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1. Aspectos gerais
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- Imputação do cumprimento (um devedor tem várias dívidas
para com o mesmo credor e não tem como pagar todas – ao
entregar uma determinada quantia, a lei diz como é que essa
quantia se distribui pelas várias dívidas)
- Compensação parcial (paga-se uma parte e fica-se a dever o
resto)
- Regras sobre letras e cheques (estão nas leis Uniformes –
matéria de Direito Comercial)
Requisitos do cumprimento
1. Capacidade do devedor (764ºnº1)
São regras diferentes do regime geral da capacidade negocial (é uma
excepção)
Em certas situações em que o devedor é incapaz, o cumprimento é
válido; se for um acto de disposição (enquanto oposto de acto
material e não enquanto oposto de acto de administração), o
devedor tem de ser capaz (exemplo: um menor não pode celebrar
um contrato de compra e venda, mas pode entregar a coisa porque
a transmissão de propriedade ocorre no momento da celebração do
contrato)
2. Invalidade do cumprimento
Depende de qual a natureza do acto de cumprimento
Que natureza tem o acto de cumprimento? Solução consensual na
doutrina: Não é um negócio jurídico mas sim um acto jurídico simples
Sendo um acto jurídico simples, aplica-se o 295º, que remete para a
aplicação analógica do regime da invalidade dos negócios jurídicos (com
as devidas adaptações)
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- Nº1 – terceiros interessados ou não (porque a intenção passa pelo
cumprimento da obrigação credor) no cumprimento da obrigação (exemplo:
Gervásio paga a divida do Zeferino, sem o conhecer de lado nenhum)
- Nº2 – prestações infungíveis (quando a substituição prejudique o
credor) não podem ser cumpridas por terceiros
- E se o credor recusar a prestação por terceiro quando esta for fungível
(tipo em € , o caso paradigmático) 768ª nº1 – o credor incorre em mora
perante o devedor
- E só em situações muito extremas é que o devedor se pode opor ao
cumprimento por terceiro – qual a relevância da oposição do devedor contra o
cumprimento por terceiro? 768ºnº2 – 2 pressupostos:
- O credor quer recusar a prestação, ou seja, só em casos muito
esporádicos é que um terceiro que quer realizar a prestação não o pode fazer
- O terceiro não pode ficar sub-rogado no lugar do credor, nos
termos do artigo 592º (sub-rogação legal)
Porque aqui não se trata de um terceiro qualquer, mas sim de um terceiro que,
por lei, esta interessado no cumprimento do credito.
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E nos casos de prestação feita a terceiros? Em princípio não extingue a
obrigação, embora haja excepção (770º)
E nos casos de prestação feita ao credor do credor?
Ex: A deve mil euros a B que deve mil euros a C. A paga a C. A primeira
divida de A para B extingue-se?
O terceiro pode cumprir (isso não se questiona), pela simples razão de
que é um terceiro (767º): é fungível, logo a segunda divida extingue-se
obviamente. A dúvida está em saber se a primeira obrigação também
fica extinta.
770º, d) – 1ªparte – o credor aproveita-se do cumprimento feito
por A e C. Verifica-se
- A 2ª parte é discutível – há casos em que o credor tem interesse fundado
(=vantagem) em não considerar a obrigação como feita a si próprio (exemplo típico:
excepção do não cumprimento do contrato (428º) – se a primeira divida se considerar
extinta, B não pode invocar este meio para pressionar A – ou seja B vai preferir que se
considere que a obrigação não foi feita a si próprio
Lugar
772º-776º
Atenção! A principal razão pela qual se erra muito nesta questão
prende-se com a aplicação do 772º como regra-mãe. O problema
é que as excepções são mais importantes que a regra. (pergunta
comum de exame)
Há que ver as normas especiais no regime dos “contratos em
especial”
- A mais importante e mais comum é a regra especial do 885º
(C/V)
-Nº1 – No momento e no lugar da entrega da coisa vendida (ou
seja, não é no domicilio do devedor (772º) coisa nenhuma)
Qual é o lugar da entrega da coisa móvel? 773º - no lugar onde a
coisa se encontra ao tempo da conclusão do negócio (tipo na
loja) – (ou seja, a resposta é = ao 885º(preço) + 773º (coisa)!!
774º - As obrigações pecuniárias devem ser cumpridas no
domicílio do credor (ao contrario do principio geral do 772º)
Logo, o 772º nº1 (no domicilio do devedor) é a regra supletiva
Tempo
Obrigações puras (777ºnº1 diferente de obrigações a prazo)
- Obrigações sem prazo
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- Podem ser exigidas a todo o tempo
- O devedor pode cumprir a qualquer altura
- São muito raras hoje em dia
- O 777º nº2 prevê que se possa atribuir um prazo a uma obrigação pura
(através do processo judicial de fixação do prazo) 777ºnº2 + CPC
5. Imputação do cumprimento
D deve a C 100mil, 20mil e 10mil euros. D só tem 50mil.
Como se resolve?
- 783º - Se o devedor tem várias dívidas da mesma espécie (tipo todas em €),
pode escolher a dívida a ser paga com o seu património (desde que respeite o
principio da integralidade)
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784º, nº1 – Se o devedor não escolheu, paga-se a dívida vencida, etc.…
- nº2 – Se não for possível seguir as regras do nº1, os 50mil euros são
imputados nas 3 dividas, de forma proporcionalmente rateada = excepção ao
principio da integralidade.
Se o património do devedor não chegar para isto tudo, paga-se pela ordem
expressa no nº1 (despesas --» indemnização --» juros --» capital)
Institutos a estudar
- Dação em cumprimento
- Dação “pro solvendo”
- Cessão de bens aos credores
- Consignações em depósito
- Compensação
- Novação
- Remissão
- Confusão
1. Dação em cumprimento
Noções (837º) – realização de uma prestação diferente da devida com o
fim de extinguir imediatamente a obrigação
Aparentemente é só para prestações de coisas e substituições pela
prestação de outras coisas. Mas NÃO É.
Mas a história do instituto e outros aspectos do regime (839º) indicam
um sentido mais amplo – ou seja, não precisa necessariamente de ser a
prestação de uma coisa (pode ser de facto, ou a transmissão de um
direito, por exemplo)
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Nos dois últimos casos, ao lado da obrigação principal, existe uma nova
obrigação que poderá ser cumprida de forma a facilitar a extinção da primeira
1000€
D C
1000€
1000€
3º
Cessão de créditos
Até ao dia do vencimento do crédito C não tem a
certeza de que o terceiro lhe vá satisfazer o crédito – portanto aceita-o, mas a título de
declaração pro solvendo, porque se o crédito não for satisfeito, a obrigação de D pagar
1000€ a C mantém. (embora sem D estar constituído em mora) e terá de ser cumprida
(se o aceitasse a titulo de dação em cumprimento, a obrigação de D para com C
extinguia-se)
E se o C só conseguisse reaver, por exemplo, 900 do terceiro, a obrigação de D
mantinha-se em 100€
Ou seja, quando é um crédito ou uma letra é mais complicado, porque não há
nada palpável – subsistem duas obrigações
Se C se fizer pagar em excesso, a doutrina diz que a diferença a mais deve ser
restituída ao devedor, porque este é que correu o risco de C não se conseguir
fazer pagar (e o C não correu risco nenhum, porque a obrigação D para com C
mantinha-se em qualquer dos casos)
Presunções do 840º nº2
- Estabelece uma presunção legal: quando o devedor fizer uma cessão de
créditos, estaremos, em princípio, perante uma dação “pró solvendo” (a não
ser que as partes estabeleçam o contrario)
- Isto porque uma cessão de crédito dá fracas garantias de que a obrigação seja
cumprida (porque fica dependente de outra obrigação)
C2
D
C3
C4
D dá os bens todos, por exemplo, ao C1 e acorda
com ele que ele vá distribui-los proporcionalmente pelos credores todos, em
função dos respectivos créditos
É uma figura que nunca foi utilizada (pelo menos que se saiba), porque o C2, C3
e C4 não vão obviamente confiar no C1 – porque o C1 ia logo satisfazer o seu
credito e depois logo se via os outros
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É diferente da dação em cumprimento (muito devido ao 835º) – é o
mais próximo da dação pro solvendo, mas ainda assim, é diferente (é
como que mandatar um dos credores)
4. Consignação em depósito
Noção: entrega da coisa à guarda de terceiro, sendo que, por razões
especiais, se extingue a obrigação
Pode ser prestação da coisa ou dinheiro
Em que situações pode operar a extinção? (841º)
- a) Exemplo: a herança já está aberta, mas ainda não foi feita a partilha;
o devedor ainda não sabe se deve entregar ao herdeiro x ou ao herdeiro
y e, por isso, consigna a coisa em depósito e extingue a obrigação
- b) quando o credor estiver em mora
Esta figura só opera por via judicial (para o devedor fazer valer a
consignação tem de interpelar o credor judicialmente)
5. Compensação
Se A deve 1000euros a B e este 500euros ao A, faz-se uma compensação e
A só tem de pagar 500euros a B. B INVOCA COMPENSAÇAO
Modalidades:
- Legal
- Convencional
Requisitos legais: (847º) – positivos:
a) Reciprocidade de crédito
b) Validade, exigibilidade, e exequibilidade do credito invocado ou “crédito
activo” (=o da pessoa que está a invocar a compensação)
c) Fungibilidade do objecto das obrigações (só funciona se o crédito de A for
em dinheiro e o de B também; não pode ser dinheiro e vacas a não ser que
seja acordado pelas partes numa compensação convencional)
d) Existência ou validade do crédito a ser extinto ou “crédito passivo”
a) X é credor de Y que lhe deve mil euros. X é também devedor de Y em mil euros.
Imaginemos que quem invoca o crédito é X – o primeiro crédito vai ser o activo
(ou invocado), o segundo crédito vai ser o passivo (ou a ser extinto)
b) – Vamos admitir que o crédito é válido
- Tem também de ter vencido para ser exigível (porque o prazo é estabelecido
em favor do devedor)
- Exemplo: se o crédito de A fosse um crédito natural e o de B um crédito civil –
o de A não é judicialmente exigível, logo a compensação entre o crédito natural
e o civil não seria possível
- Ou seja o crédito activo não pode ser um crédito não vencido nem um crédito
natural
c) O objecto da prestação tem de ser de coisas fungíveis de uma espécie e
qualidade
d) - O crédito passivo não tem de ser exigível e exequível; pode ser um crédito
ainda não vencido, porque quem invoca o activo recusa o benefício do prazo
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- Se o crédito passivo for natural também não há problema, porque é X que vai
invocar, dispondo-se a satisfazer um crédito (que não era judicialmente
exigível) . X pode pagar em animais.
- O crédito passivo pode ser um crédito não vencido ou um crédito natural
Causas de exclusão da compensação (ou requisitos negativos) – 853ºnº1 [o
professor AV, nesta matéria chama crédito principal ao crédito passivo]
a) Não podem ser extintos os créditos provenientes de factos ilícitos
dolosos (ex: X empurra Z das escadas abaixo; Z partiu-se todo e teve
despesas hospitalares =crédito que nasce da RC – X não pode invocar a
compensação de crédito) --» só se aplica ao crédito passivo (crédito
principal – o que se quer extinguir), porque renuncia àquilo que está
estabelecido na lei (Atenção aos casos de teste/exame!!)
b) Não podem ser extintos os créditos impenhoráveis, salvo se ambos
forem de mesma natureza (exemplo: o Barnabé é pai de Zacarias e não
o alimentou; depois vendeu-lhe o carro --» Barnabé invoca o crédito do
pagamento do carro contra o filho e quer compensá-lo e quer
compensá-lo através do crédito do filho contra ele relativo à pensão de
alimentos --» não pode! Porque a pensão de alimentos é um crédito
impenhorável e não pode ser objecto de compensação --» também só
se aplica ao crédito passivo (ou principal), porque o Zacarias pode
renunciar a essa vantagem que lhe é atribuída. O Barnabé, que quer ver
a sua dívida derivada da pensão de alimentos extinta, é que não.
Declaração de compensação
É uma declaração unilateral – judicial ou extrajudicial (a mais comum)
(848ºnº1)
Tem eficácia retroactiva (854º - desde o momento em que o segundo
crédito nasceu – ou seja, caso a compensação opere, opera em relação ao
momento em que os dois créditos se tornam compensáveis)
6. Novação
Noção: convenção pela qual as partes extinguem uma obrigação, mediante
a criação de uma nova obrigação
Na novação nasce uma nova obrigação que ainda não está cumprida --» é
diferente da dação em cumprimento, porque nesta a prestação original é
mesmo realizada, enquanto que na novação não
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Também é diferente de uma simples modificação do conteúdo da obrigação
(não tipicidade na lei) – exemplo: em vez de dar 5 aulas de chinês de 1h,
dava 10aulas de 30min.
7. Remissão
Também existem formas de extinção da obrigação sem satisfação do
interesse do credor (sem ter havido prestação), como a prescrição (já
estudada em TGNJ) e a remissão
863º - Carácter contratual (A deve 100euros a B; como A vai precisar dos
100euros, B perdoa a dívida por via contratual)
Perdoar uma dívida só tem o valor de remissão com o acordo do devedor
também (caso contrário seria uma renuncia unilateral a um direito
disponível) – tem de ser sempre através de contrato
8. Confusão
868º - Noção: união de qualidade de credor e devedor da mesma
obrigação, na mesma pessoa
Exemplos paradigmáticos
- Mortis causa – A (credor) - mil euros – B devedor
A faz o testamento e nomeia B seu herdeiro universal
A morre, tornando B devedor de si próprio
- “Inter vivos” – Sociedade X – cem mil euros – Sociedade Y
A dada altura, as sociedades X e Y fundem-se e passam a ser a única pessoa
colectiva que, naturalmente, não vai pagar a si própria
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Capitulo III: Obrigações solidárias
C1
300€ Cada um dos credores só pode exigir 300€
D C2 (tipo se fossem os irmãos, podia chegar o C1,
300€
exigir os 900€ para depois repartir? Não, só os
300€
C3 300€)
Obrigações solidárias
- Solidariedade passiva (noção – 512º nº1, 1ªparte)
Exemplo: D1, D2 e D3 devem um total de 900euros a C. Este pode chegar a
qualquer um deles e exigir por inteiro o pagamento dos 900euros (que vai
extinguir a obrigação para com C – depois há relações internas)
- Solidariedade activa (noção – 512º nº1, 2ªparte)
Exemplo: D deve um total de 900euros a C1, C2 e C3. Um dos credores pode
antecipar-se e exigir os 900euros por inteiro, extinguindo-se a dívida de D
para com os restantes . Relações internas.
2. Fontes de solidariedade
Quais as fontes de solidariedade (513)
- Lei (497º, 507º, 467º, etc..)
- Convenção das partes
Ao contrário do que acontece com as dívidas comerciais que, segundo o 100º
do Código Comercial têm na solidariedade o seu regime regra
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Qual o interesse prático da solidariedade?
- Solidariedade passiva:
Muito importante porque permite satisfazer o interesse do credor mais
facilmente
Vários exemplos legais (497º, nº1, 507º)
Muito frequente por acordo das partes nos contratos
- Solidariedade activa:
Reduzido interesse prático
Raros interesses legais
Para os credores é preferível utilizar procurações recíprocas
1. Noção
539º - 542º
Noção: obrigação cuja prestação só está determinada quanto ao género
e quantidade (exemplo: compra-se 1kg de laranjas ou um frigorifico
Bosch)
Nas sociedades de consumo massificado, grande parte das obrigações
são genéricas e não específicas (exemplo: mesmo quando compramos
uma peça de roupa, vão-nos buscar o modelo e tamanho da peça que
queremos ao armazém sem haver escolha do objecto concreto e o
mesmo acontece com um carro)
Tanto que nas hipóteses práticas há sempre o cuidado de por exemplo
“A vendeu um automóvel antigo; um relógio em 2ªmão – são sempre
coisas determinadas para evitar que sejam genéricas
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2. Consequências fundamentais
Quanto à transmissão de propriedade
- Não aplicação da regra geral do 408º nº1
- Aplica-se o regime especial do 408º, nº2: transferência de direitos reais
sobre coisa indeterminada (falta que, de entre os frigoríficos (por
exemplo), o vendedor escolha qual vai entregar ao comprador
A transferência de propriedade dá-se aquando da transformação da
obrigação genérica em específica (ou seja quando a coisa for determinada)
- Há um regime especial em que não se exige directamente o
conhecimento de ambas as partes (“sem prejuízo do disposto nas
obrigações genéricas” – 408º nº2), mas já lá vamos
Quanto à transferência do risco de perda ou deterioração da coisa
- Não se aplica o regime do 796º, nº1
- Se ainda não é adquirente, não faz sentido que o risco corra por sua
conta; porque, na verdade, o vendedor ainda não é proprietário – só há
efeitos obrigacionais, não há efeitos reais, logo “no pasa nada” quanto ao
risco
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Interpretação literal: parece que não é de exigir o
“conhecimento de ambas as partes” para que a concentração natural
opere a transmissão da propriedade e a transferência do risco (tipo o B não
precisa de saber as outras 900 garrafas pereceram para se tornar
proprietário
Interpretação teleológica: Conduz à conclusão contrária,
senão os interesses do credor ficariam gravemente desprotegidos
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Capitulo V: Transmissão de créditos e de dividas. Cessão da posição
contratual
1. Aspectos gerais
A transmissão de direitos e de obrigações pode ser:
- Entre vivos vs. mortis causa
- A título singular vs. a título universal
Historicamente, há uma resistência à admissibilidade da transmissão
singular de direitos entre vivos; e ainda mais à transmissão singular de
dívidas
Já a cessão da posição contratual é uma figura à parte, porque
corresponde à relação obrigacional complexa (diferente de transmissão
de direitos e obrigações, que corresponde à relação obrigacional
simples)
2. Cessão de crédito
577º, nº1 – noção: verifica-se uma cessão de crédito quando o credor,
mediante negócio jurídico, transmite a terceiro o seu direito
Trata-se de um caso de modificação subjectiva da relação obrigacional
(mas diferente da novação subjectiva) – porque as garantia subsistem
D C
cedente
Devedor cedido
Cessão de crédito
NC
cessionário
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pagamento (é uma liberalidade – tem a mesma finalidade que uma
doação)
A cessão de crédito é um negócio de causa variável (a razão de ser é
diferente de caso para caso, ás vezes nem parece uma cessão de
crédito) – pode estar-lhe por trás:
- Compra e venda
- Doação
- Dação em cumprimento
- Negócio de garantia de um crédito
Aspecto importante: a cessão de crédito dá-se independentemente do
consentimento ou da vontade do devedor (577º, nº1) – fica devedor do
outro credor, mesmo contra a sua vontade
Efeitos de cessão de crédito
- Quanto ao cedente e ao cessionário (578º)
o Efeito principal: transmissão do crédito
o Outros efeitos dependem do negócio em causa: o 578º remete
para os regimes especiais, consoante o negócio de que se trate
(se for uma doação, vai buscar-se o regime da doação, etc.) – ou
seja, é um negócio pluricausal (vai procurar-se o regime
correspondente)
- Quanto ao devedor
o O devedor não é parte no contrato de cessão
o Efeitos dependem de:
- Notificação judicial ou extrajudicial; ou
- Aceitação da cessão pelo devedor (mesmo que não seja
notificado); ou
- Mero conhecimento da cessão (583º, nº2 – “se porém, antes da
notificação ou aceitação, o devedor pagar ao cedente (…), o
pagamento não é oponível ao cessionário, se provar que o
devedor tinha conhecimento da cessão)
O mero conhecimento já é relevante, pelo que esse pagamento
não é oponível ao cessionário; logo, o devedor paga novamente
o Só se não se verificar nenhuma destas 3 condições e se o
devedor tiver pago de boa-fé a um credor aparente, é que não
tem de voltar a pagar
3. Sub-rogação
Noção: quando um terceiro, que cumpre uma dívida alheia (ou para tal
empresta dinheiro ou outra coisa fungível), adquire os direitos de credor
originário em relação ao respectivo devedor
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D C
F fiador
F cumpre a obrigação, porque
garantiu o cumprimento (antecipa-
se à exigência judicial do credor,
por exemplo)
Torna-se então, o novo credor de D
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- Exemplo:
D B (banco)
3º
3º Compra um andar hipotecado ao banco –
mas antes, paga a hipoteca ao banco por ter a
casa livre de ónus ou encargos
Ou seja, está interessado no cumprimento da
obrigação de D a B
Fica sub-rogado no lugar B sendo que D lhe
passa a dever o valor da hipoteca a si (se o 3º
tiver de pagar pela casa 500mil euros ao
construtor (C) e o valor da hipoteca for
200mil, pode se fazer uma compensação
500€
D2
- Sub-rogação
1000€
D C
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- A cessão de crédito tem origem contratual, nasce com um negócio
jurídico
- A sub-rogação pressupõe o cumprimento da obrigação
2. Quanto à garantia da existência e exigibilidade do crédito
- 587º,nº1 – existe na cessão de crédito
- Na sub-rogação, o antigo credor não garante ao novo que o crédito
exista, seja exigível e válido (isso só terá implicações a nível de
enriquecimento sem causa, não a nível de sub-rogação
3. Quanto à intervenção da vontade do credor
- Requer o acordo do credor na cessão de crédito
- Pode haver sub-rogação sem que o antigo credor tenha intervindo
4. Cessão de crédito parcial vs. Sub-rogação parcial
- Sub-rogação parcial
1000€ C
D + NC (300€)
700€
3º 300€
1000€ 300
D C D C
=»
300 NC
Cessão
parcial N
300
Imaginemos que o devedor se dirige aos credores e entrega
300€ sem dizer para quem são – como não há qualquer
preceito que dê prevalência a um deles, vigora a igualdade de
circunstâncias: ou seja, vão 150€ para cada um
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É feita apenas através do instituto da assunção da dívida (595º e
seguintes), enquanto a transmissão de créditos se faz através de 2
institutos (cessão de crédito e sub-rogação)
Na vida real, transmitir dívidas é sempre mais complicado do que
transmitir créditos
Modalidades de assunção de dividas
1. Quanto à negociação ou celebração (595º, nº1)
a) Contrato entre o antigo e o novo devedor, ratificado pelo credor
b) Contrato entre o novo devedor e o credor, com ou sem
consentimento do antigo devedor (porque se o credor tem interesse
em ter novo devedor, o devedor originário não tem de mandar
bitaites)
2. Quanto aos efeitos (595º,nº2 – não estão expressas as modalidades)
a) Assunção liberatória – há verdadeira transmissão de dívida (exige
declaração expressa “em qualquer dos casos” do número anterior,
tanto no a) como no b)
b) Assunção cumulativa – não há verdadeira transmissão da dívida
D1 C
Solidária/ +
D2
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5.Cessão da posição contratual
É uma figura distinta, encaixada à força no programa
Há transmissão de crédito e dívidas, simultaneamente
424º - Noção
Terminologia
- Cedente = parte que transmite
- Cessionário = 3º
- Cedido = outro contraente
Exemplo: contrato de locação. Aqui estamos perante uma relação
obrigacional complexa (B cede o gozo do bem, a dívida e outros deveres
acessórios e secundários que eventualmente existam); na cessão de
créditos é uma relação obrigacional simples
Na cessão da posição contratual temos dois negócios (terminologia do
professor AV)
- O contrato-base ou originário (a locação entre A e B)
- O contrato instrumental (a cessão da posição entre B e C) pelo qual se
opera a cessão
Requisitos para se fazer uma cessão da posição contratual:
1. Contrato bilateral
2. Consentimento do outro contraente (A)
- Se o consentimento for anterior à cessão (424º/2) esta só produz
efeitos a partir:
o Da notificação da cessão pelo cedente ao cedido; ou
o Do reconhecimento da cessão pelo cedido
- Se o consentimento é posterior, a cessão só produz efeitos a partir da
ratificação pelo cedido
Regime da cessão da posição contratual:
- O contrato base (objecto da cessão) segue o tipo contratual em causa
(tipo se é um contrato de locação vai continuar a seguir o regime que
sempre seguiu)
- Interessa-nos saber qual o regime que vai seguir o contrato
instrumental – o cumprimento instrumental ou a cessão propriamente
dita é um negócio de causa variável (exemplos: locação, c/v)
o O regime vai ser de acordo com o tipo de negócio adoptado
(425º - vai depender do negócio que o cumprimento
instrumental serviu) – vai variar consoante o conteúdo que as
partes quiseram dar ao negócio
o Paralelo com a cessão de créditos (578º)
Distinção de figuras afins
- Contrato por pessoa a nomear – reserva-se a faculdade de designar
outra pessoa para o seu lugar
- Diferenças: - Aqui, a nomeação de C tem efeitos retroactivos
- Na cessão da posição contratual só produz
efeitos “ex novo”
- Sub-contrato
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- Diferenças: - Na cessão da posição contratual, o cedente
desliga-se da sua posição de contraente
- No sub-contrato, mantém-se a relação original e nasce uma
outra como o sub-contratado
Efeitos da cessão da posição contratual
- Nas relações entre cedente e cessionário
o Princípio geral: 425º - regime que corresponder ao negócio que
pretenderam celebrar (c/v, doação, dação em cumprimento,
etc.)
o O cedente garante a existência e validade da posição transmitida
(426º, nº1)
- Mas “a contrario”, o cedente não garante o cumprimento das
obrigações pelo cedido (426º, nº2)
- Nas relações entre cedente e cedido (não há preceito legal)
o Em princípio a cessão exonera o cedente de todas as obrigações
(porque o cedido concordou)
o Mas é admissível uma comunicação diversa (tipo se C não pagar
a renda, B fica responsável pelo pagamento)
- Nas relações entre cessionário e cedido
o O cessionário fica colocado na posição contratual em que se
encontrava o cedente
1. Aspectos gerais
Qual é a garantia geral das obrigações?
- O património do devedor (lá no tempo dos Romanos era a pessoa do
devedor; já não é assim agora)
- Só há uma garantia geral das obrigações (não há garantias gerais)
Principio da responsabilidade do devedor (601º)
- É o património do devedor, na altura do cumprimento (não na altura
do nascimento da dívida, que responde)
- Excepções:
o Bens impenhoráveis
o Limitação da responsabilidade a certos bens
- Limitação geral: patrimónios autónomos ou separados
(exemplo: a herança – enquanto a herança estiver jacente, não
pode ser atacada, só depois de ter sido aberta)
- Limitação convencional (602º e 603º): quando é que o
património do devedor pode ser restringido por intervenção da
vontade das partes ou de terceiro?
- 602º - por acordo entre as partes, desde que não se
trate de matéria subtraída à disponibilidade das partes”
(exemplo: obrigação de alimentos)
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- 603º - por determinação de terceiros, nas doações e nas
deixas testamentárias (exemplo: uma madrinha doa um palacete
à afilhada e exclui o bem como ocupação de resposta pelas
dívidas da afilhada – pode; e se fosse por testamento também.
2. Declaração de nulidade
Noção – (605º)
Será esta faculdade desnecessária face ao regime geral da nulidade
(286º)? Para que serve este artigo?
- o 605º dispensa que o acto produza ou agrave a insolvência do
devedor (exemplo: D só tem uma jóia e faz um negócio simulado,
doando a jóia – C para atacar esse acto, não precisava de provar que
essa doação diminuía a solvabilidade do devedor
A relevância prática deste instituto é grande, sobretudo devido à
frequência dos negócios simulados
Efeitos quanto a todos os credores (605º, nº2)
Exemplo: Venda simulada com H. D desata a fazer vendas simuladas de
todos os bens em nome de H. Imaginemos que C1 consegue a
declaração de nulidade da venda de D a H – os bens x, y e z voltam para
D e tanto C1 como C2 e C3 podem executar o seu património (apesar de
ter sido só 1 a actuar)
23
3. Sub-rogação do credor ao devedor
606º
Noção – possibilidade do credor se substituir ao devedor no exercício de
direitos ou poderes que competem a este último, mas que o devedor não
concretiza (ou seja, serve para os casos de omissão do devedor)
Exemplos:
- Aceitar uma herança. D tem vários credores. Recebe uma herança mas
não vai aceitá-la para não ir parar às mãos dos credores – um dos credores pode
aceitar a herança por ele
- Invocar a prescrição de uma obrigação – D tem vários credores e uma das
dívidas (C3) prescreve. D é amigo de C3 e não invoca a prescrição – C1 e C2 podem
fazê-lo
Âmbito de aplicação de sub-rogação de C ao D (606ºnº1)
- Direitos de conteúdo patrimonial
o Mas excluem-se aqueles que por sua própria natureza ou disposição da
lei só possam ser exercidos pelo respectivo titular (exemplo: D ia casar-
se com uma miúda podre de rica e muda de ideias – o C não o pode
obrigar a casar-se + exemplo: revogação da doação por ingratidão do
donatário – D doa à tia uma quinta; D pode revogar a doação mas
decide não fazê-lo – o C não pode subrogar-se e revogar)
Requisitos:
- Inacção do devedor
- Essencialidade do devedor (606º, nº2) – exemplo: esquecemo-nos de
pagar o almoço; chega o homem do restaurante e começa a subrogar-se – não
pode (só pode fazê-lo se isso for essencial para preservar o seu património –
porque o devedor pode ter património mais do que suficiente e pode querer
satisfazer o crédito, ou seja, pode não estar inactivo e a sub-rogaçao pode não ser
essencial)
Efeitos:
- Em relação a todos os credores (609º) – todos os credores vão beneficiar
da invocação da prescrição por exemplo
4. Impugnação pauliana
Noção: Faculdade que a lei concede aos credores de atacarem judicialmente
certos actos válidos (ou até mesmo actos nulos) praticados pelos devedores em
seu prejuízo. Mesmo os actos nulos (i.e. sujeitos à declaração de nulidade)
estão sujeitos à impugnação pauliana
Origem de denominação: devida ao jurista Paulus do tempo Romano
Exemplos de actos atacáveis
- Venda
- Doação
- Renuncia a direitos
- Assunção de novas dívidas
Âmbito de aplicação (610º e 615º nº1 e 2)
- 610º
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o “Actos que envolvam diminuição de garantia patrimonial do crédito” =
actos que provoquem redução activo ou redução do passivo (ou seja,
têm de ser essenciais à garantia do crédito)
o “Não sejam de natureza pessoal” (ainda que com reflexos patrimoniais)
exemplo: casar, divorciar, adoptar, perfilhar.
Excepto se o acto que tiver sido anterior for doloso (o devedor sabia que ia contrair
o crédito no dia seguinte, por exemplo, e então praticou o acto antes, para
prejudicar o credor – se o credor conseguir provar isto, poderá impugnar
b) Impossibilidade ou agravamento da impossibilidade de satisfação integral do
crédito (610º, b))
Se o devedor tiver património suficiente para satisfazer o crédito, não há
impugnação
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Atenção! Regime especial do ónus da prova: o devedor interessado na manutenção
do acto tem de provar a “suficiência dos bens” (611º, segunda parte) = protecção
maior do credor
c) Má-fé por parte do devedor e do terceiro (612º - requisito eventual: pode ou
não ser necessário)
Se o acto de transmissão for oneroso, exige-se má-fé do devedor e do terceiro; se
for gratuito, a má-fé não é exigível
o Muitas vezes, a impugnação pauliana não procede porque não se consegue
provar a má-fé de terceiro – é a “diabólica probatio” (se não se conhece o
terceiro de lado nenhum, é difícil provar)
o Qual a justificação para a diferença do regime oneroso vs. gratuito? Merece
maior protecção o 3º adquirente num acto oneroso (porque fez um sacrifício,
deu uma contrapartida), do que num acto gratuito
Por isso é que se fazem vendas simuladas – alem de ser difícil provar tem de se
provar a má-fé de terceiro
o Conceito de má-fé para estes casos (612º, nº2)
“Consciência do prejuízo que o acto causa ao credor” (porque o terceiro
geralmente não tem intenção de prejudicar – mas pode ter consciência)
26
i.p
Ex: C1
D
C2
C3
Na prática, o negócio não é atacado – o bem que foi alienado para E é que vai ser
executado, para ser vendido em hasta publica e para que C1 se faça pagar (o excesso
vai para E)
Este regime só é favorável ao credor que o utiliza (pode, portanto, ser mais vantajoso
que a nulidade (muito embora seja mais difícil de provar), porque a nulidade vai
beneficiar todos os credores)
5. Arresto
Noção: Apreensão judicial de bens com valor suficiente para assegurar o
cumprimento da obrigação
Requisitos:
a) Se o arresto for requerido contra o devedor, o credor tem de
provar o “justo receio de perder a garantia patrimonial do seu
crédito” 619º, nº1
b) Se o arresto for requerido contra terceiro adquirente dos bens
do devedor, é possível quando a transmissão tenha sido
judicialmente impugnada, por declaração de nulidade ou
impugnação pauliana (619º, nº2 ) – simultaneamente com a
declaração de nulidade ou impugnação pauliana, ele pode
intentar um arresto contra o terceiro (porque o terceiro pode
alienar a outros terceiros…)
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As garantias gerais especiais são garantias pessoais ou garantias reais
- Pessoais: para além do património do devedor, responde pela dívida o
património de outra(s) pessoa(s) (exemplo: fiança)
- Há um reforço quantitativo (fica não com um, mas com dois patrimónios de
garantia)
- Distinguem-se da:
o Solidariedade passiva (porque o fiador, por exemplo, está numa
situação subsidiária em principio; e, mesmo que não esteja, nunca será
um verdadeiro devedor, porque fica sub-rogado nos direitos do credor –
na solidariedade só há direito de regresso na parte correspondente ao
outro devedor)
o Assunção da dívida:
- Liberatória – o terceiro torna-se o único devedor (na garantia pessoal
há o fiador tmabém)
- Cumulativa – o terceiro torna-se devedor solidário (é como na
solidariedade)
- Reais: atribuem ao credor o direito de satisfazer o seu crédito, com
preferência relativamente aos demais credores, pelo valor ou pelos rendimentos de
determinados bens do devedor ou de um terceiro
- Há um reforço qualitativo
- Haverá, eventualmente, um reforço quantitativo também
- Corresponde aos direitos reais de garantia
2. Prestação de caução
623º e seguintes
É uma garantia especial que se concretiza através de uma garantia pessoal ou
real – é um caso à parte que se pode concretizar através de ambas (623º, nº1 –
várias modalidades)
Noção: garantia que, por lei, decisão judicial ou negócio jurídico, é imposta ou
autorizada para assegurar o cumprimento de obrigações eventuais ou de
extensão indeterminada
Exemplos:
- Artigo 567º,nº1 – para garantir a indemnização em forma de renda (o lesante
pode vir a não ter meios para pagar a renda – o tribunal pode exigir a prestação
de uma caução como garantia de que o lesante vai cumprir a obrigação, porque
pode ser uma obrigação de extensão indeterminada – assim, pode, por
exemplo, exigir uma caução por constituição de uma hipoteca sobre x bens do
devedor)
- A caução a prestar pelos administradores de uma S.A. Código das Sociedades
Comerciais) – os administradores podem ficar fiadores em relação a eventuais
danos que venham a causar à sociedade, no exercício da sua função de
administradores – para assegurar o cumprimento de uma obrigação eventual
Garantias pessoais reguladas no CC
- Fiança (627º e ss)
- Sub-fiança (630º)
- Mandato de crédito (629º)
Os dois últimos não nos interessam
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Outras (não reguladas no CC)
- Aval (figura iminentemente comercial)
- Garantia autónoma
- Carta de conforto (domínio bancário)
3. Fiança
Características (tradicionalmente enumeram-se duas mas vamos ver 4)
a) Acessoriedade (627º, nº2; 628º, nº1; 631º, nº1, 632º, nº1)
- é acessória (627º, nº2) – consequências:
o A forma da fiança deve seguir a forma da obrigação principal (628º,
nº1)
o Não pode exceder o valor da obrigação principal (631º)
o Não é valida se a obrigação principal for inválida (632º)
o excepção (632º, nº2) – se o devedor é menor e o fiador é por
exemplo o avô, que sabia que ele era menor à data da constituição
da fiança, a fiança é válida = excepção ao principio da acessoriedade
(outra excepção está no 782º)
b) Finalidade de segurança do crédito afiançado (manifesta-se na sobrevivência à
impossibilidade de cumprimento pelo devedor)
É a verdadeira razão de ser: se D não consegue pagar ao C, a obrigação do fiador
subsiste
c) Negócio de risco (tem para o fiador uma álea forte: há o risco de vir a perder o
bem ou montante com o qual garantiu a obrigação de D)
d) Subsidiariedade (característica eventual)
- Traduz-se no benefício da excursão (638º - se o D não paga, o C não pode
exigir de F o pagamento, até que tenha executado todos os bens de D)
- Mas pode haver uma renúncia ao benefício da excursão por parte de F,
assumindo-se como principal pagador da obrigação (isto por exigência dos
credores (normalmente quando são bancos) que querem 2 devedores no mesmo
plano e não apenas subsidiariamente – 640º a)
Problema da fiança “omnibus” (fiança geral)
o É uma prática bancária
o Os bancos começaram a exigir fiadores (por vezes, os próprios
administradores das empresas com o seu património) para os
empréstimos concedidos as empresas – depois, como as empresas
continuaram a ter negócios com o banco, este estendia essa fiança a
todos os empréstimos/negócios realizados entre ambos (nasciam com
um negócio concreto mas passavam a aplicar-se à generalidade dos
negócios entre as partes – aplicavam-se inclusive, a objectos
indetermináveis: negócios que ainda não tinham sido previstos
o Acórdão uniformizador da jurisprudência (nº4/2001 de 23 Janeiro): “é
nula, por indeterminabilidade do seu objecto, a fiança de obrigações
futuras, quando o fiador se constitua garante de todas as
responsabilidades provenientes de qualquer operação em direito
consentida, sem menção expressa da sua origem ou natureza e
independentemente da qualidade em que o afiançado intervenha”
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=» Solução talvez um pouco radical: todas as fianças dependentes foram
declaradas nulas (uma opção pela redução seria mais sensata)
4. Consignação de rendimentos
656º, nº1 – Em vez de se afectar o bem em si, afectam-se os rendimentos
(exemplo: rendas de um contrato de arrendamento de um prédio) como
garantia)
Modalidades quanto à amplitude (656º, nº2)
- Abrange o cumprimento da obrigação e pagamento de juros; ou
- Abrange só uma destas componentes
Espécies quanto ao título constitutivo (658º, nº1 e 2)
- Voluntária
- Judicial
5. Penhor
(diferente da penhora: apreensão judicial de bens)
2 Categorias
- Penhor de coisas
- Penhor de direitos
Objecto do penhor (objectos impenhoráveis): coisas móveis e direitos que
tenham por objecto coisas móveis, em ambos os casos não susceptíveis de
hipoteca (carros, barcos, aviões estão sujeitos a hipoteca, logo não estão
sujeitos a penhor) – podem ser empenhadas participações sociais (quotas e
acções)
Exigência de publicidade no penhor
- Exige-se a entrega da coisa empenhada ou de documento que confira a
disponibilidade sobre ela
- Excepção (penhor sem desapossamento) no domínio do Direito Comercial
Penhor sobre direitos
- 679º (regime) – aplica-se o regime do penhor sobre coisas, com as devidas
adaptações
- 680º (objecto) – é o caso paradigmático de um “direito sobre direitos”
6. Hipoteca
É a figura rainha das garantias reais das obrigações
Distinção do penhor
o Quanto ao objecto (imóveis + móveis registados – 688º)
o Necessidade de registo (é a forma de publicidade na hipoteca), logo há
o Dispensa de desapossamento
Características
o Realidade (não é preciso incidir sobre um bem, dai nascendo um direito real
de garantia)
o Especialidade (quanto ao bem e quanto à delimitação do crédito – tem de
se saber qual o bem especificamente e qual o crédito qualitativa e
quantitativamente)
o Publicidade (através do registo)
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o Indivisibilidade (696º) – exemplo: não se pode hipotecar só a cozinha, o
objecto da hipoteca é indivisível
o Acessoriedade (730º, a)) – se a obrigação principal morrer, também morre
a hipoteca
Modalidades
a) hipoteca legal (704º) – a lei prevê que possa ser constituída, por exemplo,
uma hipoteca contra os devedores de IMI se a autarquia a registar – ou seja
não nasce automaticamente é preciso que a AL a registe (= registo constitutivo)
Em todos os casos o registo tem efeito constitutivo (lei prevê, registo faz
nascer)
7. Privilégios creditórios
É uma figura bastante complexa
Noção (733º) – a lei prevê que certos credores, por causa da importância do
seu credito, tenham privilégios tais que este passa por cima dos outros
(exemplo: trabalhadores com salários em atraso têm um privilégio creditório
em seu favor)
É uma garantia perigosa, porque os terceiros não têm meio de saber se sobre
os bens dessa pessoa (com quem contratam) incidem privilégios creditórios (na
hipoteca podem consultar o registo; no penhor não terá o bem)
Conta-se com o património de uma pessoa quando se contrata com ela, mas
podem, sobre ele, haver privilégios creditórios que releguem o outro credito
para segundo plano
Confronto privilégios creditórios vs. hipotecas legais
- Semelhanças:
- Base legal
- Garantia atribuída em atenção à causa do credito
- Diferenças:
- Registo da hipoteca
- O privilégio creditório, se não precisa de ser registado, abrange coisas
móveis não registáveis também
- Força da garantia (751º - o privilégio creditório prevalece sobre a
hipoteca, mesmo que esta seja anterior)
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O privilégio creditório é o papão de todos os credores que não o tenham
- Exemplo:
C1 Hipoteca sobre x
x D
C2
C3
IRC
Estado
Modalidades
o Privilégios mobiliários (bens móveis) vs. imobiliários (bens imóveis)
o Privilégios especiais (bens certos e determináveis) vs. gerais (todos os
bens do devedor)
o Mobiliários gerais – abrange todos os bens móveis do devedor
o Imobiliários gerais – não existiam (em principio só os mobiliários seriam
gerais e especiais)
Os privilégios creditórios imobiliários seriam sempre especiais (ou seja, sobre um bem
determinado), isto porque os privilégios creditórios são uma desprotecção muito forte
para os demais credores
Mas, por legislação avulsa, foram criados certos privilégios creditórios mobiliários e
imobiliários, gerais e especiais (revogação tácita do regime do Código Civil, porque foi
através de um DL)
Mas a intenção do legislador de 1966 era de limitar os privilégios creditórios aos
previstos no CC (8º, 1º do DL nº47344, de 25 de Novembro de 1966 + 735º, nº3, CC na
sua redacção originária =» em 2003 acrescentou-se “estabelecidos neste código”)
Ou seja só alterando o Código é que podiam ser criados p.c imobiliários gerais
O legislador desrespeitou ambas as normas: criou p.c imobiliárias gerais (prai desde
1983) e depois alterou o CC (2003) só para não haver incongruências (porque a
revogação tacita bastaria)
32
Só são verdadeiras garantias reais os p.c especiais, que incidem sobre bens
determinados – a p.c imobiliária especial prevalece sobre todas as outras
garantias especiais sobre imóveis
8. Direito de retenção
Noção: faculdade que tem o detentor da coisa de não entregar a quem lhe
pode exigir, enquanto este não cumprir uma obrigação a que está adstrito para
com ele
754º - O crédito tem de resultar de:
o Despesas feitas por causa da coisa (exemplo: alojamento, comida de uma
pessoa que fica com um cavalo de outra) ou;
o Danos causados pela coisa (exemplo: cavalo estragou-lhe alguma coisa e
enquanto o dono não lhe pagar a indemnização não lhe devolve o cavalo)
Requisitos:
1 – Que o titular detenha licitamente uma coisa que deve entregar a outrem
2 – Que o titular seja simultaneamente credor daquele a quem deve a restituição
da coisa
3 – Que entre os dois créditos haja alguma relação de conexão (seja por despesa
por causa da coisa ou por danos por ela causados)
Casos especiais do 755º (em que não é preciso que se verifiquem os requisitos
gerais do 754º)
o Não existe conexão objectiva entre os créditos (exemplo: 755º, nº1, b) –
as malas não criam despesas nem causam danos no hotel – mas existe
comunhão de fonte dos dois créditos (exemplo: contrato de
hospedagem))
o Como são regimes especiais não podem ser aplicados por analogia
Problema com a excepção do não cumprimento do contrato
- Semelhança
o Em ambos os casos o titular do direito pode recusar a prestação
enquanto o credor não cumprir, por sua vez, a prestação a que está
obrigado
carro
X Y
(oficina) (prop.) X não entrega o carro enquanto Y
reparação não pagar a reparação – qual das 2
figuras é? Direito de retenção
- Diferenças
o A “exceptio” aplica-se das relações sinalagmáticas, enquanto que o
direito de retenção pressupõe a existência de obrigações conexas, mas
não sinalagmáticas
o X pode invocar o direito de retenção, porque a reparação é uma
despesa realizada por causa da coisa (cabe no 754º)
33
o O direito de retenção incide apenas sobre coisas, enquanto que a
“exceptio” se refere a obrigações de prestação de coisas ou de facto
o O direito de retenção pode ser afastado mediante a prestação de
caução suficiente (756º, d)), enquanto que a “exceptio” não pode ser
afastada mediante prestação de qualquer garantias (428º, nº2)
o O direito de retenção é garantia real (o credor tem direito de
preferência sobre a coisa), enquanto que a “exceptio” é apenas um
meio para conduzir a contraparte ao cumprimento – o credor concorre
em igualdade de circunstâncias
Não se exige registo (quando se trata do direito de retenção sobre coisas
imóveis ou móveis registáveis), e porque o direito nasce directamente da lei
759º, nº2 – o direito de retenção prevalece sobre a hipoteca, ainda que
anterior
Conjugação 751º + 759º, nº2
1 – Privilégios creditórios especiais (imobiliário)
2 – Direito de retenção
3 – Hipoteca
=» Independentemente da ordem por que são constituídos
A penhora e o arresto são garantias reais que se concretizam por via judicial
-penhora – 822º
- hipoteca – 622º - 822º
Se decretados, atribuem direitos de preferência ao credor que requerem
34
Quando não é por culpa do devedor, chama-se “impossibilidade” (em vez de
incumprimento”)
Falamos frequentemente em impossibilidade superveniente (se fosse
originária, não seria um problema de não cumprimento, mas sim de invalidade
do negócio jurídico)
Modalidades de impossibilidade superveniente
1 – Impossibilidade objectiva (790º)
- Quando a prestação de coisa ou facto se torna inteiramente impossível
(exemplo: se um relógio cai ao chão e se se partir, a prestação que o tinha como
objecto torna-se inteiramente impossível)
- Consequência: extinção da obrigação
2 – Impossibilidade subjectiva (791º)
- Diz apenas respeito ao sujeito (exemplo: a pessoa que tinha de entregar o
relógio fica doente)
- Geralmente não extingue a obrigação
- Só extingue se, no cumprimento, o devedor não puder fazer-se substituir
por terceiro
3 – Impossibilidade temporária (792º)
- Não releva para efeitos de extinção da obrigação
- Mas pode tornar-se impossibilidade definitiva (nº2)
4 – Impossibilidade parcial (793º)
- Não exonera o devedor (aproxima-se de uma excepção, em sentido
amplo, ao principio da integralidade da prestação) – tipo 1 dos 6 volumes do CC
anotado estraga-se mas o devedor continua a ter de entregar os outros 5
- Mas há o regime especial do 792º, nº2 (resolução)
Consequências das situações de impossibilidade
- Quanto aos contratos bilaterais (c/v, cps, etc.) – 795º
O quê que acontece à contraprestação?
- 795º, nº1 – o credor fica desobrigado da contraprestação (ou seja, não tem
de pagar o que deve) e se já a tiver realizado tem o direito a exigir a sua restituição,
nos termos do enriquecimento sem causa (o que é muito favorável ao devedor)
- Mas porquê nos termos do enriquecimento sem causa?
Porque a causa é não imputável ao devedor (não se aplica aos casos de
imputabilidade ao devedor – nesses casos, o devedor tem de pagar muito mais
- 796º, nº1 – na c/v (no cps não se aplica, pois não pode haver transferência do
risco), se ignorássemos as regras de transferência do risco, em face de uma
impossibilidade de entrega, o comprador não teria de pagar o preço; com o 796º,
nº1 temos a solução oposta (C paga o € e fica sem a coisa) =» prevalecem as regras
do risco, porque são especiais em relação à regra do 795º (regime geral dos
contratos bilaterais)
Assim temos o regime geral dos contratos bilaterais (795º), sobre o qual vai
prevalecer o regime dos contratos que constituem ou transmitem direitos reais
(796º, nº1)
(Problema resultante da lacuna da lei: frustração do fim da prestação)
35
3 – Incumprimento definitivo e mora imputáveis ao devedor. Responsabilidade
civil obrigacional
3.1 Aspectos gerais
Quando é que se verifica uma situação de RC obrigacional
Quando ocorre a violação de uma obrigação em sentido técnico-juridico (cujas
fontes são: contratos, n.j.u, g.n, e/s.c, RCc)
3.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil obrigacional
Devem considerar-se os pressupostos gerais da RC (483º), não obstante a
existência do 798º
O professor MC tem uma posição discordante relativamente a estes
pressupostos clássicos (tese da fonte)
- Na RCc há uma influencia do direito francês que faz com que haja uma
presunção não só de culpa, como também de ilicitude e de nexo de
causalidade – assim, o credor só terá de provar o facto e o dano
- O professor diz que o 483º é muito mais avançado que o 798º. O professor
diz que no 798º se presume a culpa, a ilicitude e o nexo de causalidade,
sendo apenas a prova do dano e do facto para ter direito a indemnização
- Critica da generalidade da doutrina: uma leitura actualista do CC, deve-se
considerar que o 798º abrange os pressupostos do 483º (destruir isso –
através de uma interpretação historicista – seria eliminar esse património
do 483º)
No incumprimento imputável ao devedor, é o próprio devedor que não
realiza a prestação, culposamente (798ºe seguintes). No incumprimento
não é imputável ao devedor (ou impossibilidade), a prestação não é
realizada por causa imputável ao terceiro, ao credor, ou a quem quer que
seja que não o devedor (790º – 797º)
Incumprimento imputável ao devedor
- É o devedor que dá aso ao não cumprimento da prestação
o É o próprio devedor que, por acto culposo, não cumpre a
prestação
o Casos de prestação com prazos absolutamente fixos (que não é
cumprido)
o Decorre o prazo previsto e a prestação não é realizada nem
dentro do prazo, nem no prazo razoavelmente fixado pelo
credor (808º)
o E se o próprio devedor declarar, antes do prazo terminar, que
não vai cumprir a obrigação (declaração antecipatória do
incumprimento)?
- Discutível se é incumprimento ou não (o Professor Antunes
Varela diz que é incumprimento imputável ao devedor; o
professor Menezes Leitão diz que o máximo que se pode admitir
é uma situação de mora (dr. João Tiago concorda)
- Consequência do incumprimento imputável ao devedor
o Indemnizar os prejuízos causados ao credor (seja imputação
definitiva ou falta de cumprimento – 798º)
o Que indemnização é esta? Qual o dano indemnizável?
36
- Abrange quer o dano emergente, quer o lucro cessante (564º) e
também os danos futuros (desde que sejam previsíveis)
- Questão controvertida: será pelo interesse contratual positivo
(visa colocar o credor na situação em que se encontraria se não tivesse
verificado o facto ilícito) ou pelo interesse contratual negativo (visa
colocar o credor na situação em que se encontraria se não tivesse
confiado na celebração do contrato)?
o Professor Antunes Varela: o credor pode pedir indemnização por
interesse contratual positivo ou pode resolver o contrato
(colocando-se na situação em que estaria se não tivesse
celebrado, exigindo a restituição de tudo o que tiver dado) e
exigir indemnização pelos prejuízos causados (801º, nº2), que
acaba por ser pelo interesse contratual negativo
o Professor BM: essa indemnização pode ser pedida com
fundamento no interesse contratual negativo (Menezes Leitão
concorda)
Pressupostos da RC obrigacional
o 1 e 2 – facto ilícito
- Incumprimento + relação de desconformidade da conduta devida com
a conduta realizada pelo devedor
- Mas há causas de justificação da ilicitude
- Cumprimento de um dever (exemplo: penhor de créditos – o
devedor tem o direito de não pagar o crédito ao credor que empenhou
o crédito, tendo o dever de pagar ao credor pignoratício (684º e 685º))
- Exercício de um direito
o “Exceptio” – (428 e seguintes) – está restrita aos contratos
bilaterais sinalagmáticos. O devedor pode recusar
legitimamente a prestação (seja de facto ou da coisa), desde
que haja uma conexão funcional entre as prestações
o Direito de retenção (754º e seguintes) – funciona, entre nós,
como uma garantia real (uma causa legítima de preferência –
604º, nº2) porque no 758º o legislador compara-o ao penhor (se
a coisa for móvel) e à hipoteca (se for imóvel) + como uma
causa lícita de incumprimento da obrigação + como um
mecanismo compulsório (visa compelir o devedor a cumprir)
Questões controvertidas
o Questão 1: o direito de retenção abrange as coisas de terceiro? A
doutrina diz que sim, desde que o terceiro tenha estado envolvido
na origem do cumprimento
3 Requisitos para que o direito de retenção seja accionado
(professor Antunes Varela)
i) Licitude na retenção da coisa
ii) reciprocidade de créditos
iii) especial conexão substancial entre a coisa retida e o crédito do autor
da retenção (754º)
37
Direito de retenção vs. “exceptio”
i) Na exceptio, a obrigação pode ser de prestação de facto ou
coisa vs. a retenção só pode ter como objecto uma coisa
ii) A exceptio pressupõe que entre as 2 obrigações exista uma
relação genética (o nexo de sinalagma: uma obrigação tem
de ser causa da outra) vs. a retenção não exige o
sinalagma, mas exige-se uma conexão especial (754º)
o 3 – Culpa
- Professor Antunes Varela: é possível apontar ao incumprimento
um juízo de reprovação ou censura, que assenta no reconhecimento, no
caso concreto, de que o obrigado podia e devia ter agido de outro modo
- Dolo vs. Negligencia
Dolo: - Dolo directo: se o devedor visar intencionalmente o
incumprimento (exemplo: taxista recusa-se a levar alguém com quem já tinha
contratado)
- Dolo necessário: o devedor não quer o incumprimento. Mas
tem consciência que o incumprimento será consequência necessária da sua conduta
(exemplo: taxista aceita transportar duas pessoas à mesma hora)
- Dolo eventual: o devedor figura o incumprimento como
consequência possível da sua conduta (é o que se lixe, se acontecer, aconteceu)
Esta distinção tem consequências práticas (853º, nº1, alínea a) ; 956º; 957º;
1134º; 1151º; etc.)
o 1682º, a) – se o marido ou a mulher administrarem os bens um do
outro (tipo no tempo das dotes) e se a administração for ruinosa, só
se tiver havido dolo é que responde
o 814º, nº1 – também exige o dolo, na mora do credor
o 815º, nº1 – exige dolo do devedor
Não há culpa do devedor 1 – se o incumprimento for imputável ao terceiro; 2 –
se o incumprimento for imputável ao credor; 3 – em caso de força maior ou
caso fortuito
A culpa não tem de ser provada pelo credor – 799º presunção de culpa do
devedor
Como é que se aprecia a culpa? Em abstracto = tendo em conta a diligencia
típica do “bom pai de família”
Se forem obrigações de meios (em que o devedor assume uma determinada
actuação para atingir um determinado fim – exemplo: obrigação que um
médico ou advogado assume, não prometendo curar o doente ou ganhar a
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acção) tem de se provar o incumprimento (a perda da acção) e a falta de
diligência exigível)
A doutrina distingue a culpa grave da culpa leve: nas c.c.g, só são proibidas as
clausulas que excluem a resposta nos casos de culpa grave (18º, a) ccg), por
exemplo
o Culpa grave: a desconformidade só se verificaria numa pessoa com
pouquíssima diligência (o comum dos mortais não incorreria)
o Culpa leve: só uma pessoa absolutamente excepcional é que não incorreria
o 4 – Dano
Só há responsabilidade civil se houver dano
Devem ou não ser indemnizáveis os danos morais? (496º)
- Professores AC, ML (e generalidade da doutrina, - o professor AV) dizem
que sim
o 4 – Nexo de causalidade
Teoria da causalidade adequada (facto ilícito tem de ser causa + causa
adequada à produção do dano)
867º - risco + RCC =» prescinde do juízo de causalidade adequada (exemplo: no
caso do incêndio; ou da coisa que vai por comboio e o comboio tem um
acidente)
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o 805º, nº1 – momento de interpelação (judicial ou extrajudicial) nas
obrigações puras (sem prazo)
o 805, nº2 – excepção às obrigações puras
- Dispensa-se a interpelação: - Quando a obrigação for a prazo
- Quando a obrigação provenha de facto
ilícito (RCEC)
- Quando o devedor impedir a interpelação
o Proposta doutrinal (professor Galvão Telles) – quando houver
declaração peremptória e inequívoca da intenção de não cumprir
Efeitos da mora do devedor
a) Obrigação de reparação dos danos (804º + 562º e seguintes) (regras
comuns à RC e RCEC)
--» Desvio: regimes especiais para as obrigações pecuniárias (806º) – os juros de
mora afastam o regime geral do cálculo da obrigação de indemnização
b) Inversão (ou agravamento) do risco da perda ou deterioração da coisa
(807º) – responsabilidade objectiva
o Obrigação de meios ( devedor não garante o resultado – exemplo
médico ou advogado)
o Obrigações de resultado (tipo entrega de uma coisa) – maioria dos caos
o Obrigações de garantia (A obriga-se a entregar uma coisa,
independentemente dos casos de força maior ou dos casos fortuitos)
o =» Gera-se responsabilidade civil objectiva por acordo das partes
c)Transformação da mora em incumprimento definitivo (808º)
4. Cumprimento defeituoso
Levanta dois problemas essenciais
a) Delimitação dos verdadeiros casos de cumprimento defeituoso
- Quando a prestação realizada é desconforme com a prestação acordada e
o credor a recusa? Mora (808º) ou incumprimento definitivo (se o prazo for ultimo)
- Quando a prestação realizada é desconforme com a prestação acordada e
o credor a aceita sem ter com isso qualquer dano (exemplo: gato preto e branco ou
gato cinzento escuro e branco)? Neste caso pode se dizer que há cumprimento
- Quando a prestação realizada é desconforme com a prestação acordada e
o credor a aceita, sofrendo porém, danos próprios desse cumprimento (exemplo:
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gato era para vender e o cinzento escuro vale menos que o preto)? Neste caso há
cumprimento defeituoso
08/09
31/12/08 05/09 Condenação
Venciment Acção por Por cada mês de
o da incumprimen incumprimento
obrigação to paga-se x
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6. Realização coactiva da prestação
817º e seguintes
O Cc vai estabelecer uma série de regras que são repetidas no CPC
Mas ao principio da realização da prestação contrapõe-se, na prática, o da
obrigação de indemnização pelo incumprimento
- Na prática, uma acção judicial termina (com frequência) na condenação
pecuniária (muito embora o principio seja a de restituição natural – 562º)
- Há uma contradição entre os princípios estabelecidos e aquilo que é mais
prático fazer (sobretudo ao fim de não sei quantos anos em que as acções se
arrastaram)
7. Mora do credor
Requisitos (813º)
o O credor não aceita a prestação ou não toma as diligências necessárias
para aceitar a prestação
o Sem motivo justificado
o Mais casos de mora do credor: - Pode ser interpretado mais
restritivamente, tipo quando haja um impedimento legal ou judicial
(tipo foi testemunhar em tribunal, ou foi tomar posse como Presidente
da Câmara)
o Menos casos de mora do credor: - Ou mais abrangentemente, tipo
doença – interpretação maioritária
Natureza da mora do credor
o Não constitui um acto ilícito (o credor não tem o dever de aceitar a
prestação, mas sim o ónus: se não colaborar, terá consequências negativas
na sua esfera
Efeitos da mora do credor
o Atenuação da responsabilidade do devedor (814º, nº2)
o Inversão ou agravamento do risco de perda ou deterioração da coisa
(815º) +795º e 796º
o Obrigação de indemnizar o devedor (limitadamente) – 816º (pelas
maiores despesas que este esteja obrigado a fazer com o oferecimento
infrutífero da prestação e a guarda e conservação do respectivo
objecto”)
o Então mas se gera obrigação de indemnizar, não será um acto ilícito?
- A obrigação de indemnizar é em relação as despesas e não à omissão
da prestação (só se o 815º remetesse para o 562º e ss. É que
poderíamos dizer que a mora do credor era um acto ilícito)
o Possibilidade de consignação em depósito da prestação (814º, nº1, b))
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- Exemplo: obrigação de indemnizar mesmo nos casos em que não haja culpa. Quando
aos pressupostos da RC
b) Convenções limitadas
- Exemplo: estabelecer um montante máximo de indemnização. Quanto ao montante
dos danos
- Exemplo: Só há obrigação de indemnizar se houver culpa grave ou dolo. Quanto aos
pressupostos
c) Convenções de exclusão
- Aquele que incumpre não tem de indemnizar a parte contrária
- São os casos problemáticos
809º -
- Interpretação literal (AV) = as exclusões da responsabilidade são integralmente nulas
- Interpretação restritiva (posição maioritária) = a renuncia ao direito de indemnização
não afecta os demais direitos do credor (ou seja, não significa transformar a obrigação
civil em natural, como diz o professor AV). Argumento sistemático – artigo 18º, c das
CCG
Mas o 811º, nº3 tem de ser interpretado em conjugação com o 811º, nº2 – ou
seja o 811 nº2 e 3 servem para os problemas em que os danos são superiores à
pena convencional =» só pode exigir indemnização pelo dano excedente, se
tiver havido uma convenção de agravamento (sendo que o limite está no valor
do dano efectivo – 811º, nç3)
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Assim:
- Se a pena convencional for significativamente mais elevada do que os
danos efectivos – aplica-se o 812º
- Se for mais reduzida aplica-se o 811º nº2 e 3º
Compreende-se, portanto a crítica as alterações: o devedor pode pagar menos,
mas o credor não pode receber mais – ou seja não há paralelo para o 812º (não há
possibilidade de aumento equitativo. Põe-se assim em causa a função punitiva da
clausula penal. Há autores que dizem que deste modo houve um desvirtuamento
das funções da c.p:
o Punitiva – é a que sai mais prejudicada (a função de castigo deixa de existir)
o Compulsória – típica das c.p moratórias – também sai prejudicada, porque o
devedor pode alegar que o valor compulsório a pagar é excessivo
o Indução do cumprimento pontual – se o devedor tiver conhecimentos
jurídicos e souber que pode futuramente reduzir a indemnização, esta
função também sai afectada
o Fixação antecipada da indemnização – também fica diminuída, porque o
devedor, ao pedir a redução equitativa, está a recorrer ao tribunal (que é
aquilo que se pretendia evitar, originariamente)
- Então porquê que foram feitas estas alterações? O Conselho da Europa deu uma
orientação, aconselhando os EM a fazerem uma atenuação do regime das c.p, no
concernente aos contratos ints. – mas alterando o regime interno, os contratos
internos também saem afectados
Professor AV diz que o 811º, nº3 não se aplica às c.p moratórias, estando implícito
considera que, neste caso, o 812º já teria aplicação – caso contrário, e seguindo a sua
linha de pensamento, o 812º ficaria extraído do âmbito de aplicação =» discutível
Professor Pinto Monteiro tem uma posição diferente. Diz que as alterações vieram de
facto desvirtuar as funções das c.p; mas propõe que o regime do CC seja apenas para
penas convencionais que fixem antecipadamente a indemnização – ao lado destas são
de admitir c.p punitivas: ou seja há que interpretar o contrato para ver se as partes
querem fixar apenas os danos antecipadamente ou se querem introduzir-lhe uma
função punitiva =» se quiserem introduzir-lhe essa função, o 811º, 2 e 3 não se aplica,
sendo que já a norma do 812º não pode ser afectada (é nula qualquer estipulação em
contrário”)
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