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UNIVERSITÁRIA
RESUMO
Neste artigo são apresentados alguns aspectos importantes da docência universitária, como os
saberes e práticas que envolvem o exercício continuum dessa profissão tão complexa e que
não se limita às atividades desenvolvidas em sala de aula, somente. O objetivo principal
deste estudo buscou compreender os significados que os professores atribuem à docência
universitária, para que se possa refletir, mesmo que preliminarmente, como esses docentes
constroem os seus saberes e desenvolvem suas práticas pedagógicas. Para a compreensão
do objeto de estudo foram utilizados dispositivos da pesquisa qualitativa, com uma abordagem
descritiva e de caráter exploratório, através de entrevistas semiestruturadas, com docentes de
diferentes instituições de ensino superior pública e privada. As reflexões partiram das
experiências, valores e crenças presentes nas falas dos educadores entrevistados, que
possibilitou verificar, sempre articulando com o referencial teórico escolhido, alguns aspectos
importantes para a compreensão de como esses profissionais constroem o seu fazer educativo.
Na apresentação dos resultados, enfatizamos a importância de uma reflexão constante acerca
dos saberes e práticas que envolvem essa profissão, a fim de contribuir para uma melhoria
constante nas dificuldades enfrentadas pelos professores, seus anseios, sentimentos e conflitos
que envolvem as singularidades e as subjetividades situadas nos bastidores da docência
universitária.
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Internacionalista, Especialista em Novas Tecnologias na Educação pela ESAB/Espírito Santo. Membro
do Grupo de Pesquisa Docência Universitária e Formação de Professores – DUFOP, vinculado ao
Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da
Bahia/UNEB, Coordenadora Acadêmica Geral do Sistema Bahia de Ensino ( Faculdade Zacarias de Góes
– FAZAG/Valença; Faculdade Hélio Rocha – FHR/Salvador; Faculdade Santo Agostinho –
FACSA/Ipiaú). Consultora Educacional para Assuntos do MEC (Regulação, Supervisão e Avaliação). E-
mail: cambuiana@gmail.com
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Pedagoga, Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Fundação Visconde de
Cairu, Especialista em Organização e Processos do Ensino Superior pela Associação Baiana de Educação
e Cultura (ABEC/UNIBA), Pedagoga pela Faculdade de Educação da Bahia. Professora em cursos de
graduação e pós-graduação lato sensu, Assessora Pedagógica dos cursos de graduação da Faculdade de
Tecnologia e Ciências – FTC. E-mail: marianasoledade@hotmail.com
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INTRODUÇÃO
Esse artigo versa sobre os saberes e práticas da docência universitária, que é uma
profissão tão complexa e que não se limita às atividades desenvolvidas em sala de aula,
somente. E, é por isso que a docência ocupa um lugar central neste cenário,
desenvolvendo como função maior, a mediação na relação do aluno com o
conhecimento. Diante dessa assertiva, é possível compreender as exigências por
profissionais de educação mais competentes e preparados, capazes de assumir as
responsabilidades que são cada vez mais amplas.
As instituições de ensino superior são consideradas como espaços para
construção e disseminação de saberes e culturas, sendo ambientes que podem promover
uma transformação social e que necessitam ter como finalidade principal o permanente
exercício da crítica construída através do ensino, da pesquisa e da extensão, e devem
proporcionar, através de seu processo educativo, o desenvolvimento da técnica, política
e ética. Técnica para o exercício competente de uma profissão; política para o perfeito
entendimento das relações construídas socialmente; e ética para permear o fazer
humano pautado em uma perspectiva de valores (PIMENTA; ANASTASIOU, 2007).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu capítulo IV,
Art. 43 (BRASIL, 1997), lista as finalidades da educação superior, dentre as quais
destacam-se: a estimulação da cultura e espírito científico, a formação de profissionais
competentes para o mercado de trabalho, o incentivo à pesquisa e investigação, visando
o desenvolvimento da tecnologia e ciências.
A universidade ocupa um importante lugar no processo de desenvolvimento dos
seres humanos e, consequentemente, da sociedade. Em seus conceitos e finalidades
guarda a necessária e indispensável tarefa de discutir, construir e preservar saberes e
culturas, promover o desenvolvimento social, através de sua produção e, acima de tudo,
propiciar a transformação da realidade global em prol do bem-estar coletivo.
Diante do exposto, e pensando na importância desses profissionais para o êxito
do processo educativo nas instituições de ensino superior, foi colocada a seguinte
questão norteadora: qual o significado que os docentes universitários atribuem à sua
profissão? O objetivo geral dessa investigação foi compreender os significados que os
professores atribuem à docência universitária, para que se possa refletir, mesmo que
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Para conferir mais clareza a escrita da nossa investigação, optamos por dividir a
análise em subcategorias, considerando cada eixo temático separadamente, para que
possamos articulá-los no momento da conclusão do artigo. Portanto, a seguir,
relacionaremos as concepções dos docentes entrevistados com o referencial teórico
escolhido, sempre considerando um eixo temático por vez.
CONCEPÇÕES DE UNIVERSIDADE
Com base nessas duas concepções trazidas pelos docentes pesquisados, a ideia é
de que às instituições de ensino superior tenham por missão disseminar a cultura e o
estudo para todas as pessoas. Além de possibilitar a formação de seres humanos para o
mercado de trabalho e para a convivência cidadã, essas instituições de ensino devem se
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A partir das ideias trazidas pelos docentes, foi possível perceber que esse
profissional de educação necessita questionar sempre sobre quais saberes são
necessários para se tornar um docente que atenda as demandas da contemporaneidade,
tarefa que deve ser feita sempre na coletividade, no seu grupo de colegas professores.
Outro ponto de reflexão dos entrevistados diz respeito ao domínio da disciplina. Para
consubstanciar essa fala, Zabala (2004, p.111) no diz que:
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No que concerne aos saberes e práticas da docência, Alarcão (1998, p.104) traz
os seguintes dizeres:
Essa proposta sugere que o professor deve construir uma prática profissional que
transcenda a mera transmissão técnica de conhecimentos e informações, dando espaço
para uma ação capaz de refletir sobre os saberes, transformando-os, estrategicamente,
em algo acessível e significativo para os alunos. O educador, nessa perspectiva, também
deve aprender a situar-se nos diversos contextos de atuação, sem perder seu foco
principal, que é a mediação do processo de ensino e aprendizagem, compreendendo seu
papel na sociedade e nas instituições de ensino e, portanto, construindo sua identidade
docente. Deste modo, é requisito imprescindível para estabelecimento do processo
identitário, que o professor se conscientize de seu papel em todas as esferas em que
atua.
No que diz respeito aos saberes e práticas da docência universitária, os
entrevistados nos presentearam com falas de grande expressividade, reforçando que a
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Meu maior desafio é apresentar a cada aula uma forma de ensinar que
desafiem os meus alunos e despertem a sua vontade de aprender.
Tento estudar muito sobre como lidar com esses alunos, desse nível de
ensino, e, na medida do possível, procuro diversificar as minhas aulas,
promovendo atividades diferenciadas e que despertem o interesse dos
alunos. (P2).
tempo, desafia o docente para a aplicação de uma metodologia de ensino que valorize a
autonomia intelectual do educando. Citando Demo (2007, p. 132), “a mudança só pode
provir do contrário, ou seja, de sacudir a rotina”. Nessa perspectiva, os saberes
pedagógicos vão ganhando notoriedade e importância para o pleno exercício da atuação
docente em sala de aula.
O saber da experiência também está presente na fala dos educadores, no
momento em que mencionam a importância de lembrar das vivências de quando eram
alunos para nortear o fazer de professor, além da aquisição do saber da experiência no
cotidiano da sala de aula, ou através do compartilhamento de estratégias didáticas com
colegas de trabalho. Com base no que foi expresso pelos professores, foi possível
perceber que exercer a docência no ensino superior é ter a certeza que nada será
“estático e permanente; é sempre processo, é mudança, é movimento, é arte; são novas
caras, novas experiências, novo tempo, novo lugar, novas informações, novos
sentimentos, novas interações”. (CUNHA, 2009, p. 176).
Falar do espaço da sala de aula universitária requer, portanto, uma reflexão
quanto à ligação que esta tem com a qualidade dos cursos de graduação, pois este
ambiente privilegia o ato de aprender, desde que os seus atores tenham consciência do
que deve ser feito e como deve ser conduzido aquele período destinado para a aula.
Entender esse processo requer uma sensibilidade do docente e ainda uma abertura para
um ensino desafiador, contextual e crítico. Nessa perspectiva, segundo Masetto (2003,
p. 83, grifo nosso) são possíveis as “AULAS VIVAS”, nas quais os docentes estão
sempre atentos para a construção de saberes indispensáveis à formação humana.
Coadunando com Arroyo (2000, p. 67), “[...] aprendemos que educar é revelar saberes,
significados, mas, antes de mais nada, é revelar-nos como docentes educadores em
nossa condição humana. É nosso ofício. É nossa humana docência”.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2000. 238 p.
CUNHA, Maria Isabel da. Inovações pedagógicas na universidade. In: CUNHA, Maria
Isabel da; SOARES, Sandra Regina; RIBEIRO, Marinalva Lopes (Orgs.). Docência
universitária: profissionalização e práticas educativas. Feira de Santana, BA: UEFS
Editora, 2009. p. 176 - 177.
DEMO, Pedro. Saber pensar. 5. ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2007. 159 p.
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