam sobretudo & ajudar & compreensao desta cbra platénica, ao mesima iempo em seus trechos caracteristicos e em seu conjunto. Alguns anos de ensino de literatura grega levaram-me é euriosa cons- lalagdo da impaviéneia e desatenedo com que uma inteligéneia moderna lé um didloge platénica. Quem quiser por si mesmo tirar a prova disso, procure a uma primeira (eitura resumir qualquer um desses didlogos, mesmo dos menores, e de pots confira o sew resumo com wma segunda leitura. Foi a vontade de qjudar 0 Jeitor moderno nesse pomto que inspirou a maiaria das notas, Finalmente devo assinalar que, ndo obstante a modéstia de conteiido e de proporedes deste trabatho, eu ndo teria sido capaz de efeiué-lo sem a constante orientagdo do Prof, Aubreton. cujas observagdes levaram-me a sucessives reto- ques, particularmente na traducdo e na confeccdo das notas. A ele, por conse: muinte, quero deixar expressos, com a minha admirayéo, os mais sinceroy agradecimentos. JC. de Souza Apolodoro’ e um Companheiro APOLODORO — Creio que a respeito do que que- reis saber no estou sem preparo. Com efeito, subia eu ha pouco a cidade, vindo de minha casa em Falero?, quando um conhecido atras de mim avistou-me e de longe me chamou, exclamando em tom de brincadeira?: “Falerina! Eh, tu, Apolodoro! Nao me esperas?” Parei eesperei. E ele dis- se-me: “Apolodoro, hi pouco mesmo eu te procuraya, desejando informar- me do encontro de Agatio, Sécrates, Alcibiades, ¢ dos demnix’ que entio assistiram ao banqucte*, ¢ saber dos seus discursos sobre o amor, como foram cles, Contou-mos uma outra pessoa que os tinha ouvide de Fénix, o filho de Filipe, e que disse que também tu sabias. Ele porim nada tinha de claro a dizer. Conta-me entao, pois & © mais apontado a relatar as palavras do teu companheiro. E antes de tudo, 10 interlocutor de Sierates no. esti 56. (Nd) Porte de Atenas, 30 sul dé Pirey, a menoy de 6 km ga cidade. (NW. doT.) 34 byinudeirn consinte ro tom sélene da tated. Pelaglo, dado pelo patrorimico & pelo emprese Ho demonstrative em vex do pronome pessoal. (N. oT.) 4 Literalmente, jantar colelivo, Depais da retsi- sho propriimwate sits € que havia @ simmposio, ic, “bebisla om canjunw”, acompanhude dix iiais variadas diversbes, enire us quals as com: petigoes literérias, (N.doT.) continuou, dize-me se tu mesmo esti- veste presente Aquele encontro ow nao.” E. eu respondi-the: “E muitissimo provavel que nada de claro te contou 0 teu narrador, x presumes que foi hé pouco que se realizou esse encontro de que me falas. de modo a também eu ‘estar presente, Presumo, sim, disse ele. De onde, 6 Glauco?, tornei-lhe. Nio ‘sabes que ha muitos anos Agatio nao esti na wrra, ¢ desde que eu freqdento Sderates ¢ tenho o cuidado de cada dia saber o que ele diz ou faz, ainda nfo se passaram trés anos? Anteriormente, rodando ao acaso ¢ pensando que fazia alguma coisa, eu era mais miserivel que qualquer outro, ¢ nao menos que tu agora, se erés que wido se deve fazer de preferéncia a filosofia”®. “Nao fi- ques zombando, tomou ele, mas:antes dize-me quando se dew esse encontro”, “Quando éramos criangas ainda, res- pondi-the, com sua primeira tragédia SEntre a data da realizacdo do banquete (v. infra. 1730) @ a da sua narragio por Apolodare medeinm portant. muitos anos. Tanto quants uum indicia cronoligice, essa noticia vale coma tama, curiowa. iluacragia da imparting de me- méria na cultura da dpoca. V. infta 173 b ¢ of Fédian, $7 a-b- (Ns do T} 96 entusinmo de Apolodoto, caianda o ridi- culo, conitul sem divids © primeira tao do retraite que Banauete nos di de um Séceutes sapaz de snycitar devenconteadas adesdes, © no3- a¢ sentido € ima hibil antecipacio da atitud= We Alcibiides, também ridicule, mas noutre ‘perspective. CY. infra 22264 (N. doT.) ma a PLATAO Agatao vencera o concurso’, um diz depois de ter sacrificado pela vitbria, ele © os coristas®. Fax muito tempo ‘entao. ao que parece. disse ele, Mas quem tc coniou? O préprio Sécrates? Nao, por Zeus. respondi-lhe, mas 0 que justamente contou a Fénix. Fol um certo Aristodemo, de Cidateneie. pe queno, sempre descalge*; ele assistira 4 reunifio, amante de Sdcrates que era. dos mais fervorosos a meu ver. Nao deixei todavia de interrogar 0 proprio Sécrates sobre a narragao que the ouvi. € este me confirmou 0 que o outro-me contara. Por que entaéo nao me contas te? tornou-me ele; perfeitamente apro- priade é o caminho da cidade a que falem ¢ ougam os que nele transitam.” E assim é que, enquanto caminha- vamos, faziamos nossa conversa girar sobre isso, de modo que, como disse ao inicio, ndlo, me encontro. sem’ preparo; Se portanta & preciso que também a vés vos conte, devo fazé-lo. Eu, aliés, quando sobre filosofia digo cu mesmo algumas palavras ou as ougo de outro, afora o proveito: que creio tirar. ale- gro-me ao extremo: quando, porém, se trata de outros assunios, sobretude dos vossos, de homens ricos ¢ negociantes, a mim mesmo me irrito ¢ de vos me apiedo, os meus companheiros, que pensais fazer algo quando nada fazeis. Talvez também vés me considereis infeliz, ¢ ereio que é verdade 0 gue pre sumis; eu, todavia, quanto a yos, nao presumo, mas bam sci, COMPANHEIRO Es sempre @ mesmo, Apalodo 78m 416, no argantude de Eufemo. V> supra you % (Neda T) 80s que formavam © cord de sim cragéia, (N.doT) £Tal vomo © prprio Séerates (¥. Infra 1744), Som duvida, outa indicsgio do faseinio que ‘Socrtites exorcia sobre os amigos. (N-do'T-) ro! Sempre te estas maldizendo. assim como aos Outros; ¢ me pareees que assim sem mais consideras a todos os outros infelizes, salvo Sécrates, © a comecar por ti mesmo. Donde ¢ que pegasie este apelido de mole, nao sei eu: pois em tuas conversas és sempre assim, contigo e com os outros esbra- vejas. exceto com Sécrates. APOLODORO — Carissima. ¢ & assim tio evi dente que. pensando desse mode tanto de mim como de tj, estou eu deliranda edesatinando? COMPANHFIRO — Nao vale a pena, Apelodore, brigar por isso agora; ao contrario, © que cu (¢ pedia, nao deixes de fazé-lo; conta quais foram os discurses. APOLODGRG: — Foram eles em verdade mais ov menos assim... Mas antes édo come- 0, conforme me ia contando Aristo- deme, que tambem cu tentarei contar- vos, Disse ele que 0 encontrara Sécrates, banhado ¢ calgado com as sandilias, o que poucas veres fazia; perguntou-lhe ‘entao onde ia assim tio bonita. Respondeu-Ihe Séerates: — Ae jan tar em casa de Agatio, Ontem eu a evitei, nas ceriménias da vitéria, por medo da multidio; mas concorde’ em comparecer hoje, E eis por que me embelezci assim, a fim de ir belo 4 casa de um belo. E tu — disse ele — que tal te dispores a ir sem convite ag jantar? — Como quiseres — tornow-lhe o outro. — Segue-me, entio — continuou Séerates — e estraguemos 0 provér- bio, alterando-o assim: “A festins de OBANQUETE 9 bravos!®, bravos. v3o_ livremente.” Ora, Homero parece naw sé estragar mas até desrespeitar este provérbio; pois tentlo feito de Agamendo um homem excepeionslmente bravo oa guerra, ede Menelau um “mole lancei ro". no momento em que Agamenao fazia um sacrificio ¢ s¢ banqueteava, ele imaginou Menelau chegado sem convite, um mais fraco ao festim de um mais brave! ‘Ao ouvir isso 0 outro disse: — £ provavel, todavia, Sécrates, que n30 como tu dizes, mas.como Hemero, cu esteja para ir como um vulgar ao fes- tim de um s&bio, sem conyite. Vé entdo, se me levas, o que deves dizer per mim, pois néo concordarei em che- gar sem convite. mas sim convidado por ti, — Pondo-nes os dois a caminho'? — disse Séerates — decidiremos o que dizer. Avante! Apds se entreterem em tais conver- sas, dizia Aristodems, eles partem. S6- crates entao, como que ocupande o seu espirito consigo mesmo, caminhava atrasado, ¢ como 6 outro se detivesse para aguardé-lo, ele Ihe pede que avan- 19 Hilda, RWI, $R7, “de bravor* yqweer) cone cide com o nome do porta Agito tarigun'y © pruverbio homnérico fica estmagudo, primeice mente por'se subemiender de sigacda, ¢ também pelo falo de © propio Soerates se qualifigar de bravo, contra o hibito de sua irdnica medésticn, (N.doT.) 1A mais fraco" ¢ “mats bravo” correspandera FO fexto erego simpkesmente as companitivos de “mime "bor", Tal relacio deixa-nas ver isin, sah a capa sie ums critica no grande poc- 1, © vopecto fumclamental do peosamiento de ‘Sirctnteo, ic., sa constante referéncia A ideia do bem. Gutta indicugdo eransitica, sem duvide, que preludia. a douirine da atragio universal: do bom ¢ do belo, V. infra 205d<. (N.doT.) 12Oulra alteragio de um verso homierico ‘tama bém torngdis proverbial (Hivdl, X. 224). em que apie rol. = ume pelo outro} & substi wide por i SoT (= a eaminho). (N.doT.) ce. Chegaco 4 casa de Agatio, encon- tra 2 porta aberta e ai Ihe ocorre, dizia cle, um incidente cémico. Pois logo vem-the ao encontro, la de dentro, um dos servos, que o leva onde se recli- navam'? os outros, e assim ele os envuntra no momento de se servirem: logo que o viu, Agata exclamou: — Aristodemo! Em boa hora chegas para jantares conosco! Se vieste por algum outro mativo, deixe-a para depois, pois ‘ontem eu te procurava para te convi- dar © nao fui capaz de te wet. Mas... e Séerates, como € que nao no-lo tages? — Voltando-me entio — prosse guiu éle — em parte alguma vejo S6- craves a me seguir; disse-the eu entdo que vinha com Sécrates, por ele convi- dado ao jantar. — Muito bem fizeste — disse Aga- — mas onde esti esse homem? — Ha pouco ele vinha atras de mim; eu proprio pergunio espantado onde estaria ele. — Nio vais procurar Sécrats & trazé-lo aqui, menino' *? — exclamou Agatia. E tu, Aristodemo, reclina- teao lado de Eriximaco, Enguanto © servo the faz ablugao Para que se ponha 4 mesa, vem um outro anunciar: — Esse Socrates reti- rouse em frente dos vizinhos ¢ parou; por mais que eu o chame nio quer entrar. th — Bestranho © que dizes — exela mou Agatio; — vai chama-lo! E nao mo largues! Disse ent3o Aristadema: Mas nao! 13 em longos diviis, que’ geralmente comporta- vars dois convivas, is vetes tréa. (N.do 7.) ‘Apauio esti falando a um servo, tal como rmuuitas Voxes Hot patio entre nds fala com em- pregado. «N. do.) 0 PLATAO Deixai-o! E um habite seu esse! *: as vezes retira-se onde quer que se encan- Ire, e fica parado. Vira logo porém, segundo creo. Nio o incomodeis por- tanto, mas deixai-0. — Pois bem. que assim se faga. se & teu parecer — tornoy Agaiao. — E vocks, meninos, atendam aos convivas. Vocés bem servem o que Ihes apraz, quando ninguém os vigia, 0 que jamais fiz; agora portanto, como se também gu fasse por vocés convidade ao jan tar, como estes outros, sirvam-nos a fim de que as louvemos. — Depois disso — continuov Aris- todemo — puseram-se a jantar, sem que Sécrates entrasse. Agatio muitas vezes manda chama-lo, mas o amigo nao o deixa. Enfim cle chega, sem ter demorado muito como era seu cost me, mas exatamente quando estavam no meio du refeigdo. Agatio, que se encontrava reclinade sozinho no titi mo Ieito' ®, exclama: — Aqui, Sécra tes! Reclina-te 20 meu lado, a fim de que-ao teu contato desfrute cu da sabia jdéia que te ocorreu em frente de casa. Pois & evidente que a encontraste, ¢ que a (ens, pois nao terias desistido antes. Sdcrates entiio senta-se ¢ digs — Seria bom. Agata, se de tal natureza fosse a sabedoria que do mais cheio escorresse ao mais vazio, quando um ao OULFO NOs tocéssemos, come a agua 1h ution cata eaplivacior de um hdbito: xo- eritico u amigos ale Soermies, tanta mais que. tim pouco abuino (d1-2), Agatio revela estar Tamiiorizéa vom cle. Io slemuncta a fieglio platinica, ¢ cm partigular a intenae de sugeric desde ja i copacidudle weratica para as hege concesiragies de expirita, coma a que Aleibia~ des contar em seu disenrsa (220d). (. do T) Os divas do banquele se dispunham em for- ‘mo de uma Ferradurs. No extrerto, esquerdo fi- cava © anfitriae. que pammba 2 ena direita 0 hos pede de home, fe lugar que Agatiio oferece a Sierates. (N.doT.) dos copos que pelo fio de 18 escorre’ 7 do mais cheio ao mais vazio. Se é assim também a sabedoria, muito aprecio reclinar-me ao teu lado. pois ereio que de ti serei cunmulado com uma vasta e bela sabedoria. A minha seria um tanto ordinaria, ou mesmo duvidosa come um sonho, enquanto que a tua € brilhante ¢ muito desenvol- vida, cla que de tua mocidade tao intensamente brilhou, tornando-se an- teontem manifesta a mais de trinta mil gregos que a testemunharam. — Es um insolente, 6 Sécrates — disse Agatiio. — Quanto a isso, logo mais decidiremos eu ¢ tu da nossa sabedoria, tomando Dioniso por juiz!*; agora porém, primeiro apron- Tate para 0 jantar. — Depois disso — continuow Aris yodemo — reclinou'se Séerates ¢ jan- tou como os outros; fizeram entio libagdes ©, depois dos hinos ao deus ¢ dos ritos de costume, voltam-se 4 bebi- da. Pausanias entao comega a falar mais ou menos assim: — Bem, senho- res, qual 9 modo mais cémodo de bebermos? Eu por mim digo-vos que estou muito indisposto com a bebe deira de ontem, ¢ preciso tomar (lego — ¢ ereio que também a maioria dos Senhores, pois estiveis la; véde entio de que modo poderiamos beber o mais comodameate possivel. Aristéfanes disse entio; — & bom 0 que dizes, Pausanias, que de qualquer modo arranjemos um meio de facilitar 1Sem divide um proceso de pnrificagio da gua, Aritéfanes (Vespos, 701-702) refere-se fo mesmo process, mas com relagin a0 Sleo, (Ned Ta 18 Pattoao dos concurses teatrais ¢ deus do. vir ho, Dionise ¢ apropriadamente mencionads por Agaiio come o arbitco natural da proxima Gompetipio estre os convivas, no simpésio pro- priamente dilo. (N.«oT.) O BANQUETE i a bebida, pois também cu sou dos que ontem nela se afogaram. Ouviu-os Eriximace, 0 filho de Act- meno, ¢ Ihes disse: — Tendes razao! Mas de um de vés ainda precise ouvir como se sente para resistir 4 bebida; naa é, Agatio? : — Absolutamente — disse este — também eu nao me sinto capaz- — Uma bela ocasiao seria para és, ao que parece — continuou Erixi- maco — para mim, para Aristademo, Fedro ¢ os outros, s¢ vas os mais capa- zex de beber desistis agora; nds, com efeito. somos sempre incapazes: quan- to a Sdcrates, cu o excstuo do que digo, que é cle capar de ambas ax coi- Sas € se contentaré com © que quer que fizermos'?, Ora, como nenhum dos presentes parece disposto a beber muito vinho, talvez, se a respeito do que ¢ a embriaguex eu dissesse 0 que ela é, seria menos desagradavel. Pois para mim eis uma evidéncia que me veio da pratica da medicina: ¢ esse um mal terrivel para os homens, a embria- guez; ¢ nem cu proprio desejaria beber muite nem a outro ev o aconselharia, sobretudo @ quem esta com ressaca da véspera. Na verdade — exclamou a ac- guir Fedro de Mirrinowe*® — eu costu- mo dar-te atengaio, principalmenie em tudo que dizes de medicina; € agora, se bem decidirem, também estes o tarda, Quvindo isso, concordam todos em ndo passar a reuniio embriagados, 28.4 musenodirn speritica, tie. o dominio, dos petites © sentides do corpo, resiste tanto 3 fa- diga eb dor como uo pruzer (V. infra 2302), tal come Phitfo queria que fomen os guardilics da uu cidade ideal. V, Republica I, 413d, (Neds T.) 20 Ui doy numectovas demos (no tempo de Herédo(o 100), ie., dbtritos om que se subdl- vidia 8 populagio de Aliza. (N.doT.) mas bebendo cada um a seu bel-pra zer®*, — Como entio — continuou Erixi- maco — é isso que se decide, beber cada um quanto quiser, sem que nada seja forgado, o que sugiro entao é que mandemos embora a flautista que aca- bou de chegar, que ela vi flautear para si mesma. se quiser. ou para as mulhe- res la dentro; quanto a nds, com dis- cursos devemos fazer nossa reuniao hoje: € que discursos — eis 0 que, se vos apraz, desejo propor-vos, Todos entio declaram que thes apraz e o convidam a fazer a praposi- gdo. Disse entéo Eriximaco: — O exdrdio de meu discurse € como a Melanipa** de Euripides; pois nio & minha, mas aqui de Pedro a histéria que vou dizer, Fedro, com efeito, freqientemente me diz irritado: — Nao estranho, Eriximaco, que para outros deuses haja hinos ¢ peas, feitos pelos poetas, enquanto que ao Amor todavia, um deus tio veneravel © tho grande, jamais um sa dos poetas que tanto se engrundeceram fez sequer um encdmio®?? Se queces, observa tani- bém os bons sofistas: u Hércules ¢ a outros eles compdem louvores em prosa, como o excelente Prédico* * — AGoramene o oyronsioeys » bey @ chefs Uo simipdsid, elelte pelos tonvivas, determined © programa da bebida, fixando inclusive o grav de mistura do vinbo! a ser obrigatoriamente ingerido. V. infra 213e, 9-10, (N, do T.) 2 Melanipa, a Sabla, tagedin perlila de Buri. pedes, que também escreven Melaninu, Prisio- netra, Eriximazo referee an verso ive tui ubbes, “4uie ure edo Ura. 487 Waa- ner): pio ¢ minha a histéria, max de minka mic. (N.doT.) M1 Isio ¢, uma composigSo podtica, comsagrada caclusivamente ao louvor de um deas ou de um herdi. Um elogio pottice belissimo, embora yo eypirito da tragédia, eneontry-se no {ameso 4? essimo da Aniigona Ue Sifocles, 783-800, (N.doT.) 2 ¢ isso @ menos de admirar, que eu ja me deparei convo livre de um sabio? © em que o sal sceebe um admirdvel ei0- gio. por sua utilidade: € outras coisas desse Lipo em grande niimero poderiam ser clopiadas: assim portania, ¢n- quanto em tais ninharias despendem tanto esforgo, a0 Amor nenhum homem até o dia de hoje teve a cara: gem de celebri-lo condignamente, a tal ponto @ negligenciado um tio grande deus! Ora, tais palavras parece que Fedro-as diz com tazde. Assim, nie 96 eu desejo apresentarthe a minha quota* © ¢ satisfazé-lo como ao mesmo tempo. parece-me que nox convém, aguti presentes, venerar o deus, Se entao também a vGs vos parece assim, poderiamos muito bem entreter nosso tempo em diseursos: acho que cada um de nds, da-esquerda para adiréita, deve fazer um discurso de louver ao. Amor. © mais belo que pader, ¢ que Fedro deve comegar primeira, ja que esta na ponta e é 0 pai da idéia, — Ninguém contra ti volara. & Eri- ximaco — disse Sécrates, — Pois nem certamente me recusaria ou, que afir~ mo em nada mais ser entendido senaio has quesiBes de amor, nem sem divide ‘Agaiio ¢ Pausanias, nem tampauco Aristhfanes, cujz ocupagae é toda em M4 Natural de Céos, masse por volta de 465 Freveupouse copeciilments como estudo do vocabuliria. No Protigeras (3198) SGcrates chamao de Tantalo, aludindo do sei rormenter fa procuri da expresstio exata. (N, dT.) 280 sabia em questiin ¢ talvex Policrates, © mesmo nintor do panfleto- que jnstificava 4 con- denagiw de Sdcraies gue também escrevern pegad retSricw de efopio X panel, fos ralos, digs peinos. UN. dO.) B6Eriximaco vai stender i ques de Fedvo coin 0 proposia ge um soncunse de disurson, 00 qual cle Togo se proucifica a dic 500 paste Ciatwov ) como se {22 num piquentaue, em 4) cada. um tmz uma parte da refeiga eoletiva. (N.doT.) 3 PLATAO torna de Dioniso e de Afrodite, nem qualquer outro cestes que estou vendo aqui, Contudo, nao ¢ igual a situagio dos que ficamos nos altimos lugares; todavia, se os que.estao anies falarea de modo suficiente @ belo, bastard, ‘Vamos pois, que em boa sore comece Fedroe faga.o scu elogio do Amor. Estas palaveas tiveram a aprovacao de todos os outros, que também aderi- ram a& exortagdes de Sderates. Sem davida, de tudo que cada um deles disse. nem Aristodemo se lembrava ber, nem por minha vez eu me lembro de tudo 0 que ele disse: mas o mais impartante, e daqueles que me pareceu que valia a pena lembrar, de cada um deles eu vos dirci o seu discurso. Primeiramente, (al como agora estou dizendo, disse ele que Fedro comegou falar mais ou menos desse ponto, “que era um grande deus. 0 Amor, ¢ admirado entre homens ¢ deu- ses. por muitos outros titulos € sobre- tudo por sua origem. Pois o ser entre og deuses o mais antigo é honroso, dizia ele, € a prove disso & que genito- res do Amor nao os ha, ¢ Hesiodo afir- ma-que primeira nasceu 0 Caos — 68 depots Terra de largos seios, de tudo assento sempre certo, ¢ Amar...” Diz ele entio®® que, depois do Caos foram estes dois que nasceram, Terra € 27 Hexloud, Teogonia, 116 ss (N.9T) 28 Alpuns editores, entre os quads Burnet, acham que esse comentino de Féilro 2 ociosg, raz for que transferem pata quia primeira frase G2 .<°UR com Hesiods também eoncorda Acusi Taw. ..), Camo nondera Robin. de fato ele esta donde uma lichd", slitude perfeitamente con forme com a serialade do. seu expirito medio- tre (No T) © BANQUETE 13 Amor. E Parménides diz da sua ori- gem bem antes de todos os deuses pensou** em Amor. E com Hesiodo também coneorda Acusilau?®, Assim, de muitos lados se reconhece que Amos é entre es deuses. © mais antigo. E sendeo mais antigo é Para nés a causa dos maiores bens. Nao. sei eu, com efeita, dizer que haja maior bem para quem entra na moci dade do que um bom aimante, ¢ para um amante. do qué o seu bem-amado. Aguild que. com efeito, deve dirigir toda a vida dos homens, des que esto prontos a vivé-la nobremente, eis 0 que nem a estirpe pode incutir tao bem, nem as honras, nem a riqueza, nem nada mais, como © amor. A que & entae que me refiro? A vergonha do que € feio ¢ ao aprego da que é belo. Nao € com efeito possivel. sem isso, nem cidade nem individuo produzir grandes e belas obras. Afirmo eu entao que todo homem que ama, s¢ fosse des: coberto a fazer um ato verzonhoso, ou a sofré-lo de outrem sem se defender Por covardia, visto pelo pai nao se envergonharia tanto, nem pelos amigos ‘nem por ninguém mais. como se fosse visto pelo bem-amado. E isso mesino é © que também no amado nés notamos, que & sobretuda dignte dos amantes que cle se envergonha, quando sur- preendido em ulgum ato verponhoso: Se por conseguinte algum meio ocor- 20Ito &, a deusa Austign (Simpl. Fi 39, 18 Diels). (Node T.) a0 Natural de Arges (século VEALC.), Acuéilan exereven! viiriay genenlogias de deuser © homens. (NdoT.) resse de se fazer uma cidade ou uma expediggo de amantes ¢ de amados; 40 haveria melhor maneira dea cons- {iwirem sendo afastando-se eles de tudo que é feio © porfiando entre si no apreco @ honra: ¢ quando lutassem um ao lado do outro, tais soldados vence Ham. por poucos que fossem. por assim dizer todos os humens?’. Pois um homem que estit amando, se deixou seu posto Ou largou suas armas, aceita ma menos sem divida a idéia de ter side visto pelo amado do que por todos oS outros, © a isso preferiria muitas Vezes morrer. £ quanto a abandonar o amado ou no socorré-lo em perigo, ninguém ha to ruim que o proprio Amor nao torne inspirado para’a vir- tude, a ponto de ficar cle semelhante a0 mais generoso de natureza: ¢ sem mais redeios, 0 que disse Homero “do ardor que a alguns herdis inspira o deus”?, eis 0 que © Amor da aos amantes, como um dom emanado de si mesmo, . E quanto a morrer por outro, x60 consentem os que amam, nao apenas os homens, mas também as mulheres, E a esse respeito a filha de Pélias, Alceste??, di vos gregos uma prova 81 Se nfo € ino uma alustio uo bataliio sagrae do dos tebaros, «jue Se notebiliza em Leutras 1371), uns dez anos depois di provavel publi exglio do Pagquete, € pelo menos um indicio de que ever icin ja corria © manda grego, drigi- iria de cklsdes dricas. (NidoT), | BHomero, Made, X82 dF Fnwmn ime pavasioie Ajay, = inenirow-the ardor (a Diomedés} Atena de alas brilhnates: « XV. Pie nee Tamieane dine 2690 ad node assim tendo dito, ingplron am grande anior na pastar de pores (Nida } 3 Camada som Admto, rei de Feres, mt Tessie lia, AAlceste actila morrer em lugar do esposa, quedo os prépriag pais deste se tinham revusa” do a9 sactilicio, Mas pouco depois de sua moc- fe. Hercules, hospedade. por Adimeto ¢ inforens- 46 do deorrkdo, vesce ao Hades ¢ triz Aleesie de volta, Ee tema da hel tragédia de Euripe- os, qué trad © Home di heraian. (N, do T) 13 PLATAO cabal em favor dessa afirmativa. cla que foi a dnica consentir em morrer pela marido, embora livesse este pai € mae, OS guais cla tanto exccdcu na afeiggo do seu amor que os fez apare- cer como estranhos ao filha. ¢ parentes apenas de nome; depois de praticar cla esse ato, tio belo pareceu ele nda sb aos homens mas até 40s deuses que, embora muitos tenham feito muitas agdes belas. foi a um bem reduzido ni- mero qué os deuses concederam esta honra de fazer do Hades subir nova mente sua alma. ao passe que a dela eles fizeram subir, admirados do seu gesto: é assim que até os deuses hon- ram ao maximo o zelo ¢ a virtude no amor. A Orfeu, 0 filho de Eagro, eles o fizeram voliar sem 0 seu objetivo: pois foi um espectto 0 qué eles Ihe mostra- ram da mulher a que vinha, © nio tha deram, por Ihes parecer que cle se acovardava, citaredo que era, ¢ nao ousava por seu amor morrer coma Alceste, mas maguinaya um meio de penetrar vivo no Hades?*, Foi real mente por isso que Ihe fizeram justia, ¢ determinaram que aua, morte ocor. resse pelas mulheres; nao o honraram como a Aquiles, o filho de Tétis, nem 0 enviaram as ifhas dos bem-aventu- rados; que aquele, informado pela mic de que morreria se matasse Heitor, enquanto que se 0 nao matasse voltaria @ patria onde morreria yelho, teve a 34 Nilo éesia evidentemehie # versio comum da Tends, Descanda ao Hades para trazer de volta ‘nun qnerida Euridice, Orfou comeue convencer 6 pedpela Perséfone. raiaha daquele reino, gin Gar aor doces aeentos de sua, miisica, Mak eXtn The impOe uma cond feu mio sieve olhar pata IMs, eaquimto sifo subir A regio dA luz. Ja quase ao: tim da jornada, porém, o rmiisice Guvida di inceridade de Perséfone ¢ olba para tds: logo sua ameida desaparece, © pars seit pre A lembranga comstarte ile Euridize fixz-Ihe esquecer as oulras mulberes que, enciumadas matam-no. (N. do T.) coragem de preferir, a0 socorrer seu amante Patroclo e vinga-lo, nao ape- nas morrer por ele mas sucumbir 4 sua morte; assim € que, admirados a mais nao poder, os deuses exeepcionalmente © honraram, porque em tanta conta ele tinha o amante. Que Esquilo stm divi- da fala A toa, quando afirma que Aqui- les era'amante de Patroclo, cle que cra mais belo nfo somente do que este como evidentemente de que todos os herdis, © ainda imberbe, ¢ além disso muito mais nova, como diz Homer. Mas com efeito, 0 que realmente mais admiram ¢ honram os deuses ¢ essa virtude que se forma cmt torne do amor. portin mals ainda admiram-na & apreciam e recompensam quando é 0 amado que gosta do amante do que quando é este daquele. Bia por que a Aquiles eles honraram mais do que a Aleeste, enviando-o as ilhas dos bem- aventurados, Assim, pois, cu afirmo que 0 Amor é dos deuses o mais antigo, o mais hon- rado e © mais poderose para a aquisi- géo da virtude ¢ da felicidade entre os homens) *. tanto em sua vida como upés sus morte.” De Fedro foi mais ou menos este o diseurso que pronunciou, no dizer de Aristodemo; depois de Fedro houve al- guns outros de que ele nito s¢ lembrava bem, os quais deixou de lado, pas: sando a contar o de Pausanias. Disse este: “Nao me parece bela, 6 Fedro, a maneira como nos foi proposte o dis curso, essa simples prescrigie de um clogio a0 Amor. Se, com eftito, um 96 fosse o Amor, muito bem estaria; na realidade porém, nao é ele um sO; € 38 Coaffontur essa perotngio com o final do uiseurso de Sécrutes, purticularstente. 212a-b © poder do amor, a virwide © & Felicidade thm contedlo ifereots £05.duis discurses. (N00 T-) a © BANQUETE 1s nao sendo um sb, ¢ mais acertado pri- meiro dizer qual o que se deve elogiar. Tentarei eu portanto corrigit este senfio, ¢ primeiro dizer qual o Amor que se deve elogiar, depois fazer um elogio digno do deus. Todos. cam efei- to, sabemos que sem Amer nao ha Affodite. Se portanto uma sd fosse esta, um $6 seria o Amor; como porém so duas, é forgaso que dois sejam também vs Amores. E como ado sic duas deusas? Uma, a mais velha sem divida, nio tem mie ¢ é filha de Uranc? ®, ¢ a ela € que chamamos de Urania, a Celestial; a mais neva, filha de Zeus ¢ de Dione, chamamo-la de Pandémia, a Popular. E forgosa entia que também © Amor, coadjuvante de uma, se chame corretamente Pandé- mio, o Popular, e © outro Uranio, © Celestial. Por conseguinte, é sem duivi- da preciso louvar todos os deudes, mas @ dom que a um ea outro coube deve- se procurar dizer. Tada agae,.com efei to, & assim que se apresenta: em si mesma, enquanto simplesmente prati- cada, nem ¢ bela nem feia. Por exem plo, 6 que agora nds fazemos, beber, cantar, conversar, pada disso em si & belo. mas & na agdo, na maneira coma € feilo, que resulta tal; o que é bela ¢ corretamente feito fica belo. 0 que nao 0-6 fica feio. Assim é que o amare 0 Amor nio é todo ele belo ¢ digne de ser louvado, mas apenas 0 que leva a amar belamente. Ora pois, o Amor de Afrodite Pan- démia = realmente popular e faz 0 que Ihe ocorre; & a ele que os homens vul- gares amam. E amam tais pessoas, primeiramente ndo menos as mulhe- W Heslode, Teogoris, 198-206. Urano fot mu- tilnla por seu fino Zeus, © @ esperma do seu membro viril, ality ao mar, espimou sobre us siguas, donde se formon Afrodite. Em Fla- sietS, nd entanio, ea dewsa E fils de Zeus, € de Dione (Tliges, V, 370), (No T-) tes"? que os jovens, e depois o que neles amam @ maiso corpo que a alma, © ainda dos mais desprovidos de inteli- #8tcia, wade. em mira apenas o efetuar 0-ato, sem s@ preocupar se decente- mente ou nae; dai resulta entdo que eles fazem o que lhes ocorre, tanto 0 que é bom como o seu contrario. Tra, tase com efeito do amor proveniente da deusa que é mais jovem que a outra © que em sua geracdo participa da fEmea ¢ do macho. O outro porém ¢ o dy Urania, que primeiramente nao par- ticipa de fémea mas s6 do macho — ¢ é@ este o amor ads jovens?® — e depois é a mais velha®*, isenta de violéncia; dai ento ¢ que se voltam ao que é masculo os inspirados deste amor, afeignando-se ao que é de natureza mais forte € que tem mais inteligencia. E ainda, no préprio amor aos jovens poder-se-iam reconhecer os que estado movidos exelusivamente por ess Lipo de amor*?; nao amam eles, com efeito, Os meninos, mas os que ja comegam a ler juizo, 0 que se da quando Ihes vem chegando as barbas. Estio dispostos, penso eu, oO que comegam desse ponto, a amar para acompanhar toda a vida € yiver em comum, ¢ nao-a enga- nar ¢, depois de tomar o jovem-em sua inocéncia ¢ ludibria-lo, partir A procu- ra de outro. Seria previso haver uma lei proibindo que se amassem os meninos, n fim de que ndo se perdesse na incer- teza tanto esforgo: pois € na verdade incerto o destino dos meninos, a que ponte do vicio ou du virtude eles che- 51 Confrontar com 208 e. onde Socrates encon- tea 0 grande sentido do amor normsl # mulber, agui_especiosimente confundide como © tipo jaferior dO amor. (N,daT,) 22 Muitos editorss consideram esta frase’ uma gloss, (N. do.T.) 3a velbice domina’a illo, Daf € que o« amantes desig amor peatarary ot que If come- gam a ter juleos.. (Modo T), |Contruntar com 210-b. A progresio do mde, segundo Diotima, exige que 9 amonte argue @ amor violento de ura 38, (N.do'T-} 6 PLATAO gam em seu ¢orpo e sua alma. Ora, se os bons amantes a si mesmos se impdem voluntariaments esta lei, de- via-se também a estes amantes popula- res obripé-los a lei semethante, assim como, com as mulheres de eondigao livre??, obrigamolas na medida do Possivel @ nao manter relagGes amoro- sas. Sie estes, com efeito, os que justa- mente criaram o descrédito, a ponta de alguns ousarem dizer que & vergonhoso © aquiescer aos amantes; ¢ assim o dizem porque so estes os que cles consideram, vendo o seu despropésito @ desregramento, pois nfo ¢ sem divi da quando feito com moderagdo e forma que um ato, seja qual for, incor- reriaem justa censura. Alias, a lei do amor nas demais cidades @ facil de entender. pois ¢ sim- ples a sua determinacao: aqui*® porém ela é complexa. Em Elida, com efeito, na Lacedemonia, na Bodcia, ¢ onde no se saiba falar, simplesmente se estabeleceu que é belo aquiescer aos amantes, ¢ ninguém, joven ou velo, dirin que é feio, a fim de nao terem difi culdades, creio eu, em tentativas de persuadir os jovens com palavra, incapazes que sao de falar: na Jénia, porém, © em muita’ outras pares & tida camo feio, por quantos habitam sob a influéncia dos barbaros. Entre os barbaros, com efeito, por causa das tiranias, é uma coisa feia esse amor, justamente como © da sabedoria © da ginastica *?; € que, imagino, nao apro- 41 sto €, no exeravas, (N, do'T:) 42.08 meanuseritos truzem a expresso “e na Lagectemdnin™ depois de “nani”, que aio eon- vorda com a notiria tendé dos lacedemd- nigs no homoviexualisme, (N.do°T.) AS Obscevar a expresda gregs correspoadente (C hwesla sal} goirigran® _) @ lembrar que os eindsies cram dos locals prediletos de ‘Sdrawa fet, a Introd. du Cairmiges, Lists, Lawes, ec). (N GOT) veita aos seus governantes que nascam grandes id¢ias entre os governadas, nem amixades e associagdes inabala- veis, 0 que justamente, mais do que qualquer outra evisa, costuma o amor inspirar. Por experiéncia aprenderam isto os tiranos** desta cidade: pois foi a-amor de Aristogitda ¢ a amizade de Harmédio que, afirmando-se, destrui- ram-lhes © poder. Assim, onde se esta- beleceu que é feio o aquiescer aos amantes, é por defeito dos que 0 esta- beleceram que assim fica, gragas A ambigdo dos governantes e a covardia dos. governados; ¢ onde simplesmente se determinou que € belo. foi em conse qiincia da inércia dos que assim estabeleceram. Aqui porém, muito mais bela que estas a norma que se instituin e, como cu disse, nao é facil de entender. A quem, com efeito, tenha considecado* ® que se diz ser mais belo amar claramente que as ocultas, e sobretudo os mais nobres ¢ os melho- fes, embora mais feios que outros; que por auiro lado o encorajamento dado. por lodos aos amantes é extraordindrio e nao como se estivesse a fazer algum ato fio, ¢ se fez ele uma conquista pa- rece belo © seu ato, se nao, parece feio; ¢ ainda, que em sua tentativa de - quista deu a ei ao amante a possibili- dade de ser louvado na pratica de atos AV Hipkes © Hipareo, filhos de Pisitrato, Numa primeirs, conspiragio em. 514, Por Motives pesroals, Hipareo fe enguanto Arméuio. morrin na lula © seu com: panheino Aristogitio era condenade |. morte, ‘Quatro anos depois Hipias perdi o poder, vi sma de uma rova consplragio (W. Tocidides. ¥1, $3), (N.doT) 43 Ey subordinada, inicianda um longo perio: do, nio tem seqlifncks Wglea cam a soa princi pel, formulada em 1B%e (Poder-se-ia pensar Aue, .): Memo & caste da starcza, proferimos vonservar a mesma erticutayio qumpia © irreeu- Jat, @ fim Ge permitir uma melhor apreciagto do" esti Go discurso, geruimente apontado some wine parddis Ge Isdcrates. (do 1.) O BANQUETE ny extravagantes, os quais se alguém Ousasse cometer em vista de qualquer gute ebjetivo © procurando fazer qualquer outra coisa fora isso, colheria a8 maiores censuras da filosofia* * — pois se, querenda de uma pessoa ou ‘obter dinheiro ov assumir um coman- do ou conseguir qualquer outro poder, consentisse alguém em fazer justa- mente o gue faxem os amantes para com 9s amados, fazendo em seus pedi- dos stiplicas e prostemagdes,¢ em suas Juras protesiando deitar-se a5 portas, ¢ dispondo-se a subservignelas a que sé nao sujeitaria nenhum servo, seria impedido dé agir desse modo, tanto pelos amigos como pelos inimigos, uns incriminando-o de adulagdo ¢ indigni dade, outros adtoestanda-o ¢ envergo- nhandovse de tais utos — 20 amante porém que faga tudo isso acresee-the a graca, ¢ Ihe é dado pela fei que ele 0 faga sem descrédita, como se estivesse Praticando uma agéo belissima; ¢ 0 mais estranho & que, como diz 0 povo, quando ele jura, s6 ele tem o perdio dos deuses se perjurar’ pois juramento de amor dizem que nao é juramento, € assim tanto 0s deuses como os homens deram toda liberdade 40 amante, como diz a lei daqui — por esse lado entio poder-seia pensar que se considera inteiramente belo nesta cidade nao x60 fato de ser amante como também o serem os amadas amigos dos amantes. ‘Quando porém, impondo-thes. um pe dagogo*?, os pais aio permitem aos 48 Por que da filosnfin? Virios cfitivos tenta- ram corrigir essa ligSo das mss, Rurnot apSs-Ibe 9 dhelo de suspeitn, No entanta, nia so. deve entender & palnvra no su conceito platénico, ‘mas amtes. na avepeia menos esnecifica de cul- tura superior, tal como, por exemplo, 4 enten- dig Isderates, um saber pritico que intra saire cutras soisas 0 conhecimento dis biex normes do cidadiia, (N. 60 T.) 47 E 0 eseravo encarrezado de icompanhir 3 jovens & pulestra © & escola. (Ny do T.) amados que conversem com os aman- tes, ¢ a0 pedagoge é prescrita essa ordem, ¢ ainda os camaradas ¢ amigos injuriam se véem que tal coisa esta ocorrenda, sem que a esses injuria- dores detenham os mais velhos ou os censurem por estarem falando sem averto, depois de por sua vez atentar a tudo isso, poderia alguém julgar wo comtrario que se considera muito feio aqui esse modo de agir. O que ha porém é, a meu ver, o seguinte: nao & isso uma coisa simples, © que justa mente se disse desde o comego, que nda é em sie por si nem belo nem feio, mas se decentemente praticada ¢ belo, se indecentemente, feio. Ora. & inde- centemente quando é a um mau e de modo mau que se aguiesce, ¢ decente- mente quando 6 a um bom e de um medo bom. E é mau aquele amante popular, que ama © corpo mais que a alma; pois ndo é cle constante, por amar um objeto que também nao & constante**, Com efeita, ao mesmo tempo que cessa 0 vigo do corpo, que era o que cle amava, “alga cle © seu voo"*®, sem respeito a muitas palavras € promessas feitas. Ao contrarios o amante do carter, que ¢ bom, é cons- tante por teda a vida, porque se fundia com o que é constante, Ora, siio esses dois tipos de amantes que pretende = ‘nossa lei provar bem ¢ devidamente, ¢ que a uns se aquiesgae dos outros se fuja. Por isso & que uns ela exorta a perseguir © outros a evitar, arbitrando ¢ aferinde qual ¢ porventura 0 tipo do amamte ¢ qual o do amaco, Assim € que, por esse motivo, primeiramente © se deixar conquistar é tida como feio, a a¥ Umma Jongingua untceipagio da idéla desen- volvida plenaunerie em 207d: WEXpresto homericn (Mia, fs Cieitos, @ soni. persone, Agamenio. (N. do'T:) gee Weio a 18 PLATAO fim de que possa haver tempo, que bem parece 0 mais das vezes ser uma exce- lente prova; © depois o deixar-se con- quistar pelo dinheire 2 pelo prestigio polities € tido como feio, quer a um mau [rato nos agsustemos sem reagir, quer beneficiados em dinheiro ou cm sucesso politico ndo os despreremos: nenhuma dessas vantagens, com efeito, parece firme ou constantc, afora o fato de que delas nem mesmo se pode deri- var uma amizade nobre. Um 3 cami- nho entiio resta 4 nossa norma, s¢- deve © bem-amado decentemente aquiescer a0 amante. E com efeiio norma entre nos que, assim como para as amanies, quando um deles se presta a qualquer servidao at amado, nao é isso adula- gio nem um ato censuravel, do mesmo modo também 36 outta tinica servidao volunLaria resta, nao sujeita a censura: a que se aceita pela virtude. Na verda- de, estabeleceu-se entre nos que, se alguém. quer servir a um outro por jul gar que por ele se tomara melhor, ou em sabedoria ou em qualquer outra espécie de virtucle, também esta volun- taria servidao nao é feia nem é uma adulagio ®®. £ preciso entie cangragar flum mesmo objetivo ¢ssas duas nor- mas, a do amor aos jovens ¢ a do amor ao Suber © as demais virtudes, se deve dar-se 0 caso de ser belo o aquiescer o amado ao amante. Quando com efeito ao mesmo ponto chegam amante ¢ amado, cada um com a sug norma, um servindo ao amado que Ihe aquiesce, em tudo que for justo servir, ¢ ¢ outro ajudando ao que o esta tormando sabio ¢ bom, em tudo que for justo ajudar, o primeiro em condigdes de contribuir para a sabedoria ¢ demais virtudes, o 30 Todo ¢8ie Wetalhe dos felis do amar ¢ ao mesmo tempo caraterivico do realimy pri tico de Pausinias ¢ revela o que para ele é tan bem

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