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Literatura

Norte-Americana
Material Teórico
Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman
Melville, Mark Twain, Henry James)

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Adriana Torquete

Revisão Técnica:
Profa. Ms. Silvana Nogueira da Rocha

Revisão Textual:
Profa. Ms. Sandra Regina F. Moreira
Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily
Dickinson, Herman Melville, Mark Twain,
Henry James)

• Introdução
• Contexto Histórico
• Walt Whitman (1819 – 1892)
• Emily Dickinson (1830 – 1886)
• Herman Melville (1819 – 1891)
• Mark Twain (1835 – 1910)
• Henry James (1843 – 1916)
• Considerações finais

·· Apresentar o cenário histórico e social da segunda metade do século XIX


dos Estados Unidos, destacando os principais autores de sua literatura, que
contribuíram para construir a verdadeira identidade americana, por muito tempo
depreciada, mas que, finalmente, dava seus primeiros passos para se distanciar
do modelo europeu.

Dear student!

Para obter um bom desempenho em seus estudos, explore cada seção da unidade.

No Conteúdo Teórico você encontrará o material principal de estudos na forma de texto escrito.

Na Atividade de Sistematização estão disponibilizados alguns exercícios de autocorreção que visam


colocar em prática tudo o que aprendeu na disciplina, identificando os pontos em que precisa prestar
mais atenção, ou pedir esclarecimentos a seu tutor.

O Material Complementar traz informações adicionais para que você possa ampliar seus
conhecimentos sobre os tópicos apresentados na unidade.

Não se esqueça também de acessar a Apresentação Narrada, que faz um resumo dos principais
tópicos do conteúdo teórico na forma de Power Point e áudio. A Videoaula também deve ser assistida
como um reforço do que foi estudado.

O Fórum de Discussão é outra ferramenta disponível, e deve ser utilizado para participar das
discussões propostas.

Lembre-se da importância de realizar todas as atividades propostas dentro do prazo estabelecido


para cada unidade, para evitar acúmulo de conteúdo e problemas ao final do semestre.

Caso tenha alguma dificuldade no acesso de algum item da disciplina, não hesite em entrar em
contato com seu professor tutor.

Bons estudos!

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Contextualização
Você já deve ter assistido aos filmes Dead Poets Society (“Sociedade dos Poetas Mortos”),
Moby Dick ou The Innocents (“Os Inocentes”), não é mesmo? São filmes bastante famosos, e
que marcam muito as nossas vidas. Mas você sabia que eles estão relacionados às obras de autores
famosos que fizeram parte da segunda fase do Romantismo da Literatura norte-americana?
Vamos estudá-los (dentre outros, é claro!) com um pouco mais de detalhes? Está curioso
para iniciar essa maravilhosa viagem?

Fonte: “Sociedade dos Poetas Mortos”, Fonte: “Moby dick”, Fonte: “Os Inocentes”,
Peter Weir; Disney/Buena Vista, 1990 John Huston; Warner Bros., 1956 Jack Clayton; Fox Film , 1961

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Introdução

Nesta unidade, estudaremos os principais autores norte-americanos da segunda metade do


século XIX. Na poesia, conheceremos a obra de Walt Whitman e Emily Dickinson e, na prosa,
abordaremos os romances de Herman Melville (Moby Dick), Mark Twain (The Adventures of
Tom Sawyer), e Henry James (The Turn of the Screw).

Contexto Histórico

De modo geral, esse período foi marcado por grandes transformações. Em meados do século
XIX, os Estados Unidos ainda eram um país agrícola. Porém, o comércio e a indústria estavam
crescendo e, em 1870, a maioria dos americanos trabalhava em cargos não relacionados com
a produção agrícola. A população triplicou: de 23 milhões, em 1850 para 76 milhões, em
1900.
Outro fato que marcou o período foi a Proclamação de Emancipação, assinada pelo
Presidente Abraham Lincoln, em 1862, abolindo a escravidão no país.

Guerra Civil Americana (1861 – 1865)


Nas décadas anteriores à guerra, o sistema político dos Estados Unidos vivia um delicado
equilíbrio de forças entre os chamados estados do Norte e do Sul. Entre os vários pontos de
tensão estavam os impostos, o controle do governo federal sobre os estados, a alfândega, e a
infraestrutura. Porém, a escravidão negra ganhou notoriedade e foi transformada historicamente
no principal centro da oposição Norte-Sul.
A escravidão é tida, então, como um divisor de águas e culturas nos Estados Unidos
em meados do século XIX, porque os estados sulistas eram agroexportadores e utilizavam
largamente a mão-de-obra escrava negra. Para parte dos políticos e produtores do Norte, a
escravidão era uma concorrência desleal dos produtores do Sul contra os pequenos produtores
brancos e livres do Norte. Com a corrida para o Oeste, a disputa se acirrou, pois, a permissão
ou não da escravidão nos novos estados significava a ampliação da área de influência dos
grupos políticos e produtores.
A imigração em massa e a intensa industrialização fizeram com que o poder da região Norte
do país crescesse economicamente e ampliasse politicamente sua participação no governo.
Portanto, grandes tensões políticas e sociais se desenvolveram entre as regiões Norte e Sul.
Em 1860, Abraham Lincoln, um republicano que se posicionava, como seu partido, contra
a escravidão, venceu as eleições presidenciais americanas. Ao assumir seu posto de presidente,
denominou os Estados Unidos como a “Casa Dividida”, pois a situação era de inflexão e
intransigência no qual consensos e conciliações não eram mais possíveis.

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Declarada a guerra, em 1861, a União (estados do Norte) contava com 2.200.000 homens
alistados, enquanto que a Confederação (estados do Sul) reunia 800.000. A superioridade
econômica da União podia ser expressa por meio de seu contingente populacional; riqueza;
malha ferroviária; produção de ferro; produção de carvão; e produção de armas de fogo.

Saiba Mais
União (Norte): Nova Iorque, Nova Jersey, Massachusetts, Connecticut, New
Hampshire, Maine, Pensilvânia, Rhode Island, Michigan, Wisconsin, Minnesota,
Iowa, Illinois, Indiana, Ohio, Vermont, Maryland, Delaware, Missouri, West
Virginia, Kentucky.
Confederação (Sul): Carolina do Sul, Carolina do Norte, Virginia, Geórgia,
Flórida, Alabama, Mississipi, Louisiana, Texas, Arkansas, Tennessee.

A guerra, portanto, foi um conflito entre os 11 estados da Confederação (latifundiários,


aristocratas e defensores da escravidão), contra os estados do Norte (industrializados).

A guerra começou quando forças da Confederação atacaram o Fort


Sumter, um posto militar americano na Carolina do Sul, em 12 de abril de
1861, e terminou somente em 28 de junho de 1865, com a rendição das
Importante! últimas tropas remanescentes da Confederação. Durante a Guerra Civil
Americana, 620 mil soldados e inúmeros civis foram mortos.

Após a Guerra Civil, a nação entrou em um período de vasta expansão comercial. Ferrovias
atravessavam o país e muitas fábricas foram construídas. Os americanos, nativos ou imigrantes,
lucravam mais do que nunca, pois eles tinham mais oportunidades e mais liberdade. Um dos
resultados desse crescimento foi um forte sentimento patriótico, que perdura até os dias atuais.
Diante desse novo cenário, vamos ver quais autores se destacaram na literatura e sobre o
que eles escreviam, quais eram seus pensamentos e ambições.

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Walt Whitman (1819 – 1892)

W alt Whitman foi um dos maiores inovadores da literatura


americana. A maioria de seus poemas foi escrita em versos
livres, ou seja, sem métrica fixa e rimas. Sua influência na técnica
poética de autores modernos é evidente.
Nasceu em Nova Iorque e trabalhou como professor e editor em
vários jornais. Sua obra “Leaves of Grass” (1855) é considerada
a declaração de independência da poesia americana dos padrões
europeus e um dos pontos mais altos da poesia ocidental.
Whitman passou a vida revisando e expandindo seu livro. Os 12
Fonte: Wikimedia Commons poemas da primeira edição passariam a 383 na chamada “edição de
leito de morte”.
Segundo o grande poeta americano Ezra Pound, “Whitman é para minha pátria o que
Dante é para Itália”. Foi louvado como “o profeta da América”, porém também foi acusado
de obsceno, louco e exibicionista. Durante a Guerra Civil, trabalhou como enfermeiro tanto
no campo de batalha como nos hospitais militares de Washington.

Os temas recorrentes em sua poesia são: homem, natureza, democracia, individualismo,


intolerância, conflitos, liberdade de expressão. Também escreveu sobre Nova Iorque, a cidade
que o fascinava, e sobre a Guerra Civil. Ironicamente, um de seus poemas mais famosos é
também o mais tradicional: O Captain! My Captain!.

O Captain! My Captain! (1865)


O Captain! My Captain! our fearful trip is done;
The ship has weather’d every rack, the prize we sought is won;
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring:
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.
O Captain! My Captain! rise up and hear the bells;
Rise up—for you the flag is flung—for you the bugle trills;
For you bouquets and ribbon’d wreaths—for you the shores a-crowding;
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here captain! dear father!
This arm beneath your head;
It is some dream that on the deck,
You’ve fallen cold and dead.

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

My Captain does not answer, his lips are pale and still;
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will;
The ship is anchor’d safe and sound, its voyage closed and done;
From fearful trip, the victor ship, comes in with object won;
Exult, O shores, and ring, O bells!
But I, with mournful tread,
Walk the deck my captain lies,
Fallen cold and dead.
Disponível em: http://www.poetryfoundation.org/poem/174742 - Acesso em 13 de abr. 2015.

O poema foi escrito em homenagem ao presidente Abraham Lincoln, assassinado com um


tiro na cabeça por um membro do exército dos Confederados, em 1865.

Foi primeiro publicado no panfleto Sequel to Drum – Taps, que reunia 18 poemas relacionados
à Guerra Civil. Foi incluído na coleção abrangente de Whitman, chamada Leaves of Grass.

Vamos fazer uma breve análise do poema:

Pode-se dizer que a primeira linha estabelece o humor do poema, que é o alívio pelo fim
da guerra. Na segunda, nota-se que o navio a que o poeta se refere é a nação americana
já vitoriosa após a Guerra Civil, pois o final da escravidão foi conquistado. A terceira linha
expressa o humor de júbilo da União vencendo a guerra (the people all exulting). Na quarta
linha, no entanto, percebe-se uma sutil mudança de humor quando ele fala da severidade
do navio, e do lado mais sombrio da guerra. Muitos perderam suas vidas na Guerra Civil e,
embora o prêmio que se buscava tenha sido conquistado, os corações ainda doíam em meio
à exultação das pessoas. A repetição da palavra heart na quinta linha chama a atenção para
a vasta tristeza do poeta e a mágoa porque o capitão sangrava e ali ainda jazia frio, inerte e
morto (linhas 6 a 8). Sem dúvida, isso se refere ao assassinato de Abraham Lincoln e à tristeza
de Whitman por ter perdido seu ídolo.
Na segunda estrofe o narrador novamente brada o capitão para se levantar e ouvir os sinos
(to rise up and hear the bells), para se juntar à comemoração pelo fim da guerra.
As próximas três linhas dizem para o capitão se levantar e se juntar aos devaneios, pois
ele era a razão de todo aquele regozijo (for you the flag is flung; for you the bugle thrills;
for you bouquets and ribbon’d wreaths; for you the shores a-crowding; for you they call,
the swaying mass, their eager faces turning). Todos estavam comemorando o que Lincoln
havia cumprido, não somente a abolição da escravidão, mas também a formação da União
e a reunião das pessoas. O poeta, por sua vez, não quer reconhecer a morte do seu adorado
capitão e até mesmo pergunta se é algum sonho (It is some dream that on the deck).
A terceira estrofe começa com um tom melancólico quando finalmente o poeta aceita que
o capitão está morto. Nessa parte, há imagens vívidas e mais sombrias, tais como his lips are
pale and still e o leitor pode imaginar o capitão morto, deitado ali, imóvel e sem pulso.
Na linha 17, o poeta brada My Captain, e na linha 18, refere-se ao capitão como My father.
Isto quer dizer que considerava Lincoln o pai dos Estados Unidos.

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Nas linhas 19 e 20 são declarações conclusivas que resumem o poema todo. Os Estados
Unidos estão anchor’d safe and sound. Ou seja, estão sãos e salvos da temível guerra agora,
com sua viagem finalizada e com seu objeto conquistado, conforme está escrito em: its voyage
closed and done, from fearful trip, the victor ship, comes in with object won.
É possível notar um esquema de rima distinto, que é incomum para Whitman. O esquema
de rima é: AABCDEFE, GGHIJEKE, e LLMNOEPE para cada estrofe respectivamente.
Há também exemplos de aliteração no poema, como flag is flung; safe and sound.

Aliteração: Consiste na repetição de consoantes como recurso


para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro significativo.
Glossário Exemplos: Três pratos de trigo para três tigres tristes (aliteração
em “t”); O rato roeu a roupa do rei de Roma (aliteração em “r”);
“Vozes veladas, veludosas vozes; Volúpias dos violões, vozes
veladas; Vagam nos velhos vórtices velozes; Dos ventos, vivas,
vãs, vulcanizadas.” (aliteração em “v”, Cruz e Souza).
Disponível em: http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil10.php
Acesso em 13 de abr. 2015.

Embora Walt Whitman tenha feito o poema em homenagem a Abraham


Lincoln, eles nunca se encontraram. Aliás, inicialmente, Whitman era
indiferente a Lincoln, mas conforme a pressão da guerra aumentava,
Importante!
Whitman passou a adorar o presidente.

Dead Poets Society (“Sociedade dos Poetas Mortos”)


Esse filme, de 1989, do diretor Peter Weir, se tornou “cult” no
final da década de 1980 e início de 1990. Conta a história de
um professor de poesia nada ortodoxo, que incita seus alunos a
serem “livres pensadores”. E o faz por meio da poesia. O filme
é repleto de inúmeras citações de obras de grandes nomes da
literatura inglesa e norte americana como Byron e Whitman..
O filme tem Robin Williams como personagem principal,
interpretando o professor de literatura, que citava trechos de
poemas de Whitman e que possuía um retrato do poeta na
parede atrás de sua mesa de professor.
Após a exibição desse filme, os poemas de Walt Whitman tornaram-
se mais conhecidos pelo público brasileiro. Vale à pena conferir!
Assista ao filme gratuitamente por meio do link:
http://www.filmesiv.com/2012/10/sociedade-dos-poetas-mortos-legendado.html
Acesso em 13 de abr. 2015.

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Songs of Myself
Vejamos também um trecho de seu famoso poema Song of Myself, no qual características
como o individualismo e a natureza são evidentes. Também podemos observar os versos livres,
marca da poesia de Whitman:

I celebrate myself, and sing myself,


And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.
I loaf and invite my soul,
I lean and loaf at my ease observing a spear of summer grass.
My tongue, every atom of my blood, formed from this soil, this air,
Born here of parents born here from parents the same, and their parents the same,
I, now thirty-seven years old in perfect health begin,
Hoping to cease not till death.
Creeds and schools in abeyance,
Retiring back awhile sufficed at what they are, but never forgotten,
I harbor for good or bad, I permit to speak at every hazard,
Nature without check with original energy.
[…]

Importante!
Song of Myself é um poema de 52 estrofes ou partes. Como indica Allen (1972, p.
150), é uma apologia a si mesmo. Porém, não é bem a ele. A apologia não é ao Whitman
homem, mas ao poeta, ao estilo dos poetas do Romantismo inglês, esse ser ideal cuja
visão vai além da do homem comum.
É um poema de aceitação, que revela o espírito democrático whitmaniano ao incluir
homens e mulheres de todas as classes, raças e profissões na formação da nação
americana.
O símbolo principal do poema, que representa esse espírito de democracia, é a grama:
presente em todo o continente, acessível para todos, elemento unificador entre cultura
e natureza, bandeira do espírito democrático da nação. A grama é, então, o símbolo da
vida e também o elemento unificador que nasce entre todos os seres humanos.
Nessa época, a forma dos versos de Whitman (verso livre) foi revolucionária, bem assim
como seu tema, encontrando tanto grande resistência por parte da estética estabelecida,
quanto grande aceitação pelos transcendentalistas como Emerson, que viam no poeta
a articulação das suas teorias. Na realidade, Whitman foi o poeta que Emerson exigia
da sua época. Whitman também se opunha à expansão da escravatura aos territórios
adquiridos após a Guerra com o México.
É interessante notar que Whitman construiu um estilo para recriar e articular essa nação
norte-americana, também em processo de formação e expansão territorial.
Outra característica é o uso da linguagem: Whitman não utiliza linguagem formal como
Emerson, mas emprega todo o vocabulário disponível de seu tempo: a linguagem das
ruas, a dos discursos políticos, e o jargão da ciência. Da mesma maneira, utiliza-se de
palavras de outras línguas: francês, italiano, espanhol etc.

Conheça mais poemas da obra “Leaves of Grass”, acessando o link:


http://www.gutenberg.org/files/1322/1322-h/1322-h.htm
Acesso em 20 de mar. 2015.

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Emily Dickinson (1830 – 1886)

N asceu, viveu e morreu na pequena Amherst, perto de Boston.


Filha de advogado e político influente, frequentou por dois anos
um internato para moças. Passou seus últimos 25 anos sem sair de
casa, evitando, até mesmo, ser vista pelas visitas. O único contato
com o mundo exterior eram suas cartas que trocava com um grande
número de amigos e familiares, às quais gostava de juntar alguns
poemas.
Geralmente, vestia-se de branco e sempre tinha flores por perto, o
que ajudou a criar o mito de “Noiva da Arte e da Desilusão”. Produziu
Fonte: Wikimedia Commons algumas coletâneas poéticas manuscritas e encadernadas à mão
conhecidas como “fascicles”.
Escreveu mais de 1.700 poemas curtos e, geralmente, baseados em uma única imagem ou
símbolo. Seus temas preferidos eram: amor, morte, natureza e perda. O seu tom é irônico,
sagaz e muitas vezes desrespeitoso com os valores de sua comunidade. Por meio deles, ela
questiona as crenças da sua sociedade, mostra que as verdades não são nem permanentes,
nem eternas, e reconceitualiza os valores, a partir de diferentes perspectivas. Deixou várias
versões para um mesmo texto, anotações e cartas, o que tem gerado muitas pesquisas.
Em 1862, enviou alguns poemas a Thomas Higginson, poeta e crítico, que não os considerou
apropriados para publicação por não terem apuro formal, correção gramatical e sobriedade,
qualidades exigidas pelos padrões da época.
É por isso que os críticos chamam sua poesia de heurística, no sentido de representar sua
busca pelo conhecimento e seu desejo de melhor entender o mundo. Um exemplo desses
questionamentos está em sua própria escrita, que, às vezes, apresenta determinada perspectiva
sobre um tema, mas logo, em outro poema, discute a mesma temática sob uma ótica diferente.
Com exceção de dez poemas publicados em vida, a poesia de Emily Dickinson só se tornou
conhecida após sua morte. Seus poemas foram encontrados, após sua morte, espalhados por
toda a casa da família.
Nos poemas, ela centraliza o autoconhecimento e a individualidade. Além disso, não têm
títulos, tendo sido então numerados na ocasião de sua publicação, no século XX, muitos anos
após sua morte. São considerados elípticos e opacos, muitas vezes dificultando sua leitura.
Essas características definem sua poesia como de “ruptura” e questionamento. Porém, isso não
significa que ela era contra a sua publicação. O motivo pelo qual Dickinson publicou poucos
poemas em vida foi por se negar a modificá-los para agradar os editores e o público da época.
Emily Dickinson foi a grande poetisa do século XIX. Recusou-se ao papel convencional da
mulher no século XIX: não se casou nem levou uma vida religiosa ativa. Não louvava o amor
ou a família, mas se utilizava da poesia para problematizar os valores de sua sociedade. Na
esfera social, e diferentemente de Whitman, não se interessou pelas grandes causas nacionais,
como a Guerra Civil.

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Em 1850, deixou de frequentar a Igreja, mantendo uma atitude crítica em relação ao discurso
religioso, o que mostrava a influência dos transcendentalistas e seu louvor à natureza em sua
obra. Porém, diferentemente de Whitman, Dickinson nunca se converteu a essa doutrina ou a
nenhuma outra. Assim, sua poesia é como um pivô a partir do qual ora considera os princípios
do protestantismo, ora os do transcendentalismo, tomando elementos de ambos e não se
convertendo a nenhum.
Diferentemente da poesia de Whitman, que é extrovertida e uma explosão de energia, a
poesia de Dickinson é introspectiva e de reflexão.
Veremos agora um de seus poemas cuja temática é a morte. Temos aqui um diálogo entre
um ser que afirma ter morrido devido à “beleza” e outro, devido à “verdade”, chegando à
conclusão de que “beleza” e “verdade” são irmãs. Na última estrofe, a poeta constrói uma
imagem forte na qual, enquanto os dois mortos conversam em túmulos contíguos, o musgo
alcança seus lábios e cobre seus nomes:

I Died for Beauty


I died for Beauty, but was scarce
Adjusted in the tomb,
When one who died for Truth was lain
In an adjoining room.
sala adjacente
He questioned softly why I failed?
“For Beauty”, I replied.
“And I for Truth, - the two are one;
We brethren, are”, he said.
And so, as kinsmen met a night,
We talked between the rooms, parentes

Until the moss had reached our lips


And covered up our names. musgo

Para ler mais poemas de Emily Dickinson, acesse o link:


http://www.online-literature.com/dickinson
Acesso em 15 de mar. 2015.

Na seção “Material Complementar” você poderá ler este e mais seis poemas famosos de
Emily Dickinson, traduzidos por Nuno Júdice. Não deixe de consultar!

Vale a pena relembrar que Ralph Waldo Emerson foi uma


grande influência para os poetas americanos Walt Whitman
Importante! (1819-1892) e Emily Dickinson (1830–1886).

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Herman Melville (1819 – 1891)

N asceu em família rica e tradicional, porém, com a morte do pai,


passou a conviver com a pobreza aos 12 anos. Trabalhou como
bancário, professor, agricultor e, aos vinte anos, embarcou como
marujo em um navio mercante rumo a Liverpool. A primeira de
muitas viagens.
A princípio, Melville não tinha intenções literárias. No entanto,
foi encorajado a escrever tudo o que vira. Suas primeiras obras são
histórias de viagens baseadas em suas próprias aventuras. Por exemplo,
em Taipi (1846), o protagonista Tom desembarca numa ilha na
Polinésia, abandona o baleeiro e passa a viver com canibais. Nesta
obra, vemos a personagem em busca da verdade ao questionar-se por
que os antropófagos pareciam felizes, moralmente puros e até melhores
que os europeus. Melville demonstra uma visão simpática a culturas
Fonte: Wikimedia Commons
consideradas inferiores, menosprezando atitudes e práticas europeias.
Em 1850, a partir da amizade com Nathaniel Hawthorne e da leitura de filósofos, Melville
inicia sua fase artisticamente mais ambiciosa. Sua obra-prima Moby Dick, dedicada a
Hawthorne, possui enredo bastante complexo e apresenta vários símbolos.

Moby Dick (1851)


Moby Dick é considerado um romance excepcional do Romantismo norte-americano e,
embora tenha fracassado na época da morte do autor (1891), sua reputação cresceu como o
grande romance americano durante o século XX.
William Faulkner confessou que desejaria tê-lo escrito ele mesmo, e D. H. Lawrence o
chamou de “one of the strangest and most wonderful books in the world”, e “the greatest
book of the sea ever written”.
Produto de um ano e meio de escrita, o livro é dedicado a Nathaniel Hawthorne, e centraliza
a experiência de Melville em alto-mar, sua leitura sobre baleias, e inspirações literárias, tais
como Shakespeare e a Bíblia.
As descrições realistas e detalhadas da caça às baleias e da extração de seu óleo, bem como
da vida a bordo de um navio em meio à diversidade cultural da tripulação, são misturadas com
a exploração de classe e status social, do bem e do mal, e da existência de Deus.
Além disso, Melville usa estilos e gêneros que variam desde canções, poesias e catálogos a
direções Shakespearianas e solilóquios.

Solilóquio: do latim solilóquium (solus = sozinho e loqui = falar).


Conversa de alguém consigo mesmo. Distingue-se do monólogo (fala ou
Glossário discurso por uma única pessoa em teatro ou oratória, etc.) porque, embora
etimologicamente de igual significado, o solilóquio é uma espécie de diálogo
do autor com sua alma, com sua consciência, um autodiálogo; ato de
alguém conversar consigo próprio, fazer uma introspecção ao eu psíquico.
Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/solil%C3%B3quio/ (Acesso em 13 de abr. 2015).

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Havia algumas pequenas, mas importantes diferenças entre os textos das publicações do
livro feitas em Londres e Nova Iorque. Em Londres, houve cortes ou mudanças de passagens,
e Melville também fez algumas mudanças, incluindo uma feita no título no último minuto. A
obra primeiramente apareceu como The Whale, em Londres, em outubro de 1851, e depois
sob seu definitivo título Moby-Dick em Nova Iorque, em novembro.
A baleia, no entanto, aparece nas duas edições como Moby Dick, sem hífen. A edição
britânica não foi reimpressa, enquanto que a americana o foi três vezes, a última em 1871.
Apenas 3.200 cópias foram vendidas durante a vida do autor.
O romance é narrado em primeira pessoa pela personagem Ishmael, que decide se
aventurar no mar embarcando no baleeiro Pequod, nome da primeira tribo indígena
exterminada pelos colonizadores brancos nos Estados Unidos. A escolha desse nome pode
indicar uma crítica e uma tentativa de evidenciar a história não oficial dos Estados Unidos
que inclui a exterminação de todas as tribos indígenas que habitavam o continente, antes da
chegada do colonizador branco.
Depois de vários dias em alto-mar, o misterioso capitão Ahab revela à tripulação o propósito
da viagem: matar a baleia branca conhecida como Moby Dick, responsável pela mutilação de
uma de suas pernas. De forma eloquente, o capitão convence a tripulação, composta por
exilados provenientes de várias regiões e etnias, formando um microcosmo da humanidade.
Ao final, Ahab consegue, enfim, matar a grande baleia branca. No entanto, todos os envolvidos,
exceto o narrador, morrem no processo. Observe, a seguir, uma das falas finais do capitão Ahab
e o desfecho da obra, quando o narrador afirma que tudo entrara em colapso, com exceção da
natureza que, simbolizada pelo mar, permanecia a mesma de há cinco mil anos atrás:

‘Am I cut off from the last fond pride of meanest shipwrecked
captains? Oh, lonely death on lonely life!’ [...] went down with
his ship, which, like Satan, would not sink to hell till she had
dragged a living part of heaven [...] then all collapsed, and the
great shroud of the sea rolled on as it rolled 5,000 years ago.

Em relação aos símbolos, a baleia Moby Dick pode representar a natureza por ser complexa,
desconhecida e perigosa. Porém, para o capitão Ahab, o animal simboliza apenas o Mal.
A narrativa mistura referências literárias e míticas com descrições extremamente realistas e,
apesar da linguagem rebuscada, o enredo desperta a atenção do leitor do início ao fim.

Sobre a obra, vale ressaltar a seguinte característica:


Consumido por uma raiva completamente insana, o Capitão Ahab tem
apenas um objetivo na vida: vingar-se de Moby Dick, a grande baleia
Importante!
branca que o feriu e desfigurou. Portanto, o obcecado capitão usa seu
poder de comando como uma desculpa para navegar pelos sete mares em
uma busca sem fim pelo objeto de ódio.

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Para ler a obra Moby Dick, acesse o link:
http://www.online-literature.com/melville/mobydick/
(Acesso em 20 de mar. 2015).

É também possível fazer o download gratuito do filme pelo link:


http://www.armagedomfilmes.biz/?p=91354
(Acesso em 06 de abr. 2015).

Curiosidade! – Nota cultural


Moby Dick também foi um desenho animado dos estúdios
Hanna-Barbera, exibido pelo canal estadunidense CBS
entre (1967-1969). Seu nome original era Moby Dick and the
Mighty Mightor. Nesse desenho, dois adolescentes (Tom e
Tub) são resgatados pela grande baleia branca Moby Dick
após um naufrágio. Juntamente com a mascote Scooby, eles
enfrentam os perigos do fundo do mar.
Em um episódio do desenho de Tom & Jerry, os personagens
se deparam com a embarcação The Pequod e encontram
Dick Moe (paródia de Moby Dick) e o capitão.

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Mark Twain (1835 – 1910)

M ark Twain era o pseudônimo de Samuel Langhome Clemens,


que adotou este nome por estar ligado à temática de sua obra.
Na realidade, “mark twain” é a expressão que os barqueiros do rio
Mississipi usavam para indicar “duas braças” de profundidade (cerca
de 4 metros), o nível mínimo para que um barco passasse de forma
segura. Para o autor, o rio representava a própria jornada humana.
Twain trabalhou como tipógrafo e escreveu vários textos
humorísticos. De 1857 a 1861, trabalhou como navegador no rio
Mississippi. Certamente, utilizou elementos dessa experiência para
Fonte: Wikimedia Commons
escrever Life on the Mississippi (1883).

Em 1862, começa sua carreira de jornalista e, posteriormente, publica sua coletânea de


contos e casos em The celebrated jumping frog of Calaveras county (1867). Com esta
coletânea, Twain registra uma forte tradição do humor típico do Oeste: episódios em que
pessoas simples e aparentemente tolas conseguem enganar supostos especialistas.

Com personalidade carismática, o autor começa a ser convidado para dar palestras e
conferências. Em 1876, publica The Adventures of Tom Sawyer, obra em que Tom Sawyer
e Huckleberry Finn, dois meninos que vivem às margens do Mississipi, como o autor, formam
uma das duplas mais famosas da literatura mundial.

Planejado, a princípio, como continuação da obra anterior, Twain publica


The Adventures of Huckleberry Finn (1884), que é considerada por muitos críticos a
grande obra do autor, por apresentar uma dimensão moral mais ambiciosa, abordando a
violência da escravidão.

The adventures of Tom Sawyer (1876)


Tom Sawyer é uma das personagens mais memoráveis da literatura americana: menino
esperto, travesso e sempre pronto a usar as situações em seu favor.
A obra é um dos grandes clássicos da literatura americana. Tom Sawyer, o imortal personagem
de Mark Twain, mostra-se tão à vontade no mundo respeitável de sua tia Polly quanto no mundo
aventureiro e desprotegido de seu amigo Huck Finn. Os dois vivem uma série de aventuras,
podendo ser citado o evento em que presenciaram um assassinato e que, por fim, provaram a
inocência do homem injustamente acusado; e a perseguição feita por Injun Joe (o verdadeiro
assassino). Finalmente, após terem escapado das garras de Joe, encontram o tesouro que Joe
havia enterrado.
Twain, observando o mundo pelo ponto de vista infantil, relata a amizade entre Tom Sawyer
e Huckleberry Finn, a descoberta do amor com a menina Becky e muitas travessuras.
Embora originalmente escrito como história de aventura para jovens, este livro é muito mais
do que isto: é um mergulho na vida do interior dos Estados Unidos, especialmente na região
do “imenso Mississippi”, na metade do século XIX.

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Numa das passagens mais famosas do romance, Tom recebe, como castigo por ter cabulado
aulas, a tarefa de pintar a cerca de um jardim, mas finge que aquilo é um privilégio, “permitindo”
a outros garotos que finalizem o trabalho, desde que lhe paguem uma determinada quantia:

The Adventures of Tom Sawyer – Chapter 2


“Say - I’m going in a-swimming, I am. Don’t you wish you
could? But of course you’d druther work - wouldn’t you?
Course you would!”
Tom contemplated the boy a bit, and said:
“What do you call work?”
“Why, ain’t that work?”
Tom resumed his whitewashing, and answered carelessly:
“Well, maybe it is, and maybe it ain’t. All I know, is, it suits
Tom Sawyer.”
“Oh come, now, you don’t mean to let on that you like it?”
The brush continued to move.
“Like it? Well, I don’t see why I oughtn’t to like it. Does a boy
get a chance to whitewash a fence every day?”
That put the thing in a new light. Ben stopped nibbling his
apple. Tom swept his brush daintily back and forth - stepped
back to note the effect – added a touch here and there –
criticized the effect again – Ben watching every move and
getting more and more interested, more and more absorbed.
Presently he said:
“Say, Tom, let me whitewash a little.”

Leia a obra The Adventures of Tom Sawyer no link:


http://www.online-literature.com/twain/tomsawyer/
(Acesso em 20 de mar. 2015).

É possível também assistir ao filme completo, acessando o link:


https://www.youtube.com/watch?v=Nh5C6TKVyIE
(Acesso em 06 de mar. 2015).

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Henry James (1843 – 1916)

P roveniente de família rica, Henry James recebeu uma ótima


educação durante sua adolescência, quando estudou na Suíça,
França, Inglaterra e Itália. Viveu a maior parte da vida na Europa,
porém nunca deixou de ser um legítimo representante do Novo Mundo.
O autor conviveu com a elite do Realismo francês (Zola,
Maupassant, Flaubert): “Fui lançado em pleno Olimpo”.
Em 1871, publica seu primeiro romance, Watch and Ward.
Em três de seus romances iniciais, Roderick Hudson (1875),
The Americans (1877) e The Europeans (1878), James
retratou e contrapôs a cultura americana e a europeia. Escreveu
vinte romances, mais de cem contos e doze peças teatrais, assim
como também produziu crítica literária e autobiografias. Tornou-se
Fonte: Wikimedia Commons
cidadão inglês em 1915, um ano antes de sua morte em Londres.
Sua obra representa a transição do século XIX para o XX, principalmente devido aos seus
últimos livros, considerados romances psicológicos, como The Turn of the Screw (A Volta
do Parafuso).

The Turn of the Screw (1898)


Página do título da edição original (1898)

 de The Two Magics, no qual The Turn of


the Screw foi primeiro publicado.
Imagem: Wikimedia Commons

Neste romance psicológico, James aborda o mal como parte inerente ao ser humano,
relatando a história de uma jovem, filha de um pároco da aldeia, que se torna governanta
dos sobrinhos de um rico capitalista. Ele a contrata sob a condição de que não o incomode.
A jovem deve cuidar sozinha de Miles e Flora, numa imensa propriedade no interior da
Inglaterra vitoriana. Misteriosamente, logo no início da narrativa, a jovem julga ver um
desconhecido no alto da torre da residência.
Há um segredo no passado das crianças: elas teriam sido desencaminhadas por dois
antigos empregados, Peter Quint e Miss Jessel, que eram amantes e morreram de forma
misteriosa. A governante passa, então, a ver os fantasmas e decide proteger as crianças.
Ela tem que utilizar toda sua convicção nos fatos que se desenrolam na residência para
convencer ao leitor de que é uma narradora confiável.

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Uma das questões propostas pelo romance, que oscila entre fantasia e realidade, é se os
pequenos estão, de fato, possuídos ou tudo é fruto da imaginação, puritana e reprimida,
da narradora.
Várias análises desta obra centralizam a estranha relação entre a jovem e o tio das crianças,
um suposto desejo reprimido pelo homem que deve evitar, e que poderia ser a fonte de suas
estranhas visões.

Importante!

N a obra, Henry James elimina o autor da narrativa e confere ao leitor a ilusão


de estar presente na cena da ação, por meio de uma apresentação dos
eventos e dos personagens diretamente sem comentários.
O modo de apresentar o romance muda, pelo deslocamento do centro da ação
para aspectos psicológicos e fantásticos. As circunstâncias externas perdem
significado diante dos acontecimentos internos que ocorrem na mente humana.
O sobrenatural é determinante na história. Partindo do mundo estranho, a
história toma sentido fantasmagórico.
James teria provado do próprio veneno, pois sentiu “parte do horror que estava
tentando evocar”. Ele brinca com a luz na escuridão (exemplo: as aparições do
fantasma durante o crepúsculo e a morte da preceptora em pleno meio-dia).
Podemos classificar o romance como gótico, já que esse tipo de romance lida
com uma experiência intensa, em um espaço isolado das condições do dia a dia.
A narrativa é permeada por um ar de mistério e horror com grande sugestão de
sexualidade e sadismo. O motivo de crianças serem encantadas por outro mundo
– ou pelos mortos – sustenta o tom gótico do romance.
Henry James não trabalha com questões sociais, mas sim psicológicas. Segundo
Teodorov, o leitor tem que pairar entre a “desrazão” e a razão, não sabendo
direito o que acontece, pois a história não tem solução. A fórmula de James
sustenta-se entre a certeza e incerteza, ou seja, a fórmula da narrativa fantástica.
É uma história de loucura e neurose, por meio de uma busca de sentido
psicológico para vivências incomuns pela preceptora.
Dessa obra nasceu o filme de grande sucesso The Innocents (“Os Inocentes”).
Por meio da obra literária e cinematográfica pode ser feito um estudo comparado.
Disponível em: http://culturaesquizofrenica.blogspot.com.br/2010/07/volta-do-parafuso.html (Acesso em 06 de abr. 2015).

Para saber o fim deste misterioso romance psicológico, acesse o link:


http://www.online-literature.com/henry_james/turn_screw/
(Acesso em 20 de mar. 2015).

A obra também está disponível para download no link:


http://www.goodreads.com/book/show/12948.The_Turn_of_the_Screw
(Acesso e 06 de abr. 2015).

Se preferir, assista ao filme completo The Innocents (“Os Inocentes”),


disponível no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=ktvn-UFNJkM
(Acesso em 06 de abr. 2015).

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Considerações finais

Você conheceu, nessa unidade, os principais autores da segunda metade do século XIX.
Começamos pela produção poética de Walt Whitman, “o poeta da América”, e sua obra
Leaves of Grass. Estudamos também a poesia moderna e sublime de Emily Dickinson.
Na prosa, abordamos o romance Moby Dick, obra-prima de Herman Melville, que reflete
sua fase mais madura e complexa. Também estudamos sobre Mark Twain e sua dupla
inesquecível, Tom Sawyer e Huck Finn. E finalizamos com o grande Henry James e seu
romance psicológico The Turn of the Screw.
Não se esqueça! Leia também as informações adicionais no Material Complementar desta
unidade. Lá, você poderá aumentar seus conhecimentos sobre essa fase do Romantismo
norte-americano. Não perca essa chance!

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Material Complementar

Caso você queira conhecer um pouco mais a respeito dos assuntos tratados nesta unidade,
seguem algumas sugestões de leituras e filmes.
Elas estão elencadas por autores, de acordo com a ordem em que aparecem no título da unidade.

Walt Whitman
Livro:
Leaves of Grass (“Folhas de Relva”)
Walt Whitman (1819–1892) publicou a primeira edição de sua principal obra, Leaves of
Grass, em 1855. Pelo restante de sua vida, produziu novas edições do livro, terminando
com a nona edição, ou edição do “leito de morte”, em 1891–1892. O que começou
como um livro fino de 12 poemas, tornou-se, no final de sua vida, um compêndio grosso
de quase 400 poemas.
Whitman considerava cada versão como um livro próprio e distinto e alterava o conteúdo
de forma contínua. Adicionou novos poemas, deu nome ou renomeou antigos e, até
1881, reagrupou-os várias vezes. Desenvolveu a tipografia, adicionou anexos, reescreveu
as frases e alterou a pontuação tornando cada edição única.
Ao clicar no link, você encontrará a primeira edição rara, que Whitman imprimiu sem o
nome do autor na página de título. A publicação do livro foi anunciada por comentários
anônimos impressos em jornais de Nova Iorque, os quais foram claramente escritos pelo
próprio Whitman. Eles descreviam com precisão a natureza revolucionária de sua obra
“transcendente e nova”: “Finalmente, um trovador americano!”.
Whitman também recebeu um impulso generoso de publicidade da escritora best-seller
Fanny Fern, que fez amizade com o poeta e defendeu o livro “Folhas de Relva” como
ousado e novo em sua coluna popular no New York Ledger, em 10 de maio de 1856.
Leia a obra gratuitamente no link:
http://www.wdl.org/pt/item/9683/
(Acesso em 9 de abr. 2015).

Filme:
Dead Poets Society (“Sociedade dos Poetas Mortos”)
Após a exibição do filme, os poemas de Walt Whitman tornaram-se mais conhecidos
pelo público brasileiro.
O filme tem Robin Williams como personagem principal, interpretando um professor de
literatura, que citava trechos de poemas de Whitman e que possuía um retrato do poeta
na parede atrás de sua mesa de professor.
Assista ao filme gratuitamente por meio do link:
http://www.filmesiv.com/2012/10/sociedade-dos-poetas-mortos-legendado.html
(Acesso em 13 de abr. 2015).

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Emily Dickinson
Livro:
Oitenta Poemas de Emily Dickinson
Em 1979, Jorge de Sena, indiscutivelmente um dos maiores poetas portugueses do
seu século, traduziu a obra “80 Poemas de Emily Dickinson”, uma das maiores poetisas
americanas de todos os tempos.

Poemas de Emily Dickinson traduzidos por Nuno Júdice1:

Os Instantes Superiores da Alma


Os instantes Superiores da Alma
Acontecem-lhe – na solidão –
Quando o amigo – e a ocasião Terrena
Se retiram para muito longe –
Ou quando – Ela Própria – subiu
A um plano tão alto
Para Reconhecer menos
Do que a sua Omnipotência –
Essa Abolição Mortal
É rara – mas tão bela
Como Aparição – sujeita
A um Ar Absoluto –
Revelação da Eternidade
Aos seus favoritos – bem poucos –
A Gigantesca substância
Da Imortalidade
Disponível em: http://www.citador.pt/poemas/a/emily-dickinson. Acesso em 9 de abr. 2015.

Diz Toda a Verdade


Diz toda a Verdade mas di-la tendenciosamente –
O êxito está no Circuito
É demasiado brilhante para o nosso enfermo Prazer
A esplêndida surpresa da Verdade
Como o Relâmpago se torna mais fácil para as Crianças
Com uma amável explicação
A Verdade deve ofuscar gradualmente
Ou cada homem ficará cego –
Disponível em: http://www.citador.pt/poemas/a/emily-dickinson. Acesso em 9 de abr. 2015.

1 Escritor, poeta, ensaísta português, natural de Mexilhoeira Grande, Portimão. Estudou Filologia Romântica na Universidade de Lisboa, vindo
a ser professor do ensino secundário. Atualmente, é professor da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese
sobre Literatura Medieval. A partir de 1997, passou a desempenhar, em Paris, os cargos de conselheiro cultural da Embaixada Portuguesa e
delegado do Instituto Camões. Tem livros traduzidos na Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra e França. Recebeu o prêmio de Poesia Pablo
Neruda e o Prêmio da Fundação da Casa de Mateus. Disponível em: http://www.escritas.org/pt/biografia/nuno-judice. Acesso em 13 de abr. 2015.

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A Dor Tem um Elemento de Vazio
A Dor – tem um Elemento de Vazio –
Não se consegue lembrar
De quando começou – ou se houve
Um tempo em que não existiu –
Não tem Futuro – para lá de si própria –
O seu Infinito contém
O seu Passado – iluminado para aperceber
Novas Épocas – de Dor.
Disponível em: http://www.citador.pt/poemas/a/emily-dickinson. Acesso em 9 de abr. 2015.

Morri pela Beleza


Morri pela Beleza – mas mal me tinha
Acomodado à Campa
Quando Alguém que morreu pela Verdade,
Da Casa do lado –
Perguntou baixinho “Por que morreste?”
“Pela Beleza”, respondi –
“E eu – pela Verdade – Ambas são iguais –
E nós também, somos Irmãos”, disse Ele –
E assim, como parentes próximos, uma Noite –
Falamos de uma Casa para outra –
Até que o Musgo nos chegou aos lábios –
E cobriu – os nossos nomes –
Disponível em: http://www.citador.pt/poemas/a/emily-dickinson. Acesso em 9 de abr. 2015.

Demasiada Loucura é o Mais Divino Juízo


Demasiada Loucura é o mais divino Juízo –
Para um Olhar criterioso –
Demasiado Juízo – a mais severa Loucura –
É a Maioria que
Nisto, como em Tudo, prevalece –
Consente – e és são –
Objeta – és perigoso de imediato –
E acorrentado –
Disponível em: http://www.citador.pt/poemas/a/emily-dickinson. Acesso em 9 de abr. 2015.

A Ausência Desincorpora
A Ausência desincorpora – e assim faz a Morte
Escondendo os indivíduos da Terra
A Superstição ajuda, tal como o amor –
A Ternura diminui à medida que a experimentamos –
Disponível em: http://www.citador.pt/poemas/a/emily-dickinson. Acesso em 9 de abr. 2015.

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

O Êxito Parece a Mais Doce das Coisas


O êxito parece a mais doce das coisas
A quem nunca venceu na vida.
Ter a compreensão de um néctar
Exige a mais dolorosa necessidade.
De entre o purpúreo Exército
Que hoje empunhou a Bandeira
Nenhum outro poderá dar uma tão clara
Definição da Vitória
Como o vencido – agonizante –
Em cujo ouvido interdito
A distante ária triunfal
Ressoa nítida e pungente!
Disponível em: http://www.citador.pt/poemas/a/emily-dickinson. Acesso em 9 de abr. 2015

Filme:
I started early
Na realidade, não é exatamente um filme, mas trata-se de uma animação baseada na
obra da autora.
Talvez você ache um pouco difícil de assistir porque é uma versão original em inglês, ou
com legendas em inglês.
Disponível em:
http://garatujasfantasticas.com/15-animacoes/
(Acesso em 13 de abr. 2015).

Herman Merville
Livro:
Moby-Dick: The Whale
Disponível em:
http://www.online-literature.com/melville/mobydick/
(Acesso em 20 de mar. 2015).

Filme:
Moby Dick
Filme de 1978, que narra o romance clássico de Herman Melville. Disponível em:
http://www.armagedomfilmes.biz/?p=91354
(Acesso em 06 de abr. 2015).

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Mark Twain
Livro:
The Adventures of Tom Sawyer (“As Aventuras de Tom Sawyer”)
Tom Sawyer vive com sua tia Polly e o seu meio-irmão, Sid, na cidade de São Petersburgo,
no estado do Missouri, junto ao rio Mississipi. Tom e Huckleberry Finn, o filho do bêbado
da cidade, envolvem-se nas mais destemidas aventuras que fazem as delícias do leitor.
A obra é um retrato dos Estados Unidos rural em meados do século XIX. Foi adaptada
para o cinema e séries de animação diversas vezes. Uma das animações mais famosas foi,
sem dúvida, uma adaptação japonesa, em 1980, que foi lançada também em Portugal.
Leia o livro gratuitamente no link:
http://www.livros-digitais.com/mark-twain/as-aventuras-de-tom-sawyer/sinopse
(Acesso em 9 de abr. 2015).

Filme:
The Adventures of Tom Sawyer (“As Aventuras de Tom Sawyer”)
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Nh5C6TKVyIE
(Acesso em 06 de abr. 2015).

Henry James
Livro:
The Turn of the Screw (“A Volta do Parafuso”)
Disponível para leitura em:
http://www.online-literature.com/henry_james/turn_screw/
(Acesso em 20 de mar. 2015).

Disponível para download em:


http://www.goodreads.com/book/show/12948.The_Turn_of_the_Screw
(Acesso e 06 de abr. 2015).

Filme:
The Innocents (“Os Inocentes”)
Cenário: Inglaterra, durante a Era Vitoriana.
Dois irmãos, Flora e Miles, moram com seu tio em uma antiga casa após ficarem
órfãos. Os meninos são deixados aos cuidados da senhorita Giddens, uma governanta
muito competente, que ganha total liberdade de criação dos meninos. Porém, as duas
crianças começam a serem possuídas por espíritos que habitavam a casa. Cabe a
Giddens salvá-las e exorcizar os espíritos que rondam a casa.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ktvn-UFNJkM
(Acesso em 06 de abr. 2015).

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Unidade: Século XIX: Romantismo (Walt Whitman, Emily Dickinson, Herman Melville, Mark Twain, Henry James)

Referências

CUNLIFFE, M. The Literature of the United States. 4.ed. Middlesex: Penguin, 1986.

HIGH, P. B. An Outline of American Literature. England: Longman, 2002.

NABUCO, C. Retrato dos Estados Unidos a Luz da sua Literatura. 2.ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

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Anotações

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