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fragmentos

das trilhas
nas florestas
na cidade
e n c o n t r a
canteyr@s
no terreyro
coreográfico
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“O mito é como uma espécie de trilha. Se você partir do mito, você chega onde quiser.”
Nise da Silveira

“Muitas coisas podem ser ditas – a casca, a pedra plana, as baterias largadas aos detritos,
nossos recursos, o bastão mascado e até, por que não, as lendas emprestadas dos mitos
históricos, que podem ser contadas e, inclusive, escritas; resta a rede, que é um agir; a
partir daí ela nos escapa, ao passo que nos servimos dela como de uma palavra-mestra,
e já não me espanta ouvir uns ou outros que são a rede, fazem a rede, vivem a rede,
dizer que não sabem onde ela está e não percebem sua consistência, ou que deixaram de
percebê-la. Dizem que, em outros tempos...”
Fernand Deligny

PLAY
Considerando esse texto uma
espiral~fractal, formado por
fragmentos sem uma sequência única,
trilhe sua leitura ou leia sua trilha de
forma aleatória. Ou, leia os fragmentos
na ordem que sua trilha trilhar.

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Portal Multicolor
Eu estou em um deserto? O eu está? Em uma floresta? Ou em um parque temático
cheio de atrações horrorosas?
Muitas vezes não sei... já não consigo sentir muito bem o cheiro daqui. Meus
sentidos ficam confusos.
Me parece um Sertão.
Em meio à fertilidade desse espaço, um terreyro. No terreyro, quintais, canteyros.
Canteyr@s que não são de ninguém, senão da rede.
Diante de mim, um portal. Um portal para vários lugares que ainda não existem.
Um portal ficcional. Enfeitado com flores comestíveis recém-colhidas de algum
dos vários lugares por onde se espalha a Oficina de Florestas.
Como é adentrar uma floresta que ainda não existe? Que trilhas encontramos
depois de atravessar esse portal multicolor?

Rede Terra Bixiga Libertas


Tenho meditado sobre o Terreyro Coreográfico como uma rede interespécies e
interespaços. Mas, principalmente uma rede entre pessoas. Um lugar de encontro,
troca, ação e aprendizado.
Os eixos principais da rede são a coreografia e o espaço público. E o espaço entre
eles. Esse espaço pode ser uma distância ou não.
Os espaços onde atua são flutuantes – depende das trilhas que trilham as pessoas
que ativam a rede. Mas, o lugar de confluência dos rios voadores, subterrâneos e
superficiais é o baixio do Viaduto Libertas.
A superfície, nesse caso, é o lugar de borda, onde há mais fertilidade e força, por
colocar em contato diferentes contextos, como uma fronteira, como a transição
entre uma floresta e outra, ou como uma nascente.
Se for pra ir tão fundo e chegar no petróleo pra trazê-lo ao ar, prefiro ficar
nas canteyr@s.

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Os frames acima são do vídeo de novembro de 2016, durante o Disseminário
Coreográfico, no qual pude experimentar pela primeira vez a seguinte dinâmica,
que abriu um compartilhar no qual abrangi a geometria fractal em meio ao
contexto do surgimento da cultura digital e a ética do design da permacultura.

PLAY
1- Em roda, escolhemos duas pessoas aleatórias. Quando começa o jogo, temos
TRI que formar triângulos equiláteros com as pessoas escolhidas.
O triângulo é o primeiro passo em direção a uma geometria de relações e 2 - Escolhemos agora uma pessoa e um ponto em algum elemento do espaço.
perspectivas não-binárias. Temos que formar triângulos equiláteros com a pessoa e o ponto escolhido.
O jogo da trilha começa com triângulos. 3 - Cada jogador instala uma presença espectral no espaço: algo que não está
Como o trishula, o tridente de Shiva. ali e que se movimenta. Escolhemos uma pessoa aleatória. Agora, formamos
Se somos 15 pessoas dançando o Terreyro Coreográfico, quantas combinações triângulos equiláteros entre a entidade espectral que está no espaço e que se
triangulares podemos formar? E levando em conta que cada um dos 15 ativa move e a pessoa escolhida.
outras triangulações? Que geometrias ativamos ao operar um jogo de conexões 4 - Dividimos o grupo pela metade. A primeira metade forma uma roda cercando
que grafa no espaço-tempo uma polifonia caminhônica? o resto do grupo, que fica dentro da roda. As três dinâmicas anteriores são
repetidas, mas com a ressalva de que os jogadores não podem sair do limite
circular colocado pela roda de pessoas. Uma última dinâmica é acrescentada:
escolher uma pessoa da roda-limite e uma pessoa de dentro e formar triângulos
equiláteros com elas.
GAME OVER

12 13
ZOOM OUT
Rede d’água Os rios e córregos submersos na cidade de Sampã são como presenças
O que quer o rio? Como ouvir o que quer o rio? Como beber o que quer o rio?
transparentes e molhadas que são escondidas em porões escuros porque alguém
Como nadar o que quer o rio? Como cheirar o que quer o rio? Como sentir na pele
sabia mais do que elas.
o que quer o rio? Como pensar o que quer o rio?
Muitos seres abrem trilhas. Os rios são trilhas da água. Mas é a água que abre a
trilha ou a trilha que está aberta para a água correr?

ZOOM IN
Na beira da praia, dependendo do tipo de areia, as ondas, que reverberam o longe,
desenham trilhas, que em outra escala, formam os mesmos padrões dos desenhos
de rios. Ou de árvores.

Mapa da rede de rios e córregos submersos em São Paulo. São infinitos. A foto
foi tirada durante um compartilhar da Rede Rios e Ruas, na Casa do Povo, em
maio de 2015.

Como criar na cidade um espaço onde possamos observar com mais nitidez
Na mesma praia onde tirei essa fotografia, no sul da Bahia, alguns rios estão secos as mesmas forças que desenharam os fractais na areia agindo e criando suas
e não chegam mais no mar. O que predomina no caminho do rio é a monocultura próprias trilhas, seus próprios desenhos?
de Eucalipto. A mesma árvore que dá nome à Kalipety, comunidade indígena Vi um vídeo do Terreyro Coreográfico de uma experiência que me dá pistas sobre
Guarani Mbya nas terras de Sampã, que conheci com o Terreyro Coreográfico, em como responder a essa pergunta. No vídeo, alguém joga água nos baixios do
agosto de 2016. Viaduto Libertas e filma o caminho que a água traça no espaço.

14 15
Kalipety
Kalipety significa cheio de Eucalipto. A comunidade indígena Guarani Mbya fica na
região de Parelheiros, Zona Sul de São Paulo. É um braço recente da Tenondé Porã,
uma comunidade maior na mesma região.
Em 2016 foi assinada uma Portaria Declaratória reconhecendo a Terra PLAY
Indígena de Parelheiros. Um pequeno objeto colorido é colocado onde antes ficava o altar da água, nos
Quando fomos à Kalipety, plantamos entre as árvores sementes que baixios do Viaduto Libertas. O objeto projeta um vídeo holográfico e, em roda,
brotarão alimento. assistimos em timelapse o desenvolvimento de uma árvore que foi plantada
O mesmo eucalipto que está arruinando ecossistemas e espalhando miséria em em um dos canteyros do baixio. Vemos todo o processo, desde sua semente
muitos lugares no Brasil, quando usado como monocultura, é bastante útil em brotando na terra até o momento em que dá seu primeiro fruto. O vídeo pausa.
sistemas de agrofloresta sintrópica, pelo fato de gerar muita biomassa em um Podemos, então, aproximando e distanciando as mãos do pequeno projetor
curto espaço de tempo. holográfico, ativar o:

ZOOM IN
E então vamos até o interior do fruto da árvore. É um limão. Espiamos cada parte
X Florestas do fruto e os nomes das partes brotam no vídeo. Também vemos como correm
líquidos no interior do tronco da árvore – como são suas veias – seus rios - como
São muitas florestas. Tenho desconfiado de qualquer colocações universais, que
ignoram os diferentes contextos – que existem mesmo partilhando da mesma nos parecemos com o corpo dela e como nos diferenciamos.
floresta – co-imaginemos em florestas muito diferentes.
OU ZOOM OUT
Lentamente nos distanciamos do limoeiro e é possível ver como ele se conecta
a várias outras árvores em diversos canteyros espalhados pelo bairro do Bixiga,
formando uma trilha verde. A trilha da onça. Indo mais longe, vemos o bairro
Texto Holográfico todo, que está cheio de flores, porque a foto foi feita por drones durante a última
primavera. Os mesmos drones que construímos para jogar bombas de sementes
Esse texto é formado por trilhas que, se observadas de cima e com algum
afastamento (como das imagens dos satélites), forma uma espiral~fractal. O papel há alguns anos em terrenos que não tínhamos acesso. Depois, mais longe,
parece não dar conta desse gráfico – a não ser que o papel seja uma tela. Mas vizualizamos a cidade toda e nossa localização em relação a grande monstra.
a tela também não é a coisa. A coisa está no corpo. Mas a tela também é corpo Ficamos pequenos. Muito pequenos.
porque nós também somos animais. O texto é mais ou menos uma forma de dar Depois desse exercício de atenção e visualização, ainda em roda, cantamos um
nome e limite as coisas para que nos comuniquemos. Senão é cosmos. Mas o mantra que a Bárbara Malavoglia criou ouvindo a voz dos baixios e nos ensinou.
texto é um texto. A palavra é uma tecnologia. Um implante que brotou. Talvez Em seguida, vamos até o canteyro agroflorestal onde está o limoeiro, colhemos
um dos primeiros. Se é um texto, então é cheio de impossibilidades, mas com limões e sentimos seu cheiro.
sementes. Temo que o texto distancie da coisa. A coisa que nem fala nossa língua. Como quando o Toshi levou em uma das aulas de Seitai-ho no Terreyro um limão
Mas acredito que ele pode nos aproximar uns dos outros. Ou distanciar. Como um e, delicadamente, cortou pequenas lascas e distribuiu a todos para ativar nosso
implante virtual gerado a partir de relações ou linguagens compartilhadas. Que eu olfato. Nos disse sobre como esse sentido está prejudicado nas condições em que
quero ou não quero e ponto. vivemos. Depois, percebemos que regiões do corpo o cheiro ativava. E dançamos.
Um Exu da Capa Preta me perguntou se pessoas simples conseguem falar o nome Por fim, fazemos uma limonada com um liquidificador que é ativado com uma bici-
do projeto “Terreyro Coreográfico” máquina. Onde estaria a garupa, está o liquidificador. Pedalamos e brindamos com
E disse que além da magia, é necessário o raciocínio. Também falou que boas suco. Alguns fazem uma caipirinha.
intenções abrem bons caminhos. GAME OVER

16 17
Matheus

Theoros
O Theoros trilha uma trilha até outro contexto, volta e conta a história.
E assim nasceu a teoria.
Na Kalipety, conheci Matheus. No rolê.

Centro Onça
Na Kalipety me disseram que ainda há onças antes de chegarmos nas fronteiras
de Sampã. Eu acredito que se pudéssemos simplificar a cidade toda a um círculo,
o centro do círculo estaria em relação à posição da onça. O centro se moveria de
acordo com o movimento dela.

PLAY
Se a última onça morrer, um vulcão é aberto no lugar do centro.
GAME OVER

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Performance sintrópica Curva Monstro
Como preparar o solo para dançar uma coreografia muito organizada, que tende a Antes de serem nomeados nos anos 70 por Benoit Mandelbrot, os fractais eram
multiplicidade, à diversidade, à abundância, ao equilíbrio e a uma maior percepção chamados pela comunidade matemática de patológicos, galeria de monstros,
do corpo? curva monstro. Talvez porque o fractal aproxima a geometria daquilo que é
amorfo, não por não ter uma forma ou limites, mas por gerar padrões infinitos.

A patologização do fractal talvez exista por medo do incontrolável. Talvez porque


findar o caos do padrão pareça uma saída da labirinta. Talvez porque a comunicação
Horizontalidade ondulatória com os padrões do cosmos seja um input conceitual que só chega se aliarmos duas
Imagine o momento no qual você está andando na rua e tropeça de leve, nem coisas de forma não-binária: a consciência ecológica (a qual temos descoberto não
chega a cair e isso altera a temperatura do seu corpo, como uma pequena onda. faz muito tempo); e o exercício constante de acessar corporalmente regiões que
Essa onda faz parte da trilha que você trilhava até seu local de encontro, a qual foram colocadas em camadas escuras, estranhas, anormais.
é uma onda um pouco maior, que também tem uma certa temperatura e um
nível de umidade. Essa trilha, por sua vez, está em uma onda maior que é um Desviar ~ Trilhar a Curva ~ Dançar.
dia, que está em uma onda maior que é a semana, que por sua vez está um ciclo
completo da Lua, que está em uma onda maior que é uma volta completa ao Sol, Esse acesso é possível dançando em cantos que estão transicionando para
que está em uma onda maior que é a sua vida, do nascimento à morte e, assim canteyr@s, por exemplo.
sucessivamente, até as eras Geológicas que nomeamos aqui na Terra e até o
momento em que o tempo não é mais contado porque não tem mais zoom out. Se o que essa cultura ocidental antropo-norte-cêntrica não consegue nomear
Que formato tem uma onda que é composta por muitas ondas, que são torna-se monstruoso, eu acho que os monstros tem coisas muito interessantes a
compostas por muitas ondas, e assim, sucessivamente? nos dizer. Mas, como falam xs monstrxs?

De muitas maneiras, porque são muitxs monstrxs. Sua comunicação é


extremamente multimídia e abraça tecnologias que às vezes só dão as caras em
dias onde a energia elétrica acaba por completo.

Mesmo assim, continuo achando que o baixio Libertas pede uma bici-máquina que
gere energia para iluminar o espaço através da pedalada.

Encruzilhada digital
A representação visual de um fractal só foi possível junto ao desenvolvimento
da tecnologia digital e dos computadores. Porque o papel não dá conta do
movimento que seu gráfico gera.
Me parece que o digital tem a potência de uma encruzilhada entre mundos que
antes não se tocariam. E o fractal está nessa trilha. Mas, isso depende do tipo de
ética de direito autoral que é praticada ao brotar no mundo uma obra.

20 21
A invenção da ordem
Meu primeiro encontro com o fractal foi em meio à rituais onde tive as
experiências com o corpo, com a coisa e com a dança mais profundas que eu
poderia narrar.

Durante o processo, a própria coisa indicou um caminho para a percepção no corpo


de algo mais elétrico, mais virtual ~ uma consciência que veio na forma de som e
depois de imagem – uma ordem que inventei porque só assim poderia contá-la.

A voz da víscera
Um dia, no terreyro, fomos a uma casa encontrar com sereias. E elas leram, de
dentro da água, para que ouvíssemos. Ler junto na água.
Ao tocar a água que continha um corpo lendo um texto, senti uma espécie de
escuta com as vísceras. Uma outra interconexão com a palavra, com o tempo em
que foi escrito o texto, com a voz de quem lia, com as vísceras de quem lia. Eu
já nem sei se eu estava dentro ou fora da piscina, mas a impressão que eu tenho
é que estava dentro e um cordão ligava o texto a um novo lugar em meu corpo.
Aqueles símbolos entoados por vozes de mulheres que muito admiro grafaram em
meu corpo algo que eu nem saberia dizer ainda, mas que estará junto.
Fios de cabelo que falam
Se a rede é composta por alguns seres humanos atentos que estão próximos e
outros que estão distantes (e isso não tem necessariamente a ver com distância
e tempo, mas muitas vezes tem), os meio de comunicação a distância são uma
extensão da rede – como um braço ou fios de cabelo que falam.

Ás vezes, no Terreyro, sinto que fazer um vídeo ou gravar um áudio e mandar para
alguém que não está é como fazer um tipo de carinho.

Isso me faz pensar que comunicar é uma espécie de espectro que vai do carinho
ao tapa na cara, passando pelo muro ou pela fenda. Geralmente o muro é um
não. E a fenda um lugar sem sim, nem não, mas com trilhas com bifurcações que
exigem a escolha.

Me parece que ainda não estamos usando uma plataforma digital adequada para
esse tipo de trabalho em rede. Seria preciso um design como uma espécie de
diário de bordo digital, onde cada integrante humano da rede pode traçar sua
trilha multimídia e criar links com outras trilhas de acordo com ações que vão
sendo executadas em relação ao projeto.

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Algumas redes que atuam no baixos coreografia da demolição da escuta
(porque o buraco é mais embaixo) ou do espaço
nas suas proximidades Ouvir o espaço é como meditar antes de dançar.
Depois é o momento de assistir ao próprio corpo dançar enquanto se dança, ou se
I. Rede que alimenta a todos, distribui alimentos orgânicos produzidos com
agricultura sintrópica e não acaba com os recursos. constrói enquanto se constrói, ou se desconstrói enquanto se desconstrói.
II. Rede hi-tech que não deixa os recursos chegarem na rede I, porque consegue
chegar nas profundezas e está operando em um tempo ilusório onde não há Ouvir é só o começo.
limites. Depois, é preciso ser.
III. Rede na qual você deita e dorme. Às vezes, sonha e lembra. Depois, ouvir de novo.
* Essa rede pode virar um manto para você se cobrir se o tempo fechar.
E assim espiralogicamente até o fim.
IV. Rede na qual você balança.
V. Rede que você acessa quando atinge um estado corporal entre a rede III e a Lembro-me de observar um prédio sendo demolido da janela da casa de um amigo
rede IV. amado. Ele levou muito tempo para ser demolido, porque se caísse de qualquer
VI – Rede de fungos que faz a comunicação entre as plantas da floresta para que forma, derrubaria os prédios ao redor, incluindo um hospital cheio de pessoas que
compartilhem nutrientes e previnam-se da chegada de doenças. não queriam cair. E também, porque muito material do prédio que precisava ser
VII – Rede colocada na lateral dos baixios do viaduto Libertas para aprimorar a demolido para abrir caminho era útil para o que vinha em seguida.
prática de futebol que está rolando ali. Só assim foi possível demolir um prédio ali. Lentamente.

Monocultura móvel
Se fosse possível materializar a ilusão de ótica na qual você se torna quase a
mesma floresta que eu por completo e, assim sucessivamente com você e o outro e
o outro e o outro, nós nos tornaríamos um latifúndio de monocultura móvel.
E então, secaríamos os rios, porque a água do céu não desejaria mais cair sobre
nós. E, na nossa secura, tudo que não fosse a gente, seria uma praga. Daí, os seres
que nos criaram dessa forma teriam que usar muito veneno para impedir que as
pragas chegassem até nós e teriam que criar máquinas cada vez mais complexas e
convergentes para nos manter isolados, aumentando a ilusão de ótica.

(As pragas, nesse sistema que as nomeou assim, carregam dúvidas perigosas.)

E então, ficaríamos tão afogados em veneno e máquinas, que viraríamos uma


praga para quem nos plantou e que está colocando veneno em nós para nos
comer depois. E aí tudo é praga. E aí não tem mais comida. Acabou o banquete.
Voltamos pro lugar de onde viemos. Como se a origem fosse um lugar desejável.

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Espiral ~ Fractal Nhanderu
Antes, haviam muros nos baixios do Viaduto Libertas. Em alguns deles, o Rodrigo
Fractus vem de frangere, que significa criar fragmentos irregulares.
Andreolli abriu buracos que formavam grandes Y’s.
A geometria fractal aguça os sentidos, porque está mais próxima do formato da
Essa imagem me conecta à quando estávamos, o Terreyro, na Casa de Reza, na
estrutura cósmica na qual estamos jogando. Que é meio amorfa, por ter variações
Kalipety. E ao gesto coreográfico de andar em círculos, pitando o cachimbo e
infinitas de formato, mas repete padrões. E não para nunca. Está sempre em
então, parar diante da parede feita de madeira e barro, com várias frestas, para
movimento.
ouvir Nhanderu, o Deus Guarani. Lembro de fechar o olho e, quando abrir, ver o
As antenas de celulares que são muito pequenas e captam diferentes tipos de
fora da casa. E ouvir.
sinais usam da inteligência fractal.
Se Nhanderu está em uma fenda em uma casa. Se ele está no espaço entre o
Uma forma de sacar o fractal é pensar sobre rugosidade. Perceber as texturas
dentro e o fora. Se ele está no dentro que olha pra fora através de uma fenda. E
com ZOOM IN e ZOOM OUT.
escuta. Então, me parece que a falta de conexão é menos sobre o tipo de fenda
Imagine, por exemplo, uma estrela que não está mais em chamas. Que formato
que é construída, e mais em qual perspectiva quem olha através dela opera. Mas
tem essa estrela? A estrela mesmo, não a sua representação, que possivelmente
as duas coisas estão em jogo. E uma contém a outra.
viria de acordo com geometrias mais achatadas, simplistas. Agora Zoom In na
estrela. Tem ali uma espécie de montanha. Zoom in nela. Na montanha, uma
montanhinha. Zoom in na montanhinha. Ali tem outra. E assim por diante.
Agora imagine que você é uma ruga da Terra. Uma ruga móvel. É tipo isso.
Talvez por isso a avó seja meio a onça. Porque ela tá toda enrugada já. E cheia de
tentáculos.

Play
Coreografar uma corrente humana com muitas pessoas – um coro multidão - que
transportam materiais para a construção de um buraco da seguinte forma:
Todos saem do Teatro Oficina e fazem uma espiral gigante no sertão do terreno
ao lado. O movimento não pára e os materiais do buraco passam de mão em mão.
No centro da espiral, cada pessoa da corrente, uma a uma, entra no buraco que
ainda vai ser construído com os instrumentos que carrega. E então, ninguém mais
pode impedir que estejamos no terreno plantando sementes.
*Tudo é filmado com um drone com um enquadramento que pega todo o terreno.
Game Over

Rio Aranha
Qual o alcance desse texto? Com que redes estamos tecendo o terreyro?

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Cobra Furta-cor
No céu do Viaduto Libertas corria um rio. Um rio de pano. A Cobra Grande. Uma
grande cobra azul.

(acima do rio, carros passam. Os carros podem gerar energia elétrica para o baixio
através de sensores de pressão e/ou movimento. E então, fluímos mais o rio,
porque menos nós na rede d’àgua vão ser dados).

Sempre que eu olhava para cima, pensava nos Rios Voadores – nos cursos d’água
atmosféricos que transportam água da bacia amazônica até a região sudeste e
arquitetam junto o clima daqui.

Não fosse a grande floresta mãe, viveríamos em um clima desértico. Como


acontece, de forma padrão, se observarmos a mesma longitude em outras partes
do globo.

Acima de nossas cabeças, aqui em Sampã, corre água, fruto fresco, molhado,
amazônico. Sempre que uma árvore é cortada lá, aqui fica mais seco também.
Sempre que é dado um nó num rio lá, um nó d`água é dado no corpo daqui.
Durante o II Festival Internacional de Tecnoxamanismo, na Aldeia Pará Pataxó,
no sul da Bahia, apareceu uma cobra branca. Eu estava pensando que a cobra
branca era uma sanguessuga ou uma cobra-cega. Depois, o Pajé Djalma declarou
que a cobra branca era a internet. Ela era bem-vinda na aldeia. Ele estava grato.
Mais tarde, disse que colocaria a cobra branca dentro de uma garrafa, para que
controlasse seu tamanho. A cobra branca elétrica e seu limite.

Ainda acho que a raiz da cobra é preta, marrom, vulcão, fundo da terra, húmus.
Depois, tem todas as cores. Furtacor.

A Cobra Grande Azul foi transformando-se em apoio e cobertura para as casas


que estão brotando no Baixio Libertas há um tempo. De uma forma parecida com
a qual a madeira que foi lá colocada virou fogo e casa.

O espaço prega-peças. E me parece que é nesses momentos que ele fala mais
fundo e preciso, porque não é nenhum dos eus que diz.

O espaço grita.

28 29
Abundância e Diversidade Já Era
Então, de repente, a abundância aparece em um banquete onde não preciso me Estamos no Antropoceno, no Capitaloceno, no Chtuluceno ou na Antropofêmea?
preocupar em devorar o outro, porque entendo que ao sentar na mesma mesa Depende pra quê e pra quem.
para compartilhar do mastigar e engolir da linguagem, uma parte de nós dois está
se relacionando ao todo, se convertendo nele e o reproduzindo.

Mesmo que eu não entenda seus porquês, eu como.

Eu, o outro, o todo. Sem trinarismo de gênero.

A parte que eu intencionalmente devoraria do outro já está em mim. É anterior


a minha intenção, porque faz parte da estrutura do meu corpo, o qual é capaz
de, simultaneamente ser íntegro e divíduo, encontrando a totalidade em
acontecimentos compartilhados.

Como fazer fogo e comer. Ou lançar um foguete para o espaço. Ou uma


coreografia onde estamos de mãos dadas sem necessariamente dar as mãos,
porque nem todas as mãos se encaixam e tudo bem.

E isso só é possível em um sistema que tende à diversidade.

O meio do meio
Para o projeto tecnológico mais em voga agora, é mais interessante a anestesia
do que a escuta do corpo. Porque pra eles o mais importante são os carros. Tem
muito mais espaço pra eles no espaço público.

Quando ando de bicicleta em Sampã, me sinto quase em disputa por um território


- vejo caretas vindas dos carros em minha direção – e no fundo, eu só queria
andar de bicicleta às vezes para trilhar uma trilha. Mas o fundo nessa trilha é
quase inatingível e a superfície está ali, esperando para ser tatuada de vermelho
sangue abrindo espaço para o povo que vai de bike.

Colocar as máquinas em um lugar quase extraterrestre corre o risco de escurecer


a região da consciência em que eu entendo o meu desejo por ela de acordo com o
que ela causa no meu corpus.

30 31
Teste ll) Um ser antropófago;
mm) Um grito de gozo;
Se abrirmos uma fenda ancestrofuturista no Bairro do Bixiga, que entidades vão
nn) Um ser antropo-falo-ego-logocêntrico;
dançar ali? Assinale uma ou mais alternativas:
oo) Um grito de socorro;
pp) Um pomar;
a) Bailarinos Contemporâneos;
qq) Flores pisoteadas;
b) Arquitetos Cênicos;
rr) Uma árvore queimada;
c) Moradores de rua;
ss) Carros;
d) Descendentes de ex-escravos;
tt) Uma entidade que ninguém sabe o nome;
e) Indígenas;
uu) Crianças brincando;
f) Instituições que apoiam ações artísticas em São Paulo;
vv) Pessoas sedentos por jogar futebol;
g) Assistentes Sociais;
ww) Bici-máquinas;
h) Médicos;
xx) Cooperativa de moradores do bairro;
i) Animais perdidos;
yy) Agricultores;
j) Pássaros;
zz) Performers;
k) Insetos;
aaa) Artistas que praticam magia;
l) Urbanistas;
bbb) O prefeito da cidade;
m) Alguém que não sabe voltar para casa;
Produtores
n) Alguém que caiu em um buraco;
ccc) Pessoas que querem co-criar um espaço público;
o) Algúem que tropeçou;
ddd) Pessoas que querem ativar um projeto antigo;
p) Alguém que sabe voar;
eee) Alteradores de consciência;
q) Filósofos;
fff) Educadores;
r) Cirandeiros;
ggg) Cooperativas do bairro;
s) Curandeiros;
hhh) O Mst;
t) Alguém que controla o tempo;
iii) Acrescente aqui sua alternativa e assinale-a ou não:_________________
u) Alguém que altera a vibração do espaço com o movimento do corpo;
_____________________
v) Alguém que quer meditar com o som do espaço;
n) Todas as alternativas estão corretas;
w) O espaço entre todas as alternativas;
o) Nenhuma das alternativas está correta.
x) Rios Flutuantes;
p) Não existe correto.
y) Um Exu com uma faca;
z) essa pergunta não deve ser feita porque não existe resposta.
z) Uma Pessoa fractal;
e) Essa pergunta não deve ser feita porque algumas palavras não devem ser ditas.
aa) Um poeta com olhos de pérola negra.
bb) Alguém que toma hormônios para mudar de gênero;
cc) Alguém que fala uma língua que ninguém entende ainda;
dd) Um ciborgue;
ee) Eletricistas;
ff) Lixeiros;
gg) Atores;
hh) Um bloco de carnaval;
ii) Ratos mortos;
jj) Bruxas;
kk) Fantasmas;

32 33
Geiser Atenção/Intenção
Para que os monstros das profundezas da terra comecem a emergir, é necessário No documentário de Herner Werzog Eis os delírios do mundo conectado,
quebrar o asfalto. um dos pioneiros da internet, Leonard Kleinrock, diz que é possível prever
Um chafariz com água do rio. o comportamento de uma rede quando ela é grande e isso se chama Lei
dos grandes números. Essa lei diz que uma grande população de jogadores
imprevisíveis, ou mensagens, coletivamente se comporta de modo previsível. Ele
diz que quanto maior a rede, mais eficiente ela se torna, por ser mais previsível.
Eu digo que gostaria de saber o que ele chama de eficiência.
Anteção: esse tipo de rede está sob controle de pessoas que entendem esse
padrão e o utilizam de acordo com suas intenções.
Isso me faz pensar no tempo da mudança e no gráfico abaixo, que contém chaves
sobre como as mudanças atuam no presente:

Eu acrescentaria uma bola antes das moléculas e outra depois de Sistemas de


informação genética e geológica, a mesma bola duas vezes. Escrito assim: forças
invisíveis que nunca conseguiremos nomear e com as quais podemos aprender a
nos comunicar sem palavras.
Talvez dançando...

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Pureza Mata
Guatarri, no livro As três Ecologias, conta uma história de um experimento A agricultura sintrópica é capaz de produzir abundância de alimento ao mesmo
que gosto muito. Diz que um polvo é tirado de seu habitat já completamente tempo que regenera ecossistemas devastados. Ernst Götsh diz que “Temos
contaminado por poluição e colocado em um ambiente criado artificialmente que criar áreas de inclusão permanente, não áreas de proteção permanente.”,
simulando o que seria o mesmo lugar antes de ser poluído. O polvo morre. referindo-se as matas.
Também diz que não existe solo ruim.

A Oficina do Caleidoscópio Virtual


Acredito que a arte pode operar como uma espécie de lupa. Ou como um Cibernética Verde
caleidoscópio virtual de mudanças de escala. Ao falar da Oficina de Florestas, dentro de um texto sobre o Anhangabaú da FelizCidade,
E formar pessoas. o Zé Celso cita a revolução cibernética como um indutor do retorno ao verde.
A Iaci Kupalua me contou que o Zé evocava os tecnoxamãs no Macumba
Antropófaga, a primeira peça que vi do Teatro Oficina. Eu nem me lembrava disso.
Anos depois de ver a peça, trabalhei, junto à Voodoohop em uma festa no Teatro
PLAY Oficina para arrecadar dinheiro para ir junto do Ônibus Hacker, de Sampã até o I
1 - Em um dia de sol, nos baixios do Viaduto Libertas, meditamos um tempo Festival Internacional de Tecnoxamanismo, no sul da Bahia.
sobre que palavras flutuam entre o Sol e a Madeira. Eu acredito que as florestas na cidade são matas tecnoxamânicas.
2 - Grafamos as palavras em tocos de madeira utilizando a tecnologia dos raios
solares junto a uma lupa. A lupa atua de forma convergente, de modo que os raios
que antes incidiam em uma grande área, sem foco, passam a incidir sobre um
ponto preciso. Como se muitas estrelas brilhassem para alcançar um objetivo que
está claro para todas – escrever a palavra que flutua entre o Sol e a Madeira. Fumaça
3 - Quando anoitece, fazemos uma fogueira com os tocos grafados e cantamos as Um triângulo de fumaça entre a fogueira da cozinha coletiva da Kalipety, outra
palavras para o fogo. As palavras morrem. na Praça do fogo no Baixio Libertas e a fogueira que ascendemos no Vale do
Game Over Anhangabaú no Dia dos Mortos.

Choque de Monstrx
Qual a diferença entre o fogo e a eletricidade?
Quando olho para o fogo da fogueira na Praça do Fogo no Baixio Libertas, vejo
cores que me remetem às cores da eletricidade. E recarrego a vida.
Se parar a energia elétrica do grande sistema do qual dependemos, podemos
fazer fogo. Mas se fizermos bicimáquinas, podemos seguir com energia elétrica.
Com a web é o mesmo. Se criamos nossas próprias redes (online e off-line),
em caso de uma grande pane, seguimos conectados. Ou, se cortarem com um
simples comando as redes de massa, temos nossas próprias.

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Privado x Público O som do espaço
Estamos sendo privados dos sentidos. Do horizonte. De ver o céu cheio de Se não sou eu, nem você que está dizendo, então dizer o que quer o espaço me
estrelas, o rastro de fogo dos meteoritos que chegam na atmosfera e o caminhar parece ter um quê de aleatório. Mas, nesse caso, o que é o aleatório? Talvez, uma
contínuo dos satélites. E senti-los em comunicação com cada ponto por onde sai trilha para espiar a rede. Espiar porque a rede está para além do lugar no qual
um fio de cabelo de nosso crânio. conseguimos chegar com o corpo, a não ser para espiar.
Em um dia da prática da Coisa Coreográfica durante o Cerco Coreográfico ~ Coisa Para espiar por inteiro, é preciso, por um instante, esquecer que estamos
Coreográfica, estávamos na rua e andamos pelos arredores do Terminal Parque espiando, porque é preciso ir para um outro lugar, que não é o território desse
Dom Pedro, seguindo proposições do Daniel. Ao caminhar pela escuridão dos jogo de juntar símbolos para formar palavras. E saber voltar. Na volta, encontrar
baixios de um viaduto naquela região, pedi licença, em silêncio. Senti que, por na matéria uma forma de trazer um quê da espiada, dizendo-a sem dize-la.
mais que o espaço ali fosse público, ele não era meu. Ou era muito pouco, porque Trazer informações desse lugar é uma tarefa exigente, já que no caminho
era muito mais de entidades que habitam aquele espaço e que estavam lá. encontramos muitas necessidades. Incluindo as mais básicas. Como o constante
Se pessoas também são entidades, a rua é de quem? pulsar do coração e a respiração. E as mais complexas, como perceber que, em
cada contexto, algumas palavras abrem ou fecham portais de comunicação e
aplicar essa percepção enquanto nos comunicamos.
Porque o primeiro passo para ouvir o som de cada espaço é ouvir as pessoas que são
mais íntimas dele. Já que, na verdade, quando não estamos espiando, só sabemos
Esconde-esconde da cidade como é ouvir um som sendo o que somos, sendo cada perspectiva em jogo.
Quando joguei esconde-esconde nos baixios do viaduto Libertas, proposto pela O que eu quero dizer é que o espaço é o lugar do encontro. Como dançar e por
Andreia Yonashiro em meio a prática de dança chamada Coreotopologias, me senti um ínfimo segundo olhar no olho de alguém e perceber que, na verdade, você está
em uma experiência que triangulou no meu corpo o passado, o presente e o futuro. dançando junto, mesmo sem olhar. Que o seu corpo toca o outro corpo mesmo
No interior de São Paulo, a rua era o lugar de brincar. O esconde-esconde era um sem encostar, mesmo sem você saber. A coisa já é. Voltar da espiada, nesse caso,
dos jogos mais recorrentes – durava horas, com todas as crianças do bairro e o é ter certeza de que só podem te tocar de fato se você quiser. Senão é invasão.
limite era todo quarteirão. Às vezes, era até a praça da igreja. Depois, começou Então dançar é aleatório? Não, mas o aleatório às vezes dança através de nós. E
a ficar perigoso brincar na rua, porque algumas casas foram sendo roubadas e então, é possível ouvir o espaço, por que, por um instante, as vezes ínfimo, como
outras histórias que traziam medo aconteceram. Foi mais ou menos na mesma o de anos sentado na mesma pedra, ou o de um piscar de olhos, você foi íntegro
época que chegou a internet e mais ou menos quando eu deixava de ser criança em suas implicações relacionais como ser vivo.
e virava um adolescente. Parecia a entrada para um longo período de trevas. E
muitas descobertas. Mas eu nem sabia disso.
Nos baixios, busquei os cantos mais escuros, lugares que eu normalmente nem
pensava em me aproximar. Senti novos cheiros, senti a terra mais próxima. Quase
pensei em entrar em tocas, em casas improvisadas que nem eram minhas, mas
não entrei, porque as casas não eram minhas. E respeito é saber onde não tocar.
O espaço ampliou. Corri. Encontrei novas rotas de fuga, criei novas estratégias de PLAY
trilhar no espaço sem ser visto para não ser caçado. E tudo não passou de uma
brincadeira com o aqui e o agora. Solta um som e relax.
Em uma cidade lúdica, onde esconder-se é para quem quer brincar e jogar o jogo.
Uma cidade onde muitos devires monstruosos saíram dos cantos escuros porque GAME OVER
desejaram trilhar uma trilha até @ canteyr@ para colher uma fruta e girar e gritar
e contar até......

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PersPeCiFra Anhangá
Roy Wagner criou o conceito de Pessoa Fractal e a define como uma entidade Desde os tempos em que a onça andava pelo centro da cidade, sabe-se que
cujas relações (externas) com os outros são parte integrantes de si (internas). Anhangá é uma entidade protetora dos animais mais indefesos. Persegue e pune
Desconstroi os binarismos entre indivíduo e grupo, singular e plural, parte e aqueles que caçam filhotes ou animais que estão amamentando. Desvia as armas
soma, sugerindo um modo de pensamento mais holista onde as relações estão dos caçadores para que seus alvos virem aqueles que mais amam.
integralmente implicadas. Esse autor sugere que a pessoa fractal é, o que Donna Pode assumir várias formas, inclusive a humana, mas geralmente aparece como
Haraway chama de ciborgue - um ser integral parte humano, parte máquina, que um veado branco de olhos vermelhos. Um sinal de sua chegada é o assobio.
brota do fim do binarismo entre humano e animal. Obviamente não se deu bem com os colonizadores, que chegaram caçando o que
Me parece que a Pessoa Fractal, O Ciborgue e o Perspectivismo do Viveiros de queriam sem falar com ele. Então, eles demonizaram Anhangá, como fizeram com
Castro (que conversa com os outros dois autores), são inputs interessantes para tudo que operava em uma perspectiva que eles não acessavam.
gerar novas formas de perceber o espaço e desconstruir gêneros criando novos Caso alguém seja atacado por um animal selvagem, pode pedir ajuda de Anhangá,
formatos de organização em co-. gritando: “Valha-me Anhangá!”. Também é possível fazer um pacto com ele,
oferecendo tabaco em troca de uma caça bem sucedida.

A certeza da Raiz, do Céu e do Sol


Uma vez, na aula da Coisa, o Daniel pediu que escrevêssemos quais eram as
nossas certezas. Eu fiquei um pouco assustado ao perceber que tínhamos
pouquíssimas. Pelo menos foi o que pareceu ali.
E depois, pensei que a primeira certeza é que sou um corpo e isso abre pra várias
outras certezas, que abrem pra várias outras certezas, como uma árvore com
raízes profundas, com muita abertura para o Céu e o Sol, que tem suas próprias
certezas também.
As certezas contém histórias que devem ser contadas e recontadas.

PLAY
1 - Invente uma palavra indizível e diga-a para o grupo uma vez. Um de cada vez.
2 - PLAY
O sistema de GPS é desligado com um click.
GAME OVER
3 - Respire fundo e solte sua palavra em voz alta e assim repetidamente por cinco
minutos, enquanto todos os outros da roda fazem o mesmo.
GAME OVER
Mitologia do Kaos
Na prática, a teoria é outra.

40 41
GAME OVER

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LISTA DE QR/LINKS
página 8
QR1 - http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1414-98931994000100005

página 12 por ordem de aparição


QR2 - https://yogashamkara.wordpress.com/2011/08/08/trishula-%E0%A4%A4%E0%A5
%8D%E0%A4%B0%E0%A4%BF%E0%A4%B6%E0%A5%82%E0%A4%B2/

QR3 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Tri%C3%A2ngulo_de_Sierpinski

página 13
QR4 - https://www.youtube.com/watch?v=sUpQ4q8M39s&list=PLjqIVH57lkkHij8xqcecKRG
gSKdrPsZxB

página 15
QR5 - https://www.facebook.com/rioseruas/?fref=ts

página 16
QR6 – http://agroflorestadofuturo.com.br/index.html

página 21 por ordem de aparição


QR7 - http://ordinatous.com/pdf/The_Fractal_Geometry_of_Nature.pdf

QR8 - http://www.fractalforums.com/index.php?action=gallery;PHPSESSID=311b18fe5b71c
12456a837e2d575e861

44 45
página 32 por ordem de aparição
QR9 - https://drive.google.com/drive/u/0/folders/0Bwb5iHWzBrmMNjM0MDEyMWQtYmQ0
YS00ZGM4LTk2NGYtMDQ1ZDg1YzY5OWQ2

QR10 – https://we.riseup.net/assets/128240/ANTROPOLOGIA+DO+CIBORGUE.pdf

página 35
QR11 - https://pt.wikiversity.org/wiki/Introdução_à_Permacultura_Urbana

página 37 por ordem de aparição


QR12 - https://www.youtube.com/channel/UCf9s-yeskYZweEuKyq1ia6w/videos

QR13 - http://www.teatroficina.com.br/teatro_estadio

QR14 - https://tecnoxamanismo.files.wordpress.com/2016/06/livro-
tecnoxamanismo-final.pdf

página 41
QR15 - https://www.youtube.com/watch?v=R45gi7OlJWk&list=PLDOgdqWWPYYIfiV
YZYOh12AJVoXpUbXh1&index=115

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Fernando Gregório. Mitológicas. Terreyro Coreográfico. 2017

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