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Ijuí (RS)
2016
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Ijuí (RS)
2016
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
This working monographic research aims to examine the role of the Public Defender, which is
for the effectiveness of the provision of legal services in the implementation of access to justice
hyposufficient. Ensures thus the right to legal defense to all who enter the judicial demand,
whether to require medication, vague school day care or defense of diffuse interests of a
collectivity. Search, therefore, to analyze the performance of the Ombudsman in defending the
realization of social rights to health and education as well as its strengthening after the
Constitutional Amendment. 45/2005, the so-called Judicial Reform. Addresses is also aspects
relating to the guiding principles of the Public Defender, expressed in its activities, as well as
the prerogatives and constraints inherent to the function they perform. Finally, it is an analysis
of specific cases that can demonstrate that the legal claims of the Public Defender's Office are
located in the areas of health and education, and have made it possible that social inequalities
do not become barriers to access to justice. It is argued also that the EC n. 45/2004 assured
legitimacy to the filing of public civil action, which represents a significant advance, since its
operations are directed to diffuse and trans-interests of unprotected and deprived community of
minimum conditions to live with dignity and decency.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 8
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 46
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 48
ANEXO .............................................................................................................................. 51
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INTRODUÇÃO
A Defensoria Pública, como se pretende abordar com mais detalhes ao longo deste
estudo, tem a função jurisdicional de atuar em prol dos necessitados numa relação jurídica,
proporcionando aos indivíduos o acesso à justiça de forma igualitária e com a assistência
judiciária gratuita.
O Estado, ao mesmo tempo em que deve assegurar aos cidadãos os seus direitos
fundamentais, deve também possibilitar a sua defesa e o acesso à justiça, por meio da atuação
de instituições fortes e essenciais, como a Defensoria Pública e o Ministério Público.
Dessa forma, a Defensoria Pública tem o papel de guarnição dos direitos dos
hipossuficientes frente à Justiça, devendo atuar para o bem da sociedade e em prol do cidadão
necessitado judicialmente, visto que é primordial a aplicabilidade dos princípios constitucionais
sobre o acesso à justiça, assegurando o direito e o seu exercício em prol da sociedade.
Demonstram, ademais, que são a base de sustentação da aplicabilidade das normas, as quais
servem de garantia para o indivíduo.
Por outro lado, a pesquisa constitui-se num estudo exploratório, pois são utilizados
livros, textos e artigos da Internet. Na sua realização emprega-se o método de abordagem
hipotético-dedutivo, por intermédio de pesquisas bibliográficas e de documentos afins à
temática, em meios físicos e on-line, interdisciplinares, capazes e suficientes para construir um
referencial teórico coerente sobre o tema em estudo. Assim, é possível responder ao problema
proposto, corroborando ou refutando as hipóteses levantadas a fim de atingir os objetivos
propostos pela pesquisa.
O estudo está composto por dois capítulos, sendo que no primeiro é abordada a análise
histórica da Defensoria Pública e a sua evolução no Brasil ao longo do tempo, detalhando as
modificações na Constituição de 1934 até a Constituição de 1988, a importância da Defensoria
em prol dos necessitados e a assistência jurídica integral gratuita, bem como o fortalecimento
da Defensoria Pública pelas Emendas Constitucionais 45/2004 e 80/2014.
Ademais, a Lei Complementar n° 132/2009, ao alterar a redação do art. 3º, letra “A”, da
lei supracitada, incluiu os objetivos da Defensoria Pública, quais sejam:
Pode-se afirmar, então, que o artigo supracitado está em consonância com o art. 5º, inc.
LXXIV, e com os objetivos da CF/88, e garante a prestação da assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Com isso, e de acordo com Uadi
Lammêgo Bulos (2009, p 79), a Lex Mater pretendeu assegurar aos necessitados a assistência
na defesa de seus interesses em juízo. Para Alexandre Freitas Câmara (2004 apud BRANDÃO,
2011, grifo do autor), ao assegurar a assistência jurídica integral e gratuita, a CF/88 a insere na
categoria das garantias fundamentais, proporcionando a eficaz defesa da cidadania.
Observa-se que o acesso à justiça tem sido garantido, notadamente, pela Defensoria
Pública, instituição essencial à jurisdicional do Estado que, conforme a CF/88, é um dos
mecanismos de que o Estado dispõe para a defesa em todos os graus e gratuitamente dos
necessitados. Em outras palavras, a Defensoria Pública é a instituição dedicada a fazer com que
o acesso à justiça, de forma democrática, chegue a todos, em cumprimento ao princípio
republicano.
Entende-se que a Defensoria Pública e a assistência judiciária no Brasil têm sua origem
relacionada à colonização portuguesa que, segundo Fábio Luís Mariani de Souza (2011, p. 38),
É inegável que no Brasil sempre houve certa carência de tal aplicabilidade, no entanto,
sua origem era de caráter religioso e com a criação da Ordem dos Advogados do Brasil, a partir
de 1930, ampliou-se como uma profissão obrigacional de classe, sem, no entanto, ter algum
vínculo ou dever estatal (SOUZA, 2011, p. 39).
Não se pode deixar de mencionar o art. 5º, LXXIV, da CF/88, que dispõe que o Estado
prestará assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos,
porquanto a Defensoria Pública tem procurado, na medida do possível, dar conta das demandas
dos hipossuficientes.
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Sabe-se, contudo, que o Estado não tem atendido aos interesses dos necessitados no que
se refere à saúde e educação, cabendo à Defensoria Pública ingressar com ações em defesa da
criança e do adolescente, dos idosos e dos necessitados, haja vista que o acesso à justiça
possibilita a defesa de todos aqueles que se encontram em estado de vulnerabilidade, com
gratuidade, isenção do recolhimento de custas, emolumentos ou honorários periciais.
Deve-se ainda referir que no Brasil a assistência jurídica pública, estatal e gratuita aos
desfavorecidos adquiriu status de garantia constitucional expressa com a atual Constituição
Federal ao prescrever que os necessitados devem ser atendidos pela Defensoria Pública,
considerada a Casa da Cidadania, instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado. Incumbe-lhe, portanto a defesa, em todos os graus, dos direitos individuais e coletivos
dos necessitados.
O que se percebe, em última análise, é que onde houver respeito pela vida e pelos
direitos fundamentais haverá espaço para a defesa dos necessitados.
revela que em 1694 a.C. o Código de Hamurabi determinava tratamento especial àqueles que
se encontravam em situação desprivilegiada. Em seus estudos, Emanuel Bouzon (2003, p. 86)
transcreve o § 48, inc. XIV do referido Código, que trata dessa questão:
Se um awilum tem sobre si uma dívida e (se) Adad inundou seu campo ou a
torrente (o) carregou, ou (ainda) por falta de água, não cresceu cevada no
campo, nesse ato ele não dará cevada ao seu credor. Ele umedecerá a sua tábua
e não pagará os juros desse ano.
Não é muito fácil tratar da Defensoria Pública nos períodos que antecedem a
Constituição Federal de 1988. Pode-se afirmar, inclusive, que a questão da Defensoria Pública
e da assistência judiciária no Brasil teve como limite a Carta Magna de 1988.
Neste cenário a Constituição Federal de 1934, no Título III, Capítulo II, art. 113, n. 32,
fazia menção ao direito de acesso gratuito à Justiça: “A União e os Estados concederão aos
necessitados assistência judiciária, para esse efeito, órgãos especiais, e assegurando isenção de
emolumentos, custas, taxas e selos.”
Não é por menos que Humberto Peña Moraes e José Fontenelle Teixeira Silva (1984, p.
98) afirmam que “desde a Constituição de 1934, os municípios foram excluídos da competência
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para legislar sobre assistência judiciária e sobre a criação dos órgãos mencionados. Situação
esta que permanece até hoje.”
Percebe-se, então, que foi em nesse período que a Defensoria Pública recebeu destaque,
mas ante a curta duração da Constituição de 1934 (durou apenas três anos) e a entrada em vigor
de uma Constituição ditatorial, a instituição foi novamente relegada a segundo plano.
Não se pode deixar de comentar que foi em 1939, com a promulgação do Código de
Processo Civil, que a assistência judiciária passou a ser contemplada no Título VII, Capítulo II,
com as regras básicas sobre Justiça Gratuita, sem que fosse mencionada na Constituição de
1946 e 1967.
Em 1950 surgiu a Lei 1.060, que dispõe sobre a concessão da assistência judiciária aos
necessitados (na verdade diz respeito às regras da justiça gratuita), que até a presente data se
encontra em vigor. Interessante esclarecer, então, que segundo o art. 2º, parágrafo único da Lei
1.060/50, a definição legal de necessitado é: “todo aquele cuja situação econômica não lhe
permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento
próprio ou da família.”
Cabe ressaltar que a partir desse marco histórico, que fez com que o acesso à justiça
alcançasse aos necessitados, deixando mais flexível a propositura do vulnerável frente ao
judiciário, esta pretensão foi muito além do Estado prestar tutela jurisdicional, fazendo com que
também viabilizasse o acesso à justiça.
É sabido que a partir da Constituição Federal de 1988 nasceu uma nova ordem estatal,
findando o Estado Democrático de Direito e fortalecendo a democracia e a cidadania, com
vistas a uma sociedade igualitária.
Para maior amplitude foi inserido no art. 5º, inc. LXXIV da CF/88, a prestação da
assistência jurídica integral e gratuita e não apenas a assistência judiciária gratuita. É notável
que a Constituição em vigor proporcione a fundamental aplicação dos direitos sociais básicos,
visivelmente concretizados, o que nas Constituições anteriores não era visto.
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A defesa dos necessitados vem de longo prazo, não é de hoje que se enfrentam grandes
lutas para a implantação de um sistema de jurisdição mais simples, célere e transparente. Nesse
rumo, Souza (2011 p. 96) sustenta que:
que a ele recorrem e, mais ainda, aos revéis e aos que não constituíram
advogados para a defesa dos seus direitos indisponíveis. E o faz como
corolário da supremacia da soberania popular sobre o poder do Estado, que
dela deriva, instrumentalizando, assim, o pleno exercício dos direitos
fundamentais da cidadania à esmagadora maioria da população e superando,
pela via institucional, a desigualdade social de oportunidades dadas a seus
assistidos em relação aos possuidores de fortuna material.
A CF/88 deixa claro que a Defensoria Pública tem o dever e não a faculdade de dar
atendimento aos necessitados quando estes a procurarem para a defesa de suas demandas. A
atuação da Defensoria Pública, no entanto, depende do orçamento do Poder Executivo, mesmo
que a CF/88 apresente no art. 134, §§ 1º e 2º, que “às Defensoria Públicas Estaduais são
asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária
dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias [...]”, o que significa que a
elas são impostas algumas limitações circunstanciais.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, por sua vez, no seu art. 1º,
estabelece que os homens nascem iguais e permanecem iguais em direitos. Quando surgiram,
porém, no ano de 1789, o seu objetivo era abolir privilégios e isenções pessoais e regalias de
classes, configurando-se apenas a igualdade jurídica e formal, o que provocou a desigualdade
econômica (NEDER, 2002, p. 6).
21
Não se pode supor que o princípio da igualdade, nos termos do art. 5º da CF/88, caput,
visa apenas à igualdade perante a lei, haja vista que numa análise simples dos incisos que o
complementam observa-se a existência de dispositivos que tratam da igualdade material.
Conforme Neder (2002, p. 6), ao interpretar as normas constitucionais entrelaçadas deve-se
levar em conta “[...] as exigências da justiça social, objetivo da ordem econômica e da ordem
social [...].” Ou seja, a implementação e a concretização do direito à igualdade e respeito a todas
as pessoas em sua dignidade é um dos objetivos a serem alcançados pelo Estado Democrático
de Direito.
A tese abordada nada mais é que o princípio basilar do ordenamento jurídico, sendo que
essa questão se projeta no Estado Democrático de Direito em vista da vulnerabilidade do
cidadão frente ao poder estatal. Nesse aspecto, a Defensoria Pública assume um papel
preponderante, pois objetiva promover a dignidade do indivíduo necessitado, resguardando os
seus direitos fundamentais e efetivando-lhe o acesso à justiça.
Há, contudo, uma íntima ligação entre a Defensoria Pública e o princípio da pessoa
humana, que é o bem protegido pela Lei Maior. Nesse sentido afirma Souza (2011, p. 95):
Por outro lado, a Defensoria Pública, no que tange à prestação jurisdicional aos
necessitados, o faz com base no fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana,
23
que nada mais é do que a condição humana do homem – algo real, vivenciado pelo próprio
indivíduo, e que exige o mínimo existencial para sua sobrevivência. Em outras palavras, é a
garantia da igualdade material entre os cidadãos que, segundo Ingo Wolfang Sarlet (2006, p.
114, grifo nosso), nada mais é do que
Neste contexto, Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo
Gonet Branco (2008, p. 260-261) consideram que:
Importa, contudo, ter presente a percepção de que o Estado, enquanto responsável pela
tarefa de prestação dos direitos fundamentais sociais, como por exemplo, a saúde e a educação,
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não pode desconsiderar que “[...] a dignidade da pessoa humana reclama que este guie as suas
ações tanto no sentido de preservar a dignidade existente, quanto objetivando a promoção da
dignidade, especialmente criando condições que possibilitem o pleno exercício e fruição da
dignidade [...].” (SARLET, 2006, p. 47).
O que se percebe, em última análise, é que onde houver respeito pela vida e pelos
direitos fundamentais haverá espaço para a defesa dos necessitados. As Emendas
Complementares 45/2004 e 80/2014 vieram fortalecer essa defesa, como consta no item a
seguir.
Neste cenário, a Defensoria Pública surge como uma instituição permanente, essencial
à função jurisdicional do Estado, cujo advento está na Emenda 45/2004 – Reforma do
Judiciário, não deixando margem para dúvidas do seu fortalecimento, ampliando suas
atribuições em defesa do regime democrático e da promoção dos direitos humanos e da
dignidade humana.
1
Emenda Constitucional é a modificação de um texto da Constituição Federal que busca aprovação pela
Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em votação nominal, por três quintos dos votos dos
membros de cada casa legislativa. Ela está autorizada no art. 60 da CF/88, e se constitui na forma
legítima e secundária de alterar as disposições constitucionais vigentes (SILVA, 2011).
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Interessante observar que essa Emenda, com o intuito de atender aos anseios da
Defensoria Pública, acrescentou o § 2º no art. 134, prevendo que: “Às Defensorias Públicas
Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação
ao disposto no art. 99, § 2°.” Compreende-se daí, de maneira pontual, que a referida Emenda
possibilita um avanço muito significativo para a Instituição.
Ainda sobre a autonomia administrativa, assevera Fernando Capez (2004, p. 198) que:
Essa autonomia, portanto, não apenas trouxe a possibilidade de agilização nas decisões
internas referentes à sua estruturação, mas concedeu à Defensoria Pública (DP) a
discricionariedade2 necessária para desenvolver suas ações, sem que tivessem que ser
ratificadas pelo Poder Executivo.
2
Discricionariedade: liberdade de ação administrativa, dentro dos limites permitidos em lei, ou seja, a lei deixa
certa margem de liberdade de decisão no caso concreto, de tal modo que a autoridade pode optar entre as várias
soluções possíveis, todas válidas perante o direito (DI PIETRO, 2015, p. 256).
28
Por derradeiro, o estudo trata da inclusão da Defensoria Pública como órgão legitimado
para a propositura da ação civil pública, aprimorando, dessa forma, o Sistema de Justiça
brasileiro.
Pode-se ressaltar, ainda, que o princípio institucional da unidade tem sede constitucional
no próprio caput do art. 134 da CF/88, uma vez que tal norma assim expressa:
Diante dessas afirmações pode-se concluir, sem sombra de dúvida, que a Defensoria
Pública se constitui numa instituição única em sua estrutura, pois a unidade funcional ocorre
no âmbito nacional e estadual, o que significa que entre os defensores públicos pode ocorrer
substituição entre os membros sem que ocorra prejuízo para os assistidos.
A respeito desse princípio ensinam Cleber Francisco Alves e Marília Gonçalves Pimenta
(2004, p. 112) que “a Defensoria Pública é um todo orgânico, sob a mesma direção, os mesmos
fundamentos e as mesmas finalidades.” Na verdade os autores estão enfatizando que em
decorrência da unidade todos os defensores agem em nome da Instituição e seus membros a
presentam e não representam.
A indivisibilidade significa tudo aquilo que não pode ser dividido, sendo que
o adjetivo indiviso tem o sentido de que pertence ao mesmo tempo a vários
indivíduos. A Defensoria Pública pertence aos Defensores Públicos e aos
assistidos, e a sua razão de ser consiste no fato de que as suas normas
fundamentais e o funcionamento de seus órgãos não podem sofrer solução de
continuidade. Uma vez deflagrada a atuação do Defensor Público, deve a
assistência jurídica ser prestada até atingir o seu objetivo, mesmo nos casos
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Dessa forma, ressalta-se que existe uma perfeita harmonia entre a Defensoria Pública e
os defensores públicos, de modo que o agir de um representa a própria atuação do outro, pois
como bem lembra Guilherme Peña Moraes (1999, p. 174), “a Defensoria Pública consiste em
um todo orgânico não sujeito a rupturas ou fracionamentos.” Na verdade, esse princípio permite
que seus membros substituam uns aos outros, conforme já exposto anteriormente, a fim de que
a prestação jurisdicional aconteça de forma contínua e não deixe os necessitados sem a devida
assistência (MORAES, 1999).
Para corroborar o exposto, Silvio Moraes (apud SOUZA, 2011, p. 156) define com
precisão esta questão:
Segundo Frederico Rodrigues Viana de Lima (apud SOUZA, 2011, p. 163), “elas não
existem para servir como ocupante do cargo, mas sim para que ele esteja munido de um aparato
ideal para desempenhar as funções que foram cometidas”, destinadas a assegurar que a função
pública seja exercida de forma eficiente, responsável e impessoal.
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Com relação aos impedimentos dos defensores públicos, a CF/88, no seu art. 134,
remete aos mesmos impedimentos relativos aos membros do Poder Judiciário e do Ministério
Público. Nesta esteira, após ter analisado os direitos, prerrogativas e impedimentos dos
defensores públicos é imprescindível não esquecer que o texto constitucional defere a esses
defensores garantias que servem para assegurar o exercício das atividades funcionais, uma vez
que a instituição da Defensoria Pública necessita de proteção para desenvolver, no dia a dia
forense, sem pressão, a sua ação voltada às minorias.
Esclarece Frederico Rodrigues Viana de Lima (apud SOUZA, 2011, p. 162) que: “as
garantias divergentes das prerrogativas são ligadas à pessoa e não ao cargo. Ambas, contudo,
atendem ao mesmo propósito: propiciar o cumprimento idôneo e escorreito das funções
institucionais”, que são fundamentais porque contribuem para o desempenho das atividades
com liberdade e autonomia.
Art. 127. São garantias dos membros da Defensoria Pública do Estado, sem
prejuízo de outras que a lei estadual estabelecer:
I – a independência funcional no desempenho de suas atribuições;
II – a inamovibilidade;
III – a irredutibilidade de vencimentos;
IV – a estabilidade.
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Essas diferenças podem comprometer a atuação funcional dos defensores públicos, mas
se sabe que a Instituição está consolidada no Estado brasileiro e já ganhou respeito da
população, pela sua atuação voltada aos interesses dos necessitados e em constante luta em
defesa da sociedade, instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado.
Isso implica afirmar que, na atualidade, a Defensoria Pública não tem como objetivo
apenas realizar atendimento aos hipossuficientes, tendo em vista que a EC 80/2014 inovou o
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cenário legislativo brasileiro quando reconheceu a legitimidade ampla dessa instituição para
propositura da Ação Civil Pública (ACP). A partir da reforma do Poder Judiciário houve a
inserção da Defensoria Pública como legitimado para a propositura da ACP, transpondo para o
plano infraconstitucional o seu novo perfil constitucional, conforme a EC 45/2004.
Frente a essa questão, a Lei n. 11.448/2007, que modificou a lei de Ação Civil Pública,
reconhece a importância do papel da Defensoria Pública para a sua propositura, como resultado
do novo perfil dessa Instituição. Além de ser um instrumento do regime democrático e de
orientação jurídica aos necessitados, a Defensoria Pública possui a autonomia de agir na
proteção dos direitos dos indivíduos e grupos sociais necessitados (econômicos e
organizacionais), conforme preconiza o art. 134 do texto constitucional.
Ressalta-se que este diploma legal, ao incluir a Defensoria Pública no seu rol de
legitimados para a propositura da ACP, não limita a atuação da Instituição, podendo seus
membros atuarem em qualquer matéria tratada na Lei n. 7.347/85, haja vista que sua atividade
é essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, também, da “[...] promoção dos
direitos humanos e a defesa em todos os graus, judicial e extrajudicial dos direitos individuais
e coletivos, de forma integral e gratuita aos necessitados, assim considerados na forma do inciso
LXXIV do art. 5º da CF/88.” (FENSTERSEIFER, 2015, p. 92).
37
Destaca-se, porém, que a ACP, ao ser proposta pela Defensoria Pública, possibilita o
atendimento dos interesses dos menos favorecidos, uma vez que os direitos difusos não
pertencem apenas a alguns indivíduos, mas a toda coletividade.
Para corroborar o exposto, Fredie Diddier Júnior e Hermes Zaneti Júnior (apud
FENSTERSEIFER, 2015, p. 95) pontuam que “não é necessário, porém, que a coletividade seja
composta por pessoa exclusivamente necessitada, se fosse assim, a Defensoria Pública estaria
excluída da legitimação para a tutela de direitos difusos, que pertencem a uma coletividade de
pessoas indeterminadas.”
Por outro lado, não se pode deixar de referir que a questão da legitimidade do Ministério
Público para a propositura da ACP abrange também aspectos referentes aos direitos do
consumidor, bem como para regular a execução da pena na medida de segurança nos processos
de Execução Criminal, tratando-se da importante inovação legislativa que vem contribuir para
consolidar a legitimidade da Defensoria Pública. Destaca-se, ainda, o Estatuto da Criança e do
Adolescente e o Estatuto do Idoso que, mesmo não estando atualizado no aspecto de legitimar
a Defensoria Pública para propor a ACP, configuram como sua atribuição, como dispõe o art.
4º da LC 80/94, in verbis:
Assim, destaca-se que o STJ, no REsp 1.106.515/MG, 1ª T., Re. Min. Arnaldo Esteves
Lima, j.2-2-2011, reconhece a legitimidade da DP, não apenas para promover a ACP, mas
garantir o acesso à justiça, direito fundamental, inscrito no art. 5º da CF/88.
individual homogênea como, por exemplo, quando se refere ao direito à saúde, direito
individual, indisponível, que visa proteger a vida e a dignidade.
Ressalta-se a necessidade de analisar, ainda que de forma breve, alguns casos concretos
que demonstram o quanto essa instituição está preocupada em promover a assistência jurídica
e, principalmente, assegurar o acesso à justiça a todos os necessitados para a tutela dos direitos
fundamentais.
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Neste sentido, Mariana Filchtiner Figueiredo (2007, p. 196) esclarece que: “[...] a noção
do mínimo existencial pressupõe a garantia de condições mínimas de vida humana digna,
normalmente pelo fornecimento de prestações sociais materiais.”
Justifica-se, assim, a entrega de prestações materiais pelo Estado, referentes aos direitos
fundamentais sociais, ora entendidos como o direito à saúde e à educação, os quais são objeto
de tutela judicial quando não atendidas pelo Estado.
2.3.1 Ação Civil Pública relativa ao número de vagas em escolas municipais – Caso 1
Cabe destacar que a atuação da Defensoria Pública da comarca de Ijuí tem se mostrado
firme e voltada aos interesses das crianças e dos adolescentes, dos idosos e também dos
necessitados. Dessa forma, em sede de ACP, a Defensoria Pública postula o cumprimento da
prestação material da área educacional, qual seja, garantindo o atendimento em creche ou pré-
escola às crianças de zero a cinco anos de idade, com absoluta prioridade, nos termos do art.
208, IV, da CF/88, in verbis:
Tal como se pode verificar, a posição do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
(TJ/RS) vem deferindo em ACP’s e Ações Coletivas o cumprimento pelo ente público
municipal do provimento de vagas em creches, uma vez que, “[...] direito à educação infantil
constitui direito fundamental social, que deve ser assegurado pelo ente público municipal.”
(grifo do autor).
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Constata-se, assim, que não há mais discussões referentes ao tema “vaga em creches
infantis em escolas”, uma vez que o posicionamento do TJ/RS é de que a educação infantil é
obrigação do município, e que as alegações de possível reserva orçamentária não podem se
sobrepor aos direitos humanos fundamentais.
O caso a seguir desenvolvido diz respeito ao pedido de medicamentos que não constam
na listagem da Gestão Básica do Sistema Municipal de Saúde, mas que em sede de Ação
Cautelar, o Juízo Monocrático deferiu o seu cumprimento pelo município de Coronel Barros a
um cidadão – paciente daquele município. Obviamente que o município recorreu da decisão e
interpôs Apelação Cível contra a sentença que julgou procedente o pedido, “[...] para condená-
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A ementa da decisão que se colaciona a seguir refere-se a uma Apelação Cível que
tramita na 3º Vara Cível de Ijuí, sob nº 70057776411(nº CNJ: 0502268-09.2013.8.21.7000),
tendo no pólo passivo o município de Coronel Barros e no pólo ativo Cesar Luis Port.
Evidencia-se, assim, que mais uma vez a Defensoria Pública cumpriu seu papel, atuando
em defesa dos interesses dos hipossuficientes, resguardando a dignidade humana, que em
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virtude da má gestão estatal, seja por parte da União, do Estado ou do Município, não pode ficar
no aguardo de políticas públicas ou ações mais consistentes que minimizem o seu sofrimento.
Nas decisões analisadas fica muito claro que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul e os Tribunais Superiores já têm uma posição sedimentada quanto a ações de medicamentos
e vagas em creches escolares, ou seja, independente das competências previstas na legislação
infraconstitucional, sobrepõem a elas, sem sombra de dúvida, a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), que traz a dignidade da pessoa humana como um de seus
fundamentos, acima de tudo e de todos.
Por derradeiro, não há o que se discutir quando estão em jogo os direitos fundamentais
sociais, uma vez que esses gozam do mesmo status de norma constitucional como os demais
direitos fundamentais, e “exigem do Poder Público uma atuação positiva, uma forma atuante
de Estado na implementação da igualdade social dos hipossuficientes”. Esses direitos,
consoante doutrina de Silva (2011, p. 189), “possibilitam melhores condições de vida aos
mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais e a
melhorar as condições de sobrevivência digna e decente.”
2.3.3 Ação ordinária contra a Fazenda Pública com liminar: inclusão de infante em escola
de educação infantil (creche) na rede pública municipal
Ora, percebe-se que as posições dos magistrados de primeiro grau estão de acordo com
a posição dos tribunais superiores, na qual há firme orientação jurisprudencial, ou seja: “[...] o
acesso ao ensino infantil em creche e pré-escola é direito da criança constitucionalmente
assegurado, que deve ser garantido pelo município com absoluta prioridade as crianças de zero
a seis anos.” (IJUÍ, RS, 2016, p. 3).
Por fim, destaca-se que a Defensoria Pública da Comarca de Ijuí, RS, assim como de
todo o Brasil, tem agido de maneira isenta e irrepreensível quando se trata de atuar em defesa
daqueles que sofrem as mazelas da desigualdade social e têm sua dignidade violada.
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CONCLUSÃO
O presente estudo teve por objeto a análise da Defensoria Pública na garantia do acesso
à justiça dos necessitados, bem como o instituto da assistência judiciária gratuita para a
efetivação das demandas postuladas.
Por derradeiro, cabe destacar que foi de grande relevância a inclusão da Defensoria
Pública como órgão legitimado para a propositura da Ação Civil Pública, aprimorando dessa
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forma, o Sistema de Justiça brasileiro. A cada dia que passa essa instituição vem conquistando
o respeito da sociedade e dos Poderes constituídos, pois não mede esforços para resguardar os
direitos fundamentais sociais que exigem prestações positivas do Estado. Agindo dessa forma,
possibilita melhores condições de vida aos mais fracos, promovendo a igualização de
situações sociais distintas e a melhoria das condições dignas e decentes de sobrevivência.
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REFERÊNCIAS
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ANEXOS
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