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Curso: Engenharia de Produção

Disciplina: Ergonomia

Conteudista: Nelson Tavares Matias

Meta: apresentar os conceitos sobre Ergonomia e o seu desenvolvimento ao


longo do tempo; Identificar as modalidades e as aplicações da ergonomia.

Objetivos: esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
1. estabelecer uma relação temporal entre a ergonomia e o desenvolvimento
humano no setor produtivo;
2. perceber a importância da ergonomia nos dias atuais;
3. identificar a presença humana como o aspecto central na aplicação da
ergonomia;
4. identificar as modalidades da ergonomia a serem aplicadas e
desenvolvidas em um setor produtivo.

Pré-requisitos: para se ter um bom aproveitamento desta aula, é importante


você relembrar as mudanças ocorridas na transformação da sociedade no
período da Revolução Industrial.

AULA 1

O que é Ergonomia?

O homem, desde a Pré-História 1 empregou seu intelecto para elaborar as


ferramentas necessárias às suas demandas. Ao fazer isso, desenvolveu a
capacidade inventiva, bem como a análise para as coisas que funcionavam
melhor ou pior. De alguma forma, pode-se dizer que a ergonomia, ainda que
sem conceitos claros, começou a surgir neste período.

No Renascentismo2 pessoas como Leonardo Da Vinci consideraram que seus


estudos deviam conhecer mais e melhor sobre o funcionamento do corpo
humano, especialmente as relações biomecânicas e as articulações, suas
estruturas musculares e as limitações físicas. Segundo Paschoarelli e Silva
(2010)3 o conhecimento do Leonardo da Vinci era proveniente das experiências
e suas observações. A ergonomia atual, pode-se dizer, apropria-se da
observação de um estado relacional, apoiada pelo conhecimento como base

1 A Pré-História é o período que compreende desde o surgimento do homem até o aparecimento da escrita,
por volta de 4000 a.C. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/pre-historia/>.
2 Momento histórico ocorrido no Ocidente entre os séculos XV e XVI, principalmente na Itália, centro

irradiador desta revolução nas artes, na literatura, na política, na religião, nos aspectos sócio-culturais.
Disponível em: <http://www.infoescola.com/movimentos-culturais/renascimento/>.
3 PASCHOARELLI, L. C.; SILVA, J. C. P. Ergonomia no mundo e seus pioneiros [livro Eletrônico] (orgs.).

São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 240Kb; ePUB.

1
para elaboração de suas análises.

Castillo e Villena (2005) sugeriram que o livro Esquisse de l’ergonomie ou


science du travail base sur des verités prises de la science de la nature de
Wojciech Jastrzebowski (1857) apresentou a ergonomia como a ciência da
utilização das forças e das capacidades humanas,4 demarcando o nascimento
da ciência ergonômica. Há outras referências sobre o surgimento da ergonomia,
mais ou menos anterior a essa época,

Já no período da Revolução Industrial 5 houve uma grande mudança no


emprego da mão de obra, pois esta trocou os campos pelas indústrias. O
artesão, grande alvo da mudança, era aquele que dominava a arte do fazer com
as próprias mãos e algumas poucas ferramentas, geralmente não automáticas.
Era possível que o sapateiro no período pré-Revolução Industrial preocupasse-
se em criar um animal, prevendo o uso do seu couro, deste modo, desde a
criação ao curtume eram ofícios que o sapateiro precisaria conhecer para
finalizar o sapato (Figuras 1 e 2). No novo contexto, os então promovidos
artesãos às atividades operárias em massa passaram a desenvolver seus
trabalhos em ambientes limitadores, em que se exigiam dos mesmos uma fração
do processo necessário a elaboração do bem a ser produzido. Além disso, os
ambientes eram também considerados devastadores para a saúde dos mesmos,
por não apresentarem condições razoáveis para a atividade humana. Vale
destacar que neste período, a força de trabalho incluía sem distinção crianças e
mulheres, trabalhando muitas horas por dia.

Figura 1: O uso do corpo pelo sapateiro, em especial as pernas, na modelagem do couro e transformá-lo em sapatos.
Fonte: http://www.cracked.com/article_17451_chimney-sweeps-scrotum-10-bizarre-job-related-illnesses.html

4CASTILLO, Juan José; VILLENA, Jesús. Ergonomia: conceitos e métodos. Portugal: Dinalivro, 2005.
5A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, no século XVIII, expandindo-se inicialmente pela europa
ocidental, a europa oriental, Rússia e posteriormente no continente norte Americano.

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Figura 2: Fêmur de um sapateiro modificado pelos sucessivos impactos sofridos durante a confecção do calçado
Fonte: http://www.cracked.com/article_17451_chimney-sweeps-scrotum-10-bizarre-job-related-illnesses.html

A Revolução Industrial, também despertou algumas pessoas a perceberem que


algo diferente poderia ser feito em relação as máquinas e aos homens. Owen
(1816, apud CASTILLO; VILLENA, 2005) foi uma dessas pessoas que após
suas atividades como gestor do setor produtivo, escreveu uma carta aos seus
amigos fabricantes, descrevendo sua experiência observacional. Os
acontecimentos relatados envolveram os trabalhadores, as máquinas e a
relação na busca pela produção máxima. Quanto ao gerenciamento da
maquinaria e seus aspectos de manutenção, Owen concordou com as
experiências até então aplicadas pelos empresários, todas elas traziam
benefícios e, portanto aumentavam os avanços na produção dos bens. Quanto
aos operários, parte viva da relação, indagou e se fosse dedicado as máquinas
humanas os mesmos cuidados? A experiência administrativa desenvolvida por
Owen, mostrou-lhe que o investimento no homem poderia trazer percentuais
muito maiores que aqueles obtidos puramente na melhoria do equipamento,
valores que facilmente ultrapassariam percentuais tais como 5% a 15% para os
impressionantes 50%, alcançando em alguns casos 100%. Nesta época, existia
uma clara distinção de classes, aqueles que haviam recebido uma formação e
os que estavam subordinados. A mudança da prática evocada por Owen, altera,
em parte este aspecto, uma vez que pensar na qualidade de como o ser
humano deveria ser tratado passa inevitavelmente pela oferta de melhores
treinamentos e isso representou a transformação da capacidade intelectual dos
operários. Além disso, não cuidar dos operários era um risco pecuniário
iminente, pois seriam de alguma forma cobrados dos proprietários valores cada
vez maiores em função das pessoas que por algum motivo profissional não
pudessem ser mais produtivas.

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O Taylorismo
Em 1900 surgiu o Taylorismo 6 que estabeleceu um aspecto racional ao
processo produtivo, hierarquizando as atividades de cada uma das pessoas que
atuassem na empresa, desde gerentes até os operários. Separou aqueles que
eram requisitados a planejar (maiores salários), daqueles que eram pagos para
fazer os bens (menores salários).

A Ergonomia desponta para a sociedade nos anos 30 e 40, época 
 em que o


mundo presenciou a II Guerra Mundial. Foi nesse ambiente caótico que
 a
ergonomia revelou-se aos projetistas, ajudando-os a transformarem objetos
pouco amigáveis em sistemas integrados e ajustados aos operadores.
 A maior
parte dos equipamentos utilizados demandava
 a operação humana e
constituía-se de uma situação desgastante 
 e temerosa pela perda de ambos
os recursos, humano e material. Buscando-se a solução dos problemas surgiu a
ergonomia, mediando um trabalho projetual interdisciplinar e planejando novos
equipamentos, capazes de atender as diferenças das pessoas, assim, […] pela
primeira vez, houve uma conjugação sistemática de esforços entre a tecnologia
e as ciências humanas. Fisiologistas, psicólogos, antropólogos, médicos e
engenheiros trabalharam juntos […] (DUL; WEERDMEESTER, 1995).

Nos anos 30, a população, em sua grande parte era desprovida de experiências
com máquinas, veículos e outros equipamentos, ou seja, não faziam parte do
cotidiano das pessoas. Para atender ao esforço de guerra, muitos dos alistados
precisaram, em um curto espaço de tempo, aprender a operar veículos, radares,
aviões, entre outros equipamentos militares. Neste período, além de todos os
aspectos relacionados aos equipamentos mal projetados, surgiram as questões
psicológicas e emocionais exigidas pelas atividades.

Hoje, mesmo antes de um jovem saber dirigir, provavelmente já brincou com


algum game eletrônico que simulava a direção de um veículo. Nos anos 30 era
possível que um jovem agricultor fosse recrutado e enviado para o treinamento,
durante um curto espaço de tempo, para pilotar um avião, sem que tivesse tido
experiência com outros veículos motorizados.

Atividade 1
Atende ao Objetivo 1: estabelecer uma relação temporal entre a ergonomia e o
desenvolvimento humano no setor produtivo;

Discuta a sentença: a Revolução Industrial foi um período de transformação para


se alcançar a produção em massa de bens de consumo e como foi para o
trabalhador?

6Taylorismo é uma concepção de produção, baseada em um método científico de organização do trabalho,


desenvolvida pelo engenheiro americano Frederick W. Taylor (1856-1915). Em 1911, Taylor publicou “Os
princípios da administração”. Disponível em: <http://www.infoescola.com/administracao_/taylorismo/>.

4
Resposta Comentada:
Para o trabalhador foi a descoberta de uma nova forma de relação profissional e
trabalho, o operário deixava seu domínio do conhecimento como artesão,
tornando-se uma pequena parte do processo, uma vez que o mesmo era
demandado a realizar atividades específicas, não mais conhecendo a
configuração final do bem. Além disso, pode-se dizer que o artesão
experimentou uma nova relação entre a demanda e a execução da atividade
exigida pelo proprietário da empresa. Na maioria dos casos, o agora operário
estaria subordinado aos processos e ao ambiente industrial, em geral,
desfavoráveis a saúde do mesmo. É também um fato, que na atividade como
artesão ocorriam prejuízos para o mesmo, mas resultado do seu próprio modelo
de atuação.

A Ergonomia no mundo contemporâneo

Não pense você que a situação no mundo atual seja muito diferente. Muitas das
pessoas que compõem a mão-de-obra, especificamente aquelas que estão
envolvidas em atividades que exigem a força física, também estão subordinadas
as questões críticas. Países que buscam a ascensão econômica, como Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), são bons exemplos de lugares em
que as atividades produtivas, em muitos dos casos são temerárias, levando
riscos à sociedade.

Não obstante, os problemas ergonômicos não sejam exclusividade dos


trabalhadores menos preparados ou de países menos desenvolvidos.
Profissionais dos setores administrativos, gerenciais entre outros, também
encontram algum nível de inadequação e contradição, reduzindo sua saúde e
consequentemente a produtividade. Portanto, a ergonomia pode ser aplicada a
qualquer ambiente, pois por meio de uma de suas abordagens poderá ajudar a
reduzir prejuízos.

Atualmente, muitas das atividades profissionais requisitam intenso


processamento mental. Sim, o modelo das atividades tem se alterado de
maneira significativa. Por exemplo, se comparamos o taxista tradicional ao da
empresa Uber, poderemos perceber algumas dessas mudanças. O motorista
tradicional dependia quase que exclusivamente do mapa mental desenvolvido
ao longo dos anos, da associação do horário a um determinado trajeto e assim
por diante. O motorista do Uber, necessariamente não é um experiente
conhecedor da cidade, na verdade o mesmo pode dirigir para o Uber como uma
segunda fonte de renda. Deste modo, não é um expert das características de
funcionamento e dinâmicas do trânsito, além disso, depende fortemente do

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sistema Global de Posicionamento por Satélite (GPS). A dinâmica de se
conduzir o carro, permanece igualmente exigida, mas atender a uma chamada,
ou seguir as informações repassadas pelo GPS ou finalizar uma corrida, exigem
novas habilidades. Repare que além da condução do veículo em segurança há
um incremento na demanda mental.

Boa parte da demanda por produtos ou serviços foi reorientada por um novo
modelo de relação. As empresas passaram a ouvir com mais precisão as
demandas dos seus cliente e assim permitiram que os produtos ou serviços
pudessem ser produzidos mediante a pedidos específicos, por exemplo as
personalizações ou customizações7. Isso tudo se fortaleceu tendo por base dois
fatores, o primeiro a precisão das empresas ao captar os anseios dos seus
clientes e o segundo aspecto, na verdade é um meio proveniente do
desenvolvimento da eletrônica, permitindo alto grau de detalhamento, em muitos
casos de maneira imediata.
Para as situações apresentadas surgiram novos modelos de ambientes e de
relacionamento entre homem x sistemas e que naturalmente, precisam ser
compreendidos antes que produzam impactos demasiadamente negativos aos
seus interlocutores.

A ergonomia é uma ciência?

Sim, a ergonomia é uma ciência, estudada no mundo todo, com muitos


resultados que ajudam o cotidiano das pessoas! Portanto, uma ciência dedicada
a conhecer os limites da capacidade humana e sua implicação diante das
tarefas impostas. A ergonomia sugere melhorias ao sistema e assim, diminui as
situações que prejudicam e/ou reduzem a qualidade daquilo que se produz. O
que se aprende sobre uma atividade humana é aplicado na melhoria dos postos
de trabalhos, produtos e serviços.
O ambiente profissional tem sido um dos focos para a aplicação da ergonomia,
pois, geralmente reúnem muitas imposições posturais e comportamentais e por
vezes as próprias máquinas utilizadas conduzem a alguma situação considerada
inadequada. Seria muito importante que as próprias empresas antes mesmo de
iniciarem suas atividades considerassem a ergonomia em seus projetos,
evitando futuras inadequações e consequente despesas.

Oi… você! É você que está lendo este texto..., se chegou até aqui, a
universidade, é por que estudou, em média onze anos e deve ter feito muita
anotação. É verdade que o mundo de hoje se escreve menos, mas você deve
ter um ou dois calos em alguns dos dedos que apoiam o lápis ou a caneta,
certo?
Encontrou o seu calo do conhecimento? Rsrsr… pois é, esse calo precisaria

7MACHADO, André Gustavo Carvalho; DE MORAES, Walter Fernando Araújo. Produção em massa à
customização em massa: sustentando a liderança na fabricação de motores elétricos. Scielo.br, Rio de
Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
39512009000400004>. Acesso em: 16 maio 2016.

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mesmo existir, será que o lápis não poderia ser melhor projetado, evitando este
inconveniente? Será que você não deveria ter parado mais vezes para
descansar os dedos? Agora, imagine uma atividade em que a máquina ou
ferramenta gera não um calo, mas deformações severas. Imagine permanecer
praticamente todo o período de trabalho sentado, de pé, ou mal acomodado, não
seria legal, não é mesmo? Por isso, a ergonomia é tão importante para as
nossas vidas, pois, procura reduzir o que chamamos de custos humanos,
concentrando seus estudos na solução dos problemas e sugerindo melhorias.
Sendo o esforço diário um custo humano, considere aplica-lo naquilo que de fato
promove um resultado positivo exigindo menor investimento de energia e
atenção da nossa parte, naquilo que não agrega valor à atividade em si. Por
exemplo: se um operário necessita deslocar-se muitas vezes em seu setor de
trabalho para alcançar a realização das atividades, pode ser que haja algo a ser
feito, de tal modo que os deslocamentos sejam reduzidos e assim o operador
utilize suas energias naquilo que importa, ou seja manufaturando o bem de
produção.

A palavra Ergonomia é derivada do grego ergon e nomos, significando


respectivamente trabalho e regras. A ergonomia também é conhecida, por
Fatores Humanos, identidade mais aplicada na América do Norte. Entretanto,
ergonomia é um termo aplicado e conhecido mundialmente8.

A ergonomia pode ser compreendida como o estudo da medida do trabalho, ou


seja, medida das atividades que realizamos e que oferecem algum resultado,
seja econômico ou apenas o atingimento de um objetivo. Segundo a
International Ergonomics Association (IEA) (2000) a ergonomia é uma disciplina
científica que visa compreender as interações entre tudo mais que compõem um
sistema sócio-técnico (FALZON, 2007).

Entretanto, muitas das vezes estamos subordinados não apenas as relações


diretas, mas a outras que influenciam positiva ou negativamente a realização
das atividades. Imagine um atleta dos 100 metros rasos, você sabe que são
poucos segundos para atingir essa distância. Agora, imagine se houver um
vento de 10 Km contrário ao corredor, certamente irá prejudicar seus resultados,
certo? Num ambiente industrial, ou mesmo em um escritório existem variáveis
que tornam a obtenção dos objetivos profissionais mais difíceis, exigindo dos
seus executantes esforços adicionais. Alguns dessas variáveis podem
influenciar tanto, a ponto de dificultar a alcançar aquilo que foi planejado,
gerando prejuízos adicionais.

As empresas, de maneira em geral, buscam aproveitar o máximo do seus


empregados isso não é errado, entretanto, situações que levem os atores a

8Para saber mais sobre a Ergonomia visite os sites da International Ergonomics Association Disponível em:
<http://www.iea.cc> e a ABERGO, Associação Brasileira de Ergonomia. Disponível em:
<http://www.abergo.org.br>.

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situações indesejadas podem se tornar problemas, por vezes onerosos à própria
empregadora.
Considerando as situações enfrentadas no cotidiano, os empregados podem
reagir com perdas de estímulo, afastamentos de ordem médica e absenteísmo
sem justificativas, afinal, ninguém gosta de enfrentar um dia de trabalho sem as
devidas condições. Deste modo, é inteligente por parte das empresas
desenvolverem políticas capazes de coordenar melhorias, aumentando e
ajustando as condições para que o empregado possa desempenhar suas
atividades.

Duarte (2002) diz que a Ergonomia era, em seu início, utilizada apenas como
forma de diagnóstico e argumento técnico para denunciar as condições de
trabalho.

Atividades 2 e 3
Atende aos Objetivos 2 e 3: percebendo a importância da ergonomia nos dias
atuais e identificando a presença humana como o aspecto central na aplicação
da ergonomia;

Por quê a ergonomia ainda é útil, se em muitos casos os processos produtivos


não exigem tanto esforço físico dos envolvidos? Além disso, a quem interessa a
ergonomia à empresa ou ao empregado?

Resposta Comentada:
A ergonomia, trata da interpretação do modelo operatório, deste modo se
mudanças surgem é necessário que análise da situação seja capaz de
compreender e assim propor as melhorias. O modelo e a maneira de se
responder a demanda estão sendo alteradas, uma vez que parte das atividades
que outrora considerávamos como certas já não são tão óbvias. Postos de
trabalhos tradicionais, como trocador em ônibus estão deixando de existir e
sendo substituídos por cartões magnetizados e leitores óticos, capazes de
processar e gerenciar o acesso do passageiro. Entretanto, apesar da mudança
parecer simplificar o processo de embarque, há o incremento na atividade do
próprio motorista, que passará a ser responsável por gerenciar os contratempos
da relação passageiros x equipamentos. Neste sentido, a ergonomia deverá dar
conta de compreender o novo modelo do processo e antever os riscos para
todos os envolvidos.
A ergonomia interessa ao ser humano, a qualquer ser humano, esteja ele na
função de proprietário, mestre ou aprendiz. A ergonomia sempre observará as
ações relacionadas as atividades profissionais, não importando a hierarquia.

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Obviamente, fatores inerentes as funções serão considerados, mas se houver a
existência de prejuízos por conta da relação homem x sistema, haverá
oportunidade de mitiga-las.

Modalidades da Ergonomia

Antes de serem explicitadas as Modalidades da Ergonomia é importante


destacar que numa relação contratual, entre empresa x empregado haverá
sempre uma mediação feita por um contrato de trabalho. A partir desta
mediação refletirá algo mais específico, que é a experiência vivida pelo indivíduo
durante suas atividades profissionais (NOULIN in CASTILLO; VILLENA, 2009).
Portanto, à ergonomia será necessário compreender e delimitar a relação do
trabalho, para que então possa desenvolver uma análise clínica capaz de
resolver ou mitigar um problema.

A ergonomia utiliza-se de situações conhecidas para amparar seus estudos, são


as modalidades, estas tratam de informações bem específicas, que em geral se
repetem. As modalidades são resultados dos modelos analisados, portanto,
segundo Noulin (1996, apud CASTILLO; VILLENA, 2009) discute-se:
 o funcionamento do homem no trabalho (aspectos fisiológicos,
psicológicos, sociais) requeridos pela atividade;
 o comportamento do homem no trabalho (modos e estratégias
operatórias, procedimentos, controles de regulação individual e coletiva,
entre outras).

Deste modo temos:


 A Ergonomia de Correção: delimita-se identificar as variáveis
inadequadas encontradas em um setor ou posto de trabalho, alterando-
as. É uma forma, em muitos casos, paliativa, uma vez que o setor poderá
se desarranjar novamente. Exemplo: dado um posto de trabalho que
possua uma iluminação a baixo da quantidade preconizada a sua
atividade. Poderá ter seu problema corrigido com o acréscimo de fonte
luminosa, entretanto, uma alteração do layout do posto, ou mesmo a
substituição do equipamento poderá fazer do problema algo recorrente.

 A Ergonomia de Concepção atua com eficácia no projeto do sistema,


homem, máquina e ambiente, estabelecendo as melhores oportunidades
para que a relação seja a mais eficiente. Exemplo: ao projetar o espaço
produtivo, ou um setor administrativo é importante que se conheça cada
umas das relações produtivas que lá acontecerão, sejam elas: etapas
processuais, operacionais, demandas por recursos, etc. O ergonomista
deverá saber qual será o nível de interdependência entre os postos de
trabalhos ou setores, além de outros sistemas que poderão estar
envolvidos nas atividades de trabalho.

 A Ergonomia de Conscientização atua na formação dos envolvidos.

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Promovendo treinamentos e demonstrando as melhores práticas para os
setores atendidos. A proposta busca disciplinar os envolvidos, de tal
maneira que se estabeleça uma cultura pela busca permanente da
segurança, bem estar e eficiência dos ambientes produtivos. Exemplo:
exemplificar e ilustrar as posturas mais adequadas ao tipo de atividade,
os riscos envolvidos e a melhor forma de enfrenta-los.

 A Ergonomia de Participação busca fortalecer, junto aos gestores e


lideranças, a conscientização de que qualquer intervenção que altere o
modus operandi de um determinado setor considere a necessidade de se
aplicar os princípios da ergonomia. Exemplo: a criação de um grupo de
estudiosos sobre a ergonomia, para que a partir dele se estabeleçam
etapas a serem obedecidas durante os projetos de instalação, mudança
ou desinstalação de qualquer posto de trabalho.

As modalidades descritas permitem abordar situações específicas, como dito,


entretanto, em muitos casos a ergonomia é solicitada a estudar situações
relacionais distintas.

Ações Ergonômicas

Existem várias abordagens associadas as Ações Ergonômicas, em todos os


casos é provável que se encontrem fundamentos gerais que possam aplicados,
entretanto, não devem as soluções prontas serem capazes sozinhas de
satisfazer aos problemas identificados (GUÉRIN et al, 2006). Deste modo, a
Análise da Atividade de Trabalho, não pode ser encarada por meio da aplicação
de um roteiro previsto em forma de uma ferramenta.

O ergonomista a partir da sua inserção no ambiente a ser estudado, deve ser


capaz de perceber o que é necessário para se analisar as questões que se
apresentam. Portanto, a percepção será norteada, pelas questões legais,
demandas sociais e a cultura da empresa (GUÉRIN et al, 2006). Desta forma a
ação ergonômica deverá: considerar o todo da situação, selecionando o nível de
análise adequado à compreensão dos problemas.

Atividade 4
Atende ao Objetivo 4: identificar as modalidades da ergonomia a serem
aplicadas e desenvolvidas em um setor produtivo.

O que é possível ser dito a respeito das modalidades da ergonomia?

Resposta Comentada:

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As modalidades da ergonomia são situações previamente conhecidas, servem
para auxiliar os estudos e discutem aspectos específicos, que em geral são
encontrados nas empresas. As modalidades da ergonomia, são em sim mesmas
resultados já sistematizados, permitindo uma compreensão mais imediata das
possíveis situações a serem enfrentadas durante as ações ergonômicas.

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Análise da Atividade
A Análise da Atividade prevê uma abordagem sistêmica, isto quer dizer global,
permitindo que sejam compreendidas não somente as questões quantitativas,
mas especialmente as qualitativas. Por exemplo, a atividade do motorista de taxi
tradicional poderia ser avaliada sob a quantidade de movimentos executados ao
longo do período de trabalho, entretanto se o ergonomista desconsiderar que as
atividades podem ser modificadas por condições do tráfego. Ou que, o número
de movimentos exigidos na movimentação das malas durante o embarque e
desembarque dos passageiros é a principal informação de seu estudo, correrá o
risco de não perceber que as condições climáticas as quais o mesmo estará
subordinado poderão ser tão prejudiciais quanto a carga manuseada. Isto não
quer dizer que as ferramentas não possuam real aplicação, entretanto aplica-las
isoladamente provavelmente corresponderão a reflexões frágeis sobre a
atividade do taxista.

Abordagem Ergonômica – Ação Ergonômica


As demandas são os estágios iniciais para se iniciar uma ação ergonômica.
Podem ser percebidas pelos próprios atores envolvidos na atividade, pelo setor
de higiene e segurança do trabalho ou pela própria equipe de ergonomia se
houver. As vezes a motivação é proveniente de questões e exigências
governamentais, as vezes previstas pelas certificações almejadas ou ainda,
pelos indicadores de perdas da produção. Seja lá a forma e quem elabore a
demanda o importante perceber é que cada ação ergonômica é particular e
única. A partir do reconhecimento dos motivos que levaram a demanda, o
ergonomista elabora uma proposta, buscando a aprovação da mesma. Na
sequência, há uma série de ações buscando-se aproximar da realidade que
cerca a empresa e os atores, documentos serão estudados, até que se possa
identificar um contexto e até formular uma hipótese – Nível 1 (Figura 3). Este é o
período de acúmulo de informações, analogamente podemos dizer semelhante a
um urso prestes a enfrentar o inverno. Ou seja, observar tudo e todos, de tal
maneira que o profissional estabeleça relações suficientes continuar a ação
ergonômica.

O ergonomista estará em uma relação franca com os interlocutores, e deverá


estar atentos as armadilhas que definem a aproximação com os mesmos. Caso
indique haver um problema poderá ouvir dos próprios empregados a
confirmação de algo inadequado. A isenção é a melhor estratégia, além de
estabelecer um diálogo orientado para que possa conduzir a origem do
problema. É importante lembrar-se de que se observa um sistema global, assim
toda as atividades que de alguma forma interagem com o setor ou estação
estudada deverá ser considerada. Estamos falando da gerência aos postos de
trabalho próximos. Como já vimos antes, nada poderá ser deixado sem análise.
O fato de estar em mediado por um aparente modelo organizado, não se deve
considerar como uma sequência metodológica, mas apenas uma orientação
para que as atividades do ergonomista permita uma troca de informações com o
campo de estudo.

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O ergonomista está a serviço da melhor condição para os envolvidos, mas
deverá estar atentos aos anseios, sejam dos operadores ou do setor de recursos
humanos. Existem equipamentos ou ambientes que não estão adequadamente
preparados para resguardar os envolvidos, ao contrário, há muitos casos em
que a situação é de exclusão, por exemplo: um dado equipamento é melhor
operado se o ator for alto e endomorfo 9 . Por vezes, as empresas recrutam
profissionais com particularidade antropométricas 10 , ainda que esse fator não
seja legalmente correto.

Figura 3: Esquema geral da abordagem ergonômica


Fonte: adaptado de Guérin et al (2006).

Dimensão da Ação Ergonômica


A delimitação campo de estudo é fundamental, uma vez que o ponto focal se
altera em função das relações impostas no sistema, por exemplo, se o estudo
considera o taxista como alvo do estudo ou o próprio passageiro. Alguns dos
fatores podem influenciar ambos, mas em muitos casos apenas uma das
pessoas envolvidas será afetada. Além disso, existem questões relativas ao
tempo necessário a execução da atividade em si, para empresa, quanto mais
rápido, tende a ser melhor, assim deve-se avaliar o que é necessário no
contexto estipulado pela negociação.

9 Ectomorfo, pessoa de compleição magra; Mesomorfo, compleição intermediária e Endomorfo, pessoa


com maior índice de gordura no corpo.
10 Antropometria refere-se a dimensão e proporção do corpo humano. É de fundamental importância para

os projetos ergonômicos, sejam as estações de trabalho, ambientes ou produtos.

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Atividade Final
Atende aos Objetivos 1, 2, 3 e 4.

Elabore uma proposta de ação ergonômica considerando como alvo o


pipoqueiro e seu carrinho, incluindo todos os equipamentos necessários a
produção de pipocas em um ambiente pedonal.

Resposta Comentada:
A proposta deverá passar pelos fundamentos apresentados na Figura 3, além
disso deverá deixar claro as condições e momentos em que o sistema homem x
máquina serão estudados. Também é um aspecto fundamental o
estabelecimento de critérios de como serão observadas as atividades e como
serão tratados os dados levantados.

Resumo
Nesta aula, pode ser percebido que a ergonomia é abrangente, depende de
vários conhecimentos e permite aplicação em qualquer situação profissional. A
Revolução Industrial foi um desafio enorme, modificando até os dias de hoje a
forma como nos relacionamos com a produção de bens. As Modalidades da
Ergonomia permitem uma associação a resultados de modelos já analisados.
Existem várias abordagens associadas as Ações Ergonômicas e em todos os
casos é provável que se encontrem fundamentos generalizados que permitam
aplicações diferentes, entretanto, não devem as soluções prontas serem
capazes sozinhas de satisfazer aos problemas identificados. E por fim a Ação
Ergonômica é demandada de diferentes maneiras ou por diferentes pessoas e
as atividades previstas poderão se ajustadas de acordo com a dinâmica
percebida no ambiente estudado.

Informação sobre a próxima aula


Na aula 2 serão inseridas informações sobre os tipos de áreas e domínios da
Ergonomia.

Referências

CASTILLO, J. J.; VILLENA, J. Ergonomia: Conceitos e Métodos. Lisboa,


Dinalivro, 2005.
DUARTE, Francisco (Org.). Ergonomia & Projeto. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
DULL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. São Paulo, Edgard Blücher,
1995.
FALZON, Pierre. Ergonomia. São Paulo: Blucher, 2007.
GUÉRIN, F; LAVILLE, A; DANIELLOU, F; DURAFFOURG, J; KERGUELEN, A.

14
Compreender o Trabalho para Transformá-lo: a prática da ergonomia. São
Paulo: Blucher, 2006.
PASCHOARELLI, L. C.; SILVA, J. C. P. Ergonomia no mundo e seus pioneiros
[livro Eletrônico] (Orgs.). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 240Kb; ePUB.

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