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REFLEXÕES SOBRE OS SABERES E PRÁTICAS DA DOCÊNCIA

UNIVERSITÁRIA

Ana Altina Cambuí Pereira 1


Mariana Soledade Barreiro 2

RESUMO

Neste artigo são apresentados alguns aspectos importantes da docência universitária, como os
saberes e práticas que envolvem o exercício continuum dessa profissão tão complexa e que
não se limita às atividades desenvolvidas em sala de aula, somente. O objetivo principal
deste estudo buscou compreender os significados que os professores atribuem à docência
universitária, para que se possa refletir, mesmo que preliminarmente, como esses docentes
constroem os seus saberes e desenvolvem suas práticas pedagógicas. Para a compreensão
do objeto de estudo foram utilizados dispositivos da pesquisa qualitativa, com uma abordagem
descritiva e de caráter exploratório, através de entrevistas semiestruturadas, com docentes de
diferentes instituições de ensino superior pública e privada. As reflexões partiram das
experiências, valores e crenças presentes nas falas dos educadores entrevistados, que
possibilitou verificar, sempre articulando com o referencial teórico escolhido, alguns aspectos
importantes para a compreensão de como esses profissionais constroem o seu fazer educativo.
Na apresentação dos resultados, enfatizamos a importância de uma reflexão constante acerca
dos saberes e práticas que envolvem essa profissão, a fim de contribuir para uma melhoria
constante nas dificuldades enfrentadas pelos professores, seus anseios, sentimentos e conflitos
que envolvem as singularidades e as subjetividades situadas nos bastidores da docência
universitária.

Palavras-chave: Docência universitária. Saberes docentes. Práticas docentes.

1
Internacionalista, Especialista em Novas Tecnologias na Educação pela ESAB/Espírito Santo. Membro
do Grupo de Pesquisa Docência Universitária e Formação de Professores – DUFOP, vinculado ao
Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da
Bahia/UNEB, Coordenadora Acadêmica Geral do Sistema Bahia de Ensino ( Faculdade Zacarias de Góes
– FAZAG/Valença; Faculdade Hélio Rocha – FHR/Salvador; Faculdade Santo Agostinho –
FACSA/Ipiaú). Consultora Educacional para Assuntos do MEC (Regulação, Supervisão e Avaliação). E-
mail: cambuiana@gmail.com
2
Pedagoga, Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Fundação Visconde de
Cairu, Especialista em Organização e Processos do Ensino Superior pela Associação Baiana de Educação
e Cultura (ABEC/UNIBA), Pedagoga pela Faculdade de Educação da Bahia. Professora em cursos de
graduação e pós-graduação lato sensu, Assessora Pedagógica dos cursos de graduação da Faculdade de
Tecnologia e Ciências – FTC. E-mail: marianasoledade@hotmail.com
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INTRODUÇÃO

Esse artigo versa sobre os saberes e práticas da docência universitária, que é uma
profissão tão complexa e que não se limita às atividades desenvolvidas em sala de aula,
somente. E, é por isso que a docência ocupa um lugar central neste cenário,
desenvolvendo como função maior, a mediação na relação do aluno com o
conhecimento. Diante dessa assertiva, é possível compreender as exigências por
profissionais de educação mais competentes e preparados, capazes de assumir as
responsabilidades que são cada vez mais amplas.
As instituições de ensino superior são consideradas como espaços para
construção e disseminação de saberes e culturas, sendo ambientes que podem promover
uma transformação social e que necessitam ter como finalidade principal o permanente
exercício da crítica construída através do ensino, da pesquisa e da extensão, e devem
proporcionar, através de seu processo educativo, o desenvolvimento da técnica, política
e ética. Técnica para o exercício competente de uma profissão; política para o perfeito
entendimento das relações construídas socialmente; e ética para permear o fazer
humano pautado em uma perspectiva de valores (PIMENTA; ANASTASIOU, 2007).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu capítulo IV,
Art. 43 (BRASIL, 1997), lista as finalidades da educação superior, dentre as quais
destacam-se: a estimulação da cultura e espírito científico, a formação de profissionais
competentes para o mercado de trabalho, o incentivo à pesquisa e investigação, visando
o desenvolvimento da tecnologia e ciências.
A universidade ocupa um importante lugar no processo de desenvolvimento dos
seres humanos e, consequentemente, da sociedade. Em seus conceitos e finalidades
guarda a necessária e indispensável tarefa de discutir, construir e preservar saberes e
culturas, promover o desenvolvimento social, através de sua produção e, acima de tudo,
propiciar a transformação da realidade global em prol do bem-estar coletivo.
Diante do exposto, e pensando na importância desses profissionais para o êxito
do processo educativo nas instituições de ensino superior, foi colocada a seguinte
questão norteadora: qual o significado que os docentes universitários atribuem à sua
profissão? O objetivo geral dessa investigação foi compreender os significados que os
professores atribuem à docência universitária, para que se possa refletir, mesmo que
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preliminarmente, como esses docentes constroem os seus saberes e desenvolvem suas


práticas pedagógicas. Fizeram parte desta reflexão, os professores que atuam no ensino
superior de universidades públicas e privadas na cidade de Salvador. Para a escolha
destes profissionais, levamos em conta, sobretudo, suas disponibilidades de tempo e o
desejo de contribuir para a nossa reflexão. Visando garantir o anonimato dos sujeitos
entrevistados, utilizaremos símbolos como P1, P2, P3, P4 e assim por diante. Como
perspectiva metodológica, nos apoiamos na abordagem qualitativa que visa “explorar a
realidade de forma mais completa e profunda possível, destacando o significado e a
intencionalidade inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais nas quais estão
inseridos os seres humanos.” (MINAYO, 1994; LUDKE; ANDRÉ, 1986 citado por
SOARES; CUNHA, 2010, p. 19). Como técnica de pesquisa, privilegiamos a entrevista
semiestruturada, por considerar a interação entrevistador /entrevistado como um
elemento que possibilita a coleta de “dados subjetivos que se relacionam com os
valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos entrevistados”. (BONI; QUARESMA,
2005, p.72).
Vale ressaltar que no momento da entrevista, focalizamos três eixos temáticos, a
saber: concepções de universidade, concepções do professor universitário, saberes e
práticas da docência universitária. A escolha desses eixos se deu a partir de discussões e
reflexões coletivas no decorrer da nossa profissão – a Docência Universitária, além de
caracterizar uma área de estudo das autoras deste trabalho, quer na dissertação de
mestrado, quer como pesquisadora de um grupo de pesquisa.

SENTIMENTOS E PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS

As reflexões que serão apresentadas aqui trazem sentimentos e percepções de


professores do ensino superior privado e público, em relação aos desafios enfrentados
no dia-a-dia das suas práticas. Esses desafios vão desde a necessidade de entendimento
do papel da universidade na sociedade atual, das características do profissional que
estão ajudando a formar, da importância do conhecimento para este processo de
formação, até a concepção do que é ser professor do ensino superior e quais são os
saberes e práticas que são necessários para o bom desenvolvimento das suas funções.
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Para conferir mais clareza a escrita da nossa investigação, optamos por dividir a
análise em subcategorias, considerando cada eixo temático separadamente, para que
possamos articulá-los no momento da conclusão do artigo. Portanto, a seguir,
relacionaremos as concepções dos docentes entrevistados com o referencial teórico
escolhido, sempre considerando um eixo temático por vez.

CONCEPÇÕES DE UNIVERSIDADE

As demandas da sociedade contemporânea exigem das universidades a formação


de indivíduos com competência e capacidade para transcenderem o instituído, elaborar e
disseminar saberes e culturas, evitando uma educação voltada para a aquisição e a
repetição de informações, abrindo espaço para os estudos científicos, pautados na
criação de conhecimentos e reflexões críticas. O ensino superior no Brasil passou e
passa por um processo de evolução ao logo de sua trajetória de consolidação e, essa
evolução decorre das diferentes necessidades do mercado, condições econômicas e
políticas presentes em cada época.
Para compreendermos como os docentes investigados compreendem esse
espaço, cabe aqui tecermos considerações sobre a concepção de universidade, trazidas
na fala dos professores entrevistados.

A universidade é uma instituição que se caracteriza pelo seu objetivo


principal que configura-se na responsabilidade da formação integral
do educando, ou seja, uma formação técnica, indispensável à prática
profissional, mas também uma formação que considere os valores
éticos e a construção da cidadania. (P1).

A Universidade é o espaço do conhecimento e, como tal, tem o papel


de buscar transformar a sociedade através da difusão do
conhecimento, de uma forma mais ampla possível para que este
direito e oportunidade tenha um alcance satisfatório. (P2).

Com base nessas duas concepções trazidas pelos docentes pesquisados, a ideia é
de que às instituições de ensino superior tenham por missão disseminar a cultura e o
estudo para todas as pessoas. Além de possibilitar a formação de seres humanos para o
mercado de trabalho e para a convivência cidadã, essas instituições de ensino devem se
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tornar espaços capazes de conceder a todos o acesso à educação, atendendo às


demandas de todas as pessoas que buscam os saberes e transformam essa busca
investigativa no próprio sentido do viver.
A partir dessa perspectiva, cabe-nos citar a LDB, em seu capítulo IV, art. 43, no
qual estão listadas as finalidades da educação superior:

Art. 43. A educação superior tem por finalidade:


I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito
científico e do pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos
para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica,
visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e
difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do
homem e do meio em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e
técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de
comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e
profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os
conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual
sistematizadora do conhecimento de cada geração;
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em
particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à
comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
VII - promover a extensão, aberta à participação da população,
visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação
cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.
(BRASIL, 1996, p.16).

O que fica no texto da Lei, quanto às funções e finalidades do ensino superior, é


que, apesar dos diversos avanços no campo da tecnologia e da ciência, ainda há uma
tímida ação das instituições no sentido de incentivar o sujeito aprendente a desenvolver
a capacidade de criar novos saberes e se constituir em um indivíduo crítico e consciente.
Mesmo sendo discutida e debatida com afinco a necessidade de se instituir um ensino
superior que forme para a transformação social e não esteja apenas a serviço do
mercado, considerando como sua função primordial, tão somente, a preparação para o
exercício de uma profissão. Com base nessa linha de pensamento, percebemos que os
docentes pesquisados trazem em suas concepções de universidade a ideia de um espaço
mais democrático e responsável com o desenvolvimento social, além do
desenvolvimento integral dos sujeitos nele inserido.
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CONCEPÇÕES DE SER PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

No tocante à concepção de educador, acreditamos que existe a necessidade de


serem delineadas as reais funções e papéis do professor no contexto profissional e
social. Isto porque, os papéis possuem uma fundamental importância no processo de
estabelecimento e construção das identidades profissionais, uma vez que é através deles
que se caracterizam o significado social, os saberes pertinentes e a delimitação dos
espaços e alcances da profissão.
É necessário, portanto, que o professor reflita e confronte, constantemente, teoria
e prática, analisando-as com base nas teorias vigentes. O exercício constante dessa
atividade possibilita a construção de novas teorias e, essa construção é também possível
pelo significado que o educador imprime a seu fazer pedagógico, pelo modo de ser e
viver seus valores, suas crenças e sua história de vida, de seu sentimento em ser
professor, bem como das relações que estabelece com os grupos, sindicatos e colegas de
trabalho. Não podemos deixar de pontuar a importância dos conhecimentos e saberes do
fazer docente para o êxito desse processo de construção. Com base nessa reflexão,
Pimenta (2005) aponta três saberes a serem observados e perseguidos quando o objetivo
é a construção da identidade profissional docente:

 Os saberes da docência, adquiridos da experiência: de alguma forma, os


professores que ingressam no exercício da docência já sabem, pelo menos
minimamente, o que é ser professor. Esse conhecimento advém de suas
experiências como alunos, pois sabem identificar quais professores tiveram
domínio de conteúdo específico de sua disciplina, mas não tiveram o domínio das
questões didático-pedagógicas e vice-versa. Sabem também que profissão de
educador é vista pela sociedade por meio de estereótipos e representações. Sabem
o que é ser professor, por meio das experiências adquiridas em seu cotidiano
docente, refletindo sua prática, muitas vezes tomando como base a experiência de
colegas de trabalho.

 O saber da docência, adquirido pelo conhecimento específico da área de atuação


disciplinar.
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 O saber docente na área pedagógica: a maioria dos professores entende didática


como saber ensinar. No entanto, eles têm consciência de que saber ensinar exige
conhecimentos pedagógicos e didáticos. Sabem também que nem sempre ter
conhecimento de técnicas de ensino é o bastante para a construção da identidade
profissional docente, da mesma maneira que as experiências e os conhecimentos
específicos não são suficientes.

Indagados sobre a concepção de ser professor universitário, os entrevistados


expressaram a responsabilidade do educador na formação integral dos alunos,
afirmando que ser professor é “ser um sujeito que não pode somente se preocupar com o
ensino de conteúdos técnicos, mas [...] compreender o seu papel como formador de
futuros profissionais cidadãos” (P4). Outras abordagens interessantes nos incitam
reflexões maiores, como as falas dos demais respondentes da pesquisa:

Ser professor é ser um profissional consciente do seu papel enquanto


cidadão, que compreenda e que necessita se esforçar para aprender
bem os saberes da sua profissão. Um profissional mais criativo,
competitivo e proativo, sempre. (P3)

Um professor do ensino superior precisa sempre questionar o seu


papel como mediador na formação de profissionais éticos e
competentes. Em nosso grupo docente, sempre discutimos as
características imprescindíveis para um profissional na área de Direito
e o que a gente (professores) pode fazer para atingir esse ideal de
profissional. Na prática, sempre incentivo a construção de valores
importantes para um profissional ético e competente, além de
proporcionar experiências de ensino que desafiem os alunos a
construir tais competências. (P4).

Para mim, um educador precisa, além de ter domínio de sua disciplina


e das estratégias de ensino, ter a preocupação com os sujeitos em que
está contribuindo para formar, sempre atentos para a necessidade de
renovação dos seus saberes. (P5)

A partir das ideias trazidas pelos docentes, foi possível perceber que esse
profissional de educação necessita questionar sempre sobre quais saberes são
necessários para se tornar um docente que atenda as demandas da contemporaneidade,
tarefa que deve ser feita sempre na coletividade, no seu grupo de colegas professores.
Outro ponto de reflexão dos entrevistados diz respeito ao domínio da disciplina. Para
consubstanciar essa fala, Zabala (2004, p.111) no diz que:
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Ensinar é uma tarefa complexa na medida em que exige um


conhecimento consistente acerca da disciplina ou das suas
atividades, acerca da maneira como os estudantes aprendem,
acerca do modo como serão conduzidos os recursos de ensino a
fim de que se ajustem melhor às condições em que será
realizado o trabalho.

Além dessa importante reflexão, os docentes investigados refletem a importância


de serem professores desafiadores no processo de ensino aprendizagem, sem deixar de
contribuir para a formação cidadã dos seus alunos.

SABERES E PRÁTICAS DA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA

No que concerne aos saberes e práticas da docência, Alarcão (1998, p.104) traz
os seguintes dizeres:

[...] não é meramente acadêmico, racional, feito de fatos, noções e


teorias, como também não é um conhecimento feito só de experiência.
È um saber que consiste em gerir a informação disponível e adequá-la
estrategicamente ao contexto da situação formativa em que, a cada
instante, situa-se sem perder de vista os objetivos traçados. É um saber
agir em cada situação. Mas não se tenha uma ideia pragmático-
funcionalista do papel do professor na sociedade, porque o professor
tem de ser um homem ou uma mulher de cultura, um ser pensante e
crítico, com responsabilidades sociais no nível da construção e do
desenvolvimento da sociedade.

Essa proposta sugere que o professor deve construir uma prática profissional que
transcenda a mera transmissão técnica de conhecimentos e informações, dando espaço
para uma ação capaz de refletir sobre os saberes, transformando-os, estrategicamente,
em algo acessível e significativo para os alunos. O educador, nessa perspectiva, também
deve aprender a situar-se nos diversos contextos de atuação, sem perder seu foco
principal, que é a mediação do processo de ensino e aprendizagem, compreendendo seu
papel na sociedade e nas instituições de ensino e, portanto, construindo sua identidade
docente. Deste modo, é requisito imprescindível para estabelecimento do processo
identitário, que o professor se conscientize de seu papel em todas as esferas em que
atua.
No que diz respeito aos saberes e práticas da docência universitária, os
entrevistados nos presentearam com falas de grande expressividade, reforçando que a
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experiência privilegia a melhoria das práticas pedagógicas, pois é no convívio com o


discente é que o professor desenvolve e melhora o seu trabalho.

O docente deve aprender a se ver como no tempo em que era aprendiz


e como foi quando não sabia e como será o aprendiz quando souber,
respeitando as identidades, as facilidades e dificuldades que o
processo de aprendizado de cada um requer. (P6).

Acho que sempre adoto estratégias que já foram utilizadas por


alguém, mas sempre imprimo as minhas marcas nela. Por exemplo,
quando estudamos uma peça jurídica, já solicitei para os alunos que
eles expressassem esse texto de várias maneiras: ou representado os
personagens do caso, ou reescrevendo o texto dando um outro fim.
Ainda faço aulas expositivas participadas que sempre culminam com
uma atividade desafiadora para os alunos. Também uso muito filmes,
textos de revistas, peças jurídicas, músicas, poesias e tirinhas de
quadrinhos. Promovo alguns debates e discussões acerca de uma
determinada temática e outras atividades que não me recordo agora.
(P1).

A professora abaixo abordou sobre as aflições que fazem parte do dia-a-dia


dessa profissão, assim como o de qualquer outra. Vejamos:

Meu maior desafio é apresentar a cada aula uma forma de ensinar que
desafiem os meus alunos e despertem a sua vontade de aprender.
Tento estudar muito sobre como lidar com esses alunos, desse nível de
ensino, e, na medida do possível, procuro diversificar as minhas aulas,
promovendo atividades diferenciadas e que despertem o interesse dos
alunos. (P2).

De acordo com as práticas relatadas pelos docentes entrevistados, os desafios


permeiam a necessidade da diversificação das estratégias pedagógicas, sempre
preocupando com o aluno que integra esse nível de ensino. Nessa perspectiva, o aluno é
o centro do processo e além de precisar de um ensino adequado a aprendizagem de
adultos, necessita ser desafiado a todo instante e sempre com diversas abordagens
pedagógicas.
A figura do professor é de extrema importância para o processo de ensino-
aprendizagem, principalmente porque este se configura nos dias atuais como um
mediador que deve provocar, levantar questionamentos, recusando o título de ser um
mero transmissor de conhecimentos. A dinâmica da sala de aula universitária favorece o
aprendizado do aluno, fortalece a relação do professor com a turma, mas, ao mesmo
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tempo, desafia o docente para a aplicação de uma metodologia de ensino que valorize a
autonomia intelectual do educando. Citando Demo (2007, p. 132), “a mudança só pode
provir do contrário, ou seja, de sacudir a rotina”. Nessa perspectiva, os saberes
pedagógicos vão ganhando notoriedade e importância para o pleno exercício da atuação
docente em sala de aula.
O saber da experiência também está presente na fala dos educadores, no
momento em que mencionam a importância de lembrar das vivências de quando eram
alunos para nortear o fazer de professor, além da aquisição do saber da experiência no
cotidiano da sala de aula, ou através do compartilhamento de estratégias didáticas com
colegas de trabalho. Com base no que foi expresso pelos professores, foi possível
perceber que exercer a docência no ensino superior é ter a certeza que nada será
“estático e permanente; é sempre processo, é mudança, é movimento, é arte; são novas
caras, novas experiências, novo tempo, novo lugar, novas informações, novos
sentimentos, novas interações”. (CUNHA, 2009, p. 176).
Falar do espaço da sala de aula universitária requer, portanto, uma reflexão
quanto à ligação que esta tem com a qualidade dos cursos de graduação, pois este
ambiente privilegia o ato de aprender, desde que os seus atores tenham consciência do
que deve ser feito e como deve ser conduzido aquele período destinado para a aula.
Entender esse processo requer uma sensibilidade do docente e ainda uma abertura para
um ensino desafiador, contextual e crítico. Nessa perspectiva, segundo Masetto (2003,
p. 83, grifo nosso) são possíveis as “AULAS VIVAS”, nas quais os docentes estão
sempre atentos para a construção de saberes indispensáveis à formação humana.
Coadunando com Arroyo (2000, p. 67), “[...] aprendemos que educar é revelar saberes,
significados, mas, antes de mais nada, é revelar-nos como docentes educadores em
nossa condição humana. É nosso ofício. É nossa humana docência”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SEM O DESEJO DE FECHAR OS CENÁRIOS

O presente artigo teve como objetivo possibilitar uma análise acerca da


percepção dos professores sobre os saberes e práticas da docência universitária,
procurando articular as diversas compreensões sobre o ensino superior com as
concepções de alguns autores que refletem sobre este contexto. O contato com o
referencial teórico consultado e a oportunidade de análise das diversas percepções sobre
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saberes e práticas do ensino superior, permitiu compreender que o fazer do educador


universitário encontra-se em processo de construção permanente, ora consolidando
certezas sobre saberes pertinentes a essa profissão, ora apresentando questionamentos e
dúvidas acerca da melhor condução desse processo de ensino-aprendizagem.
No que tange a análise dos dados, percebemos que há um processo de tentativa
para adequar as estratégias inovadoras demandadas pelos alunos nessa fase de ensino,
transformado práticas já existentes para atender ao contexto de cada aula. Sobre isso, há
que se mencionar outro aspecto citado por alguns docentes, relativo ao desafio de
compreender os anseios desse educando. Nesse caso, há a percepção de que essa
dificuldade se reflete na necessidade de experimentação de diversas estratégias com o
propósito de tornar o ensino mais próximo das expectativas desses sujeitos.
Portanto, é de concluir que a percepção mais proeminente propõe que os
desafios impostos pela prática docente do ensino superior são muitos e ainda carecem
de respostas e muitos outros questionamentos. Entretanto, o que se observa, de modo
geral, é que estamos num campo imerso em incertezas e inconstâncias típicas de um
saber em constante construção, de um saber que necessita de uma formação pedagógica
cada vez mais atuante, devendo ser associado às habilidades didáticas de cada docente.

REFERÊNCIAS

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12

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