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Relato de conversão de Paulo Gondim ao

catolicismo

É com muita alegria que escrevo este meu relato, que tem como modelo o
1
testemunho de Fábio Salgado de Carvalho, e que será, obviamente, muito mais sucinto
que o dele. Recomendo, veementemente, a leitura do relato referenciado, afinal, foi
basilar para a construção deste e contém informações importantes que poderão sanar
eventuais dúvidas. Meu nome é Paulo Henrique Gondim Sobral, nasci em 17 de março
de 1994, em Recife, capital pernambucana. Atualmente sou graduando de Direito, na
Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. Mais importante e respeitável que isso,
sou aluno do Seminário de Filosofia do Professor Olavo de Carvalho, no qual a formação
intelectual, moral e espiritual é muito mais digna que a futura posse de um diploma. Antes
de esclarecer o contexto da minha conversão, quero pontuar os motivos pelos quais
escrevo esse relato, já que algumas pessoas próximas me indagaram. O primeiro motivo,
e o mais significativo, é por considerar minha relação com Deus a prioridade da minha
vida, pois nada nessa existência terrena teria sentido ou valor se minha alma não tivesse
a oportunidade de entrar em contato com o Divino: minha conversão ao catolicismo é
justamente um passo fundamental no estreitamento desse contato. Logo, deixar registrada
minha decisão é uma das formas de comemorá-la. Em segundo lugar, escrevo por saber
que existem pessoas que têm as mesmas dúvidas que eu tinha sobre a Fé e Doutrina
Católica, e que precisam apenas de um “gatilho” para compreender, ou para buscar
compreender. Esse relato pode ajudá-las a tomar a mesma decisão, como foi de grande

1
http://documents.scribd.com.s3.amazonaws.com/docs/6yosunehhc3mn07f.pdf
ajuda o relato do Fábio para mim. Por último, é a forma que encontrei de minimizar os
questionamentos em privado, evitando o desgaste de responder repetidamente às mesmas
perguntas toda vez que me questionarem, visto ser normal as pessoas do meu convívio
imediato e as que verdadeiramente se importam comigo terem curiosidade do real motivo
da minha escolha (como alguns podem supor os motivos mais diversos e fúteis possíveis).
Exposto isso, resta clara a finalidade da publicação do meu testemunho. Espero que
atenda bem ao propósito.
Minha decisão de converter-me ao Catolicismo se deu, por uma coincidência
cômica, no dia 29 de outubro desse ano (2017), mês em que se comemorou os 500 anos
da reforma protestante. A imagem que embeleza o início desse relato é a da conversão de
São Paulo, do pintor espanhol Bartolomeu Estevão Murillo, que ilustra perfeitamente
como compreendo meu processo de conversão: um verdadeiro encontro com a Luz2.
Até chegar esse belo dia, foram 15 anos de jornada longe da Santa Igreja
Católica. Fui criado no meio protestante desde meus 08 anos de idade, sempre na mesma
denominação, a Igreja Cristã Maranata com presbitério no estado do Espírito Santo. Fui
batizado aos 15 anos e sempre fui bastante ativo nessa igreja. Desde os 14 anos, pelo
menos, participei do grupo de louvor na parte de canto, no tanger de instrumentos
musicais e exercendo a função de obreiro. Meus pais permanecem sendo membros dessa
igreja e sempre foram ativos também: meu pai nas mesmas funções que eu exercia e
minha mãe como professora da classe de adolescentes. Não posso jamais negar que,
mesmo no protestantismo, tive experiências genuínas com o Eterno e que sou
extremamente grato a todos que oraram e me apoiaram na caminhada nessa denominação.
Talvez, algum protestante que leia isso alegue que eu não conhecia verdadeiramente o
protestantismo ou que não sabia o que ele significa. Deixando de lado essa presunção
tacanha e falsa, rapidamente questiono: qual deles eu deveria conhecer? Realmente,
ficaria difícil encontrar o ‘verdadeiro’ protestantismo diante de uma multiplicidade
absurda de doutrinas existentes. Será que o encontraria numa igrejinha pequena e
independente lá no norte de Alagoas? Ou na Luterana? Ou na de Waldomiro Santiago,
“apóstolo” da minha digníssima avó? Ou numa das, segundo fontes protestantes, 8000
denominações existentes? Não sei, bastante confuso e quase humanamente impossível
conhecer todas as diversas doutrinas das diversas denominações espalhadas por aí.
Independentemente da denominação a que fui congregado, eu compreendi
bem o valor do serviço a Deus. A Sua Palavra foi, por inúmeras vezes, o único consolo
que encontrei para arejar a minha alma. Recebi livramentos de morte, cura de uma
enfermidade, resposta de orações, entre tantas outras experiências que foram suficientes
para ter prova da Misericórdia Divina, ainda que distante de Casa. Se minha experiência
não tivesse sido real, minha alma não seria sedenta ao ponto de buscar continuamente a
Verdade3 (que é Deus) para, finalmente, encontrá-la. Além disso, imerecidamente, o
Senhor de Todas as coisas me contemplou com amizades verdadeiras (irmãos que eu
nunca tive) das quais não abrirei mão independente da divergência de fé.
Aproveito esse momento para dizer que nada tenho contra os membros da
minha antiga igreja e de nenhuma outra denominação protestante. Que fique claro que a

2
Atos dos Apóstolos 9:3
3
Salmos 41:3
divergência é doutrinária e não pessoal. No que de mim depender, a relação continuará
amistosa, pois não há motivos para inimizade4.
Acredito piamente não precisar me delongar mais acerca da minha
experiência como protestante, visto que não se trata do ponto principal. O importante já
foi mencionado: eu tive, sim, uma experiência fidedigna com Deus nesses 15 anos. Quem
quiser negar isso é apenas um tolo.
Contarei, então, como se iniciou meu processo de conversão. Terei antes que
esclarecer algumas coisas importantes. Uma delas é que ninguém veio me evangelizar
para que me tornasse católico. Absolutamente ninguém. Nem amigos de convivência
diária, nem algum padre ou estudioso. A iniciativa foi minha, partindo do estudo solitário
do catolicismo e de muita oração. Outra é, como já disse, que sou aluno do Seminário de
Filosofia do Professor Olavo de Carvalho5. E nesse curso aprendemos alguns preceitos
basilares para a vida intelectual, e um deles é a honestidade intelectual. Tal preceito
consiste em não criticar ou falar sobre algo do qual você não tem o mínimo de
conhecimento. Atitude típica de brasileiro é adorar ter e emitir opinião sobre tudo, com
ares de sabedoria ancestral, mesmo não sabendo sobre nada.6 Comigo acontecia
exatamente isso, tratando-se do Catolicismo. Era um “palpiteiro” inconsequente. Outro
fato interessante é que grande parte das pessoas que souberam, por mim, da minha
conversão, inclusive meus pais, acham que a “culpa” é do Professor Olavo de Carvalho.
É risível, mas não os julgo por acharem isso, já que o Professor é realmente muito
influente. Meus pais até acham que, embora eu tendo formação militar como Oficial da
Reserva da Cavalaria (com experiência em armamento pesado e com blindados), minha
vontade de portar uma arma é influência das aulas de Filosofia7. As pessoas sentem uma
necessidade urgente de achar um bode expiatório a todo custo, ao invés de aceitar que as
ações e decisões podem partir de um indivíduo pensante. Contrariando o raciocínio que
essas pessoas tiveram, na verdade, eu comecei a ser aluno do COF numa época em que o
Professor criticou duramente o protestantismo em sua conta no Facebook. E, na época,
fiquei extremamente inconformado com os dizeres, mas deixei de lado por ter em mente
apenas os ensinamentos filosóficos e políticos que ele tinha para oferecer, ou seja, se
dependesse unicamente do que o Professor disse, enquanto aluno dele, talvez eu ficasse
apenas na inconformidade e permanecesse no protestantismo, como uma gama enorme
de alunos dele ainda permanece. No máximo, a “culpa” do Professor é indireta, devidos
às exposições históricas que só fui assimilar após iniciar os estudos. O único contributo
real e direto do Professor na minha conversão, além do ensino dos preceitos e de boas
amizades, foi ter sugerido, na sua página, que seguíssemos, na rede social, alguns dos
seus alunos mais aplicados, dentre eles o Fábio Salgado de Carvalho. Esse, sim, teve
influência direta no meu processo de conversão, ainda que não tenhamos conversado mais
que quatro vezes (todos os diálogos iniciados por mim para retirada de dúvidas). Sou
extremamente grato a Deus pela vida dele, que, sem saber, foi um instrumento decisivo
nas mãos de Deus, com seu trabalho de traduções de textos católicos e de publicações

4
Gálatas 5:19-20
5
http://www.seminariodefilosofia.org/
6
https://www.facebook.com/contraosacademicos/photos/a.1300927683319951.1073741838.74350144
2395914/1391103854302333/?type=3&theater (não resisti).
7
http://www.mvb.org.br/campanhas/mentiramparamim.php e
https://docslide.com.br/documents/armas-defesa-pessoal-e-a-bablia-livro-para-downloadpdf.html
lúcidas que me fizeram despertar para a realidade. Talvez ele não tenha ciência da
importância do trabalho que ele realiza nas redes sociais. Mas, certamente, Deus o
recompensará justamente, e ele estará sempre em minhas orações!
Retornando ao que disse, acerca do preceito da honestidade intelectual, eu
interiorizei essa regra e passei a aplicar em tudo que faço. Desde então, mudei muito
minha visão de mundo, porque realmente passei a me informar e a ler mais e não acreditar
cegamente em tudo o que haviam me ensinado.8 Só que, a contragosto, deparava-me
constantemente, desde junho, com as publicações do Fábio as quais contrariavam tudo o
que eu compreendia sobre a Igreja Católica. Não é difícil de imaginar o quanto é
aborrecedor ver sua fé contrariada continuamente. Porém me dei conta de uma verdade:
eu não sabia absolutamente nada sobre o catolicismo por fontes católicas. Tudo o que eu
“sabia” era terceirizado da boca de pastores ou sabichões protestantes, da emissão dos
mesmos estereótipos consagrados (idólatras, povo que não lia a Bíblia, etc.), das
suposições mais toscas (como o estranho caso de que todo novo Papa é o anticristo) e dos
espantalhos históricos (sobre a Inquisição, indulgências). Nunca havia lido um livro ou
sequer um mísero artigo católico. Todas as minhas certezas eram unilaterais, baseadas
numa convicção arrogante e num delírio de sentir-me superior por saber da “verdade” tão
óbvia. Afinal de contas, “como os católicos poderiam ser tão ignorantes ao ponto de não
saberem o que está escrito na Bíblia? É tão simples ver que tudo o que eles acreditam
contraria a Palavra de Deus”. Pois bem, eu pensava assim. E como diz o Professor Olavo
de Carvalho:

“O homem medíocre não acredita no que vê, mas no que aprende a dizer”.

Sim, eu vivia segundo essa mediocridade. Apenas repetia para todos, com
pose de veracidade científica, as supostas verdades que jamais investigara. Fazia
afirmações categóricas sobre a Doutrina Católica sem nunca ter lido, por exemplo, o
Catecismo. Fundamentava meus argumentos históricos de acordo com os doutos editores
dos livros do MEC, o Ministério de Educação Comunista (ou, como inadequadamente
chamam, Ministério da Educação). Fazia suposições bíblicas e proféticas segundo a
conveniência do que eu acreditava. É deprimente, mas é verdade. Como eu poderia ser
intelectualmente honesto dessa forma?
Busquei, então, informar-me por fontes católicas, para sanar esse mal.
Observem que, quando me deparei com minha desonestidade e fui me informar, eu não
tinha “intenções” de me converter, mas apenas de ter argumentos para criticar
verdadeiramente o catolicismo, que eu ainda podia jurar ser um engano.
A primeiríssima coisa que fui estudar foi o entendimento da Igreja Católica
sobre a Bíblia9, e não poderia ser diferente, pois, como protestante à época, valia-me

8
http://www.olavodecarvalho.org/o-crime-desorganizado/
9
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/2016/09/igreja-catolica-superior-biblia-ou_18.html
unicamente do que estava escrito na Bíblia por crer na Sola Scriptura10. Fui ao blog do
Fábio11 (site fundamental para meus estudos nesse período), procurar um artigo do Dave
Armstrong12 que trata justamente sobre as refutações dessa Sola. Quando vi que seriam
“rápidas” refutações13, como bom brasileiro que sou, não resisti e logo abri, na esperança
de encontrar lacunas para sentir o gostinho de uma futura crítica e objeções a essas
insolentes refutações.
O único gosto que senti, de verdade, foi do espanto. Li e reli diversas vezes,
perplexo, aquele simples e rápido artigo de que, para minha infelicidade momentânea, eu
não tinha como discordar. Discordar apenas por ir de encontro ao que eu cria ser o correto
seria uma grave ofensa à minha inteligência. É como dizem por aí: a ficha caiu. Se o
princípio basilar do protestantismo se desmancha, não faziam mais sentido as razões da
minha fé. Irei transcrever uma publicação do Fábio no Facebook que é esclarecedora:

“O “Sola Scriptura” é verdadeiro se, e somente se, for falso! O princípio


é paradoxal em si mesmo porque necessariamente a Igreja tem de ter sido infalível,
pelo o menos, quando reconheceu quais livros faziam parte da Bíblia. Se a Igreja
tiver sido infalível, no mínimo, ao fazer isso, a própria Bíblia já não pode ser a única
regra para normas de fé e prática.
Se você não aceita essa infalibilidade da Igreja em nenhuma
circunstância, nem mesmo no reconhecimento do cânone bíblico, o “Sola Scriptura”
é falso pela simples razão de não existir nenhuma maneira empírica de você saber
qual é a Escritura a ser usada como única regra. Se você pontificar alguns critérios
da sua cabeça, você já será uma autoridade superior à Bíblia pelo fato de esses
critérios não constarem nela”
15 de novembro de 2017.

Mais claro que isso, creio ser impossível. Na Bíblia, não encontraremos um
só princípio que indique como ela deve ser composta14. Simples: é necessário que haja
uma autoridade constituída por Deus para separar o joio do trigo. Essa autoridade é a
própria Igreja Católica. Isso ficou claro em questão de dias. Aliás, é incrível como os
protestantes atestam a autoridade da Igreja Católica sem perceberem isso. Certa vez,

10
Incrível, e terrível, notar que boa parte dos protestantes nunca ouviram falar sobre as Solas, sobretudo
os mais adultos. Ao menos dos que eu conheço. Um bom artigo
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/2016/10/por-que-os-bereianos-rejeitaram-o-sola_8.html
11
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/
12
Apologista Católico maravilhoso, que não cessa de produzir bons materiais. Uma das minhas felicidades
no Facebook foi ter sido seu amigo de número 5 mil, fechando a cota de amigos de sua página. Sempre
que posso, leio seus artigos em inglês, ainda que com muito sacrifício. Para quem quiser segui-lo:
https://www.facebook.com/dave.armstrong.798 e seu blog
http://www.patheos.com/blogs/davearmstrong/
13
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/2016/10/uma-rapida-refutacao-do-sola-scriptura.html Leiam!
14
http://documents.scribd.com.s3.amazonaws.com/docs/514s9fh4e811akew.pdf
minha mãe, que muito se afligiu com minha decisão, disse, emocionada e com lágrimas
nos olhos, que cria apenas na Palavra de Deus. Eu, por pouco, não respondi o seguinte:
“Dou Glórias a Deus porque a senhora crê. Eu também creio, afinal, foi a Santa Igreja
Católica que selecionou cada livro escrito lá.”. Não falei para evitar conflitos, porém é
um fato. Como já dizia o Pe. Paulo Ricardo, com outras palavras: “porque os protestantes
aceitam o novo testamento inteiro, que foi selecionada pela Igreja, mas não aceitam a
autoridade da Igreja?”. É, no mínimo, curioso.
Não sei se estou sendo suficientemente claro para trazer a imagem da minha
aflição nesse relato, pois era exatamente esse o sentimento que tinha me tomado. Naquele
momento de leitura, eram 15 anos de certezas que estavam indo ao chão. Minha fé estava
em xeque, e eu, no fundo, não queria aceitar isso. Contudo, a Verdade é irresistível. Se
eu simplesmente ignorasse esse fato por mera conveniência, não amaria a Verdade, por
consequência não amaria a Cristo15. Depois que meditei muito, ficou mais fácil assumir,
para mim mesmo, que era necessária uma mudança. Não necessariamente uma migração
para a Fé Católica, pois ainda tinha vários preconceitos... Mas permanecer no
protestantismo já não fazia mais sentido. Da leitura daquele artigo em diante, iniciou-se
meu processo de conversão. Ficou até fácil compreender as demais coisas sobre a Igreja,
já que não fiquei restrito ao que tinha na Bíblia – principalmente quando foi tratada, no
artigo, a questão da Tradição, algo que fez, de imediato, todo o sentido, e que eu jamais
havia estudado. Se a própria Bíblia diz que Nosso Senhor Jesus Cristo realizou muito
mais do que era possível ser registrado16, não é difícil crer que outras coisas, como a
doutrina que deriva da Escritura, podiam não ter sido escritas, mas sim transmitidas
oralmente aos Apóstolos. Note-se que, em momento algum, estou afirmando que a Bíblia
não contenha a Verdade, mas sim que ela não abrange Sua totalidade17. Abrindo um
parêntese: nesse momento, atentei também ao fato de que também desconhecia por
completo a história dos cristãos que sucederam os apóstolos e que guardaram a Fé18.
Como a história de Bispo Irineu de Lyon, Bispo Inácio de Antioquia, Policarpo de
Esmirna e tantos outros. Isso me perturbou demais, pois me gabava de conhecer bastante
a Bíblia, mas não tive a decência de procurar saber sobre os meus primeiros irmãos na
Fé, só porque o nome deles não constava lá – ou pior: alguns até constam na Bíblia, e
mesmo assim eu desconhecia sua história, como Lino19, sucessor de Pedro.20 O máximo
que sabia era de alguns pós-reformadores. Quantos relatos de Fé e de amor a Deus eu não
perdi por desconhecer a história da Igreja primitiva? Diversos, com certeza.
Retornando à Tradição, fica evidente que os ensinamentos de Cristo eram
transmitidos oralmente, dado que seria inviável passar tudo por escrito, pelo fato de não
ter ocorrido até o século XVI o advento da imprensa. Já cogitou o trabalho colossal de
transcrever milhares de Bíblias? Entendendo isso, percebe-se que o Sola Scriptura não
faz sentido nem sob uma perspectiva histórica, já que seria impraticável até o século XVI,
sem os meios técnicos necessários, a reprodução sistemática da Bíblia, sem falar que o

15
São João 14:6
16
São João 21:25
17
https://www.bibliacatolica.com.br/conhecendo-a-biblia-sagrada/48/
18
https://docslide.com.br/documents/historia-da-igreja-compendio-frei-dagoberto-romag-ofm-v1.html
19
II Timóteo 4:21
20
http://www.ofielcatolico.com.br/2001/05/sucessao-apostolica-lista-de-todos-os.html e
http://www.ofielcatolico.com.br/2001/01/a-pedra-sobre-qual-se-fundamenta-igreja.html
povo era majoritariamente analfabeto. Como, antes do advento da Imprensa, cada cristão
teria sua própria Bíblia para eventualmente consultá-la? Era a Igreja que devia transmitir
os ensinamentos e manter-se fiel a eles. Sem mencionar que, no decurso de séculos, não
havia a Bíblia como a conhecemos hoje. Parece que alguns protestantes acham que ela
caiu “prontinha” do céu. Meu pai, ao se irritar com minha conversão, falou, diversas
vezes, que a Igreja Católica escondia a Bíblia para que os fiéis não vissem a verdade. Mas
era justamente o contrário, pois a Igreja sempre fez de tudo para preservar as Escrituras e
a Doutrina que Cristo nos deixou, inclusive deixando muitos mártires21. Eu,
necessariamente, preciso crer que os ensinamentos permaneceram fiéis: afinal de contas,
não faria sentido Nosso Senhor Jesus Cristo ter prometido que estaria com sua Igreja até
a consumação dos Séculos, sem que os seus servos guardassem os ensinamentos22. Deus
não mente! Considerando isso e tendo em mente que a Bíblia Sagrada não veio compilada
do Céu23, eu precisei aceitar também que aquela história que a Igreja tinha se corrompido
era falaciosa (quando menciono a Igreja, não quero dizer, com isso, que não houve quem
se corrompesse, são coisas completamente diferentes). Afinal, se ela tinha se corrompido,
quem me garante que o cânon está correto, ou que a própria interpretação protestante não
esteja viciada com essa corrupção milenar? Quem me garante, inclusive, que Lutero24 foi
o responsável pelo retorno da “Igreja primitiva”, se ele cria em muitas doutrinas católicas
que os protestantes hoje rejeitam?25 Onde está, na Bíblia, já que ela é suficiente para tudo,
o aparecimento de Lutero? Se vier com uma interpretação do Apocalipse26, pelo menos
que seja unânime entre todos os protestantes, porque nem isso há. Se muito, encontra-se
o advento de Lutero em II Timóteo 4:3. Por sinal, Eric Voegelin, intelectual protestante,
afirma sobre a Reforma que “[...] deve-se descartar especialmente a noção de que a Igreja
estava num estado particular de corrupção, ultrapassando tudo o que acontecera antes”.27
Mais uma vez, exponho as palavras do Professor Olavo de Carvalho:

“Querem que eu acredite que Deus enganou o mundo durante quinze


séculos, até que veio Lutero e botou ordem na casa?”

Difícil, não é? Eu mesmo não acredito. Um parente, na intenção de me atingir,


postou uma indireta numa rede social com uma frase de Lutero que dizia: “é melhor ser
dividido pela verdade do que ser unido pelo erro”. Que raios de verdade bíblica é essa
que não aceita nem os livros que compõem a Bíblia28? Além do mais, as consequências

21
https://padrepauloricardo.org/episodios/a-igreja-alguma-vez-ja-proibiu-a-leitura-da-biblia
22
São Mateus 28:19-20
23
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/2017/11/o-canone-do-novo-testamento-e-seus_12.html
24
https://padrepauloricardo.org/blog/com-que-direito-lutero-queria-reformar-a-igreja
25
http://www.ofielcatolico.com.br/2006/06/dez-crencas-catolicas-de-lutero.html
26
https://www.youtube.com/watch?v=5gZq-d5iHO4
27
Trecho encontrado no livro “História das Ideias Políticas”, do mesmo autor.
28
https://www.bibliacatolica.com.br/conhecendo-a-biblia-sagrada/56/
dessa divisão foram as piores possíveis, sob várias perspectivas29. Entre elas, o sangue de
muitos católicos derramado30. Sobre Lutero31 e a Reforma, acredito que já basta.
Alguns que tenham chegado até aqui devem estar se coçando para apontar
sobre a Inquisição da Igreja Católica, outro evento histórico que maquiaram
formidavelmente32. Peço que assistam, pelo o menos, a este documentário no YouTube,
organizado e produzido pela BBC: https://www.youtube.com/watch?v=1v_KlCNpzYA.
Tudo o que apresentei e indaguei até aqui constitui, digamos, a parte fácil da
minha conversão. Por ter passado tantos anos no protestantismo, era extremamente difícil,
para mim, aceitar algumas coisas no catolicismo. Superar meus preconceitos sobre a
suposta adoração à Maria e culto a ídolos, por exemplo, foi trabalhoso. Incutiram muito
bem essa falácia e, ademais, propaguei-a muito. Lembro-me, ainda, de que estava na casa
de um amigo conversando sobre o cristianismo com ele e mais um colega nosso que é
Católico, cujo nome é Jefferson. Eu e meu amigo simplesmente o bombardeamos com
acusações e humilhações, covardemente, pois ele estava em desvantagem numérica. Dizia
eu que não adiantava de nada ele se dizer cristão e ser um “adorador de Maria” entre
outras acusações clichês. Agora, nesse relato, peço perdão a esse meu irmão, porque, só
agora, compreendi que era órfão de Mãe. Acerca da questão Mariana, li o máximo que
pude33 e só então pude perceber que fazia todo o sentido essa honra especial prestada à
Nova Eva34 e de sua importância35. Assim foi também com o “culto aos ídolos”36.
Interessante, nessa questão, foi saber que até um dos maiores filósofos teístas ainda vivo,
William Lane Craig, que é protestante, afirma que os católicos não são idólatras 37. É até
simples de entender a visão Católica desse ponto: há uma separação clara entre a
adoração, que é única e exclusivamente prestada a Deus; a veneração, uma honra especial
dada à Maria pela sua relevância clara; e a honra, que é dada aos Santos da Igreja38.
Aprendido isso, cai mais um mito. Depois de aprender essa distinção e entendido que
existe, sim, a possibilidade de homens de Deus serem verdadeiramente Santos39, busquei

29
http://www.olavodecarvalho.org/heranca-e-confusoes/
30
http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,festa-dos-martires-lembra-massacre-de-catolicos-no-
rn,70001892785
http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/idade-media/inquisicao/710-a-inquisicao-
protestante-reforma-intolerancia-e-perseguicao
http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/idade-media/inquisicao/853-a-inquisicao-
protestante-pelo-historiador-protestante-philip-schaff
31
Livro do maior estudioso de Lutero, Heinrich Denifle em espanhol (pode ser encontrado em inglês
também) https://archive.org/details/DenifleLuteroYLuteralismo1
32
Livros fundamentais para o estudo sério sobre a Inquisição: 1) Agostino Borromeo, “L’Inquisizione. Atti
del Simposio Internazionale 1998″( Città del Vaticano, Biblioteca Apostolica Vaticanam 2003). 2) Henry
Kamen, “The Spanish Inquisition” (Yale University Press, 2014). 3) Edward Peters, “Inquisition”(University
of California Press, 1988). 4) J. Testas, “L’Inquisition”(P.U.F., 1969).
33
http://www.mediafire.com/file/j25mz3v9ukbry66/Pe+Julio+Ma+de+Lombaerde+-
+A+Mulher+Bendita.pdf e http://www.mediafire.com/file/hy752r5vljpzlxp/Jo%C3%A3o+de+Oliveira+-
+A+Virgem+Maria+no+Tribunal+Protestante+.pdf
34
https://www.youtube.com/watch?v=Tw5yUcdxPS4&t=4s
35
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/2015/09/se-maria-dissesse-nao.html
36
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/2016/09/voce-escutou-alguem-dizendo-que.html
37
https://www.youtube.com/watch?v=jZTw6XxRtB8
38
http://www.ofielcatolico.com.br/2007/01/adoracao-somente-deus-ha-exageros-no.html
39
https://padrepauloricardo.org/episodios/ser-santo-ficcao-ou-realidade
entender a intercessão que é feita a eles40 e as orações pelos mortos no purgatório41.
Informando-me sobre essas questões, vi que havia passagens na Bíblia que eu nunca havia
notado42 e que justificavam toda a Doutrina Católica43.
Que dizer? Todos os meus preconceitos tinham caído por terra. Já se tinha
tornado suficientemente claro que a Verdade está na Santa Igreja Católica 44, e eu tinha
que tomar uma decisão. Decisão brusca, mas certeira. Entretanto, nem tudo são flores.
Como disse, cresci em ambiente protestante e mudar dessa maneira não estava nos meus
planos. Eu tinha certeza absoluta de que não teria (e não tenho) o apoio dos meus pais,
que talvez poderia perder muitas amizades, entre outras consequências. Para se ter ideia
da tensão em que me encontrava, meu pai, que é muito enfermo devido à diabetes, estava
com cirurgia marcada para tentar recuperar sua visão. Essa cirurgia requer total repouso
e, obviamente, ele não podia ter contrariedades para não ter nenhuma complicação
suplementar. Tentei ao máximo não contar aos meus pais e amigos por questões óbvias:
se contasse, provavelmente iriam querer me convencer de que eu estava indo para a
direção errada e essa informação poderia atrapalhar todo o processo de recuperação da
cirurgia do meu genitor, trazendo aflição e tristeza (graças ao Bom Deus, ele já está ciente
e, apesar de muito triste, isso não tem afetado gravemente sua saúde e recuperação). Como
se não bastasse, eu estava num relacionamento com uma jovem da minha antiga igreja.
Era um relacionamento extremamente harmonioso e saudável, com uma pessoa
maravilhosa, que eu amava e de quem não tenho uma queixa sequer. Deus é testemunha
do que digo. Dito isso, não é difícil imaginar a dor que eu sentia só de pensar em ter que
dizer que eu estava me tornando católico. Lembro-me das várias madrugadas que passei
chorando, por imaginar tal situação e suas consequências. Porque, obviamente, a partir
do momento em que firmasse essa decisão, não poderia continuar esse relacionamento
por causa do jugo desigual. Quem acha isso uma besteira ou uma insignificância é por
não levar a sério sua fé e não ter a capacidade de vislumbrar que a formação de uma
família (que é e deve ser sempre o intuito de um namoro) seria conflituosa. Imaginem,
tão somente, como seria problemático querer ensinar os preceitos católicos e levar meus
filhos à Missa, enquanto minha esposa divergiria de mim, ensinando coisas contrárias à
minha fé e querendo que eles frequentassem uma igreja protestante. É, no mais brando
dos casos, complicado. Tomei a atitude de contar para ela, a primeira que soube sobre
minha conversão. O que era justo, visto que era minha companheira e amiga mais íntima.
A princípio, ela não conseguiu entender as razões. Ela me pediu, então, que eu visitasse
uma Igreja Católica e participasse da Missa antes de tomar qualquer decisão sobre o
relacionamento, para saber se era realmente aquilo que eu queria para mim. Acredito que
ela tinha esperanças de que eu me sentisse mal diante das coisas que veria lá. Foi então
que pedi sugestões de Igrejas que eu poderia frequentar ao meu querido amigo Nando
Castro, a quem sou muito grato por ter sugerido que fosse à Igreja Nossa Senhora da
Soledade, próximo ao bairro da Boa Vista.

40
https://padrepauloricardo.org/episodios/intercessao-dos-santos
41
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/2016/11/a-realidade-biblica-do-purgatorio-mario.html
42
http://www.ofielcatolico.com.br/2006/06/os-versiculos-que-eu-nunca-vi-quando.html
43
https://www.saraiva.com.br/esta-na-biblia-os-versiculos-catolicos-9706072.html
44
http://fabiosalgado.blogspot.com.br/2016/10/a-igreja-apostolica-hierarquica-e.html
No dia 29 de Outubro, fui, pela primeira vez, a uma Missa, depois de 15 anos.
Não me recordo de outro dia tão feliz como aquele. Além da beleza visível da Igreja 45, a
beleza da liturgia (que eu havia estudado um pouco, para não ir sem saber absolutamente
nada sobre o rito), dos hinos, da mensagem trazida e, principalmente, do momento da
comunhão e da Eucaristia46 foram, para mim, sublimes. Emocionei-me fortemente, pois,
pela primeira vez na vida, estava contemplando não uma ceia representativa ou simbólica,
mas a Presença Real, carnal, de Nosso Senhor Jesus Cristo47. Eu estava preenchido de
uma felicidade inexplicável. Ainda que não tivesse participado da Missa em sua
plenitude, pois não podia comungar, eu me senti completo. Era aquilo. Eu não tinha mais
dúvidas: daquele dia em diante, abraçaria a Fé Católica independente de qualquer
circunstância. Assim foi.
Conversei com minha ex-companheira sobre minha decisão, e terminamos.
Claro que não é por ter certeza da minha escolha que tomar essa atitude tenha sido fácil:
foi extremamente doloroso. Porém, dou graças a Deus todos os dias pela bondade dela,
que me apoiou e orou muito pela minha vida. A ajuda e amizade dela foram essenciais
para enfrentar os dias que viriam.
Após isso, segui estudando o quanto podia o catolicismo e pretendo continuar
estudando, além de viver a Fé Católica. Mas, nesse intervalo diminuto de tempo, já ouvi
coisas absurdas pelo fato de ter tomado essa decisão. Já ouvi de pessoas queridas que
estou sendo conduzido pelo “adversário” (Satanás) nesse processo. Ouvi que Filosofia só
faz confundir a mente do homem, como se não houvessem existido filósofos cristãos e
filosofia cristã48. Ouvi que Olavo de Carvalho é o Anticristo (sim, exatamente isso: pode
rir a vontade também). Ouvi que estudar muito tira a pessoa da presença de Deus 49 e a
enlouquece50. Essas foram as mais marcantes, mas tiveram outras mais.
Nessa nova jornada que tenho trilhado, acreditava que iria sofrer com muita
solidão. Contudo, Deus é tão Misericordioso, que não permitiu que me sentisse só um
único segundo. Além de Sua companhia maravilhosa, presenteou-me com amizades
católicas formidáveis, que estão me ajudando nessa volta para Casa. Além do auxílio
evidente do Fábio, tenho que agradecer em especial ao André Andrade, meu amigo, por
ser um instrutor excelente nas reuniões sobre o Curso On-line de Filosofia (COF) e por
me ter dado acesso a diversas aulas do Pe. Paulo Ricardo, essenciais para desfazer muitas
dúvidas; ao Pablo Torres, pelo apoio espiritual e companheirismo; ao Nando Castro, pela
sugestão maravilhosa; à Clara Gouveia, meu alento diário; à Daniela Gouveia, por ser
uma segunda mãe para mim; à Milena Lopes, minha amiga e irmã de Fé, que, por uma
“coincidência” feliz (vulgo, operação Divina), ajudei na decisão de abraçar a Santa Igreja
quase no mesmo período da minha conversão; à Letícia de Paula, que muito me
aconselhou e me apoiou; ao meu amigo potiguar Gregório, que, mesmo sem que eu

45
Algo que muito me chamou atenção no seio católico foi o apreço ao Belo e suas artes, mas isso é outra
questão.
46
“A Eucaristia não é a maior maravilha do mundo. É uma maravilha maior que o mundo”. Olavo de
Carvalho.
47
https://padrepauloricardo.org/blog/milagres-eucaristicos-o-que-sao-e-como-comecaram
48
A Igreja Católica é repleta desses casos, como São Tomás de Aquino.
49
Oséias 4:6
50
I Tessalonicenses 5:21
pedisse, rezou e reza muito pela minha vida e pela minha família, e a todos os meus
amigos da Confraria de estudos em Pernambuco. Também gostaria de agradecer ao Padre
Paulo Ricardo, homem de Deus, que muito me ensinou; à página “O Fiel Católico”, por
seus conteúdos excelentes: ao Dave Armstrong, que Deus continue o abençoando; e, por
fim, ao Professor Olavo de Carvalho, por me ter deixado um pouco mais inteligente para
perceber a Realidade. Há tantos outros que poderiam ser mencionados, tanto pela ajuda
direta, como tão somente pelo bom testemunho, mas, a esses mencionados, eu sou grato
de forma especial e estarão sempre em minhas orações.
Por fim, quero deixar claro que o que expus aqui não é a totalidade da Fé
Católica. Longe de mim querer esgotar tão rica e coerente doutrina num simples relato.
O Catolicismo é muito mais. Apenas quis tratar, resumidamente, como se deu minha
experiência, que creio, devotamente, ter sido fruto de uma operação Divina. E o que
aprendi foi suficiente para ter certeza de que estou no caminho certo, vivendo a Verdade,
visto que estou em pleno gozo de minhas faculdades mentais para perceber isso. Atesto,
então, para todos que lerem esse meu relato, que minha Fé, de hoje em diante, é a mesma
do credo Católico:

Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra; e


em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor; que foi concebido pelo
poder do Espírito Santo; nasceu na Virgem Maria, padeceu sob Pôncio
Pilatos, foi crucificado morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado à direita de Deus
Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos; creio no
Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na
remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém.

Paulo Henrique Gondim Sobral


25/12/2017

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